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2 Professor: Marlon Jorge Silva de Azevedo É expressamente proibido a reprodução total ou parcial de imagens ou texto deste produto inclusive quanto às características gráficas de seu conteúdo sem autorização escrita de seu autor, a violação de direitos autorais constitui crime (Código Penal, art. 184, Lei nº 6.895 de 17/12/1980). Estudos Surdos no Ensino Superior 3 APRESENTAÇÃO Aos Professores e Professoras, É com satisfação que lhes apresento o material do aluno/Cursista referente ao Curso de Língua Brasileira de Sinais LIBRAS, incluído na Disciplina Curricular Obrigatória para a formação de professores. O “ Estudos Surdos no Ensino Superior” Tem como propósito apoiar e incentivar o desenvolvimento profissional de professores e especialistas para a aprendizagem e posterior utilização pedagógica da língua de sinais em sala de aula em qualquer ambiente educacional, lhes proporcionando a ampliação do conhecimento socialmente construído e poder exercer a sua cidadania e conhecer um pouco do sujeito surdo sua língua e sua cultura. A ideia central desse material é favorecer o estudo e a aplicabilidade do ensino de língua de sinais, por meio da aprendizagem em parceria com os surdos da comunidade e sua localidade profissional onde esta inserida, favorecendo assim práticas que estimulem no desenvolvimento da comunicação entre surdos e não surdos. O curso utilizar material impresso e vídeos que podem, além de ampliar o universo de conhecimento dos participantes, ajudar a elaborar propostas de trabalho com toda comunidade escolar, criando novas possibilidades de trabalho com os alunos para melhorar a qualidade de sua aprendizagem. Esperamos que este curso colabore o processo de institucionalização de educação escolar dos surdos em nosso país, garantindo-lhes o respeito a sua diversidade sociocultural e uma educação de qualidade. Desejo a todos um bom trabalho. O autor 4 Conceito, o que é LIBRAS? ..............................................................06 Clichês sociais/ Cumprimentos .........................................................08 Alfabeto Manual.................................................................................11 Empréstimo linguistico.......................................................................13 Pedagogia Surda ..............................................................................14 Inclusão e Exclusão ..........................................................................16 História da Educação de Surdos.......................................................18 Parâmetros .......................................................................................20 Numeral: Cardinais/Quantidade e ordinais........................................24 Identidade cultural surda na diversidade Brasileira ..........................26 Características de sinais de pessoas ...............................................31 Iconicidade e arbitrariedade ........................................................... 32 Estrutura e variações linguísticas .....................................................33 Estrutura sintática .............................................................................35 Tempo/Dias de Semana ...................................................................37 Meses/calendário .............................................................................39 Pronomes pessoais ..........................................................................41 Pronomes interrogativos ..................................................................44 Família .............................................................................................48 Quem são os surdos....................................................................... 51 SÚMARIO 5 Lei 10.436 de 24 abril de 2002 ........................................................52 Decreto 5.626 de 22 de dezembro 2005..........................................53 Cores................................................................................................65 Material escolar ............................................................................. 67 Matérias disciplinas ....................................................................... 68 Meios de transportes ..................................................................... 70 Principais verbos em Libras .......................................................... 71 O Congresso de Milão em 1880 .....................................................76 Oralismo, Comunicação total, Bilinguismo, Comunicação Total e Atendimento Educacional Especializado ...................................... 78 Documentos ....................................................................................80 Estado Civil ................................................................................... 82 Substantivos/Sinônimos ................................................................ 83 Meios de comunicação e tecnológico............................................. 91 Profissões / Especialidade ............................................................. 93 Frutas ............................................................................................. 97 Sinais Religiosos .......................................................................... 99 Produções Literários em Libras ......................................................101 Alimentos variados ........................................................................ 106 Animais/Peixes............................................................................... 109 Classificadores .............................................................................. 113 6 Língua Brasileira de Sinais –LIBRAS é a Língua oficial da comunidade surda brasileira, foi desenvolvida a partir da língua de sinais francesa, é uma língua gestual-visual, com estrutura gramatical própria, articulada através das mãos e da expressão facial e corporal, compostas pelos níveis linguísticos: o fonológico, o morfológico, o sintático e o semântico. O que diferencia as Línguas de Sinais das demais línguas é a sua modalidade visual-espacial, faz se necessário esclarecer também que a LIBRAS não é uma língua limitada, e não é universal, cada país possui a sua língua. A LIBRAS pois, ao contrario do que muitos pensam, ela não expressa somente informações concretas, mais também transmite, assim como qualquer outras línguas, ideias abstratas seus usuários podem discutir historia, literatura, política, poesia, esportes, filmes, teatro, humor, contar histórias etc... LEI 10.436 de 24 de abril de 2002 no Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviçospúblicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Decreto 5.626 de 22 de dezembro de 2005, regulamenta a inclusão da libras como disciplina curricular, no Capitulo ll do Art. 3o A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores CONCEITO O QUE É LIBRAS? 7 para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. § 1o Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso de Educação Especial são considerados cursos de formação de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério. § 2o A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto. 8 CLICHÊS SOCIAIS/ CUMPRIMENTOS OI! TUDO BEM! COMO É SEU! NOME! MEU NOME É!... PRAZER CONHECER-LO! BOM (@) DIA! TARDE! NOITE! 9 DESCULPA! POSSO AJUDÁ-LO! QUAL A SUA IDADE? ÓTIMO! COM LICENÇA! SORTE! MAIS OU MENOS! QUE SAUDADE! DE-ME UM ABRAÇO! MEUS SENTIMENTOS! 10 COMO VAI VOCÊ! EU ESTOU BEM! MEU SINAL É! COMO É SEU SINAL! OBRIGADO! OK! DE NADA! OLÁ/TCHAU! 