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O que é Opinião Pública - Rubens Figueiredo e Silvia Cervellini [COLEÇÃO PRIMEIROS PASSOS]

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1
2
Sumário
A OPINIÃO PÚBLICA EM NOSSAS VIDAS ......................................... 3
O CONCEITO ............................................................................................ 5
AS PROPRIEDADES DA OPINIÃO PÚBLICA ...................................... 9
A FORMAÇÃO DE OPINIÃO ................................................................16
AS PESQUISAS DE OPINIÃO PÚBLICA .............................................20
OPINIÃO PÚBLICA E DEMOCRACIA .................................................27
3
A OPINIÃO PÚBLICA EM NOSSAS VIDAS
Estamos no dia 5 de maio de 1994. Uma multidão se aglomera ao longo do caminho por 
onde passa o funeral de Ayrton Senna. Outros similares estão em casa, no trabalho, nos bares, 
atentos à televisão que faz uma transmissão contínua da passagem do carro que carrega o 
corpo do piloto. É certo que em cada canto do Brasil, mesmo nos municípios mais afastados 
dos grandes centros, pelo menos um pequeno grupo acompanha o funeral e fala a respeito dos 
acontecimentos que envolveram a morte do grande herói nacional. Naqueles dias não havia 
necessidade de perguntar e medir a força e a amplitude dos sentimentos dos brasileiros em 
relação à morte de Ayrton Senna: elas estavam tão presentes que pareciam uma grande nuvem 
acima de nossas cabeças. 
Temos aí uma situação em que o povo brasileiro se manifestou de forma imediata, direta 
e clara sobre um acontecimento. Analisando a ação das pessoas indo ao funeral, discutindo 
em casa e nas ruas, acompanhando a cobertura na televisão, no rádio, nos jornais e revistas, 
enviando mensagens a família, demonstrando das mais variadas maneiras o seu sentimento, 
podemos dizer com certeza que a morte de Senna abalou a opinião pública brasileira.
Passemos para outro fato importante na vida do país: o impeachment de Fernando Collor. 
Tudo começou com matérias na imprensa trazendo variadas acusações de corrupção no gover-
no. Elias só se tornariam contundentes quando foram finalmente confirmadas na entrevista do 
irmão do presidente a uma revista de grande circulação nacional. Pedro Collor era uma fonte 
que não dava margem a dúvidas: seu depoimento valia mais do que tudo o que havia sido 
publicado até aquele momento, pois confirmava as denúncias e ia além. A partir daí, os meios 
de comunicação começaram a dar destaque diário ao tema, mais parlamentares começaram a 
se pronunciar de forma mais enfática e os cidadãos comuns começaram a perceber que algo 
diferente estava acontecendo. 
Para se ter uma ideia de como as coisas evoluíram, basta olhar os resultados de algumas 
pesquisas feitas pelo Ibope em 1991 e 1992. Em maio de 1992, seis em cada dez entrevista-
dos achavam que até aquele momento não existiam provas que justificassem o afastamento 
de Collor. Em setembro, mês da aprovação do pedido de impeachment no Congresso e do 
afastamento de Collor do cargo, a situação já era outra: 59% achavam que Collor deveria sair 
do Cargo e o vice ltamar Franco, assumir. Finalmente em outubro, antes do Senado julgar o 
impeachment, três quartos dos brasileiros consultados achavam que o melhor seria que Collor 
fosse considerado culpado e afastado definitivamente da presidência.
Durante todo esse período, as pesquisas de opinião funcionaram como forte instrumento de 
pressão sobre os responsáveis por apurar as denúncias e punir os culpados. Elas foram muito 
usadas pelos opositores de Fernando Collor como uma ameaça de que os brasileiros poderiam 
partir para reações radicais se nada fosse feito naquele momento. Tivemos então os caras pin-
tadas, que de certa forma concretizaram as ameaças sugeridas, com suas maciças manifesta-
ções de rua e gritos de guerra à corrupção. Esta seqüência de fatos mostra como uma corrente 
de opinião pública se forma aos poucos, vai crescendo, adquirindo novas facetas, até se tornar 
tão presente quanto foi a reação imediata a morte de Ayrton Senna. 
Vamos pensar, agora em outro elemento bem presente em nosso dia-a-dia: a televisão. 
Todas as semanas a Rede Globo apresenta o programa Você Decide, no qual os telespectado-
4
res são convidados a telefonar para a emissora opinando sobre qual deve ser o final do epi-
sódio que está indo ao ar. A ideia básica do programa é ser aberto à participação do público, 
refletindo o que este acha certo ou errado, jogando com situações fictícias, mas que sintetizam 
confrontos morais reais. Isso se chama comunicação interativa.
Alguns programas alcançam um número de ligações maior do que a media e a disputa entre 
um lado e outro é mais acirrada, enquanto outras vezes, desde o começo do episódio, já fica 
óbvio qual será o final vencedor. De qualquer maneira, cada telespectador, ligando ou não para 
a emissora, sente-se envolvido com a trama e fica torcendo para que o seu lado ganhe, além de 
ficar curioso para saber o que as outras pessoas acham daquela situação.
Esta tentativa de colocar a opinião pública no ar é a base para um filão importante nos 
meios de comunicação de massa: só nos Estados Unidos existem vários programas deste tipo. 
Uma das fórmulas mais usadas é convidar um grupo de homens e mulheres para participar 
de uma discussão sobre temas polêmicos. Assim, um casal de homossexuais que quer ter um 
filho vai ao programa para falar sobre suas intenções e justificá-las, enquanto o apresentador 
vai moderando ou estimulando o debate entre a plateia e o casal, ou mesmo discussões que 
esquentam entre duas pessoas da platéia. Para quem assiste a este tipo de programa, ou ouve 
algo semelhante no rádio, fica a sensação de que suas próprias opiniões e valores estão lá, no 
meio do debate, sendo apresentados ora por um senhor mais velho, ora por uma moça elegante, 
ora pelo casal de homossexuais. 
Da tela da televisão vamos para Berlim, 1989. Quem assistiu as cenas dos jovens com mar-
telos e picaretas, derrubando o muro que separava o lado oriental do ocidental na Alemanha, 
nunca mais esquecerá. Estavam tão felizes, eufóricos e comovidos que transmitiam esses sen-
timentos para todos que assistiam a eles, ao mesmo tempo que representavam o alívio de todos 
aqueles que se sentiam oprimidos direta ou indiretamente por aquele muro. Os jovens com 
suas picaretas eram um símbolo de algo muito maior, um desejo do povo alemão, e mesmo de 
outras nações, de promover a união e esquecer o passado de guerra. 
Saindo um pouco dos eventos que envolvem multidões e grades questões nacionais, va-
mos lembrar daqueles movimentos relâmpagos que envolvem pequenos grupos. Por exemplo, 
a construção de grandes valetas no asfalto de una estrada por moradores que já viram muitos 
conhecidos morrerem atropelados naquele trecho e querem forçar as autoridades a tomar algu-
ma providência. Ou ainda as demonstrações de heroísmo de um pequeno barco do Greenpeace 
(organização ambientalista internacional) que se coloca, com sua tripulação, frente a frente 
com grandes pesqueiros ou cargueiros para evitar danos ao meio ambiente.
Você deve estar se perguntando: “Mas afinal de contas, o que existe em comum entre um 
cortejo fúnebre, os caras-pintadas, o Você Decide, a derrubada do muro de Berlim, as pesqui-
sas que demonstraram apoio maciço ao impeachment de Fernando Collor, a revolta dos mora-
dores do um bairro e as demonstrações do Greenpeace?”. Por enquanto podemos dizer que em 
algum momento alguém usou a expressão “opinião pública” para se referir a cada um destes 
fatos, mesmo sendo eles tão diferentes entre si. Aliás, basta ler os jornais mais importantes do 
país durante um final de semana e reparar quantas vezes aparece essa expressão: com certeza 
mais de vinte. Não seria justo considerar isso como um sinal de falta de vocabulário dos jor-
nalistas e colaboradores dos jornais. Nós preferimos acreditar que se trata de um claro sinal da 
importância dos fenômenos da opinião pública na vida das sociedades modernas.
5
O CONCEITOVocê viu, até aqui, exemplos de algumas manifestações da opinião pública. Falta verificar, 
agora, o que significa precisamente esse conceito e quais serão as principais controvérsias a 
respeito do tema.
De início, existem duas dificuldades para se conceituar o que é opinião pública. A primeira 
é que essa expressão faz parte da família dos conceitos de teoria política, que dificilmente tem 
uma aceitação generalizada. Se colocarmos cinco especialistas para discutir o que é democra-
cia, partido político e separação de poderes, por exemplo, pode apostar que eles divergirão 
a respeito desses assuntos. Não há, nesse campo de estudos, definição que agrade a todos. O 
conceito de opinião pública tem o mesmo poder de criar discussões e polêmicas do que os 
assuntos citados. 
Um especialista nesse assunto, Harwood L. Childs, foi capaz de listar nove distinções do 
conceito de opinião pública, sugeridas por vários autores através dos tempos (não temos dúvi-
da de que existe muito mais do que isso). Dependendo da ênfase que se da a um ou a ou outro 
aspecto do fenômeno - influência afetiva, elite melhor informada, opinião formada racional-
mente, etc. - a perspectiva vai mudando e os conceitos vão tomando contornos diferentes.
A segunda dificuldade surge porque a expressão “opinião pública” está muito popularizada. 
