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ENSAIO ANALÍTICO SOBRE A FORMAÇÃO DA REPÚBLICA NO BRASIL

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
GRADUAÇÃO EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS
INSTITUTO DE ECONOMIA
DICIPLINA: HISTÓRIA ECONÔMICA E SOCIAL DO BRASIL
DOCENTE: ALEXANDRE AVELLAR
GODINHO, Luiza - 11611RIT044
DIAS, Bárbara - 11611RIT021
ENSAIO ANALÍTICO SOBRE A FORMAÇÃO DA REPÚBLICA NO BRASIL
2017
O período republicano brasileiro se inicia em 1889, com a proclamação da República pelo Marechal Deodoro da Fonseca, através de um golpe depondo o imperador D. Pedro II, e se torna o primeiro presidente brasileiro. No ano anterior, 1888, se deu a abolição da escravidão no Brasil. O Brasil República pode ser dividido em cinco fases: República Velha (1889 – 1930), Era Vargas (1930 – 1945), República Populista (1945-1964), Ditadura Militar (1964 – 1985) e Nova República (1985 – hoje). No presente ensaio é proposta uma análise sobre os anos iniciais da formação da república brasileira, a República Velha, tanto no âmbito econômico como no social e administrativo e os resquícios de influência que as características desse processo tem no cenário atual.
Durante a república velha, é promulgada a primeira constituição da era republicana, em 1891. Esse período, também conhecido como República das Oligarquias, foi marcado por governos ligados ao setor agrário, cuja forma de se manter no poder era a alternada "política do café com leite". A quebra dessa "troca" de governo provoca a Revolução de 1930, marcando o fim da República Velha. Essa política, do momento inicial do período republicano, a ocupação da presidência era ditada por centros econômicos - as chamadas oligarquias. São Paulo possuía uma agricultura cafeeira, e Minas Gerais a economia do gado leiteiro, daí o apelido de tal momento da república. Assim, o controle político do Brasil era feito pelos mesmos que controlavam a economia, estando os interesses das classes dominantes sempre representados. Formalmente, esse acordo teve início no governo de Campos Sales, em 1898.
Abaixo, segue um quadro listando os presidentes da República Velha em ordem cronológica para melhor entendimento do texto.
	Presidentes da República Velha
	Anos
	Marechal Manuel Deodoro da Fonseca
	1889 - 1991
	Floriano Vieira Peixoto
	1891 - 1894
	Prudente José de Morais e Barros
	1894-1898
	Manuel Ferraz de Campos Sales
	1898-1902
	Francisco de Paula Rodrigues Alves
	1902-1906
	Afonso Augusto Moreira Pena (morreu durante o mandato)
	1906-1909
	Nilo Procópio Peçanha (vice de Afonso Pena, assumiu em seu lugar)
	1909-1910
	Marechal Hermes da Fonseca
	1910-1914
	Venceslau Brás Pereira Gomes
	1914-1918
	Francisco de Paula Rodrigues Alves (eleito, morreu de gripe espanhola, sem ter assumido o cargo)
	1918-1919
	Delfim Moreira da Costa Ribeiro (vice de Rodrigues Alves, assumiu em seu lugar)
	1919
	Epitácio da Silva Pessoa
	1919-1922
	Artur da Silva Bernardes
	1922-1926
	Washington Luís Pereira de Sousa (deposto pela Revolução de 1930)
	1926-1930
	Júlio Prestes de Albuquerque (eleito presidente em 1930, não tomou posse, impedido pela Revolução de 1930)
	1930
Fonte: infoescola
Se observa que, da Proclamação da República até o início do governo Campos Sales, o Brasil teve dois presidentes militares: Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. A República, então, se inicia com um golpe e tem seu início comandado pelos militares, unidos pelo sentimento de donos e salvadores da república. O primeiro presidente civil da história republicana brasileira foi Prudente de Moraes, em 1894. Em seu mandato, enfrenta algumas tensões político-sociais, como a revolta em Canudos, na Bahia, e a Revolução Federalista, no Rio Grande do Sul. As tensões sociais são bastante presentes nos primeiros anos da República. O fato é que o povo era acometido por uma enorme falta de cidadania. Aristides Lobo, jurista, político e jornalista republicano, relata que o povo não foi protagonista dos acontecimentos. Todo sistema de dominação terá de desenvolver uma base de legitimidade para sobreviver, nesse caso, a apatia dos cidadãos. Após a independência, a primeira grande mudança do regime político foi a implantação de um sistema de governo que propunha trazer o povo para o centro da atividade política. Nas cidades se torna impossível a libertação do poder privado dos senhores feudais, o burguês foi o primeiro cidadão moderno.