11 A datilologia (alfabeto manual): usada para expressar nomes de pessoas, lugares e outras palavras que não possuem sinal, estará representada pelas palavras separadas por hífen. Ex.: M-A-R-I-A, Exemplos de utilização do alfabeto: NOME DE LUGARES E SINAIS DESCONHECIDOS. NOME PESSOA, A-N-A, B-E-N-J-A-M-I-M O NOME DELA É M-A-R-I-A! VOU VIAJAR PARAR-E-C-I-F-E! EL@ COMPRAR CARRO C-O-M-O TER DINHEIRO? N-U-N-C-A ESQUEÇA QUE TE AMO! ALFABETO MANUAL 12 1. Treinamento do alfabeto manual, 2. Faça seu nome em datilologia e de seus colegas, 3. Você será capaz de descobrir os sinais feitos em datilologia apresentado pelo professor de libras. Espaço para rascunho: .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. 1ª Ligue as palavras conforme LIBRAS LIVRO APRENDER ENSINAR CONVERSAR ESCOLA ESCOLA CONVERSAR LIBRAS APRENDER LIVRO ENSINAR 13 EMPRESTIMO LINGÜISTICO (É DENOMINADO QUANDO USAMOS O PORTUGUES SOLETRADO NO LUGAR DOS SINAIS) O sinal soletrado, ou seja, uma palavra da língua portuguesa que, por empréstimo, passou a pertencer à LIBRAS por ser expressa pelo alfabeto manual com uma incorporação de movimento próprio desta língua, está sendo representado pela datilologia do sinal em itálico. Exemplos: R-S “reais”, A-C-H-O, QUM “quem”, N-U-NC- A, etc; DEUS É P-A-I VAMOS PARA O B-A-R! N-U-N-C-AESQUEÇAQUE TE AMO! Na LIBRAS não há desinências para gêneros (masculino e feminino) e número (plural), o sinal, representado por palavra da língua portuguesa que possui estas marcas, está terminado com o símbolo @ para reforçar a idéia de ausência e não haver confusão. Exemplos: AMIG@ “amiga(s) e amigo(s)” , FRI@ “fria(s) e frio(s)”, MUIT@ “muita(s) e muito(s)”, TOD@, “toda(s) e todo(s)”, EL@ “ela(s), ele(s)”, ME@ “minha(s) e meu(s)” etc; Rascunho: .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. 14 Porque precisamos de Pedagogia da diferença? Novos paradigmas estão se fazendo surgir no horizonte. E em contraste o ser outro e a sua alteridade despontam nas tramas do pós-moderno. A essência de ser, a identidade, a alteridade, a diferença surgem e se fazem marcos necessários da dinâmica interna da individualidade. Skliar( 2003) um atributo essencialista pode ter vigor como aspecto negativo para o modernismo e se infiltrar na educação. Atribuir uma ideia à essencialidade como uma deficiência, significa uma estratégia de pouca valia para com o que é antes de tudo uma atitude essencial. Uma estratégia onde as atitudes experiências de vida constituem no espaço outro da diferença. É preciso antes de tudo, nos adentrarmos no espaço do pós-colonial. Entrar lá naquele espaço outro onde o “povo gosta de estar” ( Bhabha 2002). É preciso retomar aqui este aspecto da essencialidade do ser diferente, esta atitude experiencial e teoriza-la no seu aspecto de validade invertendo a lógica habitual de que tudo que é diferente de mim é maléfico. Assim temos o espaço positivo das diferenças entre os grupos, o espaço constitutivo do ser o outro na sua etnicidade, e instâncias culturais motivadoras, tais como a língua, o jeito de ser, 15 o modo de encarar a vida, em síntese a atitude experiencial de vivencia no essencial das diferenças comuns ao grupo, etnia ou povo. A diferença como pedagogia nos permite retomamos esta atitude experiencial, o aspecto essencial como inovador no processo de aprendizagem sem causar interferência na radicalidade do ser diferente, respeitando a alteridade. A pedagogia da diferença como pedagogia do surdo – Aspectos da pedagogia. Qual língua, qual currículo, qual professor, qual povo, qualcultura para que o surdo seja radicalmente o outro na sua essencialidade? 1 –A língua que acompanha esta pedagogia é a Língua de Sinais. Deve ser a língua do surdo e desde cedo ele deve iniciar contatos com ela. Ela não é somente a sinalizada, senão também a língua de sinais escrita. 2 – Os conteúdos para os surdos não devem ser inferiores aos dos ouvintes, inclusive devem ter outras noções vai ter de conviver numa sociedade ouvinte e isto não quer dizer oralização, mas como ser surdo hoje? Notadamente as crianças surdas gostam muito de informações sobre a sociedade em geral. 3 – O português como língua estrangeira tem lugar especial nesta pedagogia além disso querem aprender outras línguas como o inglês. 4 – O ambiente entra na pergunta por qual povo a pedagogia de surdos deve dotar. A essência dos surdos, sua pertença a um povo diferente, sua cultura e história. 5 – Acompanha uma forte tecnologia direta para a aquisição visual do conhecimento. 6 –Tecnologias de comunicação à distancia. Pedagogia da diferença e professores surdos Uma maiores dificuldades do professor surdo está na observância do processo educacional. Ele se sente um marginal, e ao mesmo tempo um revolucionário diante do processo educacional vigente que envolve o seu povo. Qual processos histórico, social e cultural teve o objetivo de apoiar exclusiva e amplamente sua visão da educação dos surdos? Consequentemente a sua ideia sempre foi 16 absorvida pelo processo colonial. Ela inclusive é tão repetida pelos modelos históricos como o oralismo e o bilinguismo que o declaram deficiente, o controlam, e lhe impõem na memória, no corpo, na historia esta visão inclusive lhe tirando o espaço da essencialidade. O espaço que o professor surdo encontra trata-se do espaço da luta interna entre diferença de ser e exigência de subordinação a esta milenar estratégia da aparente normalidade do ouvinte. Inclusão e exclusão? Nos encontramos defronte a uma narrativa e a um legado quando utilizamos a palavra diferença. Esta palavra mexe com seus adeptos. Obriga a um a reviravolta, uma atitude revolucionaria, a uma instabilidade, uma errância , uma busca teórica. Inclusive a implicância de visualizar que a diferença obriga a fazer uma inclusão na nas diferenças e devia-se pensar a exclusão das diferenças como um aspecto a ser trabalhado. No entanto isto não ocorre quando usamos a educação sob o aspecto formal da temporalidade moderna onde a inclusão significa excluir a deficiência e trazer para a normalidade e não significa como o pós-moderno sugere: incluir na diferença da alteridade. É evidentemente certo que com a educação que vigora hoje, incluir o surdo numa escola de surdos ou incluir o surdo numa escola de ouvintes tem a mesma significação como? Foi observado durante estas colocações, sem presença da representação do surdo em sua alteridade significativa, sem pedagogia da diferença não haverá inclusão escolar. A inclusão social acontece a parti da inclusão do surdo numa pedagogia da diferença onde o surdo constrói sua subjetividade como diferente do ouvinte. “ Sabemos desde Platão que a pedagogia é constitutiva de um olhar de cima. E para que este olhar seja possível temos que fabricar retórica e ontologicamente um abaixamento: a infância, o povo, os estudantes, os imigrantes, os imorais, os pobres, os desempregados, os trabalhadores, os consumidores, os jovens, os professores, os ignorantes, os selvagens... os outros..., sempre definindo por uma distancia: pelo que lhes falta, pelo que necessitam, pelo que não são, pelo 17 que deveriam ser, por sua resistência a submeter-se às boas intenções dos que tratam do que sejam como deveriam ser”( Larrosa 2003) E preciso considerar que os povos surdos são povos que constróem e reconstróem de maneira diferentes suas próprias culturas, suas formas de viver e de pensar a educação para as novas gerações. Essas múltiplas maneiras surdas de pensar, de relacionar-se com os ouvintes, de construir a vida são inspiradas para a superação de alguns dos grandes desafios da prática pedagógica constantes na inclusão. 