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Alerta máximo de temporais no Rio DOMINGOS PEIXOTO Cemaden emitiu o aviso de “grande perigo” de fortes chuvas principalmente no Grande Rio, na Região Serrana e no litoral sul nos próximos dias. Defesas Civis foram mobilizadas. PÁGINA 22 Transição. O céu carioca visto do Centro ainda teve sol no primeiro dia do outono. Nova estação terá calor intenso e temperaturas altas, e já começa com risco de transtornos GABRIEL DE PAIVA Caminhos para o consenso Evento na sede da Editora Globo debateu desafios do Brasil no ano de presidência do G20 e trunfos do país como políticas sociais e papel na transição energética. PÁGINA 17 — Vira isso pra lá, Lula! Entreouvindo o Bolso OGLOBO Irineu Marinho (1876-1925) (1904-2003) Roberto Marinho RIO DE JANEIRO, QUINTA-FEIRA, 21 DE MARÇO DE 2024 ANO XCIX - Nº 33.099 • PREÇO DESTE EXEMPLAR NO RJ • R$ 6,00 AAutoridade da Concorrência da França aplicou multa de R$ 1,3 bilhão ao Google por descumprir acordo que o obriga a remunerar veículos de mí- dia pelo uso de seu conteúdo e proíbe utilizar as notícias para treinar algoritmos de IA. PÁGINA 12 França multa Google por uso do conteúdo de jornais sem pagar e para treinar robôs Após acordo entre o governo e deputa- dos, a Câmara aprovou o projeto de lei do Novo Ensino Médio, que institui altera- ções na carga horária mínima exigida e nas regras para cursos técnicos. PÁGINA 10 Projeto que promove mudanças no ensino médio passa na Câmara Ministério Público estadual acusa policiais de fazer a segurança do bicheiro, que pagava mais de R$ 200 mil mensais pelo serviço. Um PM ainda está foragido. PÁGINA 23 Operação prende 19 policiais do ‘batalhão’ de Rogério de Andrade Condenado em 1ª instância por estupro, jogador pagará fiança e aguardará recur- sos em liberdade, sem sair do país. PÁGINA 27 Justiça da Espanha concede liberdade provisória a Dani Alves Deputado Pedro Paulo, do PSD, é o preferi- do do prefeito para o posto na reeleição. Es- colha desagrada a possíveis aliados. PÁGINA 8 Paes sinaliza descartar PT na vice e quer formar chapa ‘puro-sangue’ O contraste das sentenças de Robinho e Daniel Alves PÁGINA 2 MERVAL PEREIRA Solução do caso Marielle não será derrota do crime organizado PÁGINA 3 MALU GASPAR Inflação e atividade econômica não justificam só mais um corte PÁGINA 12 MÍRIAM LEITÃO O Comitê de Política Econômica (Copom) do Banco Central cortou em mais meio ponto a Ta- xa Selic, o que já era esperado, mas deixou aber- ta a possibilidade de que o ritmo da queda dos ju- ros se desacelere em médio prazo. Se, nos en- contros anteriores, o Copom sinalizava manter a redução em meio ponto “nas próximas reuni- ões”, a frase veio no singular no comunicado de ontem. Ou seja, a Selic, agora em 10,75%, deve cair a 10,25% em maio, mas depois há incerteza. OBC justifica que o cenário externo exige “cau- tela” e adverte que o processo desinflacionário no Brasil tende a ser mais lento. Economistas avaliaram que a decisão permite ao Copom ga- nhar flexibilidade para se precaver, no futuro, de eventuais subidas inflacionárias. PÁGINA 11 BC baixa juros a 10,75%, mas abre espaço para reduzir ritmo da queda ‘CAUTELA’ Copom só confirma novo corte de meio ponto da Taxa Selic em mais uma reunião Por 9 votos a 2, o STJ decidiu que o ex-jogador Robinho deve cumprir no Brasil a pena de nove anos sentenciada pela Justiça da Itália, que o condenou por estupro em 2022. A Corte deter- minou que uma vara de Santos deve expedir o mandado de prisão. A defesa recorrerá da deci- são e tentará ainda um habeas corpus. PÁGINA 28 STJ determina que Robinho cumpra no Brasil pena por estupro Corte ordena execução imediata, em regime fechado, da sentença italiana. Defesa vai recorrer ACâmara aprovou o projeto que limita a chamada “saidinha” da prisão. Hoje, presos com bom com- portamento e que não cometeram crimes graves podem sair para visitar a família e fazer atividades de ressocialização nos feriados e frequentar cur- sos. Pela nova lei, só a última será permitida. O tex- to agora vai para sanção ou veto de Lula . PÁGINA 9 Congresso aprova lei que restringe ‘saidinhas’ da prisão Depois de alijar da corrida eleitoral María Co- rina, principal líder da oposição a Maduro, Justiça determinou a detenção de alguns de seus auxiliares próximos, alegando que orga- nizavam um motim. Após decisão, Corina disse que foi o “dia da infâmia” no país. PÁGINA 16 Assessores de líder da oposição são presos na Venezuela APresidência da República localizou as 261 peças do mobiliário do Palácio da Alvorada que haviam sido dadas como desaparecidas. Opresidente Lula chegou a acusar Bolsonaro de ter “levado tudo”, e o sumiço foi a justificativa para uma compra de móveis no valor de R$ 196 mil. O ex-presidente afirmou que seu sucessor fez “falsa comunicação de furto”. PÁGINA 6 Móveis ‘desaparecidos’ do Alvorada são encontrados ESTAVA TUDO LÁ Executivo da Vivo diz buscar quem toma de- cisões corajosas e dá um “valor enorme” aos curiosos. Para ele, bem-estar deve ser pilar da gestão, e carga de trabalho nem sempre é ra- zão direta para ambiente nocivo.PÁGINA 15 ‘Queremos quem fez escolhas inusitadas’ PALAVRA DE CEO/CHRISTIAN GEBARA Mexer nas coisas de minha mãe me causou menos tristeza do que antevi. Meses depois de sua morte, percebo que o casaco fininho ou a camiseta escrito “saúde”não são ela. Com a sua letra em papéis aleatórios foi diferente. Cada receita ou telefone anotado e as memórias de quando eu era bebê são a sua pegada, a prova irrefutável de que houve vida. Ela escreveu em mim. PÁGINA 19 O que a letra da minha mãe escreveu em mim LEDA BALBINO VIVI PARA CONTAR Redes antissociais: Livro de Cathy O’Neil condena ‘tribunal da internet’ — e busca alternativas SEGUNDO CADERNO Product: OGlobo PubDate: 21-03-2024 Zone: Nacional Edition: 1 Page: PAGINA_A User: asimon@oglobo.com.br Time: 03-20-2024 22:49 Color: 2 | Quinta-feira 21 .3 .2024 | OGLOBO Opinião do GLOBO Princípios editoriais do Grupo Globo: http://glo.bo/pri_edit CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO PRESIDENTE: João Roberto Marinho VICE-PRESIDENTES: José Roberto Marinho e Roberto Irineu Marinho O GLOBO é publicado pela Editora Globo S/A. DIRETOR-GERAL: Frederic Zoghaib Kachar DIRETOR DE REDAÇÃO E EDITOR RESPONSÁVEL: Alan Gripp EDITORES EXECUTIVOS: Letícia Sander (Coordenadora), Alessandro Alvim, André Miranda, Flávia Barbosa, Luiza Baptista e Paulo Celso Pereira EDITOR DO IMPRESSO: Miguel Caballero EDITOR DE OPINIÃO: Helio Gurovitz Rua Marquês de Pombal, 25 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ CEP 20.230-240 • Tel.: (21) 2534-5000 Fax: (21) 2534-5535 EDITORES Política e Brasil: Thiago Prado - thiago.prado@oglobo.com.br Rio: Rafael Galdo - rafael.galdo@oglobo.com.br Economia: Luciana Rodrigues - luciana.rodrigues@oglobo.com.br Mundo: Leda Balbino - leda.balbino@sp.oglobo.com.br Saúde: Adriana Dias Lopes - adriana.diaslopes@sp.oglobo.com.br Segundo Caderno: Marcelo Balbio - balbio@oglobo.com.br Esportes: Thales Machado - thales.machado@oglobo.com.br Fotografia: André Sarmento - asarmento@oglobo.com.br Home e redes sociais: Tiago Dantas - tiago.dantas@oglobo.com.br Audiência: Gabriela Goulart - gab@oglobo.com.br Acervo e Qualificação: William Helal Filho - william@oglobo.com.br SUPLEMENTOS Boa Viagem: Marcelo Balbio - balbio@oglobo.com.br Rio Show: Inês Amorim - ines@oglobo.com.br Ela: Marina Caruso - mcaruso@oglobo. com.br Bairros: Milton Calmon Filho - miltonc@oglobo.com.br SUCURSAIS Brasília: Thiago Bronzatto - thiago.bronzatto@bsb.oglobo.com.br São Paulo: Renato Andrade - renato.andrade@sp.oglobo.com.br ATENDIMENTO AO ASSINANTE www.portaldoassinante.com.br ou pelos telefones: 4002-5300 (capitais e grandes cidades) 0800-0218433 (demais localidades) WhatsApp: 21 4002 5300 Telegram: 21 4002 5300 ASSINATURA MENSAL com débito automático no cartão de crédito, ou débito automático em conta-corrente (preço de segunda a domingo) para RJ, MG, SP e ES: R$ 169,90 (O Globo não faz cobranças em domicílio) VENDAS EM BANCA Dias úteis: RJ, SP, MG e ES: R$ 6,00Domingos: RJ, SP, MG e ES: R$ 10,00 Carga tributária aproximada de 20% O GLOBO não entra em contato para cobrança de multa ou renovação da assinatura. 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Não bastasse a bronca, Ní- sia foi chamada para uma conversa pri- vada no dia seguinte. A convocação, num clima de pressão de políticos de vários partidos — inclusive do PT —, levantou suspeitas de que ela poderia cair. Por enquanto, Nísia obteve de Lu- la o aval para permanecer no cargo, mas a situação está longe de pacificada. Ela assumiu o ministério depois de quatro anos caóticos. Na pandemia, a gestão Jair Bolsonaro ignorou o conhe- cimento científico, e a pasta virou refú- gio para esquemas sombrios. Na época presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia se destacou pelo perfil técnico e pela competência como ges- tora ao garantir vacinas que salvaram milhares de vidas. Uma vez no coman- do do ministério, seus desafios se tor- naram maiores e mais complexos. Embora seja a face mais visível e agu- da, a explosão de casos de dengue não é o único. A crise na Saúde se agrava di- ante das disputas por cargos e verbas numa área cobiçada devido aos orça- mentos generosos. Derivam daí pro- blemas crônicos de gestão, má aloca- ção de verbas ou mesmo corrupção. Um exemplo é a situação alarmante dos hospitais federais do Rio, tema de reportagem no Fantástico. Além de lei- tos desativados e equipamentos que- brados, instalações elétricas precárias aumentam o risco de incêndios e ame- açam a segurança. O desperdício é fla- grante. Por falta de material, doentes aguardam anos para se submeter a ci- rurgias ortopédicas, enquanto caixas com próteses vencidas, que custaram mais de R$ 20 milhões, estão empilha- das num depósito. É evidente a inépcia na gestão de um orçamento que passa de R$ 860 milhões. Logo