De um modo geral, as pessoas se utilizam do conceito no dia-a-dia. Presidentes, governadores, 
deputados, jornalistas, professores, estudantes, empresários, lideres de classe, etc. já tem uma 
noção do que ela significa. Atualmente, é difícil o dia em que não entramos em contato com a 
ideia de opinião pública, através de jornais, revistas, rádio, televisão, conversas, aulas. E cada 
um usa a expressão da maneira que lhe parece melhor. Qualquer conceituação que se tente, 
portanto, restringe a amplitude que se confere cotidianamente à idéia de opinião pública, e 
pode parecer radical a quem usa o termo sem se preocupar com o rigor conceitual
Não é dificil verificar esse uso de acordo como gosto de cada um. O jornalista Fernan-
do Pedreira, por exemplo, associou opinião pública em um dos seus artigos,às matérias e 
comentários que aparecem na mídia. Um outro jornalista, Élio Gaspari, em uma análise sobre 
o início do governo de Fernando Henrique Cardoso, entendeu opinião pública como povo na 
rua. Muitos analistas preferem compreender opinião pública como o resultado que se verifica 
nas pesquisas: só está em sintonia com a opinião pública quem age de acordo com o que mos-
tram as pesquisas. Outros, acham que eia é sinônimo de “moral”, de “cultura” ou mesmo de 
“sociedade”. E por aí vai.
Certamente, o senso comum associa mais freqüentemente a idéia de opinião pública aos 
resultados das pesquisas. Nesse sentido, o conceito de opinião pública coincidiria com o de 
pesquisa, que, no mundo moderno, vem desempenhando um papel cada vez mais importante. 
Como a pesquisa - que começa a se desenvolver a partir dos anos 80 deste século nos EUA - é 
posterior a idéia de opinião pública que já existia nos escritos de alguns clássicos do século 
XVIII - muitos autores teceram uma série de críticas a essa identificação de pesquisa com opi-
nião pública propriamente dita.
Essa identidade da opinião pública com a pesquisa está relacionada à teoria da democracia, 
mais especificamente, à ideia de igualdade que anima a luta eleitoral. Numa eleição, cada voto 
vale exatamente a mesma coisa, independentemente de o eleitor ser rico, instruído e sofisti-
cado ou pobre, ignorante e rústico. Nesse sentido, a opinião pública seria a simples somatória 
6
do conjunto de opiniões individuais. Os indivíduos ouvidos isoladamente em uma pesquisa, 
geralmente em suas próprias casas, teriam suas opiniões agrupadas em computadores e esse 
resultado corresponderia a opinião pública.
Vários autores, ao longo das últimas décadas, criticaram essa identificação da opinião pú-
blica com os resultados de pesquisas, usando argumentos que podem ser agrupados em duas 
vertentes. A primeira delas centra suas críticas no fato de que a pesquisa coloca artificialmente 
em posição de igualdade opiniões que são qualitativamente diferentes. Numa eleição, o voto 
de um militante petista que sabe de cor o programa de seu partido vale tanto quanto o voto de 
uma simpatizante que escolhe Luis Inácio Lula da Silva porque acha sua barba bonita. É uma 
das bases normativas da democracia: todos são iguais na hora de votar. Da mesma forma, uma 
pesquisa sobre um assunto qualquer coloca no mesmo plano a avaliação de um especialista e 
a impressão genérica de um indivíduo pouco escolarizado, que muitas vezes responde às per-
guntas sem saber muito bem do que se trata.
Os defensores da pesquisa — que a consideram um retrato legítimo da opinião pública — 
rebatem dizendo, entre outras coisas, que opinião é diferente de conhecimento. É aquilo que 
as pessoas “pensam” acerca de algo, alguma coisa ou alguém. Do ponto de vista psicológico, 
a opinião está mais perto das crenças do que das atitudes absolutamente racionais, que se ba-
seiam em informações vastas sobre o tema que está sendo tratado. Alguém já disse, inclusive, 
que a opinião se situa a meio caminho entre ignorância e o saber.
A outra vertente de críticos da concepção “igualitária” da opinião pública questiona a va-
lidade do conceito em termos do peso político dos indivíduos. É a visão que associa a opinião 
pública àquela que é constituída pelos pontos de vista dos grupos organizados que se expres-
sam publicamente. O argumento dessa vertente diz respeito mais ao efeito desse tipo de mani-
festação do que a qualquer outra coisa. A opinião pública que emana dos grupos organizados 
e é formulada em arenas também públicas — nas ruas, nas praças, nos meios de comunicação, 
em frente ao Congresso etc. — seria mais eficaz para influenciar os tomadores de decisões 
políticas. Eles se preocupariam mais com a minoria presente e ruidosa do que com a maioria 
silenciosa e ausente.
Essa ideia confere um valor conceitual maior à capacidade que os grupos têm de se organi-
zar e expressar publicamente suas demandas. O problema é que, em certos casos, pode haver 
uma falta de sintonia completa entre aquilo que a opinião pública das pesquisas mostra e aqui-
lo que o barulho dos grupos organizados produz. Vamos dar um exemplo muito concreto: os 
comícios do PT (Partido dos Trabalhadores), nas eleições presidenciais de 1989 e 1994, foram 
muito mais animados e concorridos do que os comícios dos adversários. Nem por isso o can-
didato petista venceu seus concorrentes. Isso porque a maioria dos brasileiros preferiu Collor, 
no primeiro caso, e Fernando Henrique Cardoso, no segundo. É difícil defender a tese de que 
o voto da maioria dos brasileiros não correspondia à opinião pública. 
Geralmente, as minorias säo mais atuantes do que as maiorias. É quase impossível realizar 
uma grande manifestação pela unidade nacional, por exemplo, a menos que haja uma gran-
de ameaça. Mas dez doidos de Santa Catarina podem proclamar uma, república autônoma, 
criar uma nova moeda e dizer que não pertencem mais ao Brasil. Nesse caso, manifestações 
favoráveis ao separatismo são fenômenos de opinião pública. Mas não têm nada a ver com o 
que pensa a imensa maioria dos brasileiros.
Temos até aqui duas concepções polêmicas de opinião pública. De um lado, a opinião 
7
pública das sondagens não seria o conceito ideal, uma vez que ela reúne artificialmente 
opiniões individuais de forma homogênea, não dando conta das diferenças de envolvi-
mento e conhecimento, em relação aos temas discutidos, colocando no mesmo plano opi-
niões racionais e bem fundamentadas e outras que chegam a ser “chutes”. De outro, a 
opinião pública dos grupos que, apesar de se expressar publicamente, pode muitas vezes 
não passar de manifestação isolada de parcelas muito específicas da sociedade, como 
gays e Hare Krishnas, e nãoter nada a, ver com o pensamento da maioria dos cidadãos.
Nesse ponto, já sabemos algumas coisas. Que é difícil conceituar opinião pública, seja pela 
natureza do tema, seja por já haver uma idéia do que e opinião pública na cabeça das pessoas. 
Depois, vimos que a opinião pública pode estar associada ao resultado das pesquisas, na sua 
visão mais “igualitária”, ou na ação organizada de grupos que expressam coletivamente seus 
pontos de vista para a sociedade. Analisamos também os problemas que decorrem de uma e 
outra visão.
Vamos avançar um pouco para dar um conceito mais claro do que seja opinião pública — 
conceito esse que será utilizado até o final deste livro. Assim como todos os que apareceram 
até hoje, não se trata de algo definitivo, com o qual todos vão concordar e nem temos a pre-
tensão de cunhar um conceito original que seja universalmente aceito. Mas podemos arriscar 
uma visão mais abrangente e acabada, que incorpora contribuições de vários autores que se 
dedicaram ao estudo do tema e está sendo muito bem-aceita, principalmente na França.
Uma maneira moderna de se conceber a opinião pública é a que leva em conta a sua 
pluralidade. Segundo essa idéia, não existe uma, mas várias maneiras de se identificar os 
fenômenos de opinião pública. Assim, a opinião pública se expressa através dos grupos 
organizados (como a dos funcionários da Petrobras que não querem a privatização), das 
manifestações mais ou menos espontâneas (como a dos fãs de Senna, que saíram às ruas 
para chorar a morte do ídolo), das pesquisas, das eleições, etc. Nesse sentido, a opinião 
pública não designa apenas uma coisa, mas várias. Isso porque a coletividade também 
não tem uma única forma de se manifestar, mas uma coleção delas.
Um dos pioneiros na tentativa de conceituar opinião pública foi Walter Lippman. Ele aler-
tava para o fato de que o mundo onde vivemos é vasto e complexo para que cada um de nós 
possamos aprendê-lo sozinho, de forma independente. As sociedades, através da História, fo-
ram criando formas para transmitir os conhecimentos que se iam desenvolvendo. Hoje, ao 
formarmos uma opinião sobre qualquer coisa, teremos necessariamente que contar com infor-
mações produzidas e veiculadas por instituições (geralmente os veículos de comunicação), e 
não obtidas exclusivamente de nossa experiência individual. 
Isso chama a atenção para o primeiro elemento do nosso conceito, que diz respeito à sua ori-
gem. Opinião pública se origina do debate político, ou seja, de um processo de discussão cole-
tiva, implícito ou explícito. É muito difícil que um indivíduo forme uma opinião isoladamente. 
Ele leva sempre em conta o que lhe ensinaram os pais, o que pensavam as pessoas de suas 
relações, as informações que recebe da mídia, a análise de um formador de opinião (que pode 
ser um político, um artista, um jogador de futebol, etc.) e assim por diante. Isso pode parecer 
muito óbvio hoje. Mas é bom lembrar que nem sempre a sociedade foi assim.
Somente a maneira pela qual se originam as opiniões dos indivíduos não é, entretanto, 
suficiente para caracterizar um fenômeno de opinião pública. Um cidadão pode estar perfei-
tamente informado das vantagens e desvantagens do uso do cinto de segurança na cidade, por 
8
exemplo. Ele pode ter discutido o assunto com os amigos, assistido a programas sobre o tema e 
até participado de algum seminário com a presença de especialistas. Mas nem por isso estamos 
diante de um fenômeno de opinião pública.