18 História da Educação de Surdos Primeira iniciativa de educação de surdos quando o professor francês surdo Ernest Huet, a convite de D. Pedro II, veio ao Brasil e preparou um programa que consistia em usar o alfabeto manual e a Língua de Sinais da França. Apresentou documentos importantes para educar os surdos, mas ainda não havia escola especial. Solicitou então ao imperador D. Pedro II um prédio para fundar uma escola. O filósofo grego Sócrates perguntou ao seu discípulo Hermógenes: “Suponha que nós não tenhamos voz ou língua, e queiramos indicar objetos um ao outro. Não deveríamos nós, como os surdos-mudos, fazer sinais com as mãos, a cabeça e o resto do corpo?” Hermógenes respondeu: “Como poderia ser de outra maneira, Sócrates?” (Cratylus de Plato, discípulo e cronista, 368 a.C.). Na Idade Média Os surdos eram sujeitos estranhos e objetos de curiosidades da sociedade; Aos surdos era proibido receberem a comunhão; Também existiam leis que proibiam os surdos de receberem heranças, de votar e, enfim, de usufruírem de todos os direitos como cidadãos. O monge beneditino Pedro Ponce de Leon (1510- 1584), defendeu o direito à herança. Fray de Melchor Yebra, de Madrid, escreveu livro chamado “RefugiumInfirmorum”, que descreve e ilustra o alfabeto manual da época. Samuel Heinicke (1729-1790), “Pai do Método Alemão” – Oralismo puro – iniciou as bases da filosofia oralista, onde um grande valor era atribuído somente à fala, na Alemanha. Em 1778- Fundou a primeira escola de oralismo puro em Leipzig, inicialmente a sua escola tinha 9 alunos surdos. Idade Contemporânea até hoje Abade Charles Michel de L’Epée(1712-1789), em Paris conheceu duas irmãs gêmeas surdas que se comunicavam através de sinais, iniciou e manteve contato com os surdos carentes e humildes, procurando aprender seu meio de comunicação e levar a efeito os primeiros estudos sérios sobre a língua de sinais. Fundou a primeira escola pública para os surdos “Instituto para Jovens Surdos e Mudos de Paris” e ensinou inúmeros professores para surdos. 19 Em 1789 Abade Charles Michel de L’Epée morre. Na ocasião de sua morte, ele já tinha fundado 21 escolas para surdos na França e na Europa. Thomas Hopkins Gallaudet (1787-1851). Em 1864 foi fundada a primeira universidade nacional para surdos “Universidade Gallaudet” em Washington – Estados Unidos, um sonho de Thomas Hopkins Gallaudet realizado pelo filho do mesmo, Edward Miner Gallaudet (1837-1917). “Universidade Gallaudet” em Washington – Estados Unidos. Em 1855 Eduardo Huet, como professor surdo, com experiência de mestrado e cursos em Paris, chega ao Brasil sob beneplácido do imperador D.Pedro II, com a intenção de abrir uma escola para pessoas surdas. Em 1857 foi fundada a primeira escola para surdos no Rio de Janeiro – Brasil, o “Imperial Instituto dos Surdos-Mudos”, hoje, “Instituto Nacional de Educação de Surdos”– INES, no dia 26 de setembro. O dia do surdo é comemorado no dia 26 de setembro, homenagem à inauguração da primeira escola de surdos do Brasil em 1857, o INES (Instituto Nacional de Educação de Surdos).Em 1875, um ex-aluno do INES, Flausino José da Gama, aos 18 anos, publicou “Iconografia dos Signaes dos Surdos- Mudos”, o primeiro dicionário de língua de sinais no Brasil. 20O que é denominado de palavra ou item lexical nas línguas orais-auditivas, são denominados sinais nas línguas de sinais. O sinal é formado a partir da combinação do movimento das mãos com um determinado formato em um determinado lugar, podendo este lugar ser uma parte do corpo ou um espaço em frente ao corpo. Estas articulações das mãos, que podem ser comparadas aos fonemas e às vezes aos morfemas, são chamadas de parâmetros, portanto, nas línguas de sinais podem ser encontrados os seguintes parâmetros: 1. Configuração das mãos: são formas das mãos, que podem ser da datilologia (alfabeto manual) ou outras formas feitas pela mão predominante (mão direita para os destros), ou pelas duas mãos do emissor ou sinalizador. Os sinais APRENDER,LARANJA e ADORAR têm a mesma configuração de mão; 2. Ponto de articulação: é o lugar onde incide a mão predominante configurada, podendo esta tocar alguma parte do corpo ou estar em um espaço neutro vertical (do meio do corpo até à cabeça) e horizontal (à frente do emissor). Os sinais TRABALHAR, BRINCAR, CONSERTAR são feitos no espaço neutro e os sinais ESQUECER, APRENDER e PENSAR são feitos na testa. 2.1 ESPAÇO NEUTRO O sinal e seus Parâmetros APRENDER LARANJA ADORAR (( )) (( )) (( )) 21 2.2 NA TESTA 2.3 NO PEITO 2.4 NO BRAÇO INTELIGENTE TRABALHAR BRINCAR CONSERTAR LEMBRAR ESQUECER CORAÇÃO AMOR IDADE BRANCO CURSO EDUCADO 22 3. Movimento: os sinais podem ter um movimento ou não. Os sinais citados acima tem movimento, com exceção de PENSAR que, como os sinais AJOELHAR, EM-PÉ, não tem movimento; 3.1 SEM MOVIMENTO 4. Orientação: os sinais podem ter uma direção e a inversão desta pode significar idéia de oposição, contrário ou concordância número-pessoal, como os sinais QUERER E QUERER-NÃO; IR e VIR; PENSAR AJOELHAR EM PÉ QUERER NÃO-QUERER IR/VAI VIR/VEM ACENDER FECHAR ABRIR APAGAR 23 5. Expressão facial e/ou corporal: muitos sinais, além dos quatro parâmetros mencionados acima, em sua configuração tem como traço diferenciador também a expressão facial e/ou corporal, como os sinais ALEGRE e TRISTE. Há sinais feitos somente com a bochecha como LADRÃO, ATO-SEXUAL. Na combinação destes quatro parâmetros, ou cinco, tem-se o sinal. Falar com as mãos é, portanto, combinar estes elementos que formam as palavras e estas formam as frases em um contexto. Para conversar, em qualquer língua, não basta conhecer as palavras, é preciso aprender as regras de combinação destas palavras em frases. Sinais faciais: em algumas ocasiões, o sinal convencional é modificado, sendo realizado na face, disfarçadamente. 5.1 Expressão corporal ANDAR DE MOTO SUSTO LADRÃO ATO-SEXUAL MAGRO GORDO ALEGRE TRISTE 24 NUMERAL CARDINAL O Número Cardinal é usado em: número do telefone e celular, número da caixa postal, número da casa, apartamento, número da conta no banco, número do sapato, placas de carro e moto, e quantidade e idade parti do número 5. Ex: 1) Número seu telefone qual? 99530-1821 2) Ônibus ir CENTRO número qual? 203 3) Qual sua idade? 18 4) Número seu sapato? 40 5) Ônibus número 605. 6) Número minha casa 3352 NUMERAL QUANTIDADE Há diferenças na configuração de mão e no posicionamento dos números de 1 a 4. Quantidade de canetas na mesa, quantidade de pessoas presentes, quantidade de ônibus....etc. Ex: 1) Sala de aula tem 3 computadores 2) Eu ter 2 canetas 3) Em cima da mesa ter 4 pratos 4) Ontem faltaram aula 3 alunos 5) Ontem a Clara fez 1 aninho! 6) Comprei 1 celular. NUMERAL: CARDINAL/QUANTIDADE/ORDINAIS 25 NUMERAIS ORDINAIS 1) Eu morar apartamento 3° andar 2) Conseguir 6° lugar corrida 3) Fila banco eu 4° 3) Brasil 1º lugar na Copa do Mundo de futebol. 4) P-a-u-l-a foi a 2º no concurso para professor. 5) Antes almoçar e jantar 1º orar. Em grupo: Escreva várias frases utilizando os números para cardinais, quantidade e ordinais, treine as frases para serem apresentada ao grupo. ..................................................................................................... ..................................................................................................... ..................................................................................................... ..................................................................................................... ..................................................................................................... ..................................................................................................... ..................................................................................................... ..................................................................................................... ..................................................................................................... ..................................................................................................... ..................................................................................................... EXÉRCICIOS PRÁTICOS 26 Os conceitos de Surdez no que refere à diferença e à deficiência, o etnocentrismo da tradição oralista, as Identidades Surdas, o