depois da posse de Nísia, o mi- nistério fez um relatório apontando o estado de calamidade dos seis hospitais federais do Rio. Andares inteiros fecha- dos, mais de 200 leitos desativados, equipamentos deteriorados, obras pa- ralisadas, serviços como emergência pediátrica, unidade coronariana ou CTI suspensos. Uma medida adotada para resolver o descalabro foi a centra- lização das compras no Departamento de Gestão Hospitalar (DGH), de modo aevitar desperdício e desabastecimen- to. O ministério também criou um co- mitê para discutir a reformulação dos hospitais federais e preparou edital pa- ra contratar 500 profissionais. Na segunda-feira, Nísia exonerou o diretor do DGH, Alexandre Telles, e o secretário de Atenção Especializada à Saúde, Helvécio Magalhães Júnior. Pa- ra o lugar de Telles foi indicada, provi- soriamente, Cida Diogo, ex-deputada petista. Mau sinal, já que Telles, exone- rado, foi o autor do relatório apontando os descalabros. A cessão de um cargo estratégico pode ter sido o preço a pa- gar pela permanência no ministério. Independentemente das circunstân- cias políticas, a Saúde precisa se guiar por decisões técnicas, tanto na ciência quanto na gestão. Só assim é possível reverter a calamidade que aflige os bra- sileiros. Foi pelo perfil técnico, cujo êxi- to foi comprovado na pandemia, que Lula escolheu o nome de Nísia — e é por isso que deve mantê-la. Do contrá- rio, quem pagará a conta é o cidadão. Crise na saúde exige do governo respostas técnicas Permanência de Nísia no comando do ministério deve significar respeito à boa ciência e à boa gestão Àprimeira vista, o indicia-mento do ex-presidenteJair Bolsonaro e de mais 16pessoas pela Polícia Fede-ral (PF), sob a acusação de falsificar comprovantes de vacinação, pode parecer fato menor diante dos de- mais inquéritos que pesam contra ele. Afinal, Bolsonaro é investigado pela suspeita de ter planejado um golpe de Estado em 2022. A impressão logo se dissipa quando confrontada com os fa- tos. Se qualquer cidadão fosse acusado de associação criminosa e inserção de dados falsos em sistema público, já se- ria reprovável. Que dizer de um presi- dente? Em especial, de um presidente cuja gestão negacionista e inepta du- rante a pandemia deixou um rastro de mais de 700 mil vítimas de Covid-19? As circunstâncias também são rele- vantes. Na época, vários países exigiam ocomprovante para permitir a entrada de visitantes. Para a PF, há conexão en- tre os dados de vacinação e o planeja- mento de quebra da ordem constituci- onal. A fraude, diz o inquérito, “pode ter sido utilizada pelo grupo para per- mitir que seus integrantes, após tenta- tiva inicial de golpe de Estado, pudes- sem ter à disposição os documentos necessários para cumprir eventuais re- quisitos legais para a entrada e perma- nência no exterior”. A conclusão dos investigadores aponta Bolsonaro co- mo mandante. A defesa nega. O minis- tro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, deu prazo de 15 dias para a Procuradoria-Geral da Repúbli- ca avaliar se apresenta denúncia. As informações mais compromete- doras do inquérito derivam da delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presi- dência. Ele afirmou que Bolsonaro de- terminou que comprovantes de vaci- nação dele e de sua filha menor de ida- de fossem forjados. Os dados falsos fo- ram inseridos no sistema do Ministé- rio da Saúde em 21 de dezembro de 2022, com o login de um secretário da prefeitura de Duque de Caxias (RJ). No dia seguinte, os comprovantes fo- ram impressos no Palácio da Alvorada e, segundo Cid, entregues em mãos a Bolsonaro. A partir do depoimento de Cid, a PF buscou evidências que con- firmassem sua versão dos fatos. En- controu mensagens, registros do ban- co de dados de vacinação do SUS e da impressão. Desde que saiu da Presidência, Bol- sonaro foi condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral por ataques ao siste- ma eleitoral e ficou inelegível até 2030. Depois do indiciamento pela falsifica- ção dos comprovantes, a PF projeta apresentar as conclusões de dois ou- tros inquéritos até julho, as suspeitas de participação em planejamento para dar um golpe de Estado e de envolvi- mento no contrabando de joias saudi- tas. As investigações devem prosseguir. Bolsonaro sempre atacou as vacinas contra a Covid-19, apesar das evidentes vantagens da imunização. Se tivesse se vacinado, protegeria a própria vida e a dos próximos. Como presidente, daria um exemplo que teria ajudado a salvar milhares de vidas. Desgraçadamente, esse não foi o caminho que escolheu. Que agora seja acusado formalmente de ter usado o cargo para falsificar os comprovantes é escandaloso. Indiciamento é mais um entre vários problemas de Bolsonaro na Justiça É escandaloso o ex-presidente ser acusado de falsificar comprovantes de uma vacina que sempre condenou Artigos oglobo.globo.com/opiniao/ cartas@oglobo.com.br OSuperior Tribunal de Justiça (STJ), ao definirpor maioria que o ex-jogador de futebol Robi- nho terá de cumprir no Brasil a pena de nove anos a que foi condenado na Itália por ter participado de um estupro coletivo, marcou um contraste positivo para a Justiça brasileira diante de outra decisão, da Justiça espanhola, que deu direito a outro ex-joga- dor brasileiro, Daniel Alves,de recorrer em liberda- de da condenação, também por estupro, porque aceitou pagar uma fiança de € 1 milhão. A Justiça espanhola passou a percepção de que os ricos que podem pagar uma fiança tão alta têm vantagens sobre os cidadãos comuns, ainda mais depois que outros € 150 mil já pagos ajudaram a reduzir sua pena. Robinho tentou usar a carta do racismo a seu favor, mas, ao contrário, quem teria sido beneficiado por um privilégio odioso seria ele próprio se a Justiça brasileira, na tentação de proteger um ídolo caído, tivesse aceitado a tese de que a vítima era ele. Tanto Robinho quanto Daniel Alves são ídolos do futebol brasileiro que se perderam na vida pes- soal em meio à sensação de impunidade que a fa- ma e o dinheiro lhes deram. Ambos mentiram em seus julgamentos. Alves deu cinco versões dife- rentes, e Robinho foi apanhado por um grampo telefônico da polícia italiana debochando da víti- ma, afirmando que ela estava tão bêbada que nem sabia quem ele era. A definição da postura da maioria do STJ está na frase do ministro Mauro Campbell, que, aliás, já se tornou comum na boca de autoridades brasileiras: — O Brasil não pode ser refúgio de criminosos. A maioria formada para validar a sentença da Itália que condenou Robi- nho a nove anos de prisão pelo crime de estupro coletivo teve por base o voto do relator Francisco Falcão, que deci- diu pelo cumprimento imediato da pe- na em regime fechado. Provavelmente haverá recurso até o Supremo Tribunal Federal (STF), pois os ministros Raul Araújo e Benedito Gonçalves votaram contra o cumprimento da pena no Brasil. Araújo também rejeitou a tese, vencedora, de que o STJ declarasse o trânsito em julgado e defi- nisse o imediato cumprimento da pena. Para ele, só a Justiça Federal de primeira instância poderia definir as condições do cumprimento da pena. Provavelmente a reação negativa da opinião pú- blica brasileira diante da decisão na Espanha de permitir a liberdade de Alves influenciou a decisão dos ministros do STJ. Antes, havia forte tendência para que fosse pedida vista do processo, adiando o julgamento. Houve também a tentativa de poster- gar uma decisão imediata por parte de alguns juí- zes, alegando que poderia haver recursos à decisão. Diante dessa possibilidade, alguns ministros mudaram seus votos aderindo integralmente ao do relator, que considerou que o trânsito em julgado já estava dado pela decisão da maioria. Os avanços da legislação brasileira em relação à proteção das mulheres, embora relevantes, não impediram até agora que mantenhamos o triste recorde de feminicídios. Mas a legítima defesa da honra, que até 2021 era aceita como justificativa para o assassinato de mulheres, tornou-se crime hediondo. A coincidência entre os julgamentos dos dois ídolos do futebol brasileiro, Alves e Robinho, e o envolvimento de outro ídolo, Neymar, no paga- mento da fiança de seu amigo Alves são um triste sinal dos tempos, mas também uma demonstra- ção de que mudou a percepção da sociedade dian- te de crimes que, anteriormente, aconteciam sem que fossem punidos. Contraponto importante blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira editoria.artigos@oglobo.com.br MERVAL PEREIRA Justiça espanhola passou a percepção de que os ricos que podem pagar uma fiança tão alta têm vantagens sobre os cidadãos comuns Product: OGlobo PubDate: 21-03-2024 Zone: Nacional Edition: 1 Page: PAGINA_B User: asimon@oglobo.com.br Time: 03-20-2024 21:44 Color: INÊS 249 Diversas cidades no mundo, entre elasprestigiadas capitais do turismo, to- maram medidas nos últimos anos para regulamentar as atividades das platafor- mas de locação de curto prazo. Nova York, Barcelona, Paris, Lisboa, Berlim, Amsterdã, Londres, Sidney... a lista é longa, e as medidas de cada prefeitura diferem. Mas todas têm um único obje- tivo: combater os desequilíbrios provo- cados por essas plataformas nos merca- dos imobiliário e turístico. A atuação das plataformas de locação provocou, em muitas cidades, a dispara- da no valor dos imóveis, expulsando mo- radores, que passaram a não conseguir mais arcar com os custos. Isso impactou negativamente a dinâmica social e cul- tural das cidades, o que levou à descarac- terização dos bairros, contribuindo para a gentrificação e a perda da identidade local, causando impactos ambientais, como maior poluição. As plataformas geraram também pro- blemas de segurança, na medida em que não fazem verificação adequada da identidade dos locadores — quem mora num prédio residencial com unidades locadas por esse sistema certamente já ficou incomodado com o contínuo en- tra e sai de pessoas estranhas ao condo- mínio. Nem