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14 - Legislação Penal Especial-20180130T191801Z-001

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14 - Legislação Penal Especial/8. CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA.docx
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
Por Fernanda Evlaine
ATUALIZADO EM 06/05/2017
CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA – LEI 8.137/90
1. INTRODUÇÃO E ASPECTOS GERAIS
1. Bem Jurídico: Protege-se o interesse do Erário, o patrimônio do Estado e a Ordem Econômica. Trata-se de bens jurídicos de natureza supraindividual. 
Pergunta da aprovação: O que se entender por “crimes de colarinho branco”?
*#APROFUNDAMENTO: Revela-se curial comentar sobre os (agora) cada vez mais “famosos” crimes do colarinho branco. Expressão cunhada pela doutrina penalista a partir dos estudos do sociólogo norte americano Edwin Sutherland, a expressão se refere aos delitos essencialmente praticados por indivíduos que gozam de elevado status social e/ou ocupam posição de destaque na iniciativa privada ou no serviço público.
Como exemplos típicos das infrações penais etiquetadas como crimes do colarinho branco, podemos citar a macrocriminalidade econômica, desenhada no ordenamento jurídico pátrio pelas leis (i) de lavagem de capitais (9.613/98), (ii) dos crimes contra o sistema financeiro nacional (7.492/86), (iii) dos crimes contra a ordem tributária (8.137/90), entre outras.
A terminologia utilizada, naturalmente, se deu com o evidente fito de identificar a parcela da população que mais frequentemente comete tais delitos, amiúde usando vestes sociais, gravatas, ternos e colarinho branco.
Esse fundamento é importante para compreender-se, de outra sorte, a ideia dos crimes do colarinho AZUL. Diversamente aos crimes do colarinho branco, esses delitos aqui são praticados por pessoas economicamente desabastadas e se verifica como uma alusão aos macacões azuis utilizados nas fábricas dos Estados Unidos, servindo como “identificador” dos autores mais recorrentes, evidenciando a oposição à criminalidade econômica supramencionada.
Aqui se pode dar como exemplos os crimes patrimoniais (furto, estelionato, roubo), lesões corporais, crimes de dano, entre outros. Apesar de um evidente caráter preconceituoso na classificação, ela se pauta por questões estatísticas a partir dos delitos efetivamente descobertos e/ou investigados pelo sistema de justiça, que autorizam identificar a “clientela” mais frequente desse tipo de criminalidade.
Essa classificação é realmente importante?
Apesar de não ser assunto muito cobrado em provas de concurso, há uma razão bastante forte para pensarmos que isso não tardará a acontecer. É que o Ministro Luiz Fux, no julgamento da Ação Penal 470 (caso do Mensalão), valeu-se, em seu voto, dessa expressão, assim indicando:
“O desafio na seara dos crimes do colarinho branco é alcançar a plena efetividade da tutela penal dos bens jurídicos não individuais. Tendo em conta que se trata de delitos cometidos sem violência, incruentos, não atraem para si a mesma repulsa social dos crimes do colarinho azul”.
Como sabemos que nomenclatura em prova de concurso público é questão de sobrevivência e que essa classificação pouco usual fora utilizada recentemente por um Ministro do Supremo Tribunal Federal em seu voto referente a um dos casos mais debatidos no Judiciário pátrio, é interessante e prudente dominar a ideia incutida nos chamados crimes do colarinho azul![1: http://blog.ebeji.com.br/voce-sabe-o-que-e-um-crime-do-colarinho-azul/. Acesso em 16/12/2016.]
2. Competência: A competência para o processamento e julgado dos crimes será definida pelo ente tributante. Nesse caso, será de competência da Justiça Federal quando:
a) Se o objeto do crime for tributo federal;
b) Se na mesma conduta forem sonegados tributos estaduais e federais, nos termos do entendimento Sumulado pelo STJ. 
		Súmula 122 – STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, “a”, do Código de Processo Penal.
c) Se utilizados documentos material e ideologicamente falsificados perante o Poder Judiciário Federal e a Secretaria da Receita Federal.
3. Natureza dos delitos: No art. 1º da Lei 8.137/90 estão previstos os crimes materiais contra a ordem tributária, pois nestes existe uma conduta instrumental, que é a fraude, e uma conduta final, que é a supressão ou alteração do tributo. Não basta que o agente cometa as condutas previstas, pois elas também exigem o resultado de supressão ou redução de tributo. 
OBS: Se o agente sonegar tributos diversos em uma única conduta, restará caracterizado crime único!
Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo, ou contribuição social e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas:
Por outro lado, no art. 2º encontram-se previstos os crimes formais contra a ordem tributária. Nestes basta que ocorra a fraude. 
Art. 2° Constitui crime da mesma natureza:      (Vide Lei nº 9.964, de 10.4.2000)
I - fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude, para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo;
II - deixar de recolher, no prazo legal, valor de tributo ou de contribuição social, descontado ou cobrado, na qualidade de sujeito passivo de obrigação e que deveria recolher aos cofres públicos;
III - exigir, pagar ou receber, para si ou para o contribuinte beneficiário, qualquer percentagem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou de contribuição como incentivo fiscal;
IV - deixar de aplicar, ou aplicar em desacordo com o estatuído, incentivo fiscal ou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade de desenvolvimento;
V - utilizar ou divulgar programa de processamento de dados que permita ao sujeito passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela que é, por lei, fornecida à Fazenda Pública.
4. Elemento subjetivo: dolo; não admitem modalidade culposa.
		Crimes contra a ordem tributária e consunção
1. O delito contra a ordem tributária absorve o estelionato, por ser este um crime meio. 
2. De acordo com a Jurisprudência do STJ e STF, se o crime de falso tiver sido perpetrado como meio para a prática do crime contra a ordem tributária, o crime tributário absorverá o crime de falso, na vertente de crime progressivo. A extinção da punibilidade em virtude do pagamento do tributo impede a continuidade da persecução em relação ao delito de falso, pois se trata de delito carente de autonomia (STJ, RHC 31321).
		Absorção dos crimes de falsidade ideológica e de uso de documento falso pelo de sonegação fiscal
O crime de sonegação fiscal absorve o de falsidade ideológica e o de uso de documento falso praticados posteriormente àquele unicamente para assegurar a evasão fiscal. 
(...) Após evolução jurisprudencial, o STJ passou a considerar aplicável o princípio da consunção ou da absorção quando os crimes de uso de documento falso e falsidade ideológica – crimes meio – tiverem sido praticados para facilitar ou encobrir a falsa declaração, com vistas à efetivação do pretendido crime de sonegação fiscal – crime fim 
(...) Aplica-se, assim, mutatis mutandis, o comando da Súmula 17 do STJ (Quando o falso se exaure no estelionato, sem mais potencialidade lesiva, é por este absorvido). 
Nota: o acórdão acima exposto é relevante porque foi proferido pela 3° Seção do STJ, que reúne as duas Turmas com competência penal (5° e 6° Turmas). (Informativo STJ 535 (2014) – Terceira Seção - DPN)
5. Denúncia nos crimes contra a ordem Tributária: Os delitos contra a ordem tributária também são conhecidos como delitos de gabinete ou societários, pois, são praticados a portas fechadas, dificultando a descrição da denúncia do fato criminoso. 
Nesse caso, o entendimento pacificado na Jurisprudência é o de que nos crimes de autoria coletiva não é necessária a descrição minuciosa e individualizada da ação de cada acusado. Entretanto, embora não seja
necessária a descrição pormenorizada da conduta de cada denunciado, o MP deve narrar qual é o vínculo entre o denunciado e o crime a ele imputado, sob pena da denúncia ser inepta. (STJ, HC 214.861-SC). Ou seja, admite a denominada denúncia genérica. 
		De olho na Jurisprudência
Denúncia no crime de sonegação fiscal deve descrever a conduta do denunciado, não bastando apontar sua condição de sócio ou administrador
É inepta a denúncia que, ao imputar a sócio a prática dos crimes contra a ordem tributária previstos nos incisos do art. 1º da Lei 8.137/1990, limita-se a transcrever trechos dos tipos penais em questão e a mencionar a condição do denunciado de administrador da sociedade empresária que, em tese, teria suprimido tributos, sem descrever qual conduta ilícita supostamente cometida pelo acusado haveria contribuído para a consecução do resultado danoso. 
O simples fato de o acusado ser sócio e administrador da empresa constante da denúncia não pode levar a crer, necessariamente, que ele tivesse participação nos fatos delituosos, a ponto de se ter dispensado ao menos uma sinalização de sua conduta, ainda que breve, sob pena de restar configurada a repudiada responsabilidade criminal objetiva. STJ. 6ª Turma. HC 224.728-PE, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 10/6/2014 (Info 543).
		As pessoas jurídicas podem ser responsabilizadas por crime contra a Ordem Tributária?
A responsabilidade penal da pessoa jurídica ainda é um tema controvertido na doutrina, mas as pessoas jurídicas possuem capacidade processual para figurar no polo passivo de ação penal ambiental (§ 3º do art. 225 da CF e art. 3º Lei 9.605/98). A CF também prevê a responsabilidade penal das PJ nos crimes contra a ordem econômica e financeira e contra a economia popular (173, § 5º, CF), entretanto ainda não há responsabilidade penal da PJ nesse âmbito, por falta de regulamentação legal. Portanto, atualmente, a PJ somente pode ser responsabilizada penalmente em crimes ambientais. 
6. Princípio da insignificância: 
O princípio da insignificância pode ser aplicado no caso de crimes tributários?