Um segundo elemento do conceito diz respeito à necessidade de haver expressão pública 
da opinião. Se existirem cinquenta milhões de brasileiros firmemente convencidos de que é 
preciso usar cinto de segurança na cidade, por exemplo, mas ninguém disser nada e ninguém 
fizer nada, não podemos falar que existe um fenômeno de opinião pública a esse respeito. E 
a pesquisa é importante exatamente nesse sentido, porque ela é capaz de explicitar aspectos 
latentes do modo de pensar dos indivíduos e, portanto, da própria sociedade. 
A ideia de opinião pública deve também pressupor - e essa é a sua terceira característica - 
que o tema que gera a produção de opinião (no nosso exemplo, usar ou não cinto de segurança 
na cidade) deve ser relevante para provocar uma discussão pública. A opinião que um homem 
casado tem a respeito de sua sogra, por exemplo, não é um fenômeno de opinião pública. Nem 
tampouco a discussão de um casal sobre a conveniência ou não de se deixar uma toalha mo-
lhada sobre a cama.
Agora, se de alguma forma a opinião do genro em relação à sogra ganha relevância pública 
- se esse é o ponto principal da trama de uma novela de frande audiência, por exemplo -, a opi-
nião de várias pessoas que passam a discutir o assunto se transforma num fenômeno de opinião 
pública. De maneira análoga, se ficamos sabendo que a toalha molhada em cima da cama é o 
motivo que levou um casal de artistas conhecidos à separação, essa discussão também ganha 
caráter público, podendo se transformar, inclusive, em matéria de uma pesquisa de opinião.
Resumindo: não existe apenas um tipo de opinião pública, mas vários. É claro que existem 
situações exemplares: o caso da campanha pelas diretas, em 1984, por exemplo. Ali, existia 
um amplo debate sobre o tema; as pessoas saíram às ruas, praças e avenidas para mostrar a sua 
opinião em comícios e passeatas. e o assunto era extremamente público, além de democrati-
camente nobre. Para dar mais força à manifestação, a distribuição das opiniões (vamos ver o 
que é isso mais adiante) era quase homogênea: a maioria esmagadora dos brasileiros queria 
eleições diretas.
Em outros casos, a situação não é tão cristalina assim. Funcionários do Banco do Brasil 
podem fazer manifestações animadíssimas para a manutenção da estabilidade no emprego. E 
isso que é um fenômeno de opinião pública. O Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública 
e Estatística) e o Cepac (Centro de Pesquisa, Análise e Comunicação) podem fazer uma pes-
quisa de opinião sobre o assunto e verificar, por exemplo, que 72% dos brasileiros são contra 
esse tipo de privilégio. E essa também é uma manifestação de opinião pública. Assim como 
é, também, qualquer outra que envolva grupos menores e preocupações ainda mais restritas, 
ainda que, evidentemente, públicas. É o caso do grupo de pessoas que bloqueia uma estrada 
para protestar pela insegurança e exigir a construção de uma passarela.
Entendemos, portanto, a opinião pública como a expressão de modos de pensar de determi-
nados grupos sociais ou da sociedade como um todo (que pode ser delimitada em municípios, 
estados, regiões ou países) a respeito de assuntos de interesse comum em um dado momento. 
Como vimos, ela tem múltiplas formas de expressão e seus objetivos são os mais variados, 
não se restringindo a temas políticos. Daqui em diante, estaremos sempre pensando na maneira 
mais prática e difundida dela se manifestar e ser mensurada: a pesquisa de opinião pública
9
AS PROPRIEDADES DA OPINIÃO PÚBLICA
O presidente de um país democrático deve tomar uma decisão: iniciar uma guerra com ou-
tro país que pretende invadi-lo ou tentar saídas diplomáticas para o problema. Um dos fatores 
que ele Ievará em conta para decidir é a opinião dos cidadãos de seu país. Ele tentará prever 
qual será a reação do seu público para cada uma das possíveis alternativas que tem diante de 
si. As manifestações da opinião pública são como sinais para o presidente: se ele souber Iê-los, 
poderá tomar uma decisão sem riscos de ser “punido” pelos eleitores depois.
Durante a Guerra do Golfo, contra o Iraque, o presidente americano George Bush deve ter 
ficado de olho nos resultados das pesquisas, como as feitas pelo grupo New York Times/CBS 
News. Em janeiro de 1991, seis em cada dez adultos americanos achavam que a guerra tinha 
valido a pena, apesar dos seus custos. Esse número passou para 72% em fevereiro/março e caiu 
para66% em junho. Nessa última data, foi perguntado também se os EUA deveriam ter parado 
de lutar ou continuado até remover Saddam Hussein do poder, 69% dos americanos preferiam 
esta segunda alternativa.
No Brasil, a Rede Globo encomendou uma pesquisa nacional que trouxe resultados cla-
ramente favoráveis a atitude dos países aliados que lutaram contra o Iraque para libertar o 
Kuwait. É interessante verificar que mesmo os brasileiros, apesar da distância em relação ao 
conflito, tinham opinião formada sobre o que os aliados deveriam fazer quando conseguissem 
tomar de volta o Kuwait: 24% achavam que Saddam Hussein e o Iraque deveriam ser deixados 
em paz, 31% preferiam que capturassem Saddam Hussein, mantendo-o fora do lraque, e 34% 
achavam que os aliados deveriam matar Saddam Hussein (11% não souberam responder).
Uma decisão importante com essa, que coloca vidas em jogo, tem que ser subsidiada por 
informações válidas e seguras sobre o clima da opinião pública. Como já dissemos antes, a 
maneira mais prática e comum hoje em dia de levantar essas informações, descrevendo de 
forma eficiente os fenômenos de opinião pública, são as pesquisas. 
Muitas vezes ouvimos as pessoas falar que a opinião pública está polarizada em de-
terminado tema, ou que não está definida, ou que está coesa, etc. Este tipo de afirmação 
utiliza as duas informações mais comuns de descrever a opinião pública, referindo-se às 
suas propriedades principais: distribuição e direção.
Distribuição é a forma como as opiniões individuais sobre um tema estão agrupadas. As-
sim, podemos encontrar situações de consenso absoluto, nas quais todos têm a mesma opinião, 
até uma situação de total dissenso, em que cada um tem uma opinião diferente. Considerando 
situações verossímeis, é fácil concluir que um dissenso completo é praticamente impossível, 
pois normalmente os fenômenos de opinião pública resultam da reunião de opiniões de um 
número muito grande de pessoas, e é difícil imaginar um termo que gere tantas opiniões dife-
renciadas entre si. O que ocorre normalmente é as opiniões individuais se agruparem em torno 
de um número limitado de alternativas.
A título de exemplo, vamos imaginar que perguntássemos duas coisas a cada uma das 
pessoas que foram ao funeral de Ayrton Senna: se ele era o maior piloto de Fórmula 1 quando 
morreu e qual a razão principal de sua morte. Para a primeira pergunta, provavelmente encon-
traríamos uma situação de consenso ou quase, em torno da opinião de que Senna era o maior 
piloto de Fórmula 1 de sua época. Já no segundo caso, provavelmente encontraríamos uma 
vasta quantidade de razões, mas dificilmente cada pessoa pensaria em uma razão completa-
10
mente diferente da de todas as outras presentes no funeral.
A distribuição observada nos dá, portanto, uma Idéia do possível conflito de opinião 
em torno de algum assunto. Quando dizemos que a opinião pública em relação a um deter-
minado assunto esta completamente polarizada, significa que uma parte considerável das opi-
niões se posiciona de um lado e outra parcela também significativa fica do outro. Por exemplo, 
inserida no contexto da realização da Eco-92, uma pesquisa nacional, encomendada ao Ibope 
pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico)/Jornal da Tar-
de, trazia o seguinte dado: 47% dos entrevistados acreditavam que os problemas ambientais 
brasileiros poderiam ser resolvidos por nós mesmos, enquanto outros 45% diziam que só com 
a cooperação de outros países é que encontraríamos soluções. Dá para perceber que qualquer 
proposta de preservação da Amazônia que incluísse a participação de outros países enfrentaria 
resistência considerável da opinião pública brasileira. Este é o tipo de situação em que qual-
quer decisão vai gerar reações negativas de pesos semelhantes colocando a autoridade respon-
sável em situação delicada.
Quando falamos da direção da opinião pública, estamos nos referindo a um posicionamen-
to que aparece ao se analisar o conjunto das opiniões a respeito do tema em questão. Ao tratar 
de fenômenos de opinião pública nos quais se pode fazer uma contagem de cada opinião indi-
vidual como as pesquisas ou mesmo uma eleição ou plebiscito, fica mais fácil definir este po-
sicionamento por critérios matemáticos, escolhendo o mais adequado a cada tipo de assunto. 
Assim, se fosse feita uma consulta popular para saber com que idade uma pessoa deveria ser 
responsável por seus atos perante a lei, poderíamos tirar uma média das idades escolhidas para 
chegar a uma idade que melhor correspondesse ao posicionamento geral. Em outros assuntos 
é melhor usar diretamente o critério majoritário, como, por exemplo, o plebiscito de 1993 no 
qual 55% dos eleitores brasileiros escolheram o presidencialismo, contra 25% que votaram no 
parlamentarismo.
É importante lembrar que existem temas para os quais é impossível ter uma visão imediata 
da direção da opinião pública, pois eles geram alternativas muito diversas de opinião que são 
mais difíceis de ser sistematizadas. É o caso da pergunta sobre razões para a morte de Senna, 
pois seria difícil classificar as diversas respostas de forma a poder dizer que a maioria esco-
lheu esta ou aquela direção. Contudo, existem técnicas mais sofisticadas de análise estatística 
com as quais podemos identificar dimensões subjacentes às respostas, permitindo-nos afirmar 
alguma coisa sobre sua direção geral 
Análise da direção da opinião pública pressupõe que para cada tema de interesse público 
existem escolhas a fazer e a opinião pública é o retrato das escolhas que o público vai fazendo; 
daí a importância de sabermos analisar bem para onde ela esta caminhando.