os próprios turistas estão a salvo de problemas, pois não contam com garantias ao se hospedar num am- biente não regulamentado e sem fiscali- zação que cuide de sua segurança. Osetor hoteleiro, essencial para a eco- nomia de qualquer cidade, por sua capa- cidade de contribuição econômica, so- fre com a concorrência desleal das plata- formas. Numa cida- de que respira turis- mo, como a capital carioca, são 700 mei- os de hospedagens e 45 mil quartos, que geram mais de 100 mil postos de traba- lho, entre diretos e indiretos. Nossa demanda é por igualdade de tratamento, inclusive tributário. Aqui no Rio de Janeiro, no caso das platafor- mas digitais, a comercialização de apartamentos não contribui com ISS, não paga cotas comerciais de IPTU e não gera empregos formais, encargos que incidem fortemente nos hotéis. Nós, da hotelaria, pagamos esses im- postos, revertidos em benefícios para os cidadãos. Além disso, seguimos uma série de normas regulatórias, co- mo a ficha nacional de cadastro de hóspedes, que compartilhamos com o Ministério do Turismo, garantindo maior segurança, evitando situações como prostituição, tráfico e até abuso sexual contra menores, facilitados nas acomodações alternativas. Temos uma posição clara: não somos contra qualquer forma de locação por temporada, venda de diárias em em- preendimentos residenciais ou via pla- taforma de hospedagem. Apenas exigi- mos igualdade de condições, que garan- ta concorrência justa. Recentemente, o STF decidiu que os condomínios terão de fazer uma con- venção para poder liberar o uso de uni- dades nas plataformas de locação. É um primeiro passo, mas é preciso mais. Já passou da hora de uma cidade como oRio debater esse tema. Esperamos que possamos seguir o exemplo das melho- res práticas adotadas nos principais des- tinos turísticos do mundo e que nossas autoridades tomem providências, antes que mais danos sejam causados à econo- mia e à sociedade em geral. Alfredo Lopes é presidente do Sindicato de Hotéis e Meios de Hospedagem do Município do Rio de Janeiro (HotéisRIO) ALFREDO LOPES Concorrência justa no turismo ARTIGO Plataformas de locação não contribuem com ISS, não pagam cotas comerciais de IPTU e não geram empregos formais no Rio Nesta semana, o ministro da Justiça, Ricar-do Lewandowski, convocou a imprensa para anunciar que a delação premiada do ex- PM Ronnie Lessa, assassino de Marielle Franco e Anderson Gomes, foi homologada pelo ministro do Supremo Alexandre de Mo- raes. Com uma expressão vitoriosa, Lewan- dowski afirmou que a delação “traz elemen- tos importantíssimos que nos levam a crer que em breve teremos a solução do assassina- to”. E mais não disse, nos parcos minutos em que ocupou o microfone. A notícia gerou uma onda de otimismo com a perspectiva de, finalmente, saber- mos quem mandou matar Marielle e por quê. É um alento para os familiares, para os amigos e também para a sociedade brasileira, especialmente considerando o que ocorreu no país depois do crime mais emblemático de nossa História po- lítica recente. Embora não se saiba ainda o que motivou os 13 tiros de submetralhadora disparados contra o carro onde estavam a vereadora e seu motorista, não há dúvida de que o assas- sinato é produto da contaminação do siste- ma político e judicial pelo crime organiza- do. Desde que Marielle morreu, em 2018, as milícias ampliaram seu poder se juntan- do a facçõesdo tráfico e mergulhando numa disputa territorial por mais territórios con- tra os grupos inimigos. A guerra produziu vítimas na favela e no asfalto. Em outubro do ano passado, quatro médi- cos paulistas foram atacados à bala na orla da Barra da Tijuca, em frente ao hotel de alto pa- drão onde estavam hospedados para um con- gresso. Um deles morreu apenas porque se parecia muito com um bandido procurado pelos traficantes. Semanas depois, o Rio pa- rou por causa do ataque à frota de ônibus da cidade em represália contra a morte de um miliciano nas mãos da Polícia Civil. As conhecidas conexões de Ronnie Lessa com esse submundo levaram muita gente a especular que em sua delação pode estar a chave que poderá começar a desmantelar essa engrenagem criminosa. — A investigação do caso Marielle e An- derson trouxe um ponto de inflexão na es- trutura do crime organizado no Rio de Ja- neiro — disse a promotora Simone Sibilio, figura fundamental para o avanço desse tra- balho, em entrevista ao Estúdio i, da Globo- News. — Até o caso Marielle, Lessa não ti- nha nenhuma condenação. Em razão do ca- so Marielle, ele já foi condenado por organi- zação criminosa, obstrução de Justiça e tráfico internacional. A autoridade de Sibilio nesse tema é in- questionável, e não se pode perder de vista o avanço que testemunhamos. Ainda assim, nada nos autoriza a dizer que a solução do caso Marielle imporá uma derrota perma- nente ao crime organizado e a seus tentácu- los. A experiência demonstra que as gran- des máfias revidam sempre que acuadas, com mais agressividade ainda se o oponen- te é fraco ou está capturado. É o caso do Rio de Janeiro, onde o sistema político acaba de se unir para proteger uma deputada estadual acusada pela PF de colo- car seu cargo e a estrutura da Assembleia Legislativa a serviço de uma das maiores milícias do Rio. A PF demonstrou que Luci- nha (PSD), chamada de Madrinha pelo chefe da quadrilha, seguia suas ordens, tra- balhou para tirar dos cargos os policiais que poderiam atrapalhar os negócios da organi- zação e interferiu politicamente para soltar milicianos presos em flagrante. Em virtude dessa investigação, a deputa- da foi afastada em dezembro pelo Tribunal de Justiça do Rio, mas no final de fevereiro retomou o mandato com o aval da própria Alerj e o voto favorável de 52 de seus 70 co- legas deputados. Ontem, enquanto a delação de Ronnie Lessa ainda repercutia, uma operação co- mandada pelo Ministério Público Estadual prendeu 17 policiais militares que faziam a segurança do bicheiro Rogério de Andrade, o mais poderoso do estado, hoje em prisão domiciliar. Trata-se de uma realidade complexa, di- ante da qual a última coisa que se deve fazer é proselitismo político. Daí a reação da viú- va de Marielle, Monica Benicio, ao ver Lewandowski convocar as câmeras de TV apenas para dar a notícia de um acordo de delação que ele não negociou, não homolo- gou e, segundo ele mesmo, nem sabe que in- formações traz. — Esse pronunciamento do ministro em nada colabora com a esperança, apenas au- menta as especulações e uma disputa de protagonismo político que não honram as duas pessoas assassinadas — escreveu Beni- cio, hoje também vereadora pelo PSOL. Como ela própria definiu, quando um gru- po se sente autorizado a usar a violência e a morte como forma de fazer política, é a pró- pria democracia que está em xeque. Ocupar as câmeras de TV para fazer oba-oba em nada ajuda a mudar esse quadro e ainda escancara o tamanho da nossa fragilidade. Marielle e Lucinha blogs.oglobo.globo.com/opiniao malu.gaspar@oglobo.com.br MALU GASPAR George A. Akerlof e Robert J. Shiller, ganha-dores do Nobel de Economia, estão entre os acadêmicos que estudam os efeitos da ma- nipulação (prefiro narrativa) no desempe- nho econômico. É deles o livro “Phishing for phools”, ou “Pescando tolos”, da tradução lite- ral em português. É um conceito aplicado quando as narrativas, sustentadas em boas histórias, determinam as vantagens, às vezes espúrias, de uns contra outros. O melhor exemplo vem da fila nos caixas de supermercados. O cliente, ao agir racio- nalmente, escolhe sempre a que anda mais rápido. Assim, em equilíbrio e sem filas es- pecíficas para determinados grupos, todas têm o mesmo comprimento. Por isso, com certa frequência, percebemos os idosos nas filas maiores. Eles foram manipulados com a (falsa) ideia de “preferenciais”. Dias 12 e 13 de março, no Rio, foi discutida a Agenda Setorial, uma tentativa de vislum- brar o setor elétrico em 2024. Um ótimo workshop. Mas o consumidor não estava em quaisquer das mesas do evento, embora todos falassem muito bem dele. Oregulador achou estranho que a qualidade do serviço de eletricidade tivesse melhorado em 2023, mas que não fosse essa a percepção do consumidor. Claro! As dez horas e 24 minu- tos de interrupção ao ano, divulgadas no Jornal das Dez da GloboNews do dia 15, significam quase uma hora sem energia todos os meses. Além disso, o número não contempla as inter- rupções como aquela de agosto, que afetou por várias horas 27 unidades da Federação. Tam- bém não inclui as ocorrências com menos de três minutos, que insistem em aumentar. Na página do g1 é encontrado o ranking de distribuidoras. Lá, você verifica que, de 29 empresas, entre as piores estão as concessio- nárias mais importantes, responsáveis pelos grandes centros, como Salvador, Rio, Forta- leza, Recife, São Luís, São Paulo, Florianópo- lis, Curitiba, Belo Horizonte, Brasília, Porto Alegre e Goiânia — esta a pior de todas. Do ponto de vista da maioria dos consumi- dores, a qualidade do serviço piorou, e não foi pouco. A síntese está em pelo menos 60 ho- ras sem luz no centro de São Paulo, dias 18, 19 e 20, e nas tampas de bueiros eletrificadas, conforme reportagem do GLOBO do dia 19. Que nota você daria para sua distribuidora? A evolução da conta de luz foi outro tema abordado na Agenda Setorial. Ficou evidente que, até 2027, será decrescente o custo da ele- tricidade no mercado livre, mas crescerá para os consumidores cativos. Os motivos são co- nhecidos. Os pequenos consumidores (cati- vos) carregam os custos da segurança, confia- bilidade e da maior parte dos subsídios. Na Agenda também foi discutida uma “folga tarifária”, que pareceu uma boa novi- dade. Contudo, depois de bem explicada, tal folga nada mais é que um eufemismo pa- ra novos aumentos da tarifa, agora para me- lhorar a qualidade do serviço. A folga, no ca- so, é igual a mais aperto para o consumidor. O curioso é que, quando defendia a ampli- ação do