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Os ricos brasileiros vivemmenos que os pobres suecos. Entenda como as grandes diferenças sociais estão afetando a qualidade de vida de toda a população P. 30 COMO A DESIGUALDADE COMPROMETE A SUA ACIÊNCIAAJUDAVOCÊAMUDAROMUNDO EDIÇÃO 309 R$ 14,00 C A R G A TR IB U TÁ R IA FE D ER A L A P R O X .4 ,6 5% CIENTISTAS VÃO ÀS RUAS CONTRA GOVERNOSP. 07 FÍSICO REJEITA TEORIA DA GRAVIDADE DE EINSTEINP. 64 P. 58 OS LUGARES EM QUE TODOMUNDO RECEBE MESADA DOSSIÊ JOGOSDEAZAR ENTREVISTA: RONALDO LEMOS E A TECNOLOGIA A FAVOR DA POLÍTICA ABR. 17 COMPROIBIÇÃO, BRASIL DEIXADEARRECADAR MAISDER$ 15BILHÕES • P.21 P. 48 JogosilegaisLoteria R$12,8bi R$16,5bi EX EM PL AR DE AS SI NA NT E VE ND A PR OI BI DA 309CAPA.indd 2 16/03/2017 18:17:14 edição de ipad NOVOAPPGALILEU OMUNDOESTÁMUDANDO CONSTANTEMENTE. TENHATUDOOQUE PRECISASABERSOBRE OSTEMASATUAISNA PALMADASUAMÃO. Todo o conteúdo e todas as edições de GALILEU disponíveis em seu celular ou tablet, totalmente adaptados à tela. DISPONÍVEL PARAENVIE UM SMS GRÁTIS COM A PALAVRA GALILEU PARA 30133 E BAIXE O APLICATIVO. BOLADA O jogo do bicho movimenta anualmente cerca de R$ 12 bilhões com apostas sem supervisão do Estado. ANTIMATÉRIA MATÉRIAS P.07 CIENTISTAS CONTRA TRUMP P.11 AMOTOSSERRA E A POLÍTICA P.12 O BIÓGRAFO DA TEORIA DA RELATIVIDADE P.14 INFOMANIA ESCRITORES AFRICANOS P.15 ENTREVISTA COM M. NIGHT SHYAMALAN P.15 MORGAN FREEMAN E SUA NOVA SÉRIE P.16 AVALIAÇÃO COMPLETA DO NINTENDO SWITCH P.17 OSMELHORES CELULARES DE 2017 P.20 ELEMENTAR LENTE DE CONTATO P.10 DESAFIO CONTRA O CÂNCER P.13 PLANTINHAS ESPACIAIS P.21 DOSSIÊ JOGOS DE AZAR P.30 A DESIGUALDADE NOS DEIXA DOENTES P.42 ENSAIO A JORNADA DOS RINOCERONTES P.64 O QUE FAZ AS COISAS CAÍREM? P.71 TUBO DE ENSAIOS P.72 PANORÂMICA P.74 ULTIMATO P.48 ENTREVISTA RONALDO LEMOS P.58 EXISTE DINHEIRO GRÁTIS P.52 MULHERES DE OURO EDIÇÃODEABRILDE2017 COMPOSIÇÃO 309COMPOSICAO.indd 1 16/03/2017 15:27:39 Em Mentes depressivas, a dra. Ana Beatriz Barbosa Silva, médica psiquiatra e escritora, disseca a depressão de forma inovadora ao abordar a doença do século por meio de suas três dimensões: física, mental e espiritual. Depressão não é frescura AutorA best-seller com mAis de 2 milhões de l ivros vendidos Nas l ivrarias e em e-book odos os meses, além da reunião de pauta normal, faze- mos também uma segunda reunião com toda a equipe só para discutir a imagem de capa. Às vezes ela dura cincominutos— foi o caso da edição de junho do ano passado, que trata- va de erotização infantil e mostrava uma menina de costas escrevendo à mão a frase Essa novinha é uma criança. Já chegamos, no entanto, a ficar mais de cinco horas trancados na sala de reunião devorando sacos e mais sacos de bolachas de água e sal (sempre há uma boa alma que provi- dencia a comida) até encontrarmos uma solução satisfatória. Foi o que aconteceu na última edição de julho, sobre meritocracia (O pobre tem seu lugar. E não sai de lá por quê?), quan- do usamos a imagem de uma babá em um elevador de serviço amarelo que a editora de arte FernandaDidini construiu do zero só para aquela foto. Conto tudo isso para deixar claro o quanto levamos a sério o design da revista. Sabemos que a forma de apresentação do conteúdo contribui (e muito) para torná-lo não apenas mais bonito, mas mais interessan- te e informativo. Em novembro de 2015, lançamos um novo projeto grá- fico que, já na época, recebeu vários prêmios nacionais e internacionais. Um dos mais importantes foi uma medalha de prata noThe Best of News Design, competição anual que reúne as melhores publicações do mundo inteiro. Pois bem. Em 2016, aprovei- tamos para fazer uma série de pe- quenas modificações no projeto que deixaram o produto final aindamais bem-acabado. E o resultado é que, desta vez, ganhamos não uma, mas duas medalhas de ouro e outras três menções honrosas. Fomos o único veículo brasileiro e um dos poucos domundo a recebermedalha de ouro (ao nosso lado na lista estãoTheNew York Times e National Geographic, cof). Para comemorar, nada mais justo que usar o espaço dos colabo- radores do mês, aqui ao lado, para apresentar nosso pequeno — mas brilhante — departamento de arte. Boa leitura e até o mês que vem! DIZEM QUE NÃO SE DEVE JULGAR UM LIVRO PELA CAPA, MAS. . . T ! ELAS POR ELAS Nos dias 31 de março e 1º de abril, GALILEU participa do evento Elas por Elas no Village- Mall, no Rio de Janeiro. Mediaremos grupos de discussão sobre gênero e sobre machismo em diferentes áreas. Você pode acompanhar a cobertura do evento no nosso site e nas redes sociais. Cristine Kist — Editora-chefe ckist@edglobo.com.br COLABORADORES DOMÊS ONDE NASCEU E ONDE MORA Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP) HISTÓRICO Formada em 2009 pela UFPE, Cam- pus do Agreste – Caruaru. Já passou pela FutureBrand e Editora Abril. É CONHECIDA POR Seu gosto peculiar para entretenimento e seus ataques de riso altamente contagiosos Fernanda Didini EDITORA DE ARTE ONDE NASCEU E ONDE MORA Petrolina (PE) e São Paulo (SP) HISTÓRICO Formado em 2011 pela UFPE, Campus do Agreste – Caruaru e pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (Portugal). É CONHECIDO POR Seus muitos talentos artísticos e seu sotaque pernambucano mais carregado que o das novelas Feu (Felipe Eugênio) DESIGNER ONDE NASCEU E ONDE MORA São Paulo (SP) HISTÓRICO Formado em Editoração pela USP, passou pelas redações da Autoesporte e da Época antes de chegar à Galileu. É CONHECIDO POR Seu superpoder de se comunicar exclusivamente por memes João Pedro Brito DESIGNER FOTO Tomás Arthuzzi PRODUÇÃO Beatriz Liranço MODELO Luanna Marin MAQUIAGEM Ananda Resende AGRADECIMENTOS Ricardo Almeida Riachuelo Interdomus LAFER QUEM FEZA CAPAPRIMEI - RAMENTE WWW.GALILEU.GLOBO.COM PORCRISTINEKIST 04.2017#309 309Primeiramente.indd 4 16/03/2017 15:27:24 A REVISTA QUE TODO MUNDO QUER VER “Interessante e as- sustador. Inovações tecnológicas para melhorar a sexualida- de são bem-vindas, mas será que esta- mos mesmo cami- nhando em direção ao mundo retratado em Blade Runner?” TÚLIO TERRELL (SãoPaulo, SP), sobreComoenlouquecer seu robônacama Fluam,meus orgasmos “Matérias assim são ótimas para desmisti- ficar ideias incoeren- tes com a vida social de uma cidade. É importante mostrar esse lado que é cruel, mas, infelizmente, tido como normal por muita gente.” ELLENRODRIGUES (Goiânia, GO), sobrea reportagem decapa Cidade dos pesadelos “O design da matéria deveria ser replicado nos livros de biologia. Foi bem fácil entender os processos que no Ensino Médio eu me matava para decorar.” CAIOMELO (SãoPaulo, SP), sobreGenedomável Umpedacinho pra cada esquema O QUE ELES ACHARAM DAREPORTAGEM DE CAPA DO DOSSIÊ MICRORGANISMOS Eu vejo flores em vocês Tema lindo, execução cinza Há pontos fortes, não sei bem quais Me fizeram ver o que nunca tinha visto MÉDIAS DASMATÉRIAS 67% 22% 11% 100% Na edição de março, nossos Conselheiros mergulharam no cinza para procurar algo de colorido na revista Edição • Março/2017 Para se corresponder com a Redação: endereçar cartas à editora-chefe, GALILEU. Caixa postal 66011, CEP 05315-999, São Paulo/SP.FAX: (11) 3767-7707 DESEJAFALAR COMAEDITORAGLOBO? ATENDIMENTO 4003-9393 www.sacglobo.com.br LICENCIAMENTO DECONTEÚDO (11) 3767-7005 venda_conteudo@edglobo.com.br VENDASCORPORATIVAS EPARCERIAS (11) 3767-7226 parcerias@edglobo.com.br EDIÇÕESANTERIORES Opedido será atendido pormeio do jornaleiro ao preço da edição atual desde que haja disponibilidade de estoque. Faça seu pedido na bancamais próxima. PARAANUNCIAR SP: (11) 3736-7128 l 3767-7447 3767-7942 l 3767-7889 3736-7205 l 3767-7557 RJ: (21) 3380-5930 l 3380-5923 BSB: (61) 3316-9584 NA INTERNET www.assineglobo.com.br/sac 4003-9393 ASSINATURAS 4003-9393 www.sacglobo.com.br DIRETORADEGRUPOCASAECOMIDA, CASAE JARDIM, CRESCEREGALILEU: Paula Perim REDAÇÃO EDITORA-CHEFE:Cristine Kist EDITORADEARTE:Fernanda Didini EDITORES:Giuliana de Toledo, Nathan Fernandes e Thiago Tanji REPÓRTERES:André Jorge de Oliveira e IsabelaMoreira DESIGNERS: Felipe Eugênio (Feu) e João Pedro Brito ESTAGIÁRIOS: Júlio Viana (texto) e Fernanda Ferrari (arte) ASSISTENTEDEREDAÇÃO:Wania Pace COLABORADORESDESTAEDIÇÃO:Daniel Barros, Diego Borges, Eduarda Endler, Fellipe Abreu, Ismael dos Anjos, Jotapê Jorge, Luiz Felipe Silva, MarianeMorisawa, Marília Marasciulo, Melissa Cruz, Thássius Veloso e Yuri Gonzaga (texto); Gabriela Namie, GuilhermeHenrique, Tomás Arthuzzi, Beatriz Liranço, Dulla, Inara Negrão e Érico Hiller (arte); MoniqueMurad Velloso (revisão); Adilson Jesus Aparecido de Oliveira, professor de Física da UFSCar (consultor científico) E-MAILDAREDAÇÃO: galileu@edglobo.com.br DIRETORGERAL:Frederic Zoghaib Kachar DIRETORDEAUDIÊNCIA:Luciano Touguinha de Castro DIRETORADEMERCADOANUNCIANTE:Virginia Any OBureauVeritas Certification, combase nos processos e procedimentos descritos no seuRelatório de Verificação, adotando umnível de confiança razoável, declara que o Inventário deGases de Efeito Estufa—Ano 2012 da Editora Globo S.A. é preciso, confiável e livre de erro ou distorção e é uma representação equitativa dos dados e informações deGEE sobre o período de referência para o escopo definido; foi elaborado emconformidade coma NBR ISO 14064-1:2007 e as Especificações doProgramaBrasileiro GHGProtocol. Galileu é umapublicação da EDITORAGLOBOS.A.