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MECANISMOS DA LESÃO CELULAR Os mecanismos biológicos que ligam determinada lesão com as manifestações celulares e tissulares resultantes são complexos, interconectados e intimamente intercombinados com muitas vias metabólicas intracelulares. Contudo, vários princípios gerais são relevantes para a maioria das formas de lesão celular: • A resposta celular ao estímulo nocivo depende do tipo de lesão, sua duração e sua gravidade. Assim, pequenas doses de toxina ou breves períodos de isquemia podem levar a lesão celular reversível, enquanto altas doses de toxina ou isquemia mais prolongada podem resultar em lesão celular irreversível e morte celular. • As consequências de um estímulo nocivo dependem do tipo, status, adaptabilidade e fenótipo genético da célula lesada. A mesma lesão gera diferentes resultados dependendo do tipo celular; assim, o músculo estriado esquelético da perna se acomoda à isquemia completa por 2-3 horas sem lesão irreversível, ao passo que o músculo cardíaco morre depois de apenas 20-30 minutos. • A lesão celular resulta de alterações bioquímicas e funcionais em um ou mais dos vários componentes celulares essenciais. Os alvos mais importantes dos estímulos nocivos são: as mitocôndrias e sua habilidade em gerar ATP e ERO em condições patológicas; desequilíbrio na homeostasia do cálcio; danos às membranas celulares (plasmática e lisossômica) e danos ao DNA. Principais mecanismos de lesão celular: Depleção de ATP O ATP, o estoque de energia da célula, é produzido principal- mente por fosforilação oxidativa nas mitocôndrias. Além disso, a via glicolítica pode gerar ATP, na ausência de oxigênio. As principais causas de depleção de ATP são a redução do suprimento de oxigênio e nutrientes, o dano mitocondrial e as ações de algumas toxinas. O fosfato de alta energia, na forma de ATP, é necessário para virtualmente todos os processos dentro da célula, incluindo o transporte de membrana e a síntese de proteínas. A depleção significativa de ATP tem amplos efeitos em muitos sistemas celulares críticos: • A atividade da bomba de sódio na membrana plasmática dependente de ATP é reduzida, resultando em acúmulo intracelular de sódio e efluxo de potássio. O ganho final de soluto é acompanhado por um ganho iso-osmótico de água, causando tumefação celular e dilatação do RE. • Ocorre aumento compensatório na glicólise anaeróbica, na tentativa de manter as fontes de energia celular. Como consequência, as reservas de glicogênio intracelular são rapidamente exauridas e o ácido lático se acumula, levando à diminuição do pH intracelular. • A falência na bomba de Ca2+ leva ao influxo de Ca2+, com efeitos danosos em vários componentes celulares. • A depleção prolongada ou crescente de ATP causa o rompimento estrutural do aparelho de síntese proteica, manifestado como desprendimento dos ribossomos do retículo endoplasmático granular (REG). Finalmente, ocorre dano irreversível às membranas mitocondriais e lisossômicas, e a célula sofre necrose. Danos e Disfunções Mitocondriais As mitocôndrias podem ser vistas como “minifábricas” que produzem energia de sustentação da vida, na forma de ATP, mas são também componentes críticos da lesão e morte celular. As mitocôndrias são sensíveis a vários tipos de estímulos nocivos, incluindo hipóxia, toxinas químicas e radiação. Os danos mitocondriais resultam em graves anormalidades bioquímicas: • Falha na fosforilação oxidativa levando a depleção progressiva de ATP, culminando na necrose da célula, como descrito anteriormente. • Fosforilação oxidativa anormal leva também à formação de espécies reativas de oxigênio, com muitos efeitos deletérios. • As mitocôndrias contêm também várias proteínas que, quando liberadas para o citoplasma, informam à célula que há uma lesão interna e ativam a via de apoptose. Influxo de Cálcio A isquemia e certas toxinas causam aumento da concentração do cálcio citosólico, inicialmente por causa da liberação de Ca2+ armazenado intracelularmente e, mais tarde, do cálcio que resulta do influxo aumentado através da membrana plasmática. O aumento do cálcio citosólico ativa várias enzimas, com efeitos celulares potencialmente prejudiciais. Essas enzimas incluem as fosfolipases (que causam danos à membrana), as proteases (que clivam as proteínas de membrana e do citoesqueleto), as endonucleases (que são responsáveis pela fragmentação da cromatina e do DNA) e as trifosfatases de adenosina (ATPases), acelerando a depleção de ATP. O aumento dos níveis de Ca2+ intracelular resultam, também, na indução da apoptose, através da ativação direta das caspases. Acúmulo de Radicais Livres Derivados do Oxigênio (Estresse Oxidativo) Quando gerados nas células, atacam avidamente os ácidos nucleicos, assim como uma variedade de proteínas e lipídios celulares. As espécies reativas do oxigênio (ERO) são um tipo de radical livre derivado do oxigênio, cujo papel na lesão celular está bem estabelecido. Em muitas circunstâncias, a lesão celular envolve danos causados pelos radicais livres; essas situações incluem a lesão de isquemia-reperfusão, a lesão química e por radiação, a toxicidade do oxigênio e outros gases, o envelhecimento celular, a destruição dos micróbios pelas células fagocíticas e a lesão tecidual causada por células inflamatórias. • Normalmente as ERO são produzidas em pequenas quantidades, em todas as células, durante as reações que ocorrem durante a respiração e a geração de energia mitocondrial. Entretanto, essa reação é imperfeita, e pequenas quantidades de intermediários tóxicos altamente reativos são geradas quando o oxigênio é apenas parcialmente reduzido. Robbins, patologia básica. Elsevier, 2013.
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