mercado, um dos palestrantes, dos mais lúcidos, argumentou que a liberação não pode afetar quem já é do ambiente livre. Faz sentido. Contudo, no mesmo argumen- to, foi dito que só ao se tornar livre o peque- no consumidor alcançará a isonomia. Pura narrativa. A menos que seja despreza- do o “ótimo de Pareto” (qualquer realocação dos recursos para melhorar a situação de um indivíduo necessariamente piorará as condi- ções de outro indivíduo). Se não mudar o montante de benefícios (pagar menos subsí- dios, encargos e outros custos do governo), não há como favorecer o consumidor cativo sem afetar o conforto de quem já é do merca- do livre. Então, não tenha dúvida, o pequeno consumidor ficará na fila dos “preferenciais”. Seguirão fora do cercadinho VIP, mas como aquela máquina eficaz, que transforma kW em bilhões de reais. Depois dos dois dias da Agenda Setorial, sentia-me hesitante, quase fisgado, um tolo elétrico. Mas a impressão é de que alguém, escondido, gritava-me: — É a economia da narrativa, estúpido! Edvaldo Santana, doutor em engenharia de produção e professor titular aposentado da Universidade Federal de Santa Catarina, foi diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica EDVALDO SANTANA Os tolos elétricos ARTIGO A qualidade do serviço piorou, e não foi pouco. A síntese está em pelo menos 60 horas sem luz em São Paulo O GLOBO | Quinta-feira 21 .3 .2024 Opinião | 3 _ SEG _ Fernando Gabeira _ Demétrio Magnoli (quinzenal) _ Miguel de Almeida (quinzenal) _ IrapuãSantana (quinzenal) _ Washington Olivetto (quinzenal) _ TER_ Merval Pereira _ Carlos Andreazza _ QUA_ Vera Magalhães _ Elio Gaspari _ Bernardo Mello Franco _ Roberto DaMatta (quinzenal) _ QUI_ Merval Pereira _ Malu Gaspar _ SEX_ Vera Magalhães _ Flávia Oliveira _ Pedro Doria _ Bernardo Mello Franco _ SÁB_ Carlos Alberto Sardenberg _ Eduardo Affonso _ Pablo Ortellado _ DOM_ Merval Pereira _ Dorrit Harazim _ Bernardo Mello Franco Product: OGlobo PubDate: 21-03-2024 Zone: Nacional Edition: 1 Page: PAGINA_C User: asimon@oglobo.com.br Time: 03-20-2024 21:56 Color: INÊS 249 4 | Quinta-feira 21 .3 .2024 | OGLOBO Política NA WEB Mesmo com a popularidadeem queda e enfrentando dificuldades especialmente entre os evangélicos, o presi- dente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem rejeitado o apelo de ministros para fazer um gesto mais enfático direcionado a este público. O chefe do Exe- cutivo já descartou uma série de propostas que chegaram ao gabinete, como a realização de um evento ou encontro com pastores; a criação de um gru- po do governo que dialogue com o segmento; ou o lança- mento de programas com po- líticas públicas específicas pa- ra este núcleo de religiosos. Lula argumenta, segundo um auxiliar, que não quer substituir o ex-presidente Jair Bolsonaro no púlpito e que de- seja se aproximar mostrando que os evangélicos também usufruem dos avanços do go- verno nas áreas sociais e eco- nômicas. Nas conversas, o pre- sidente costuma repetir que o Estado é laico e que não se de- ve fazer uso político da fé, mes- mo tom usado na reunião mi- nisterial de segunda-feira. Sem a presença das câme- ras, o presidente disse que não vê problema algum em falar com pastores e que é a pessoa que “mais conversa com gente neste país”. Mas, segundo um ministro presente, deu a en- tender que o problema não é a disposição em dialogar, mas o fato de parte das lideranças evangélicas não desejarem uma aproximação. Lula ainda se ressente do que entende por ingratidão de líderes, que fo- ram próximos de gestões pe- tistas passadas e depois estrei- taram laços com o ex-presi- dente Jair Bolsonaro. —Um país em que a religião não seja usada como um ins- trumento político de um parti- do ou de um governo. Que a fé seja exercitada na mais plena liberdade das pessoas que queiram exercê-la. A gente não pode compreender a reli- gião sendo manipulada da for- ma vil e baixa como está sendo neste país — disse no trecho inicial da reunião. FALTA DE ESTRATÉGIA Pesquisa Genial/Quaest mos- trou que a desaprovação ao tra- balho de Lula chega a 62% en- tre os evangélicos — era de 56% em dezembro do ano pas- sado —, enquanto na média geral da população o índice é de 46%. Já a avaliação negativa da gestão subiu 12 pontos per- centuais no período e foi a 48%. Ministros admitem que o governo não tem uma estra- tégia construída e transversal sobre o tema e reconhecem que hoje falta uma formulação política mais refinada para es- se segmento da sociedade. Olevantamento mostra ain- da que, confrontados com a pergunta “O governo Lula se preocupa com pessoas como você?”, os evangélicos são o grupo com a maior taxa de res- postas negativas, entre todos os segmentos pesquisados. No Ipec, o cenário é semelhante: 41% avaliam o governo como ruim ou péssimo, contra 37% em dezembro de 2023; e 58% desaprovam a maneira de o petista governar, quatro pon- tos percentuais acima do índi- ce do fim do ano passado. Mesmo com os números à mesa, Lula traçou um diag- nóstico em que não vê como necessário montar uma estra- tégia específica para os evan- gélicos, que, segundo esta vi- são, serão atraídos natural- mente pela melhora dos indi- cadores econômicos. Segun- do um ministro, o presidente costuma repetir esse raciocí- nio, indicando que é com em- prego, inflação controlada e PIB crescendo que ele vai se aproximar desse público. Durante a campanha elei- toral de 2022, o petista tam- bém resistiu a fazer gestos mais enfáticos, apesar de pes- quisas da época mostrarem vantagem ampla de Bolsona- ro nesse segmento. Lula aca- bou participando de um en- contro com evangélicos em São Gonçalo, na Região Me- tropolitana do Rio, ainda no primeiro turno, e depois de muitos apelos de aliados acei- tou lançar uma carta focada neste grupo, dez dias antes do segundo turno da eleição. Ministros, no entanto, te- mem que essa estratégia de Lula não seja suficiente para o governo aplacar a rejeição entre os evangélicos e que a postura do presidente dê fô- lego ao discurso ideológico de que ele ignora esta parce- la da população. Um destes auxiliares, que tem aberto agenda para religiosos, ad- mite que esse grupo é com- plexo e cheio de divisões. Outro diagnóstico entre mi- nistros é de que o PT muitas ve- zes peca por omissão. Um inte- grante da Esplanada que advo- ga por uma ofensiva mais ativa do governo diz que, desde a campanha, há debate sobre uma aproximação e considera que é possível criar pontes com parte das lideranças que não foram “bolsonarizadas”. — Evangélico não é pro- blema, como ninguém é. A sociedade está esperando respostas do governo — ava- lia o pastor Luiz Sabanay, à frente do comitê nacional evangélico do PT. Os chefes de ministérios que hoje são as pontes do Exe- cutivo com o público evan- gélico são Jorge Messias (Ad- vocacia-Geral da União), Wellington Dias (Desenvolvi- mento Social) e Márcio Ma- cêdo (Secretaria-Geral). Eles têm se movimentado para re- ceber políticos da bancada evangélica, participar de en- contros em igrejas e a pensar em ações específicas para le- var à análise do presidente. Uma das ações defendidas por ministros é criação de uma política pública espe- cífica para mulheres evan- gélicas de regiões periféri- cas, que sofrem com violên- cia, falta de emprego e baixa renda — não há aval do Pla- nalto para a iniciativa ir adi- ante, no entanto. REUNIÃO NÃO SAI DO PAPEL Em janeiro, os ministros Alexandre Padilha (Rela- ções Institucionais), Paulo Pimenta (Comunicação So- cial) e Jorge Messias come- çaram a sondar integrantes da bancada evangélica so- bre a possibilidade de um encontro com o presidente na retomada dos trabalhos legislativos. Ouviram de in- tegrantes proeminentes da bancada a certeza de que compareceriam, casos de Silas Câmara (Republica- nos-AM) e Cezinha Madu- reira (PSD-SP). A iniciativa não foi adiante, mas os dois parlamentares foram rece- bidos por Messias para de- bater a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que amplia a imunidade tributá- ria das igrejas. Justamente para não entrar em choque com a bancada, o governo construiu um acordo. A negociação, por mais que seja um aceno, ainda é vista como um gesto contido e sem oalcance que uma ação direta de Lula poderia ter. Ontem, um dia após o acordo sobre a PEC, Padilha pediu que a Frente Parlamentar Evangéli- ca apoie a agenda do governo no Congresso. Sem o envolvimento direto de Lula, Dias tenta uma apro- ximação com evangélicos por meio dos programas sociais e de convênios da pasta, que tem um dos maiores orçamen- tos da Esplanada. O ministro tem procurado integrantes das bases evangélicas, sem de- pender necessariamente da mediação de lideranças: — Nosso trabalho, de um lado, é alcançar estas pesso- as por meio das lideranças e entidades evangélicas, que chegam aonde o governo não chega. Tenho dito para os líderes evangélicos que o presidente Lula quer que eu e outros ministros cuidem do povo evangélico que mais precisa, sem pergun- tar qual é a denominação. JENIFFER GULARTE, SÉRGIO ROXO E RENATA AGOSTINI politica@oglobo.com.br BRASÍLIA - CRISTIANO MARIZ/28-2-2023 Relação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Wellington Dias, um de seus interlocutores com os evangélicos: chefe do Executivo tem resistido a fazer ações diretas ao segmento Lula resiste a apelos de ministros por gesto direto a evangélicos e descarta evento com pastores REJEIÇÃO DUPLA VISÃO DO SEGMENTO SOBRE O GOVERNO Aprovação e avaliação da gestão Lula têm piora entre evangélicos Quaest As pesquisas Quaest têm margem de erro de 2,2 pontos percentuais,e as Ipec têm de 2 pontos para mais ou menos. O nível de confiança é de 95% em ambos os institutos e amostras somam 2000 entrevistas em cada levantamento 20 30 40 50 20 30 40 50 30 40 50 60 70 30 40 50 60 70 MAR/23 ABR/23 JUN/23 SET/23 DEZ/23 MAR/24FEV/23 ABR/23 JUN/23 AGO/23 OUT/23 DEZ/23 FEV/24 MAR/23 ABR/23 JUN/23 SET/23 DEZ/23 MAR/24FEV/23 ABR/23 JUN/23 