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MÓDULO 10 Difusão Hematogasosa e Transporte de Gases Prof. Dr. Davi J. A. Moraes 1. Discuta os mecanismos envolvidos no transporte de O2 e CO2 pelo sangue entre os alvéolos e as células. O transporte de O2 e CO2 depende de vários mecanismos, entre eles: Diferença de pressão parcial dos gases entre os alvéolos e o capilar alveolar; Espessura da membrana respiratória (epitélio alveolar + espaço intersticial + endotélio capilar); Área de troca e coeficiente de difusão de cada gás (depende da solubilidade e do peso molecular). Além disso, a perfusão capilar nos alvéolos também está envolvida no transporte de O2 e CO2, pois sua velocidade influencia na total passagem desses gases para o sangue para solubilização ou acoplamento a proteínas de transporte. 2. Discuta qual é a pressão parcial de O2 no ar atmosférico ao nível do mar. Ao nível do mar, a pressão parcial do O2 é sua fração na atmosfera vezes a pressão atmosférica total. Assim, pO2 = 21% . 760 mmHg = 159,6 mmHg. 3. Qual a capacidade de O2 dissolvido em 100ml de sangue? A solubilidade do O2 é 0,003ml de O2/(dl.mmHg). Como a pressão de O2 no sangue se aproxima de 100mmHg, podemos considerar a capacidade de transporte do gás dissolvido no sangue como 0,3ml de O2/100ml de sangue. 100ml=1dl 4. Qual a capacidade de transporte de O2 pelas Hb contida em 100ml de sangue? Cada grama de Hb 100% saturada pode se ligar a 1,39ml de O2. No sangue arterial, ocorre em torno de 97% de saturação da Hb com O2. Como há 15g de Hb/dL de sangue, então 15 . 1,39 = 20,8 ml de O2/100ml de sangue (considerando que 97% seria praticamente 100% de saturação da Hb). 5. Observe cuidadosamente uma curva de dissociação O2-Hb e procure entender o seu significado. Pela curva de dissociação, observa-se que, a baixas pressões parciais de O2, a afinidade da Hb pelo O2 é menor; enquanto que, a altas pressões, sua afinidade é maior. Isso é explicado pela alosteria que ocorre na ligação desse gás aos grupos heme da Hb, pois o O2 ligado provoca mudanças conformacionais dos outros sítios de ligação, aumentando gradativamente a afinidade por O2. Assim, nos tecidos, pela baixa pO2, a afinidade da Hb é baixa e o O2 será liberado para suprimento da demanda tecidual. Já nos alvéolos, a pO2 é alta, o que aumenta a eficiência da captura e saturação de O2 pela Hb. 6. Considerando a curva de dissociação O2-Hb, explique qual é o volume de O2 dissociado na circulação periférica para cada 100ml de sangue. No sangue arterial temos uma pO2 de 100mmHg, a qual corresponde a 19ml de O2 transportado por 100ml de sangue (97% de saturação da Hb). No sangue venoso temos uma pO2 de 40mmHg, a qual corresponde a 14ml de O2 transportado por 100ml de sangue (70% de saturação da Hb). Com isso, concluímos que foi dissociada na circulação periférica a diferença entre esses dois valores de saturação da hemoglobina. Logo, 5ml de O2/100ml de sangue ou 25%. Essas informações podem também ser analisadas no gráfico acima. 7. Discuta os fatores determinantes da capacidade de difusão pulmonar do O2. A capacidade de difusão pulmonar do O2 é determinada pelos componentes da Lei de Fick¸a qual relaciona os fatores que determinam a velocidade de difusão/passagem de um determinado gás pela membrana respiratória: E: espessura da membrana respiratória/barreira hematogasosa (epitélio alveolar + espaço intersticial + endotélio capilar). Situações de fibrose ou edema que aumentam essa espessura levam a dificuldade nas trocas gasosas. A: área disponível para troca – total entre 50 e 100m² nos pulmões humanos. D: coeficiente de difusão. Ele depende da solubilidade e do peso molecular do gás em análise (velocidade de difusão é inversamente proporcional a √M). D é alterado pela temperatura ou pressão, sendo considerado na prática constante. ΔP: diferença de pressões parciais dos gases na luz alveolar e no sangue do capilar alveolar. Para qualquer fluxo, deve haver gradiente, nesse caso, de pressão. Em relação à perfusão sanguínea, embora ela não interfira diretamente na difusão de O2 pela barreira respiratória, ela pode chegar a interferir na saturação do sangue em situações extremas (exercícios extenuantes em altas altitudes). Isso porque o tempo de contato do sangue com o alvéolo influencia na passagem do O2 para o plasma e para a Hb, principal proteína de transporte. Assim, quanto maior o fluxo sanguíneo (ex: maior débito cardíaco em exercícios extenuantes), menor o tempo de contato do sangue com o alvéolo, diminuindo a difusão do O2 para o sangue (o O2 precisa de aproximadamente 250ms para saturar o sangue, sendo que esse permanece por 750ms em contato com o alvéolo; assim, só em situações extremas de alta intensidade aeróbica temos o prejuízo da difusão do O2, já que raramente o fluxo sanguíneo percorrerá o capilar alveolar por menos de 250ms). 