—Av. Nove de Julho, 5.229, 8º andar, CEP01407-907, SãoPaulo/SP. Tel. (11) 3767-7000. Distribuidor exclusivo para todo oBrasil: Dinap—DistribuidoraNacional de Publicações. Impressão: Plural Indústria Gráfica Ltda.—Av.Marcos Penteado deUlhoaRodrigues, 700, Tamboré, Santana de Parnaíba/SP, CEP06543-001 ATENDIMENTOAOASSINANTE Disponível de segunda a sexta-feira, das 8às 21 horas; sábados, das 8às 15 horas. INTERNET:www.sacglobo.com.br— SÃOPAULO: (11) 3362-2000 DEMAIS LOCALIDADES:4003-9393— FAX: (11) 3766-3755 *Custo de ligação local. Serviço nãodisponível em todooBrasil. Para saber dadisponibilidadedo serviço emsua cidade, consulte sua operadora local. PARAANUNCIARLIGUE: SP: (11) 3767-7700/3767-7500 RJ: (21) 3380-5924 E-MAIL:publigalileu@edglobo.com.br PARASECORRESPONDERCOMAREDAÇÃO: endereçar cartas à editora-chefe da GALILEU. Caixa postal 66011, CEP 05315-999, São Paulo/SP. 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TECNOLOGIADA INFORMAÇÃO DIRETORDETECNOLOGIA:Rodrigo Gosling ESTRATÉGIADIGITAL DESENVOLVEDORES:Everton Ribeiro, FabioMarciano, Leandro Paixão, Marcelo Amendola, Murilo Amendola, Thiago Previero eWilliamAntunes ESTRATÉGIADECONTEÚDODIGITAL GERENTE:Silvia Balieiro MERCADOANUNCIANTE FINANCEIRO, IMOBILIÁRIO, TI, COMÉRCIO EVAREJO—DiretordeNegóciosMultiplataforma: EmilianoMorad Hansenn;Gerente deNegóciosMultiplataforma: Ciro Horta Hashimoto;Execu- tivos Multiplataforma: Christian Lopes Hamburg, Cristiane de Barros Paggi Succi, Milton Luiz Abrantes e Selma Maria de Pina.MODA, BELEZAE HIGIENE PESSOAL—Diretor de Negócios Multiplataforma: Cesar Bergamo; Executivos Multiplataforma: Adriana Pinesi Martins, Ana Paula Boulos, Eliana Lima Fagundes, Giovanna Sellan Perez, Selma Teixeira da Costa e Soraya Mazerino Sobral. CASA, CONSTRUÇÃO, ALIMENTOS E BEBIDAS, HIGIENE DOMÉSTICA E SAÚDE—Diretora deNegóciosMultiplataforma: LucianaMenezes; ExecutivosMultiplatafor- ma: Fatima Ottaviani, Paula Santos, Rodrigo Girodo Andrade, Taly CzeresniaWakrat e Valeria Glanzmann. MOBILIDADE, SERVIÇOS PÚBLICOS E SOCIAIS, AGRO E INDÚSTRIA— Diretor deNegóciosMultiplataforma:Renato Augusto Cassis Siniscalco; ExecutivosMultiplataforma: Diego Fabiano, Cristiane Soares Nogueira, Jessica de Carvalho Dias, João CarlosMeyer e Priscila Ferreira da Silva. EDUCAÇÃO, CULTURA, LAZER, ESPORTE, TURISMO, MÍDIA, TELECOM E OUTROS — Diretora de Negócios Multiplataforma: Sandra Regina de Melo Pepe; Executivos de Negócios Multiplataforma: Ana Silvia Costa, Dominique Petroni de Freitas e Lilian de Mar- che Noffs. ESCRITÓRIOS REGIONAIS — Gerente Multiplataforma: Larissa Ortiz; Executiva de Negócios Multiplataforma: Babila Garcia Chagas Arantes. UNIDADE DE NEGÓCIOS — RIO DE JANEIRO—Gerente deNegóciosMultiplataforma:Rogerio Pereira Ponce de Leon; Executivos Multiplataforma:Daniela Nunes, Lopes Chahim, Juliane Ribeiro Silva, Maria Cristina Machado e Pedro Paulo Rios Vieira dos Santos. UNIDADE DE NEGÓCIOS— BRASÍLIA— Gerente Multi- plataforma: Barbara Costa Freitas Silva; Executivos Multiplataforma: Camila Amaral da Silva e Jorge Bicalho Felix Junior. GERENTE DE EVENTOS: Daniela Valente. OPEC OFFLINE: Carlos Roberto de Sá, Douglas Costa e Eduardo Ramos.OPECONLINE:Rodrigo Santana Oliveira, Danilo Panzarini, HigorDaniel Chabes e Rodrigo Pecoschi. ESTRATÉGIACOMERCIAL:Guilherme Iegawa Sugio. EGCN—Consultora deMarcas:Olivia Cipolla Bolonha. ESTÚDIO GLOBO: Caio Henrique Caprioli, Ligia Rangel Cavalieri e Luiz Claudio dos Santos Faria AUDIÊNCIA Diretor deMarketingConsumidor:Cristiano Augusto Soares Santos; Diretor de Planejamento eDesenvolvimentoComercial: Ednei Zampese;Gerente deVendasCanais Indiretos: ReginaldoMoreira da Silva;GerentedeCriação:Valter Bicudo Silva Neto; Coordenadores deMarketing:Eduardo Roccato Almeida e Patricia Aparecida Fachetti A cidade que ninguémquer ver 9,4 Dossiê microrganismos 9,3 Como enlouquecer seu robô na cama 8,1 A parte que lhes cabe 10 Museu aomar 9,8 CONSELHO PORNATHANFERNANDES 309Conselho.indd 6 15/03/2017 20:34:21 04 . 20 1 7 1 GUILHERMEHENRIQUE (GH)2 GABRIELANAMIE (GN) ILUSTRADORES CONVIDADOSEDIÇÃOTHIAGOTANJI DESIGN FERNANDADIDINI P.0704.2017 ANTI- MATÉ- RIA FATOS • FEITOS • NÚMEROS • NOTAS • NOTÁVEIS Fig. (GH) Cientistas organizam protestos contra Donald Trump 309AMabre.indd 7 16/03/2017 16:07:25 a comunidade científica dos Estados Unidos entrou em alerta quando, no início de janei- ro, informações sobre o aquecimento global foram retiradas do site da Casa Branca. Na mesma época, um comunicado enviado a qua- tro agências federais norte-americanas informava que os cientistas não deveriam divulgar nenhuma infor- mação a menos que fossem autorizados por seus su- periores. Para completar, o recém-empossado presi- dente Donald Trump nomeou Scott Pruitt, conhecido inimigo dos ecologistas, como secretário da agência de proteção ambiental do país. Durante a campanha eleitoral, o então candidato Trump chegou a afirmar que o discurso sobre o aquecimento global era um CENSURA Dados sobre o aquecimento global foram re- movidos dos si- tes de agências públicas dos Estados Unidos *C om su pe rv is ão de Th ia go Ta nj i Pesquisadores dos Estados Unidos se mobilizam contra as políticas de Donald Trump PORJULIO CESAR SOARES VIANA* CIENTISTAS EM MARCHA P.08 04.2017 309AMabre.indd 8 16/03/2017 16:07:26 ASMEDIDAS DE TRUMP Dezembro de 2016: Governo solicita o nome dos cientistas do Departamen- to de Energia que fizeram pesquisas sobre mudanças climáticas. Janeiro de 2017: Informações referen- tes ao aquecimento global são retira- das do site da Casa Branca. Fevereiro de 2017: O antiambientalista Scott Pruitt é confirmado chefe da EPA, agência de proteção ambiental do país. Março de 2017: Trump propõe corte de quase 20% no orçamento doNOAA, ins- tituição de pesquisa atmosférica. AMARCHA DA CIÊNCIA AO REDOR DO PLANETA plano da China para desacelerar a econo- mia norte-americana. Diante desse cená- rio, os cientistas arregaçaram as mangas dos jalecos e foram à luta. Inspirado na Marcha das Mulheres, mobilização que ocorreu em Washington no dia seguinte à posse de Trump, um protesto batizado de Marcha da Ciência está marcado para ocorrer na capital norte-americana no dia 22 de abril, data que comemora o Dia da Terra e relem- bra a importância da luta pela proteção ambiental do planeta. “Um monte de gente teve essa ideia ao mesmo tempo no Twitter”, afirma Jacquelyn Gill, pes- quisadora em mudanças climáticas na Universidade do Maine e uma das orga- nizadoras do movimento de cientistas. Com o engajamento de pesquisadores de diferentes lugares, foram convoca- das mais de 350 marchas que tomarão as ruas de outras cidades dos Estados Unidos e do resto do mundo. PARA ALÉM DA BOLHA Na opinião de Jacquelyn Gill, a presidên- cia de Donald Trump não é a origem dos problemas da ciência norte-americana. “Existem muitos grupos, mais especifi- camente corporações, que têm trabalha- do para minar a ciência, especialmente quando os dados ou pesquisas vão contra seus interesses”, revela a organizadora da Marcha dos Cientistas. Em 2014, o senador Lamar Smith ten- tou emplacar a lei da “Ciência Secreta”, projeto que impediria a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) de criar regulamentações para po- líticas públicas baseadas em pesquisas. O projeto não foi aprovado, mas o par- lamentar afirma que retomará a discus- são em breve — apoiado por empresas da indústria de gás e óleo, Smith é co- nhecido por atacar os pesquisadores que estudam o aquecimento global. “Há grupos que não aceitam investi- mentos em pesquisas sobre a sexualida- de de adolescentes e homossexuais, por exemplo”, diz Emilio Moran, professor da Universidade de Michigan e membro do Conselho Nacional de Ciência (NBS) dos Estados Unidos. “Essas pessoas entram com ações políticas pedindo que se blo- queie o financiamento. Isso vem ocorren- do há mais de uma década.” De acordo com o professor, o conservadorismo e a falta de esclarecimento de parte da popu- lação também são entraves para valorizar o trabalho dos cientistas. “É incrível que o país lidere a ciência no mundo e que me- tade da população norte-americana não acredite em evolução”, destaca. Os próprios pesquisadores conside- ram, no entanto, que é necessário furar a bolha acadêmica de teses e relatórios e dialogar com o restante da sociedade com o objetivo de aproximar as pesso- as da ciência. “Nós nem sempre faze- mos um bom trabalho em nos conec- tar com a comunidade e conversar com as pessoas sobre aquilo que fazemos”, conta Jacquelyn Gill. “Parte dos indi- víduos não nos veem como humanos ou membros da sociedade. Ficamos de fora, voltados para nós mesmos.” LUTA CONTRA O RETROCESSO Apesar do receio de represálias, como a diminuição do orçamento público desti- nado às pesquisas, os cientistas acredi- tam que é preciso tomar uma posição po- lítica no momento vivido pelos Estados Unidos. “Não estamos falando apenas por nós, pois a ciência é para todos. Se não pudermos monitorar o ar limpo e a água limpa, não são só os cientistas que sofre- rão por isso, mas todas as pessoas que dependem do nosso trabalho e confiam em nós”, diz Gill. “Nós também somos ci- dadãos, somos tão parte da comunidade quanto qualquer um, e temos o direito e o dever de ter voz política.” Inspirada na Marcha da Ciência, uma mobilização brasileira será realizada no final de abril para chamar a atenção dos problemas enfrentados pela comunidade científica do país. Uma