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AULA 18 - PRESCRICAO E DECADENCIA

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PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA
	O tempo é fato jurídico natural de grande importância nas relações jurídicas pela influência que pode ter na gênese, exercício e perda dos respectivos direitos.
	O tempo é, assim, fator de limitação do exercício dos direitos. Caducidade é a figura técnica que exprime a extinção dos direitos e suas pretensões pela inércia do respectivo titular no tempo devido. Em sentido amplo, significa extinção de direitos em geral, e em sentido restrito, (i) perda da pretensão de exigibilidade quanto ao seu direito subjetivo, quando toma de prescrição ou (ii) perda de mera faculdade, quando toma o nome de decadência.
	Ademais, como veremos na seqüência, é muito simplória e, por que não dizer, incorreta a conceituação de prescrição como a perda do direito de ação e a decadência como a perda do direito material. Portanto, é de se ter muito cuidado com este ponto, pois a confusão é muito comum.
1. PRESCRIÇÃO. CONCEITO, FUNDAMENTO E OBJETO. REGRAS GERAIS. 
	Conceito: prescrição é a perda da pretensão de exigibilidade, quanto a direito subjetivo, em virtude da inércia do seu titular no prazo fixado em lei. Na prescrição é preciso que ao titular do direito corresponda um dever jurídico, para que, pela violação deste dever jurídico surja a lesão e, por conseguinte, a prescrição. Entende-se por exigibilidade a qualidade do direito que pode ser reclamado em pagamento, que pode ser exigível. Portanto, é típico das obrigações.
	A obrigação prescrita transforma-se em obrigação natural, que é aquela em que o credor não dispõe de ação judicial para exigir do credor o pagamento, mas, no caso deste ser feito, pode retê-lo. Assim, o a prescrição faz, realmente, é exonerar o dever jurídico e não extinguir o direito subjetivo a ele correspondente.
	Para que se configure a prescrição, são necessários os seguintes elementos:
um direito subjetivo lesado, do que necessariamente nasce uma pretensão de ressarcimento;
a não-exigência do respectivo dever, ou do ressarcimento do dano;
o decurso do prazo que a lei estabelece.
 
Com a prescrição, pune-se a negligência do titular do direito lesado, bem como se reconhece a necessidade de se ter segurança nas relações jurídicas, para que se não volte, a qualquer tempo, a superadas pretensões e a antigos litígios.
A prescrição não afeta os direitos personalíssimos (pois só atua no campo dos direito subjetivos patrimoniais, como já assinalado) e os direitos de família, que são irrenunciáveis e indisponíveis.
A prescrição tornou-se matéria de ordem pública, com o advento da Lei nº 11.280/06, que modificou o CPC, trazendo a seguinte redação ao art. 219, § 5º, daquele Código (CPC): “O juiz pronunciará, de ofício, a prescrição”. Assim, mesmo que não alegada pela parte, o Juiz tem o dever de declará-la (lembrem que o mesmo ocorre com o ato nulo – matéria pública -, como já visto na aula sobre nulidade e anulabilidade). 
Renúncia (ato jurídico pelo qual o titular de um direito dele se desfaz, constituindo-se em um modo geral de extinção de direito): o devedor pode deixar de alegar a prescrição que o beneficia, a ela renunciando. É preciso, porém, que a prescrição esteja consumada (prazo totalmente decorrido) e que a renúncia não prejudique terceiros. Pode ser tácita (prática de atos incompatíveis com a prescrição, como p. ex., o pagamento da dívida) ou expressa, que resulta de prática de ato inequívoco da parte cuja prescrição aproveita. Neste caso, a lei não impõe forma determinada.
2. CAUSAS DE IMPEDIMENTO, SUSPENSÃO E INTERRUPÇÃO DA PRESCRIÇÃO
Impedimento da prescrição é o obstáculo ao curso do respectivo prazo, antes de seu início.
Suspensão é a cessação temporária do curso do prazo prescricional, sem prejuízo do tempo já decorrido. Resulta de fato surgido após o início do curso do prazo prescricional, suspendendo-o enquanto permanecerem tais causas, e prosseguindo quando cessarem. 
Tais institutos estão dispostos nos arts. 197 a 201, do CC.
Já a interrupção é o fato que impede o fluxo normal do prazo, inutilizando o já decorrido. A contagem recomeça do início. Sua disciplina legal está contida nos arts. 202 a 204, do CC. 
3. DECADÊNCIA. CONCEITO E OBJETO. REGRAS GERAIS
Conceito: decadência é a perda do exercício da faculdade que me é permitida. Isto porque onde nós não tivermos um direito subjetivo, onde tivermos mera faculdade, à qual não corresponda um dever de outrem, não podemos ter lesão de direito (exigibilidade) e não podemos ter prescrição.
Decadência quer dizer prazos fatais (com isso, não se tem suspensão ou interrupção de fluência do prazo) que a lei assinala para que dentro deles se exercite a faculdade. E quem não exercitar a faculdade dentro daquele tempo não a poderá exercer mais, nunca mais.
Ainda, a decadência é irrenunciável, conforme disposto no art. 209. Se aquele a quem aproveita a decadência, renunciá-la, a renúncia será nula.
4. PRAZOS PRESCRICIONAIS E DECADENCIAIS
O art. 206 trata, especificamente, dos prazos prescricionais. O rol é exemplificativo, pois há outros casos além dos previstos neste artigo, como p. ex., o art. 745, do CC, que trata de pretensão indenizatória do transportador; o art. 206, § 2º, do CC, que trata da pretensão para cobrar prestações alimentícias vencidas e não pagas, além de outros casos possíveis.
Já no que tange aos prazos decadenciais, o Código não os traz, nem de maneira exemplificativa, em um determinado artigo. Estão esparsos por todo o Código, a exemplo do art. 516, do CC, que trata do exercício do direito de preferência; art. 68, do CC, que trata da impugnação, pela minoria vencida, de alteração de estatuto de fundação; art. 445, que trata de ação redibitória de coisa móvel.

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