Buscar

Tutela antecipada antecedente a arbitragem e a regra da estabilização - Migalhas de Peso

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1. A questão
No texto de ontem, apresentou-se breve panorama da disciplina da tutela provisória no CPC/15. Viu-se que a
tutela antecipada, doravante, pode passar a ser concedida em caráter antecedente à formulação do pedido
de tutela principal (como já ocorria, no CPC/73, relativamente às cautelares preparatórias). Viu-se que,
quando essa tutela antecipada não é objeto de recurso por parte do réu, ela estabiliza-se. Continua
produzindo efeitos por tempo indeterminado, dispensando a subsequente formulação de pedido principal.
Por outro lado, quando um tribunal arbitral não está instituído e o processo arbitral, ainda não iniciado, cabe
ao Poder Judiciário conceder medidas urgentes que se façam necessárias em relação ao conflito objeto da
convenção arbitral (STJ, REsp 1.297.974, CC-AgRg 116.395, CC 111.230 e REsp 1.325.847). Isso se
aplica tanto às medidas cautelares quanto à tutela antecipada.
Assim, é possível a concessão, pelo Poder Judiciário, de uma tutela antecipada antecedente a uma
arbitragem. A pergunta que se põe é: se não houver recurso contra essa tutela antecipada, ela também se
estabiliza? Em outras palavras, a norma de estabilização aplica-se à tutela antecipada concedida pelo Poder
Judiciário em caráter antecedente à instituição de uma arbitragem?
A resposta é negativa, por um conjunto de fundamentos.
2. Precariedade da competência judicial pré-arbitral
A competência do Judiciário, na atividade urgente pré-arbitral, é provisória e temporária – “precária”, na já
dicção do STJ (REsp 1.297.974). A jurisdição estatal atua apenas para suprir uma lacuna decorrente da
inviabilidade de atuação da jurisdição arbitral naquele momento. Trata-se de intervenção meramente
colaborativa, coadjuvante. O órgão judicial opera “de empréstimo” e, em tal condição, tem um escopo
específico e limitado: debelar perigo de dano enquanto o tribunal arbitral não estiver em condições de atuar.
Admitir-se a estabilização da tutela antecipada nessa hipótese implicaria igualmente tornar estável,
permanente, a competência judicial estabelecida como provisória, “precária”.
3. A finalidade primordial da estabilização
Além disso, o objetivo principal do mecanismo de estabilização da tutela antecipada é a diminuição da carga
de trabalho do Poder Judiciário. Trata-se de instrumento funcionalmente destinado à racionalização da
atuação judiciária. Encerram-se desde logo os processos em que, ao se produzir um resultado prático contra
o réu, esse não se insurgiu recursalmente.
Também sob essa perspectiva não se justifica a incidência da estabilização sobre a tutela antecipada pré-
arbitral. Não faz sentido diminuir-se uma carga de trabalho que não existe. O Judiciário, em qualquer caso, já
não teria de resolver definitivamente o mérito dessa causa: a prévia convenção arbitral já o havia dispensado
disso.
4. A “pacificação social” e o incentivo à judicialização
Em que medida a oferta da possibilidade de estabilização da tutela pré-arbitral não representa um artificial
incentivo para a ida ao Judiciário (e consequentemente um desincentivo à pacificação)?
Tutela antecipada antecedente a arbitragem e a regra da estabilização
Eduardo Talamini
É possível a concessão, pelo Judiciário, de uma tutela antecipada antecedente a uma arbitragem. A pergunta é: se não houver recurso
contra essa tutela antecipada, ela também se estabiliza?
quinta-feira, 31 de março de 2016
Terça-feira, 29 de agosto de 2017
CADASTRE-SE FALE CONOSCO
A resposta é positiva. Longe de servir para pacificar, a perspectiva de estabilização da tutela judicial
antecipada pré-arbitral funcionaria como incentivo ao ingresso no Judiciário, antes da instauração da
arbitragem.
5. O incentivo ao recurso
Haveria ainda outra consequência indesejável e correlata à anterior.
Quando concedida tutela judicial urgente pré-arbitral, não é incomum que a parte atingida pela medida não