multiculturalismo são pontos relevantes neste trabalho. O enfoque deste trabalho é a Identidade Cultural Surda dentro do contexto multicultural, perpassando as várias fases da História dos Surdos, no contexto do oralismo, nas relações sociais, na sua trajetória para romper a homogeneidade, aos momentos atuais e desafios na educação. Surdez: diferença ou deficiência? A discussão sobre os termos diferença e deficiência se presta aos olhares, vivências, conhecimentos diversos da sociedade, do imaginário social e se faz necessário esclarecê-los. Portanto, a minha primeira tarefa é permear uma diversidade de conceitos e termos, particularmente nos campos da antropologia e da medicina. Ao longo do trabalho, a questão da surdez, estereotipada pelo imaginário social como algo deficiente, de menos valia e patológico, se fez testemunha de forma árdua e marcante. A discussão dentro de uma visão clínico-patológica não é o objetivo deste trabalho, visto que esta não é a perspectiva a ser aspirada pela Comunidade Surda, pelos pesquisadores Surdos e ouvintes. Estabelecer uma nova perspectiva que vise reconhecimento à Identidade Cultural Surda é a prioridade máxima. No transcurso deste trabalho, estes termos diferença e deficiência são usados e explicitados de forma a tornar claro o seu significado. Pretendo lançar um novo olhar sobre os Surdos, no que tange à Identidade Surda. Etnocentrismo: tradição oralista O Oralismo é uma filosofia educacional que propõe o ensino da língua oral para que o sujeito Surdo se integre ao mundo ouvinte, pressionando o ensino da fala como essencial, algo que lhe desse status, o que não corresponde às condições ideais para que o sujeito Surdo adquira linguagem e forme o pensamento. O etnocentrismo tem a tendência de postular a cultura dominante e vigente como padrão para as demais culturas, partindo do princípio de que os seus valores e a suacultura são superiores, os mais esmerados, os mais adequados. A questão do etnocentrismo é constantemente marcante na Educação dos Surdos, particularmente na tradição oralista, perpassando por vezes fragmentada e questionada nas representações sobre a surdez. E se faz necessária uma análise mais profunda dessa tradição oralista na Educação dos Surdos, mostrando as suas múltiplas facetas. Identidade Cultural Surda na Diversidade Brasileira 27 Ao longo deste século, a Educação dos Surdos vem assumindo uma concepção oralista, como Ideologia Dominante, através de uma visão clínica sobre o sujeito Surdo, o qual é tratado como deficiente, não se pensando na sua diferença linguística. A educação oferecida aos Surdos tem enfatizado demasiadamente o ensino da fala como suposta devolução da humanidade. Extremamente concentrados nesta tarefa, os educadores perdem de vista a importância da formação da Identidade e Cultura Surda para o Surdo, deixam de formá-los enquanto cidadãos críticos e muito pouco se confrontam a trabalhar o sentido real do conceito da eqüidade, a qual busca a igualdade sem, entretanto, eliminar a diferença. Como disse Skliar (1998: 07): "As ideias dominantes, nos últimos cem anos, são um claro testemunho do sentido comum segundo o qual os surdos correspondem, se encaixam e se adaptam com naturalidade a um modelo de medicalização da surdez, numa versão que amplifica e exagera os mecanismos da pedagogia corretiva, instaurada nos princípios do século XX e vigente até nossos dias. Foram mais de cem anos de práticas enceguecidas pela tentativa de correção, normalização e pela violência institucional; instituições especiais que foram reguladas tanto pela caridade e pela beneficência, quanto pela cultura social vigente que requeria uma capacidade para controlar, separar e negar a existência da comunidade surda, da língua de sinais, das identidades surdas e das experiências visuais, que determinam o conjunto de diferenças dos surdos em relação a qualquer outro grupo de sujeitos." (grifo meu) Nesse sentido, a negação da Cultura Surda, da Língua de Sinais, das Identidades Surdas é inerente à tradição oralista imperativa nas escolas, com o pressuposto de que o Surdo é estigmatizado como deficiente auditivo, que carece de educação oralista, que sofre de patologia, necessitando de especialistas para restituir-lhe a fala. Identidades Surdas: conceitos e heterogeneidades O estudo da identidade se fez presente de forma árdua. Foram diversos os autores pelos quais embarquei procurando definir, discutir, analisar e, apesar do termo ser amplo, muito discutido nas pesquisas contemporâneas, me aterei apenas às descobertas da autora Gladis Perlin, particularmente às Identidades Surdas. Para PERLIN (1998: 52) a identidade é algo em questão, em construção, uma construção móvel que pode freqüentemente ser transformada ou estar em movimento, e que empurra o sujeito em diferentes posições. Conceituar a identidade é dizer que a mesma não é inata, está em constante modificação, partindo da descoberta, da afirmação cultural em que um certo sujeito se espelha no outro semelhante, criando uma situação de confronto, e ainda segundo PERLIN (1998: 53), a identidade surda sempre está em proximidade, em situação de necessidade com o outro igual. O sujeito surdo nas suas múltiplas identidades sempre está em situação de necessidade diante da identidade surda. Para discutir as experiências vivenciadas pelos sujeitos Surdos na sua Identidade Surda, através da construção, resistência, batalha e dominação em vista da presença 28 hegemônica ouvinte, usarei um conjunto dos termos, não podendo dissociá-lo do processo histórico. Gladis Perlin critica a influência do poder ouvintista que prejudica a construção da Identidade Surda: É evidente que as identidades surdas assumem formas multifacetadas em vista das fragmentações a que estão sujeitas, face à presença do poder ouvintista que lhes impõem regras, inclusive, encontrando no estereótipo surdo uma resposta para a negação da representação da identidade surda ao sujeito surdo. O termo identidade, que melhor atende à temática surdez, é usado na busca do direito de ser Surdo. De acordo com a trajetória vivenciada pelos sujeitos Surdos, nas suas lutas e intempéries, o tema (re)construção da Identidade Surda é sempre usado ao responderem à pergunta – o que é ser Surdo no Brasil? Ao longo do último século, tem sido travado um verdadeiro embate imposto por alguns Surdos ao redor do mundo, devido ao processo histórico da colonização sobre os sujeitos Surdos, no que se refere à medicalização, à normalização, levando à degradação da Língua de Sinais, da Cultura Surda, das Identidades Surdas. Em resposta a essa colonização, o Movimento Surdo tem dado início à criação de Associações de Surdos como uma resistência contra a cultura dominante, contra a ideologia ouvintista. O foco do nosso olhar é o sujeito Surdo, com suas peculiaridades. O termo Surdo é carregado, no imaginário social, de estigma, de estereótipo, de deficiência, e significa a urgência da necessidade de normalização, em antagonismo ao conceito da diferença, como disse PERLIN (1998: 54): o estereótipo sobre o surdo jamais acolhe o ser surdo, pois imobiliza-o a uma representação contraditória, a uma representação que não conduz a uma política da identidade. O estereótipo faz com que as pessoas se oponham, às vezes disfarçadamente, e evitem a construção da identidade surda, cuja representação é o estereótipo da sua composição distorcida e inadequada. Afirmo a necessidade de uma nova visão sobre o sujeito Surdo, que é diferente e não deficiente. Por que não podemos repensar o nosso olhar? O que o sujeito Surdo tem de diferente? Segundo PERLIN (1998: 56) ser surdo é pertencer a um mundo de experiência visual e não auditiva. Viver uma experiência visual é ter a Língua de Sinais, a língua visual, pertencente a outra cultura, a cultura visual e lingüística. Há de se considerar outro conceito da Identidade Surda, de relevância política, dentro do multiculturalismo, de igual importância para outros movimentos sociais, pela batalha contra a ideologia dominante: a Identidade Política Surda. É um movimento pela força política em prol da nossa diferença... é uma luta contra o estigma, contra o estereotipo, contra o preconceito, contra a deficiência e especialmente contra o poder do ouvintismo. Cultura Surda no multiculturalismo Discussões referentes à Cultura Surda têm sido travadas nos dias atuais, levando à impossibilidade de definir sobre o que seja a Cultura Surda. Entretanto, algumas questões serão levantadas com o pressuposto de seguir os estudos culturais, que propõem pensar a surdez numa perspectiva antropológica. 