das organizado- ras do movimento, a pesquisadora Márcia Cristina Barbosa, professora de física na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que o atual cenário político e econômico do Brasil é marcado por retrocessos para a ciência. “Ideologi- camente, a ciência sempre foi atacada no Brasil. Há pessoas que não querem falar sobre as células-tronco, por exemplo”, diz. “Parece que já nos acostumamos com o descrédito da ciência por aqui.” Em maio do ano passado, o Ministé- rio da Ciência, Tecnologia e Inovação foi incorporado ao Ministério de Comuni- cações, em uma medida criticada pelos pesquisadores por extinguir uma pasta exclusiva para discutir a ciência no país. No final de janeiro, o governo do esta- do de São Paulo também retirou 10% do orçamento destinado à Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) — após manifestações, a deci- são foi revertida e R$ 120 milhões foram devolvidos ao fundo de pesquisas. Com a realização da marcha, no en- tanto, a professora Márcia Cristina Bar- bosa acredita que será possível mostrar à população a importância da ativida- de científica e seu impacto no avanço intelectual, econômico e tecnológico do país: “Seu filho precisa saber o que é ciência, ele precisa fazer ciência. O Bra- sil não pode se conformar em ser um país de segundo escalão.” P.0904.2017 309AMabre.indd 9 16/03/2017 16:07:26 FIG. - GH Iniciativa global solucionará sete mistérios sobre o câncer com a ajuda de três institutos brasileiros POR JOTAPÊ JORGE inte e três institui- ções e mais de 100 mi- lhões de libras investidas, o equivalente a R$ 390 mi- lhões. Esses são alguns dos números do Grand Challenge, literalmente “Grande Desafio”, iniciativa proposta pela asso- ciação britânica Cancer Research UK para solucionar sete questões relaciona- das ao câncer. Três instituições brasilei- ras participam do projeto: o Hospital do Câncer de Barretos, no interior de São Paulo, o Instituto A.C. Camargo, na ca- pital paulista, e o Instituto Nacional do Câncer, no Rio de Janeiro. “Nós ainda não sabemos metade dos causadores externos de câncer”, afir- ma Rui Reis, oncologista responsável pelo projeto no Hospital do Câncer de Barretos. “Nosso objetivo é mapear e encontrar causas da doença que ainda não são conhecidas.” De acordo com os pesquisadores, 900 pacientes serão analisados, colaborando com um ban- co de dados de 5 mil pessoas ao redor do mundo. “Faremos uma análise cru- zada entre os cânceres e os estilos de vida para identificar marcas genômicas e relacioná-las”, explica Reis. O processo de pesquisa e sequenciamento do geno- ma tem estimativa de duração de cinco anos. Quando finalizado, abrirá cami- nho para novas maneiras de prevenção da doença. “É possível que no futuro, com exames genéticos, o diagnóstico seja mais precoce, com maior possibili- dade de remissão”, diz Reis. GRANDEDESAFIO Os principais objetivos dos pesquisadores para os estudos contra o câncer ERRADICAR CÂNCERES CAUSADOS PELOVÍRUS HPV-4 OHPV-4 é transmitido pela saliva e por secreções sexuais e é responsável por pelomenos 530mil casos de câncer ao ano. Um dos desafios é encontrar umamaneira de reduzir esse número a zero. OBTER FORMAS DE IDENTIFICAR CÂNCERES LETAIS E NÃO LETAIS Amissão é encontrar uma forma de diferenciar cânceres benignos e agressi- vos, evitando tratamentos invasivos. FABRICARVACINAS PARAO TRATAMENTO DE CÂNCERES NÃOVIRAIS Descobrir um jeito de “potencializar” as defesas do organismo para localizarem e combate- rem cânceres em estágios iniciais é o foco. DESENVOLVER DIAGNÓSTICOS COMAUTILIZAÇÃO DE TECNOLOGIA 3-D Ummapeamento do grupo de células e vasos sanguíneos afetados pelo tumor ajudaria a medicina a derrotar as células cancerosas. NENHUMA AMENOS Pesquisa afirma que, no ano passado, 503 mulheres sofreram agressões físicas a cada hora no Brasil PORNATHAN FERNANDES UMA PESQUISA realizada pelo Instituto Datafolha, encomenda- da pelo Fórum Brasileiro de Se- gurança Pública, afirma que uma a cada três mulheres brasileiras commais de 16 anos foi vítima de violência em 2016. O estudo Visível e Invisível: a Vitimização de Mulheres no Brasil calculou ainda que, a cada hora, 503 O projeto mapeará as causas do câncer ainda não conhecidas V Códigopara vencerocâncer mulheres sofreram agressões físicas no ano passado. Em 61% dos casos o agressor era conhe- cido da vítima. Apesar do maior número de informações em re- lação ao tema, com apoio da Lei Maria da Penha, de 2006, 52% das mulheres que participaram do estudo afirmaram que não reportaram a agressão sofrida. E apenas 11% das que procura- ram algum tipo de ajuda recor- reram à Delegacia da Mulher. A pesquisa ressalta ainda o racismo estrutural da socie- dade ao revelar que mulheres negras (32%) e pardas (31%) relataram ter sofrido consi- deravelmente mais violência do que as brancas (25%). P. 10 04.2017 309AMcancerDESMATAMENTOarmas.indd 10 16/03/2017 16:10:10 Fig. - GN Fig. GH ARMAÇÃO ILIMITADA Comércio de armas é o maior desde a Guerra Fria por conta de tensões na Ásia PORJ. J. ADEUS ÀS ARMAS?Dados do Instituto Internacional da Paz em Estocolmo (Sipri, na sigla em inglês) mostram que houve um aumento na comercialização de armamentos em 2016 por conta de tensões diplomáticas naÁsia: Índia e Paquistão disputam a região fronteiri- ça da Caxemira, enquanto a China reclama a soberania dos conjuntos de ilhas que existem ao longo do Mar da China. Os principais exportadores de armas são Estados Unidos, Rússia, China, França, Alema- nha e Reino Unido — cinco dessas nações são membros permanentes do conselho de segurança da ONU. O Brasil é hoje o 26º maior vendedor de armamentos do mundo e comercializou R$ 202milhões de itens bélicos no ano passado. PARADAR INVEJAATONYSTARK Negociações de armamentos (em%) MAIORES EXPORTADORES DEARMAS Estados Unidos Rússia China França Alemanha Reino Unido Outros Índia Arábia Saudita EmiradosÁrabes Unidos China Argélia Turquia Outros MAIORES IMPORTADORES DEARMAS Estudo mostra a relação entre a influência do agronegócio na política e os índices de desma- tamento de um país POR J. J. DADOS DO INSTITUTO de Pes- quisa Ambiental da Amazônia indicam que, em 2016, o desma- tamento de floresta nativa da re- gião amazônica cresceu 30% em relação a 2015, sendo o pior resul- tado desde 2008 — Pará, Rondô- nia eMato Grosso são os estados que lideram a devastação. Os dados corroboram as infor- mações de um estudo recém-pu- blicado pela revista Global Envi- ronmental Change, quemostram como a efetividade da legislação ambiental é inversamente propor- cional à fatia do agronegócio no Produto Interno Bruto (PIB). No Brasil, o setor é responsável por movimentaraproximadamenteR$ 1,2 trilhão da economia do país. “Abancada ruralista domina as duas pontas da discussão, ocupan- do a Comissão de Agricultura e a ComissãodoMeioAmbiente”, diz o cientista político EdelcioVigna. Em 2012,mudanças no Código Flores- tal foram criticadas por ambienta- listas e a então presidente Dilma Rousseff vetou 12 alterações propostas pela bancada ruralis- ta. Uma das medidas barradas permitia ao proprietário rural reflorestar apenas 25% da área degradada por uma plantação. O pesquisador Tiago Reis, um dos autores da pesquisa, destaca que o Brasil tem muito a contribuir no debate mundial sobre políticas de conservação das florestas e matas nativas, apesar do cenário adverso. “Nós podemos oferecer lições apren- didas sobre o fenômeno global do desmatamento”, afirma. EM VOTAÇÃO A discussão de mudanças do licen- ciamento ambiental será (mais) uma das pautas polêmicas debatidas pelo Congresso Nacional neste ano. O PROJETO De autoria do deputado federal Mauro Pereira (PMDB-RS), uma das alterações propostas determinaria que atividades agro- pecuárias ficariam dispensadas do licen- ciamento ambiental, que atualmente é obrigatório. 33% 23% 6,2% 6% 5,6% 4,6% 21,6% 13% 8,2% 4,6% 4,5% 3,7% 3,3% 62,7% O PODER DA MOTOSSERRA P. 1104.2017 309AMcancerDESMATAMENTOarmas.indd 11 16/03/2017 16:10:10 LU- NE- TA DEOLHONASESTRELAS PORANDRÉJORGEDEOLIVEIRA FIG. - GH FONTE: Nasa Explore Mars Map UM SÉCULO MUITO RELATIVO Chega ao Brasil biografia da teoria de Einstein escrita pelo astrofísico português Pedro G. Ferreira, um obcecado pela relatividade geral PROJETAR PONTES enchia Pedro Gil Ferreira detédio.Nofimdadécadade1980, eleestudava Engenharia em Lisboa, mas queria desvendar os segredos do Universo. “Sempre tive obses- são pela relatividade geral”, diz Ferreira, que se tornou astrofísico pelaUniversidadedeOxford, no Reino Unido. Ele fez da biblioteca universi- tária sua segunda casa edominoua “geometria ardilosa e a matemática obscura” de Einstein. De tão fascinado, escreveu um livro a respeito. “Foi uma oportunidade única para ler artigos icônicos e entrevistar pessoas importantes.” ARELATIVIDADEGANHOUVIDAPRÓPRIA APÓS A DIVULGAÇÃO DO TRABALHO DE ALBERTEINSTEIN.QUAISFORAMOSALTOS EBAIXOSDATEORIANOÚLTIMOSÉCULO? Atrajetória foi umamontanha-rus- sa.Começoucomoitoanosdetraba- lho árduo de Einstein, seguidos por um período fértil de muitas desco- bertas, atéentraremhibernaçãono início dos anos 1930. Foi relançada só na década de 1960, quando se tornou a teoria que conhecemos. VOCÊDIZQUEOSÉCULO20FOIDAFÍSICA QUÂNTICA,MASQUEO21SERÁMARCADO PELARELATIVIDADEGERAL.PORQUÊ? Hámuita coisa pela frente, como o telescópio que tentará reconstruir A TEORIA PERFEITA Autor: Pedro