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LIVRO RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL E EMPRESA SUSTENTÁVEL - JOSÉ CARLOS BARBIERI

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1 ENFOQUES TEORICOS
Os debates em torno da responsabilidade social das empresas começaram a surgir com maior frequência a partir de 1970, com a sua popularização a partir de grandes empresários como Henry Ford e Andrew Carnegie onde popularizaram a filantropia contudo deram argumentos para uma prática condenável e como hipocrisia já que as empresas obtinham muitos lucros e só repassavam pequena parcela, surge assim a teoria dos acionistas, a primeira a ser apresentada e que condena a utilização de recursos da empresa como objeto de filantropia.
Teoria do acionista
Milton Friedman gera polemica ao afirmar que a responsabilidade social da empresa é a de gerar lucros quanto puder para seus acionistas, esta geração de lucros desde que dentro da lei é porque está produzindo um bem ou serviço socialmente importante.
Pois assim gera renda para sociedade (capital e trabalho) e impostos para o governo, este sim, que deve aplicar os recursos para resolver os problemas sociais. Afirmando que as empresas devem alocar seus recursos para geração de mais lucro, investimento para empresa, e que os acionistas e dirigentes que quiserem contribuir para resolver problemas sociais que devem sim fazer, mas com recursos pessoais. Baseado também no livro de Adam Smith, A Riqueza das Nações, onde ele afirma que não é da generosidade dos agentes econômicos (empresas) que será realizado uma produção, pois cada um está atuando por seu interesse econômico e que o valor é realizado por meio pelos motivos de auto interesse promovendo o bem estar coletivo.
Friedman e Smith tocam no assunto mostrando que os interesses pessoais são a busca por maior lucro e que a regulação do mercado se dá por ajustes entre os agentes econômicos, mas sempre ao respeito às leis. A responsabilidade social pela abordagem do acionista tem como um dos seus pilares a separação entre a propriedade e a administração nas grandes empresas, desta forma minimizando os interesses que podem ser contraditórios entre os administradores e acionistas quanto à alocação de recursos da empresa.
Como exemplo citasse Bill Gates e sua esposa que criaram sua própria fundação que atua em ações de filantropia com recursos próprios e não da Microsoft.
Para o caso de Henry Ford a lei também prevaleceu para o fim que a empresa possui, a de maximizar os lucros para seus acionistas, em caso julgado nos EUA onde Ford não repassou o valor total dos lucros pois considerou que uma parte deveria ser reinvestida na empresa e também repassada aos trabalhadores e a sociedade, elementos conhecidos posteriormente como fordismo. Contudo, a lei e mesmo o estatuto da empresa não previa este tipo de atitude, condenada pela justiça. Já a legislação brasileira não trabalha de forma total a primazia dos acionistas, pois, a empresa tem sua função social fundamentada, assegurada pela Constituição de 1988, valorizando o trabalho humano e a livre iniciativa, observando princípios constitucionais que forma incluída na Lei de Sociedade Anônima e no novo Código Civil.
Em estudos como na dinâmica dos prisioneiros constatasse o auto interesse na teoria acionista beirando a confirmação de um estado hobbessiano, o homem é o lobo do homem, oferecendo únicas opções como cooperar ou não, mas com inúmeras simulações e diversas posturas foi mostrado também que em acordos de longo prazo e de relacionamento duradouro enquanto há interesse mutuo a cooperação mostrou-se bastante praticável.
Contudo para todo o momentos nesta teoria se mostra a necessidade de marcos regulatório e leis para que garanta a responsabilidade social, pois não somente a ética e a moral, mesmo sendo mais ampla sua cobertura, não se mostra eficaz de forma segura.
TEORIA DAS PARTES INTERESSADAS
O crescimento do poder de grandes empresas suplanta muitas vezes inclusive o Estado, e com a preocupação com o bem estar humano trouxe novos questionamentos sobre a responsabilidade social das empresas. Baseadas na visão sistêmica, as teorias administrativas é à base de contestação da teoria acionista. Pois crescem além valores como qualidade de vida, valorização do ser humano e o respeito ao meio ambiente para orientar o s negócios, não sendo mais somente salários e impostos.
Como caso em 1953 que uma empresa de hidrantes fez uma doação direta a universidade de Princeton, em época anterior e pela teoria dos acionistas esta seria uma prática incorreta, mas os juízes entenderam que este era um caso onde a doação era benéfica ao país. Neste caso foi dada uma nova interpretação ao principio da primazia do acionista.
Esta teoria do stakeholder, das partes interessadas vem no sentido contrario a do stockholder ou do acionista, pois uma pessoa ou grupo com interesse na empresa ou que afeta ou é afeta por ela, não sendo mais somente os grupos diretamente envolvidos nas atividades da empresa. Torna outros grupos que tem atuação indireta como stakeholder.
Desta forma começa a identificar a importância de cada stakeholder na capacidade de influenciar a organização, podendo apresentar um, dois ou três atributos.
Surge nos direitos humanos uma força considerando conjuntos de preocupações que constituem valores universalizáveis que irão moldar as ações publica e privadas. Se todos devem participar do processo de desenvolvimento, então todos se tornam responsáveis e partes interessadas de qualquer organização, pois contribuem para as crises sociais ou ambientais que desencadeiam o movimento do desenvolvimento sustentável. Há ainda uma grande controvérsia de se classificar o meio ambiente como uma stakeholder da empresa.
TEORIA DO CONTRATO SOCIAL
Aplicada à responsabilidade social empresarial é recente, mas percursores de longa data, o que permite a passagem de um estado de natureza para um estado de direito, onde Thomaz Hobbes classifica o primeiro estado como lugar de discórdia e onde não há noções de justiça e o outro traz estas certezas garantindo maior segurança.
Contudo Hobbes e Locke trazem para o estado da natureza uma lei da natureza que estabelece que ninguém deve prejudicar a vida, a posse e a liberdade dos demais.
