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Direito Amazônico Regional - TEXTO

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Direito Amazônico Regional (DAR) como um microssistema de Direito Internacional na América-
Amazônica1 
Desde as últimas décadas do século XX, os fenômenos da globalização provocam nos Estados uma reação via 
regionalização, como por exemplo, a União Europeia. Isso não foi diferente na América Latina que pode ser 
visto nos exemplos como o Pacto Andino, Comunidade Andina (CAN), MERCOSUL, ALADI, Caricon, OTCA e 
outros. Refletem a necessidade de integração para que se crie um ambiente favorável a este processo, diante 
da inevitável dependência mútua em questões específicas principalmente econômicas, políticas e 
ambientais. Faz parte desses esquemas de combinação entre os Estados contar com limitações estruturais 
de natureza interna e também relativas às diferenças entre os países envolvidos (cultural, estrutural, política, 
econômica, geográfica e outros), mas verifica-se um movimento em direção aos propósitos de integração, 
mesmo cumprindo aos poucos os processos de sua constituição, iniciada com a cooperação regional. Não se 
pode negar que o Direito Amazônico faz parte dessa conseqüência do fenômeno recente no Direito 
Internacional, o Regionalismo. E, assim como este, um sistema jurídico na América-Amazônica vislumbra-se 
em razão da identidade cultural, geográfica, histórica dos países daquela localidade. É que o contexto 
regional facilita a adoção de institutos jurídicos, assim como o desenvolvimento de normas próprias para 
efetuar e regular as questões que se apresentam diante da realidade local, como os exemplos citados acima. 
Emerge de certos ‘particularismos’ desenvolvidos entre os países do continente. Esta conjuntura permitiu a 
um conceito de Direito Regional, sugerido por Oscar B. Lianes, que à guisa de um DAIR deve-se considerar: 
Da tendência à particularização emerge o direito internacional americano sendo nosso continente um 
conglomerado de origens comuns e pensamentos idênticos levado a aprimorar as suas instituições, 
desenvolver certos institutos jurídicos de direito internacional, para regular as relações entre Estados que o 
compõem. O continente americano apresenta singularidades marcantes em comparação ao continente 
europeu: a) temos sistema constitucional próprio; b) meio social diferente, miscigenação de raças, 
originando um tipo de psicológico característico; c) somos Estados notadamente de imigração; d) instituições 
políticas não consolidadas, provocando revoluções e golpes de Estados na ordem interna; e) pertencemos à 
grande maioria ao “Terceiro mundo”. Estas diferenças foram fatores que levaram a criar e desenvolver 
normas jurídicas próprias para enfrentar as realidades e necessidade políticas, econômicas e sociais do nosso 
continente. (LIANES, 1979, p.54) Se o desenvolvimento de esquemas regionais, como visto, segue regras de 
Direito Internacional, a criação de um microssistema, como é o caso do Direito Amazônico também é uma 
experiência que não se contrapõe ao seu conjunto normativo ou mesmo que vá se constituir em 
ordenamento autônomo diferenciado. Pelo contrário, essas experiências constituem em sua essência 
normas específicas para regular as relações também específicas entre Estados que servem, tanto para 
dinamizar, moldar e desenvolver o Direito Regional quanto o Direito Internacional. Por isto um Direito 
Amazônico Internacional Regional (DAIR) neste aspecto se dá sob os novos institutos jurídicos e outras regras 
que surgem das relações locais. Desta forma, certamente o Regionalismo abre espaço para a criação de novos 
microssistemas normativos de Direito Internacional Regional estimulando idéias como a de se formatar tal 
Direito Amazônico, que tem como base jurídico-científica o Tratado de Cooperação Amazônica (TCA). Este 
Direito, particularmente considerado traduz o fenômeno redundante da América Latina que se destaca no 
debate atual de afirmação de um Direito Internacional na América-Amazônica. 46 Assim, do ponto de vista 
do pensamento jurídico24, um Direito Amazônico se configurará como fenômeno vinculado ao sistema 
filosófico glocal, qual seja, terá como suporte filosófico que assenta toda sua teoria predominante sob a 
máxima ‘pensar global e agir local’. Esta traduz, no caso em comento, a capacidade de uma classificação 
jurídica internacional articular os diferentes espaços constitucionais da América-Amazônica com o Direito 
Regional e este com o Direito Internacional. Isso é, em matéria peculiar amazônica permite dois movimentos: 
(i) um processo de constitucionalização do Direito Amazônico levando para as realidades constitucionais de 
 
1 RODRIGUES, Alessandra Mahé Costa. DIREITO AMAZÔNICO: Delineamentos básicos para uma teoria condizente com a 
realidade regional amazônica. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Direito da 
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Belo Horizonte: 2009. Disponível em: < 
http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Direito_RodriguesAM_1.pdf>. 
cada Estado membro do TCA as diretrizes do Direito Internacional e do Tratado pois dele se pretende inferir; 
(ii) da mesma forma a internacionalização do Direito Constitucional, isto é, um processo que permite criar 
uma ordem jurídica internacional fundada no consenso das nações e é o que se pretende com o DAIR. Esta 
articulação que o Direito Amazônico pretende permite senão as duas vias. Ademais a criação de uma 
comunidade amazônica advinda do Pacto Amazônico traduz no movimento de internacionalização do Direito 
Constitucional, é tão-somente levar para além das fronteiras dos Estados amazônicos a ideia de sociedade 
na América-Amazônica. Portanto, justificaria uma sociedade amazônica com interesses amazônicos, um 
Direito Amazônico pertinente e uma Organização que possa gerir isto, constitucionalizando juntamente os 
princípios universais (como por exemplo, os do Meio Ambiente e dos Direitos Humanos). Para entender a 
atual situação da região da América-Amazônica tendo em vista o TCA e sua Organização, o que se vê no 
momento é uma tentativa de internacionalização dos princípios constitucionais na região de tal forma que é 
clara a prevalência de um movimento local-regional. São senão critérios utilizados no sentido de solucionar 
problemas gerados pela questão ambiental (desmatamento, agropecuária, biopirataria, navegação, tráfico 
de drogas e outros) que além de consideradas em relação às particularidades de cada Amazônia, de cada 
Estado-membro, a adoção de medidas adotadas em âmbito regional como prevê o acordo. Daí a importância 
de se proteger a estrutura do Tratado, pois somente este está comprometido com os interesses da 
comunidade local.

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