SIM. É plenamente possível que incida o princípio da insignificância tanto nos crimes contra a ordem tributária previstos na Lei n. 8.137/90 como também no caso do descaminho (art. 334 do CP).
Qual é o valor máximo considerado insignificante no caso de crimes tributários?
STJ: 10 mil reais. O STJ tem decidido que o valor de 20 mil reais, estabelecido pela Portaria MF n. 75/12 como limite mínimo para a execução de débitos contra a União, NÃO pode ser considerado para efeitos penais (não deve ser utilizado como novo patamar de insignificância). 
STF: 20 mil reais. Para o STF, o fato de as Portarias 75 e 130/2012 do Ministério da Fazenda terem aumentado o patamar de 10 mil reais para 20 mil reais produz efeitos penais. (Precedente: STF. 1ª Turma. HC 120617, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 04/02/2014).
Vale ressaltar que o limite imposto por essa portaria pode ser aplicado de forma retroativa para fatos anteriores à sua edição considerando que se trata de norma mais benéfica (STF. 2ª Turma. HC 122213, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, Segunda Turma, julgado em 27/05/2014). 
Esse valor é considerado insignificante tanto no caso de crimes envolvendo tributos federais, como também estaduais e municipais?
NÃO. Esse parâmetro vale, a princípio, apenas para os crimes que se relacionam a tributos federais, considerando que é baseado no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, que trata dos tributos federais. 
No cálculo do valor do crédito tributário devem ser incluídos os valores de juros e multa?
Não. O valor a ser considerado para fins de aplicação do princípio da insignificância é aquele fixado no momento da consumação do crime, vale dizer, da constituição definitiva do crédito tributário, e não aquele posteriormente alcançado com a inclusão de juros e multa por ocasião da inscrição desse crédito na dívida ativa.” (STJ. 6ª Turma. REsp 1306425/RS, Rel. Min. Maria Thereza De Assis Moura, julgado em 10/06/2014). 
OBS: O critério da continuidade delitiva (crime continuado: mesma espécie, condições de tempo, lugar e execução) é mais elástico para os crimes contra a ordem tributária, com intervalo de até 3 anos no caso do IR ou 3 meses nos outros tributos.
		Caso prático:
Mévio mora em Rio Branco/AC e se aproveita do fato do Estado do Acre fazer fronteira com a Bolívia para adquirir produtos por preços baixíssimos. Ocorre que Mévio responde a mais de 10 processos por descaminho, e os valores dos tributos ilididos, somados, ultrapassam pouco mais de 10 mil reais. É possível a aplicação do princípio da insignificância?
NÃO. Se o agente for considerado criminoso habitual, restará impedida a aplicação do princípio da insignificância.[2: Para mais informações sobre a aplicação do princípio da insignificância ver o Ponto 1 do Material Ciclos – Penal.]
7. Prévio exaurimento da instância administrativa: O STF entende que a decisão definitiva no processo administrativo fiscal, concluindo pela efetiva supressão ou redução do tributo, constitui justa causa e condição objetiva de punibilidade em relação aos crimes definidos no art. 1º da Lei 8.137/90, por se tratarem de crimes materiais. A invalidação posterior do lançamento definitivo acarreta a sua inexistência, e consequentemente, a atipicidade do delito. 
		#MUITO IMPORTANTE
Súmula Vinculante 24: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.
		A Súmula Vinculante 24 pode ser aplicada para fatos ocorridos antes da sua vigência?
SIM. Segundo a 1ª Turma do STF. A súmula vinculante não é lei nem ato normativo, de forma que a SV 24-STF não inovou no ordenamento jurídico. O enunciado apenas espelhou {demonstrou) o que a jurisprudência já vinha decidindo. 
STF. 1ª Turma. RHC 122774/RJ, Rei. Min. Dias Toffoli, julgado em 19/5/2015 (lnfo 786).
Pergunta-se, essa súmula se aplica ao descaminho? 
NÃO! Como bem diz o enunciado, só é aplicável aos crimes tributários materiais. O Descaminho é considerado crime tributário formal. 
OBS: Quando o delito contra a ordem tributária for praticado em concurso de crimes com outro delito que não seja contra a ordem tributária, a ausência de lançamento definitivo do crédito tributário não impede que a persecução penal prossiga com relação aos outros delitos praticados em concurso.
		SONEGAÇÃO FISCAL. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO.
Para a promoção da ação penal referente ao delito de sonegação fiscal (art. 1º da Lei n. 8.137/1990), não é necessário que se instaure procedimento administrativo fiscal contra cada um dos corréus na qualidade de pessoas físicas, se já transcorreu outro procedimento de igual natureza em que se apurou haver a prática do crime por meio da pessoa jurídica. (STJ, 6ª Turma, HC 86.309-MS, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 8/2/2011, Info 462).
		Impossibilidade de medidas cautelares penais antes da constituição definitiva
Antes da constituição definitiva do crédito tributário não existe crime de sonegação. Logo, não é lícito que a autoridade policial inicie investigação para apurar esse fato e não é possível que o juiz decrete medidas cautelares penais. (STJ, 5ª Turma, HC 211.393/RS, julgado em 13/08/2013). 
		#IMPORTANTE #ATENÇÃO
Investigação preliminar antes da constituição definitiva do crédito tributário
Imagine que determinada empresa deixou de pagar tributos, fraudando a fiscalização tributária (inciso II do art. 1º da Lei nº 8.137/90). Ocorre que o Fisco ainda não terminou o processo administrativo-fiscal instaurado para apurar o fato. É possível que seja instaurado inquérito policial para apurar o crime mesmo não tendo havido ainda a constituição definitiva do crédito tributário? SIM. Nos crimes de sonegação tributária, apesar de a jurisprudência
do STF condicionar a persecução penal à existência do lançamento tributário definitivo, o mesmo não ocorre quanto à investigação preliminar. Em outras palavras, mesmo não tendo havido ainda a constituição definitiva do crédito tributário, já é possível o início da investigação criminal para apurar o fato. STF. 1ª Turma. HC 106152/MS, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 29/3/2016 (Info 819).
Nota: Ou seja, se na sua prova perguntar se pode ocorrer investigação preliminar antes da constituição definitiva do crédito, marque que sim. Por outro lado, se for indagado se pode ocorrer a decretação de medidas cautelares antes da constituição definitiva do crédito tributário, marque que não. 
		Ajuizamento da ação antes da constituição definitiva
Imagine que, mesmo após a edição da SV 24-STF, o Ministério Público tenha oferecido denúncia contra o réu pelo art.1°, I sem que tivesse havido constituição definitiva do crédito tributário. O juiz recebeu a denúncia. O réu impetrou habeas corpus invocando o enunciado. Antes que fosse julgado o HC, houve lançamento definitivo. O que deverá acontecer nesse caso? A superveniente constituição definitiva convalida o vício inicial?
NÃO. A constituição do crédito tributário após o recebimento da denúncia não tem o condão de convalidar a ação penal que foi iniciada em descompasso com as normas jurídicas vigentes e com a SV24 do STF. Desde o nascedouro, essa ação penal é nula porque referente a atos desprovidos de tipicidade (STJ. 5ª Turma. HC 238.417/SP, Rei. Min. Laurita Vaz, julgado em 11/03/2014).
8. Pagamento definitivo e parcelamento dos créditos tributários: O art. 9º da Lei 10.684/2003, criou o denominado parcelamento especial (PAES), que dispõe acerca do instituto da suspensão da pretensão punitiva estatal, que se dá quando o agente estiver incluído no regime de parcelamento. Nesse caso, parcelamento do crédito tributário acarreta a suspensão da pretensão punitiva, não podendo haver o oferecimento da denúncia nesse meio tempo. Acarreta também a suspensão do prazo prescricional.
IMPORTANTE: O pedido de parcelamento deve ser feito antes do recebimento da denúncia.
E se houver o pagamento integral? Nesse caso haverá a extinção da punibilidade.
*O pagamento da penalidade pecuniária (multa) imposta ao contribuinte que deixa de atender às exigências da autoridade tributária estadual quanto à exibição de livros e documentos fiscais não se adequa a nenhuma das hipóteses de extinção de punibilidade previstas no § 2º do art. 9º da Lei nº 10.864/2003. STJ. 6ª Turma. REsp 1.630.109-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 14/2/2017 (Info 598).
		E qual o momento limite para o pagamento integral?
a) Pagamento integral antes da condenação: Extingue a punibilidade.
b) Pagamento integral depois da condenação, mas antes do trânsito em julgado: Extingue a punibilidade.
c) Pagamento integral depois do trânsito em julgado: NÃO irá interferir no crime. A condenação persiste. Isso porque a punição já foi imposta e o art. 9º da Lei 10.684/2003 fala em extinção da punibilidade, e não extinção da executoriedade. (STJ, HC 302.059-SP, Info 556). 
Ou seja, o pagamento necessita ser feito antes do trânsito em julgado para gerar o efeito da extinção da punibilidade. 
Atenção: Não confundir as hipóteses de parcelamento com pagamento integral. O parcelamento só pode ser feito até o recebimento da denúncia.
*Se o denunciado pelo crime de descaminho fizer o pagamento integral da dívida tributária, haverá extinção da punibilidade? NÃO. Segundo a posição atual do STJ, o pagamento do tributo devido NÃO extingue a punibilidade do crime de descaminho. STJ. 5ª Turma. RHC 43.558-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 5/2/2015 (Info 555). 
