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CENTRO UNIVERSITÁRIO CARIOCA Metodologia Científica __________________________________________________________________________ TEXTO 16 DECISÕES PRELIMINARES Severino (2002) defende a idéia que para realização de um trabalho acadêmico é necessário estar em contato com um “universo familiar de problemas”, para que se possa definir um tema e um problema específico, o que só é possível ser feito através de leituras, cursos, participação em seminários e outras atividades e contexto que possibilitem que o investigador faça a sua escolha bem delimitada. Lakatos e Marconi (2001) sugerem que alguns estudos preliminares sejam feitos a fim de conhecer o estado da questão que se pretende investigar. DECISÕES PRELIMINARES - Problema de Pesquisa O problema de pesquisa impulsiona o pesquisador a buscar uma resposta. Este deve está diretamente vinculado ao tema proposto. Segundo Gil (2007, p. 49) “Problema é qualquer questão não solvida e que é objeto de discussão, em qualquer domínio do conhecimento”. A consulta e a revisão da literatura levam a definição de um problema de pesquisa. A identificação do problema de pesquisa ocorre num processo constante de diálogo interno do aluno pesquisador e externo com seu orientador e com colegas. Tais diálogos contribuem para restringir um foco muito amplo, além de esclarecer idéias vagas e confusas (SEIDL- DE-MOURA, FERREIRA; PAINE, 1998, p.39). Segundo Gil (2007), vale ainda tomar conhecimento de um mínimo de trabalhos referentes ao tema que se está pretendendo investigar. Por ser uma questão não resolvida, o problema pode se referir a uma lacuna epistemológica ou metodológica, a alguma dúvida de uma sustentação que tenha sido aceita, de uma necessidade de por à prova uma suposição, de interesses práticos, da curiosidade em explicar uma situação do cotidiano ou outras situações (VERGARA, 2007). Vergara (2007, p.21-22) apresenta exemplos (com base em pesquisas realizadas por ex-alunos de mestrado) que facilitam a compreensão do que vem a ser um problema de pesquisa, levando em conta que, quase sempre, o problema mostra relações entre variáveis, como pode ser visto a seguir: Quais as possibilidades e dificuldades da implantação da Gestão pela Qualidade Total no Serviço de Recursos Humanos – Serec, da Petrobrás? Quais os fatores determinantes das políticas do meio ambiente implantadas no Brasil, no século XIX, pelos diferentes governos? Gil (2007, p. 49) discorre sobre uma série de questões que podem ser consideradas problemas de pesquisa e aquelas que não são, como será visto a seguir: Exemplos de Problemas de Pesquisa: - A propaganda de cigarro pela TV induz ao hábito de fumar? - Em que medida a delinqüência juvenil está relacionada à carência afetiva? - Qual a relação entre subdesenvolvimento e dependência econômica? - Que fatores determinam a deterioração de uma área urbana? - Quais as possíveis conseqüências culturais da abertura de uma estrada em território indígena? - Qual a atitude dos alunos universitários em relação aos trabalhos em grupo? - Como a população vê a inserção da Igreja nos movimentos sociais? Não são Problemas de Pesquisa (Não são problemas de pesquisa, porque, segundo Gil (2007,p.50): “A ciência pode fornecer sugestões e inferências acerca de possíveis respostas, mas não pode responder diretamente a esses problemas”. Para este mesmo autor estes são problemas de valor (Gil, 2007,p.50): : - Como fazer para melhorar os transportes urbanos? - O que pode ser feito para se conseguir melhor distribuição de renda? - O que pode ser feito para melhorar a situação dos pobres? - Qual a melhor técnica psicoterápica? - É bom adotar jogos e simulações como técnicas didáticas? - Os pais devem dar palmadas nos filhos? Gil (2007) afirma ainda que um problema de pesquisa deve ser formulado como um pergunta, o que muito facilita a identificação do que realmente se deseja estudar, além de ser delimitado a uma dimensão viável, ou seja, a uma dimensão que não seja ampla evitando com isso que a pesquisa se torne impraticável. Outra consideração relevante desse autor, diz respeito à clareza quanto às terminologias empregadas. Os termos precisam ser claros de forma que todos entendam o significado com que estão sendo utilizados. Justificativa Na etapa da justificativa, o pesquisador descreverá a relevância (social e pessoal) da pesquisa, buscando responder o porquê se pretende realizar tal pesquisa. Vale ressaltar também neste item a originalidade do trabalho, a inovação