AGO/23 OUT/23 DEZ/23 FEV/24 Aprovação da gestão entre eleitores evangélicos (%) Avaliação do governo Lula entre eleitores evangélicos (%) Ipec Quaest Ipec Fonte: Quaest e Ipec Positivo NegativoRegular Ótimo/bom Ruim/péssimoRegular Desaprova trabalho Aprova trabalho Desaprova maneira de governar Aprova maneira de governar 27 27 28 32 27 27 22 24 27 31 35 32 34 27 30 39 36 29 37 36 48 31 24 29 33 28 24 32 35 33 35 34 31 32 35 34 31 37 41 40 39 44 50 44 41 35 42 55 51 46 52 56 62 45 39 42 49 39 36 48 52 51 46 54 58 Resistência nas eleições Durante a campanha eleitoral de 2022, o petista também resistiu a fazer gestos mais enfáticos. Lula acabou participando de um encontro com evangélicos em São Gonçalo (RJ), e depois lançou carta focada neste grupo. Relação via interlocutores No governo, Lula descartou propostas voltadas para o segmento e ainda se ressente que lideranças tenham se aproximado de Bolsonaro. Para manter a relação, conta com os ministros Wellington Dias, Jorge Messias e Márcio Macêdo. PEC das Igrejas Para não entrar em choque com a bancada evangélica, o governo construiu acordo para a PEC que amplia a imunidade tributária das igrejas. A negociação, porém, é vista sem o alcance que uma ação direta de Lula poderia ter. RELAÇÃO COM EVANGÉLICOS Texto também prevê que institutos de pesquisa apresentem ‘índice de acerto’ Quarentena para militares e controle de IA NOVO CÓDIGO ELEITORAL PARA ACESSAR APONTE O CELULAR PARA O QR CODE Product: OGlobo PubDate: 21-03-2024 Zone: Nacional Edition: 1 Page: PAGINA_D User: asimon@oglobo.com.br Time: 03-20-2024 22:29 Color: INÊS 249 O GLOBO | Quinta-feira 21 .3 .2024 Política | 5 A cl as si fic aç ão et ár ia do ev en to é 16 (d ez es se is )a no s. A en tr ad a de m en or es de 16 (d ez es se is )a no ss er á pe rm iti da de sd e qu e es te ja m ac om pa nh ad os do sp ai so u re sp on sá ve is le ga is . ROCKINR IO .COM @ROCKINR IO Pa tr oc in ad or es M ed ia Pa rt ne rs Pa tr oc in ad or es In st itu ci on ai s A festa de 40 anos ganha aindamais atrações. Alémdos hits que vão fazer todomundo soltar a voz, você vai conferir um novo Palco Sunset comboca de cena tão grande quanto a do novo PalcoMundo, o surpreendenteGlobal Village, ummusical inédito que vai emocionar emuitomais. Prepare-se: tem novidade de sobra vindo por aí. DUAS GRANDES D IVAS DO POP PELA PR IME I RA VEZ NA C IDADE DO ROCK MARIAH CAREY CYNDI LAUPER PALCO SUNSET 22.SET PALCO MUNDO 20.SET Product: OGloboPubDate: 21-03-2024Zone: NacionalEdit ion: 1 Page: PAGINA_EUser: asimon@oglobo.com.brTime: 03-20-2024 21:40Color: INÊS 249 Apesar da vitória dada comocerta de Vladimir Putin para um quinto mandato em pleito sem opositores reais, o secretário de Relações Inter- nacionais do PT, Romênio Pe- reira, publicou no site do par- tido uma nota de saudação às eleições presidenciais russas. Historicamente, a sigla e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva são criticados por se- rem condescendentes com regimes autoritários de es- querda, casos de Nicarágua, Cuba e Venezuela. “Com uma participação impressionante de mais de 87 milhões de eleitores, re- presentando 77% do eleito- rado do país, esse feito his- tórico ressalta a importância do voto voluntário na Rús- sia”, diz trecho da nota assi- nada por Romênio, na qual ele parabeniza o partido Rússia Unida pela reeleição de Putin com 87% dos votos. Os últimos dias antes da eleição contaram com uma série de movimentos de re- sistência na Rússia e ao re- dor do mundo, chamados de “Meio-Dia sem Putin”. Os atos foram convocados pelo opositor Alexei Navalny an- tes de sua morte, no mês passado, em circunstâncias pouco claras. No X (antigo Twitter), o ex-senador Arthur Virgílio (sem partido), que era filia- do ao PSDB e agora está ali- nhado a Jair Bolsonaro, cri- ticou o fato do presidente Lula ter enviado uma carta ao presidente Vladimir Pu- tin pela vitória na eleição russa. “Passou mensagem cumprimentando Putin por sua ‘vitória’ eleitoral, claro que sabendo que as ‘eleições’ russas são mais falsas e farsantes que uma nota de R$11,00”. Apesar de reiterar que o Brasil está disposto a cola- borar com os esforços em favor da paz, Lula resiste em condenar a invasão da Ucrânia pela Rússia, o que gera reações na comunida- de internacional. A deputada federal Adri- ana Ventura (Novo-SP) fez coro às críticas. “Lula sau- dando a reeleição de Putin na Rússia não chega a me surpreender dado o fetiche que ele tem por ditaduras, mas sempre que acontece me enoja”, publicou no X. HOMENAGEM A ORTEGA Em novembro de 2021, após uma série de críticas, o PT apagou uma nota publicada em suas redes sociais que celebrava a reeleição de Da- niel Ortega na Nicarágua. Na postagem, o partido ha- via classificado o pleito, re- jeitado pelos governos das principais democracias oci- dentais e marcado pela pri- são de opositores, como “uma grande manifestação popular e democrática”. Ad- versários e militantes de es- querda atacaram a nota do partido e classificaram a po- sição como um erro. No ano passado, Lula foi cri- ticado pela oposição por con- ceder ao presidente da Vene- zuela, Nicolás Maduro, recep- ção de chefe de Estado. Ele não vinha ao país desde 2015, para a posse da ex-presidente Dil- ma Rousseff. Sua presença no Brasil não era permitida desde 2019, quando uma portaria foi editada por Jair Bolsonaro. Ao saudar Putin, PT amplia acenos controversos Texto, assinado pelo secretário de Relações Internacionais do partido, ressalta ‘a importância do voto voluntário na Rússia’ 6 | Política Quinta-feira 21 .3 .2024 | OGLOBO Ogoverno localizou 261móveis do Palácio da Alvorada que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sugeriu terem sido levados por Jair Bolsonaro. De acordo com a Secretaria de Comunicação Social (Se- com), os itens estavam em “dependências diversas” da residência oficial. Por conta da suposta ausência ou de alegada má conserva- ção, foram gastos R$ 196.770 com a decoração da suíte presidencial. On- tem, o ex-presidente acu- sou o petista de “falsa co- municação de furto”. Na primeira semana de governo, a primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, abriu as portas do palácio e mostrou infiltrações, jane- las quebradas, danos em ta- petes e sofás rasgados, por exemplo. Foram encontra- das também obras de arte danificadas pelo sol e partes soltas no assoalho de uma das salas de reuniões. Se- gundo Janja, ao visitar o Al- vorada, Lula havia ficado “decepcionado” com o que encontrou. A informação de que as 261 peças foram encontra- das foi revelada pelo jornal “Folha de S.Paulo” e confir- mada pelo GLOBO. No iní- cio do ano passado, a Presi- dência já havia localizado 83 móveis. Em janeiro da- quele ano, o presidente Lu- la, durante um café da ma- nhã com jornalistas, suge- riu que as peças teriam sido levadas por Bolsonaro. — O quarto que tinha ca- ma, já não tinha mais cama, já estava totalmente... eu não sei como é que fizeram. Não sei porque que fizeram. Não sei se eram coisas parti- culares do casal, mas leva- ram tudo. Então a gente está fazendo a reparação, porque aquilo é um patrimônio pú- blico. Tem que ser cuidado — disse Lula, segundo o qual a parte de cima do Alvorada estava como “se não tivesse sido habitada”. As buscas pelas peças fo- ram encerradas em setem- bro do ano passado. On- tem, após a notícia de que os móveis foram encontra- dos, Bolsonaro reagiu nas redes sociais. “Todos os móveis estavam no Alvora- da. Lula incorreu em falsa comunicação de furto”, es- creveu ele. ITENS MAIS CAROS Os R$ 196.770 gastos pelo governoLula foram usados para adquirir seis móveis. Os itens mais caros são um sofá que possui um mecanismo para reclinar cabeça e pés, por R$ 65.140, e uma cama, por R$ 42.230. Ambas as pe- ças são revestidas em couro italiano 100% natural com tratamento exclusivo para evitar ressecamento. “A ausência de móveis e o péssimo estado de manuten- ção encontrado na mobília do Alvorada exigiram a aqui- sição de alguns itens”, afir- mou a Secom por meio de nota, em abril de 2023. Já ontem, a Secretaria de Comunicação Social da Pre- sidência disse, também por meio de nota, que “os bens adquiridos passaram a inte- grar o patrimônio da União e serão utilizados pelos fu- turos chefes de Estado que lá residirem”. Ainda de acor- do com o órgão, houve “des- caso com onde estavam es- ses móveis sendo necessá- rio um esforço para localizá- los todos novamente”. Em abril do ano passado, diante da controvérsia, a ex-primeira-dama Michel- le Bolsonaro afirmou, em uma rede social, que os mó- veis que usou e eram per- tencentes à União estari- am num depósito do Alvo- rada. E que só retirou de lá itens privados. “Esses mó- veis estão ou no depósito 5 do Palácio da Alvorada ou no depósito da Presidên- cia. Existem esses depósi- tos, com várias cadeiras, sofás, mesas, quadros, e vo- cê pode fazer esse rodízio”, postou, ressaltando que le- vou móveis, e até lençóis, de sua casa no Rio. Na oca- sião, ela propôs uma “CPI dos Móveis da Alvorada”. O Palácio da Alvorada foi projetado por Oscar Nie- meyer e é uma das mais impor- tantes edificações do moder- nismo arquitetônico brasilei- ro. Foi o primeiro prédio cons- truído em alvenaria na nova capital. No primeiro governo Lula foram feitas as primeiras obras de restauração do local, que começaram em dezem- bro de 2004 foram concluídas em março de 2006. Após ‘sumiço’ e gasto de R$ 200 mil, governo acha móveis do Alvorada Os 261 itens estavam em ‘dependências diversas’, segundo a Secom. Bolsonaro acusou Lula de ‘falsa comunicação de furto’ DIVULGAÇÃO Patrimônio. Um dos salões do Alvorada: atual gestão gastou R$ 196.770 com a reposição de seis móveis para suíte PAULO ASSAD paulo.santos@oglobo.com.br - Opresidente Luiz Inácio Lu-la da Silva deu uma ordem explícita aos ministros do Pla- nalto que não quer movimen- to ou evento em memória aos 60 anos do golpe militar. O pe- tista argumentou aos