9. Dificuldades financeiras:
A Doutrina e a Jurisprudência tem tomado posicionamento favorável e admitindo causas de inexigibilidade de conduta diversa que não estão positivadas na legislação brasileira (art. 22, do Código Penal), razão pela qual são denominadas supralegais. Essa tese atualmente possui aplicabilidade nos crimes contra a ordem tributária previstos na Lei 8.137/90, no delito de apropriação indébita de contribuição previdenciária (art. 168-A do Código Penal) e no crime de descaminho. Ilustra-se Súmula do TRF:
4ª REGIÃO. SÚMULA Nº 68. "A prova de dificuldades financeiras, e consequente inexigibilidade de outra conduta, nos crimes de omissão no recolhimento de contribuições previdenciárias, pode ser feita através de documentos, sendo desnecessária a realização de perícia."[3: Pelo amor de Deus, a Súmula é do TRF e não do STJ/STF, não vão confundir!]
	Segue ementa de caso em que fora alegada pela DPU a referida tese:[4: O processo está em tramitação. Sem decisão até o momento.]
EMENTA DEFENSÓRIA: PENAL. PROCESSO PENAL. CRIME CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA. INCISOS I E II DO ART. 1º DA LEI Nº 8.137/90. 
 AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA. INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DE AUTORIA. CONDIÇÃO DE SÓCIO-PROPRIETÁRIO QUE NÃO É SUFICIENTE, POR SI SÓ, PARA CARACTERIZAR A RESPONSABILIDADE PENAL.
ATIPICIDADE DA CONDUTA. AUSÊNCIA DE DOLO. AUSÊNCIA DO ESPECIAL FIM DE AGIR DE FRAUDAR O FISCO. TENTATIVA DE “SALVAR” A EMPRESA COM O PAGAMENTO DA MÃO DE OBRA.CERTIDÃO NEGATIVA DE DÉBITOS TRABALHISTAS.
EXCLUSÃO DA CULPABILIDADE. CAUSA SUPRALEGAL DE INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA. EMPRESA QUE SOFREU PUNIÇÃO DE CONTRATAR COM A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. DIFICULDADES FINANCEIRAS ENFRENTADAS PELA EMPRESA. RÉUS QUE OPTARAM PELO PAGAMENTO DOS FUNCIONÁRIOS. DECLARAÇÃO DO CONTADOR E DOCUMENTOS DA SUSPENSÃO DA EMPRESA FEITA PELO DEPASA E PELA PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO BRANCO
BIS IN IDEM. CONFLITO APARENTE DE LEIS PENAIS. INCISO II DO ART. 1º DA LEI Nº 8.137/90 (CRIME-FIM) ABSORVE O INCISO I (CRIME-MEIO).
10. Artigos relevantes:
- Art. 10. Caso o juiz, considerado o ganho ilícito e a situação econômica do réu, verifique a insuficiência ou excessiva onerosidade das penas pecuniárias previstas nesta lei, poderá diminuí-las até a décima parte ou elevá-las ao décuplo.
- Art. 12. São circunstâncias que podem agravar de 1/3 até a metade as penas previstas nos arts. 1°, 2° e 4° a 7°:
I - ocasionar grave dano à coletividade;	
II - ser o crime cometido por servidor público no exercício de suas funções;
III - ser o crime praticado em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens essenciais à vida ou à saúde.
- Art. 15. Os crimes previstos nesta lei são de ação penal pública incondicionada.
- Art. 16, Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de confissão espontânea revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua pena reduzida de um a dois terços.
11. Jurisprudência sobre o tema:
		Tipicidade da Omissão de declaração de rendimentos ao fisco
Se o contribuinte deixa de apresentar declaração ao Fisco com o fim de obter a redução ou supressão de tributo e consegue atingir o resultado almejado, tal conduta consubstancia crime de sonegação fiscal, na modalidade do inciso I do art. 1º da Lei nº 8.137/90.
A constituição do crédito tributário, por vezes, depende de uma obrigação acessória do contribuinte, como a declaração do fato gerador da obrigação tributária (lançamento por declaração). Se o contribuinte não realiza tal ato com vistas a não pagar o tributo devido ou a reduzir o seu valor, comete o mesmo crime daquele que presta informação incompleta. A circunstância de o Fisco dispor de outros meios para constituir o crédito tributário, ante a omissão do contribuinte em declarar o fato gerador, não afasta a tipicidade da conduta; o arbitramento efetivado é uma medida adotada pelo Fisco para reparar a evasão decorrente da omissão e uma evidência de que a conduta omissiva foi apta a gerar a supressão ou, ao menos, a redução do tributo na apuração. 
Assim, segundo entendeu o STJ, a omissão na entrega da antiga
Declaração de Informações Econômico-Fiscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) consubstanciava conduta apta a firmar a tipicidade do crime de sonegação fiscal previsto no art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90, ainda que o Fisco dispusesse de outros meios para a constituição do crédito tributário. Obs: a DIPJ foi substituída pela Escrituração Contábil Fiscal (ECF). STJ. 6ª Turma. REsp 1.561.442-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 23/2/2016 (Info 579).
		Crime tributário, ausência de constituição definitiva e extradição
Se o estrangeiro está respondendo a ação penal por crime tributário no exterior, ele poderá ser extraditado mesmo que ainda não tenha havido a constituição do crédito tributário no país requerente. O que se exige, para o reconhecimento do pedido, é que o fato seja típico em ambos os países, não sendo necessário que o Estado requerente siga as mesmas regras fazendárias existentes no Brasil. (STF. 2ª Turma. Ext 1222/República Federal da Alemanha, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 20/8/2013 (lnfo 716).
		Extensão do dano e aumento da pena base
Em se tratando de infrações penais contra a ordem tributária, a extensão do dano causado pode ser invocada na 1º fase da dosimetria como critério para exasperação da pena-base, sem que tanto implique bis in idem. (STF, 2ª Turma. HC 128446/PE, Rel. Min Teori Zavascki, julgado em 15/09/2015. (Info 799).
*Determinado réu foi condenado por sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei 8.137/90). O STF considerou correta a sentença do juiz que, na 1ª fase da dosimetria da pena, aumentou a pena-base com fundamento em dois argumentos: 
1) Na análise das circunstâncias, o magistrado aumentou a pena sob a alegação de que o réu omitiu seu nome do quadro societário da empresa com o objetivo de esconder que era ele quem realmente administrava a empresa. O STF afirmou que o ardil utilizado pelo réu (omissão do seu nome do quadro societário da empresa) teve como objetivo acobertar sua real condição de administrador da empresa investigada e, com isso, furtar-se de possível aplicação da lei penal. Essa omissão do nome do réu no quadro societário não é a mesma omissão de que trata o inciso I do art. 1º. A omissão que é elementar do tipo é a omissão para suprimir ou reduzir tributo. A omissão do nome do réu foi para evitar que ele fosse descoberto. Logo, punir a omissão do nome do réu não significa punir o condenado duas vezes pelo mesmo fato. LOGO, É LEGÍTIMO O AUMENTO DA PENA.
2) No exame das consequências do crime, o juiz também majorou a pena argumentando que o crime praticado gerou um grande prejuízo ao erário (mais de 2 milhões de reais), o que autorizaria a elevação da pena-base. Segundo entende o STF, em se tratando de infrações penais contra a ordem tributária, a extensão do dano causado pode ser invocada na 1ª fase da dosimetria como critério para exasperação da pena-base, sem que tanto implique bis in idem. LOGO, É LEGÍTIMO O AUMENTO DA PENA. STF. 2ª Turma. HC 128446/PE, Rel. Min. Teori Zavascki, julgado em 15/9/2015 (Info 799).
Termo Inicial do prazo prescricional do art. 2º, I, da Lei 8.137/90
*O termo inicial do prazo prescricional da pretensão punitiva do crime previsto no art. 2º, I, da Lei nº 8.137/90 é a data em que a fraude é praticada, e não a data em que ela é descoberta. Isso porque o referido tipo tem natureza de crime formal, instantâneo, sendo suficiente a conduta instrumental, haja vista não ser necessária a efetiva supressão ou redução do tributo para a sua consumação, bastando o emprego da fraude. Assim, o fato de a fraude ter sido empregada em momento determinado, ainda que irradie efeitos até ser descoberta, não revela conduta permanente, mas sim crime instantâneo de efeitos permanentes - os quais perduraram até a descoberta do engodo. 
STJ. 5ª Turma. RHC 36.024-ES, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 25/8/2015 (Info 568). 
*Extinção da punibilidade e pagamento integral do débito fiscal
Nos crimes tributários materiais (ex: apropriação indébita previdenciária), o pagamento integral do débito tributário feito após a condenação, mas antes do trânsito em julgado, interfere na condenação?
SIM. O pagamento integral do débito tributário feito após a condenação, mas antes do trânsito em julgado, acarreta a extinção da punibilidade com base no art. 9º, § 2º da Lei 10.684/2003. 
E se o pagamento integral ocorrer após o trânsito em julgado, mesmo assim haveria a extinção da punibilidade?
NÃO. Nos crimes tributários materiais, o pagamento do débito previdenciário após o trânsito em julgado da sentença condenatória NÃO acarreta a extinção da punibilidade. 
O art. 9º da Lei 10.684/2003 trata da extinção da punibilidade pelo pagamento da dívida antes do trânsito em julgado da condenação, uma vez que faz menção expressa à pretensão punitiva do Estado. Após o trânsito em julgado da condenação, o Estado já exerceu o seu direito de punir (fixar sanção). Começa, a partir daí, o seu poder de executar a punição, o que é um instituto diferente. 
STJ. 6ª Turma. HC 302.059-SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 5/2/2015 (Info 556).