Além da distribuição e da direção, outra característica que é muito importante para 
se descrever satisfatoriamente uma manifestação de opinião pública é a intensidade. Esta 
propriedade indica o grau de adesão a uma opinião, dando uma medida de força da manifesta-
ção. Por exemplo, ainda no caso de Ayrton Senna, se perguntássemos a cada um se concorda 
totalmente, apenas em parte ou discorda da afirmação de que ele era o maior piloto de Formula 
1 de sua época, teríamos uma medida de distribuição, de direção e de intensidade. Se todas as 
pessoas respondessem que concordam totalmente, poderíamos considerar esta uma manifesta-
ção assustadoramente intensa. Se alguns concordassem apenas em parte, a distribuição entre 
concordância e discordância seria a mesma (com pouquíssimo conflito) e a direção também 
(de concordância), mas a intensidade teria diminuído.
11
Pode-se imaginar facilmente que os efeitos de uma situação em que a opinião pública é 
muito intensa são bem diferentes daqueles em que a força da adesão é menor.
Em um regime totalitário, se começam a haver passeatas, protestos e demonstrações pú-
blicas, provavelmente os participantes de tais manifestações estariam refletindo uma opinião 
muito intensa contra o regime. Isto porque as manifestações envolvem um risco que as pessoas 
acham que vale a pena correr. É claro que existem climas de opinião pública muito fortes em 
relação a um assunto sem que haja manifestações públicas por causa disto. Um exemplo foi a 
reação do povo brasileiro às denúncias do esquema de corrupção na elaboração do orçamento 
federal que geraram a CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Orçamento. Apesar de 
mais da metade do eleitorado considerar tais denúncias tão ou mais graves que aquelas contra 
o ex-presidente Collor, não vimos muitas manifestações de rua naquela época. 
Além de perceber para onde a opinião pública esta apontando através de medidas de 
direção, com que nível de conflito, observando a distribuição e com que força, medindo 
sua intensidade, outro aspecto que você deve analisar quando observar os fenômenos de 
opinião pública é o da coerência, ou consistência interna dos fenômenos. As opiniões a 
respeito de um tema mais complexonormalmente envolvem vários outros assuntos que são 
logicamente relacionados com ele. Se fossemos tomar uma decisão firme sobre legalização do 
aborto em nosso país, teríamos que levar em conta nossas opiniões prévias sobre sexo “fora” 
do casamento, métodos anticoncepcionais, direito do homem versus direito de Deus sobre a 
vida humana, etc.
Podemos nem perceber que estamos pensando em tudo isso quando vamos dar nossa opi-
nião sobre o direito a fazer um aborto, mas necessariamente ela será formada com base em 
outras crenças e valores que já temos e que se relacionam a questão do aborto. Uma análise 
do Roper Center da Universidade de Connecticut sobre as tendências da opinião pública ame-
ricana a respeito do aborto dá uma boa ideia do que podem ser estas incoerências. Em uma 
mesma pesquisa, 51% dos entrevistados concordaram com a frase “toda mulher tem o direito 
de controlar o seu próprio corpo”, mas também 80% se opuseram a idéia de usar o aborto como 
forma de controle de natalidade. Tais dados foram interpretados como um desejo dos america-
nos de manter a liberdade individual, mas ao mesmo tempo forçar mais responsabilidade nas 
pessoas. Neste caso, trata-se de uma incoerência lógica, mas que pode ter uma interpretação 
plausível. 
Esta combinação de opiniões logicamente antagônicas entre si pode ser um indicador de 
que as decisões sobre o tema estão muito frágeis e que uma argumentação convincente pode 
fazer a opinião pública mudar muito rápido.
Ainda olhando a análise dos técnicos do Roper Center, duas pesquisas feitas na mesma 
época (julho de 1989) usando perguntas pouco diversas entre si obtiveram resultados signifi-
cativamente diferentes de aprovação à decisão da Suprema Corte em permitir que cada estado 
adotasse medidas restritivas ao aborto.
De qualquer maneira, é sempre bom ter acesso a indicadores diferentes de opinião rela-
cionados a um mesmo assunto, pois é possível checar a consistência entre eles e avaliar se o 
quadro formado é robusto, ou seja, se a direção da opinião pública esta sustentada em uma 
base firme ou se é um posicionamento superficial e conseqüentemente instável.
As incoerências no nível da opinião individual podem ser medidas através de pesquisas 
12
que cruzam as respostas de um mesmo indivíduo a varias perguntas diferentes, mas ligadas 
ao mesmo assunto, como no caso da pesquisa americana sobre aborto. Outra forma de avaliar 
estas inconsistências é fazer pesquisas que levantam mudanças de opinião ao longo do tempo, 
reintrevistando as mesmas pessoas em momentos diferentes. Essas pesquisas levam o nome 
de painéis.
Um dos autores que mais estudou tais incoerências foi Philip Converse. Ele fez uma pes-
quisa na qual repetia as mesmas perguntas para as mesmas pessoas em três ocasiões diferentes, 
com dois anos de intervalo entre a entrevista. A mudança observada das opiniões individuais 
de um momento para o outro não seguiu nenhuma tendência e a variação mostrou-se com-
pletamente aleatória. Baseado neste experimento, Converse defendeu em 1964 a tese de que 
quando os temas de opinião pública não tem grande saliência para os indivíduos ou são difíceis 
para a maioria entender, a probabilidade de que as opiniões sejam artificiais e sem nenhuma 
estabilidade é muito grande. A partir disso, este autor criou o conceito de “não-atitudes”. Uma 
“não-atitude” é a ausência de uma atitude real, ou seja, é uma opinião que a pessoa dá sobre 
certos assuntos sem nenhuma consistência, vazia de conteúdo.
Inúmeros temas de interesse público, sobre os quais devem ser tomadas decisões políticas 
importantes, estão distantes do dia-a-dia do cidadão comum, tais como o desenvolvimento da 
energia nuclear e leis de comércio internacional. Na teoria de Converse, esses temas gerariam 
“não-atitudes” por parte do público. É amedrontador concluirmos que, mesmo em uma de-
mocracia, o público em geral não consegue formar uma opinião sobre tais assuntos que seja 
valida (no sentido de ter consistência e estabilidade) a ponto de poder ser levada em conta no 
processo decisório. 
Diversos estudos sobre como os eleitores formam suas preferências políticas concluíram 
que a maioria necessita de uma espécie de pilar para formar uma opinião. Estes pilares são 
algo simples, que ajudam o indivíduo a organizar seus pensamentos. Você vai ver detalhes do 
processo de formação de opinião logo adiante.
 Um dos trabalhos mais importantes sobre comportamento eleitoral nos Estados Unidos, 
The American Voter, escrito em 1960, conclui que o eleitor típico americano utiliza o partido 
político como pilar para sua tomada de decisões. Uma vez se sentindo mais próximo de um 
dos partidos (nos EUA só existem de fato dois partidos, o que facilita mais ainda o processo), 
o eleitor só precisa saber que posição o seu partido de preferência esta tomando em cada situa-
ção e seguir esta orientação. A escolha do partido, por sua vez, é algo muito mais enraizado, 
geralmente fruto da história do indivíduo e de sua família.
Quando uma pessoa possui este tipo de pilar, em torno do qual ele vai formando suas opi-
niões, provavelmente a consistência entre estas será bem alta, pois estarão todas seguindo uma 
mesma orientação. Quando a pessoa não tem um ponto orientador que possa ser relacionado a 
vários assuntos ou quando ela não consegue relacionar o seu pilar a um determinado tema, é de 
se esperar que suas opiniões tenham um comportamento próximo ao aleatório, sem nenhuma 
consistência com o restante de suas crenças e atitudes. 
Esta idéia de “pilares” organizadores das opiniões individuais está ligada a noção de sis-
tema de crenças, muito usado do nos estudos de psicologia social. Um sistema de crenças é 
formado em torno de crenças centrais, ou seja, aquelas que se relacionam a muitas outras e por 
isso têm uma importância organizadora muito maior. Assim, quando uma criança americana 
cresce ouvindo que o Partido Democrata é a melhor escolha para ela e sua família, esta passa 
13
a ser para ela uma crença central.
Alguém que estude a opinião pública de um país esta sempre procurando saber quais são as 
crenças centrais mais importantes, pois isto ajuda muito a entender os fenômenos de opinião 
sobre temas específicos. No Brasil, é multo difícil indicar quais são os pilares que a maioria 
dos cidadãos usa para chegar as suas opiniões, pois os partidos políticos estão longe de cum-
prir esse papel e não existem instituições com tal força e abrangência (talvez as igrejas evan-
gélicas sejam uma exceção). No entanto, os dados de pesquisas da opinião pública brasileira, 
de um modo geral, mostram uma admirável coerência interna, conforme veremos adiante.
A pergunta que fica é: deve a sociedade contar com as manifestações de opinião pública 
para decidir sobre temas complexos e distantes do dia-a-dia do cidadão comum, sabendo que 
a direção das opiniões individuais sobre esse tipo de assunto pode ser temporária e que muitas 
vezes não resulta de um processo de reflexão mais aprofundado? 
 Desafiando as conclusões pessimistas de Philip Converse e respondendo afirmativamente 
a esta questão, dois americanos, Benjamin Page e Robert Shapiro, escreveram um, livro cha-
mado The Rational Public. Eles procuraram demonstrar, através da análise de cinquenta anos 
de dados e pesquisas feitas nos Estados Unidos que a opinião coletiva é estável e faz bastante 
sentido, apesar da fraqueza das opiniões individuais. Isto resulta do que eles chamam de efeito 
de “agregação estatística” juntamente com o processo social de formação das opiniões.