29 O multiculturalismo se expressa, como sucessão no mundo contemporâneo, para que os sujeitos sociais valorizem, expressem suas diferenças, suas culturas específicas, em busca da afirmação cultural. É um movimento social em oposição a todas ações homogeneizadas da vida social. É uma oposição a todas as tentativas dos outros a imprimirem a cultura dominante, vigente sobre uma outra cultura pré-existente: a Cultura Surda. Comunidade e Cultura Surda do Brasil As comunidades surdas estão espalhadas pelo país, e como o Brasil é muito grande e diversificado, as pessoas possuem diferenças regionais em relação a hábitos alimentares, vestuários e situação socioeconômica, entre outras. Estes fatores geraram também algumas variações linguísticas regionais. As escolas de surdos, de surdos, mesmo sem uma proposta bilíngüe (língua portuguesa e língua de sinais), propiciam o encontro do surdo com outro surdo, favorecendo que as crianças, jovens e adultos possam adquirir e usar a LIBRAS. Em muitas escolas de surdos há vários professores que jásabem ou estão aprendendo com “professores surdos” a língua de sinais, além de oferecer cursos também para os pais destas crianças. Cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e de modifica ló a fim de se torná-lo acessível e habitável ajustando-os com as suas percepções visuais, que contribuem para a definição das identidades surdas e das “almas” das comunidades surdas. Isto significa que abrange a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos de povo surdo. Descreve a pesquisadora surda: IMAGENS CULTURA SURDA: 30 [...] As identidades surdas são construídas dentro das representações possíveis da cultura surda, elas moldam-se de acordo com maior ou menor receptividade cultural assumida pelo sujeito. E dentro dessa receptividade cultural, também surge aquela luta política ou consciência oposicional pela qual o individuo representa a si mesmo, se defende da homogeneização, dos aspectos que o tornam corpo menos habitável, da sensação de invalidez, de inclusão entre os deficientes, de menos valia social.(PERLIN, 2004, p. 77-78 Continuando com os mesmos autores, Padden e Humphires (2000, p. n5) estabeleceram uma diferença entre cultura e comunidade: [...] uma cultura é um conjunto de comportamentos apreendidos de um grupo de pessoas que possuem sua própria língua, valores, regras de comportamento e tradições; uma comunidade é um sistema social geral, no qual um grupo de pessoas vivem juntas, compartilham metas comuns e partilham certas responsabilidades umas com as outras. IMAGENS DE ARTEFATOS CULTURAIS: 31 ATIVIDADE: Os alunos devem informar para o professor, os sinais ou característica que possuem para ser batizado um sinal de identificação. Características de sinais de pessoas Os sinais de características da pessoa podem ser tirado através da aparência: letra do nome, altura, pinta no corpo, altura, olhos, cabelo, números, etc.. ALTO LOIRO BAIXO OBESA BIGODE OU BARBA CORPO OU CABELO MARCAS 32 ICONICIDADE E ARBITRARIEDADE A modalidade gestual-visual-espacial pela qual a LIBRAS é produzida e percebida pelos surdos leva, muitas vezes, as pessoas a pensarem que todos os sinais são o “desenho” no ar do referente que representam. É claro que, por decorrência de sua natureza linguística, a realização de um sinal pode ser motivada pelas características do dado da realidade a que se refere, mas isso não é uma regra. A grande maioria dos sinais da LIBRAS são arbitrários, não mantendo relação de semelhança alguma com seu referente. Uma foto é icônica porque reproduz a imagem do referente, isto é, a pessoa ou coisa fotografada. Assim também são alguns sinais da LIBRAS, gestos que fazem alusão à imagem do seu significado. Vejamos alguns exemplos entre os sinais icônicos. SINAIS ARBITRÁRIOS São aqueles que não mantêm nenhuma semelhança com o dado da realidade que representam. Uma das propriedades básicas de uma língua é a arbitrariedade existente entre significante e referente. Durante muito tempo afirmou-se que as línguas de sinais não eram línguas por serem icônicas, não representando, portanto, conceitos abstratos. Isto não é verdade, pois em língua de sinais tais conceitos também podem ser representados, em toda sua complexidade. Exemplos: CONVERSAR R PESSOA PERDOAR ÁRVORE TELEFONE BORBOLETA 33 ESTRUTURA VARIAÇÕES LINGÜÍSTICAS Na maioria do mundo, há, pelo menos, uma língua de sinais usada amplamente na comunidade surda de cada país, diferente daquela da língua falada utilizada na mesma área geográfica. Isto se dá porque essas línguas são independentes das línguas orais, pois foram produzidas dentro das comunidades surdas. A Língua de Sinais Americana (ASL) é diferente da Língua de Sinais Britânica (BSL), que difere, por sua vez, da Língua de Sinais Francesa (LSF). Ex.: NOME EM LIBRAS. EX: NOME EM ASL. Além disso, dentro de um mesmo país há as variações regionais. A LIBRAS apresenta dialetos regionais, salientando assim, uma vez mais, o seu caráter de língua natural. VARIAÇÃO REGIONAL: representa as variações de sinais de uma região para outra, no mesmo país. Ex.:VERDENO AM. VERDE EM SP/RS. VERDE EM PR. VARIAÇÃO SOCIAL: refere-se à variações na configuração das mãos e/ou no movimento, não modificando o sentido do sinal.Ex.:MAS 34 Podendo ser usando em diferentes formas contextuais. O sinal AJUDAR também vária dependendo do tema contextual. O sinal CONVERSAR em contexto na língua de sinais. Sinal AVIÃO no Amazonas. Sinal AVIÃO no Rio e São Paulo Sinal 1-SEMANA2-SEMANA 35 MUDANÇAS HISTÓRICAS: com o passar do tempo, um sinal pode sofrer alterações decorrentes dos costumes da geração que o utiliza. ESTRUTURA SINTÁTICA A LIBRAS não pode ser estudada tendo como base a Língua Portuguesa, porque ela tem gramática diferenciada, independente da língua oral. A ordem dos sinais na construção de um enunciado obedece a regras próprias que refletem a forma de o surdo processar suas ideias, com base em sua percepção visual espacial da realidade. Vejamos alguns exemplos que demonstram exatamente essa independência sintática do português: Exemplo 1: LIBRAS: EU IR CASA. (verbo direcional) Português : " Eu irei para casa. " Para - não se usa em LIBRAS, porque está incorporado ao verbo Exemplo 2: LIBRAS: FLOR EU-DAR MULHER^BENÇÃO(verbo direcional) Português: "Eu dei a flor para a mamãe." Sinal BRANCO no passado... Sinal BRANCO de ontem... Sinal BRANCO no presente. Sinal AZUL passado... Sinal AZUL no presente. 36 Exemplo 3: LIBRAS: PORQUE ISTO (expressão facial de interrogação) Português: "Para que serve isto?" Exemplo 4: LIBRAS: IDADE VOCÊ (expressão facial de interrogação) Português: “Quantos anos você tem?” Há alguns casos de omissão de verbos na LIBRAS: Exemplo 5: LIBRAS: CINEMA O-P-I-A-N-O MUITO-BOM Português: “O filme O Piano é maravilhoso!” Exemplo 6: LIBRAS: PORQUE PESSOA FELIZ-PULAR Português: "... porque as pessoas estão felizes demais!" Exemplo 7: LIBRAS: PASSADO COMEÇAR FÉRIAS EU VONTADE... DEPRESSA VIAJAR Português: “Quando chegaram as férias, eu fiquei ansiosa para viajar.”Observação: na estruturação da LIBRAS observa-se que a mesma possui regras próprias; não são usados artigos, preposições, conjunções, porque esses conectivos estão incorporados ao sinal. 