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A LOGÍSTICA REVERSA E SUA APLICABILIDADE NA MINIMIZAÇÃO DE RESÍDUOS NA INDÚSTRIA DE BEBIDAS Arlindo Pereira Junior [1: Graduando do curso de administração da Faculdade Estácio – arlindo-pereira@outlook.com.] Claudia Xavier Cavalcanti [2: Mestre em administração pela Universidade Federal do Espiríto Santo – cxcavalcanti@gmail.com.] Resumo As empresas que almejam obter vantagens competitivas e adequação aos anseios socioambientais podem encontar na logística reversa uma solução inteligente para seus objetivos e problemas. Diante disto, este trabalho apresenta como objetivo analisar a logística reversa e sua aplicabilidade na minimização de resíduos em uma indústria de bebidas. Como procedimento metodológico, trata-se de uma pesquisa descritiva, cujas técnicas de investigação foram a pesquisa bibliográfica, documental seguida de um estudo de caso, utilizando-se como instrumento de coleta uma entrevista semi-estruturada dirigida ao gestor desta empresa de bebidas, realizada em loco.Como resultados constatou-se que a empresa utiliza a logística reversa de forma a diminuir custos de produção, a fim de obter otimização no retorno financeiro, além disso, constatou-se que há dificuldades de alinhamento entre os interesses dos agentes da cadeia reversa. Há distorções a respeito da relevância da logística reversa para a obtenção de vantagens competitivas e benefícios socioambientais, pois o cliente, como agente fundamental não compreende seu papel dentro do processo de retorno e quais benefícios pode obter com sua integração à logística reversa. É necessário um esforço conjunto para alinhamento dos atores da cadeia reversa, com distribuição das competências de forma a otimizar o resultado do papel de cada integrante, tornando a logística reversa um instrumento exitoso. Palavras-Chave: Logística reversa. Consumo sustentável. Redução de Custos. 1 INTRODUÇÃO A logística reversa tem como objetivo promover o retorno de materiais. Este processo procura promover um melhor aproveitamento de materiais que já passaram por uso, e retornam para serem reabilitados e posteriormente reutilizados. Esta prática se apresenta como um novo parâmetro de qualidade nos processos industriais, além de se adequar aos novos valores de uma sociedade que se preocupa cada vez mais com o meio ambiente (LEITE, 2002). O profissional que se dedica a logística reversa, tem que se preocupar em atender as expectativas da organização, em aplicar as novas tecnologias aos processos de retorno, para que o mesmo seja atraente aos olhos dos investidores. A estratégia de logística reversa aplicada ao pós-consumo, é buscar o retorno de todo material possível que por algum período fora disponibilizado no mercado consumidor, com o intuito de reduzir o impacto ambiental e os custos produtivos, sem impactar negativamente na qualidade do produto, e se possível melhorar a imagem da marca perante o consumidor, que verá o fabricante como um agente que se integra aos valores da comunidade onde está inserido. (BALLOU,1993; LEITE, 2002). No caso da indústria de bebidas, o processo de logística reversa demanda uma estratégia integrada com os agentes do varejo, que apesar de coadjuvantes no processo, são os receptores, o elo entre o produtor e o consumidor final. A logística tem como uma de suas premissas a rentabilidade, a minimização de recursos em todo processo, e no âmbito da logística reversa não é diferente, toda a cadeia de retorno deve estar com os objetivos conjugados, e enxergar os valores que serão obtidos com a atividade. As empresas de bebidas ao longo do tempo foram retornando aos antigos processos. Anteriormente mudaram as garrafas de vidro, pelas de plástico, com intuito de diminuir custos de produção. Com o ônus da poluição causada pelo plástico, que é descartado de forma indiscriminda, o vidro voltou a ser uma alternativa viável, que atende aos objetivos organizacionais e aos desejos da população. Esta pesquisa teve como foco o estudo da recuperação das garrafas de vidro, utilizadas pelas indústrias de bebidas. Estas empresas vêm buscando reutilizar estes materiais para se adequar aos anseios de uma sociedade preocupada com o meio ambiente. Com esta prática, as empresas também podem obter retornos financeiros, através da diminuição de custos de produção. Neste