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autonomia do direito comercial e sua relação com os outros ramos do direito

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AUTONOMIA DO DIREITO COMERCIAL E SUA RELAÇÃO COM OS OUTROS RAMOS DO DIREITO
	
	2.1 A discussão a respeito da autonomia do direito comercial
	O Código Civil de 2002 unificou formalmente o direito privado, mediante a fusão das normas básicas de direito civil e direito comercial, a exemplo do que ocorreu com o Código das Obrigações suíço, de 1881, reformado em 1936, e o Código Civil italiano, de 1942. Com isso, a velha discussão a respeito da existência da autonomia do direito comercial ganha novo fôlego. Para que se possa, apropriadamente, verificar a existência ou não da autonomia do direito comercial, torna-se de fundamental importância investigarmos o que se entende por "autonomia". Antes de qualquer outra indagação, devemos deixar claro que, em direito, não há falar em autonomia absoluta entre os seus diversos ramos. Se, por um lado, é fundamental que se limite o objeto a ser estudado, por outro não se pode perder de vista que nosso sistema jurídico é dotado de uma unidade absoluta, sendo tarefa impossível a total e estanque delimitação do direito comercial e seu estudo distanciado dos demais ramos do direito.
	2.2 Várias espécies de autonomia
	A doutrina procura identificar algumas formas possíveis de autonomia para os diversos ramos do direito. Destacamos a seguir a autonomia didática, formal e substancial do direito comercial.
	2.2.1 Autonomia didática
	A autonomia didática do direito comercial é inconteste e se faz presente desde o início dos cursos jurídicos no país. Daquela época até os dias atuais, em todas as faculdades brasileiras e na maioria das faculdades estrangeiras o direito comercial conta com uma cadeira específica.
	Esta autonomia significa a existência, nos cursos jurídicos, de disciplina que se dedique especificamente ao estudo do direito comercial, destinando determinada carga horária para a investigação acadêmica do fenômeno jurídico a ser estudado. Assim, o critério identificador da autonomia didática está diretamente relacionado com critérios estritamente pedagógicos e que indicam a necessidade de se separar um determinado tema ou conjunto de temas do direito para ser estudado e investigado nas faculdades de direito.
	2.2.2 Autonomia formal
	A existência de um corpo legislativo codificado é o que identifica a autonomia formal, também designada de autonomia legislativa. No Brasil, porque contamos com um Código Comercial independente do Código Civil, pode-se dizer que, quanto a este aspecto, o direito comercial é formalmente autônomo em relação ao direito civil.1
	No entanto, esta espécie de autonomia não respeita qualquer critério científico e tem pouca utilidade prática, uma vez que, mesmo que se sustente a unificação do direito privado, com a fusão em um mesmo Código das normas de natureza civil e comercial, isto não faria com que automaticamente deixasse o direito comercial de figurar como ramo autônomo da ciência do direito. 
	2.2.3 Autonomia substancial ou jurídica
	É sem dúvida, a autonomia substancial ou jurídica o tipo de autonomia mais importante dentre aquelas apresentadas, pois a matéria de uma dada área do direito é determinada cientificamente mediante a verificação de seu conteúdo particular e original, contendo princípios próprios que justificam a construção do ramo autônomo do direito, trazendo consigo um corpo orgânico capaz de sustentar sua existência.
	Não há falar que o direito comercial é uma especialidade do direito civil, mas, sim, que estes dois ramos do direito são bipartição do direito privado, porém ambos autônomos entre si na medida em que guardam princípios, institutos e características próprios. Enquanto o direito civil se ocupa de regular as relações jurídicas referentes à família, à sucessão, ao estado da pessoa e às obrigações, sempre sob a ótica individualista, a matéria comercial carrega sua especificidade e tem como característica cuidar das relações jurídicas ligadas ao empresário. É um direito que se preocupa com uma classe profissional ou, melhor dizendo, com a atividade empresarial e as consequências jurídicas de sua atuação.
1. Lembre-se que o atual Código Civil revogou apenas em parte o Código Comercial, permanecendo 	este vigente quanto à sua Segunda Pane, que trata do Comércio Marítimo.
2.3 Direito comercial e direito civil: a unificação do direito privado
	Conforme anteriormente mencionado, a unificação do direito privado, mediante a elaboração de um corpo legislativo único para o direito civil e o direito comercial, não significaria a simples extinção do direito comercial como ramo autônomo do direito. Quando muito, deixaria de existir a autonomia formal, mas a autonomia substancial e a didática permaneceriam intactas; razão pela qual referida unificação deve ser encarada tão somente sob a ótica de sua conveniência em termos de política legislativa.