G. Ferreira Editora: Companhia das Letras (2017) Páginas: 376 Preço: R$ 59,90 a primeira imagem em alta resolu- ção do buraco negro no centro da Via Láctea. E a teoria dará frutos, com novas ideias sobre como a mecânica quântica e a relativi- dade interagem e reformulam a natureza do espaço-tempo. O LIVROCONTACOMOONACIONALISMO DA PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL CRIOU TENSÕES ENTRECIENTISTAS EUROPEUS. OBREXITTEMCAUSADOALGOPARECIDO? Ainda não houve impacto na ciên- cia que faço, mas decerto haverá: o ReinoUnidoperderápreciosoapoio financeiro europeu e as parcerias internacionais não permanecerão como estão.Assola a incerteza... PEDACINHO DEMARTE Nasa planeja trazer amostra marciana devolta àTerra ANasa está interessada em recolhermaterial físico de Marte e escolheu as três áreas do planeta que serãovasculha- das pelo sucessor da sonda Curiosity, a partir de 2020 (veja ao lado). O foco damissão será buscar evidências devida. CRATERA DE JEZERO Mais promissora das três. Era um grande lago onde desagua- va um rio caudaloso. Lugar per- feito para antigos seres vivos. NORDESTE DE SYRTIS Os cientistas têm conheci- mento de que a região abrigou águas aquecidas em eras pas- sadas. Houve vida por lá? COLINASCOLUMBIA Região explorada pelo rover Spirit. Águas termais já fluíram ali: depósito de sílica pode ser indício de vida no passado. Cratera de Jezero Nordeste de Syrtis Colinas Columbia P. 12 04.2017 309AMluneta.indd 12 16/03/2017 16:10:01 FIG. - GH As principais notícias espaciais da semana são comentadas em transmissão ao vivo TODASASSEXTAS,ÀS 17H, NANOSSA FANPAGE. ASSISTA! Colheita da quinta safra de vegetais fresquinhos na ISS reforça tendência para que plantas e humanos convivam no espaço és de repolho chinês foram colhidos na Estação Espacial Internacional (ISS) em fevereiro — foi a quinta safra de plantas do experimento Veggie desde 2014 (veja outros plantios abaixo). Metade da produção servirá como salada para os astronautas e o restante retornará à Terra para análise. Há décadas, cientis- tas estudam os efeitos da microgravidade nas plantas, como no funcionamento dos genes. “O processo controla a produção de enzimas e as reações metabólicas”, diz Howard Levine, da Nasa, que trabalha no Projeto APH, sucessor do Veggie. As plan- tas terão papel central em naves tripuladas, já que serão fontes de alimento e oxigênio no espaço profundo. “Isso inclui missões de trânsito em Marte ou nas vizinhanças da Terra e da Lua”, afirma Ray Wheeler, que coordena estudos de suporte à vida na Nasa. Sem contar, é claro, a satisfação de cultivar um pedacinho da Terra — e vê-lo brotar bem longe de casa. Astronautas jardineiros DIADEJÚPITER: GIGANTE BRILHACOMONUNCA Melhordia para observar o rei do Sistema Solar: estará emoposição, mais próximo daTerra (a 666mi- lhões de km) emais brilhante.Visível à noite, nasce no Leste ao escurecer. 7 ENCONTROMARCADODE TRÊSASTROSEM VIRGEM Ainda bastante charmoso, Júpiter se encontra coma Lua Cheia e Spica (250 anos-luz daTerra), estrelamais brilhante da Constelação deVirgem. Trio surge no Leste após o pôrdo Sol. 10 MARTEFLERTACOMAS MAGNÍFICASSETE IRMÃS Belíssimo aglomerado estelar visível a olho nu, as Plêiades flertam com o planeta vermelho no início da noite na direção Noroeste. Regiões Norte e Nordeste têmmelhorvisibilidade. 17 HUBBLE FAZANOS ENÓS GANHAMOSOPRESENTE Parabéns aoHubble: lançado há 27 anos, o lendário telescópio espacial até hoje é um colosso científico. ANasa garante que ele passará dos 30 anos. E quevenha o JamesWebb! 24 AGENDA - 2 9 16 23 30 - 5 12 19 26 - - 3 10 17 24 - - 6 13 20 27 - - 4 11 18 25 - - 7 14 21 28 - 1 8 15 22 29 - ssd s t q q Abril de 2017 LUNETA LIVE P GIRASSOL Expedição 30/31 com Don Pettit (2012) Aflor quasemorreu na ISS, mas resistiu sob os cuidados atenciosos do astronauta Donald Pettit. Ele compartilha- va em umblog o status dessa e demais duas plantas pessoais. ALFACEROMANA VERMELHA Expedição 44 com Scott Kelly (2015) Primeira verdura pro- duzida e consumida no espaço. “Pequenamor- dida para um homem, salto gigante na jorna- da paraMarte”, tuitou o comandante Kelly. ZÍNIA Expedição 46 com Scott Kelly (2016) Foi a primeira flor a germinar no experimento Veggie. A equipe do projeto criou uma cartilha sim- plificada para instruir Kelly na arte da “jar- dinagem autônoma”. REPOLHOCHINÊS Expedição 50/51 com PeggyWhitson (2017) Whitson cultivou por ummês e colheu os pri- meiros pés da espécie na ISS. Metade da safra volta à Terra; o resto é dos astronautas, que dispõem até demolhos para colocar na salada. P. 1304.2017 309AMluneta.indd 13 16/03/2017 16:10:02 BIBLIOTECADA ÁFRICA Anigeriana ChimamandaNgoziAdichie lançou emmarço o livroPara Educar Crianças Feministas—eGALILEU aproveitou para fazer uma lista de escritores africanos NOME NASCIMENTO LÍNGUAPAÍS PUBLICAÇÕES SOBRE NGŨGĨWA THIONG’O 1938 QUÊNIA INGLÊS E GIKUYU Escreveu seus três primeiros livros em inglês, antes de rejeitar a língua e o antigo nome por considerá- -los heranças do colonialismo. Um Grão de Trigo (Alfaguarra) e Sonhos em Tempos de Guerra (Biblioteca Azul) J.M. COETZEE 1940 ÁFRICA DO SUL NIGÉRIA INGLÊS E AFRICÂNER É conhecido por criticar tanto o Apartheid quanto o atual governo do Congresso Nacional Africano, no poder desde 1994. Diário de um Ano Ruim e Desonra (Companhia das Letras) NOVIOLET BULAWAYO 1981 ZIMBÁBUE INGLÊS Tornou-se a primeiramulher negra e africana a ser nomeada para oMan Booker Prize, prêmio da literatura em língua inglesa. Precisamos de Novos Nomes (Biblioteca Azul) IMBOLO MBUE 1982 CAMARÕES INGLÊS Aqui Estão os Sonhadores foi eleito um dos melhores livros de 2016 pelos jornais The New York Times eWashington Post. Aqui Estão os Sonhadores (Globo Livros) CHINUA ACHEBE 1930 INGLÊS “Pai do romance africano”, seu livro O Mundo se Despedaça é um dos mais lidos do continente e foi traduzido para mais de 40 línguas. O Mundo se Despedaça e A Flecha de Deus (Companhia das Letras) NADINE GORDIMER 1923 INGLÊS Aescritora foi uma das vozes oposicionistas brancas doApartheid, escrevendo crônicas e livros contra o regime de segregação racial. O Melhor Tempo É o Presente e O Engate (Companhia das Letras) WOLE SOYINKA 1934 INGLÊS Primeiro africano a ganhar o Nobel de Literatura, foi perseguido por sua atuação política e viveu exilado na Inglaterra e nos Estados Unidos. O Leão e a Joia (Geração Editorial) MIA COUTO 1955 MOÇAMBIQUE PORTUGUÊS Vencedor do Prêmio Camões em 2013, é considerado um dos principais autores da língua portuguesa atual. O Último Voo do Flamingo e Terra Sonâmbula (Companhia das Letras) PEPETELA 1941 PORTUGUÊS Foi ministro da Educação emilitante doMovimento Popular pela Libertação deAngola, lutando por 26 anos na guerra civil do país. Mayombe e Lueji — O Nascimento de um Império (Leya) ONDJAKI 1977 ANGOLA PORTUGUÊS Ganhou o Prêmio Jabuti na categoria infantil pela obra AvóDezanove e o Segredo do Soviético. Bom Dia, Camaradas (Companhia das Letras) e Os da Minha Rua (Língua Geral) KAMEL DAOUD 1970 ARGÉLIA FRANCÊS Jornalista, ganhou o prêmio Goncourt, um dos principais da língua francesa, pelo livro O Caso Meursault. O Caso Meursault (Biblioteca Azul) NAGUIB MAHFOUZ 1911 EGITO ÁRABE Único autor de língua árabe a ser laureado com o Nobel, escreveu 34 romances e mais de 350 contos. Morreu em 2006. Noites das Mil e Uma Noites (Companhia de Bolso) e O Jardim do Passado (Record) CHIMAMANDA NGOZI ADICHIE 1977 INGLÊS Vencedora do Prêmio MacArthur, a chamada “Bolsa para Gênios”, é uma importante figura do feminismo no continente. Americanah e Hibisco Roxo (Companhia das Letras) Nob el em 19 86 Nob el em 19 88 P. 14 04.2017 IN F O M A N IA Nob el em 20 03 PO R J O T A P Ê J O R G E Nob el em 19 91 309AMafricanosSHAYAMALANfreeman.indd 14 16/03/2017 16:17:31 Fig. - GH Fig. - GN Em Fragmentado, o diretor M. Night Shyamalanvolta a trabalhar com seus temas preferidos: a espiritualidade e o sobrenatural PORMARIANEMORISAWA, DE LOS ANGELES ltos e baixos acompa- nham a carreira do diretor indianoM. Night Shyamalan. Com menos de 30 anos, ele foi considerado gênio porO Sexto Sentido (1999), mas depois caiu em desgraça com produções como O Último Mestre do Ar (2010) e Depois da Terra (2013). Em Fragmentado, Shyamalan volta a fa- lar de seus temas preferidos, como o so- brenatural e a espiritualidade — no filme, James McAvoy representa Kevin, um ho- mem com pelo menos 23 personalidades e que sequestra três adolescentes. Confira a conversa da GALILEU com o diretor. O QUE INSPIROU ESSA HISTÓRIA? Sempre tive interesse no transtorno dissociativo de identidade. Criei o Kevin há 15 anos. Eu tinha algumas páginas de desenvolvimento do personagem e certas cenas, mas não a história completa. O FILME FALA QUE SE A ALMA ESTÁ SOFRENDO, ESTÁ EVOLUINDO. FOI UMA INTENÇÃO PROVOCAR O ESPECTADOR COM ESSE CONCEITO? Nos meus filmes, os marginalizados, os que são considerados fracos, os que têm problemas são, na verdade, poderosos. Em Fragmentado, eles falam sobre essa filosofia de que quem não sofreu não teve chance de se tornar a melhor versão de si mesmo. E VOCÊ JÁ SE SENTIUMARGINALIZADO? Escrevo sobre personagensmarginalizados e empo- deradores, mas não sei, acho que preciso de terapia para responder a essa questão. Pode ter a ver com a experiência de ser imigrante nos Estados Unidos. VOCÊ TEVE TANTO GRANDES SUCESSOS QUANTO FILMES QUE FORAMCRITICADOS