8. Descreva e reflita sobre as pressões do O2 no ar alveolar, no sangue arterial e no sangue venoso. No ar alveolar, pO2 = 100mmHg. No sangue venoso, pO2 = 40mmHg. No sangue arterial sistêmico, por fim, pO2 = 95mmHg. Valores das pressões parciais arterial e venosa O2 e CO2 em diversos territórios Entra no pulmão com: Sai do pulmão com: Dirige aos tecidos: Interstício: Deixa os tecidos: O2 40mmHg 104mmHg 95 mmHg 40mmHg 40mmHg CO2 45mmHg 40mmHg 40 mmHg 45mmHg 45mmHg Do ar alveolar para o sangue arterial sistêmico, há a diminuição da pO2 por haver oxigenação do espaço morto anatômico na circulação brônquica e pela relação ventilação / perfusão (nem todos os alvéolos e capilares pulmonares estão abertos realizando oxigenação do sangue). Shunt desvio direito – esquerdo Mistura de sangue desoxigenado com sangue oxigenado Mistura do sangue oxigenado proveniente da circulação pulmonar com sangue desoxigenado proveniente da circulação brônquica Já o sangue venoso tem menor pO2 por advir dos tecidos que consumiram o gás no metabolismo. 9. Descreva e explique os fatores que podem deslocar a curva de dissociação O2-Hb para a direita, com destaque para o efeito Bohr. Aumento do metabolismo: aumenta a concentração de CO2, aumentando a concentração de H+. Isso diminui a afinidade da Hb por O2 (Efeito Bohr: em ambientes ácidos, Hb perde O2). Aumento da temperatura: como em maior atividade muscular. Aumento de 2,3-bisfosfoglicerato (2,3-BPG ou DPG): produto do metabolismo anaeróbico de glicose das hemácias que se liga ao grupo heme e diminui afinidade da Hb por O2. Todos esses fatores diminuem a afinidade da Hb por O2 quando o organismo está em um estado metabólico elevado, com alta demanda metabólica de O2. Assim, eles deslocam o gráfico pra direita, o que reflete a disponibilização de O2 aos tecidos nessas situações. 10. Descreva e explique as diferentes formas de transporte do gás CO2 pelo sangue. O CO2 pode ser transportado: Dissolvido no plasma (20x mais solúvel que O2, sendo importante esse meio de transporte); Na forma de HCO3 - (forma mais importante – 60%. Dentro das hemácias, há a anidrase carbônica que hidrolisa CO2 em HCO3 - e H+. O HCO3 - é transportado para o plasma); Ou na forma de composto carboamino (combinação de CO2 com terminais amino de proteínas, como da própria Hb). 11. Discuta a influência do nível de saturação da oxihemoglobina sobre o transporte de CO2 pelo sangue (Efeito Haldane). O efeito Haldane diz que quanto maior a saturação da Hb com O2, menor é a sua afinidade pelo CO2. Ou seja, no capilar alveolar, em que aumenta a pO2, aumenta suaafinidade pelo O2 e diminui a sua pelo CO2 e H +, liberando-os. Já nos tecidos, o inverso ocorre pela menor pO2: aumenta a afinidade por CO2 e H +, dada a liberação de O2 para os tecidos. O que eu entendi por Efeito Bohr e Haldane: ao nível dos capilares sistêmicos, há maior concentração de CO2 que diminui o pH local, o qual, por sua vez, diminui a afinidade da Hb por O2, sendo esse então liberado para os tecidos pelo Efeito Bohr. Já ao nível dos capilares alveolares, a saturação da Hb por O2 será maior, o que diminui sua afinidade por CO2 e H +, sendo então todas as reações referentes ao transporte de gás carbônico no sangue deslocadas para a liberação de CO2, o qual então pode se difundir para a luz alveolar e ser expelido, em decorrência do Efeito Haldane. 12. Considerando que o consumo de O2 de uma pessoa adulta em repouso é de 250ml/min, estabeleça uma relação do débito cardíaco em repouso (5L/min) e a dissociação do O2 para cada 100ml de sangue. Em 1min, o coração bombeia 5L de sangue. Em 1min, uma pessoa consome 250ml de O2 presentes nesses 5L de sangue. Logo: 5L sangue 250ml O2 0,1L sangue x ml O2 X = 5ml de O2. Portanto, a taxa de dissociação deve ser de 5ml de O2 / 100ml de sangue. 13. Discuta algumas alterações que podem ocorrer na curva de dissociação O2-Hb numa situação de exercício físico aeróbico. O exercício físico aeróbico promove um ambiente ácido nos tecidos periféricos pela alta produção de CO2 (aumento do metabolismo) e de maior temperatura, dada a maior atividade muscular. Com isso, diminui-se a afinidade da Hb por O2, desviando sua curva para a direita, o que facilita a liberação desse gás para os tecidos (oferece maior aporte de O2). Além disso, a hiperventilação diminui pCO2 no nível alveolar, o que aumenta a afinidade da Hb por O2, capturando mais desse gás.
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