Quando se analisa o período republicano, o Rio de Janeiro possui grande destaque. A cidade nos primeiros anos da república era a maior cidade do país, com 500 mil habitantes, sendo a capital política e administrativa. Durante a primeira década republicana Rio de Janeiro passa pela fase mais turbulenta de sua existência. Pela primeira vez, grande parte dos fluminenses foi envolvida nos assuntos da cidade e do país. Com a abolição, o restante da mão-de-obra escrava foi lançada no mercado de trabalho livre, engrossando o contingente de subempregados e desempregados. Ocorreu um êxodo para a cidade proveniente da região cafeeira do Estado do Rio e também um aumento na imigração estrangeira, especialmente portugueses. A década que precedeu a república apresenta maior crescimento demográfico relativo. Em 1890, apenas 45% da população era nascida na cidade. Também em 1890, entre os estrangeiros, os homens eram mais que o dobro das mulheres. Na população total, a predominância do sexo masculino girava em torno de 56%, portanto havia um desequilíbrio entre os sexos. Como consequência do rápido crescimento populacional, se deu o acumulo de pessoas em ocupações mal remuneradas ou sem ocupação fixa. Problemas de abastecimento de água, saneamento e higiene se agravaram de maneira dramática no início da república com o mais violento surto de epidemias da história da cidade.
Havia a necessidade de aplacar os cafeicultores, especialmente do estado do Rio, e também de atender à uma demanda real de moeda para o pagamento de salários. O governo imperial começou a emitir dinheiro, prática seguida com entusiasmo pelo governo provisório. A praça do Rio de Janeiro foi inundada de dinheiro sem nenhum lastro, o que foi seguido pela conhecida febre especulativa. Por dois anos, o novo regime pareceu uma autentica república de banqueiros, onde a lei era enriquecer a todo custo com dinheiro de especulação. Devido ao aumento da demanda, se observa um aumento no preço dos produtos importados, já em 1982 se tem inflação generalizada e duplicação dos preços. O aumento do custo de vida era agravado pela imigração, que ampliava a oferta de mão-de-obra, o que serviu como combustível para o movimento jacobino, que se inicia no governo Floriano e perdurou até o fim da presidência de Prudente de Morais, em 1898. O jacobinismo elegeu os portugueses como principal alvo de suas iras. Em 1987 tentam matar o presidente Prudente de Morais, depois de terem feito o mesmo com o presidente do conselho de ministros da monarquia.
A república teve sua face autoritária. Os capoeiras foram perseguidos, presos e deportados para Fernando de Noronha, foram, de certa forma, domesticados. Também não houve tolerância para os anarquistas estrangeiros, aos quais foi mostrada a face violenta da república, que os expulsa. No governo de Floriano Peixoto foram expulsos 76 estrangeiros, as deportações faziam-se por simples decreto presidencial.
A república não produziu correntes ideológicas próprias. Por um momento houve uma abertura por onde circularam ideias mais livremente do que no período imperial, chamado por Evaristo de Moraes, advogado e jurista brasileiro, de "felicidade de porre ideológico". Nesse contexto se observa uma mistura de várias vertentes do pensamento europeu. O liberalismo e o positivismo, por exemplo, já haviam sido incorporadas durante o império, mas outras, como o socialismo, foram impulsionadas, e algumas, como o anarquismo, importadas.
Assim, os intelectuais de classe média viram possibilidade de intervir na política através das propostas socialistas, acreditando na possibilidade de democratizar a república. A nova atitude dos intelectuais em relaçãoà política merece atenção. No governo Floriano há um cisma entre os intelectuais, tendo alguns dos antigos entusiastas da República de fugir da capital para evitar a prisão.