*O art. 9º da Lei 10.684/2003 prevê que o pagamento integral do débito fiscal realizado pelo réu é causa de extinção de sua punibilidade. Imagine que determinado indivíduo tenha praticado estelionato contra o INSS, conhecido como estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP). Antes do recebimento da denúncia, o agente paga integralmente o prejuízo sofrido pela autarquia. Isso poderá extinguir sua punibilidade, com base no art. 9º da Lei 10.684/2003? NÃO. Não extingue a punibilidade do crime de estelionato previdenciário (art. 171, § 3º, do CP) a devolução à Previdência Social, antes do recebimento da denúncia, da vantagem percebida ilicitamente. O art. 9º da Lei 10.684/2003 menciona os crimes aos quais são aplicadas suas regras: a) arts. 1º e 2º da Lei nº 8.137/90; b) art. 168-A do CP (apropriação indébita previdenciária); c) Art. 337-A do CP (sonegação de contribuição previdenciária). Repare, portanto, que o estelionato previdenciário (art. 171, § 3º do CP) não está listado nessa lei. Mesmo sem o estelionato previdenciário estar previsto, não é possível aplicar essas regras por analogia em favor do réu? NÃO. O art. 9º da Lei 10.684/2003 somente abrange crimes tributários materiais, delitos que são ontologicamente distintos do estelionato previdenciário e que protegem bens jurídicos diferentes. Dessa forma, não há lacuna involuntária na lei penal a demandar analogia. O fato de o agente ter pago integralmente o prejuízo trará algum benefício penal? SIM. O agente poderá ter direito de receber o benefício do arrependimento posterior, tendo sua pena reduzida de 1/3 a 2/3 (art. 18 do CP). STJ. 6ª Turma. REsp 1.380.672-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 24/3/2015 (Info 559). 
*#OUSESABER: Em decisão exarada no ARE 999.425, com repercussão geral reconhecida, o STF reafirmou a jurisprudência no sentido de que a criminalização de sonegação fiscal (prevista na Lei n. 8.137/1990) não viola o art. 5o, inciso LXVII, da CF/88, em virtude de ostentar caráter penal e não se relacionar com a prisão civil por dívida. Conforme o Supremo, referida lei está voltada contra condutas de sonegação fiscal e fraude, realizadas mediante omissão de informações ou declaração falsa às autoridades fazendárias, praticadas no intuito de suprimir ou reduzir tributo, contribuição social e qualquer acessório. Assim, ainda que possível a extinção da punibilidade ante o pagamento do débito verificado (art. 9o da Lei n. 10.684/2003), a Lei 8.137/90 não disciplina uma espécie de execução fiscal "sui generis", nem uma cobrança de débito fiscal. Ela apenas prevê que a incriminação da prática de fraude em documentação tributária está sujeita à fiscalização da autoridade fazendária, sem, no entanto, estatuir ou prever a possibilidade de prisão civil em razão de débito fiscal.
		10 COISAS QUE VOCÊ NÃO PODE ESQUECER
Por fim, vamos elencar 10 pontos sobre o tema que você não pode deixar de saber, em hipótese alguma, devido a sua grande incidência em provas. Vejamos:
1) A competência nos crimes contra a ordem tributária é determinada pelo entre tributante.
2) Súmula 122 – STJ: Compete à Justiça Federal o processo e julgamento unificado dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art. 78, II, “a”, do Código de Processo Penal.
3) Todos os crimes só podem ser praticados na forma dolosa. Os crimes previstos no art. 1º são considerados crimes materiais, exigindo o resultado de redução ou supressão de tributo. Por outro lado, os do art. 2º são considerados crimes formais. 
4) É aplicável o princípio da Consunção. 
5) A denúncia não precisa descrever de maneira minuciosa a conduta de cada acusado, mas deve apontar qual o vínculo do denunciado, não sendo suficiente a mera condição de sócio. 
6) Não cabe a decretação de medidas cautelas antes da constituição definitiva do crédito tributário. Entretanto, é possível a investigação preliminar. 
7) Súmula Vinculante 24: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo. OBS: A súmula se aplica aos fatos antes da sua vigência.
8) Aplica-se o princípio da insignificância nos crimes materiais contra a ordem tributária. STF: 20 mil reais. STJ: 10 mil reais. 
9) O parcelamento do crédito é causa de suspensão de punibilidade e do prazo prescricional. Só pode ser feito até o recebimento da denúncia.
10) O pagamento integral ocorrido até antes do trânsito em julgado acarreta a extinção da punibilidade. 
		Como o assunto foi cobrado em provas?
01. (CESPE – PE – Delegado de Polícia/2016):
A seguinte assertiva foi considerada errada: “Para o STF, haverá crime contra a ordem tributária, ainda que esteja pendente de recurso administrativo que discuta o débito tributário em procedimento fazendário específico, haja vista independência dos poderes.”. 
02. (FAURGS – TJRS – Juiz de Direito Substituto/2016)
A seguinte assertiva foi considerada errada: “No crime de sonegação fiscal, o parcelamento administrativo do débito tributário é causa de extinção da pretensão punitiva, desde que seja realizado em momento anterior ao oferecimento da denúncia.”. 
03. (VUNESP – TJRJ – Juiz de Direito Substituto/2016)
No que tange às infrações penais relativas ao Direito Penal Econômico, nos termos previstos no Edital, assinale a alternativa correta.
a) Caracteriza-se como crime contra a ordem econômica formar acordo, convênio, ajuste ou aliança entre ofertantes, visando a variação natural de preços ou quantidades vendidas ou produzidas.
b) Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de contravenção penal não caracteriza o crime de lavagem de bens, direitos e valores.
c) Aquele que participa de grupo, associação ou escritório tendo conhecimento de que sua atividade principal ou secundária é dirigida à prática de crimes previstos na Lei de lavagem ou ocultação de bens, direitos e valores, somente será responsabilizado pela prática destes crimes se, efetivamente, participar das condutas ilícitas desenvolvidas pela organização.
d) Fazer declaração falsa ou omitir declaração sobre rendas, bens ou fatos, ou empregar outra fraude para eximir-se, total ou parcialmente, de pagamento de tributo só será considerado crime tributário se implicar na efetiva supressão ou redução tributária.
e) Com base na jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, para a caracterização dos crimes materiais contra a ordem tributária não basta a omissão ou a falsa informação prestada, sendo necessário que impliquem na supressão ou redução tributária.
Gabarito:[5: E. Conforme explanado na análise dos crimes materiais contra a ordem tributária.]
04. (CESPE – DPE RN – Defensor Público Substituto/2015):
No que se refere à extinção de punibilidade, a seguinte assertiva foi considerada errada: “Nos crimes contra a ordem tributária, o pagamento integral do débito tributário após o trânsito em julgado da condenação é causa de extinção da punibilidade.”. 
14 - Legislação Penal Especial/14. CRIMES DE RESPONSABILIDADE COMETIDOS POR PREFEITOS.docx
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
CRIMES DE RESPONSABILIDADE DE PREFEITOS 
Por Roberto Lobo
 
ATUALIZADO EM 26/04/2017[1: As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. ]
CRIMES DE RESPONSABILIDADE DE PREFEITOS
		DISPOSIÇÕES GERAIS
CRIAÇÃO DE TIPO PENAL POR DECRETO-LEI
De acordo com o STF, é válida a criação de tipo penal por DL, devendo ser apreciado o aspecto formal de acordo com a regra constitucional então vigente. Sobre a recepção do DL 201 pela CF de 1988, a súmula 496 do STF: “São válidos, porque salvaguardados pelas Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição Federal de 1967, os decretos-leis expedidos entre 24 de janeiro e 15 de março de 1967”.
NATUREZA JURÍDICA DOS CRIMES PREVISTOS NO ART. 1º DO DL
O DL 201 não é exclusivamente penal, trazendo também sanções de ordem política e civil em relação a infrações cometidas por prefeitos. 
O foco do nosso estudo são os crimes do art. 1º. Embora sejam conhecidos, impropriamente, como crimes de responsabilidade, os crimes do art.1º do DL 201/67 são CRIMES COMUNS, ou seja, infrações de natureza penal, julgadas pelo Poder Judiciário, independentemente de manifestação da Câmara dos Vereadores. Portanto, são chamados de crimes de responsabilidade impróprios. 
O Dec.-Lei 201/67 trata da responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores. Diferentemente da Lei 1.079/50, o Dec.-Lei 201/67, em seu art. 1º, caput, faz alusão a "crimes de responsabilidade" não para designar infrações de natureza político-administrativa, mas sim para tipificar verdadeiros ilícitos penais. Com efeito, as condutas tipificadas no rol do art. 1º, do Dec.-Lei 201/67, são crimes comuns, sujeitos que estão ao julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores, e são sancionados com pena de 02 (dois) a 12 (doze) anos de reclusão, nos casos dos incisos I e II, e com pena de 03 (três) meses a 03 (três) anos de detenção nos casos incisos III a XXIII.
Não devem ser confundidos, assim, com os crimes de responsabilidade em sentido estrito (próprios), objetos do art.4º, que têm natureza de infrações político-administrativas e são julgados pelo Poder Legislativo Municipal, puníveis com a perda do mandato. 
Se o art. 1º, do Dec.-Lei 201/67, como visto, tipifica condutas que culminam na responsabilidade penal do Prefeito, o art. 4º contempla em seus incisos um rol de infrações político-administrativas sujeitas ao julgamento pela Câmara dos Vereadores e sancionadas com a cassação do mandato (impeachment). 