Estes e Rousseau concordam ao estado da natureza, mas é com o contrato social que o povo se torna povo e surgem os direitos assentados na submissão de cada um a todos. Por este coletivo dá-se a unidade o qual recebe nomes como cidade, república ou Estado.
O campo teórico da responsabilidade social e da ética empresarial é amplo e crescente, mas estas teorias vem como referencia e a contribuir para as empresas no desenvolvimento sustentável do planeta.
2 RESPONSABILIDADE SOCIAL E SUSTENTABILIDADE EMPRESARIAL
Caroll é um dos principais estudiosos e fonte de grande inspiração do movimento da responsabilidade social empresarial e faz um esquema de desagregação de seus componentes para facilitar a dificuldade de entendimento.
Surgem assim as quatro dimensões da responsabilidade social empresarial definindo que a responsabilidade social das empresas compreende expectativas econômicas, legais, éticas e discricionárias que a sociedade tem em relação às organizações em dado período, trocando a palavra discricionárias por filantrópicas entendendo que a empresa restitui a sociedade parte do que ela recebeu.
Surge a Pirâmide de responsabilidade social com quatro responsabilidades, sendo As responsabilidades econômicas remetem ao fato de que a empresa deve ser lucrativa, a responsabilidade legal vem em seguida. No momento em que a sociedade aprova o sistema econômico, permitindo que as empresas assumam seu papel produtivo como parte da efetivação de um contrato social, ela coloca as regras básicas, as leis sob as quais elas devem operar, a responsabilidade ética. Embora as duas primeiras responsabilidades incluam normas éticas, há comportamentos e atividades não cobertos por leis ou aspectos econômicos do negócio, mas que representam expectativas dos membros da sociedade, a quarta responsabilidade social passou a ser denominada de filantrópica e abrange ações em respostas às expectativas da sociedade de que as empresas atuem comobons cidadãos. Essa dimensão envolve o comprometimento em ações e programas para promover o bem-estar humano. 
Após mais estudos Caroll e Schwartz percebem algumas deficiências no primeiro modelo de pirâmide, primeiro a de que uma não segue a outra como forma hierárquica ou de importância, não capturando todos os elementos relacionados. Surge então um novo modelo substituído por círculos onde eles se inter-relacionam, elimina a responsabilidade filantrópica surgindo modelo dos três domínios da responsabilidade social.
A grande novidade desse modelo é a sobreposição de domínios da responsabilidade, formando sete segmentos que representam sete categorias de responsabilidade social empresarial. O modelo permite identificar a importância ou ênfase dada aos diferentes domínios da responsabilidade social.
Esse modelo de responsabilidade social empresarial apresenta limitações, s maiores limitações deste modelo, bem como do modelo das quatro responsabilidades, não são as reconhecidas pelos seus autores e exemplificadas anteriormente, mas sim o fato de não considerar as questões ambientais como uma dimensão específica. Esses autores não desconhecem a existência dessas questões e muitos dos exemplos que oferecem referem-se a elas, porém são tratadas como aspectos das demais, geralmente como questões econômicas e legais.
As questões ambientais como componentes da responsabilidade social das organizações já é fato amplamente aceito e faz parte das medidas para se alcançar o desenvolvimento sustentável.
O movimento do desenvolvimento sustentável e o da responsabilidade social empresarial têm origens antigas e distintas. As políticas para os pobres começaram a ser praticadas em estados absolutistas. Com o triunfo das ideias liberais, o debate sobre a responsabilidade perante os pobres tomaria outro rumo. Já foi mencionado o que pensava sobre isso um dos maiores pensadores liberais, Adam Smith. O liberalismo baseia-se na doutrina do individualismo que, não cogita se os humanos são egoístas ou se devem ser.
Uma das suas principais contribuições foi vincular a questão ambiental à social e, desse modo, também é um marco na aproximação com o movimento da responsabilidade social. A resolução da Assembleia da ONU de 1986 declarando o desenvolvimento como um direito humano, a divulgação do Relatório Brundtland em 1987 e a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992 no Rio de Janeiro são alguns dos inúmeros eventos do movimento do desenvolvimento sustentável. A definição de desenvolvimento sustentável constante nesse relatório é a seguinte:
“desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades.”
Essa definição mostra que o desenvolvimento é constituído por dois pactos geracionais. O primeiro é um pacto intrageracional, ou seja, entre os membros da geração existente no momento e que se manifesta pelo atendimento das necessidades básicas do presente para todos. O segundo é um pacto intergeracional, isto é, entre a geração do momento e as futuras e que se manifesta pela preocupação em não comprometer a possibilidade de as gerações futuras proverem as suas necessidades, o que leva à necessidade de atuar sobre o meio ambiente e usar os recursos naturais com prudência e sabedoria. Resumindo, é uma proposta de desenvolvimento socialmente includente e que respeita o meio ambiente, para que ele possa fornecer os recursos necessários para a subsistência humana de modo permanente, pois a Terra é a morada dos humanos e continuará sendo indefinidamente.
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Criticas ao desenvolvimento sustentável não faltam, por tratar muitas vezes de uma forma de entendimento para a maioria como uma forma de trapaça para as empresas. A ideia de um mundo melhor para todas as gerações sem prejudicar o meio ambiente é um objetivo social desejado e popular no mundo todo, mas como se esperar que se cumpra frente aos interesses de nações soberanas? O Protocolo de Kyoto traça estas metas para redução de gases poluentes, mas é um bom exemplo da dificuldade de se conseguir consenso entre as medidas nas grandes nações.