37 TEMPO/DIAS SEMANA (( )) ANO SEMANA MINUTO HORA MANHÃ CEDO DIA AMANHÃ A ONTEM TARDE NOITE ANTEONTEM FUTURO PASSADO MADRUGADA 38 CHUVA FRIO CALOR ESTRÊLA VENTO PLANETA NEVE LUA HOJE/AGORA SEGUNDA TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SÁBADO DOMNGO LUA RELAMPAGO NUBLADO SOL (( )) (( )) (( )) )) 39JANEIRO MESES/CALÉNDARIO FEVEREIRO MARÇO ABRIL MÊS MAIO JANEIRO FEVEREIRO )) (( )) )) 40 JUNHO JULHO AGOSTO SETEMBRO OUTUBRO NOVEMBRO DEZEMBRO (( )) )) (( )) )) 41 Pronomes pessoais: a LIBRAS possui um sistema pronominal para representaras seguintes pessoas do discurso: Primeira pessoa Singular: EU - apontar para o peito do enunciador (a pessoa que fala) Segunda pessoa Singular: VOCÊ - apontar para o interlocutor (a pessoa com quem se fala). Terceira pessoa Singular: ELE - apontar para uma pessoa que não está na conversa ou para um lugar convencional. Terceira pessoa Singular: TU- apontar para uma pessoa que não está na conversa ou para um lugar convencional. PRONOMES PESSOAIS 42 NÓS DOIS: A mão ficará com o formato da letra K, mais próximo da pessoa que fala. VOCÊS DUAS: A mão em forma da letra K, mais distante da pessoa que fala. VOCÊS TRÊS: A mão assume o formato de três ((números quantidade) VOCÊS QUATRO: A mão assume o formato de quatro (números quantidade) NÓS TODOS: Usa-se o indicador girando sentindo um círculo. 43 1 Agora vou te ensinar os pronomes! 2 Onde você mora? 3 Ela é minha amiga! 4 Onde você trabalha? 5 Ele gosta do Flamengo! 6 Nós dois vamos viajar juntos. 7 Você é bonita! 8 Tu alta e bela! 9 Eu gosto de namorar! 10 Ele não fuma! 11 Nós três vamos almoçar juntos! 12 Vocês duas são professoras? 13 Vocês são inteligentes! 14 Vocês dois são amigos! 15 Elas duas foram ao cinema! 16 Vocês todos precisam aprender libras? 17 Eles dois não aprenderam libras! 18 Nós três iremos pescar! 19 Nós quatro fomos para o sitio! 20 Eles dois não aprenderam libras! 21 Nós dois aprendemos libras! 22 Vocês todos estudam na UEA ATIVIDADES A PARA SEREM TREINADAS EM GRUPO. 44 PRONOMES INTERROGATIVOS QUE DIA? ONDE? PARA QUE? QUAL? COMO? POR QUE? QUANDO? QUE DIA? 45 1- BOM DIA, EU QUERO COMPRAR UMABLUSA. 2- QUAL COR VOCÊ QUER? 3- QUAL A MAIS BONITA? VERDE OU VERMELHA? 4- A VERMELHA! 5- OBRIGADO! 1- COMO VOCÊVAI A ESCOLA ? DE CARRO OU DE ÔNIBUS? 2- COMO TU QUERES VIAJAR SEM DINHEIRO? 3- COMPRASTE ESTE CARRO PRA QUÊ? JÁ TENS UM IGUAL! EXEMPLOS : PRONOMES INTERROGATIVOS QUAL? COMO? PRA QUÊ? 46 POR QUEVOCÊ FALTOU CURSO ONTEM? - POR CAUSA DA CHUVA! 1- COMO FOI A FESTA? 2- PARA QUÊ COMPRASTE ESSA BLUSA? 3- POR QUE FALTASTE A AULA? 4- ONDE VOCÊ VAI? 5- QUANDO É SEU ANIVERSÁRIO? 6- POR QUE TU É MAGRO? 7- POR QUE TU NÃO GOSTA DE MIM? 8- COMO VOCÊ VAI PARA CASA, MOTO OU BICICLETA? 9- ONDE É O BUMBÓDROMO? FALTOU TRABALHOPOR QUÊ? - PORQUE ESTAVA DOENTE! POR QUE? 47 ESPAÇO PARA ANOTAÇÕES. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. .................................................................................................................. ................................................................................................................. EXERCÍCIOS: ATIVIDADE EM GRUPO, ELABORAÇÃO DE FRASES, REVISÃO AULA ANTERIORES. 48 FAMÍLIA MÃE MÃE PAI HOMEM MULHER IRMÃO IRMÃ FILHO FILHA 49 PRIMO PRIMO PRIMA TIO TIA SOBRINHO SOBRINHA CUNHADO CUNHADA 50 MENINO NETO NETA AVÔ AVÓ MENINO MENINA 51 MONENCLATURA - PARA CONHECIMENTO E REFLEXÃO: Como chamar o portador desta deficiência? Deficiente Auditivo Surdo-mudo Mudinho Surdinho Surdo SURDO 1. O posto do ser ouvinte, aquele que nasceu surdo, tem a incapacidade ou total da audição, Se comunica com a libras, entende pelos lábios. SURDO-MUDO 2. Impossibilitado de falar; privado do uso de palavra por defeito orgânico, podendo omitir sons, mas como não ouve não sabe a fonética, se comunica com os gestos, essa atribuição é incorreta aos surdos, e infelizmente ainda utilizada em certas áreas e divulgada nos meios de comunicação, principalmente televisão, jornais e rádio. DEFICIENTE AUDITIVO 3.É aquele que perdeu a audição, ouve pouco, fala com dificuldades, é oralizado, entende pelos lábios, usa aparelho auditivo, sabe pouco a libras. (não) (não) (não) (não) (SIM) Quem são os surdos? 52 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos LEI Nº 10.436, DE 24 DE ABRIL DE 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais- Libras e outros recursos de expressão a ela associados. Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. Art. 2o Deve ser garantido, por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - Libras como meio de comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil. Art. 3o As instituições públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas legais em vigor. Art. 4o O sistema educacional federal e os sistemas educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério, em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras, como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme legislação vigente. Parágrafo único. A Língua Brasileira de Sinais - Libras não poderá substituir a modalidade escrita da língua portuguesa. Art. 5o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 24 de abril de 2002; 181o da Independência e 114o da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Paulo Renato Souza 53 Presidência da República Casa Civil Subchefia para Assuntos Jurídicos DECRETO Nº 5.626, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2005. Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso das atribuições que lhe confere o art. 84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto na Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, e no art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000, DECRETA: CAPÍTULO I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 1o Este Decreto regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Art. 2o Para os fins deste Decreto, considera-se pessoa surda aquela que, por ter perda auditiva, compreende e interage com o mundo por meio de experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo uso da Língua Brasileira de Sinais - Libras. Parágrafo único. Considera-se deficiência auditiva a perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz. CAPÍTULO II DA INCLUSÃO DA LIBRAS COMO DISCIPLINA CURRICULAR Art. 3o A Libras deve ser inserida como disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o exercício do magistério, em nível médio e superior, e nos cursos de Fonoaudiologia, de instituições de ensino, públicas e privadas, do sistema federal de ensino e dos sistemas de ensino dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. § 1o Todos os cursos de licenciatura, nas diferentes áreas do conhecimento, o curso normal de nível médio, o curso normal superior, o curso de Pedagogia e o curso 54 de Educação Especial são considerados cursos de formação de professores e profissionais da educação para o exercício do magistério. § 2o A Libras constituir-se-á em disciplina curricular optativa nos demais cursos de educação superior e na educação profissional, a partir de um ano da publicação deste Decreto. CAPÍTULO III DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LIBRAS E DO INSTRUTOR DE LIBRAS Art. 4o A formação de docentes para o ensino de Libras nas séries finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior deve ser realizada em nível superior, em curso de graduação de licenciatura plena em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa como segunda língua. Parágrafo único. As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 5o A formação de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental deve ser realizada em curso de Pedagogia ou curso normal superior, em que Libras e Língua Portuguesa escrita tenham constituído línguas de instrução, viabilizando a formação bilíngüe. § 1o Admite-se como formação mínima