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FREUD, Sigmund (1924). Neurose e psicose. In: Neurose, psicose, perversão. Belo Horizonte: Autêntica, 2017. (Obras incompletas de Sigmund Freud) Freud inicia o artigo dizendo que em “O Eu e o Isso” ele propôs um desmembramento do aparelho psíquico a partir do qual pode ser feita uma série de relações. Afirma que a possibilidade de aplicação na neurose e na psicose encoraja a continuar mantendo a sugerida divisão do aparelho psíquico em Eu, Super-Eu e Isso. Diferença entre neurose e psicose “No trabalho mencionado foram descritas as múltiplas dependências do Eu, sua posição intermediária entre o mundo exterior e o Isso, e seu anseio em servir a todos os seus senhores a um só tempo. [...]” (p. 271) A partir dessa afirmação, Freud diz que extraiu uma fórmula simples sobre a diferença entre neurose e psicose: “[...] a neurose é o resultado de um conflito entre o Eu e seu Isso, ao passo que a psicose é o resultado análogo de uma perturbação semelhante nas relações entre o Eu e o mundo exterior.” (p. 271-272) Achado que fortalece a hipótese/fórmula acima - Neurose - as neuroses de transferência se originam “do fato de o Eu não aceitar e não conduzir para a descarga motora uma moção pulsional do Isso ou de lhe barrar o acesso ao objeto ao qual ela visa. - o Eu se defende da moção pulsional através do recalcamento - o recalcado luta contra esse destino, cria para si próprio um substituto que se impõe ao Eu pela via do compromisso: o sintoma - o Eu, descobrindo sua unidade ameaçada por esse intruso, prossegue na luta contra o sintoma, tal como fez com a moção pulsional original e tudo isso produz o quadro da neurose - o Eu, ao empreender o recalcamento, está obedecendo às leis do Super-Eu (que tem sua origem nas influências do mundo real exterior) - o Eu tomou partido dessas forças, que nele são mais exigentes do que as do Isso - o Eu é a força que promove o recalcamento conta a parte do Isso e o fortifica através de um contrainvestimento da resistência - a serviço do Super-Eu e da realidade, o Eu entrou em conflito com o Isso e eis o estado de coisas em todas as neuroses de transferência - Psicose Freud aponta a amência (descoberta por Meynert), na qual na aguda confusão alucinatória o mundo exterior não é percebido. O mundo exterior governa o Eu de duas maneiras: 1) através de percepções atuais e sempre renováveis; 2) através do repertório de percepções antigas que confirmam um patrimônio do Eu (mundo interior). Na amência a aceitação de novas percepções é recusada e o mundo interior (representante do mundo exterior como sua cópia) teve sua significação retirada. O Eu, então, cria para si um novo mundo exterior e interior e: 1) esse novo mundo é construído a partir das moções de desejo do Isso; e 2) o motivo da ruptura com o mundo exterior foi um grave impedimento do desejo por parte da realidade. Outras forma de psicose como a esquizofrenia podem desembocar em um embotamento afetivo (perda de toda participação do mundo exterior). “Sobre a gênese das formações delirantes, algumas análises nos ensinaram que o delírio se apresenta como um remendo colocado onde originariamente havia surgido uma fissura na relação do Eu com o mundo exterior. [...]” (p. 273) “[...] as manifestações do processo patogênico estão frequentemente recobertas por manifestações de uma tentativa de cura ou de reconstrução.” (p. 274) A etiologia para o início de uma psiconeurose ou psicose permanece sendo o impedimento, a não realização de algum dos indomáveis desejos de infância. Esse impedimento é geralmente exterior ou então do Super-Eu que assumiu as exigências da realidade. O efeito patogênico depende de o Eu, permanecer fiel à sua dependência do mundo exterior e ou bem tentar silenciar o Isso, ou ainda se deixar subjugar pelo Isso sendo arrancado da realidade. O Super-Eu introduz uma complicação pois ele unifica em si influências tanto do Isso quanto do mundo exterior, tornando-se um modelo ideal daquilo a que visa todo o anseio do Eu: a reconciliação com suas diversas dependências. Daí ideal do eu? A conduta do Super-Eu deveria ser levada em consideração em todo adoecimento psíquico. Também deve haver afecções que têm por base um conflito entre Eu e Super-Eu, como a melancolia – psiconeuroses narcísicas Conclusão A neurose de transferência corresponde ao conflito entre o Eu e o Isso A neurose narcísica a um conflito entre o Eu e o Super-Eu A psicose a um conflito entre o Eu e o mundo exterior - Neuroses e psicoses se originam do conflito do Eu com as várias instâncias que o controlam correspondendo a um fracasso na função do Eu (que seria conciliar as exigências de várias instâncias) Por quais meios o Eu consegue sair ileso, sem adoecer desses conflitos? A saída dos conflitos dependerá das relações econômicas, das proporções relativos dos anseios em disputa É possível ao Eu evitar a ruptura de qualquer um dos lados deformando-se, cindindo-se. Assim, as loucuras dos seres humanos apareceriam de forma semelhante às perversões, através de cuja aceitação eles estariam se poupando de recalcamentos... Resta uma pergunta Qual seria o mecanismo análogo ao do recalcamento por meio do qual o Eu se desliga do mundo exterior? daniela.giorgenon@docente.unip.br
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