Muitos esquemas de desagregação foram propostos, como o de Ignacy Sachs, que se tornou um dos mais conhecidos. A sua proposta inicial considerava as seguintes dimensões da sustentabilidade, assim resumida:
1. a sustentabilidade social trata da consolidação de processos que promovem a equidade na distribuição dos bens e da renda para melhorar substancialmente os direitos e as condições de amplas massas da população e reduzir as distâncias entre os padrões de vida das pessoas;
2. a sustentabilidade econômica possibilita a alocação e a gestão eficiente dos recursos produtivos, bem como um fluxo regular de investimentos públicos e privados;
3. a sustentabilidade ecológica refere-se às ações para aumentar a capacidade de carga do planeta e evitar danos ao meio ambiente causados pelos processos de desenvolvimento, por exemplo, substituindo o consumo de recursos não renováveis por recursos renováveis, reduzindo as emissões de poluentes, preservando a biodiversidade, entre outras;
4. a sustentabilidade espacial refere-se a uma configuração rural-urbana equilibrada e a uma melhor solução para os assentamentos humanos;
5. a sustentabilidade cultural refere-se ao respeito pela pluralidade de soluções particulares apropriadas às especificidades de cada ecossistema, de cada cultura e de cada local.
A proposta básica do desenvolvimento sustentável é que cada constituinte da sociedade adote práticas que contribua para tornar efetivos aqueles pactos intra e intergeracionais comentados anteriormente, cada qual atuando nas suas respectivas áreas de abrangência. No âmbito das organizações em geral, o núcleo duro da sua contribuição para com o desenvolvimento sustentável passou a consistir em três dimensões: a econômica, a social e a ambiental. Desse modo, os movimentos da responsabilidade social e do desenvolvimento sustentável, cada qual com suas características próprias e campos de estudos específicos, convergem para o conceito de empresa sustentável.
EMPRESA SUSTENTÁVEL
Uma organização sustentável é a que procura incorporar os conceitos e objetivos relacionados com o desenvolvimento sustentável nas suas políticas e práticas de modo consistente. É a que, simultaneamente, procura ser eficiente em termos econômicos, respeitar a capacidade de suporte do meio ambiente e ser instrumento de justiça social, promovendo a inclusão social, a proteção às minorias e grupos vulneráveis, o equilíbrio entre os gêneros.
Da confluência desses dois movimentos, o da responsabilidade social e o do desenvolvimento sustentável, surge o conceito de empresa sustentável, que representa a culminância de uma longa trajetória na qual a gestão empresarial foi paulatinamente incorporando comprometimentos com as demandas da sociedade.
3 ETICA E ETICA EMPRESARIAL
A diferença entre ética e responsabilidade social se coloca da seguinte forma: pessoas possuem ética; organizações, responsabilidade social para proteger e engrandecer a sociedade em que elas atuam. Dito de outra forma, a ética tem a ver com pessoas e a responsabilidade social com organizações. Além desses, há um outro posicionamento que considera a responsabilidade social um conceito fundamentalmente ético, pois responsabilidade é, em essência, um termo moral que implica obrigação para com alguém ou alguma coisa.
ÉTICA E MORAL
Esses dois termos são usados como sinônimos na linguagem cotidiana. E há muitas de razões para isso, pois os dois termos estão relacionados a costumes, hábitos e condutas, moral refere-se ao conjunto de normas e valores aceitos pela sociedade ou grupos sociais que orientam a conduta humana, ética não é terreno exclusivo de filósofos e cientistas, mas de qualquer pessoa que reflita sobre questões morais. As teorias éticas são reflexões a respeito da moral. Não é a ética que cria as normas de conduta, mas avida em sociedade, as relações concretas entre pessoas e grupos. 
As teorias éticas normativas fornecem diretrizes ou princípios para as ações e também os argumentos para justificá-las, argumentos esses que resultam de reflexões sobre a conduta moral, sobre o que é certo ou errado, bom ou mau. Por exemplo, se os dirigentes se orientarem pela teoria do acionista não irão fazer doações ao hospital porque para essa teoria seria uma ação errada e terão as justificativas para tal decisão.
IMORAL E AMORAL
Esses termos são usados por Carroll, um dos autores mais conhecidos no campo da ética e responsabilidade social empresarial. Uma administração imoral é aquela cujas decisões, ações e comportamentos se opõem abertamente às normas morais vigentes e os administradores têm plena consciência desse fato. Decidem e agem movidos apenas para obter benefícios para a empresa ou para si próprios sem considerar os danos que causam aos demais. A administração é amoral quando nem é a favor e nem contra aos preceitos morais, pelo fato de que os administradores não se dão conta das implicações das suas decisões e ações sobre outras pessoas, organizações e grupos. Percebe-se, pelos exemplos e explicações, que há muitos pontos de contato entre a moral e o direito.
MORAL E DIREITO
O direito e a moral tratam de normas de conduta humana que regulam a vida social e muita matéria é regulada de modo exclusivo em cada um desses domínios, as leis podem ser consideradas incorretas do ponto de vista da moral, ou lacunas na lei podem ser exploradas com objetivos moralmente condenáveis.
Nesse caso, em geral, as normas morais precedem as legais no tempo. São consideradas tão importantes pela sociedade que acabam se tornando leis. A proteção à maternidade e às crianças faz parte desse segmento; os povos, de um modo geral, consideram-na como moralmente correta, por isso a Declaração Universal dos Direitos do Homem a contempla em seu artigo XXV e muitos países, como o Brasil, a tem inclusa em sua legislação. Os princípios de direito que aos juízes se recomenda aplicar na lacuna da lei, como viver honestamente e dar a cada um o que é seu, são também normas morais. A vida social depende de ambas e elas se complementam apesar de serem distintas. 
Os códigos de ética vem para reforçar a ética e se tornam legais quando disposições em normas de classes conforme profissão, pois são estabelecidas por órgão regulador federal que fiscaliza a classe. 
A Moral e Direito são eficazes, na regulação da sociedade mas diferem porque as normas legais são produzidas no âmbito do Estado e promulgadas pelo poder público, enquanto as morais são produzidas informalmente no âmbito da sociedade por meio das relações efetivas entre os seus membros.