de docentes para o ensino de Libras na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental, a formação ofertada em nível médio na modalidade normal, que viabilizar a formação bilíngüe, referida no caput. § 2o As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 6o A formação de instrutor de Libras, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional; II - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições credenciadas por secretarias de educação. § 1o A formação do instrutor de Libras pode ser realizada também por organizações da sociedade civil representativa da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por pelo menos uma das instituições referidas nos incisos II e III. 55 § 2o As pessoas surdas terão prioridade nos cursos de formação previstos no caput. Art. 7o Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja docente com título de pós-graduação ou de graduação em Libras para o ensino dessa disciplina em cursos de educação superior, ela poderá ser ministrada por profissionais que apresentem pelo menos um dos seguintes perfis: I - professor de Libras, usuário dessa língua com curso de pós-graduação ou com formação superior e certificado de proficiência em Libras, obtido por meio de exame promovido pelo Ministério da Educação; II - instrutor de Libras, usuário dessa língua com formação de nível médio e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação; III - professor ouvinte bilíngüe: Libras - Língua Portuguesa, com pós-graduação ou formação superior e com certificado obtido por meio de exame de proficiência em Libras, promovido pelo Ministério da Educação. § 1o Nos casos previstos nos incisos I e II, as pessoas surdas terão prioridade para ministrar a disciplina de Libras. § 2o A partir de um ano da publicação deste Decreto, os sistemas e as instituições de ensino da educação básica e as de educação superior devem incluir o professor de Libras em seu quadro do magistério. Art. 8o O exame de proficiência em Libras, referido no art. 7o, deve avaliar a fluência no uso, o conhecimento e a competência para o ensino dessa língua. § 1o O exame de proficiência em Libras deve ser promovido, anualmente, pelo Ministério da Educação e instituições de educação superior por ele credenciadas para essa finalidade. § 2o A certificação de proficiência em Libras habilitará o instrutor ou o professor para a função docente. § 3o O exame de proficiência em Libras deve ser realizado por banca examinadora de amplo conhecimento em Libras, constituída por docentes surdose lingüistas de instituições de educação superior. Art. 9o A partir da publicação deste Decreto, as instituições de ensino médio que oferecem cursos de formação para o magistério na modalidade normal e as instituições de educação superior que oferecem cursos de Fonoaudiologia ou de formação de professores devem incluir Libras como disciplina curricular, nos seguintes prazos e percentuais mínimos: 56 I - até três anos, em vinte por cento dos cursos da instituição; II - até cinco anos, em sessenta por cento dos cursos da instituição; III - até sete anos, em oitenta por cento dos cursos da instituição; e IV - dez anos, em cem por cento dos cursos da instituição. Parágrafo único. O processo de inclusão da Libras como disciplina curricular deve iniciar-se nos cursos de Educação Especial, Fonoaudiologia, Pedagogia e Letras, ampliando-se progressivamente para as demais licenciaturas. Art. 10. As instituições de educação superior devem incluir a Libras como objeto de ensino, pesquisa e extensão nos cursos de formação de professores para a educação básica, nos cursos de Fonoaudiologia e nos cursos de Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Art. 11. O Ministério da Educação promoverá, a partir da publicação deste Decreto, programas específicos para a criação de cursos de graduação: I - para formação de professores surdos e ouvintes, para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, que viabilize a educação bilíngüe: Libras - Língua Portuguesa como segunda língua; II - de licenciatura em Letras: Libras ou em Letras: Libras/Língua Portuguesa, como segunda língua para surdos; III - de formação em Tradução e Interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Art. 12. As instituições de educação superior, principalmente as que ofertam cursos de Educação Especial, Pedagogia e Letras, devem viabilizar cursos de pós- graduação para a formação de professores para o ensino de Libras e sua interpretação, a partir de um ano da publicação deste Decreto. Art. 13. O ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas, deve ser incluído como disciplina curricular nos cursos de formação de professores para a educação infantil e para os anos iniciais do ensino fundamental, de nível médio e superior, bem como nos cursos de licenciatura em Letras com habilitação em Língua Portuguesa. Parágrafo único. O tema sobre a modalidade escrita da língua portuguesa para surdos deve ser incluído como conteúdo nos cursos de Fonoaudiologia. CAPÍTULO IV DO USO E DA DIFUSÃO DA LIBRAS E DA LÍNGUA PORTUGUESA PARA O ACESSO DAS PESSOAS SURDAS À EDUCAÇÃO 57 Art. 14. As instituições federais de ensino devem garantir, obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades de educação, desde a educação infantil até à superior. § 1o Para garantir o atendimento educacional especializado e o acesso previsto no caput, as instituições federais de ensino devem: I - promover cursos de formação de professores para: a) o ensino e uso da Libras; b) a tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa; e c) o ensino da Língua Portuguesa, como segunda língua para pessoas surdas; II - ofertar, obrigatoriamente, desde a educação infantil, o ensino da Libras e também da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos; III - prover as escolas com: a) professor de Libras ou instrutor de Libras; b) tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa; c) professor para o ensino de Língua Portuguesa como segunda língua para pessoas surdas; e d) professor regente de classe com conhecimento acerca da singularidade lingüística manifestada pelos alunos surdos; IV - garantir o atendimento às necessidades educacionais especiais de alunos surdos, desde a educação infantil, nas salas de aula e, também, em salas de recursos, em turno contrário ao da escolarização; V - apoiar, na comunidade escolar, o uso e a difusão de Libras entre professores, alunos, funcionários, direção da escola e familiares, inclusive por meio da oferta de cursos; VI - adotar mecanismos de avaliação coerentes com aprendizado de segunda língua, na correção das provas escritas, valorizando o aspecto semântico e reconhecendo a singularidade lingüística manifestada no aspecto formal da Língua Portuguesa; VII - desenvolver e adotar mecanismos alternativos para a avaliação de conhecimentos expressos em Libras, desde que devidamente registrados em vídeo ou em outros meios eletrônicos e tecnológicos; 58 VIII - disponibilizar equipamentos, acesso às novas tecnologias de informação e comunicação, bem como recursos didáticos para apoiar a educação de alunos surdos ou com deficiência auditiva. § 2o O professor da educação básica, bilíngüe, aprovado em exame de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, pode exercer a função de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, cuja função é distinta da função de professor docente. § 3o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar atendimento educacional especializado aos alunos surdos ou com deficiência auditiva. Art. 15. Para complementar o currículo da base nacional comum, o ensino de Libras e o ensino da modalidade escrita da Língua Portuguesa, como segunda língua para alunos surdos, devem ser ministrados em uma perspectiva dialógica, funcional e instrumental, como: I - atividades ou complementação curricular específica na educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental; e II - áreas de conhecimento, como disciplinas curriculares, nos anos finais do ensino fundamental, no ensino médio e na educação superior. Art. 16. A modalidade oral da Língua Portuguesa, na educação básica, deve ser ofertada aos alunos surdos ou com deficiência auditiva, preferencialmente em turno distinto ao da escolarização, por meio de ações integradas entre as áreas da saúde e da educação, resguardado o direito de opção da família ou do próprio aluno por essa modalidade. Parágrafo único. A definição de espaço para o desenvolvimento da modalidade oral da Língua Portuguesa e a definição dos profissionais de Fonoaudiologia para atuação com alunos da educação básica são de competência dos órgãos que possuam estas atribuições nas unidades federadas. CAPÍTULO V DA FORMAÇÃO DO TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS - LÍNGUA PORTUGUESA Art. 17. A formação do tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e Interpretação, com habilitação em Libras - Língua Portuguesa. 