Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Edgar Lassance Cunha Odontologia, FFOE - UFC Organização do Sistema Imunológico Historicamente, imunidade significa a proteção particular contra doenças infecciosas. As células e moléculas responsáveis pela imunidade formam o sistema imunológico. A função do sistema imunológico é a defesa contra micro-organismos infecciosos. Entretanto, até substancias estranhas não infecciosas podem desencadear respostas imunológicas. Também, este sistema imune que normalmente faz a defesa do organismo é, por si só, capaz de se voltar contra o próprio e causar doenças (doenças autoimunes). Portanto, há de se usar uma definição mais abrangente para a reação imune: “È uma reação a substancias estranhas, incluindo micro-organismos e macromoléculas, e pequenas substancias químicas que são reconhecidas como elementos estranhos – tudo independentemente das consequências fisiológicas ou patológicas da reação”. A imunologia é o estudo da imunidade nos ambitos moleculares e celulares. Imunidade natural e Imunidade adquirida A defesa contra micro-organismos é mediada pelas reações iniciais da imunidade natural e pelas reações tardias da imunidade adquirida. As respostas imunes, natural e adquirida, são componentes de um sistema integrado de defesa no qual varias moléculas e células atuam em conjunto. A imunidade natural oferece defesa eficaz contra infecções, mas alguns micro-organismos patogênicos desenvolveram mecanismos de defesa contra a imunidade natural, e sua eliminação requer atividade imune adaptativa. Para tanto, a imunidade natural estimula a imunidade adquirida, influenciando sua intensidade e natureza. 1 – Imunidade natural (= inata ou nativa) È a linha mais primitiva, de defesa inicial contra micro-organismos, e possui mecanismos de defesa celulares, físicos e bioquímicos existentes antes do estabelecimento da infecção, e que estão programados para reagir rapidamente à infecção. Seus mecanismos reagem contra micro-organismos e produtos de células lesadas essencialmente da mesma forma para toda infecção. Os principais componentes da imunidade inata são: Barreiras físicas e químicas (ex: barreira epitelial e substancias antibacterianas presentes nela); Células fagocitárias (ex: neutrófilos, macrófagos, etc.); Células NK (= natural killer); Proteínas do sangue, incluindo partes do sistema complemento e alguns mediadores de inflamação; Citocinas, que são proteínas reguladoras das células do sistema imune inato. A imunidade inata tem reações específicas para substancias, mas vários micróbios e moléculas são semelhantes ao ponto de ativar de forma igual o sistema imune inato. Desta forma, a imunidade inata é incapaz de detectar discretas diferenças entre micro-organismos. 2 – Imunidade adaptativa (= adquirida) A magnitude da sua reação, assim como a capacidade defensiva, aumenta com sucessivas infecções a um mesmo micro-organismo. Devido à variação da resposta deste tipo de imunidade, que se adapta á infecção, surgiu o nome imunidade adaptativa – uma imunidade menos primitiva. A imunidade adquirida tem grande capacidade de reconhecer e reagir a um vasto grupo de substancias, microbianas ou não. Também, possui incrível capacidade de distinguir diferentes micro-organismos e moléculas, ainda que apresentem grande semelhança. Portanto, se diz que a imunidade adaptativa tem excelentes capacidades de especificidade, distinguindo minuciosamente moléculas, e de “memória”, respondendo a infecções iguais subsequentes de forma cada vez mais eficaz. Os principais componentes da defesa imune adaptativa são linfócitos e seus produtos, como anticorpos; As substancias estranhas que induzem respostas imunológicas especificas ou são alvo destas respostas são chamados antígenos. Natural Adquirida Características Especificidade Para substâncias compartilhadas por grupos de micróbios parecidos – baixa. Para antígenos microbianos ou não-microbianos – alta. Diversidade Limitada, dependente da linhagem celular. Muito grande, receptores produzidos pela recombinação de segmentos genéticos. Memória Inexistente Existente Auto-tolerância Existente Existente Componentes Barreiras celulares e químicas Pele, epitélios das mucosas, substâncias antimicrobianas. Linfócitos epiteliais, anticorpos epiteliais. Proteínas do sangue Fração do sistema complemento, etc. Anticorpos Células Fagócitos e NK (=natural killer) Linfócitos Tipos de respostas Imunológicas adquiridas Existem dois tipos de respostas imunológicas adquiridas: a imunidade humoral e a imunidade celular, que são mediadas por diferentes componentes do sistema imunológico. Imunidade adquirida humoral: mediada pelas moléculas presentes no sangue e nas secreções mucosas, chamadas anticorpos, que são produzidos pelos linfócitos B. Os anticorpos reconhecem antígenos, neutralizam a infecciosidade dos micro-organismos extracelulares e suas toxinas e os preparam para serem eliminados por diversos mecanismos efetores. Os anticorpos são especializados, e os diferentes tipos de anticorpos ativam mecanismos efetores diferentes. Pode ser transferida para indivíduos naives por transferência sanguínea sem células – ou seja, plasma. Imunidade adquirida celular: mediada pelos linfócitos T. Promove a defesa contra infecções intracelulares, onde os micro-organismos estão protegidos dos anticorpos. Age destruindo os micro-organismos intracelulares ou as células que os abrigam. Pode ser transferida para indivíduos naives por meio de linfócitos T, sem plasma. Imunidade ativa e Imunidade passiva Imunidade ativa: é a imunidade induzida pela exposição a um antígeno (seja por vacinação ou exposição propriamente dita), pois o individuo desempenha papel ativo na resposta. Indivíduos e linfócitos que não tiveram exposição a um antígeno são chamados virgens (= naive). Indivíduos