RELATIVISMO MORAL
Não é a teoria que cria a moral mas as modificações ao longo pelo comportamento da vida dos povos. O relativismo moral considera que as normas morais de todos os grupos sociais, por serem criação desses grupos em dado momento e segundo as circunstâncias que lhes são específicas, são todas válidas e corretas, não cabendo juízos de valor comparando-as, mesmo quando são contraditórias.
Contudo, é diferente respeitar os grupos sociais e considerar que todas as normas morais são corretas.
ÉTICA EMPRESARIAL
Ética empresarial ou dos negócios é uma ética especificamente voltada para dar respostas aos problemas de natureza moral no âmbito das empresas.
Reconhecer tal fato não significa negar que as pessoas sejam influenciadas pela estrutura, política, cultura, crenças e normas de atuação das empresas. Não é por outra razão que são obrigadas a reparar danos causados aos funcionários e terceiros. Mas isso não exime as pessoas que, tendo conhecimento e liberdade para agir, levem uma organização a produzir tais danos. Enfim, não há receitas prontas para os tomadores de decisões agirem com responsabilidades morais no âmbito das empresas.
4 TEORIAS ETICAS
As pessoas tomam decisões em qualquer organização, independente dos cargos que ocupem, de qualquer maneira podem produzir algum efeito sobre outros indivíduos, grupos e segmentos inteiros da sociedade.
ÉTICA DA VIRTUDE
Esta é uma das doutrinas mais antigas. Sócrates, Platão e Aristóteles estão entre seus principais formuladores. Este último deu o tom que marcou a ética da virtude e que, como se verá, chegou aos nossos dias.
A ética da virtude passou a ser a ética do cristianismo com as obras de Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, entre outros. Este último, com base na ética de Aristóteles, entende virtude como hábito ou disposição para viver com retidão e se afastar do mal, cuja origem é o livre arbítrio. Suas virtudes morais são de dois tipos: as virtudes cardeais (justiça, temperança, prudência e fortaleza) e as teologais (fé, esperança e caridade). As virtudes dizem respeito ao caráter das pessoas e os juízos morais decorrentes dessa abordagem referem-se à existência ou não de comportamento virtuoso.
A ética da virtude não se preocupa em fornecer meios para orientar as ações ou decisões, pois entende que a pessoa virtuosa fará a melhor opção porque desenvolveu uma disposição para tanto. 
ÉTICA KANTIANA
A ética kantiana centra-se na forma como as pessoas devem buscar as regras de conduta moral. Diferentemente da ética da virtude que está baseada nas características das pessoas, a de Kant enfatiza o processo pelo qual as pessoas, agindo racionalmente, estabelecem as regras de conduta para seguir e que gostariam que se tornassem universalizadas.
UTILITARISMO
Utilidade como uma forma de mensurar a felicidade, o prazer ou a satisfação de uma pessoa ou de um grupo de pessoas pela fruição de um dado bem ou serviço foi um entendimento muito usual em textos de Economia. A ética utilitarista bebe inicialmente dessa fonte, mas com o tempo adquiriu novas perspectivas. Também na Economia o termo utilidade ganhou novos significados. Os textos atuais a consideram como medida da satisfação dos consumidores ou como uma forma de indicar a preferência dos consumidores.
Para o utilitarismo, o bem é o útil endereçado aos outros mesmo que afete contrariamente o seu interesse próprio. Como diz Bentham, para o utilitarista, o critério para a aprovação ou desaprovação de uma ação é a tendência que ela tem de aumentar ou diminuir a felicidade da comunidade. Assim como o utilitarismo do ato, o utilitarismo da norma também se aplica aos indivíduos. São esses que devem escolher normas de condutas que gerem as melhores consequências. O utilitarismo da norma pode ser estendido para a sociedade de modo que os atos individuais possam ser avaliados em confronto com normas morais gerais ou códigos sociais que representem a concepção do que é o bem para uma dada sociedade em dado momento.
O utilitarismo é totalmente compatível com os pactos intra e intergeracionais concernentes ao desenvolvimento sustentável comentado anteriormente. Os membros de cada geração têm a obrigação de avaliar suas ações para minimizar as consequências negativas e maximizar as positivas.
ÉTICA DA RESPONSABILIDADE
Como dito várias vezes neste livro, responsabilidade é um termo com vinculações profundas com a moral e a ética, de modo que antes de prosseguir é necessário algum esclarecimento a respeito desse termo nomeando uma dada teoria ética normativa.
Em praticamente todas as doutrinas éticas, a responsabilidade refere-se ao presente ou ao futuro próximo e sempre dentro de uma perspectiva essencialmente humana, excetuando algumas teorias ambientalistas e utilitaristas.
ÉTICA DA GLOBALIZAÇÃO
Há diversos entendimentos a respeito dessa palavra, sendo que no ambiente de negócios em geral corresponde à globalização econômica, representada pela intensificação dos fluxos de produtos, serviços, divisas, conhecimentos aplicados à esfera produtiva e pela capacidade ampliada dos mercados de promover mudanças políticas e sociais. Seus símbolos são as corporações multinacionais, o Fórum Mundial Econômico de Davos e a Organização Mundial do Comércio. Há outros processos de globalização,como os movimentos sociais simbolizados pelo Fórum Mundial Social e a crescente movimentação da sociedade civil organizada em torno dos temas do desenvolvimento sustentável, que tem como símbolos as conferências internacionais promovidas pela Organização das Nações Unidas para implementar os acordos multilaterais ambientais, que passam de centenas.
5 COLOCANDO EM PRÁTICA
Existe uma enorme quantidade de iniciativas afinadas com os movimentos da responsabilidade social empresarial e do desenvolvimento sustentável que convergem formando os conceitos de organização e de empresa sustentáveis. As iniciativas de diferentes origens e propósitos, que buscam conduzir à gestão responsável das empresas, foram divididas em dois grandes blocos.
