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Unidade II DESCARTES E A FILOSOFIA MODERNA Profa. Dra. Heloisa Helena Descartes A Filosofia Moderna nos traz, como vimos, diversos pensadores que estruturam novos olhares e novas maneiras de encararmos os processos de pensar e de olhar o mundo. Um dos filósofos ocidentais mais proeminentes da filosofia moderna foi o francês René Descartes que era também físico e matemático. Fonte: http://www.infoescola.com/filosofos/rene-descartes/ Descartes Para Descartes, a Filosofia seria como uma árvore, na qual a metafísica forma a raiz; a física, o tronco, e as diversas ciências, os galhos, sendo que o mais alto grau de sabedoria estaria na moral, que pressupõe conhecimento das diversas ciências, sendo as principais a ética, a mecânica e a medicina (MACIEL, 2016). Fonte: https://pixabay.com/pt/tronco-%C3%A1rvore- ra%C3%ADzes-1414201/ Principais ideias de Descartes Geometria analítica: consiste em uma fusão de álgebra com a geometria. Plano cartesiano: é um sistema de coordenadas que visa a localizar algo no espaço. Método Cartesiano, também chamado de dúvida hiperbólica, dúvida metafísica, mas mais conhecido como Ceticismo Metodológico: Descartes diz que só é verdadeiro aquilo que possa ter a sua existência comprovada com clareza e distinção, ou seja, duvida-se de cada ideia que não seja clara e distinta. Ele institui a dúvida, rejeita qualquer ideia da qual se possa duvidar, para então, após análise, restabelecer ou reconstruir essas ideias a fim de estruturar uma base sólida para o conhecimento. Esse método consiste em 4 regras: Regras básicas do Ceticismo Metodológico Clareza e distinção: verificar se existem evidências reais e indubitáveis acerca do fenômeno ou coisa estudada. Só acolho como verdadeiro o que se apresente de forma tão clara e distinta que não seja possível duvidar. Análise: dividir ao máximo as coisas em suas unidades mais simples para que possam ser estudadas, devendo partir do simples para o complexo. Sintetizar, ou seja, agrupar novamente as unidades estudadas em um todo verdadeiro. Enumerar todas as conclusões e os princípios utilizados, a fim de manter a ordem do pensamento. O plano cartesiano O plano cartesiano foi criado com o intuito de se localizarem pontos em um determinado espaço como: localizações geográficas, pontos estratégicos de bases militares. Hoje, o plano cartesiano ainda é utilizado para a criação de gráficos a fim de se vislumbrar processos como vendas/mês de um produto, localizações no espaço aéreo, terrestre e marítimo, entre tantas outras utilizações. O plano consiste em dois eixos que são perpendiculares, sendo que o horizontal é chamado eixo das abscissas e o vertical de eixo das ordenadas. Mas vamos conhecer um pouco mais de Descartes? René Descartes nasceu em 31 de março de 1596, em La Haye, França, um povoado de Touraine que fica a 300 km de Paris. Foi o segundo de três filhos. Perdeu a mãe, Jeanne Brochard, com 1 ano de idade, por complicações no terceiro parto. Fonte: http://www.mat.ibilce.unesp.br/laboratorio/ pages/historia/descartes.htm Seu pai, Joachim Descartes, era dono de terras, advogado e juiz; detinha o título de escudeiro, primeiro grau de nobreza. Além disso, foi conselheiro do parlamento. Interatividade Uma das ideias de Descartes institui a dúvida e rejeita qualquer ideia da qual se possa duvidar. Como é denominada essa ideia? a) Geometria analítica. b) Plano cartesiano. c) Dúvida metafísica. d) Dúvida extrema. e) Dúvida geométrica. Um pouco mais de Descartes De 1604 a 1614, ele estudou no colégio jesuíta de La Flèche, fundado por Henry IV e considerado o melhor colégio da França na época. No livro de matrícula, o diretor do colégio registrou: “Este menino é pálido, magro e sua estatura é muito baixa para sua idade. Tem os pulmões fracos e uma tosse crônica. Por estes traços, será necessário que, antes de instruirmos sua mente, cuidemos de seu corpo. Ele não deverá deixar o seu leito, ao acordar, se não sentir-se bem disposto”. A