DURAMENTE. FICOU NERVOSO AO EXIBIR FRAGMENTADO PELA PRIMEIRA VEZ PARA O PÚBLICO? Estou fazendo isso há algum tempo, então não fico confuso ou amargo. Muitas vezes, o filme simples- mente não é o que as pessoas esperavam. O impor- tante é que eu esteja artisticamente satisfeito com o que fiz. Nesse caso [do filme Fragmentado], é algo diferente e único — se as pessoas não gosta- rem, tudo bem, porque representa meus valores. A popularidade não deveria fazer parte da equa- ção, mas é claro que quero agradar. DEUSÀ PROCURA DERESPOSTAS Programa apresentado pelo ator Morgan Freeman investiga como as pessoas lidam com a religião POR ISABELAMOREIRA CONHECIDO POR INTERPRETAR Deus no cinema, Morgan Freeman não gosta de ser comparado à figura religiosa. “Tenho curiosida- de de conhecer as pessoas, seus contextos sociais e estruturas culturais”, contou o ator em entrevista à GALILEU. Esse foi um dosmotivos que fizeram comque ele concordasse em apresentarA História de Deus, produção que viaja omundo conhecendo as diferentes interpretações de fé. Em sua segunda temporada, o programa encontra um novo desafio: entender a relação, muitas vezes conflituosa, entre ciência e religião. “Vários cientis- tas acreditam que a ciência é uma espécie de substituta de Deus”, diz Freeman. “Mas há outros tantos pesquisadores que veem a ciência como uma forma de investigar o mundo.” Para o produtor-executivo Ja- mesYounger, a ciência e a religião podem coexistir de umamaneira interessante. Enquanto a ciência fala do Big Bang para explicar o início do universo, por exemplo, os religiosos citam o Gênesis. “É o mesmo fenômeno visto de dife- rentes perspectivas, mas uma não anula a outra”, afirmaYounger. A segunda temporada de AHistória de Deus estreia no dia 16 de abril, às 20h30, no canal pago NatGeo. Kevin, pro- tagonista de Fragmentado, possui 23 per- sonalidades A Fragmentos deShyamalan P. 1504.2017 309AMafricanosSHAYAMALANfreeman.indd 15 16/03/2017 16:17:32 ario e seus amigos estão de volta. Enquanto Sony e Microsoft iniciam a geração 4k dos videogames, a Nintendo investe no entretenimento junto com amigos por meio do Switch, que chegou às lojas de boa parte do mundo no dia 3 de março. A proposta de interação fica evidente no próprio design do videogame, que conta com dois “Joy-Con” — mini-joysticks que, quando unidos a uma base ou à tela portátil do console, viram um só. OSwitch conta comdois mini-joysticks quepodem seracoplados emumatela portátil SabeoMario? Elevoltou! O Switch também conta com uma tela própria que permite aos jogadores usufruir dos games em qualquer lugar. Para quem preza a qualidade visual, basta acoplar o dispositivo central a uma TV para que os gráficos do jogo alcancem o padrão dos videogames atuais. Entre os jogos disponíveis estão franquias clássicas, como Zelda: Breath of the Wild e Super Mario Odyssey. Apesar de ainda não ter data de lançamento no Brasil, o sucesso de vendas mostra que o Switch atingiu seus objetivos e que muitos gamers ainda se interessam pelo conteúdo da empresa japonesa, cuja proposta é diferente do conceito das companhias que buscam in- cansavelmente jogos cada vez mais reais. Nada de game over para a Nintendo! Novo lançamento da icônica empresa japonesa, Nintendo Switch aposta na interatividade e no entretenimento entre amigos PORDIEGOBORGES M FICHA TÉCNICA PESO:400 gramas ARMAZENAMENTO: 32 GB de memória interna. Há possibi- lidade de comprar um cartão de memória com 2 TB BATERIA: Interna, com duração de duas horas e meia a seis horas P. 16 04.2017 TECNOLOGIADESCOMPLICADA 309AMtechtudo.indd 16 16/03/2017 16:09:35 Fig. - GN Fig. - GH DO MOTO G AO CELULAR DA COBRINHA Feira mundial apresenta tendências para os smartphones — e uma delas é deixá-los mais parecidos com os aparelhos do início dos anos 2000 POR THÁSSIUS VELOSO* FEIRAMAIS IMPORTANTEDETECNOLOGIA da Europa, o Congresso Mundial de Celulares (MWC) aconteceu entre os dias 27 de fevereiro e 2 de março em Barcelona, na Espanha, com lançamentos para todos os gostos (e bolsos). Foram apresentados desde aparelhos desen- volvidos comalta tecnologia, comooXperiaXZ Premium, até a releitura do Nokia 3310, que fez sucesso nos anos 2000 por ter fama de indestrutível e, claro, pelo jogo da cobrinha. WORK,WORK, WORK,WORK Quais os melhores aplicativos para trabalhar a distância? PORMELISSA CRUZ ENQUANTOOBRASIL pulava Carnaval, a feira de celulares MWCacontecia emBarcelona. Para transmitir as informações emmeio à folia, o TechTudo utili- zou plataformas emnuvem e aplicativos de comunicação— e recomenda osmelhores servi- ços para trabalhar a distância. @techtudo_oficial /techtudo @TechTudo NOKIA 6 Nokia O celular opera com oAndroid 7 Nougat e possui tela de 5,5 polegadas em Full HD. A câmera principal do smartphone tem 16me- gapixels e é integrada ao Google Assistente.*O jornalista viajou a convite do GrupoTCL LG G6 LG O destaque do aparelho é a tela gigante, com 5,7 polegadas e pro- porção widescreen de 18:9. As cores de fotos e vídeos são extremamente vivas. NOKIA 3310 Nokia O celular ganhou novas cores, mas seus recur- sos são similares aos do modelo antigo: só fun- ciona em rede 2G e não rodaWhatsApp. O jogo da cobrinha está de volta, agora em cores! XPERIA XZ PREMIUM Sony Ganhou uma função de câmera lenta poderosíssima. Ela capta a cena em quase 1.000 quadros por segundo, preservando as cores. BLACKBERRY KEYONE TLC A digitação no teclado físico é desajeitada, e o usuário pode levar algum tempo para (re)aprender a manuseá-lo. Roda com o Android 7 Nougat. MOTO G5 PLUS Motorola Recebeu um corpo com alumínio no lugar do plástico para au- mentar a durabilidade. O botão Home passou a entender gestos mais complexos feitos com os dedos. TRELLO O gerenciador de tarefas é útil para fazer o planeja- mento da equipe de manei- ra remota e controlar os fluxos de trabalho. Está disponível em dispositivos móveis para Android e iOS. GOOGLE DRIVE E DROPBOX Serviços de armazenamento em nuvem são importantes na hora de transferir arquivos sem perder a qualidade de fo- tos e vídeos, por exemplo. WHATSAPP Para que o time se comuni- que em tempo real de ma- neira prática, o aplicativo de mensagens continua sendo a melhor solução. TWITTER E FACEBOOK As redes sociais são boas aliadas para receber notícias de diferentes assuntos em tempo real. P. 1704.2017 309AMtechtudo.indd 17 16/03/2017 16:09:52 NOVOAPP ÉPOCA A história por trás de tudo que acontece no Brasil e no mundo, na palma da sua mão. E FAÇA PARTE DA HISTÓRIA LEIA Tenha acesso às edições semanais e a todo conteúdo de ÉPOCA em seu celular ou tablet, totalmente adaptados à tela. DISPONÍVEL PARA ENVIE UM SMS GRÁTIS COM A PALAVRA ÉPOCA PARA 30133 E BAIXE O APLICATIVO SÃOSEUSOLHOS Saiba como foram inventadas e entenda do que são feitas as lentes de contato —POREDUARDAENDLER* á cerca de 500 anos o italiano Leonardo da Vinci já cogitava acabar com problemas de vi- são por meio do desenvolvi- mento de uma espécie de len- te que poderia ser posta na superfície do globo ocular. Mas ele nunca tirou a ideia do papel, e as lentes que conhe- cemos hoje ainda demoraram bastante para aparecer. O que impulsionou sua fabricação não foi a vontade de corrigir o grau, e sim a necessidade de proteger os olhos. Antigamente, as lentes eram feitas de forma rudimen- tar, com vidro, e encaixadas nos olhos dos guerreiros que andavam por ambientes inós- pitos e vivenciavam situações difíceis, como tempestades de areia. Esse modelo lembra as lentes esclerais, usadas ainda hoje por quem tem anomalias nas córneas. Foi só em 1929 que William Feinbloom desen- volveu uma lente de contato produzida com vidro e plás- tico. Entretanto, continuava sendo um material muito rí- gido, que causava desconforto no usuário. As lentes de con- tato gelatinosas, consideradas por alguns médicos oftalmo- logistas como mais confortá- veis e maleáveis, só foram in- ventadas nos anos 70. Hoje, ainda existem lentes dos dois tipos: rígidas e gela- tinosas. As rígidas não preci- sam de hidratação após o tor- neamento computadorizado e o polimento; as gelatinosas, por sua vez, precisam. H *Com apuração de Cartola —Agência de Conteúdo Foto: Tomás Arthuzzi / Editora Globo Fontes: Viviane N. Uebel (CREMERS 24178), diretora técnica do Hospital Banco de Olhos de Porto Alegre; Brunno Dantas, membro titular da Sociedade Brasileira de Oftalmologia; e Luis Ricardo Del Arroyo Tarragô Carvalho, médico oftalmologista do Hospital São Lucas da PUCRS Aprimeira lente de contato da história foi feita comvidro e plástico SILICONE- HIDROGEL Este elemento, que faz parte das lentes de hidrogel associa- das ao silicone, possibilita que as lentes deem maior capacidade de oxigenação aos olhos. FLUORCARBONO O carbono está presente em qua- se todas as ma- térias do planeta e é indispensável para a vida huma- na. Na lente de contato, unido ao flúor, garante um material estável. HIDROXIETIL- METACRILATO (HEMA) É uma espécie de “plástico” que tem a capacidade de se hidratar. É usado nas lentes de hidrogel, conhecidas como “gelatinosas”. FLUORSI- LICONE O silicone, quando associado ao fluorcarbono, gera este novo material que também facilita a chegada de oxigênio ao olho do usuário. ÁGUA Toda lente tem uma porcentagem de água, que pode chegar a 60%. A função da água é aumentar o conforto com a hidratação e auxiliar na oxige- nação da córnea. 