Na verdade, o termo “crime” não deveria nem ser empregado para essas infrações do art. 4º:
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA - (...) se revela imprópria a locução constitucional ‘crimes de responsabilidade’, que compreende, na realidade, infrações de caráter político-administrativo, em oposição à expressão (igualmente inscrita no texto da Constituição) ‘crimes comuns’. Com efeito, o crime comum e o crime
de responsabilidade são figuras jurídicas que exprimem conceitos inconfundíveis. O crime comum é um aspecto da ilicitude penal. O crime de responsabilidade refere-se à ilicitude político-administrativa. O legislador constituinte utilizou a expressão crime comum, significando ilícito penal, em oposição a crime de responsabilidade, significando infração político-administrativa. (...) O Código Penal está em vigor, cuidando dos crimes contra a administração pública, que podem ser cometidos, inclusive por Prefeitos. O Prefeito pode perfeitamente ser julgado, pelo Tribunal de Justiça, no caso de cometer peculato, emprego irregular de verbas públicas, concussão, prevaricação, tudo isso não é crime de responsabilidade; tudo isso é crime comum que o Prefeito pode cometer e ser julgado pelo Poder Judiciário. Ao lado disso, existe o crime de responsabilidade, que é uma infração político-administrativa (...)” (ADI 4.190-MC, Rel. Min. Celso de Mello, decisão monocrática, DJE de 4-8-2009). 
		ART. 1º
		ART. 4º
		Crimes de responsabilidade impróprios. Na verdade, sã crimes comuns impropriamente chamados de crimes de responsabilidade.
		“Crimes” de responsabilidade próprios. Infrações político-administrativas.
		Julgamento do Poder Judiciário, independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores
		Julgamento pela Câmara dos Vereadores
		Pena de 02 (dois) a 12 (doze) anos de reclusão, nos casos dos incisos I e II, e com pena de 03 (três) meses a 03 (três) anos de detenção nos casos incisos III a XXIII.
		Sancionadas com a cassação do mandato (impeachment).
#CUIDADO!!! Quanto aos VEREADORES, o Dec.-Lei 201/67 NÃO PREVÊ INFRAÇÕES DE CUNHO PENAL, mas SOMENTE AS DE NATUREZA POLÍTICO-ADMINISTRATIVAS previstas no art. 7º, segundo o qual "A Câmara poderá cassar o mandato de Vereador, quando: I - Utilizar-se do mandato para a prática de atos de corrupção ou de improbidade administrativa; II - Fixar residência fora do Município; III - Proceder de modo incompatível com a dignidade, da Câmara ou faltar com o decoro na sua conduta pública".
BEM JURÍDICO TUTELADO
É o bom andamento da administração pública, tanto em seu aspecto patrimonial, quanto de respeito à moralidade administrativa. 
PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
		STF
		STJ
		Aplica-se o princípio da insignificância, decidiu a 2ª turma do STF, no HC 104286, julgado em 03/05/2011, com fundamento no princípio da proporcionalidade.
		Não se aplica (STJ, 6ª Turma - HC 178774, julgado em 19/06/2012; STJ, 5ª Turma – HC 145114, julgado em 17/08/2010), tendo em vista que os delitos ora em comento protegem não apenas o patrimônio público, mas também o princípio da moralidade administrativa que não comporta quantificação.
SUJEITOS DO CRIME
Lembrando que o foco do nosso estudo são os crimes do art. 1º:
Sujeito ativo: São crimes funcionais, próprios, que somente podem ser cometidos pelo Prefeito Municipal ou por quem esteja no exercício desse cargo (Vice ou Presidente da Câmara de Vereadores). Admitem-se, no entanto, coautoria e participação por parte de outros agentes, caso em que a qualidade de Prefeito, por ser elementar do delito, comunica-se aos demais (art.30 do CP).
#SELIGANASÚMULA (CAI MUITO) - O término do mandato não impede que o agente seja processado pelos fatos cometidos durante o seu exercício (S.703 do STF e S.164 do STJ). 
Sujeito passivo: Em regra, será o Município ou entidade da administração municipal indireta. Eventualmente, poderão ser vítimas o Estado ou a União, o que determinará, no último caso, alteração de competência.
ELEMENTO SUBJETIVO 
É o dolo, em todas as modalidades, não havendo previsão de forma culposa.
Competência
O art.2º do DL 201, que atribuía a competência para julgamento do Prefeito ao juiz singular, quando do cometimento de crimes comuns, encontra-se, nesta parte, derrogado pelas disposições constantes do art.29, X, da CF, que a atribui ao TJ.
Logo, em regra, a competência é do TJ. Será do TRF nos casos em que o crime seria de competência da JF, por paralelismo, conforme consolidado na súmula 702 do STF.
#SELIGANASÚMULA - SÚMULA 702 DO STF: A competência do tribunal de justiça para julgar prefeitos restringe-se aos crimes de competência da justiça comum estadual; nos demais casos, a competência originária caberá ao respectivo tribunal de segundo grau.
Em caso de transferência de verbas federais, aplicam-se a súmulas 208 e 209 do STJ:
#SELIGANASSÚMULAS:
-SÚMULA 208 do STJ: compete a justiça federal processar e julgar prefeito municipal por desvio de verba sujeita a prestação de contas perante órgão federal 
-SÚMULA 209 do STJ: compete à justiça estadual processar e julgar prefeito por desvio de verba transferida e incorporada ao patrimônio municipal.
AÇÃO PENAL
É pública e incondicionada. 
PARTE PROCESSUAL PENAL
A denúncia não fica subordinada a pronunciamento prévio da Câmara de Vereadores, como deixa expresso o caput do art.1º, estando superada a súmula 301 do STF. 
Se a conduta imputada ao agente constitui crime em tese e também infração político-administrativa, ambas as responsabilidade podem coexistir, não se falando em afronta ao art.4º do DL 201. 
O OFERECIMENTO DA DENÚNCIA NÃO FICA SUBORDINADO AO TÉRMINO DO PROCESSO ADMINISTRATIVO EM TRÂMITE NO TC. Não se exige, aliás, que tenha sido iniciado processo administrativo. Do mesmo modo, a aprovação das contas municipais pelo TC não prejudica a ação penal.
Rito: Atualmente, por força do disposto na Lei 8658/93, aplica-se o rito da Lei 8038/90, caso o acusado esteja no exercício do cargo. Com o término do mandato e baixa dos autos à primeira instância, o rito passa a ser aquele previsto no CPP, mantendo-se, porém, a obrigatoriedade da intimação para apresentação de defesa prévia (STJ, AgREsp. 958634).
Denúncia: A competência para o se recebimento é do colegiado e não do relator, de acordo com o art.6º da Lei 8038.
Defesa prévia: É necessária (art.2º, II, do DL 201 e art.4º da Lei 8038/90), sendo que a sua falta é causa de nulidade absoluta.
CRIMES EM ESPÉCIE (ART. 1º)
Crimes de responsabilidade impróprios. São chamados impropriamente de crimes de responsabilidade, pois são crimes comuns (diferentemente do art. 4º, que prevê infrações político-administrativas).
Cicleiro, como em toda FUC de legislação, elencarei os crimes e tecerei comentários relevantes para as provas. 
Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, INDEPENDENTEMENTE DO PRONUNCIAMENTO DA CÂMARA DOS VEREADORES:
I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio;
#DEOLHONAJURIS - INF. 788 DO STF - Delito do inciso I do DL 201/67 - O crime do art. 1º, I, do Decreto-Lei 201/1967 é próprio, somente podendo ser praticado por prefeito, admitida, porém, a participação, nos termos do art. 29 do CP. Exemplo: Deputado Federal apresentou emenda parlamentar ao orçamento da União autorizando o repasse de recursos para o Município “X”, verba destinada à aquisição de uma ambulância. O recurso foi transferido, foi realizada a licitação, mas o certame foi direcionado em favor de determinada empresa que superfaturou o preço. Ficou demonstrado que o Prefeito, o Deputado e os donos da empresa vencedora estavam em conluio para a prática dessa conduta. Desse modo, todos eles irão responder pelo delito do art. 1º, I, do DL 201/67.
Il - UTILIZAR-SE, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens, rendas ou serviços públicos;
Princípio da especialidade - Esses dois primeiros incisos são especiais em relação ao peculato. 
#VAICAIIIIR - Duas observações sobre o peculato de prefeito que as provas adoram (CAI MUITO)
PUNE-SE TAMBÉM O USO (LOGO, PECULATO DE USO PRATICADO POR PREFEITO É CRIME) 
INCLUI SERVIÇOS (QUE O PECULATO DO CP NÃO INCLUI)
III - desviar, ou aplicar indevidamente, rendas ou verbas públicas;
Princípio
da especialidade - Especial em relação ao desvio de verbas
IV - empregar subvenções, auxílios, empréstimos ou recursos de qualquer natureza, em desacordo com os planos ou programas a que se destinam;
V - ordenar ou efetuar despesas não autorizadas por lei, ou realizá-las em desacordo com as normas financeiras pertinentes;
VI - deixar de prestar contas anuais da administração financeira do Município a Câmara de Vereadores, ou ao órgão que a Constituição do Estado indicar, nos prazos e condições estabelecidos;
VII - Deixar de prestar contas, no devido tempo, ao órgão competente, da aplicação de recursos, empréstimos subvenções ou auxílios internos ou externos, recebidos a qualquer titulo
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA - 2. O mero fato de ter o prefeito as contas referentes a período de sua gestão rejeitadas pelo Tribunal de Consta do Estado não é suficiente à verificação do tipo penal, impondo-se a individualização da conduta, sob pena de responsabilização objetiva.