2.4 Principais características do direito comercial
	Para a compreensão e delimitação da matéria comercial é de fundamental importância que se tenham presentes suas principais características, que são as seguintes:
	2.4.1 Cosmopolitismo
	A prática comercial sempre carregou consigo a necessidade de intercâmbio entre os povos. Esta característica fez com que surgissem usos e costumes comuns a todos os comerciantes, independentemente de sua nacionalidade. Esse cosmopolitismo inerente ao comércio acabou gerando o cosmopolitismo do direito comercial.
	Essa característica do direito comercial era conhecida desde os romanos, que aplicavam aos comerciantes o ius gentium - o direito dos estrangeiros. Atualmente, por conta dessa característica, existem diversos tratados internacionais que procuram uniformizar as práticas comerciais mais usuais. É o caso, por exemplo, da Convenção de Genebra, que cria uma lei uniforme para a letra de câmbio e a nota promissória, ou da Convenção de Varsóvia, que procura uniformizar as normas relativas ao transporte aéreo internacional. Temos também o tratado firmado entre Brasil e Argentina para o estabelecimento de empresas binacionais brasileiro-argentinas.
	2.4.2 Onerosidade
	A ocupação mercantil sempre se caracterizou pelo seu intuito econômico e especulativo. O comerciante exerce sua atividade profissional visando o lucro como forma de remuneração de seu trabalho e do emprego de seu capital. A onerosidade, portanto, se presume nas relações mercantis, tanto que a distribuição de brindes ou amostras grátis por parte do comerciante deve ser considerada atividade mercantil, pois, se não tem por fim o lucro imediato, visa a implementação de atividade promocional para a obtenção de lucro futuro.
	2.4.3 Informalismo
	A atividade comercial é eminentemente dinâmica e, ao contrário da vida civil, necessita de meios ágeis para a realização das transações comerciais. Essa agilidade se verifica pela ausência de formalismo nas transações mercantis, decorrendo daí a simplificação dos meios de prova dos contratos mercantis. Como exemplo desse informalismo que impregna a vida comercial temos o surgimento dos títulos de crédito, muito mais simples e expeditos que os tradicionais instrumentos contratuais de confissão de dívida, mútuo, cessão de crédito e outros típicos do direito civil.
	Consequência desse informalismo é a boa-fé que deve caracterizar as relações comerciais e a facilitação dos meios de prova; isso porque as transações são normalmente dotadas de um menor número de mecanismos de proteção, justamente em benefício da celeridade.
2.4.4 Fragmentarismo
	O direito comercial apresenta-se subdividido em diversos ramos, com características peculiares e, na maioria das vezes, independentes umas em relação às outras. Como exemplos temos as normas relativas às sociedades comerciais, aquelas relativas à falência e recuperação da empresa, aos títulos de crédito, às obrigações e aos contratos mercantis etc. O direito comercial está longe de contar com um sistema jurídico harmônico e completo, tratando-se, isto sim, da reunião de várias normas jurídicas.
2.5 Relações do direito comercial com os outros ramos do direito
	Devidoao fato de não existir independência absoluta entre os diversos ramos do direito, pois todos eles se interpenetram, o direito comercial interage com vários deles. Vejamos.
	A relação do direito comercial com o direito civil é tão intensa que, como se viu, várias foram as tentativas de uma unificação. Hoje existe um relacionamento bastante próximo no que diz respeito às obrigações e contratos civis e mercantis, tanto que ambos se abeberaram em uma mesma teoria geral.
	Com o direito tributário, o relacionamento se dá quando do trato dos livros e da contabilidade comercial e com relação ao fato gerador de alguns tributos, tais como a circulação de mercadorias e a prestação de serviços mediante a intermediação de mão de obra. O processo civil serve-lhe de apoio no processo de falência e recuperação da empresa. Diga-se o mesmo com relação ao direito penal e aos crimes falimentares. Para o estudo das sociedades de economia mista, que são aquelas que contam com participação acionária estatal, o suporte do direito administrativo é manifesto. Quando se trata do regime da livre concorrência, o direito constitucional tem fundamental importância.
	Enfim, para cada uma das especialidades do direito comercial, com maior ou menor intensidade, encontraremos interfaces com outros ramos do direito.
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