20 ELEMENTAR LENTE DE CONTATO C 6 H 1 O 8 H 1 O 8 C 6 F 9 309Elementar.indd 2 16/03/2017 12:50:46 Congresso Federal coloca as cartas namesa e discute a legalização dos jogos de azar com a expectativa de arrecadar impostos de um mercado bilionário que atualmente opera demaneira ilícita Antes de ser conduzido À cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes passou por uma sabatina de 12 horas no Senado. Enquanto sua careca refletia a iluminação do auditório onde acontecia a sessão, o ex-ministro da Justiça expôs sua opinião sobre diferen- tes temas, incluindo a legalização dos jogos de apostas no Brasil. “A Constituição nem determi- na nem proíbe a questão de jogos de azar, isso entra na opção do legislador, ou seja, do Congresso Nacional”, disse Moraes em res- posta ao senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE) em sessão realizada no final de fevereiro. Após afirmar que a decisão sobre a legalização dependia dos parla- mentares, o jurista elogiou o mo- delo de negócio norte-americano de cassinos, que integra opções de lazer para toda a família. O interesse dos três poderes da República em discutir os jogos de azar no Brasil não é mera opção cultural: de acordo com os proje- tos que tramitam no Congresso Nacional, a legalização de cassi- nos, bingos, apostas eletrônicas e do jogo do bicho seria responsável por um aumento na arrecadação de tributos de mais de R$ 29 bi- lhões, em um período de três anos. Na avaliação doMinistério Público e da Receita Federal, no entanto, a ausência de fiscalização das casas de jogos daria margem para a prá- tica de atividades menos lúdicas, como a lavagem de dinheiro. Enquanto o debate prossegue em Brasília, um mercado bilioná- rio opera à margem da lei: espe- cialistas no setor afirmam que o jogo do bicho, considerado uma contravenção penal, movimen- ta anualmente cerca de R$ 12 bi- lhões com apostas sem nenhum tipo de supervisão do Estado. DOSSIÊ JOGOSDEAZAR DESIGN JOÃOPEDROBRITOREPORTAGEM THIAGO TANJI 21 F A Ç A M S U A S Foto: Getty Images/Dorling Kindersley 309DossieJogosAzar.indd 21 15/03/2017 17:30:50 POR UM GOLPE DE SORTE Brasil é um dos poucos países domundo que proíbe jogos de azar como os praticados em cassinos e bingos— atualmente, as apostas legalizadas se restringem à Loteria da Caixa Fede- ral, administrada pelo Estado e que em 2016 arrecadou R$ 12,8 bilhões. Outras nações que não autorizam essas atividades são Cuba, Islândia e países de maioria muçulmana, como Arábia Saudita e Indonésia. Mas emtempos devacasmagras nas contas públicas, o jeito é também fazer uma fezinha. Ainda em 2015, a presidente Dilma Rousseff conver- sou comministros e parlamentares sobre a possibilidade de legalizar os jogos de azar com a justificativa de aumentar a arrecadação do Estado com impostos sobre a operação dos estabelecimentos. Hoje, duas propostas sobre o tema avançam no Congresso Nacional. De autoria do senadorCiro Nogueira (PP-PI), o Projeto de Lei nº 186/2014 autoriza a concessão de operação para cassinos, bingos, apostas virtuais e jogo do bicho — o texto segue para votação no plenário. Na Câmara dos Deputados, os parlamentares aprovaram em agosto do ano passa- do o Marco Regulatório dos Jogos no Brasil, que debate a legalização das atividades de apostas e as tributações sobre empresas e jogadores. Com o cenário favorável, donos de redes internacionais de cassinos já estudampossíveis locais para a abertura de estabelecimentos de apostas, que enfrentam resistência da bancada evangélica do Congresso e de par- lamentares receosos com a possibilidade de que a legalização dos jogos darábrechapara apráticadeatividades ilícitas, como lavagemdedinheiro. “Odebatefica restrito aquestõesmorais, enquantonomundo inteiro o as- suntoétratado comoumaatividadeeconômica”, afirmaMagnoJoséSantos de Sousa, presidente do Instituto Jogo Legal, que defende a legalização. O B R A S I L Em pauta desde o governo Dilma Rousseff, projeto de legalização de cassinos é discutido por senadores e deputados federais Foto: Getty Images/Steve McAlister • Ícones: Gabriela Namie 309DossieJogosAzar.indd 22 15/03/2017 17:30:54 COM OS ADORNOS DE FLORES e frutas pendurados na cabeça, Carmen Miranda era uma das es- trelas do Cassino da Urca, estabe- lecimento com vista privilegiada para a Baía de Guanabara. Por lá, personalidades da sociedade ca- rioca se divertiam ao lado de con- vidados estrangeiros, como o ain- da jovemOrsonWelles, eternizado em Hollywood após dirigir o filme Cidadão Kane. Legalizado pelo go- verno de Getúlio Vargas, os cassi- nosfizeramparte do cotidianodos brasileiros endinheirados durante asdécadasde 1930e 1940—quase 70estabelecimentos operaramem cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Petrópolis e Santos. Em 1946, no entanto, o presi- dente Eurico Gaspar Dutra proibiu o funcionamento dos cassinos por conta dos “abusos nocivos àmoral e aos bons costumes”. Boatos da época diziam que a proibição foi um pedido de Carmela Dutra, es- posa do presidente, que era ligada a setores conservadores da Igreja Católica. “Era uma ideia pautada em uma concepção moralista, de que casas de jogos seriam um am- biente propício ao álcool e à práti- ca da prostituição”, conta Alamiro Salvador Netto, professor da Fa- culdade de Direito da USP. Apartir daí, os jogos foram enquadrados como contravenção penal, infra- ção considerada um “crime menor” pelo Código Penal. mpresas de apostas esportivas permi- tem aos brasileiros utiliza- rem seus serviços por conta de uma brecha da legislação: os servidores dessas compa- nhias estão sediados em pa- íses onde é permitida a reali- zaçãodaatividade.Deacordo com Pedro Trengrouse, pro- fessor da Fundação Getúlio Vargas que publicou um es- tudo sobre o tema, a regula- mentação dos sites de apos- tas no país geraria mais de R$ 2,7 bilhões em impostos. E C YES, NÓS TIVEMOS LAS VEGAS Cidades brasileiras já abrigaram cassinos de luxo Mercado nacional de apostas rende arrecadação bilionária APOSTAS NO BRASIL SÃO REALIZADAS EM SITES ESTRANGEIROS HISTÓRIA DE CONFLITOS DAMEGA-SENA AO JOGO DO BICHO É PROIBIDO, MAS NEM TANTO 1920 O presidente Epitá- cio Pessoa permite que casas de apostas sejam construídas em ins- tâncias de turismo 1930 Após umperíodo de proibição, a cons- trução de cassinos é retomada com a presidência de GetúlioVargas 1933 É inaugurado no Rio de Janeiro o Cassino da Urca, estabeleci- mento luxuoso que receberia estrelas internacionais 1946 No dia 30 de abril, o presidente Eurico Gaspar Dutra assi- na um decreto que fecha os quase 70 cassinos do país 1993 A Lei Zico legaliza os bingos com a justificativa de recolher impostos e estimular os es- portes olímpicos 2004 Após denúncias de corrupção, o pre- sidente Luiz Inácio Lula da Silva decre- ta o fechamento das casas de bingos LOTERIAS DACAIXA Desde 1962 a Caixa Econômica Federal controla jogos como a Mega-Sena e a Loteca: em 2016, foram arrecadados R$ 12,8 bilhões CORRIDADECAVALOS A legislação brasileira permite que apostas sejam realizadas nos eventos ligados aos Jóqueis Clubes do Brasil BINGOS Mesmo após a proibição em 2004, especialistas afirmamque casas ilegais do jogo arrecadam R$ 1,3 bilhão anualmente JOGODOBICHO Operando à margem da lei durante todo o século 20, o jogo funciona até hoje como uma loteria informal e tem receita de R$ 12 bilhões 23 309DossieJogosAzar.indd 23 15/03/2017 17:30:56 M U N D O NAS PRIMEIRAS HORAS do dia 1º de janeiro de 1959, a população de Havana acordou com a notí- cia da vitória do exército liderado por Fidel Castro e da consequen- te renúncia de Fulgencio Batis- ta, que ocupava o poder de modo ditatorial desde 1952. Homens e mulheres saíram às ruas e se di- rigiram contra os maiores símbo- los de corrupção do regime de- posto: cassinos foram ocupados e máquinas caça-níqueis instala- das em bares foram quebradas. Durante os anos de ditadura, Ba- tista manteve relações próximas com mafiosos norte-americanos comoMeyer Lansky, que constru- íram hotéis luxuosos e estabele- cimentos de apostas destinados a turistas. Depois da vitória de Fidel, cassinos e casas de prosti- tuição foram fechados e o jogo de azar foi proibido em Cuba. N VIVA LA REVOLUCIÓN Fidel Castro teve apoio do povo contra cassinos esde que as casas de apostas foram legaliza- das no Reino Unido, em 1961, 9 mil estabelecimentos estão espalhados pelo território bri- tânico e recebem palpites tão diversos quanto pode ser a cria- tividade humana — em 2000, o galês Peter Edwards apostou 50 libras que seu neto jogaria um dia pela seleção de seu país. Dito e feito: em2013, durante os jogos classificatóriospara aCopa doMundo, o jovemHarryWilson entrou em campovestindo a ca- misa doPaís deGales aos 42mi- nutos do segundo tempo. E o or- gulhoso avôpartiu para resgatar o prêmio de 125 mil libras, equi- valente amais de R$ 480mil. D BRITÂNICOS FAZEM DAS CASAS DE APOSTAS UMA CULTURANACIONAL O PAÍS ONDE TUDO VALE UMPITACO Fonte:Online Casino Directory FORTUNA Em 2014, as loterias movimentaram US$ 400 bilhões pelomundo 1.541 189-169 110-48 Países recordistas em número de cassinos 24 309DossieJogosAzar.indd 24 15/03/2017 17:31:00 o início da década de 1930, a construção de uma usina hidrelétrica entre os estados norte-ame- ricanos de Nevada e do Arizona atraiu milhares de trabalhadores para a região, que se estabeleceram nas cidades próximas ao campo de obras. Para saciar