3. Ordem concedida para anular a denúncia. (HC 48.700/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, SEXTA TURMA, julgado em 04/10/2007, DJ 25/02/2008, p. 361)
VIII - Contrair empréstimo, emitir apólices, ou obrigar o Município por títulos de crédito, sem autorização da Câmara, ou em desacordo com a lei;
IX - Conceder empréstimo, auxílios ou subvenções sem autorização da Câmara, ou em desacordo com a lei;
X - Alienar ou onerar bens imóveis, ou rendas municipais, sem autorização da Câmara, ou em desacordo com a lei;
XI - Adquirir bens, ou realizar serviços e obras, sem concorrência ou coleta de preços, nos casos exigidos em lei;
XII - Antecipar ou inverter a ordem de pagamento a credores do Município, sem vantagem para o erário;
XIII - Nomear, admitir ou designar servidor, contra expressa disposição de lei;
XIV - Negar execução a lei federal, estadual ou municipal, ou deixar de cumprir ordem judicial, sem dar o motivo da recusa ou da impossibilidade, por escrito, à autoridade competente;
#DEOLHONAJURIS - INF. 802 - Para a configuração do delito do art. 1º, XIV, é indispensável a inequívoca ciência do Prefeito. O art. 1º, XIV, do DL 201/67 prevê que o Prefeito pratica crime quando nega execução a lei federal, estadual ou municipal, ou deixa de cumprir ordem judicial, sem dar o motivo da recusa ou da impossibilidade, por escrito, à autoridade competente. Vale ressaltar, no entanto, que, segundo entende o STF, para a configuração do delito em tela é indispensável que o MP comprove a inequívoca ciência do Prefeito a respeito da ordem judicial. Ex: em Joinville (SC), o juiz expediu ordem judicial determinando que o Município se abstivesse de praticar determinado ato administrativo. A ordem judicial foi endereçada à Procuradoria do Município. Mesmo após a intimação ser efetivada, o ato administrativo questionado foi praticado. Diante disso, o Ministério Público ofereceu denúncia contra o Prefeito, imputando-lhe a prática do crime previsto no art. 1º, XIV, do DL 201/67. O STF absolveu o réu. Segundo entenderam os Ministros, não foram produzidas provas de que o réu tenha tido conhecimento da ordem judicial ou que tenha concorrido para seu descumprimento. Para configuração do delito em tela, é indispensável que o MP comprove a inequívoca ciência do Prefeito a respeito da ordem judicial, não sendo suficiente que a determinação judicial tenha sido comunicada a terceiros. Para que o Prefeito pudesse ser responsabilizado criminalmente, seria indispensável a sua intimação pessoal.
XV - Deixar de fornecer certidões de atos ou contratos municipais, dentro do prazo estabelecido em lei. 
XVI – deixar de ordenar a redução do montante da dívida consolidada, nos prazos estabelecidos em lei, quando o montante ultrapassar o valor resultante da aplicação do limite máximo fixado pelo Senado Federal;         
XVII – ordenar ou autorizar a abertura de crédito em desacordo com os limites estabelecidos pelo Senado Federal, sem fundamento na lei orçamentária ou na de crédito adicional ou com inobservância de prescrição legal; 
XVIII – deixar de promover ou de ordenar, na forma da lei, o cancelamento, a amortização ou a constituição de reserva para anular os efeitos de operação de crédito realizada com inobservância de limite, condição ou montante estabelecido em lei
XIX – deixar de promover ou de ordenar a liquidação integral de operação de crédito por antecipação de receita orçamentária, inclusive os respectivos juros e demais encargos, até o encerramento do exercício financeiro;          
XX – ordenar ou autorizar, em desacordo com a lei, a realização de operação de crédito com qualquer um dos demais entes da Federação, inclusive suas entidades da administração indireta, ainda que na forma de novação, refinanciamento ou postergação de dívida contraída anteriormente
XXI – captar recursos a título de antecipação de receita de tributo ou contribuição cujo fato gerador ainda não tenha ocorrido; 
XXII – ordenar ou autorizar a destinação de recursos provenientes da emissão de títulos para finalidade diversa da prevista na lei que a autorizou;         
XXIII – realizar ou receber transferência voluntária em desacordo com limite ou condição estabelecida em lei.        
DAS PENAS
Art. 1º (...)
§1º Os crimes definidos neste artigo são de ação pública, punidos os dos itens I e II, com a pena de reclusão, de dois a doze anos, e os demais, com a pena de detenção, de três meses a três anos.
§ 2º A condenação definitiva em qualquer dos crimes definidos neste artigo, acarreta a perda de cargo e a inabilitação, pelo prazo de cinco anos, para o exercício de cargo ou função pública, eletivo ou de nomeação, sem prejuízo da reparação civil do dano causado ao patrimônio público ou particular.
Inciso I e II – RECLUSÃO – 2 a 12 anos
Demais – DETENÇÃO – 3 meses a 3 anos (ESSES SÃO DE MENOR POTENCIAL OFENSIVO)
Faz-se importante decorar os dois que possuem pena de reclusão de 2 a 12 anos, pois são cobrados em provas (são os dois que são especiais em relação ao peculato):
I - apropriar-se de bens ou rendas públicas, ou desviá-los em proveito próprio ou alheio;
Il - utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens, rendas ou serviços públicos;
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA - Não se aplica aos crimes da lei em comento a agravante do art.61, II, g, do CP, relativa ao abuso de poder ou violação de dever inerente ao cargo, o que configuraria dupla valoração da mesma circunstância, que é inerente aos tipos penais (STJ, RESP. 1042595). Entendeu-se inaplicável ao Prefeito, igualmente, a causa de aumento do §2º do art.327 do CP (STJ, HC 17223).
Além da pena privativa de liberdade, segundo o parágrafo 2º, a condenação em qualquer dos crimes definidos no art. 1º acarreta a perda de cargo e a inabilitação, pelo prazo de 05 (cinco anos), para o exercício de cargo ou função pública (art. 1º, § 2º). 
Quanto à prescrição, prevalece que, se houver a prescrição da pena privativa de liberdade, isso acarreta, automaticamente, a prescrição também da pena de inabilitação para o exercício de cargo ou função pública.
#DEOLHONAJURIS – INF. 689 DO STF - Crimes cometidos por prefeitos (DL 201/67) - A pena de inabilitação para exercício de cargo/função pública, prevista no art. 1.º, § 2.º, do Decreto-Lei 201/67, é extinta, necessariamente, se houver prescrição da pena privativa de liberdade?
1ª corrente: SIM. 1ª Turma do STF e 6ª Turma do STJ. Se houver a prescrição da pena privativa de liberdade isso acarreta, automaticamente, a prescrição também da pena de inabilitação para o exercício de cargo ou função pública. A pena de inabilitação decorre do processo-crime, como consequência da condenação à pena privativa da liberdade (§ 2º do art. 1º do Decreto-Lei 201/67).
2ª corrente: NÃO. 5ª Turma do STJ. A prescrição da pena privativa de liberdade NÃO implica, necessariamente, na prescrição da pena de inabilitação para o exercício de cargo ou função pública. A pena de inabilitação para o exercício
de função pública antes era considerada pena acessória, mas foi elevada ao status de pena restritiva de direitos pela Lei n. 7.209/84, sendo, portanto, autônoma, em relação à privativa de liberdade. Dessa forma, como a “pena de inabilitação” tem natureza jurídica distinta da pena privativa de liberdade, deve-se reconhecer que também são distintos os prazos prescricionais.
DISPOSITIVOS PARA O CICLO DE LEGISLAÇÃO
LER OS ARTIGOS 1º, 4º E 7º DO DECRETO LEI 201/67
BIBLIOGRAFIA
Esse material é uma fusão das seguintes fontes:
- Livro de jurisprudências do dizer o direito 
- Anotações pessoais de aulas
14 - Legislação Penal Especial/10. TORTURA.docx
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL
LEI DE TORTURA (LEI 9.455/97)
Por Roberto Lobo
 
	
ATUALIZADO EM 30/04/2017[1: As FUCS são constantemente atualizadas e aperfeiçoadas pela nossa equipe. Por isso, mantemos um canal aberto de diálogo (setordematerialciclos@gmail.com) com os alunos da #famíliaciclos, onde críticas, sugestões e equívocos, porventura identificados no material, são muito bem-vindos. Obs1. Solicitamos que o e-mail enviado contenha o título do material e o número da página para melhor identificação do assunto tratado. Obs2. O canal não se destina a tirar dúvidas jurídicas acerca do conteúdo abordado nos materiais, mas tão somente para que o aluno reporte à equipe quaisquer dos eventos anteriormente citados. ]
LEI DE TORTURA (LEI 9.455/97)
Caros alunos e alunas Ciclos, muito importante no estudo das leis penais especiais atentar para o seguinte: elementos subjetivos especiais, princípio da especialidade, qualificadoras, causas de aumento, efeitos da condenação e jurisprudências. As questões sempre tratam desses pontos. Bom estudo!
	
		PARTE INTRODUTÓRIA
A Declaração Universal dos Direitos do Homem, proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, consagrou, em seu artigo V, o princípio básico de que ninguém será submetido à tortura, nem à tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante.
O Brasil foi signatário de dois tratados internacionais, por meio dos quais se obrigou a reprimir os crimes de tortura. O primeiro tratado foi a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos e Degradantes, de 1984. O segundo tratado foi a Convenção lnteramericana para Prevenir e Punir a Tortura, de 1985.
A Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, adotada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1984, assinada pelo Brasil em 1985 e ratificada em 1989, determinou, em seu art. 2º, que “cada Estado-Parte tomará medidas eficazes de caráter legislativo, administrativo, judicial ou de outra natureza, a fim de impedir a prática de atos de tortura em qualquer território sob sua jurisdição”. Além disso, em seu art. 4º, enfatizou que “cada Estado-Parte assegurará que todos os atos de tortura sejam considerados crime segundo a sua legislação penal”. No mesmo sentido, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos, conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, de 1969.