Suponha que o Cepac ou o lbope vá fazer uma pesquisa para saber qual a idade que as 
pessoas acham justa para obter direito a aposentadoria. Um dos entrevlstados, o senhor X, res-
ponde que seria aos cinquenta anos. Depois de alguns meses faz-se uma nova entrevista com 
as mesmas pessoas e o senhor X responde que sessenta anos seria a idade justa.Assim como ele, outras pessoas mudaram suas respostas. Page e Shapiro concordam se tra-
tar de uma incoerência, mas acreditam que se perguntássemos inúmeras vezes a mesma coisa 
ao senhor X, ale responderia sempre uma idade ao redor de um valor específico, digamos que 
a média fosse cinquenta e sete, o qual seria a tendência central da sua opinião.
Como seria pouco pratico entrevistar inúmeras vezes um mesmo indivíduo para chegar a 
sua opinião verdadeira, a opção é fazer isso no agregado, levantando uma tendência central da 
opinião pública. Isto é possível porque dada opinião individual varia aleatoriamente em torno 
de sua tendência central, mas juntas elas apontariam para a direção real da opinião coletiva. Os 
autores de The Rational Public utilizaram teoremas matemáticos para provar que o resultado 
obtido para uma opinião coletiva é igual a média das tendências centrais de cada indivíduo. 
Mesmo sem conhecer estes teoremas, dá para você intuitivamente perceber que é como se as 
eventualidades das opiniões individuais se contrabalançassem umas com as outras e, portanto, 
a média geral refletisse a verdadeira tendência central da opinião de todos.
Além da explicação matemática, estes autores nos lembram que cada indivíduo traz para 
a discussão coletiva um pouco de informação, evitando que as opiniões se baseiem em dados 
incompletos ou enviesados. 
Para os autores, a agregação estatística e o processo de discussão social fazem com que 
a opinião pública seja “real, estável, diferenciada, consistente, coerente, refletindo valores e 
crenças básicos e correspondendo adequadamente ao total de informação disponível para a 
sociedade naquele momento” (pág. 172).
14
Após analisarem um subgrupo de 1.128 perguntas que foram repetidas da mesma forma 
pelo menos duas vezes ao longo de cinquenta anos, eles descobriram um nível de estabilidade 
incrível na opinião pública americana. Somente em 42% destas perguntas houve uma mudan-
ça significativa na distribuição das opiniões e, destas, 43% foram diferenças de menos de dez 
pontos porcentuais, ou seja, muito pequenas para serem sinais de grande instabilidade.
Levando em conta essas descobertas e outras conclusões semelhantes, cada vez mais os 
pesquisadores e analistas de opinião pública verificam sua consistência através da observação 
de dados agregados ao invés de se centrar nas incoerências individuais. A tendência atual é 
procurar reunir o máximo de informação sobre o posicionamento da opinião pública em um 
determinado tema e também em assuntos correlatos. Com isso é possível verificar a homoge-
neidade de direção, distribuição e intensidade entre estes diversos indicadores.
Pensando nisso a Universidade de Connecticut criou o Roper Center, do qual já falamos 
antes. Trata-se de um centro de estudos de opinião pública que abriga um arquivo onde estão 
reunidos resultados de milhares de pesquisas feitas em vários países. Os pesquisadores do 
Roper Center utilizam esta massa de dados, sistematizando-os e elaborando relatórios sobre 
tendências da opinião pública nos mais variados assuntos, tais como aborto, meio ambiente, 
direitos civis, etc. No Brasil, mais especificamente na Universidade de Campinas, também foi 
criado um arquivo semelhante, o Cesop (Centro de Estudos de Opinião Pública), que já conta 
com um acervo de mais de quinhentas pesquisas. O Cesop publica a revista Opinião Pública 
que traz dados e comentários sobre pesquisas produzidas no Brasil e no exterior.
Vimos, portanto, que para uma interpretação eficiente das correntes de opinião pú-
blica é necessário observar sua direção, distribuição, intensidade e coerência, pois estas 
propriedades ajudam a prever o tipo de interferência que a opinião pública pode ter so-
bre uma determinada situação social ou mesmo se vai ter realmente alguma influência. 
Ligada a esta questão da influência, temos uma última propriedade da opinião pública 
que merece ser citada: a latência.
Autor importante, V.O. Key descreve esta propriedade como uma avaliação do estado de 
“hibernação” da opinião pública em oposição à “ativação”. Um fenômeno de opinião pública 
latente é aquele em que existe um potencial para uma manifestação, mas ainda não houve ex-
plicitação da opinião, ou seja, ela ainda não se tornou pública. Como já esclarecemos, o con-
ceito de opinião pública implica discussão coletiva e para isso é preciso que as opiniões sejam 
externadas. Estas atitudes podem ser ativadas por algum fato novo, provocando uma reação 
que gerará discussão e teremos, então, um fenômeno típico da opinião pública.
Key esclarece que é muito difícil fazer previsões sobre a opinião pública latente. De acordo 
com ele, a reação pode ter ativado as opiniões de apenas uma parte do grupo que as mantém 
latentes, pois somente este número reduzido de pessoas teria tomado conhecimento do fato 
desencadeador da reação pública. Portanto, a passagem do estado latente para o ativo vai de-
pender da relevância e do nível de relação que o estímulo ativador mantém com os valores, 
crenças e atitudes básicas do indivíduo. Pensando nisso, um líder político deve se manter 
atento a manifestações de opinião pública limitadas a pequenos grupos, pois estes podem ser 
apenas os primeiros a manifestar uma opinião que está latente no resto da sociedade, e que 
pode ser ativada a qualquer momento.
Durante o processo de impeachment, uma pesquisa com amostra nacional procurou saber 
qual a porcentagem de eleitores tinha ido para as ruas, obtendo um total de 8%. A pergunta 
15
seguinte era sobre a disposição do entrevistado em ir às ruas no caso do Senado julgar o então 
presidente Fernando Collor inocente e ele voltar ao cargo: 39% mostraram-se dispostos a se 
manifestar publicamente, ou seja, de repente o Senado poderia gerar mobilizações de milhões 
de pessoas (se projetarmos o porcentual sobre o total do eleitorado, teríamos uma cifra absur-
damente grande de mais de trinta milhões de pessoas nas ruas!!!). É claro que uma simples 
resposta a um pesquisador não serve como previsão exata do comportamento futuro, mas o 
resultado obtido pode ser um sinal de que exista um potencial de reação maior do que aquele 
que se viu com os caras-pintadas.
Mais adiante veremos que as pesquisas possibilitam a descrição e a análise de dados de 
opinião pública em todos esses níveis: distribuição, direção, intensidade, coerência e latência. 
No entanto, a simples observação de outros tipos de fenômenos pode ser suficiente para uma 
boa interpretação da opinião pública. Por exemplo, alguém que, durante o processo de Impea-
chment do presidente Fernando Collor, lesse a correspondência enviada aos congressistas pro-
vavelmente chegaria às mesmas conclusões dos institutos de pesquisa na época: os eleitores 
brasileiros eram totalmente favoráveis à retirada de Fernando Collor da presidência.
Da mesma forma, um estrangeiro que chegasse ao país naquela época e presenciasse as 
manifestações dos caras pintadas e prestasse atenção à cobertura dos meios de comunicação, 
saberia que o povo brasileiro estava basicamente de acordo com os jovens que foram às ruas.
O importante é lembrar que cada propriedade da opinião pública se relaciona a um aspecto 
que auxilia na previsão de futuros movimentos ou dos efeitos de suas manifestações na vida 
da sociedade. Essas relações foram esquematizadas no quadro abaixo:
Tabela I
Propriedades da opinião pública e dimensões previsíveis
Direção Conteúdo da escolha
Distribuição Conflito
Intensidade Força de Reação
Coerência Estabilidade
Latência Expressão de Reação
Deve-se tomar cuidado, porém, com o nível de generalização das interpretações feitas com 
base em apenas um dos tipos de manifestação da opinião pública, pois um mesmo tema pode 
gerar reações diferenciadas que se expressam de formas diferentes. Uma análise bem feita teria 
que levar em conta todos estes componentes para fazer uma afirmaçãoglobal sobre a tendência 
da opinião pública. Como no caso da legalização do aborto, uma pesquisa junto a mulheres em 
idade reprodutiva pode trazer uma informação valiosa, mas a análise da tendência geral seria 
enriquecida se incluísse também a opinião dos homens, de profissionais da saúde, de membros 
da igreja, etc. a forma de pensar destes grupos específicos pode ser um forte indicador dos 
futuros movimentos na opinião do público em geral. Este aspecto será melhor discutido nas 
páginas seguintes.
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A FORMAÇÃO DE OPINIÃO
Como a opinião pública é formada? Já mostramos que uma das características da opinião 
pública é que ela é formada socialmente. O indivíduo, desde o seu nascimento, sofre uma série 
enorme de influências do meio que o cerca e, através dessas influências e da maneira com que 
cada um lida com elas, a personalidade vai sendo formada. E as opiniões e as atitudes come-
çam a aparecer.
A abordagem psicológica faz uma distinção entre atitude e opinião. A atitude seria algo 
mais permanente: é uma predisposição para que o indivíduo responda de uma determinada 
maneira perante uma situação ou um objeto. A opinião, segundo alguns autores, estaria mais 
associada às crenças. Nesse sentido, quando alguém diz “eu quero comprar esse livro”, está 
se referindo a uma atitude. Quando diz “esse livro é muito interessante”, está emitindo uma 
opinião. 
Vamos ver como isso se reflete nas pesquisas de opinião. Quando se pergunta, por exem-
plo, como você avalia a administração do presidente da República (normalmente as alterna-
tivas são ótima, boa, regular, ruim e péssima), o interesse é saber a sua opinião a respeito do 
tema. Quando, ao contrário, o entrevistador questiona o que você faria caso ganhasse uma 
grande quantidade de dinheiro – herança, loteria, sorteio, etc –, o planejador da pesquisa está 
interessado em saber a sua atitude diante dessa situação.