os desejos dos operários pordiversão e outras intençõesmenos nobres, o governodeNevadapermitiu a construçãode casasdeapos- tas em Las Vegas, cidade sem grandes atrativos até então. Apartirdaí, notóriosmafiososnorte-americanosdecidiram investir na região. Em 1947, Benjamin "Bugsy" Siegel, antigo contrabandista de bebidas alcoólicas durante o período da Lei Seca, inaugurouo cassino Flamingo, primeiro grande em- preendimento de apostas que integrava um hotel luxuoso e uma casade shows—nomesmoanodaabertura do cassino, Siegel foi assassinadopor inimigos. Comoaumento dafisca- lização do governopara coibir sonegaçãofiscal e lavagemde dinheiro, a má fama de Las Vegas deu lugar ao profissio- nalismo demegaempresários no setor de entretenimento: no ano passado, o estado de Nevada arrecadou mais de US$ 11 bilhões em impostos referentes aos jogos de azar. N OSMAIORES QUEBRADORES DE BANCA Equipe de Blackjack doMIT Estudantes do instituto norte-americano de tecnologia calculavam as probabilidades de quais cartas seriamviradas no Blackjack— o jogo en- volve apostas para que a soma das cartas não ul- trapasse o valor de 21. TommyCarmichael O norte-americano de- senvolveu engenhocas que eram inseridas nas máquinas caça-níqueis para fazer chover di- nheiro dos dispositivos. Foi preso em diferentes momentos das décadas de 1980 e 1990. Dominic LoRiggio Com o apelido de "O Dominador dos Dados", o jogador ofere- ce cursos que custam US$ 1,6mil para ensinar as técnicas de como ati- rar os dados no ar com perfeição e atingir as combinações apostadas. Gonzalo García-Pelayo No início da década de 1990, o espanhol obser- vou o funcionamento das roletas dos cassi- nos, registrou os resul- tados e fez uma análise em um software capaz de fornecer as tendên- cias dos resultados. PECADOS DA CIDADE DO PECADO Nascida com um empurrãozinho damáfia, LasVegas se tornou símbolo dos jogos de azar Habilidade e trapaça ajudaram a tirar dinheiro dos cassinos JOGADORES DO MUNDO, UNI-VOS Mais de 6,8 mil cassinos estão espalhados pelo planeta Foto: Getty Images/Adam Gault 122 Las Vegas 24 Londres 54 Moscou40 Talín 26 Riga 74 Miami 32 Macau 29 Deadwood 28 St. Petersburg 26 Henderson Nome da cidade Proporção em relação às demais cidades Total de cassinos As dez cidades recordistas em número de cassinos 309DossieJogosAzar.indd 25 15/03/2017 17:31:04 riado em 1892 para sortear prêmios aos frequentadores do Jardim Zoo- lógico do Rio de Janeiro, o jogo do bicho ganhou popularidade que extrapolou os muros doparque, funcionando comouma loteria informal de apostas de sequência de números. A história da contravenção penal, no entanto, também é marcada por episódios violentos. Em 2004,Waldomiro Garcia, o Maninho, foi as- sassinadonoRiodeJaneiro. Ele erafilhodeWal- demirGarcia, oMiro, umdosprincipais nomesdo jogo do bicho carioca e ex-presidente da escola de samba Salgueiro. Entre as pautas discutidas naCâmaradosDeputados está aanistia aos acu- sados de prática de exploração ilegal de jogos. Além das ligações ilícitas, a legalização de jo- gos de azar preocupa as autoridades por conta dos riscos do aumento de práticas criminosas, como a lavagem de dinheiro. "O intuito da la- vagem é criar mecanismos para retirar a apa- rência da ilicitude do dinheiro", diz João Santa Terra, coordenador de segurança institucional do Ministério Público de São Paulo. Assim, o dinheiro originado de um crime seria injetado em uma empresa — como um cassino — para ganhar a camuflagem de legalidade. Magno José Santos de Sousa, do Instituto Jogo Legal, refuta a associação entre dinheiro ilícito e a atividade de casas de apostas. "As empresas que operam cassinos são multina- cionais cotadas na Bolsa de Valores que, se co- meterem um erro em uma jurisdição, perdem o direito de atuar em outros países", afirma. C NADA PESSOAL, APENAS NEGÓCIOS Com a possível legalização, crimes ligados aos jogos de azar preocupam autoridades C R I M E S E V Í C I O história do Campeo- nato Brasileiro de 2005 teve de ser reescrita em função de um escân- dalo que abalou a imagem do futebol do país: uma in- vestigação concluiu que o árbitro Edílson Pereira de Carvalho combinara resul- tados com um grupo de apostadores. As 11 parti- das apitadas por Carvalho foram anuladas e jogadas novamente — no fim do A MANIPULAÇÕES MANCHARAM CONQUISTAS NO FUTEBOL APOSTAS FORAM RESPONSÁVEIS POR JOGO SUJO ano, o Corinthians se sa- grou campeão do torneio. Pedro Trengoruse, professor da FGV, enu- mera medidas para que episódios como esse não se repitam caso as apos- tas sejam legalizadas. "É necessário haver cam- panhas educativas,moni- toramento do padrão das apostas e punição dos envolvidos em manipu- lações de resultados."26 309DossieJogosAzar.indd 26 15/03/2017 17:31:10 20 40 60 80 100 120 EU A Ch in a Ja pã o Itá lia Au st rá lia Re in o Un id o Ca na dá Al em an ha Fr an ça Es pa nh a Co re ia do Su l Ci ng ap ur a GRANDES PERDEDORES Estados Unidos lideram entre os países cujos habitantes mais perdem dinheiro com apostas (em bilhões de dólares) TRATAMENTO O Instituto de Psiquiatria da USP conta com um ambulatório para jogadores compulsivos Leia mais sobre o tema na página 71Foto: Getty Images/Dorling Kindersley • Ícone: Gabriela Namie Fonte: H2 Gambling Capital LOCALIZADA NO BAIRRO da Armênia, em São Paulo, uma sala comercial funciona como escritório dos Jogadores Anônimos, irman- dade criada em 1957 nos Estados Unidos a fim de reunir pessoas que apresentamcompulsãopara realizar apostas. O programa de recupera- ção é inspirado nos 12 passos dos AlcoólicosAnônimos, comrealização de encontros periódicos para queos participantes compartilhem as ex- periências e lutem contra o vício. "O sonho do jogador é ganhar um bomdinheiro e terumavida tranqui- la.Mas quandoganha alguma coisa, ele esconde o dinheiro, ele mente, tudo para jogar no dia seguinte", diz um dos membros do grupo que preferiu não se identificar e está há um ano emeio sem fazer apostas. Osmembros da irmandade reve- lamque amaioria dos participantes é de homens, embora haja cresci- mento da participação demulheres idosasnas reuniões.Asmáquinas ca- ça-níqueis, por proporcionarem re- sultados imediatos, sãoasprincipais responsáveis pelo desenvolvimento dovício. "Quando paramos de jogar redescobrimos a vida, porque antes tudo girava em torno do jogo", con- ta ummembro que está hámais de 15 anos em abstinência. "Mas essa doença não tem cura: da mesma maneira que eu saí, se vacilar posso voltar e ser pior do que era antes." L "SÓPORHOJE EVITAREI A PRIMEIRA APOSTA" Jogadores compulsivos se reúnem para tratar doença 309DossieJogosAzar.indd 27 15/03/2017 17:31:18 P Ô Q U E R orte ou estratégia? Apesar de a cultura popular associar os torneios de pôquer às mesas de cassinos, a realiza- ção de campeonatos é permitida no Brasil, já que as leis nacionais consideram o jogo de cartas como uma atividade que envolve a habilidade e o raciocínio dos jogadores. “O pôquer começou de maneira amadora no país e hoje temos competições com estrutura profissional”, afirma Leo Bello, autor do livro Apren- dendo a Jogar Poker (Editora Best Seller). Formado emMedicina, Bello seguiu carreira como jogador de pôquer e ajudou a criar o BSOP, torneio brasileiro que reúne jogadores profissionais e ofe- rece uma premiação milionária aos primeiros colocados. SA ARTE DO BLEFE Opôquer é considerado um jogo de estratégia por exigir habilidade de seus praticantes Dono das cartas Amaior premiação de um torneio aconteceu em 2012, quando o iraniano Antonio Esfandiari ganhou US$ 18,3milhões Só paramilionários O torneioMonte Carlo One Drop Extravaganza de 2016 exigia umvalor de entrada de 1milhão de euros para os jogadores Jogadas virtuais Empresa proprietária do site PokerStars, a cana- denseAmaya lucrou US$ 55,5milhões no pri- meiro trimestre de 2016 Campeonato nacional Disputado na cidade de São Paulo, o torneio bra- sileiro BSOPMillions 2016 reuniumais de 2,5mil jo- gadores profissionais É do Brasil! Alexandre Gomes, André Akkari e Thiago Decano são os três brasileiros que já conquistaram o campeona- tomundial de pôquer COM TODAS AS FICHAS NAMESA Popularização do pôquer rende premiações milionárias e destaca brasileiros As principais combinações do Texas Hold'em, principal modalidade nos torneios de pôquer UM/DOIS PARES FLUSHTRINCA SEQUÊNCIA FULL HOUSE STRAIGHT FLUSH "ONE PAIR" "FLUSH""STRAIGHT""THREE OFA KIND" "FULL HOUSE" "STRAIGHT FLUSH" Cinco cartas de mesmo naipe, mas não em sequência Cinco cartas de naipes diferentes em sequência Três cartas iguais e duas diferentes Combinações 54.912 Combinações 10.200 Combinações 5.108 Combinações 3.744 Combinações 36 Fo to :G et ty Im ag es /L on g H a Fonte: Aprendendo a Jogar Poker (Best Seller) "TWO PAIRS" Um par de cartas iguais Dois pares de cartas iguais Combinações 1.098.240 Combinações 123.552 Uma trinca e uma dupla Cinco cartas do mesmo naipe e em sequência 309DossieJogosAzar.indd 28 15/03/2017 17:31:22 MULHERESDEOURO P.52ENTREVISTA:RONALDOLEMOS P.48 OUTRATEORIADAGRAVIDADE P.64RENDABÁSICA P.58 ILUSTRAÇÃO YORKA SUMÁRIO DEMATÉRIAS ENSAIO:RINOCERONTES P.42CAPA:DESIGUALDADEFAZMALÀSAÚDE P.30 309SumarioMaterias.indd 29 16/03/2017 16:11:33 FOTOSDULLA DESIGN INARANEGRÃO EDIÇÃOGIULIANADE TOLEDO REPORTAGEMMARÍLIAMARASCIULO 30 309DESIGUALDADEsaude.indd 30 16/03/2017 15:53:29 A SUA LONGEVIDADE DEPENDEDADO SEUVIZINHO. A