auxilia- res mais próximos, em reuni- ão no começo de março, que o objetivo era evitar que a data fosse usada para “conflagrar o ambiente político do país”. Os ministros entenderam como recado claro para que também não participassem de eventos voltados à data, o que vem cau- sando reação na base. Oassunto começou a ser dis- cutido dentro do governo em reunião, em 26 de fevereiro, de Lula com o ministro da Defe- sa, José Múcio, os comandan- tes Tomás Paiva (Exército), Marcos Olsen (Marinha) e Marcelo Damasceno (Aero- náutica). Na ocasião, o presi- dente foi informado que den- tro dos quartéis não haveria manifestações de exaltação ao golpe. Era um gesto da ala mili- tar com a expectativa de que também não ocorressem atos por parte do governo. Em março, o ministro da Co- municação Social, Paulo Pi- menta, que estava na reunião em que Lula deu a ordem para que não ocorressem atos, avi- sou Múcio que também não seriam promovidos eventos de condenação do golpe. Coube ao chefe de gabinete de Lula, Marco Aurélio Santa- na Ribeiro, avisar o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, sobre a decisão. A pasta pretendia realizar um evento no Museu da Repúbli- ca, em Brasília, que exaltaria a luta de perseguidos pelo regi- me militar. Almeida teve uma audiência com o chefe de gabi- nete da Presidência no dia 7 de março. A expectativa de inte- grantes é que Lula ainda tenha uma reunião com Almeida pa- ra tratar do tema. A postura de Lula provocou reação contrária em aliados que veem certa benevolência do presidente em relação aos militares em meio ao processo de pacificação da relação do petista com a caserna, iniciada no governo após as tensões provocadas pelos atos do 8/1: — Não existe futuro sem aprender com lições e erros do passado. Até porque o passado volta de forma parecida como foi a intentona de 8 de janeiro. Não existe essa história de apa- gar o passado — disse o depu- tado e ex-presidente do PT Rui Falcão, preso na ditadura. Sem citar o governo, mas re- ferindo ao episódio, o Prerro- gativas divulgou nota de que é “inadmissível” silenciar sobre o golpe de 1964. É a primeira posição conflitante do grupo de juristas simpáticos a Lula em relação ao governo. “A determinação de silenci- ar diante do golpe militar de 1964 é inadmissível. Contra- ria nossa história e ofende a lu- ta e a memória em defesa da democracia”, afirmou o coor- denador do grupo, Marco Au- rélio de Carvalho, no texto. Veto de presidente a atos sobre golpe gera reação de aliados Ordem, dada no início do mês, levou ministério a não realizar evento em SP BRENNO CARVALHO 24-11_2023 Ministro. Silvio Almeida deve se encontrar com Lula para debater tema JENIFFER GULARTE E SÉRGIO ROXO politica@oglobo.com.br BRASÍLIA - Novo mandato na Nicaraguá Em novembro de 2021, uma nota no site do PT celebrou o novo mandato de Daniel Ortega, que está no poder desde 2007, como uma “manifestação democrática”. Aeleição foi marcada por prisões de opositores. A nota foi deletada. Crítica à oposição na Venezuela Opositora de Nicolás Maduro e impedida de concorrer às eleições, María Corina Machado foi alvo de Lula, que duvidou da conduta da oposição. Ele fez um paralelo com 2018, quando não pôde disputar o Planalto, mas “não ficou chorando”. Repressão a protestos em Cuba Em julho de 2021, após protestos motivados pela crise no sistema de saúde e escassez de alimentos, Lula culpou o embargo dos Estados Unidos pelos problemas e minimi- zou denúncias de repressão do governo de Miguel Diáz-Canel. Disputa sem adversários reais Secretário de Relações Internacio- nais do PT, Romênio Pereira publi- cou no site do partido nota de saudação à vitória de Vladimir Putin nas eleições russas. O presi- dente foi eleito pela quinta vez, em um pleito sem opositores reais. APOIO A GOVERNOS COM DEMOCRACIA QUESTIONADA Product: OGlobo PubDate: 21-03-2024 Zone: Nacional Edition: 1 Page: PAGINA_F User: asimon@oglobo.com.br Time: 03-20-2024 22:16 Color: INÊS 249 O GLOBO | Quinta-feira 21 .3 .2024 Política | 7 Acúpula do União Brasilaprovou ontem o afasta- mento do deputado federal Luciano Bivar (PE) da presi- dência da sigla como medida cautelar, em uma reunião tensa, marcada por bate-bo- cas e na qual o microfone do parlamentar chegou a ser cortado. Com a decisão, An- tônio Rueda, atual vice-pre- sidente do partido e dirigen- te eleito para comandar a le- genda a partir de junho, assu- me imediatamente o coman- do do União Brasil. Logo no início da delibe- ração, houve um enfrenta- mento entre Bivar, denun- ciado por ter feito supostas ameaças de morte contra Rueda, e o atual secretário- geral da sigla, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto. Bi- var tentou declarar a suspei- ção de alguns dos integran- tes da cúpula, o que os impe- diria de votar, mas sua inici- ativa foi rejeitada. Ao fim da reunião, por 11 a 5, houve maioria pela punição. A relatora do pedido de afastamento, senadora Pro- fessora Dorinha (União- TO), defendeu que, diante “dos fatos públicos” relacio- nados ao caso e de Bivar não ter negado “de forma cate- górica” as ameaças, seria ne- cessária a destituição do de- putado da presidência como medida cautelar. Dorinha se disse contrária, porém, à ex- pulsão, já que essa punição poderá ser tomada ao fim do processo. A maioria seguiu a posição da senadora. O clima esquentou na reu- nião quando Bivar decidiu apresentar questão de or- dem para o “impedimento” de oito integrantes da Exe- cutiva, que estavam aptos a votar, por já terem proferido falas contra ele ou admiti- rem que buscam retirá-lo do comando da sigla. “NÃO É A SUA CASA” A intenção era excluí-los da deliberação para que su- plentes aliados fossem convocados.ACM Neto, principal articulador da eleição de Rueda, reagiu quando Bivar afirmou que, como atual presidente da sigla, havia tomado deci- são favorável à sua própria questão de ordem. — O senhor não vai ga- nhar no grito, presidente Bivar! E o senhor não vai considerar nenhum de nós impedidos — disse ACM Neto, exaltado. Após Bivar responder que não aceitaria, aos gri- tos, essa posição, o ex-pre- feito de Salvador conti- nuou a falar. Bivar estava participando da reunião por meio de videoconfe- rência, enquanto ACM Ne- to estava na sede do parti- do, em Brasília. — Não vai ganhar no grito. Isso aqui não é a sua casa. É um partido político respei- tado. Peço que corte o mi- crofone do presidente Bivar para que possamos continu- ar a reunião — completou o adversário de Bivar. Neste momento, o mi- crofone de Bivar foi corta- do. O deputado defendeu que alguns integrantes não possuíam isenção para de- liberar sobre o assunto. Além de Rueda, que apre- sentou denúncia à Justiça relatando ameaças, e de ACM Neto, são eles o depu- tado federal Pauderney Avelino (AM), o presiden- te da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite, o governador de Goiás, Ro- naldo Caiado, o líder do partido na Câmara, Elmar Nascimento, a tesoureira do União e irmã de Rueda, Maria Emília Rueda, e Cláudio Cavalcanti. INCÊNDIO EM CASA Dorinha votou pela rejeição da questão de ordem e afir- mou que aspectos de “natu- reza política” não estariam suscetíveis à suspeição. A denúncia contra Bivar analisada ontem também tratou dos incêndios que destruíram as casas de praia de Rueda e de Maria Emília, no litoral de Pernambuco, além da “validação de cartas de desfiliação” de seis depu- tados do União Brasil do Rio de Janeiro, sem a anuência da cúpula da legenda. No sábado, a defesa de Bi- var enviou um documento de 14 páginas, negando to- das as acusações. O parla- mentar afirma que não fez ameaças de morte contra Rueda, bem como rejeita qualquer participação nos incêndios. Bivar diz que usou o termo “morto” para dizer sobre o fim da amizade de longa data com Rueda. União Brasil afasta Bivar e vai analisar expulsão Decisão foi tomada pela Executiva do partido em reunião marcada por gritos, corte de microfone e tentativa frustrada de declarar suspeição de integrantes da cúpula. Com a medida, Rueda assume o comando da sigla BRUNO GÓES bruno.goes@oglobo.com.br BRASÍLIA - JORGE WILLIAM / 12-11-2019 Contrariado. Bivar no Congresso: denunciado por supostas ameaças de morte, deputado deixa o comando do União BRENNO CARVALHO / 13-03-2024 Novo comando. Rueda em reunião do União: vice-presidente assume o posto OMinistério Público doDistrito Federal e Terri- tórios denunciou Jair Renan Bolsonaro, filho do ex-presi- dente Jair Bolsonaro (PL), pelos crimes de falsidade ide- ológica, uso de documento falso e contra a ordem tribu- tária. A investigação mirou o uso de informações falsas pa- ra a empresa de Jair Renan obter um empréstimo bancá- rio que não foi pago. De acordo com o inquérito da Polícia Civil, o alvo da sus- peita é uma declaração de fatu- ramento de R$ 4,6 milhões da Bolsonaro Jr. Eventos e Mídia. Com esses números falsos, Jair Renan e seu sócio, Maciel Al- ves, buscavam lastro para o empréstimo, ainda segundo a investigação. A empresa tinha como principal ramo de atua- ção fornecer “serviços de orga- nização de feiras, congressos, exposições e festas”. “Não há dúvidas de que as duas declarações de fatura- mento apresentadas ao banco são falsas, por diversos aspec- tos, tanto material, em razão das falsas assinaturas do Técni- co em Contabilidade (...), que foi reinquirido e negou vee- mentemente ter feito as rubri- cas, quanto ideológico, na me- dida em que o representante legal da empresa fez inserir nos documentos particulares informações inverídicas con- sistentes nos falaciosos fatura- mentos anuais”, apontaram os investigadores do caso. Ainda segundo as investiga- ções, a dupla conseguiu pelo menos três empréstimos no Banco Santander. Jair Renan teria se beneficiado de parte dos valores obtidos de forma ilícita, por meio do pagamen- to da fatura do cartão de crédi- to de sua empresa, no valor de cerca de R$ 60 mil. AUTORIA DE ASSINATURAS Em depoimento, Jair Renan