e a contribuição que a investigação trará. Portanto, é através da justificativa que o autor convencerá seu leitor que o assunto escolhido para ser pesquisado é bastante relevante e, por este motivo, merece ser investigado (BARROS; LEHFELD, 2005). Soares (Disponível em: < http://www.jjsoares.com/media/download/PROJETO_DE_PESQUISA_etapas_de_elabora% C3%A7ao.doc> Acesso em: 21/09/2009) afirma que a justificativa deve apresentar a delimitação, a relevância e a viabilidade da pesquisa, conforme descrito abaixo: a) Delimitação - Deve-se fazer recortes, pôr limites a fim de focalizar o tema, ou seja, selecionar uma parte num todo. O que se deve delimitar: - área específica do conhecimento; - espaço geográfico de abrangência da pesquisa; - período focalizado na pesquisa. b) Relevância – Evidencia-se a contribuição do projeto para o conhecimento e para a sociedade, ou seja, em que sentido a execução de tal projeto irá subsidiar o conhecimento científico já existente e a sociedade de maneira geral ou específica. c) Viabilidade - o pesquisador mostrará a possibilidade do projeto ser executado com os recursos disponíveis. Exemplo de Justificativa (Extraído de: VASCONCELOS, 2008, p.18-19) Estima-se que os transtornos mentais e de comportamento respondam por 12% da carga mundial de doenças (ONOCKO CAMPOS; FURTADO, 2006)1, um volume nada desprezível e que tem boa parte de sua demanda atendida em organizações especializadas. Sendo assim, pesquisar o trabalho em Saúde Mental é uma empreitada que, em um leve passar de olhos, já mostra sua importância, na medida em que é por meio do trabalho realizado nestes serviços que os usuários são atendidos. Dada esta importância, o tema do trabalho em Saúde Mental está presente em boa parte das dissertações, teses e artigos da área, visto que a produção acadêmica, ao estudar o funcionamento de um Centro de Atenção Psicossocial ou um Serviço Residencial Terapêutico, por exemplo, deve se reportar de algum modo ao trabalho ali perpetrado. Contudo, raramente este é abordado por meio de um instrumental teórico que traga consigo ferramentas próprias e específicas ao seu estudo ou que contemple as instituições de Saúde Mental em sua dinâmica organizacional, como pretende essa pesquisa. Valorizando essa visão, a expectativa é que essa dissertação, ao se lançar sobre as condições organizacionais do trabalho em Saúde Mental, sobre os elementos simbólicos e imaginários que o atravessam, sua inserção nas transformações do mundo contemporâneo e sobre sua relação com as premissas da Reforma Psiquiátrica, contribua para seu aprimoramento ou, ao menos, para gerar reflexão crítica sobre o mesmo. No intuito de agregar à literatura da área um enfoque diferenciado, firma-se aqui o endereçamento à dinâmica intersubjetiva e às dimensões simbólica e imaginária dos 1 ONOCKO CAMPOS, Rosana; FURTADO, Juarez Pereira. Entre a Saúde Coletiva e a Saúde Mental: Um InstrumentalMetodológico para a Avaliação da Rede de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) do SUS. Cad. de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v.22, n°5, mai., 2006. serviços, visão propiciada pelo referencial da Psicossociologia francesa e que é mais rara nas produções acadêmicas sobre os serviços de Saúde Mental. Essa dissertação busca, dentro de suas limitações estruturais, cobrir parte dessa lacuna. Cabe o registro que no campo da Saúde Pública em geral, a contribuição da Psicossociologia francesa no estudo dos serviços de Saúde já propiciou contribuições originais, de forma que essa dissertação se inclui no mesmo esforço de valorizar os elementos imaginários e simbólicos da cena assistencial. A pesquisa pretende também compreender o trabalho e as práticas assistenciais em Saúde Mental partindo do estudo da Contemporaneidade, iniciativa pouco difundida na literatura brasileira. Vislumbra, assim, contribuir para um melhor entendimento acerca da inserção das práticas assistenciais na complexidade do mundo atual, problematizando-as e, ao mesmo tempo, buscando revelar novos enfoques para este tema. Concomitantemente, este estudo se alinha ao conjunto de pesquisas que visa à formulação de uma avaliação crítica das práticas assistenciais no contexto da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Tal campo de pesquisa vem apresentando um recrudescimento de sua produção, possibilitando o mapeamento dos diversos pontos de tensão inerentes a tal problemática. - Hipóteses Etimologicamente, a palavra hipótese significa “o que está suposto”. A hipótese propõe uma