partir daí, adquiriu o hábito de meditar e ler no leito durante a manhã. Um pouco mais de Descartes Em La Flèche se estabeleciam dois tipos de conhecimentos: as ciências “práticas”, que eram consideradas úteis a oficiais do exército como: matemática, geografia, hidrografia (fortificações) e os conhecimentos considerados humanísticos como a gramática, a história, a poesia, a retórica, a filosofia. Durante três anos, ele estudou Filosofia, tendo uma visão mais centrada em Aristóteles. É importante lembrar que esse tipo de educação se destinava a preparar os estudantes para a teologia. Um pouco mais de Descartes A partir do segundo ano de estudos, Descartes passa a estudar também matemática e álgebra. Em 1616, ele vai para Poitiers realizar seus exames legais de Direito. Ao receber uma pequena fortuna, Descartes passa a viajar para conhecer outras cortes. Em 1618, Descartes se alista na Holanda, para a Guerra dos Trinta Anos. Em 1619, ele deixa a Holanda, liberado do exército e vai para a Dinamarca e depois para a Alemanha servir ao exército de Maximilian da Bavaria. Luta contra o rei da Boêmia e auxilia em Frankfurt na coroação do Imperador Ferdinand. Em 1620, renuncia a vida militar. Um pouco mais de Descartes Segundo consta, depois de beber muito em uma festa realizada na aldeia alemã de Ulm, Descartes tem pesadelos e acorda com forte intuição sobre os fundamentos de uma ciência admirável, que poderia se tornar universal, era 10 de novembro de 1619. Em 1622 volta à França e, em 1623, vai à Itália onde fica até 1625, passando por uma fase mística que o faz integrar a Associação dos Rosa Cruzes. Volta a Paris no ano seguinte, lidando com a matemática. No final de 1628, Descartes volta à Holanda onde escreve o “pequeno tratado da metafísica” sobre a existência de Deus e da alma. Um pouco mais de Descartes Um ano depois, ele passa a se dedicar à física e escreve o “Tratado do Mundo”, no qual versa sobre fenômenos da natureza, a formação do planeta, a gravidade, fala de fluxo e refluxo. Em 1633, Galileu é condenado pelo Santo Ofício por propor que a Terra girava em torno do sol, o que faz com que Descartes fique atônico e pense inclusive em queimar todos os seus estudos. Em 1635, nasce Francine, filha que teve com uma serviçal. A criança falece precocemente. “Discurso sobre o Método” – Descartes Em 1637, Descartes publica na Holanda, em francês, o “Discours de la Méthode pour bien conduire la Raison e chercher la Vérité dans les Sciences” (“Discurso sobre o Método para bem conduzir a Razão e procurar a Verdade nas Ciências”). Fonte: http://www.datuopinion.com/discurso-del-metodo Obra de Descartes Descartes escreve na Holanda uma de suas obras mais conhecidas: “Meditações sobre a filosofia primeira” ou “Meditações Metafísicas”. Porém toma o cuidado que as meditações que têm fundamentos da física fossem bem aceitas pela Igreja. Envia para Caterus um jovem teólogo holandês. No final de 1640, ele envia para Mersenne com as objeçõese as respostas de Caterus. O livro, ao ser publicado em 1641, traz um conjunto de objeções, pondo em dúvida toda a crença que não seja absolutamente certa. Interatividade Nas alternativas a seguir, assinale aquela que nos traz o porquê de Descartes enviar seus escritos primeiro para teólogos, membros da Igreja. a) Medo de estar equivocado. b) Assustado pelo que aconteceu com Galileu. c) Medo de ser desmentido. d) Receoso de não pensar corretamente. e) Assustado com o rumo da Revolução Industrial. A Árvore do Saber Como vimos, Descartes cria a metáfora da Árvore do Saber, em que as raízes são a metafísica, o tronco, a física; e os ramos: a mecânica, a medicina e a moral. A metafísica, para ele, é a base de tudo, sobre a qual todas as outras ciências se sustentam. A física, como tronco, revela uma visão mecanicista do filósofo. Mecânica, medicina e moral têm por base corpos em movimento. Percebe-se que, apesar de católico, ele não coloca a teologia no projeto cartesiano, o que indica uma ruptura entre ciência e