59 Art. 18. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, a formação de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, em nível médio, deve ser realizada por meio de: I - cursos de educação profissional; II - cursos de extensão universitária; e III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por secretarias de educação. Parágrafoúnico. A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III. Art. 19. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, caso não haja pessoas com a titulação exigida para o exercício da tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa, as instituições federais de ensino devem incluir, em seus quadros, profissionais com o seguinte perfil: I - profissional ouvinte, de nível superior, com competência e fluência em Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da Educação, para atuação em instituições de ensino médio e de educação superior; II - profissional ouvinte, de nível médio, com competência e fluência em Libras para realizar a interpretação das duas línguas, de maneira simultânea e consecutiva, e com aprovação em exame de proficiência, promovido pelo Ministério da Educação, para atuação no ensino fundamental; III - profissional surdo, com competência para realizar a interpretação de línguas de sinais de outros países para a Libras, para atuação em cursos e eventos. Parágrafo único. As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. Art. 20. Nos próximos dez anos, a partir da publicação deste Decreto, o Ministério da Educação ou instituições de ensino superior por ele credenciadas para essa finalidade promoverão, anualmente, exame nacional de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa. Parágrafo único. O exame de proficiência em tradução e interpretação de Libras - Língua Portuguesa deve ser realizado por banca examinadora de amplo 60 conhecimento dessa função, constituída por docentes surdos, lingüistas e tradutores e intérpretes de Libras de instituições de educação superior. Art. 21. A partir de um ano da publicação deste Decreto, as instituições federais de ensino da educação básica e da educação superior devem incluir, em seus quadros, em todos os níveis, etapas e modalidades, o tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa, para viabilizar o acesso à comunicação, à informação e à educação de alunos surdos. § 1o O profissional a que se refere o caput atuará: I - nos processos seletivos para cursos na instituição de ensino; II - nas salas de aula para viabilizar o acesso dos alunos aos conhecimentos e conteúdos curriculares, em todas as atividades didático-pedagógicas; e III - no apoio à acessibilidade aos serviços e às atividades-fim da instituição de ensino. § 2o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. CAPÍTULO VI DA GARANTIA DO DIREITO À EDUCAÇÃO DAS PESSOAS SURDAS OU COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis pela educação básica devem garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência auditiva, por meio da organização de: I - escolas e classes de educação bilíngüe, abertas a alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngües, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; II - escolas bilíngües ou escolas comuns da rede regular de ensino, abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental, ensino médio ou educação profissional, com docentes das diferentes áreas do conhecimento, cientes da singularidade lingüística dos alunos surdos, bem como com a presença de tradutores e intérpretes de Libras - Língua Portuguesa. § 1o São denominadas escolas ou classes de educação bilíngüe aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo. 61 § 2o Os alunos têm o direito à escolarização em um turno diferenciado ao do atendimento educacional especializado para o desenvolvimento de complementação curricular, com utilização de equipamentos e tecnologias de informação. § 3o As mudanças decorrentes da implementação dos incisos I e II implicam a formalização, pelos pais e pelos próprios alunos, de sua opção ou preferência pela educação sem o uso de Libras. § 4o O disposto no § 2o deste artigo deve ser garantido também para os alunos não usuários da Libras. Art. 23. As instituições federais de ensino, de educação básica e superior, devem proporcionar aos alunos surdos os serviços de tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa em sala de aula e em outros espaços educacionais, bem como equipamentos e tecnologias que viabilizem o acesso à comunicação, à informação e à educação. § 1o Deve ser proporcionado aos professores acesso à literatura e informações sobre a especificidade lingüística do aluno surdo. § 2o As instituições privadas e as públicas dos sistemas de ensino federal, estadual, municipal e do Distrito Federal buscarão implementar as medidas referidas neste artigo como meio de assegurar aos alunos surdos ou com deficiência auditiva o acesso à comunicação, à informação e à educação. Art. 24. A programação visual dos cursos de nível médio e superior, preferencialmente os de formação de professores, na modalidade de educação a distância, deve dispor de sistemas de acesso à informação como janela com tradutor e intérprete de Libras - Língua Portuguesa e subtitulação por meio do sistema de legenda oculta, de modo a reproduzir as mensagens veiculadas às pessoas surdas, conforme prevê o Decreto no 5.296, de 2 de dezembro de 2004. CAPÍTULO VII DA GARANTIA DO DIREITO À SAÚDE DAS PESSOAS SURDAS OU COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA Art. 25. A partir de um ano da publicação deste Decreto, o Sistema Único de Saúde - SUS e as empresas que detêm concessão ou permissão de serviços públicos de assistência à saúde, na perspectiva da inclusão plena das pessoas surdas ou com deficiência auditiva em todas as esferas da vida social, devem garantir, prioritariamente aos alunos matriculados nas redes de ensino da educação básica, a atenção integral à sua saúde, nos diversos níveis de complexidade e especialidades médicas, efetivando: I - ações de prevenção e desenvolvimento de programas de saúde auditiva; 62 II - tratamento clínico e atendimento especializado, respeitando as especificidades de cada caso; III - realização de diagnóstico, atendimento precoce e do encaminhamento para a área de educação; IV - seleção, adaptação e fornecimento de prótese auditiva ou aparelho de amplificação sonora, quando indicado; V - acompanhamento médico e fonoaudiológico e terapia fonoaudiológica; VI - atendimento em reabilitação por equipe multiprofissional; VII - atendimento fonoaudiológico às crianças, adolescentes e jovens matriculados na educação básica, por meio de ações integradas com a área da educação, de acordo com as necessidades terapêuticas do aluno; VIII - orientações à família sobre
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