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Quimerismo: A Mistura Genética

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Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul
Campus Coxim - Ciencias Biologicas 
TALITA R LEMOS FERREIRA
QUIMERA
Prof. DR Anderson Fernandes 
COXIM
2018
 
INTRODUÇÃO 
		Desde a construção grega da figura mitológica quimera, seu nome tem sido associado a uma mistura de seres em um só indivíduo, traduzindo aspectos de monstruosidade ou perplexidade em lendas urbanas de outras culturas milenares. Na ciência, não poderia ser diferente. Desde o século XX, a genética sedimentou-se como um ramo altamente evoluído da biologia e firmou o entendimento de que cada ser possui um DNA único e invariável, dentro das nossas células, guardador de todas as nossas características hereditárias e exteriores. 
		Na década de 50, descobriu-se o primeiro caso de duplicidade de material genética em seres humanos. A engenharia genética a chamou então de quimera, nomenclatura usada para o fenômeno já conhecido em plantas e animais, mas nunca antes em seres humanos. A descoberta causou surpresa e enleio nos cientistas por muitos anos, ante a raridade de evidenciação. 
DESCOBERTA:
		Descobriu-se, há pouco mais de 70 anos, que existem pessoas com dois tipos de materiais genéticos diferentes. Isso pode acontecer por meio de variadas formas com diferentes origens, sendo elas os diferentes tipos de quimera, como o microquimerismo, e os mosaicos genéticos.
		Em uma análise qualitativa, a quimera pode ser formada artificialmente, como por transfusão e transplante, ou ainda de forma espontânea e natural
		