#PISANOFREIO #APROFUNDAMENTO #HUMANOS #TUDOJUNTOEMISTURADO
É necessário fazer distinção entre o crime de tortura na Convenção das Nações Unidas e na Convenção Interamericana de Direitos Humanos:
		Tortura na ótica da Convenção das Nações Unidas
		Tortura na ótica da Convenção Interamericana de Direitos Humanos
		Conceito: Qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato que ela ou uma terceira pessoa tenha cometido ou seja suspeita de ter cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimentos são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos que sejam conseqüuência unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram.
#OBS1: Não se admite invocação de circunstâncias excepcionais, tais como ameaça ou estado de guerra, instabilidade política interna ou qualquer emergência pública como justificação da tortura. Não se admite, também, a exculpante da “ordem hierárquica” como justificação para o crime. Não há, portanto, possibilidade de derrogar a proibição contra a tortura.
#OBS2: Os atos oriundos de sanções legítimas que causem sofrimento ou dores NÃO são considerados tortura.
		Conceito: Todo ato pelo qual são infligidos intencionalmente a uma pessoa penas ou sofrimentos físicos ou mentais, com fins de investigação criminal, como meio de intimidação, como castigo pessoal, como medida preventiva, como pena ou com qualquer outro fim. Entender-se-á também como tortura a aplicação, sobre uma pessoa, de métodos tendentes a anular a personalidade da vítima, ou a diminuir sua capacidade física ou mental, embora não causem dor física ou angústia psíquica.
		Elemento subjetivo: dolo. A tortura culposa não é punível.
		Elemento subjetivo: dolo. A tortura culposa não é punível.
		Finalidade específica: Obter confissão, informação ou ainda como forma de punição ou discriminação (“dolo específico”).
		Finalidade específica: Não há finalidade específica.
		Modalidade omissão: NÃO está prevista na Convenção.
		Modalidade omissão: Está prevista na Convenção.
		Sujeito ativo: É o agente público ou particular agindo em caráter oficial ou ainda por instigação, consentimento ou aquiescência do agente público.
#CONCLUSÃO: Para a Convenção da ONU, a presença do funcionário público como sujeito ativo é obrigatória.
		Sujeito ativo1: Empregos ou funcionários públicos que, no exercício de sua função, ordenem a prática de ato de tortura ou ainda instiguem ou induzem a ele, cometem-no diretamente ou, podendo impedi-lo, não o façam.
Sujeito ativo2: As pessoas que, por instigação dos funcionários ou empregados públicos em apreço, ordenem sua prática, instiguem ou induzem a ela, cometem-no diretamente ou nele sejam cumplices.
#CONCLUSÃO: Para a Convenção Interamericana, o particular pode ser sujeito ativo de tortura sem que esteja em concurso com um agente público.
		Resultado prático da tortura: O ato deve causar dor ou sofrimento agudo, físico ou mental.
		Resultado prático da tortura: O ato pode ou não resultar em pena ou sofrimento físico ou mental.
#ATENÇÃO: Também configura tortura o ato que anule a personalidade da vítima ou diminua a sua capacidade física ou mental, mesmo que dele não decorra qualquer dor física ou psíquica.
#CONCLUSÃO: Verificando as características comparadas acima, pode-se concluir que a Lei 9455/97 está mais próxima da Convenção Interamericana.
Além do rigor da legislação nacional, em 2013, foi criado o Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura- SNPCT, instituído pela Lei 12.847/2013, possuindo como princípios e diretrizes:
PRINCÍPIOS: I - proteção da dignidade da pessoa humana; II - universalidade; III - objetividade; IV - igualdade; V - imparcialidade; VI - não seletividade; e VII - não discriminação; e como 
DIRETRIZES: I - respeito integral aos direitos humanos, em especial aos direitos das pessoas privadas de liberdade; II - articulação com as demais esferas de governo e de poder e com os órgãos responsáveis pela segurança pública, pela custódia de pessoas privadas de liberdade, por locais de internação de longa permanência e pela proteção de direitos humanos; e III - adoção das medidas necessárias, no âmbito de suas competências, para a prevenção e o combate à tortura e a outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.
Ficou instituído, no
âmbito da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, o Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura - CNPCT, com a função de prevenir e combater a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes, mediante o exercício das seguintes atribuições, sendo composto por 23 membros, escolhidos e designados pelo Presidente da República, sendo 11 representantes de órgãos do Poder Executivo federal e 12 de conselhos de classes profissionais e de organizações da sociedade civil, tais como entidades representativas de trabalhadores, estudantes, empresários, instituições de ensino e pesquisa, movimentos de direitos humanos e outras cuja atuação esteja relacionada com a temática de que trata esta Lei.
#LEMBRAR: Os representantes do Ministério Público, do Poder Judiciário, da Defensoria Pública e de outras instituições públicas participarão do CNPCT na condição de convidados em caráter permanente, com direito a voz.
#ISSOCÊNUMCONTA: O que é teoria do cenário da bomba relógio (ticking bomb scenario)?
A teoria do cenário da bamba relógio é uma vertente do Direito Penal máximo que levanta a problemática sobre a possibilidade ou não de se torturar um determinado indivíduo em razão de um “estado de necessidade coletivo”, dando ensejo à exclusão da ilicitude da conduta. O ticking bomb scenario tem aceitação nos EUA que tenta implementar “medidas contra terroristas”. No entanto, conforme ressaltado acima, nem a Convenção das Nações Unidas, nem a Convenção Interamericana contra a Tortura admitem a inovação de circunstâncias excepcionais, tais como ameaça ou estado de guerra, instabilidade política interna ou qualquer outra emergência publica, como justificação de tortura. Portanto, diante do atual estágio de proteção internacional de direitos humanos, a ticking bomb scenario caracterizaria um ato ilícito e contrários aos direitos humanos resguardados, seja pela ordem internacional, seja pela ordem interna.
Quanto à previsão constitucional, a CRFB/88, no art. 5º, foi o primeiro ato normativo da nova Ordem Constitucional a fazer menção expressa ao delito de tortura, dispondo no inciso III: "ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante". 
Há, ainda, fundamento constitucional para a criminalização da tortura: a Constituição Federal, em seu art. 5º, XLIII, determinou que a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem.
Para atender ao mandado de criminalização, foi aprovada e promulgada, em 7 de abril de 1997, a Lei n. 9.455, que regulamentou todo o tema da tortura.
#PISANOFREIO: mandados de quê, coach? Mandados de criminalização ou mandados constitucionais de criminalização.
São ordens emitidas pela CF ao legislador ordinário, no sentido da criminalização de determinados comportamentos. O legislador estaria obrigado. Não há discricionariedade. Eles podem ser expressos (a ordem está explícita no texto constitucional. Ex.: art. 225, § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados e art. 5º, XLII a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei) ou tácitos (a ordem é retirada da harmonia, do espírito de todo o texto da CF. Ex.: combate à corrupção no poder público – citado no caso do mensalão).
#OLHAOGANCHO #TUDOJUNTOEMISTURADO #HUMANOS #INTERNACIONAL: mandados de criminalização convencionais ou internacionais.
Não obstante a existência de diversos mandados de criminalização previstos nas Constituições dos Estados, existem ainda os mandados de criminalização internacionais, que estão previstos em tratados internacionais ou ainda em decisões de tribunais internacionais. 
Nesse sentido, caso a ordem para tipificação de uma determinada conduta esteja prevista em tratado internacional, dar-se-á o nome de mandado internacional ou convencional expresso de criminalização, que, conforme leciona André de Carvalho Ramos, consiste em cláusula prevista em tratados ordenando a tipificação penal nacional de determinada conduta, a imposição de determinada pena, a vedação de determinados benefícios (por exemplo, a proibição da prescrição penal) ou até o tratamento prisional específico. 
A título de exemplo, a Convenção de Belém do Pará foi explícita em estabelecer mandados de criminalização de condutas de violência contra a mulher. Neste sentido, os Estados partes devem adotar, na legislação interna, normais penais, civis e administrativas, bem como de qualquer natureza, para prevenir, punir e erradicar a violência contra a mulher (RAMOS, 2014).
1.1. CONCEITO DE TORTURA
A própria lei da tortura não dá a definição. Apenas diz: constitui crime de tortura (...) Podemos encontrar a definição no art. 1º da Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos e Degradantes, que dispõe:
Art. 1º. Para os fins da presente Convenção, o termo "tortura" designa qualquer ato pelo qual dores ou sofrimentos agudos, físicos ou mentais, são infligidos intencionalmente a uma pessoa a fim de obter, dela ou de uma terceira pessoa, informações ou confissões; de castigá-la por ato cometido; de intimidar ou coagir esta pessoa ou outras pessoas; ou por qualquer motivo baseado em discriminação de qualquer natureza; quando tais dores ou sofrimento são infligidos por um funcionário público ou outra pessoa no exercício de funções públicas, ou por sua instigação, ou com o seu consentimento ou aquiescência. Não se considerará como tortura as dores ou sofrimentos consequências unicamente de sanções legítimas, ou que sejam inerentes a tais sanções ou delas decorram."