âmbito, o objetivo deste trabalho foi o de analisar como a logística reversa pode auxiliar no processo de recuperação de materiais em uma indústria de bebidas. Para isto, realizou-se um estudo exploratório, de pesquisa in loco. Os instrumentos metodológicos da pesquisa foram a pesquisa documental, a pesquisa bibliográfica e a aplicação em loco de entrevista semi-estruturada dirigida à um gestor. A pesquisa possui características que a enquadram como descritiva e qualitativa. Esta pesquisa contribui para se entender os parâmetros que a indústria utiliza para aplicar a logística reversa no pós-consumo. Ela contribui na medida que demonstra a integração entre os agentes e os valores obtidos por estes agentes, sendo eles o fabricante, o distribuidor, o varejista e o consumidor, além disso, mostra as formas de melhorar este processo, e formas de expandir a fim de contribuir com a qualidade e os custos do produto que é consumido em larga escala. 2 REFERENCIAL TEÓRICO 5.1 LOGÍSTICA REVERSA Segundo Ballou (2001, p.21) “a logística é um conjunto de atividades funcionais que é repetido muitas vezes ao longo do canal de suprimentos através do qual as matérias-primas são convertidas em produtos acabados e o valor é adicionado aos olhos dos consumidores.” Para Bowersox, Closs e Cooper (2007, p.28), “a logística existe para transportar e posicionar estoques com o objetivo de conquistar benefícios relacionados ao tempo, local e propriedade desejados pelo menor custo total.” Nota-se que o êxito dos processos logísticos estão intimamente ligados aos resultados organizacionais. A logística abrange um vasto número de operações, e essas devem ser executadas com competência, a fim de buscar os maiores níveis possíveis de eficiência e eficácia. Para Bowersox e Closs (2004, p.37), “a competência da logística é alcançada pela coordenação de um projeto de rede: informação; transporte; estoque; armazenagem; manuseio de materiais e embalagem. O desafio está em gerenciar o trabalho relacionado a essas áreas funcionais de maneira orquestrada, com objetivo de gerar a capacidade necessária ao atendimento das exigências logísticas.” Dentro de todos os processos da logística existe uma área denominada logística reversa. Essa tem por objetivo buscar materiais que outrora foram utilizados pelo consumidor, e que podem ser reutilizados, destinados à outros fins, ou que por força legisladora devem ser recolhidos e descartados de forma especial. Em (STOCK apud LEITE, 2002, p.20) encontra-se a definição para logística reversa: “em uma perspectiva de logística de negócios, o termo refere-se ao papel da logística no retorno de produtos, redução na fonte, reciclagem, substituição de materiais, reuso de materiais, disposição de resíduos, reforma, reparação e remanufatura... ”. A logística reversa é uma prática que demanda cooperação de vários agentes, a indústria, o distribuidor, o varejista e o consumidor. Eles têm que estar com os objetivos conjugados, para que haja retorno positivo, mesmo que os interesses destes agentes sejam diversos. Esses agentes, juntamente com os fornecedores, compõem a cadeia de suprimentos de todas as organizações, e também a cadeia de retorno de materiais, desta forma, todos são responsáveis em parte pelo sucesso do processo de logística reversa. Segundo Leite (2009, p.103), “a cadeia logística de suprimentos, tanto direta quanto reversa, é constituída por elos, ou seja, fornecedores, produtores, cooperativas, distribuidores, operadores logísticos, consumidores, etc. Esses, como já vimos, buscam (e precisam) obter uma rentabilidadesatisfatória em retorno sua respectiva função dentro da cadeia de suprimentos, sendo no caso dos agentes da cadeia inversa, constituída pela coleta de pós-consumo, processamentos diversos de agrupamento e separação, reciclagem e remanufatura industrial e reintegração ao ciclo produtivo ou de negócios por meio de um produto aceito pelo mercado.” A missão da logística reversa é recuperar valores, dando início ao processo de recuperação de materiais, onde neste processo seja flagrante o benefício do retorno, benefícios que podem ser financeiros, de melhoria da imagem, e diminuição da contaminação do meio ambiente. Para Barbieri e Dias (2002,p.32) “logística reversa é um processo de planejamento, implementação e controle, eficiente e a um