afirmou não reconhecer suas assinaturas nas declarações de faturamento suposta- mente falsas e negou ter re- quisitado empréstimos. Peri- to, testemunhas e até ima- gens de seu login no aplicati- vo bancário vão de encontro à tese apresentada por ele. Na ocasião do indiciamento, o advogado Admar Gonzaga, que representa Jair Renan, dis- se que não comentaria porque o caso é sigiloso. Ontem, ele criticou o que chamou de “va- zamentos” e argumentou que são prejudiciais “à defesa, ao devido processo, à presunção de inocência e, assim, à ima- gem de quem tem o direito de se defender”. Já Pedrinho Vil- lard, que defende Alves, afir- mou anteriormente que seu cliente “com certeza” seria ab- solvido. Ontem,disse que não vai se manifestar. MP denuncia Jair Renan por fraude em empréstimo Apuração contra filho de Bolsonaro apontou uso de documento falso; defesa nega irregularidade CRISTIANO MARIZ / 07-03-2022 Apuração. Jair Renan, na PF em Brasília: filho 04 de Bolsonaro é denunciado PAOLLA SERRA paolla.serra@infoglobo.com.br BRASÍLIA - > O Ministério Público que atua junto ao Tribu- nal de Contas da União (TCU) pediu na terça- feira a responsabiliza- ção do Partido Liberal por sua participação e de seus membros na tentativa de golpe, após a derrota eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). > O órgão pediu a inclu- são do partido, por parte da Advocacia-Geral da União (AGU), como réu na ação civil pública em que se cobra a condenação dos financiadores dos atos golpistas do 8 de Janeiro em R$ 100 mi- lhões, como indenização por dano moral coletivo. O MP entende que a sigla se envolveu na trama que culminou nos ataques. (Guilherme Caetano e Cleide Carvalho) Procuradoria pede ao TCU bloqueio de bens do PL Product: OGlobo PubDate: 21-03-2024 Zone: Nacional Edition: 1 Page: PAGINA_G User: asimon@oglobo.com.br Time: 03-20-2024 21:59 Color: INÊS 249 8 | Política Quinta-feira 21 .3 .2024 | OGLOBO Apesar de partidos reivindi-carem o posto de vice na chapa de Eduardo Paes (PSD) na busca pela reeleição em ou- tubro, cresce a convicção no entorno do prefeito que o es- colhido deve ser o principal aliado dele, o deputado federal Pedro Paulo (PSD). A compo- sição configuraria uma chapa “puro-sangue” — quando am- bos são correligionários —, e Paes tem atuado, de forma dis- creta, para executar a ideia. O plano é evitar qualquer toma- da de decisão até o período de convenções partidárias, entre 20 de julho e 5 de agosto, para não antecipar o debate em conjuntura até aqui marcada por favoritismo do prefeito. Ao contrário das outras três vitórias que teve para a prefei- tura (2008, 2012 e 2020), a eleição de 2024 tem na esco- lha do vice um ponto-chave para Paes, dada a possibilidade de ele deixar o cargo no meio do mandato, caso reeleito, pa- ra concorrer ao governo do es- tado daqui a dois anos. Com is- so, o vice assumiria o municí- pio, o que faz o prefeito optar por alguém de seu núcleo po- lítico. O diagnóstico é de que a escolha representa quase um processo de sucessão. A pers- pectiva de abandono do man- dato, inclusive, é algo que ad- versários pretendem explorar, e Paes quer ter consigo um vi- ce que seja praticamente uma extensão de si. Partidos que conversam com o PSD para compor a chapa têm reclamado da provável escolha por Pedro Paulo ou mesmo por outro nome ligado ao prefeito. O fator partidário também é citado, já que a hipótese do deputado migrar para outra sigla a fim de aplacar as críti- cas perdeu força. Pedro Pau- lo é o presidente do PSD no estado, tem montado o dire- tório com foco nas eleições e mantém canal direto com o presidente nacional, Gil- berto Kassab. Também está ligado ao líder na Câmara, Antonio Brito (BA). O GLOBO ouviu de aliados do prefeito, outros represen- tantes da política do Rio e diri- gentes do PSD nacionalque a indicação de Pedro Paulo co- mo vice é o caminho natural para os próximos meses. E, mesmo que algum empecilho apareça no caminho, o plano B deve sair de dentro do grupo mais próximo a Paes. Um indicativo disso é que três dos secretários de maior confiança do prefeito tendem a deixar a prefeitura em abril, no prazo estabelecido pela Jus- tiça Eleitoral para quem alme- ja disputar a eleição, e retornar aos mandatos na Câmara ou na Alerj. Assim, ficam à dispo- sição caso a indicação de Pedro Paulo não avance. São eles Da- niel Soranz, Eduardo Cavalie- re e Guilherme Schleder, to- dos do PSD. Outro que vinha sendo cota- do como alternativa, o secretá- rio de Governo, Felipe Santa Cruz, não deve se descompati- bilizar. De fora do secretaria- do, um possível plano também é do PSD: o presidente da Câ- mara, Carlo Caiado. No caso do PT, o Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) da si- gla decidiu que o Rio será dis- cutido entre o prefeito e o pre- sidente Luiz Inácio Lula da Sil- va de forma mais direta. A des- peito de reivindicar o posto na chapa, o PT-RJ admite nos bas- tidores que é quase impossível não estar com Paes na eleição, seja quem for o vice. No entan- to, caso o escolhido seja Pedro Paulo, a tendência é que o par- tido faça mais barulho. AVALIAÇÃO DO PT Por outro lado, há um entendi- mento de que o mais impor- tante é pensar a médio prazo —ou seja, no papel que o pre- feito pode desempenhar para o palanque de Lula no Rio em 2026. O entorno de Paes acre- dita que isso vai pesar na con- versa com o presidente, que tem registrado índices baixos de aprovação no Sudeste e vê seu candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL), ser ameaçado nas pesquisas pelo atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB). Adversários como Alexan- dre Ramagem (PL), apadri- nhado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), já deram si- nais de que vão explorar a as- sociação entre Paes e o petis- ta. No lançamento da pré- candidatura, o bolsonarista falou em “tirar os soldados de Lula do Rio”. A postura preo- cupa Paes, que tenta evitar a nacionalização da disputa. Nesse contexto, manter uma chapa “puro-sangue” daria menos munição a esse discur- so. O PT, no entanto, ainda tenta a vice. —A busca da vice passa por consolidar o interesse das duas partes — afirma o presidente municipal do PT, Tiago Santa- na. — Respeitamos o tamanho do prefeito, a liderança dele, mas o PT em 2022 fez mais de- putados que o PSD. Chegamos para somar, não para dividir. Para o pré-candidato do PSOL, Tarcísio Motta, o ce- nário de impasse entre Paes e os petistas é positivo. —Se nem a vice o Eduardo vai dar para o PT, ele mostra que a candidatura não é de es- querda. Eduardo se consolida como centro-direita. Quando Paes caminhava para encerrar seus dois pri- meiros mandatos, em 2016, Pedro Paulo foi o escolhido para disputar a sucessão. À época, eles eram do MDB. O candidato, no entanto, foi afetado pela revelação de que havia contra ele um pro- cesso de violência domésti- ca aberto pela ex-mulher. A pedido do Ministério Públi- co, o caso foi arquivado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas permaneceu forte enquanto fato políti- co, e Pedro Paulo não foi se- quer ao segundo turno. Paes quer chapa ‘puro-sangue’ com Pedro Paulo de vice Prefeito, contudo, não pretende tomar decisão até convenções partidárias; outras opções também são do PSD MÁRIO AGRA/CÂMARA DOS DEPUTADOS Plano A. O nome do deputado Pedro Paulo tem se tornado a cada dia a opção mais certeira do PSD para compor a vice com o prefeito Eduardo Paes CAIO SARTORI E LUÍSA MARZULLO politica@oglobo.com.br - Outros nomes da sigla são “plano B”, como os secretários Soranz, Schelder e Cavaliere. Oprefeito do Rio, EduardoPaes, filiou ontem ao seu partido, o PSD, o verea- dor e ex-prefeito do Rio Ce- sar Maia, que deixou o PSDB. O gestor carioca clas- sificou o ato como um dos “mais importantes” de sua vida política e teceu elogios ao aliado, com quem tem um passado de conflitos. Ao abonar a ficha de Ce- sar Maia, o prefeito lem- brou que o agora correligi- onário foi uma espécie de mentor para ele: — Vou fazer um dos atos mais importantes da minha vida política. Vou abonar a fi- cha de um cara que me trouxe para a política, o nosso sem- pre prefeito Cesar Maia, que agora é vereador aqui no Rio. O ex-prefeito, por sua vez, retribuiu o afago: — Juntos, continuamos a trabalhar pelo Rio de Janei- ro, com compromisso e de- dicação. Vamos em frente, sempre em busca do melhor para nossa cidade. IDAS E VINDAS Apesar de terem caminhado lado a lado anos atrás, os dois passaram por um dis- tanciamento. Em 2022, por exemplo, Cesar Maia foi vi- ce na chapa de Marcelo Frei- xo (PT), que concorria ao governo do estado. O atual prefeito, por sua vez, apoia- va a candidatura de Rodrigo Neves (PDT), que tinha co- mo vice um de seus secretá- rios, Felipe Santa Cruz. Paes iniciou na carreira po- lítica com a bênção de Cesar Maia nos anos 1990. Aos 23 anos, ele foi subprefeito da Zona Oeste no mandato do ex-gestor do Rio e, em 1996, conquistou seu primeiro mandato eletivo, de vereador. A primeira rusga ocorreu dois anos depois, quando Paes foi eleito deputado fe- deral junto com o filho de Cesar Maia, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia. No ano seguinte, o atual prefeito trocou o PFL pelo PTB, junto com o próprio Maia e se reaproximou do grupo político, quando as- sumiu o cargo de secretário de Meio Ambiente. O rompimento ocorreu de vez em 2002, quando Paes se filiou ao PSDB. Em 2008, quando o prefeito se elegeu pela primeira vez, Cesar Maia não lhe transmitiu o cargo, afirmando não ter sido convidado para a cerimônia: — Era natural que ele me criticasse, eu estava desgas- tado. Mas ele nasceu do meu útero, veio na minha cadeiri- nha de balanço — disse Cesar Maia, dez anos depois. Prefeito filia Cesar Maia ao PSD após passado de apoio e rusgas Paes iniciou carreira política com benção do ex-prefeito, com quem rompeu FERNANDO MAIA/15-11-1992 Pupilo e mentor. Paes e Maia em 1992: o hoje gestor do Rio era