A psicologia tem uma larga tradição de estudos a respeito dos processos de formação de 
atitudes e de opiniões. Evidentemente, não estamos aqui preocupados em fazer um detalhado 
mapeamento desses estudos – nem somos as pessoas mais indicadas para isso. Mas é inte-
ressante verificar, de modo panorâmico, quais são os fatores que influenciam o processo de 
formação de opinião e de atitudes, para se ter uma noção da complexidade do fenômeno que 
estamos tratando.
Alguns autores acham que existem fatores genéticos e psicológicos que influenciam a for-
mação de atitudes. Existiria, em determinados segmentos, uma predisposição para o desenvol-
vimento de algumas maneiras de agir. A agressividade de alguns indivíduos estaria associada 
a esses fatores. É importante notar, entretanto, que essa predisposição é uma espécie de “ponto 
de partida”: isso não implica que as atitudes não possam ser mudadas em função da influência 
de outros fatores. Além disso, se as atitudes e opiniões formadas socialmente – e a herança 
genética não é algo muito social –, esse fator não nos interessa muito.
A experiência pessoal direta é, sem dúvida, a maneira fundamental pela qual os indivíduos 
formam suas atitudes. Alguém que foi mordido várias vezes por cachorro, por exemplo, certa-
mente terá uma atitude em relação a esse animal – uma predisposição de comportamento – que 
foi influenciada por essas experiências. No plano da opinião pública, eventos dramáticos po-
dem mudar drasticamente o modo de pensar das pessoas. O assassinato da atriz Daniela Peres 
mudou tanto a maneira de as pessoas encararem o sucesso dos atores da Rede Globo como o 
modo de avaliar a necessidade da pena de morte durante algum tempo.
Certamente, outro fator importante é a influência dos pais. Eles exercem uma ascendência 
total na formação das atitudes e das opiniões de seus filhos até que eles atinjam uma certa ida-
de. A maneira que você encara a religião, o sexo, a política, a família, etc. pode não ser exata-
mente a mesma que os seus pais gostariam que fosse. Mas certamente, para formar suas atitu-
des e suas opiniões a respeito desses temas, você levou em conta tudo aquilo que eles disseram 
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durante a sua infância. Você lembra do que falamos anteriormente: uma criança americana que 
cresce ouvindo que o Partido Democrático é a melhor escolha para ela e sua família, passa a 
ter essa avaliação como uma crença central.
A escola é outra instituição importantíssima no processo de formação de atitudes, valores 
e opiniões. Ali, você aplica em parte aquilo que aprendeu em casa, mas também entra em 
contato com outras pessoas, que podem ter atitudes e opiniões diferentes das suas. Quando 
se debate um tema com os colegas ou se ouve a argumentação do professor a respeito de um 
assunto qualquer, está acontecendo um processo de formação de opinião. É um processo muito 
mais coletivo do que aquele que acontece em casa, em que geralmente só participam os pais e 
os irmãos.
Na época da comunicação de massa, a mídia desempenha um papel importantíssimo na 
formação da opinião das pessoas. Nos estados unidos, existem estudos mostrando que, a partir 
dos dez anos, a televisão (juntamente com a escola) substitui a família com a mais mencionada 
fonte de informação da criança. Não é difícil, também, perceber a força e o poder das redes de 
televisões em nosso país. Elas muitas vezes não apenas formam opiniões, mas também esti-
mulam determinadas atitudes, uniformizam o comportamento e ditam moda. O ex-assessor da 
presidência da República, Said Farah, conta, em um de seus livros, que não entendia por que 
as meninas de Manaus usavam meias de três quartos de lã, naquele calor infernal. Foi entender 
quando percebeu que era essa a indumentária da protagonista da novela Dancing Days. [24/43]
Pensou comunicação de massa no Brasil, pensou televisão. Vamos comparar, a seguir, a te-
levisão com a mídia impressa. A circulação diária de todos os jornais do Brasil atinge mais ou 
menos quatro milhões de exemplares, sendo que nenhum jornal tem realmente uma circulação 
nacional. A mais importante revista semanal, a Veja, embora seja efetivamente nacional, tem 
uma tiragem aproximada de oitocentos mil exemplares, sendo lida por cerca de quatro milhões 
de pessoas.
No caso da televisão, os números são astronômicos. Dados de 1993 indicam que cerca de 
80% dos domicílios brasileiros têm aparelhos de TV. As imagens geradas pelas emissoras atin-
gem algo em torno de 108 milhões de pessoas, 27 vezes mais público do que a revista Veja. 
Em sua esmagadora maioria, os brasileiros se informam e se entretêm através da televisão. 
Existem novelas de sucesso que, se você não souber a trama ou não estiver familiarizado com 
o linguajar de alguns personagens (quem se esqueceu da tal da “antena paranóica”, que o bi-
cheiro Toni Carrado vivia repetindo na novela das oito?), pode ser tachado de alienado.
O rádio também é uma mídia que atinge muita gente: ele chega a 87% dos municípios do 
país. Além disso, um aparelho de rádio é mais barato que um de TV. Como se não bastasse, as 
pesquisas mostram que, até as dezenove horas, a audiência do rádio é maior do que a televisão. 
O rádio também alcança as pessoas que estão em trânsito – em carros, ônibus, trens, etc –, o 
que já não acontece tanto com a televisão.
Mas as desvantagens param aí. Primeiro, a televisão é muito mais influente que o rádio. As 
pessoas ouvem rádio apenas com “meia atenção”. Muitas vezes eles não desligam “o” rádio, 
mas se desligam “do” rádio, ainda que ele esteja ligado. É comum ver gente correndo e ouvin-
do rádio, lendo e ouvindo rádio, trabalhando e ouvindo rádio. Já a televisão é diferente. Ela 
prende muito mais a atenção – e o recall (a lembrança) desse veículo é muito maior. É muito 
difícil você ler alguma coisa e assistir à televisão ao mesmo tempo, por exemplo. Ou se faz 
uma coisa ou outra.
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É por esses motivos – influência, audiência e capacidade de prender a atenção – que as 
empresas concentramsuas propagandas na televisão. Em 1993, por exemplo, foram gastos 
mais de US$ 5 bilhões em publicidade. Desse total, 53% foram para a televisão, 34% para os 
jornais, 7% para as revistas e apenas 5% para o rádio. Em 1994, ano da Copa do Mundo, a 
porcentagem destinada às televisões foi ainda maior, já que a audiência dos jogos da seleção 
brasileira de futebol chega a índices que beiram a unanimidade.
Esses dados podem indicar a fantástica capacidade de formação – e de manipulação – da 
opinião pública que as televisões têm no Brasil. O jornal Folha de S. Paulo, por exemplo, 
mantém a coluna “No Ar”, assinada pelo jornalista Nélson de Sá, especialmente para comentar 
aquilo que sai na TV. Normalmente, o jornalista faz críticas às abordagens dos telejornais e à 
maneira com que eles tratam as notícias.
Os chamados “formadores de opinião” são aquelas pessoas que têm a oportunidade de ex-
pressar seus pontos de vista e/ou analisar os acontecimentos, colocando-os publicamente, nes-
se sentido, os pais, os professores, os líderes de grupos de amigos, padres, jornalistas, etc. são 
formares de opinião, na medida em que eles têm a capacidade de, digamos, “fazer a cabeça” 
dos filhos, alunos, amigos, fieis e leitores, respectivamente. De modo semelhante, os líderes 
de classe (trabalhadores, empresários, advogados, médicos, etc.) também exercem uma grande 
ascendência sobre seus liderados e são, nos seus respectivos campos de atuação, considerados 
“formadores de opinião”.
Os especialistas no assunto descrevem alguns atributos do líder de opinião, que são distri-
buídos em três níveis: pessoal, social e sociodemográfico. Os pessoais são a inteligência, o 
conhecimento, o interesse e a capacidade da inovação. Entre as características sociais, estão a 
intensa atividade social (é evidente que quem não sai de casa não pode liderar nada) e o reco-
nhecimento da sociedade. Não importa que alguém seja sábio ou muito bem informado. Ele só 
será um formador de opinião se ele for reconhecido como sábio e bem informado.
Quanto à questão da inteligência – um dos atributos pessoais –, existem algumas contro-
vérsias. É claro que um sujeito completamente estúpido dificilmente seria um formador de 
opinião. Mas existem estudos que mostram que a superioridade intelectual não caracteriza um 
formador de opinião, quando comparada a outras variáveis importantes. Ao contrário, uma di-
ferença muito grande de inteligência entre o líder e seus liderados se constitui em uma barreira 
no processo de formação de opinião.
Entre as características sociais do formador de opinião, destaca-se uma grande atividade 
social. Ele entra em contato com um grande número de pessoas, não deixa de falar em reu-
niões, participar das discussões e tomar parte da maior quantidade de eventos sociais possível. 
Ele está sempre procurando expressar aquilo que pensa ara exercer a sua liderança no meio 
que frequenta.
O terceiro atributo diz respeito a caracterizar os formadores de opiniões em função das 
variáveis sociodemográficas. Estão os formadores de opinião concentrados em alguma clas-
se social específica, em algum grupo etário, em algum nível educacional ou entre homens e 
mulheres? Alguns estudos americanos tendem a achar que não, argumentando que os líderes 
de opinião estão presentes em todos os níveis sociais e que tendem a influenciar pessoas do 
mesmo nível.
É evidente que, no caso de pequenos grupos, os formadores de opinião podem vir de 
19
qualquer extração social, influenciando pessoas do mesmo meio. Por exemplo, um líder de 
um bairro da periferia pode perfeitamente influenciar as pessoas que ali habitam. Da mesma 
maneira, uma empregada doméstica pode ser líder de sua classe. Mas é preciso diferenciar o 
“pequeno” formador de opinião – o líder de um bairro da periferia – dos “formadores-massa” 
de opinião, que falam ou escrevem para milhões de pessoas. E, com raríssimas exceções, esses 
“formadores-massa” de opinião – aí incluindo não apenas quem aparece na tela da televisão ou 
nos jornais, mas também os donos dos meios de comunicação e as pessoas responsáveis pelo 
que será veiculado (diretores de redação, chefes de reportagem, editores, etc) – concentram-se 
nos segmentos mais instruídos e mais ricos da sociedade.