custo eficaz, do fluxo de matérias primas, estoques em processamento e produtos acabados, assim como do fluxo de informação, desde o ponto de consumo até ao ponto de origem, com o objetivo de recuperar valor ou realizar um descarte final adequado.” Percebe-se que o processo de logística reversa eficiente é primordial para o sucesso das organizações que trabalham com produtos que dependem de retorno. A cadeia de retorno deve estar em sintonia, e todas as etapas bem definidas para que haja a redução dos custos, do tempo, do desperdício e de perdas de materiais. Ao perceber os benefícios da logística reversa, as organizações dependem de investimento em tecnologia, capacitação de pessoas e em novas formas de utilizar os materiais recuperados. 5.2 LOGÍSTICA REVERSA E SUA FUNÇÃO NA PRODUÇÃO E CONSUMO SUSTENTÁVEIS Para Zambon e Ricco (2009, p.2) “a sustentabilidade empresarial também deve ser vista como uma oportunidade de novos negócios para as empresas. Conciliar progresso econômico, equidade social e preservação ambiental podem gerar bons dividendos, imagem e reputação, contribuindo também para o crescimento e perenidade dos negócios.” Nota-se que logística reversa aplicada ao contexto da sustentabilidade, pode ser considerada uma ferramenta essencial para se atingir as metas organizacionais. Ela representa a forma de se capturar resíduos que consequentemente se perderiam sem a sua aplicação, trazendo agressão ambiental e perdas financeiras. Percebe-se que, a apicação da logística reversa é responsável por reduções na aplicação de recursos governamentais em recuperação de áreas degradadas por descarte indevido de materiais poluentes, tornando-a uma ferramenta com grande aplicabilidade em diversos segmentos. Para Nascimento e Mothé (2007, p.36) “os resíduos industriais e urbanos merecem cada vez mais atenção de especialistas e do poder público dos países que se dedicam ao trabalho de melhoria da qualidade ambiental.” Os resíduos industriais não podem ser vistos como produto fim de um ciclo de consumo, mas sim como a matéria inicial de um novo processo, que dará outra utilidade para o que fora descartado. Este pensamento tem se disseminado dentro dos processos industriais. Assim o descarte de um se torna o insumo de outro processo produtivo. Um produto que é descartado em algum segmento, não dá fim à sua utilidade, ele ainda pode ter muitos usos sem ter que passar por processos de restauração ou reciclagem. Muitas vezes é necessário ser criativo, inovador, usar o produto de várias maneiras. Para Currie (2000,p.98) “a criatividade sempre produz resultados interessantes. O ser humano gosta de desafios, e precisamos uitilizar toda a criatividade à nossa disposição para tentar amenizar os problemas que estão ameaçando o meio ambiente.” Almeida (2002) define sustentabilidade como sobrevivência, entendida como a perenidade dos empreendimentos humanos e do planeta. Os pensamentos em relação a preservação dos recursos naturais e a qualidade de vida dentro das áreas urbanas têm avançado gradativamente ao longo dos anos, isto tem levado as organizações a repensarem suas formas de produção, seus produtos, sua forma de se relacionar com a comunidade, o ambiente onde influencia diretamente, e com isso abrindo margem para inovações, formas de conquistar um novo perfil de indivíduo. Assis (2000,p.59) acredita que o desenvolvimento sustentável “se refere principalmente às conseqüências dessa relação na qualidade de vida e no bem-estar da sociedade, tanto presente quanto futura. Atividade econômica, meio ambiente e bem-estar da sociedade formam o tripé básico no qual se apoia a ideia de desenvolvimento sustentável.” De acordo com Guimarães (2000,p.55) “este novo estilo de desenvolvimento tem por norte uma nova ética do desenvolvimento, ética na qual os objetivos econômicos do progresso estão subordinados às leis de funcionamento dos sistemas naturais e aos critérios de respeito à dignidade humana e de melhoria da qualidade de vida das pessoas.” A logístca age diretamente na relação das organizações com as metas ambientais, os processos de armazenagem, transporte, recuperação e reuso de resíduos fazem parte do papel da logística, oque a torna indispensável para que o função das empresas dentro da sociedade seja cumprida com êxito. Os aspectos de responsabilidade social influenciam