FONTES DE PRINCÍPIOS DIRETIVOS
A responsabilidade social das empresas é um meio para alcançar a sustentabilidade empresarial, que pode ser definida como a empresa que orienta a sua gestão para obter resultados positivos em termos econômicos, sociais e ambientais. É uma empresa que pretende ser economicamente eficiente, socialmente justa e includente e ambientalmente prudente.
O modelo de excelência do PNQ pressupõe que a sobrevivência e o sucesso de uma organização estão diretamente relacionados à sua capacidade de atender às necessidades e expectativas dos proprietários, dos clientes e da sociedade. Os oito critérios de excelência empresarial do PNQ são os seguintes: liderança, estratégias e planos, clientes, sociedade, informações e conhecimento, pessoas, processos e resultados.
No campo estratégico, as políticas empresariais e as definições básicas sobre a responsabilidade social da empresa podem ser ancoradas em princípios diretivos presentes em documentos que representem consensos internacionais.
DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS
Adotada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 1948, a Declaração Universal dos Direitos Humanos é considerada importante fonte de princípios para orientar a formulação de políticas de responsabilidade social para qualquer entidade pública ou privada.
Pelo Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, os Estados reconhecem o direito de toda pessoa de ter a possibilidade de ganhar a vida mediante um trabalho livremente escolhido ou aceito e devem tomar medidas apropriadas para salvaguardar esse direito. Esses pactos são endereçados aos Estados para que os direitos humanos sejam considerados em suas legislações.
AGENDA 21
A Agenda 21, aprovada durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento Humano, realizada no Rio de Janeiro em 1992, é um macro plano de ação para alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável. Na sua essência, ela é uma espécie de consolidação sistematizada por assunto (erradicação da pobreza, padrão de consumo, combate ao desflorestamento, proteção da atmosfera, gestão de recursos hídricos, manejo de resíduos sólidos etc.) que foram tratados em diversos relatórios, acordos e outros documentos intergovernamentais elaborados durante décadas.
A Agenda 21 dedica um capítulo específico às empresas, no qual recomenda que elas considerem a gestão socioambiental como uma das suas mais altas prioridades e como fator determinante do desenvolvimento sustentável.
DECLARAÇÃO SOBRE O MEIO AMBIENTE E O DESENVOLVIMENTO
A Declaração sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento também foi aprovada na Conferência do Rio de Janeiro em 1992. Ela é constituída por 27 princípios voltados para orientar a formulação de políticas públicas e acordos internacionais que respeitem o interesse de todos, o desenvolvimento global e a integridade do meio ambiente. O desenvolvimento sustentável é enfatizado no principio 3.
Podendo ainda ser utilizado para gestão da responsabilidade social das empresas os seguintes:
• princípio da responsabilidade perante danos, que estabelece que os Estados devem desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade de indenização das vítimas de poluição e outros danos ambientais (princípio 13). As organizações responsáveis não esperam pelas legislações nacionais nos países onde operam;
• princípio do poluidor-pagador, que trata da interiorização do custo da poluição por parte do poluidor (princípio 16). A organização responsável procura atender a esse princípio mesmo sem uma exigência legal explícita;
• princípio da avaliação de impactos ambientais. A avaliação do impacto ambiental, como instrumento nacional, deve ser empreendida para atividades planejadas que possam vir a ter impacto negativo considerável sobre o meio ambiente, e que dependam de uma decisão de autoridade nacional competente (princípio 17);
• princípio da não transferência de atividades causadoras de degradação ambiental de um país para outro. Esse princípio estabelece que os Estados devem cooperar, de modo efetivo, para desestimular ou prevenir a realocação ou a transferência para outros Estados de quaisquer atividades ou substâncias que causem degradação ambiental grave ou que sejam prejudiciais à saúde humana (princípio 14).
CARTA DA TERRA
A Carta da Terra é outra fonte de princípios diretivos para políticas empresariais. Ela surgiu para incluir questões que não foram tratadas pela Declaração do Rio de Janeiro de 1992 ou que foram tratadas de modo insatisfatório.
A elaboração da Carta da Terra começou, de fato, somente em 1995. Após muitas consultas e com participantes de todo o mundo ela foi concluída em 2000. A Carta da Terra está dividida em quatro partes referentes aos seguintes temas básicos:
1. respeitar e cuidar da comunidade da vida;
2. integridade ecológica;
3. justiça econômica e social;
4. democracia, não violência e paz.
OBJETIVOS E METAS DO MILÊNIO
Esses princípios diretivos surgem com a Declaração do Milênio, aprovada pelas Nações Unidas em setembro de 2000 por um conjunto de 191 países membros da ONU, incluindo o Brasil. A ideia central dessa Declaração é reforçar o compromisso das nações com o cumprimento dos pactos geracionais já comentados anteriormente.
O estabelecimento desses objetivos e metas procura acelerar a operacionalização do conceito de desenvolvimento sustentável, por meio de ações específicas tanto de políticas públicas nos diferentes níveis de atuação estatal, quanto da sociedade em geral.
Filantropia e investimento social
Esses objetivos e metas podem servir para direcionar as atividades filantrópicas da empresa como um instrumento de responsabilidade social alinhado com o desenvolvimento sustentável e, com isso, recuperar a própria filantropia do desgaste que experimenta em muitos círculos. A palavra filantropia tem significado bastante positivo em alguns países, como nos Estados Unidos, Inglaterra e Alemanha, mas não em todos, como no Brasil. A filantropia convencional pode ser entendida como qualquer forma de aplicação de recursos fora dos objetivos precípuos do negócio para apoiar ações e demandas da sociedade.
PACTO GLOBAL
Nasceu de uma iniciativa de Kofi Annan, na época secretário-geral das Nações Unidas, durante o Fórum Econômico Mundial de Davos, com o objetivo de reforçar os princípios associados aos direitos humanos, do trabalho, e aos aspectos ambientais nas práticas de gestão das organizações. No início eram nove princípios. Posteriormente foi adicionado o combate à corrupção. Os dez princípios do Pacto Global ou Global Compact.