#ATENÇÃO – A Convenção contra a Tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanas ou degradantes (1984) rotulou o delito de tortura como próprio (#QUESTÃODEPROVA), só podendo ser praticado por funcionário público ou pessoa no exercício da função pública. No entanto, a lei 9.455/97, em regra, não exige qualidade ou condição especial do agente. No Brasil, em regra, o crime é comum. Apesar de haver doutrina lecionando que o legislador nacional não poderia ter destoado do legislador internacional, vêm entendendo o STJ e o STF que o crime de tortura não exige do autor condição de agente público. Veremos que, se cometido por funcionário público, haverá causa de aumento.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA – O STJ, no informativo de número 577, decidiu que a tortura de preso custodiado em delegacia praticada por policial constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública.
1.2. BEM JURÍDICO TUTELADO 
Tutela a dignidade da pessoa humana, bem como a Integridade física e psíquica.
1.3. EQUIPARAÇÃO A CRIME HEDIONDO
Tanto a CRFB/88 no art. 5°, XLlll, quanto a lei de crimes hediondos no art. 2º, caput equipararam o delito de tortura a crimes hediondos, dando-lhes o mesmo tratamento penal e processual penal. Note-se que a tortura não é considerada crime hediondo (tipo de assertiva correta que pega muita gente, menos a galera cicleira!!), pois não figura no rol do art. 1 º da lei 8072/90, mas apenas equiparada ou assemelhada a hediondos.
Em razão disso, a tortura submete-se a regras específicas, próprias dos crimes hediondos. Vamos conhecer? 
FIANÇA/GRAÇA/ANISTIA: o delito de tortura é considerado inafiançável, insuscetível de graça ou anistia. Quanto ao indulto, veremos adiante que prevalece também ser vedado.
LIVRAMENTO CONDICIONAL: impossibilidade de concessão de livramento condicional ao reincidente específico.
PROGRESSÃO DE REGIME: após o cumprimento de 2/5 (não reincidente) ou 3/5 (reincidente) da pena.
O crime de tortura é imprescritível? 
Não. Por mais grave que seja o delito, no Brasil a prescrição é regra, havendo na Constituição Federal de 88 apenas duas hipóteses de imprescritibilidade:
Racismo – Artigo 5º, XLII da CF.
Ação de Grupos Armados contra a ordem constitucional e o Estado democrático – Artigo 5º, XLIV da CF.
Ocorre que, em Tratados Internacionais a tortura é imprescritível. Ante esta antinomia entre a nossa Constituição e alguns Tratados, três são as correntes que apresentam uma solução à incompatibilidade. Vejamos:
1ª corrente: Se a CF/88 etiquetou a Tortura como delito prescritível, mesmo sendo considerada imprescritível nos tratados internacionais, deve prevalecer a nossa Carta Maior. Para provas objetivas, deve-se responder nesse sentido: o delito de tortura é prescritível. Numa prova subjetiva, no entanto, é bom o candidato demonstrar conhecimento sobre as demais correntes.
2ª corrente: No conflito entre a Constituição Federal de 88 e os Tratados de Direitos Humanos (não importando o quórum de ratificação), deve prevalecer a norma mais favorável à dignidade da pessoa humana (Princípio pro homine). Esta corrente trabalha no sentido de a tortura ser imprescritível. #MP #MPF #DELTA
#APROFUNDAMENTO: Deve-se ter em mente que a prática de tortura configura crime contra a humanidade, e nesse caso, a sua imprescritibilidade e necessidade de repressão são normas jus cogens. A CorteIDH já conheceu a imprescritibilidade dos crimes contra a humanidade nos casos Almonacid Arellano vs Chile e caso Bairros altos vs Peru. 
3ª corrente: A imprescritibilidade trazida pelos Tratados Internacionais de Direitos Humanos é incompatível com o direito penal moderno e com o Estado Democrático de Direito. No direito penal é perigoso eternizarmos o direito de punir do Estado. #DEFENSORIA
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA – O STJ, no informativo número 523, decidiu que as ações de indenização por danos morais decorrentes de atos de tortura ocorridos durante o Regime Militar de exceção são imprescritíveis. Não se aplica o prazo prescricional de 5 anos previsto no art. 1º do Decreto 20.910/1932. Não confundir com o crime de tortura. As ações de indenização por danos morais que são imprescritíveis.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA #IMPORTANTE – O Brasil não deverá deferir pedido de extradição se o delito praticado pelo extraditando estiver prescrito segundo as leis brasileiras, considerando que deverá ser respeitado o requisito da dupla punibilidade (art. 77, VI, do Estatuto do Estrangeiro). O fato de o Estado requerente ter qualificado os delitos imputados ao extraditando como de lesa-humanidade não torna tais crimes imprescritíveis no Brasil. Isso porque:
1) O Brasil não subscreveu a Convenção sobre a Imprescritibilidade dos Crimes de Guerra e dos Crimes contra a Humanidade, nem aderiu a ela;
2) Apenas a lei interna pode dispor sobre prescritibilidade ou imprescritibilidade de crimes no Brasil. STF. Plenário. Ext 1362/DF, rel. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Teori Zavascki, julgado em 9/11/2016 (Info 846).
1.4. COMPETÊNCIA 
A regra é de que os crimes de tortura sejam julgados pela justiça comum estadual. No entanto, eles serão julgados pela justiça federal em uma hipótese: quando houver interesse da União. É o exemplo na hipótese de a tortura ser praticada dentro de uma Delegacia de Polícia Federal (inf. 436) ou dentro do INSS, autarquia federal.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA - Recentemente, no informativo número 549, o STJ decidiu o seguinte: crime de tortura praticado contra brasileiro no exterior: trata-se de hipótese de extraterritorialidade incondicionada (como estudaremos adiante). No Brasil, a competência para julgar será da Justiça Estadual. O fato de o crime de tortura, praticado contra brasileiros, ter ocorrido no exterior, não torna, por si só, a Justiça Federal competente para processar e julgar os agentes estrangeiros. Isso porque a situação não se enquadra, a princípio, em nenhuma das hipóteses do art. 109 da CF/88.
#ATENÇÃO - Tortura cometida por militar ou é competência da justiça estadual, ou da justiça federal. Nunca da justiça militar, porque tortura não é crime militar.
1.5. ABSORÇÃO 
A configuração do crime de tortura absorve delitos menos graves decorrentes do emprego da violência ou grave ameaça, como os crimes de maus-tratos, lesões corporais leves, constrangimento ilegal, abuso de autoridade...
1.6. AÇÃO PENAL
Todos os crimes previstos nessa lei apuram-se mediante ação pública incondicionada.
2 CRIMES EM ESPÉCIE
2.1. TORTURA PROBATÓRIA, PARA A PRÁTICA DE CRIME E DISCRIMINATÓRIA (INCISO I)
Alunos Ciclos, o art. 1º, inciso I, da Lei n. 9.455/97 dispõe o seguinte:
Art. 1º Constitui crime de tortura:
I - constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental:
a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;
Pena - reclusão, de dois a oito anos.
Percebe-se que tal dispositivo descreve vários crimes ligados à prática da tortura, cada um com características próprias. Esse dispositivo (inciso I) contém três figuras caracterizadoras do crime de tortura. São três espécies delituosas sob o mesmo nomen juris, sendo, portanto, necessária a adoção de outras designações para diferenciá-las (tortura-prova, tortura para a prática de crime e tortura discriminatória). 
Por outro lado, quanto aos meios de execução, sujeitos ativo e passivo, consumação, tentativa e ação penal, as regras são as mesmas para todas elas, que, dessa forma, se diferenciam apenas no que se refere ao elemento subjetivo especial (motivação) do agente torturador. 
2.1.1. SUJEITOS DO CRIME
Sujeito ativo: É crime comum (já vimos que na convenção contra a tortura é crime próprio, mas no Brasil é crime comum). Pode ser cometido por qualquer pessoa. Não é crime próprio nem crime funcional (de funcionário público). É crime comum que pode ser praticado por qualquer pessoa, mas se o sujeito ativo for agente público, a pena é aumentada de 1/6 a 1/3, conforme o art. 1°, parágrafo 4°, I:
Art. 1°, § 4º Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
I - se o crime é cometido por agente público;
Sujeito passivo: A vítima da tortura pode ser qualquer pessoa, tendo em vista que o legislador se referiu a “alguém” no inciso I. No entanto, se a vítima for gestante, idoso (maior de 60 anos), portador de deficiência física ou mental, criança, ou adolescente, a pena é aumentada de 1/6 a 1/3.
Art. 1°, § 4º - Aumenta-se a pena de um sexto até um terço:
II – se o crime é cometido contra criança, gestante, portador de deficiência (física ou mental), adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos;
#ATENÇÃO - A lei fala em criança e adolescente. Portanto, revoga um dispositivo do ECA: esse art., que era o 233 do ECA, tipificava o crime de tortura contra criança e adolescente. Portanto, crime de tortura contra criança e adolescente está tipificado na lei de tortura e não no ECA.
#DEOLHONAJURISPRUDÊNCIA – O STJ, no informativo número 589, decidiu que no caso de crime de tortura perpetrado contra criança em que há prevalência de relações domésticas e de coabitação, não configura bis in idem a aplicação conjunta da causa de aumento de pena prevista no art. 1º, § 4º, II, da Lei nº 9.455/1997 (Lei de Tortura) e da agravante genérica estatuída no art. 61, II, "f", do Código Penal.
2.1.2. MEIOS DE EXECUÇÃO 
Constranger significa obrigar alguém a fazer algo que não queira, forçar, tolher a liberdade de alguém, por anular por completo a sua voluntariedade. 
A Lei estabelece como formas de execução desses crimes de tortura a violência e a grave ameaça. Violência consiste no emprego de qualquer desforço físico sobre a vítima, como socos, pontapés, choques elétricos, pauladas, chicotadas, submersão temporária em água, privação de liberdade etc. Grave ameaça consiste na

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