recorra, preferindo logo submeter a revisão da questão ao tribunal arbitral, assim que esse se instale. Já se a
regra da estabilização fosse aplicável à tutela antecipada pré-arbitral, provavelmente as partes deixariam de
adotar essa postura. Recorreriam para evitar a estabilização.
6. A confirmação no texto da lei: o ônus de instauração da arbitragem
O simples argumento de ordem literal seria despido de maior força. Mas, considerando-se todos os
aspectos até aqui indicados, ele se torna definitivo.
Além de explicitar as diretrizes relativas à divisão de trabalho entre juiz e árbitro no âmbito da tutela urgente, a
Lei 13.129/15 incorporou à Lei de Arbitragem regra expressa acerca do ônus de instauração da arbitragem
após a concessão da medida pré-arbitral.
Nos termos do parágrafo único do art. 22-A: “Cessa a eficácia da medida cautelar ou de urgência se a parte
interessada não requerer a instituição da arbitragem no prazo de 30 (trinta) dias, contado da data de
efetivação da respectiva decisão”.
Daí se extrai que:
(a) é sempre de trinta dias o prazo para a formulação do requerimento de instauração de arbitragem, para
que fique preservada a eficácia da medida urgente pré-arbitral – seja ela cautelar ou antecipada. Portanto,
não se aplica o art. 303, § 1º, I, do CPC/15, que, na hipótese de tutela antecipada antecedente, prevê que
o pedido principal deve ser formulado “em 15 (quinze) dias ou em outro prazo maior que o juiz fixar”;
(b) a preservação da eficácia da medida urgente preparatória depende do simples requerimento da
instauração da arbitragem, e não propriamente da formulação da demanda principal em sede arbitral, que
normalmente só se aperfeiçoa em momento subsequente do procedimento arbitral; e
(c) não há nenhuma ressalva ou exceção quanto à incidência deste ônus sobre o autor da ação judicial
urgente. Cabe sempre a ele requerer a instauração da arbitragem no prazo de trinta dias, caso pretenda
manter a tutela urgente em vigor. Vale dizer, a tutela antecipada pré-arbitral não se estabiliza.
A regra em questão prevalece sobre aquela do art. 304 do CPC/15 (que prevê a estabilização da tutela
antecipada) – seja pelo critério da temporalidade (a Lei 13.129 é posterior ao CPC/15), seja pelo critério da
especialidade (é regra especial para a arbitragem).
______________
*Eduardo Talamini é advogado, sócio do escritório Justen, Pereira, Oliveira & Talamini
- Advogados Associados. Livre-docente em Direito Processual (USP). Mestre e doutor
(USP). Professor da UFPR. 
Tutela provisória no novo CPC: panorama geral
Eduardo Talamini
O fim do “conflito de competência” entre tribunal arbitral e juiz estatal
Eduardo Talamini
Incidente de resolução de demandas repetitivas (IRDR): pressupostos
Eduardo Talamini
Estabilidade, integridade e coerência jurisprudencial
Eduardo Talamini
O que são os "precedentes vinculantes" no CPC/15
Eduardo Talamini
Embargos de declaração: efeitos no CPC/15
Eduardo Talamini
Agravo de instrumento: hipóteses de cabimento no CPC/15
Eduardo Talamini
Efeito devolutivo da apelação e supressão de grau de jurisdição
Eduardo Talamini
Dever de prevenção no âmbito recursal
Eduardo Talamini
Questões prejudiciais e coisa julgada
Eduardo Talamini
Reexame necessário: hipóteses de cabimento no CPC/15
Eduardo Talamini
Duas ou três questões sobre a sentença no CPC/15
Eduardo Talamini
Perito consensual
Eduardo Talamini
Produção antecipada de prova
Eduardo Talamini
Ônus da prova
Eduardo Talamini
A estabilidade do julgamento conforme o estado do processo
Eduardo Talamini
Saneamento e organização do processo no CPC/15
Eduardo Talamini
Julgamento "antecipado" e julgamento parcial do mérito
Eduardo Talamini
Improcedência liminar do pedido no CPC/15
Eduardo Talamini
voltar para o topo
EduardoTalamini
Incidente de desconsideração de personalidade jurídica
Eduardo Talamini
Amicus curiae no CPC/15
Eduardo Talamini
Comentar Enviar por e-mail

Continue navegando