CONVENÇÕES DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO (OIT)
Os princípios e códigos relativos aos negócios elaborados com elevado consenso internacional fornecem elementos para a política de responsabilidade social de um modo mais detalhado que os princípios diretivos, pois em geral se apresentam na forma de recomendações para questões específicas. Entre esses estão as convenções e recomendações da Organização Internacional do Trabalho, as Diretrizes da OCDE para as empresas multinacionais, as leis e convenções sobre combate à corrupção, entre outros. As convenções e recomendações da OIT são voltadas para as relações de trabalho de qualquer organização,inclusive as estatais.
As convenções relativas à Declaração dos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho da OIT são as seguintes:
• Convenções 29 e 105: sobre trabalho forçado;
• Convenções 87 e 98: sobre liberdade sindical e direito de negociação coletiva;
• Convenções 138 e 182: sobre idade mínima e abolição do trabalho infantil;
• Convenções 100 e 111: sobre igualdade de remuneração e eliminação da discriminação no trabalho.
DIRETRIZES DA OCDE PARA AS MULTINACIONAIS
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE/OECD) elaborou diversos documentos contendo princípios de gestão social e economicamente responsáveis, por exemplo, a Convenção Contra o Suborno de Funcionários Públicos Estrangeiros em Transações Internacionais de 1997, que foi incluída na legislação brasileira.
Os seus princípios gerais são os seguintes:
1. contribuir para o progresso econômico, social e ambiental com o propósito de alcançar o desenvolvimento sustentável;
2. respeitar os direitos humanos das pessoas afetadas pelas atividades da empresa, de acordo com as obrigações e os compromissos internacionais do governo do país que a acolhe;
3. estimular a geração de capacidades locais, mediante uma cooperação estreita com a comunidade local, incluindo os setores empresariais locais, desenvolvendo, ao mesmo tempo, suas atividades nos mercados internos e externos compatíveis com a necessidade de práticas comerciais saudáveis;
4. incentivar a formação do capital humano, particularmente por meio da criação de oportunidades de empregos e do fornecimento de formação profissional aos trabalhadores;
5. abster-se de procurar ou aceitar exceções que não constem da legislação em relação ao meio ambiente, à saúde, à segurança, ao trabalho, aos impostos, aos incentivos financeiros ou a outras questões;
6. apoiar e defender os princípios corretos de governança empresarial, bem como desenvolver e aplicar boas práticas de governança corporativa;
7. desenvolver e aplicar práticas de autorregulação e sistemas de gestão eficazes que promovam uma relação de confiança recíproca entre as empresas e as sociedades nas quais exercem suas atividades;
8. promover o conhecimento dos trabalhadores sobre as suas políticas empresariais e a conformidades com elas mediante a difusão apropriada das mesmas, inclusive por meio de programas de formação profissional;
9. abster-se de tomar medidas discriminatórias ou disciplinares contra os trabalhadores que elaboram, de boa-fé, relatórios para a direção da empresa ou, quando for o caso, para as autoridades públicas competentes, sobre as práticas contrárias à lei, a essas Diretrizes ou às políticas empresariais;
10. encorajar, quando possível, os sócios, fornecedores e subcontratados para que apliquem princípios de conduta empresarial compatíveis com essas Diretrizes;
11. abster-se de qualquer ingerência indevida nas atividades políticas locais.
COMBATE À CORRUPÇÃO
O combate à corrupção é um tema essencial em qualquer gestão da responsabilidade social empresarial. Do verbo latino corrumpo, corrumptum, que significa estragar, alterar, prejudicar, deriva corruptio, que é a origem etimológica da palavra corrupção.
Várias iniciativas criadas por diversas organizações procuram dar sua contribuição para combater essa praga, por exemplo, as convenções da ONU, da Organização dos Estados Americanos (OEA) e da OCDE, citadas no Quadro 5.2. Além dessas, merece destaque a Câmara de Comércio Internacional (ICC), que produziu diversos códigos de conduta para a prática empresarial, como o código de práticas sobre marketing direto, sobre propaganda em geral e sobre propaganda ambiental, e teve papel destacado na difusão da auditoria ambiental.
Tais questões surgem no decorrer das atividades e operações realizadas em diversos locais e momentos por diferentes pessoas com graus variados de autoridade e de responsabilidade dentro das organizações envolvidas na cadeia de suprimento. É natural que haja diferentes modos de pensar e agir sobre tais questões, daí a importância dos códigos e regulamentos, a exemplo dos citados, como forma de harmonizar as práticas e torná-las coerentes com as políticas e comprometimentos estratégicos, mesmo quando exercidas por tanta gente espalhada pelo mundo afora.
6 INSTRUMENTOS GERENCIAIS
Essas ferramentas são compatíveis com as várias instâncias da gestão empresarial convencional e se aplicam, individualmente, a cada uma das dimensões da sustentabilidade: as dimensões sociais, econômicas e ambientais. Muitas vezes, a diversidade de instrumentos existentes acaba se tornando um problema de escolha nem um pouco trivial. Uma questão tão complexa como a responsabilidade social empresarial, que envolve assuntos tão diversos e com inúmeras interações entre eles, só pode ser suficientemente inserida em uma organização por meio de várias ferramentas de gerenciamento.
NORMAS INTERNACIONAIS DE GESTÃO
A atividade de normalização internacional, que começa após a criação da International Electrotechnical Commission (IEC), no início do século XX, torna-se mais intensa com a criação da International Organization for Standardization(ISO) em 1947, uma federação internacional formada por organismos de normalização nacionais. O objetivo da ISO é desenvolver a normalização e atividades relacionadas para facilitar as trocas de bens e serviços no mercado internacional e a cooperação entre os países nas esferas científicas, tecnológicas e produtivas. Historicamente, a ISO esteve direcionada ao desenvolvimento de normas técnicas sobre produtos, processos produtivos e métodos de testes e ensaios.