religião. Opiniões contrárias Os acadêmicos, na Holanda, veem como grande perigo o que Descartes apresenta e lutam incisivamente pelas ideias de Aristóteles. Em 1643, a Filosofia Cartesiana é condenada pela Universidade de Ultrecht, mas Descartes ganha a proteção do Príncipe de Orange. Em 1644, ele publica “Os Princípios da Filosofia”, em que busca o consentimento de seus ex-professores jesuítas, em melhor posição para espalhar uma filosofia diferente da de Aristóteles. Em 1645, ele é completamente exonerado da Universidade de Groningen. Descartes Sua estada na Holanda só foi interrompida por três viagens curtas para a França, em 1644, 1647 e 1648. Na primeira viagem, em 1644, ele conhece o embaixador francês na Suécia, Chanut, que o colocou em contato com a rainha Cristina. Em setembro de 1649, Descartes deixa a Holanda para ir a Estocolmo se encontrar com a Rainha Cristina que o convida para ficar na corte e ministrar-lhe aulas de filosofia e matemática às 5 da manhã. Muitos dizem que sua saúde precária ficou extremamente abalada pelos invernos gélidos da Suécia e por ter que se levantar para agradar a Rainha Cristina. Ele contraiu pneumonia e faleceu em 11 de fevereiro de 1650. A Psicologia e a Metafísica de Descartes Não podemos esquecer que Descartes viveu no período em que se deu a transição entre o feudalismo e o capitalismo moderno. Seu pensamento, portanto, era revolucionário para uma época em que a Igreja Católica era fortíssima, onde havia a inquisição e não existia tradição para a “produção de conhecimento”. Fonte: https://www.estudopratico.com.br/igreja-catolica-na-idade-media/ A Psicologia Cartesiana No “Tratado do Mundo” (1629-1632), Descartes fala sobre o homem como mecanismo para explicar as funções do corpo como a digestão, os batimentos cardíacos, a distribuição dos cinco sentidos. Para isso, ele estudou a anatomia das cabeças de vários animais e explicou o que é imaginação e memória. O filósofo acreditava que os corpos de animais e homens são comparáveis às máquinas ou aos autômatos, conceito advindo da filosofia grega que deixou vestígios na Idade Média. A ideia de que o corpo é uma máquina está tradicionalmente ligada à outra ideia: a de que existe um mecânico que construiu a máquina e que a faz operar. Corpo e alma Descartes mostra a construção da máquina e as leis universais da natureza que operam a máquina, sem a necessidade de um mecânico particular. Isso leva Descartes a ter uma visão dualista da realidade: espírito e matéria, corpo e alma. Para Descartes é possível ter uma ideia clara e distinta de mim mesmo como sendo pensado, ao mesmo tempo em que posso conceber esse ser pensante, sem introduzir qualquer noção de corpo nele. Podemos, então, dizer que minha alma é substância pensante completamente separada do corpo. Posso, portanto, adquirir algum conhecimento de mim mesmo sem consciência corporal. Corpo e alma Antes do século XVII, a alma era mais ou menos descrita como “espírito vital” ou “sopro de vida”, que percorria os seres vivos. Para Aristóteles, a alma não estava dissociada do corpo e se apresentava em todo organismo como princípio vital desse organismo. É somente no século XVII que existe a separação corpo e alma, sendo o corpo concebido com um olhar mecanicista, ou seja, sendo explicado por processos mecânicos. Para Descartes, o corpo é separado da alma. O corpo é apenas a máquina que pode se mover sem alma, como faz o autômato. Precisamos lembrar do encantamento pelas máquinas da época (relógio). Interatividade Quando Descartes cria a metáfora da Árvore da Vida, o tronco que revela sua visão mecanicista diz respeito a: a) Metafísica. b) Física. c) Matemática. d) Mecânica. e) Medicina. Vamos entender melhor... Descartes entende que existem duas realidades ou, como denomina, duas “substâncias”. Uma é o pensamento (alma) e outra, a matéria. A alma é apenas consciente, não ocupa espaço e, portanto, não pode ser dividida; enquanto que a matéria é extensa, ocupa espaço e pode ser dividida em partes cada vez