A proclamação da república gera, entre as elites, um sentimento de libertação. Houve, de certa forma, uma vitória do espírito do capitalismo. O espírito aquisitivo desabrochou. Também houve quebra de valores antigos no campo da moral e dos costumes, que se observa através dos altos índices de população marginal, baixa nupcialidade, desequilíbrio entre os sexos, alta taxa de nascimentos ilegítimos. No romance de Manuel Antônio de Almeida, Memórias de Um Sargento de Milícias, essa realidade é retratada.
Mesmo com o caráter repressivo do governo Floriano, houve essa libertação da ação moralista. Entretanto, a recepção do novo regime foi diferente pelo "proletariado do capital". A euforia e sensação de novos caminhos não atingiu essa população, a simpatia popular se dirigia a D. Pedro II e ao império. A reação negativa da população negra à República manifesta-se antes mesmo da proclamação, através da Guarda Negra organizada por José de Patrocínio, havendo sérios incidentes entre os propagandistas e a guarda. Havia uma clara perseguição a essas classes, que pode ser evidenciada, por exemplo, com a destruição do mais famoso cortiço do Rio - Cabeça de Porco, em 1892.
O desafio que se estabelecia para essa república era, então, alcançar a estabilidade. Após dez anos de república, haviam agitações, guerra civil nos estados do sul e risco de fragmentação nacional. A economia também estava ameaçada, havia a crise do café somada às dificuldades de administrar a dívida externa. Se observava a necessidade de neutralizar a influência da capital na política nacional, e a forma para tal era tirar os militares do governo e diminuir a participação popular. Para isso, o plano era fortalecer os estados, coopitando suas oligarquias.
A Revolta da Vacina, insurreição popular que ocorreu no Rio de Janeiro, é um importante acontecimento desse período. A população pobre via a lei da vacina obrigatória como uma ameaça à própria honra do lar ao permitir que estranhos vissem e tocassem os braços e as coxas de suas mulheres e filhas. Essa revolta evidencia a falta de confiança dos cidadãos em seus governantes.
Assim, a expectativa inicial sobre a República foi sendo sistematicamente frustrada. Os intelectuais foram perseguidos, os operários possuíam dificuldade de se organizar em partidos e participarem do processo eleitoral, os jacobinos foram eliminados. O grosso da população possuía apenas a imprensa para fazer ouvir sua voz. A representação municipal não necessitava prestar contas ao eleitorado, o que abre portas para a corrupção.
Quando as finanças foram recuperadas da política deflacionária de Campos Sales, se inicia o processo de embelezamento da cidade do Rio, que provoca efeito de redução da promiscuidade social. O que se observa com tal processo é a vergonha do Brasil pobre e negro, e de certa forma sua negação, com um afastamento dessas classes da elite, aumentando a segmentação social.
O Brasil, em seu processo republicano, é marcado por revoltas, autoritarismo, desigualdade social crescente, e uma constante tentativa da elite, com êxito, de controlar a política, garantindo seus privilégios. A população negra e pobre, cujas costas carregaram a formação do país em seu período colonial, foi marginalizada desde o início de sua "liberdade". Levando-se em consideração a classe que domina nosso sistema político, o crescente apoio da sociedade a políticos com discursos autoritários, a segregação de tudo que é relacionado a população negra e sua cultura, pode-se concluir que, o Brasil continua uma república de oligarquia com praticamente todas as suas características porém nos moldes do século XXI. O processo de formação do Brasil reflete na nossa sociedade atual, portanto, qualquer semelhança com o cenário atual, talvez não seja mera coincidência. 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia das Letras, 1987. (Introdução e capítulo I – “O Rio de Janeiro e a República”)
INFOESCOLA; VELASCO, Valquiria. República Velha. Disponível em: <http://www.infoescola.com/historia-do-brasil/republica-velha/>. Acesso em: 30 jul. 2017.
PORTAL BRASIL. Governo Federal. Período republicano teve início em 1889, com a proclamação da República pelo Marechal Deodoro. 2009. Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/governo/2009/11/brasil-republica>. Acesso em: 30 jul. 2017
UOL educação. ANGELO, Vitor Amorim de. Política do café-com-leite: Acordo marcou a República Velha. 2008. Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/politica-do-cafe-com-leite-acordo-marcou-a-republica-velha.htm>. Acesso em: 30 jul. 2017.

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