subprefeito LUÍSA MARZULLO luisa.castro@oglobo.com.br - Aministra da Saúde, NísiaTrindade, reconheceu que houve falta de diálogo entre a pasta e os gestores dos hospi- tais federais do Rio de Janeiro no ano passado. Conforme o GLOBO mostrou, o ex-chefe do Departamento de Gestão Hospitalar (DGH) Alexandre Telles, responsável pelas seis unidades em mau funciona- mento, coordenou em setem- bro uma nota técnica que identificou uma série de irre- gularidades na rede. —Faltou diálogo com os di- retores, faltou um acompa- nhamento mais próximo, e nós estamos num momento de rever tudo isso (...) para que esses hospitais ofereçam o ser- viço que a população precisa —afirmou Nísia em entrevista àGloboNews ontem. Telles foi exonerado na se- gunda-feira, depois de uma série de notícias sobre a preca- riedade nos hospitais. Segun- do a ministra, a demissão aconteceu porque a pasta já “havia apontado para ele pon- tos críticos na gestão” que não foram solucionados. A nota técnica do DGH alertou para “fragilidades e irregularidades no âmbito da contratação de serviços continuados” na rede, co- mo contratação de serviços com preços superiores aos praticados na administra- ção pública ou no mercado, estabelecimento de preço restrito a algumas empresas e desclassificação de em- presa detentora da melhor proposta sem justificativa técnica plausível. Devido às irregularidades, o ministério criou um comitê para coordenar uma espécie de intervenção nas seis unida- des. Além do grupo, a Saúde centralizou os processos de aquisição de medicamentos, insumos e de contratação de obras dos hospitais no DGH. O chefe do comitê seria o ex-secretário de Atenção Especializada à Saúde, Hel- vécio Magalhães. Contudo, ele foi exonerado. —Sua exoneração se deveu ao fato de que uma avaliação de um descuido nesse mo- mento era algo que fragilizava muito o próprio comitê ges- tor e ações do Ministério da Saúde — explicou Nísia. A ministra negou que exista uma “limpeza” no ministério, masafirmou que irá “fazer re- visão cuidadosa” dos nomes nas direções dos seis hospitais: —Se trata de garantir mais eficiência neste momento. Nísia afirmou, também ontem, que a pressão difi- culta seu trabalho: —Já passei por muita pres- são política, até porque fui presidente da principal insti- tuição de saúde (Fiocruz) em um governo negacionista. Então, não me considero nem um pouco uma pessoa que não possa receber pressões. Só que essa pressão está difi- cultando o meu trabalho — disse ao Viva Voz, da CBN. Nísia diz que faltou ‘acompanhamento’ de hospitais do Rio Ministra reconhece falta de diálogo entre pasta da Saúde e gestores das unidades federais, envolvidas em supostas irregularidades KAROLINI BANDEIRA karolini.magalhaes@bsb.oglobo.com.br BRASÍLIA - AN TÔ N IO C RU Z/ AG ÊN CI A BR AS IL “Faltou diálogo com os diretores, faltou um acompanhamento mais próximo e nós estamos num momento de rever tudo isso”_ Nísia Trindade, ministra da Saúde, sobre hospitais federais no Rio Product: OGlobo PubDate: 21-03-2024 Zone: Nacional Edition: 1 Page: PAGINA_H User: asimon@oglobo.com.br Time: 03-20-2024 21:55 Color: INÊS 249 ACâmara dos Deputadosaprovou ontem o proje- to que proíbe a saída tempo- rária de presos em datas co- memorativas. O texto foi aprovado em votação sim- bólica e de forma unânime, sem a oposição de nenhum dos partidos da esquerda, que têm um discurso mais ativo em defesa dos direitos humanos. Mas assim como o governo, que liberou o vo- to, essas legendas avaliaram que uma oposição ao proje- to, que havia sido alterado no Senado, poderia trazer de volta uma versão mais rígida, que recebeu aval dos deputados em uma votação anterior, no fim de 2022. O texto segue agora para a sanção ou veto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A mudança no mérito do projeto, em relação ao pri- meiro texto endossado pelos deputados, foi uma emenda do senador Sergio Moro (União-PR) para permitir que presos saiam para fre- quentar cursos supletivos profissionalizantes, do ensi- no médio ou superior. A pre- visão não vale para condena- dos por crimes hediondos. Na véspera da votação, o líder do governo na Câma- ra, José Guimarães (PT- CE), disse que o Palácio do Planalto não iria interferir nas negociações para apro- var o projeto. —Não é uma matéria de governo e nem o governo vai se envolver nisso, é uma matéria do Legislativo. O governo não vai encami- nhar nada, vai ficar nas mãos do Parlamento. A base governista chegou dividida para análise do pro- jeto. O deputado Tarcísio Motta (PSOL-RJ) chegou a anunciar no plenário que o seu partido estava em obstru- ção. A posição, no entanto, foi corrigida por Talíria Pe- trone (PSOL-RJ). De acordo com a parlamentar, a versão atual do texto é uma “redu- ção de danos” e está melhor que o projeto aprovado pela Câmara antes. Parlamenta- res do PT, que também orien- tou o voto a favor, tiveram o mesmo entendimento. — O PSOL sempre foi fa- vorável ao texto do Senado. Em algum momento do ple- nário, se entendeu que o vo- to obstrução poderia ex- pressar melhor essa nossa discordância global, mas depois se entendeu que era melhor um texto com redu- ção de danos do Senado — explicou Talíria. Mesmo sendo uma deman- da da oposição, a bancada do PT no Senado havia votado em peso a favor do projeto, com exceção do senador Ro- gério Carvalho (PT-SE). Na Câmara, apesar de não ter havido registro nominal dos votos, deputados do PT tam- bém tinham se comprometi- do a ficar a favor. A aprovação do projeto te- ve o protagonismo de perso- nagens ligados ao ex-presi- dente Jair Bolsonaro (PL). No Senado, o texto foi rela- tado por Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente. Na Câmara, por Guilherme Derrite (PL- SP), secretário estadual de Segurança Pública de São Paulo do governador Tarcí- sio de Freitas (Republica- nos), ex-ministro de Bolso- naro. Tarcísio exonerou Derrite temporariamente para que ele pudesse parti- cipar da votação. — A saidinha dos feriados é algo que a sociedade não tolera mais. Ao se permitir que presos ainda não reinte- grados ao convívio social se beneficiem de 35 dias por ano para desfrute da vida em liberdade, o poder público coloca toda a população bra- sileira em risco. O Congres- so Nacional, que representa a sociedade, teve o entendi- mento majoritário de que precisa ser extinto este be- nefício — discursou Derrite no plenário. CRÍTICAS À PROPOSTA Alguns integrantes da base se manifestaram contra o pro- jeto, como Pedro Paulo (PSD-RJ), um dos vice-líde- res do governo. O deputado é autor do projeto que foi rela- tado por Derrite, mas recla- mou que a iniciativa foi des- virtuada. O texto de Pedro Paulo estabelecia critérios para as “saidinhas”, mas não acabava com o instrumento. — Temos que rasgar esse projeto e voltar ao novo. E eu farei isso se ele for aprovado nesta Casa, vou apresentar um novo projeto, porque nós não podemos acabar com a ressocialização no sis- tema prisional — avisou. Na esquerda, o deputado Pastor Henrique Vieira (PSOL-RJ) classificou o pro- jeto como sensacionalista. — Pessoas presas que cumprem regularmente e voltam para o presídio vão ser penalizadas. Vai explo- dir o sistema carcerário de violência com a assinatura de muitos dos senhores — afirmou o parlamentar. A expectativa de deputa- dos do PT é que Lula faça ao menos alguns vetos parciais. Mas ainda que seja uma mu- dança que contrarie o enten- dimento majoritário do go- verno sobre a política carce- rária, ministros já viam o avanço na Casa como certo e citaram o risco de um novo embate com o Congresso, que atrapalharia pautas prio- ritárias, para defender a neu- tralidade do Planalto. Há ain- da a avaliação de que ficar contra poderia dar combustí- vel ao bolsonarismo na área da segurança pública, tema que provoca desconforto no Executivo e é um flanco que será explorado por adversá- rios nas eleições municipais. MARIO AGRA/CÂMARA DOS DEPUTADOS Votação simbólica e unânime. Sessão que aprovou restrição de saída temporária de detentos: partidos como o PT e o PSOL orientaram pela aprovação, para evitar uma versão com regras mais duras Bandeira conservadora, fim da saidinha de presos em feriados é aprovada na Câmara COM O APOIO DA ESQUERDA LAURIBERTO POMPEU lauriberto.pompeu@bsb.oglobo.com.br BRASÍLIA - BENEFÍCIO RESTRITO EDITORIA DE ARTE COMO FOI A ÚLTIMA SAIDINHA DE NATAL Como é atualmente A saída temporária permite que os detentos do regime semiaberto tenham direito a: • Visitas à família • Cursos profissionalizantes, de ensino médio e de ensino superior; • Atividades de retorno do convívio social Quem tem direito ao benefício Presos com bom comporta- mento que tenham cumprido um sexto da pena (se for primário) ou um quarto da pena (se for reincidente), que não tenham cometido crimes hediondos ou graves como assassinato. Se achar necessário, o juiz pode determinar que o preso use tornozeleira eletrônica durante a saída O que a Câmara aprovou Fica proibida a saidinha em datas comemorativas. Detentos que passam para os regimes semiaberto e aberto terão monitoramento eletrônico obrigatório. Para a progressão do regime penal, o detento deve se submeter a exames criminológicos Exceção O texto manteve uma exceção para detentos de baixa periculosidade terem direito de saída temporária para cursos estudantis ou profissionalizantes. A previsão não vale para condenados por crimes hediondos. Presos beneficiados com a saída temporária em dezembro de 2023 em 17 estados 52 mil Presos que retornaram à cadeia no período previsto 49 mil (95%) Presos que não retornaram no período estipulado 2,6 mil (5%) MG ES RJ PR SC RS MS MT GO DF BA SE AL PE PB RN CE PI MA TO PAAM AC RO RR AP SP População carcerária Ganharam saidinha Não voltaram 1 1 2 3 2 3 Rio de Janeiro Bahia Pará 58,1 mil 12,7 mil 15,9 mil 1.530 255 273 38 2.058 254 São Paulo teve mais presos com direito ao benefício 197,1
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