que responderam a um antígeno microbiano são considerados imunes e são resistentes à exposições posteriores à aquele antígeno. Imunidade passiva: ocorre quando uma pessoa se imuniza pela transferência de plasma/linfócitos de um individuo imune – processo chamado transferência adotiva. O recebedor torna-se imune à aquele(s) antígeno(s) em particular sem nunca ter sido exposto a ele. È um método eficaz para a rápida transferência de imunidade. (ex: anticorpos passados pela mãe para o feto). Principais características das respostas imunológicas adquiridas Especificidade: as respostas imunológicas adquiridas são especificas para cada antígeno que podem reconhecer, ou até partes destes. As partes antigênicas conhecidas pelos linfócitos são chamadas epítopos (= determinantes). A especificidade se deve à capacidade dos linfócitos não naive de sintetizar receptores de membrana capazes de distinguir pequenas diferenças entre estruturas antigênicas. Desta forma, antígenos diferentes desencadeiam respostas diferentes. Apesar disto, linfócitos sem especificidade, ou seja, que são capazes de reconhecer antígenos estranhos, são sintetizados, de forma que o individuo possa adquirir imunidade de forma ativa. Diversidade: O numero total de especificidades antigênicas dos linfócitos de um individuo chama-se repertório linfocitário e é muito grande – ou seja, detecta quase uma infinidade de epitopos diferentes. Esta variabilidade das estruturas da ligação dos linfócitos é chamada diversidade. Memória: a exposição do sistema imunológico adquirido a um antígeno estranho melhora sua habilidade de responder novamente à aquele antígeno. Respostas a novas exposições ao mesmo antígeno (= resposta imunológica secundária) ocorrem mais rapidamente, intensamente e frequentemente que a primeira resposta (= resposta imunológica primária). Cada exposição ao antígeno expande o numero de clones de linfócitos específicos à aquele antígeno. Também, a estimulação de linfócitos não naive pelos antígenos gera células de memória de longa duração – estas possuem características especiais que as tornam mais eficientes no combate ao antígeno queos linfócitos naive (que não foram expostos ao antígeno até então). Expansão clonal: os linfócitos sofrem considerável proliferação em seguida à exposição ao antígeno. A expansão clonal refere-se ao aumento do numero de linfócitos que expressam receptores idênticos para um antígeno – assim sendo considerados clones. A expansão clonal capacita a resposta imune adquirida a se manter atualizada com micro-organismos em constante divisão. Especialização: è a geração de respostas ideais para a defesa contra diferentes tipos de micróbios em diferentes estágios evolutivos ou infecciosos. Autolimitação Homeostase: todas as respostas imunológicas normais diminuem com o passar do tempo, fazendo com que o sistema imunológico retorne ao seu estado basal, processo chamado homeostase. Isto ocorre principalmente por que a resposta imune é desencadeada pelos antígenos, que são eliminados, acabando com o estimulo para a resposta. Os linfócitos privados do estimulo antigênico sofrem apoptose. Tolerância a antígenos próprios: A ausência de resposta imunológica é chamada tolerância. A auto-tolerância (tolerância a antígenos próprios) ocorre pela eliminação de linfócitos que expressam receptores para antígenos próprios; e pela permissão da interação do linfócito auto-reativo com antígenos próprios que levem à sua destruição. Anormalidades da característica de auto-tolerância resulta em doenças auto-imunes. Característica Significado funcional Especificidade Garante que antígenos distintos desencadeiem respostas especificas Diversidade Capacita o sistema imunológico a responder a uma grande variedade de antígenos Memória Conduz a respostas intensificadas a exposições repetidas ao mesmo antígeno Expansão clonal Aumenta o numero de linfócitos antígeno-especificos para que se mantenham atualizados com o numero de micróbios Especialização Gera respostas que são ideais contra diferentes tipos de micróbios Contração e homeostasia Permite ao sistema imunológico responder a novos antígenos encontrados Auto-tolerância Evita a lesão do hospedeiro durante repostas a antígenos estranhos Componentes celulares do sistema imune adquirido I – Linfócitos B: são as únicas células capazes de produzir anticorpos. Eles reconhecem antígenos extracelulares para se diferenciarem em células produtoras de anticorpos, sendo mediadores da resposta humoral. II – Linfócitos T: reconhecem antígenos intracelulares, destruindo-os ou destruindo a célula infectada. Não é capaz de produzir anticorpos. Linfócitos T auxiliares: secretam citocinas, que estimulam a produção e diferenciação de linfócitos T, e ativam os linfócitos B, macrófagos e outros leucócitos. Linfócitos T citotóxicos: Destroem células que produzem antígenos estranhos, como células infectadas. Linfócitos T reguladores: inibem a resposta imune. III – Linfócito NK (Natural Killer): age não na imunidade adquirida, mas na imunidade natural, contra vírus e outros micro-organismos extracelulares. IV – Células apresentadoras de antígenos: capturam antígenos provenientes do ambiente externo, os transportando para tecidos linfoides e apresentando-os para os linfócitos T naive para que haja inicio da resposta imunológica. V – Células Efetoras: A ativação de linfócitos pelos antígenos leva à geração de diversos mecanismos cuja função é eliminar o antígeno. Para tal, é necessária a ação das células efetoras, pois são elas que dão o efeito final da resposta imune. São exemplos de células efetoras linfócitos T ativos, células mononucleares fagocitárias, alguns leucócitos. Referência Abbas, A. K.; Lichtman, A. H.; Pillai, S. Imunologia celular e molecular. 6ª edição. Brasil: Elsevier, 2011. 19 – 46p.
Compartilhar