Todas as normas de gestão da ISO, ou que levem em conta as suas recomendações, baseiam-se no ciclo PDCA: planejar, fazer, verificar e agir (do inglês: Plan-Do-Check-Act). A conformidade legal e a melhoria contínua também fazem parte de todas as normas da ISO e das que nelas se espelham. A ideia é a permanente vigilância para realizar aperfeiçoamentos a todo o momento, em todas as atividades, produtos e relacionamentos. Os ciclos PDCA e a melhoria contínua são como a cara e a coroa da mesma moeda. À medida que um ciclo termina, recomeça-se a partir das melhorias obtidas para consolidá-las e ir em frente com novos aperfeiçoamentos.
NORMAS DE GERENCIAMENTO SOCIAL
As normas das séries ISO 9000 e 14000 não estão citadas, embora também tratem desse tema. A SA 8000 foi criada em 1998, pela Social Accountability International (SAI), a partir da necessidade de padronização das atividades sociais em indústrias globais. A norma SA 8000 parte do princípio básico de que a empresa deve cumprir as leis nacionais relativas aos empregados e terceirizados e adotar as disposições das convenções da OIT concernentes aos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho, mesmo quando não foram incorporadas à legislação do país.
A partir da criação dessa norma, as iniciativas de normalização no campo da responsabilidade social se multiplicaram.
Normas nacionais de responsabilidade social
Normas de responsabilidade social foram criadas em diversos países, entre eles, Austrália, Argentina, Brasil, Canadá, Espanha, Estados Unidos, França, Israel, Japão, Marrocos e México. A Associação Francesa de Normalização (Afnor) elaborou a norma-guia SD 21000 sobre responsabilidade social, que propõe recomendações para ajudar a adaptar, técnica e culturalmente, um sistema de gerenciamento para que ele venha a integrar gradualmente os objetivos do desenvolvimento sustentável dentro de uma organização. O guia foi elaborado para ter coerência e complementaridade com os padrões de sistemas de gerenciamento já existentes, como a ISO 9001 e ISO 14001.
A NORMA BRASILEIRA DE RESPONSABILIDADE SOCIAL
A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) desenvolveu a norma NBR 16001, que estabelece requisitos mínimos para a criação e operação de um sistema de gestão de responsabilidade social. Essa norma tem por objetivo prover às organizações os elementos de um sistema de gestão da responsabilidade social, auxiliando-asa alcançar seus objetivos relacionados com esse tema.
É importante assinalar que o atendimento aos requisitos dessa norma não significa que a organização é socialmente responsável, mas que possui um sistema de gestão da responsabilidade. A norma explicita que tal entendimento deve estar presente em todas as comunicações internas e externas da organização.
As questões pertinentes á responsabilidade social da organização devem ser identificada com base nos temas centrais mencionados na norma, a saber: governança organizacional; direitos humanos; práticas de trabalho; meio ambiente; práticas leais de operação; questões relativas ao consumidor, e envolvimento e desenvolvimento da comunidade.
Auditoria e Certificação
A NBR 16001 e todas as normas de sistemas de gestão, tais como a ISO 9001 e a ISO 14001, têm na auditoria um requisito essencial associado ao processo de medição, análise e melhoria.
A análise pela Alta Direção deve ser feita a intervalos planejados para assegurar a sua contínua pertinência, adequação e eficácia, incluindo as oportunidades de melhoria e as necessidades de mudanças. Esta análise deve levar em conta, entre outros, os seguintes documentos:
a) resultados de auditorias internas do sistema de gestão, as avaliações da conformidade legal e de outras pertinentes;
b) comunicações com as partes interessadas, incluindo sugestões e reclamações;
c) resultados dos processos de identificação e engajamento das partes interessadas;
d) situação dos processos de tratamento de conflitos ou desavenças;
e) desempenho da responsabilidade social da organização;
f) situação das ações corretivas e preventivas;
g) acompanhamento das ações oriundas de análises anteriores pela alta administração;
h) circunstâncias de mudanças, inclusive de requisitos legais e outros associados com os aspectos da responsabilidade social; e
i) recomendações para melhorias.
As orientações básicas para as auditorias dos sistemas de gestão da qualidade e de gestão ambiental encontram-se na norma ISO 19011.
INTEGRANDO DIFERENTES SISTEMAS DE GESTÃO
Uma dificuldade adicional existente no dia a dia das empresas consiste na integração entre os diversos sistemas gerenciais implantados. De fato, sistemas certificados requerem auditorias periódicas de avaliação e, muitas vezes, essas auditorias se sobrepõem quando os sistemas não estão integrados, de modo que algumas áreas críticas, como operações e divisão comercial, são auditadas de duas a três vezes por semestre, para cobrir os requisitos da ISO 9001, da ISO 14001, da OHSAS 18001 e da SA 8000.
O Projeto Sigma
O Projeto Sigma (do inglês Sustainability – Integrated Guidelines for Management, sem dúvida um título forçado para gerar a palavra sigma, letra grega que na sua forma maiúscula é o símbolo de somatório na Matemática) foi proposto em 1999 pela AccountAbility, em conjunto com o órgão britânico de normalização (BSI) e o Forum for the Future, uma ONG inglesa dedicada a estudos sobre sustentabilidade. A partir de uma abordagem baseada no ciclo PDCA, o Projeto Sigma sugere que a integração ocorra de acordo com a seguinte sequência de fases:
liderança e visão → planejamento → entrega → monitoramento, analise crítica e relato.
COMUNICAÇÃO COM AS PARTES INTERESSADAS
A divulgação do desempenho social da empresa depende de como os seus dirigentes entendem a responsabilidade social. Se entenderem de acordo com a teoria do acionista, então a comunicação será endereçada aos acionistas atuais e potenciais que objetivam mostrar que os dirigentes estão agindo no melhor interesse dos acionistas e cumprindo as exigências legais. Porém, se entenderem conforme a teoria das partes interessadas e a do contrato social, a comunicação cumprirá outras funções. Divulgar o que a empresa está fazendo e alcançando nos campos econômicos, sociais e ambientais constitui apenas uma das inúmeras atribuições da empresa, como o processo de envolvimento das partes interessadas para o estabelecimento de objetivos e práticas de gestão que façam sentido para a empresa e para elas também.