CIÊNCIAMOSTRAQUE TODOS, RICOS E POBRES, SÃOMENOS SAUDÁVEIS EMPAÍSES COMGRANDES DIFERENÇAS SOCIAIS COMOOBRASIL A G A L I L E U A D V E R T E : DESIGUALDADE FAZ MAL À SAÚDEG 31 309DESIGUALDADEsaude.indd 31 16/03/2017 15:53:35 NO NO INVERNO de 1846, uma epidemia de tifo, doença bac- teriana transmitida por pul- gas que causa febre alta, de- lírios e erupções cutâneas, assolava a região da Silésia, norte da Alemanha, provo- cando a morte de mais de 15 mil pessoas. Sem saber o que fazer, o governo prussia- no enviou ao local uma comi- tiva chefiada pelo jovem mé- dico polonês Rudolf Virchow. Em 16 dias, ele chegou a uma conclusão: a epidemia era evitável, pois tinha como cau- sas a pobreza, a fome, a cor- rupção e a desigualdade. Além de formular leis que funcionavam só no papel, a aristocracia não reconhecia os mineradores de classes mais baixas como seres hu- manos. “É preciso dei- xar claro que não é mais po afetava crianças e adultos na Baixada Fluminense, norte do Rio de Janeiro, naquele que seria o retorno das epidemias de dengue no Brasil. Um mi- lhão de pessoas foram amea- çadas só no Rio; o total de ca- sos chegou a 33.568 no país, 12.480 dos quais na capital fluminense. As condições da Baixada, com alta insalubrida- de, aglomerados de pessoas e falta de informação sobre a prevenção — eliminar focos de água parada, essenciais para a reprodução do mos- quito —, eram perfeitas para a proliferação da doença. Trinta e um anos depois, pouco mudou. A dengue se espalhou pelo país e chegou a capitais como São Paulo, onde bairros como a Brasilândia, periferia na zona norte re- cordista no número de casos na cidade, convivem com ela há pelo menos seis anos. Há dois, transformou-se em uma nova epidemia: em seu auge, em 2015, foram 3,6 mil casos a cada 100 mil habitantes — para se ter uma ideia, uma doença é considerada epidê- mica quando existem mais de 300 casos por 100 mil habi- tantes em uma região. uma questão de tratar um ou outro paciente com remé- dios, comida, moradia e rou- pas”, escreveu o médico em seu relatório. “Se nós de fato quisermos intervir na Silésia, temos de promover o avan- ço de toda a população e es- timular um esforço comum.” Naquela época, quando as cau- sas das doenças ainda eram desconhecidas e acabavam sendo atribuídas a miasmas, as ideias de Rudolf Virchow provocaram incômodo. No verão de 1986, uma doença que causava febre alta, manchas e dores no cor-32 309DESIGUALDADEsaude.indd 32 16/03/2017 15:53:55 Lixões e esgoto a céu aber- to, casas coladas umas nas outras, falta de informação sobre como se prevenir e fal- ta de drenagem das águas de chuvas de verão permanecem cenários perfeitos para a pro- liferação do mosquito, que depois chegou a outros bair- ros da cidade. Na Brasilândia, os moradores já não se per- guntam se terão dengue, mas quando. E, enquanto a situa- ção permanecer igual àquela da Baixada em 1986, não é exagero dizer que eles têm ra- zão. “As epidemias não apon- tam sempre para deficiências da sociedade? Pode-se consi- derar como causas as condi- ções atmosféricas, as mudan- ças cósmicas gerais e coisas parecidas, mas em si e por si esses problemas nunca cau- sam epidemias. Elas só po- dem existir onde, devido a condições sociais de pobreza, o povo viveu durante muito tempo em uma situação anor- mal”, disse Virchow no século 19, em uma constatação que parece cada vez mais atual. O médico polonês é tido como um dos pais da medi- cina social, área que estuda como a estrutura social de- termina a saúde da população. Se em 1846 Virchow foi con- siderado revolucionário por apontar a pobreza como de- terminante de uma epidemia, algo que atualmente é aceito na medicina, os pesquisadores da área enfrentam hoje outro desafio: mostrar como a de- sigualdade social prejudica a saúde da sociedade toda, não só a dos mais pobres. “Não adianta você se escon- der atrás de muros em con- domínios, uma hora as conse- quências vão chegar”, afirma a pesquisadora da Fiocruz Celia Landmann Szwarcwald. A dengue está aí para mostrar isso. No auge da epidemia em São Paulo, em 2015, o núme- ro de casos por 100 mil ha- bitantes chegou a quase 400 no Itaim Bibi, um dos bairros mais ricos da cidade. PROBLEMAMUNDIAL Szwarcwald é editora do suple- mento A Panorama of Health Inequalities in Brazil (Um Panorama das Desigualdades em Saúde no Brasil), publica- do no International Journal for Equity in Health no fim do ano passado. Nele estão reunidas análises realizadas com base na última Pesquisa Nacional de Saúde, divulgada em 2013. Um dos resultados que mais chamam a atenção é o de que, embora a saúde do brasileiro tenha melhora- do na sua totalidade, ainda existe uma diferença muito grande entre a expectativa de vida de cada região. Pelas estatísticas, os mora- dores da região Sudeste, por exemplo, vivem em média cinco anos a mais do que os do Nordeste. Mesmo assim, os habitantes do Sudeste têm vida mais curta que a possível nos países nórdicos, conheci- dos pelos bons índices de igualdade social. é o quanto as chances de morrer antes dos 85 anos são maiores para os mais pobres, segundo pesquisa com 1,7 milhão de pessoas 46% 33 309DESIGUALDADEsaude.indd 33 16/03/2017 15:54:00 QUEMATAM PAÍSES MAIS DE- SIGUAIS TENDEM A TER EXPEC- TATIVA DE VIDA MENOR; COM- PARE A REALI- DADEDE ALGUNS PAÍSES: RICOS E POBRES DE SAÚDE A parcela mais abastada do Brasil vive, em média, menos que a mais pobre da Suécia 43 ,15 42 ,1 60 ,79 35 ,15 38 ,8 1 41 ,5 9 51 ,6 7 53 ,5 51 ,4 8 37 ,8 5 37 ,5 9 42 ,6 7 48 ,2 1 41 ,0 6 48 ,5 3 29 ,0 8 30 ,13 3 2, 57 27 ,74 36 ,6 8 50 ,4 5 27 ,3 2 33 ,6 8 34 ,9 4 33 ,1 3 5, 16 35 ,8 9 32 ,11 63 ,3 8 ÍN DI CE DE IG UA LD AD E GI NI * EXPECTATIVA DEVIDA, EMANOS HOMEM Expectativa de vida na Suécia, por faixa de renda** Expectativa de vida no Brasil, por faixa de renda MULHER Um quarto mais pobre da população 76 82,1 Segundo quarto mais pobre 81,3 83,7 Segundo quarto mais rico 83 84,7 Um quarto mais rico 84,4 86,4 Zero a meio salário mínimo 65 70 Mais de meio a um salário 63 72 Mais de um a dois salários 67 73 Mais de dois a cinco salários 69 74 Mais de cinco a dez salários 72 75 Mais de dez salários 75 77 Áf ric a do Su l Zi m bá bu e Re pú bl ic a De m oc rá tic a do Co ng o H ai ti Ín di a Bu tã o Rú ss ia Co lô m bi a Ta ilâ nd ia Ar ge nt in a Es ta do s Un id os Di na m ar ca Re in o Un id o Gr éc ia Su éc ia Au st rá lia Es pa nh a Pa ra gu ai Br as il Vi et nã M éx ic o Co st a Ri ca Al em an ha Fi nl ân di a Ch ile Ca na dá Itá lia Fr an ça Ja pã o 57 ,18 57 ,5 58 ,6 6 62 ,7 5 68 ,0 1 69 ,4 7 70 ,3 7 73 ,9 9 74 ,4 2 76 ,16 78 ,9 4 80 ,5 5 81 ,0 6 81 ,2 9 81 ,9 6 82 ,2 5 83 ,0 8 72 ,9 2 74 ,4 75 ,6 3 76 ,7 2 79 ,4 80 ,8 4 81 ,13 81 ,5 81 ,9 6 82 ,6 9 82 ,3 7 83 ,5 9 309DESIGUALDADEsaude.indd 34 16/03/2017 15:54:08 “ASDESIGUALDADESTÊMCUSTOALTO PARAOSSISTEMASDESAÚDE. A LONGO PRAZO, TODOSPAGAMPORELAS” O problema, no entanto, não está restrito ao Brasil, mostra outro estudo publi- cado em fevereiro na revista médica britânica The Lancet. Feita com 1,7 milhão de pes- soas de Reino Unido, França, Suíça, Portugal, Itália, EUA e Austrália, a pesquisa mostrou que o risco de morrer antes dos 85 anos é 46%maior en- tre os mais pobres. “Embora a saúde dos mais ricos não esteja necessariamente amea- çada, as desigualdades têm um custo alto para a socie- dade e para os sistemas de saúde, então, a longo pra- zo, todos pagam por elas”, diz a epidemiologista Silvia Stringhini, da Universidade de Lausanne, na Suíça, uma das autoras do estudo. No mais recente Relatório Mundial de Ciências Sociais, divulgado emmarço, a Organi- zação das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cul- tura (Unesco) também desta- ca que “o acesso desigual à assistência médica pode ser uma fonte de descontenta- mento social e político”. CONTRA A CORRENTE A associação entre pobreza e doença parece óbvia, mas a discussão proposta pelos especialistas vai além do ris- co de contrair doenças e tra- tá-las. Para entendê-la, é pre- ciso primeiro compreender o que é saúde. Segundo o conceito formulado em 1947 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), “é o estado de mais completo bem-estar fí- sico, mental e social, e não apenas a ausência de enfer- midade.” O campo abrange a biologia humana, na qual en- tram a herança genética e os processos biológicos do enve- lhecimento; o meio ambiente, que vai desde o local de mo- radia até o de trabalho e a ali- mentação disponível; o esti- lo de vida, do qual resultam decisões como fumar, beber, praticar exercícios; e a orga- nização da assistência de saú- de, que são os hospitais, mé- dicos, medicamentos. E aí tudo começa a com- plicar. Dentro da própria me- dicina, existem aqueles que, embora reconheçam a in- fluência do ambiente na saú- de, atribuem maior importân- cia às causas biológicas das doenças. É uma corrente de pensamento que surgiu no sé- culo 17. Um dos maiores pre- cursores foi o médico inglês Thomas Sydenham, um dos primeiros a valorizar a ob- servação e a classificação das doenças para o diagnóstico e tratamento, em vez de buscar as causas. Sydenham influen- *Q ua nt o m ai s pr óx im o de ze ro ,m ai s ig ua lit ár io é o pa ís |* *C al cu la da pa ra ho m en s e m ul he re s ao s 30 an os FO NT ES :B an co M un di al ,S ta tis tic s Sw ed en (2 01 3) e Ip ea co
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