menores, mas não é consciente. Sendo católico, ambas as substâncias viriam de Deus, embora sejam independentes uma da outra. Descartes afirma que o homem tem alma e corpo, diferente dos animais que são autômatos complexos. Santo Agostinho e São Tomás de Aquino já tinham feito afirmação semelhante. Corpo e alma Para o filósofo, a alma seria independente do corpo, porque ela “funciona” sozinha, coisa que não acontece com o corpo, que segue suas próprias leis. A alma estaria ligada ao corpo por meio de uma glândula cerebral, podendo ser confundida com sensações e sentimentos; tendo, portanto, acesso privilegiado à realidade. Essa via de acesso seria a consciência. Segundo Descartes, o Cogito, ergo, sum ou “Penso, logo existo” revela de modo evidente a natureza da substância pensante, isto é, a alma. O pensamento compreende “tudo que está em mim e de que sou imediatamente consciente”. Corpo e alma Descartes realizou uma virada na interpretação da alma como substância, porque apesar de manter atributos como indestrutibilidade, simplicidade e unicidade; o pensamento garante acesso privilegiado à realidade da alma porque possui a certeza do cogito. Comparada à realidade da alma, a certeza das outras coisas materiais e corporais é secundária e derivada porque é mediada pela consciência. Metafísica Cartesiana O termo aparece pela primeira vez com Aristóteles ao ser questionado sobre a Filosofia Primeira. Ela estava na prateleira logo após os escritos sobre física. Meta = após, além da física. Estudos de uma realidade além da física. Aqui, Deus e alma são alguns dos assuntos tratados. A metafísica de Descartes foi apresentada em três obras: “Discurso do Método”. “Meditações”. “Princípios”. Todas seguintes a mesma ordem: duvidar da existência material e aceitar a certeza da matemática. Metafísica Cartesiana As aparências enganam; à noite, todos os gatos são pardos; parece mas não é: são frases que indicam que devemos ter cuidado com as informações vindas dos nossos sentidos. Por exemplo, quando sonhamos, não temos a sensação de estarmos vivenciando realidades? Não podemos, então, estar sendo enganados? Descartes acredita que não podemos dar nada como certo e verdadeiro, enquanto não tivermos reconhecido, de maneira clara e verdadeira, o que de fato é verdadeiro. Por isso e em função disso, devemosdecompor uma “realidade” em outras menores e simples para que possamos reconstruí-la, indo do simples para o complexo. Para isso, deveremos, até o final, fazer controles. Falando de outra forma Somente assim conseguimos atingir as conclusões filosóficas. Vejam que mesmo quando sonhamos... Escreve ele: “Quando reflito cuidadosamente nesta questão, não encontro nenhum indício pelo qual possa distinguir com segurança a vigília do sono. São ambos tão semelhantes que eu fico totalmente perplexo e não sei se estarei a sonhar nesse momento”. Ele continua a trabalhar e chega à conclusão que se deve realmente duvidar de tudo e isso é a única coisa de que se pode ter certeza absoluta. De novo e sempre Cogito, ergo sum. A conclusão Ele se percebe, portanto, um “ser pensante” porque é mais real o que compreendemos com a razão do que recebemos pelos sentidos. Ele também percebe clara e nitidamente o homem como ser perfeito, mas essa ideia não pode partir de si mesmo, por ser imperfeito. A partir disso, chega a conclusão que a ideia de um ser perfeito só pode vir de outro ser perfeito, ou seja, Deus. Para o filósofo, a ideia de Deus é inata, nascemos com ela “tal como a marca que o artista imprimiu na sua obra”. Mas há quem diga que esse precisamente é o ponto fraco de Descartes porque ele não pode provar a existência com a razão. Interatividade Quando estamos falando da metafísica de Descartes é correto afirmarmos que: a) Ele entende que existem diversas realidades que precisam ser observadas. b) Ele entende que existem duas “substâncias”. c) Ele entende que existem quatro “substâncias. d) As substâncias são matérias. e) A alma precisa ocupar o seu espaço. ATÉ A PRÓXIMA!