Quando você assiste ao Jornal Nacional, por exemplo, está assistindo, também, a um fa-
buloso e vastíssimo processo de formação de opinião. Desde a escolha das notícias que irão 
para o ar, passando pela maneira de redigir e pelo modo como elas são apresentadas, tudo é 
feito meticulosamente, os apresentadores leem as notícias e as interpretam: sorriem quando 
existe algum dado positivo, empolgam-se quando acontece algo extraordinário para o Brasil 
ou se aborrecem quando a novidade é ruim. E os telespectadores vão absorvendo o noticiário 
juntamente com as “emoções” dos apresentadores.
Depois do segmento econômico do Jornal Nacional – a notícia propriamente dita –, vem 
o comentário de Joelmir Betting, um “formador-massa” de opinião. Ele, então, procura “in-
terpretar” e analisar o que foi divulgado, evidentemente levando em conta a posição editorial 
da emissora. O mesmo acontece com o comentarista político Alexandre García, normalmente 
muito criticado na coluna sobre TV da Folha de S. Paulo. Ele procura sempre minimizar os 
acontecimentos, colocando para os telespectadores uma visão conciliadora dos fatos.
Já o jornalista Bóris Casoy, do telejornal TJ Brasil, da rede SBT, é o que os americanos 
chamam de “âncora”. Ele lê as notícias no teleprompter, como fazem Cid Moreira ou Sérgio 
Chapelin, mas as comenta depois. O tom de seus comentários é muito mais crítico do que os 
de Joelmir Betting ou de Alexandre García. Casoy “vive” seus comentários, e é comum vê-lo 
mais ou menos alterado na tela dizendo “isso é uma vergonha”, quando o acontecimento me-
rece essa avaliação. A indignação é uma das suas marcas registradas. 
A opinião pública, como você viu, é a expressão de modos de pensar de determinados gru-
pos sociais ou da sociedade como um todo (que pode ser delimitada em municípios, estados, 
regiões ou países) a respeito de assuntos públicos em um momento dado, tendo múltiplas for-
mas de expressão. Os “pequenos” formadores de opinião podem ter influência em pequenos 
grupos e gerar manifestações de opinião pública localizadas: uma passeata ou o protesto na 
frente do Congresso, por exemplo.
O que chamamos aqui de “formadores-massa” de opinião são aqueles que exercem sua 
capacidade de “fazer a cabeça” das pessoas de forma muito mais ampliada através da mídia, 
seja ela impressa ou eletrônica. E isso pode acontecer de forma sutil, quando o apresentador de 
televisão interpreta determinada notícia ou quando a manchete do jornal não corresponde aos 
fatos que estão na matéria. Ou de forma mais direta, quando o comentarista emite sua opinião 
e analisa os acontecimentos sob sua ótica particular, dando à notícia – que idealmente deveria 
ser “neutra, mas na realidade nunca é – uma determinada interpretação.
Você percebeu que o processo de formação de opinião é muito complexo. Ele começa em 
casa, com os pais, passa pela escola e continua pela vida toda. É evidente que algumas atitudes 
ou opiniões mais básicas, que fazem parte do sistema de valores de uma pessoa são mais di-
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fíceis de mudar do que outras. Jean Paul Sartre, escritor francês, disse certa vez que não tinha 
vergonha de mudar de ideia porque não tinha vergonha de pensar. É mais ou menos isso. Quem 
pensa e está sob a influência de um verdadeiro bombardeio de notícias, análises e comentários, 
diariamente, pode perfeitamente mudar de opinião que está sendo constantemente formada.
AS PESQUISAS DE OPINIÃO PÚBLICA
“O que você achou do último livro do Woody Allen?”, pergunta o jovem a um colega da 
faculdade. E aproveita para repetir a pergunta a uma colega que está a seu lado. “E você, o que 
achou deste novo filme?”.O que esse jovem está fazendo é, nada mais nada menos, do que 
uma “pesquisinha particular”. Ele não iria perguntar à sua avó, que não vai ao cinema há mais 
de vinte anos, nem ao seu irmão adolescente que só gosta de filmes de artes marciais, pois sabe 
que eles não fazem parte do público possivelmente interessado no assunto.
As pesquisas de opinião pública seguem essa mesma noção básica: ouvir a opinião de um 
grupo a respeito de um determinado tema, sendo este grupo formado por pessoas que compar-
tilham algumas características as quais dizem respeito ao tema da questão. A diferença é que 
os pesquisadores aplicam procedimentos científicos para fazer isso.
Alguma vez você ou alguém da sua família já foi entrevistado numa pesquisa de intenção 
de voto para presidente da República? Muito provavelmente a resposta será “não”. É por isso 
que geralmente os que trabalham com pesquisa de opinião ouvem o seguinte comentário: “Eu 
não acredito que vocês entrevistem mesmo as pessoas, porque eu não conheço ninguém que 
tenha participado de uma pesquisa dessas!”.
Pois bem, se imaginarmos que você conhece umas mil pessoas, dentro de um universo de 
94.782.471 eleitores brasileiros, a probabilidade de um entrevistador abordar alguém que você 
conhece é de 0,001%! As pesquisas quantitativas trabalham com princípios estatísticos, de 
probabilidade, por isso não é preciso entrevistar todos os eleitores para prever o resultado de 
uma eleição – e isso nem seria economicamente viável.
As pesquisas, como as conhecemos hoje, começaram na década de30, nos Estados Unidos. 
Em 1932, a revista Literary Digest começou afazer enquetes sobre temas diversos junto a seus 
eleitores, encartando questionários na publicação, solicitando seu preenchimento e remessa 
para a revista (é o que chamamos hoje de pesquisa por mala direta). Em 1936, o recém-criado 
Instituto Gallup fez um prognóstico da eleição presidencial com uma amostra nacional de três 
mil eleitores, enquanto a Literary Digest fez sua enquete com cerca de dois milhões e meio 
de eleitores. O Gallup acertou a vitória de Franklin Roosevelt, enquanto a revista deu como 
vencedor o outro candidato, Alfred Landon.
Este episódio serviu para comprovar aquilo sobre o qual os institutos estão sempre ten-
tando convencer seus clientes: o tamanho da amostra não é o mais importante para a precisão 
do resultado, mas sim a forma como ela é determinada. O fato também nos remete a outro 
conceito de difícil aceitação pelos clientes e pelo público leigo em pesquisas: o tamanho da 
amostra não é definido em função do tamanho da população a ser pesquisada, pois, para efeitos 
estatísticos, um grupo de dez mil pessoas e outro de dez milhões são igualmente encarados 
como “universos infinitos”.
O que determina o número de entrevistas a ser feito é a necessidade de espalhamento geo-
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gráfico, o nível de detalhamento da análise dos dados (muito segmentada ou pouco) e o nível 
de precisão desejado (se podemos aceitar que o resultado esteja errado por 1%, 3%, 10%, etc). 
Em pesquisas sobre teste de efeitos de medicamentos, por exemplo, o pesquisador deve traba-
lhar com total precisão, ou seja, margens de erro iguais a zero, pois estaria arriscando vidas se 
não o fizesse. Já em pesquisas eleitorais, costuma-se trabalhar com uma margem de erro entre 
dois e três pontos percentuais, pois a maioria das eleições é decidida com diferenças maiores 
do que esta.
Mas, como dissemos antes, uma amostra grande não é necessariamente uma boa amostra. 
Para ser boa, ela deve ser representativa da população que queremos pesquisar. Existem téc-
nicas estatísticas que garantem esta representatividade. A mais clássica é o uso de sorteios 
controlados estatisticamente, de modo que cada elemento da população tenha a mesma 
chance de ser selecionado que os demais (amostra probabilística).
Outra metodologia muito usada é a das quotas amostrais, em que se predetermina, ba-
seando-se no perfil da população a ser pesquisada, um número de entrevistas que deve ser 
feito para cada característica controlada. Por exemplo, a amostra de eleitores brasileiros, usada 
pelo Ibope para os prognósticos das últimas eleições presidenciais, tinha três mil entrevistas, 
tendo sido predeterminado que 51% seriam com homens, 24% com eleitores de 16 a 24 anos, 
50% com pessoas até o primário completo e assim por diante. Como você pode ver, para se 
estabelecer as quotas é preciso conhecer antes algumas características da população que sejam 
relevantes para controlar a representatividade da amostra. No caso das pesquisas eleitorais, 
normalmente utilizam-se quotas de sexo, idade e grau de instrução.
Quando falamos em população, não estamos nos referindo somente a habitantes de cida-
des, estados ou países. Podemos também pesquisar uma população de universitários, de jor-
nalistas, de associados de um sindicato ou ainda de empresas. Após definir a população a ser 
estudada, escolhe-se a metodologia mais adequada de seleção da amostra.
No caso dos membros de um sindicato, normalmente existem cadastros com seus nomes 
e endereços. Já para jornalistas, pode-se obter uma lista dos meios de comunicação e ir pro-
curá-los nos locais de trabalho. Para moradores de alguma área, o mais fácil é fazer a seleção 
do entrevistado ao mesmo tempo em que se fazem as entrevistas, quando já se está nas ruas.
As pesquisas quantitativas, por serem flexíveis e de custo relativamente baixo, podem ser 
usadas para levantar os mais variados dados sobre uma coletividade, permitindo projetar os 
resultados obtidos para o total da população estudada. Assim, quando um instituto dá 10% de 
intenções de voto para um candidato entre os entrevistados, trata-se de uma estimativa de que 
ele obterá esse resultado no total dos eleitores. Para fazer isso, os pesquisadores têm que usar 
um questionário padronizado, de modo que todos os entrevistados sigam os mesmos critérios 
para respondem, pois caso contrário, as opiniões não poderiam ser somadas nem tratadas es-
tatisticamente.