Muitas empresas se preocupam mais intensamente com os relatórios do que com o fazer, o que só contribui para aumentar o ceticismo em relação à responsabilidade social das empresas em geral e aos relatórios de sustentabilidade publicados. Não são poucas as empresas que criam departamentos exclusivos para cuidar dos relatórios, com pessoas dedicadas apenas a isso e que realizam seus trabalhos sob estreita vigilância dos dirigentes, para que os relatórios saiam conforme encomendaram.
GOVERNANÇA CORPORATIVA
Governança refere-se às relações de poder dentro de uma organização, o modo como diferentes agentes resolvem conflitos relativos à direção da empresa. Pode-se dizer, grosso modo, que se trata da forma de exercer o poder. Essa palavra foi empregada pelo Banco Mundial com respeito aos governos dos países e sua capacidade de promover ajustes macroeconômicos que dependiam de reformas dos Estados. A governança seria, dessa forma, a capacidade de o governo exercer a sua autoridade para a consecução dos objetivos de política econômica.
Vários esquemas foram criados para informar aos investidores sobre a gestão das empresas nesses domínios da sustentabilidade. Um dos mais conhecidos é o Dow Jones Sustainability Indexes da Bolsa de Valores de Nova York. No Brasil, a Bovespa criou o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que reúne as empresas que se destacam nessas três dimensões da sustentabilidade empresarial e em governança corporativa para formar uma carteira específica de ações que represente o benchmark brasileiro para operadores no mercado nacional e internacional. Iniciativas como essas procuram criar referências para os produtos financeiros baseados no conceito de empresa sustentável, a partir de um sistema de gestão adequado à política de responsabilidade social.
DIFICULDADES E OBJEÇÕES
É preciso reconhecer que existe uma questão de complexidade organizacional envolvendo o dimensionamento de recursos na implantação de sistemas gerenciais normativos com foco na sustentabilidade. As organizações de grande porte, via de regra, necessitam de sistemas com maior grau de formalismo e de auditorias de terceira parte. Nessas organizações, os sistemas de gestão facilitam a obtenção de disciplina gerencial por meio de processos estruturados de acordo com o conhecido ciclo PDCA. Além disso, a padronização de práticas permitidas pela implantação desses sistemas permite a uniformidade das decisões nas diversas unidades da empresa.
7 A NORMA ISSO 26000
Fornece diretrizes e ajuda prática a qualquer organização que queira atuar com responsabilidade social associada ao desenvolvimento sustentável. Esta norma apresenta particularidades que recomendam um tratamento especial. Uma delas refere-se ao seu processo de criação, no qual participaram milhões de pessoas em todos continentes, algo inédito no âmbito da ISO. Nunca uma norma recebeu tanta atenção de pessoas estranhas ao ambiente de produção de normas internacionais que, em geral, são produzidas em círculos estreitos de profissionais, consultores, certificadores e agentes governamentais.
A ISO 26000 é uma espécie de compêndio de boas práticas de responsabilidade social e, como tal, abraça um conjunto maior de questões. Daí decorre outra particularidade dessa norma: ela facilita a escolha dos instrumentos gerenciais e o seu uso, sendo uma vantagem enorme, pois a crescente variedade desses instrumentos é um dos problemas que, em geral, afligem os dirigentes quando da implementação de uma política de responsabilidade social adequada aos propósitos do desenvolvimento sustentável.
Comunicação sobre a responsabilidade social
A comunicação sobre a responsabilidade social desempenha um papel importante no processo de integração, bem como para conscientizar sobre suas estratégias, objetivos e planos; demonstrar respeito pelos princípios antes mencionados; ajudar a engajar e estabelecer diálogos com as partes interessadas; mostrar como os compromissosassumidos estão sendo cumpridos e como as respostas aos interesses das partes interessadas e as expectativas da sociedade estão sendo atendidas; fortalecer a reputação da organização em termos de ação responsável, franqueza, integridade e accountability.
A norma reconhece que há várias formas para estabelecer a credibilidade, e uma delas é o engajamento das partes interessadas por meio de diálogo, e que também é considerado uma prática fundamental de responsabilidade social como mostrado anteriormente. A credibilidade pode ser fortalecida com as certificações relacionadas com a gestão da qualidade, do meio ambiente, da segurança e saúde no trabalho, do manejo florestal, entre outros, pois elas dizem respeito aos temas centrais da responsabilidade social, desde que os organismos certificadores também desfrutem de credibilidade.
A norma ISO 26000 tem como propósito básico ser um documento integrador de diversos instrumentos de gestão reconhecidos internacionalmente, de modo a levar as organizações a optarem por escolhas alinhadas com suas estratégias e necessidades. Como visto, não é um documento pretensioso que faz tabula rasaem relação ao que já foi feito para gerar uma norma ab ovo. Com efeito, ela não pretende substituir as normas atuais que estão dando contribuições valiosas, bem como as iniciativas de outra natureza, citadas no Anexo A. Porém, essas normas possuem escopos específicos e não abrangem todos os requisitos necessários para cobrir os tópicos da responsabilidade social. Por exemplo, a SA 8000 aplica-se ao público interno; a AA 1000, ao diálogo com stakeholders, a norma ISO 14001, à gestão ambiental e a OHSAS 18001, à saúde e segurança no trabalho. Assim, a norma ISO 26000 foi concebida para ser um guia capaz de orientar a organização nas suas decisões a respeito da responsabilidade social, bem como para tornar mais eficaz o uso de múltiplos instrumentos de gestão aplicáveis às questões específicas, como as já exemplificadas.

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