solução ao problema levantado, antecipando o que a pesquisa pretende confirmar (PÁDUA, 2004). Portanto, as hipóteses são antecipações de resposta ao problema; é uma resposta provisória, provável a um problema que se verificará (comprovação = sustentabilidade ou validez) através da pesquisa (LAKATOS; MARCONI, 2001, p.1256). Vergara (2007) afirma que se o problema da pesquisa é formulado em forma de pergunta, a hipótese será na afirmativa e a investigação a ser feita buscará justamente confirmar ou refutar tal hipótese. A hipótese surge da observação, dos resultados encontrados em outras pesquisas, a partir de teorias e da própria intuição. Segundo Oliveira (1997): “A hipótese é uma afirmação que se faz na tentativa de verificar a validade de resposta existente para um problema. É uma suposição que antecede a constatação dos fatos e tem como característica uma formulação provisória; deve ser testada para que a sua validade seja determinada. Correta ou errada, de acordo ou contrária ao senso comum, a hipótese sempre conduz a uma verificação empírica”. (OLIVEIRA, 1997:155, 156). Vergara (2007. p. 28) apresenta dois tipos de hipóteses: a constitutiva e a operacional. A constitutiva define palavras, a operacional especifica maneiras necessárias de medir ou manipular um conceito. Barros e Lehfeld (2007), segundo a natureza, classificam as hipóteses como de relação causal e hipóteses nulas. Nas hipóteses causais, ocorre que todo valor de x corresponde um valor de y, ou seja, um fato ou característica determina, afeta, influencia um outro fenômeno, como pode ser visto nos exemplos a seguir: “A falta de atividade física e alimentação saudável (x) provoca um alto grau de stress nos indivíduos que residem em grandes cidades (y)”; “A liderança centralizadora e pouco democrática (x) provoca altos índices de insatisfação por parte dos funcionários (y).“ A hipótese nula é testada através de métodos estatísticos, ela afirma que não há diferenças entre grupos, entre fenômenos que estão sendo testados ou entre comportamentos antes ou depois da intervenção experimental (SEIDL-DE-MOURA, FERREIRA; PAINE, 1998, p.25). Barros e Lehfeld (2007, p.50) apresentam dois exemplos de hipóteses nulas: “Homens e mulheres não se diferenciam quanto à aceitação de novos valores culturais. “A renda mensal de operários e operárias, em funções iguais, não é diferente”. REFERÊNCIAS BARROS, Aidil Jesus da Siveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia científica – um guia para a iniciação científica. 2ª ed. São Paulo: Makron Books. BARROS, Aidil Jesus da Siveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Projeto de pesquisa: propostas metodológicas. 16ª. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005. BARROS, Aidil Jesus da Siveira; LEHFELD, Neide Aparecida de Souza. Fundamentos de metodologia científica. 3ª. ed. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. CERVO, Amado Luiz; BERVIAM, Pedro Alcino. Metodologia científica. 5ª. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2002. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5ª. ed. São Paulo: Atlas, 2007. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Fundamentos da metodologia científica. 4ª. ed. São Paulo: Atlas, 2001. MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa: Planejamento e Execução de Pesquisas. Amostragens e Técnicas de Pesquisa. Elaboração, Análise e Interpretação de Dados. 7ª. ed. São Paulo: Atlas, 2008. SEIDL-DE-MOURA, Maria Lucia; FERREIRA, Maria Cristina; PAINE, Patrícia Ann. Manual de elaboração de projetos de pesquisa. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1998. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 22ª. ed. São Paulo: Cortez, 2002. SOARES, José Joaquim. Orientações para elaboração do projeto de pesquisa. Disponível em: < http://www.jjsoares.com/media/download/PROJETO_DE_PESQUISA_etapas_de_elabora% C3%A7ao.doc> Acesso em:21/09/2009. VASCONCELOS, Vinicius Carvalho de. A dinâmica do trabalho em saúde mental: limites e possibilidades na contemporaneidade e no contexto da reforma psiquiátrica brasileira. Dissertação em de Mestrado em Saúde Pública - Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. Fundação Oswaldo Cruz (ENSP/Fiocruz), Rio de Janeiro, 2008. Disponível em: <http://bvssp.icict.fiocruz.br/lildbi/docsonline/6/4/1346-vasconcelvcm.pdf> Acesso em 22/09/2009. VERGARA, Sylvia Constant. Projetos e relatórios de pesquisa em Administração. 8ª. ed. São Paulo: Atlas, 2007.
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