Além da pesquisa quantitativa, existe um outro tipo de pesquisa de opinião que vem sendo 
mais e mais disseminado no Brasil nos últimos anos: a pesquisa qualitativa. O seu principio 
básico é o mesmo: ouvir as pessoas sobre determinados assuntos, mas as técnicas usadas são 
diferentes. Na verdade, a pesquisa qualitativa não tem como objetivo medir precisamente as 
opiniões e muito menos extrapolar quantitativamente para a população os resultados obtidos.
A principal característica dos trabalhos qualitativos é a de serem exploratórios, isto é, sua 
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idéia central é conhecer sentimentos e atitudes que podem não estar claros nem mesmo para 
os próprios participantes da pesquisa. Isso é feito através da formação de grupos de discussão 
ou de longas entrevistas, ambos conduzidos por pesquisadores especializados em estimular as 
pessoas a falar sobre assuntos de interesse, sem impor uma direção, mas também sem deixá-
-las desviar muito do tema. A técnica da discussão em grupo é muito rica, pois os participantes 
estão estimulados pelo que os outros dizem, concordando, discordando e acrescentando novas 
idéias.
Apesar de terem ficado famosas por causa de seu uso na época de eleições, as pesquisas de 
opinião pública são cada vez mais utilizadas para subsidiar o planejamento em áreas muito im-
portantes, levando, por exemplo, como está o nível de conhecimento sobre formas de preven-
ção à Aids. Uma pesquisa encomendada em 1993 pela revista Playboy ao Ibope, com homens 
de dez regiões metropolitanas do país, revelou que 70% deles não sabiam que, ao colocar a 
camisinha, se deve deixar a pontinha livre, pois isto assegura o armazenamento adequado do 
esperma. Proporções menores, mas ainda preocupantes, cometiam erros básicos, como os 8% 
que declararam que era preciso desenrolar a camisinha antes para depois colocá-la.
Para dar uma idéia do âmbito da atividadede pesquisa de opinião pública do mundo, pode-
mos dizer que a Wapor (World Association of Publica Opinion Research) conta com cerca de 
duzentas e trinta empresas associadas, publica um jornal semestral, com artigos e resenhas, e 
promove encontros anuais. Aqui no Brasil, existem duas associações de empresas de pesquisa 
(englobando as de opinião, de mercado e de mídia), a Anep (Associação Nacional das Empre-
sas de Pesquisa) e a Abipeme (Associação Brasileira dos Institutos de Pesquisa de Mercado). 
As duas juntas têm atualmente sessenta membros. É claro que existem muitas outras empresas, 
tanto aqui quanto lá fora, que não são associadas a essas entidades, mas as maiores com certeza 
o são.
Os profissionais que trabalham com pesquisa de opinião pública têm as mais variadas 
formações, pois ainda não existe uma profissionalização específica para a área. Muitos dos 
pesquisadores são cientistas sociais, outros são estatísticos, profissionais de marketing, de co-
municações, psicólogos e administradores de empresas.
Conforme você já viu, a opinião pública tem algumas propriedades que servem para ca-
racterizar seus fenômenos e entendê-los, sendo as pesquisas a forma mais prática e segura de 
obter essas caracterizações.
Os dados de pesquisas feitas sobre o plebiscito de 1993 exemplificam algumas das pro-
priedades sobre as quais falamos antes. Em primeiro lugar, observamos a pouca saliência do 
tema para os eleitores brasileiros, o que de certa forma está ligado a idéia de centralidade das 
crenças, no caso aquelas relacionadas à opção entre parlamentarismo e presidencialismo. Em 
uma pesquisa de maio de 1987, ano anterior à Constituinte, a escolha entre o parlamentarismo 
e o presidencialismo ficou em antepenúltimo lugar na lista de temas constitucionais de maior 
importância.
Em janeiro de 1993, constatava-se que 58% dos eleitores brasileiros não tinham vontade 
de votar no plebiscito. Portanto, ficou claro que o tema era distante para o público geral, o que 
poderia tornar mais superficiais as opiniões.
Como isso se refletiu nas respostas sobre preferência entre um sistema e outro? Em primei-
ro lugar, cerca de um terço do eleitorado, desde abril de 1991 até alguns meses antes do plebis-
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cito, declarava não saber responder à pergunta, mesmo tendo ouvido uma explicação sobre o 
plebiscito e as duas alternativas. Quando tal explicação não era dada, o porcentual dos que não 
tinham opinião subia para metade do eleitorado e a direção da opinião pública se invertia, com 
o parlamentarismo ficando à frente nas preferências, mas por apenas sete pontos percentuais. 
Já em março de 1993, as pesquisas mostravam uma clara vantagem do presidencialismo sobre 
o parlamentarismo.
Através das pesquisas quantitativas os pesquisadores puderam observar a grande instabi-
lidade da distribuição e da direção da opinião pública, além de medir as suas inconsistências 
ao longo dos meses que antecederam o plebiscito (no inicio de 1993, quando se apresentava 
uma cédula para o respondente simular o seu voto secreto, o porcentual de incoerências com a 
resposta dada verbalmente antes chegava a dez pontos).
Essas observações alertaram as elites sobre a necessidade de uma campanha esclarecedo-
ra, pois os eleitores mostravam-se desinformados e distantes do problema. Mais perto do dia 
do plebiscito, as pesquisas mostravam que só havia polarização entre os mais instruídos, pois 
nos demais segmentos havia uma clara e tranqüila direção da opinião pública: manter o presi-
dencialismo. A alguns dias do plebiscito, a proporção de inconsistências entre a marcação na 
cédula e a resposta verbal tinha caído para quase 0%.
As pesquisas qualitativas, por sua vez, usadas para acompanhar o conteúdo da campanha, 
chegaram a detectar que os eleitores tinham rejeição ao parlamentarismo por identificá-lo com 
eleições indiretas, ou seja, menos democráticas, enquanto o presidencialismo era algo já co-
nhecido. Além disso, a imagem de Itamar Franco estava melhorando.
Como você viu, a análise das pesquisas sobre o plebiscito centrou-se nas propriedades de 
direção, distribuição e consistência. Outra propriedade de que falamos antes e que pode ser 
medida em pesquisas é a intensidade.
Dois grandes teóricos em metodologia de pesquisa, Howard Shuman e Stanley Presser, 
descrevem, em um de seus livros, um experimento feito para comparar formas diferentes de 
medir a força das atitudes ou opiniões. Após perguntarem “Você acha que a uma mulher deve 
ser permitido fazer um aborto nos primeiros meses de gravidez, se ela quiser?”, pedia-se que 
o respondente dissesse se tinha sentimentos extremamente fortes a respeito, muito fortes a res-
peito, mais ou menos fortes ou nada fortes. Os dados indicaram que entre os que eram contra 
a permissão para o aborto, 35,6% tinham sentimentos extremamente fortes sobre o assunto, 
contra apenas 6,6% entre aqueles que eram favoráveis à manutenção da liberação do aborto.
Os autores consideravam tais dados como uma explicação plausível para a força que os 
opoentes ao aborto têm nos Estados Unidos, pois apesar de minoritários são muito mais “en-
fáticos” na sua posição e tal diferença deve se refletir na disposição de lutar por suas idéias.
Até aqui só falamos da grande utilidade e interesse que as pesquisas de opinião pública 
têm, mas existe um lado negativo desta atividade que também deve ser comentado.
As pesquisas de opinião pública, assim como qualquer outra fonte de informações, estão 
adquirindo maior visibilidade no nosso dia-a-dia. Quando existe uma polêmica em curso, a 
primeira coisa que surge na cabeça de todo mundo é fazer uma pesquisa. Os resultados das 
pesquisas são geralmente usados como fortes argumentos pró ou contra alguma proposta, tor-
nando-se uma fonte de poder. Por causa disto, algumas pessoas ou grupos tentam usar as pes-
quisas a seu favor, divulgando resultados que lhes interessam.
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Se usadas com má-fé, as pesquisas podem gerar resultados falsos ou, no mínimo, incom-
pletos. Isso pode ocorrer se a amostra for selecionada de forma errada, se o questionário for 
elaborado de maneira tendenciosa ou ainda se a análise e divulgação dos resultados forem 
enviesadas e distorcidas.
Quem trabalha com pesquisa sabe, porém, que a credibilidade é o seu maior trunfo e que, 
portanto, é preciso evitar esse tipo de manipulação. Nós podemos dizer que só existem no 
mercado dois tipos de instituto de pesquisa: o instituto que tem credibilidade e o ex-instituto. 
Como a credibilidade é fundamental, o próprio setor, na figura de suas associações internacio-
nais, estabeleceu um código de ética que deve ser seguido por todos os pesquisadores.
Uma das partes mais importantes deste código diz respeito à divulgação de resultados, 
já que esta é a forma mais óbvia de usar indevidamente uma pesquisa. As regras de divulga-
ção são bem claras: os resultados da pesquisa devem ser sempre acompanhados do nome da 
organização que realizou o estudo, das características da população entrevistada, do número 
de entrevistas e das datas de realização de campo, da técnica utilizada para a coleta de dados 
(telefone, pessoal, mala direta), do método de construção da amostragem e dos enunciados 
das perguntas. Para divulgações na televisão e no rádio, devido ao menor tempo disponível, é 
possível resumir tais informações, mas o instituto tem que estar pronto a fornecê-las a quem 
solicitar.
Além de definir regras de procedimento aceitas pelo mercado de pesquisa e reforçadas ela 
constante vigilância entre os próprios institutos, há um enorme esforço em estudar possíveis 
efeitos de mudanças metodológicas nos resultados obtidos. Especialmente no que diz respeito 
à elaboração de questionários, já existem milhares de estudos a respeito, dos quais derivaram 
uma série de regras para a formulação de perguntas, ordem das questões, forma de abordagem, 
etc. para se ter uma idéia, em

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