QUIMERISMO DE ORIGEM NATURAL
O Quimerismo natural ocorrerá espontânea e acidentalmente, sem intervenções do ser humano na sua formação, de maneira despercebida pela quimera humana durante toda sua vida ou até que algum evento externo force a sua descoberta. 
Microquimerismo Fetomaternal
		O microquimerismo é uma forma de multiplicidade de DNA em que o indivíduo possui uma pequena proporção de um segundo material genético no seu corpo. Apesar de poder acontecer em qualquer tipo de quimera, independentemente da origem, sua maior proveniência vem da transferência de células entre mãe e feto enquanto este se encontra no útero materno, através da placenta, enquanto por ela sobrevive e se alimenta.
Quimerismo Tetragamético
		A condição mais conhecida, e ao mesmo tempo mais estranha e rara, de quimerismo natural surge após a concepção quando dois óvulos são fertilizados, cada um por um espermatozóide diferente, formando dois embriões de materiais genéticos independentes que em até quatro dias se fundem, originando, por fim, um só indivíduo, ao invés de dois gêmeos. Assim, o único embrião originado conterá dois materiais genéticos
Quimerismo Hematopoético
Este tipo tem origem semelhante ao quimerismo tetragamético. A gestação se inicia com a fecundação de dois óvulos por dois espermatozoides, mas antes de um dos gêmeos ser absorvido pela mãe ou pelo outro, algumas das suas células-tronco da medula óssea ou células hematopoéticas, progenitoras das células sanguíneas, entram no corpo do outro feto e permanecem lá por toda a vida ou por um longo período de tempo, produzindo sangue com linfócitos de DNA diferente, parcial ou totalmente
Casos famosos de quimerismo hematopoético e tetragamético. 
A primeira quimera humana foi descoberta em 1953 no norte da Inglaterra pelo British Medical Journal e originou posteriormente um documentário intitulado “The twin inside me” 44 . A paciente, Mrs. McK, procurou a clínica em um gesto comum de doação de sangue. 
Em 1998, tornou-se conhecido mundialmente no ramo da genética mais um caso. Uma senhora de 52 anos, em Boston, chamada Karen Keegan necessitava urgentemente de um transplante renal. Atendida pelo Dr. Margot Kruskall, o médico encaminhou os familiares mais próximos de Karen para realizarem testes de histocompatibilidade (HLA), a fim de serem encontrados doadores de rim para a mulher por meio de tipagem de tecido feito por amostras de DNA.
No caso da de Karen Keegan vários filamentos loci foram usados para o teste, o qual chegou ao resultado de que ela não poderia ser a mãe biológica de seus dois filhos, já que não havia compatibilidade entre o DNA deles e o dela, apesar do teste ter indicado que todos continuavam a serem irmãos, pois compartilhavam do mesmo DNA do pai
Em meados de maio de 2002, outra situação de quimerismo tetragamético veio à tona. Lydia Fairchild, àquela época, estava grávida de seu terceiro filho e pleiteava ao Governo do Estado de Washington um benefício assistencial.Para a procedência, a submissão ao exame de DNA comprovando a paternidade e maternidade das crianças era elemento essencial. Os resultados atestaram a paternidade do seu companheiro, Townsend, entretanto, afirmavam que Lydia Fairchild não era a mãe de seus filhos.
Outras ocorrências ao longo do tempo foram noticiadas ao redor do mundo. Novamente em Washington, um casal no ano de 2014, de identidade não revelada, concebeu um filho por meio de fertilização in vitro. Do nascimento, o tipo sanguíneo do bebê não condizia com nenhum dos pais. Estes, logo imaginaram que a clínica havia usado outro esperma. A partir do exame de DNA, provou-se que o suposto pai realmente não era o pai biológico da criança, mas havia compatibilidade suficiente para determinar que ele pudesse ser, na verdade, o seu tio. 
Situação incomum foi detectada no Reino Unido no ovário de Jenny Kavanagh. A paciente, de aproximadamente 45 anos, visitou um consultório médico para implantar determinado método contraceptivo. Ao ser realizada uma ultrassonografia durante o procedimento, os médicos encontraram uma massa de células de aproximadamente dez centímetros no seu ovário esquerdo, possuindo uma face, um olho, um dente e cabelos pretos relativamente longos, como os de Jenny. 
A influência do quimerismo em investigações e processos judiciais tem sido tamanha que em 2004 o ciclista ganhador das Olimpíadas da Espanha, Tyler Hamilton, foi acusado de doping por infusão de sangue de outra pessoa. Nesse tipo de doping, o atleta injeta sangue de outra pessoa perto da hora da competição para melhorar seu rendimento a partir de maior quantidade de hemácias aptas a transportar oxigênio para o sangue
Mosaicismo
Outra forma de variação do material genético recebe o nome de mosaico genético ou mosaicismo. Esta, apesar de originar grandes complicações patológicas, é menos importante para a pesquisa forense e medicina legal, pois as implicações no DNA em si são bem menores
QUIMERISMO ARTIFICIAL
Quimerismo artificial, também chamado de quimerismo adquirido, é aquele ocorrido a partir de intervenção médica ou científica. As constantes e crescentes evoluções da biotecnologia a fim de promover o tratamento e cura de determinadas doenças ou possibilitar a gravidez em casais que apresentam dificuldades de procriação, originou como consequência, o quimerismo
Conclusão 
Ficou evidente que as quimeras, antes conhecidas em plantas e animais, podem ter origem natural, acontecendo na concepção da fusão de gêmeos fraternos, como no quimerismo hematopoético e no tetragamético, após o parto, como no microquimerismo fetomaternal, ou ainda em qualquer período da vida, como acontece no mosaicismo. Sua origem artificial se dá, em sua grande maioria, por transplantes de órgãos e medula óssea, como também em transfusões sanguíneas, ainda que a situação seja temporária ou se prolongue por muitos anos. Ficou claro ainda que as quimeras, em sua maioria, não manifestam características externas capazes de diferenciá-las do restante da população, havendo, excepcionalmente, situações em que há a heterocromia nos olhos, cabelos e pele dos portadores, ou situações de hermafroditismo. No entanto, a grande maioria de seus portadores é fenotipicamente normal. 
 
Referências 
ALPÍZAR, J.L.Q.; MIRANDA, K.E.A. Quimerismo genético um nuevo paradigma para la medicina legal. Med. Leg. Costa Rica. Vol.26. n.2. Heredia. Sep. 2009.
ARANHA, Adalberto José Q. T. de Camargo. Da prova no Processo Penal. São Paulo: Saraiva,4 ª ed., 1996.
BAHENA, Marcos. Investigação de Paternidade. Leme/SP: Imperium Editora e Distribuidora de Livros Ltda, 2006. p. 55-59. 
CÂMARA, Alexandre Freitas. A valoração da perícia genética: Está o juiz vinculado ao resultado do “Exame de ADN”?. Disponível em: . Acesso em: 06 nov. 2018
FREITAS; PASSOS; CUNHA FILHO, 2002, appud MACHADO, Paula Sandrine. “QUIMERAS” DA CIÊNCIA: a perspectiva de profissionais da saúde em casos de intersexo. In: Revista Brasileira De Ciências Sociais, v. 20, n° 59. [S.l.], out. 2005. p. 1. Disponível em: . Acesso em: 05 nov. 2018. .

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