diretamente na visão das pessoas em relação as organizações. Quando uma empresa se dedica à recolher seus resíduos, a minimizar impactos à natureza e criar um ambiente melhor para a comunidade onde se estabelece, buscando harmonia com seus colaboradores, ela consegue demonstrar para as pessoas que ela é um agente que vive em prol dos objetivos comuns da sociedade. Oliveira (2008,p.115) ressalta que os “movimentos de responsabilidade social e gestão com stakeholders começavam a florescer nas empresas. Os empresários passaram a se organizar para poder contribuir com os debates socioambientais, apresentando as empresas como parte da solução e não somente como parte dos problemas.” Assim, é possível notar a importância da logística reversa no âmbito da sustentabilidade. Ela é uma ferramenta de alto rendimento para as empresas, ela se encaixa perfeitamente com os novos padrões de qualidade e responsabilidade social. 5.3 LOGÍSTICA REVERSA COMO AGENTE NA REDUÇÃO DE CUSTOS NA CADEIA DE VALOR Nota-se que a logística reversa tem uma função interessante dentro das organizações, ela é capaz de reduzir custos, mediante redução de perdas. Com a recuperação de resíduos, as indústrias podem enxergar nestes materiais uma nova fonte de recursos, realimentando a produção, ou utilizando estes recursos como insumo para processos produtivos diferentes dos que os originaram. Para Ballou (1993, p.348) “Uma das principais questões é a da reciclagem dos resíduos sólidos. O mundo possui sofisticados canais para matérias primas e produtos acabados, porém deu-se pouca atenção para a reutilização destes materiais de produção. É geralmente mais barato usar matérias primas virgens do que material reciclado, em parte pelo pouco desenvolvimento dos canais de retorno, que ainda são menos eficientes do que os canais de distribuição de produtos.” Verifica-se que os canais de retorno têm que ser bem construídos, a fim de minimizar os custos, para que sua aplicação seja viável economicamente. A busca por materiais já utilizados vai de confronto com a exploração de materiais novos, baixar os custos de retorno é essencial para que a reciclagem possa ser aplicada. Nota-se que há uma preocupação com a qualidade, a durabilidade dos produtos confeccionados com material recilclado, a procedência, se o consumidor absorve a ideia de um produto feito com material recuperado, como um produto confiável e de qualidade, a sustentabilidade aliada aos benefícios de um produto produzido com matéria-prima virgem. Percebe-se também que o consumidor deseja produtos ecoeficientes, mas o preço ainda tem grande influencia. A consciência existe, mas não são todos que estão dispostos a pagar por isso. Segundo Costa e Valle (2006, p.6) “muitas indústrias brasileiras vêm praticando a reciclagem de materiais, porque através desta prática podem obter grande economiade custos de produção, principalmente em relação a insumos como energia elétrica, matéria-prima e mão de obra, o exemplo mais evidente é o da lata de alumínio que é 100% reciclável e pode ser reciclada inúmeras vezes.” A melhoria dos processos produtivos demanda grandes investimentos, que devem apresentar um retorno satisfatório. As empresas tem buscado a cada dia mostrar para seus consumidores, que elas têm procurado por inovações para se adequar às suas expectativas, mas esta busca pelo novo gera custos, que são revertidos para o produto final. Há setores da economia que conseguem aliar a sustentabilidade, com o baixo custo, mas existem outros que demandam de pesquisas caras e mudanças em linhas de produção, o que acarreta num freamento dos investimentos em políticas verdes. Segundo Gonçalves e Marins (2006, p.405) muitas empresas consideram o uso da logística reversa como um processo esporádico e não regular, isso provoca a ausência de processos mapeados e procedimentos formalizados. A implementação da logística reversa como agente na redução de custos demanda investimentos em sistemas de informação, em aplicação de procedimentos e treinamento de mão de obra. Para Leite (2009, p.108) “avaliar o aspecto econômico de uma cadeia reversa torna-se às vezes um processo difícil. Isso irá depender das quantidades retornadas ao ciclo produtivo através da cadeia reversa e das quantidades que são produzidas na cadeia produtiva direta.” De acordo com Oliveira et al (2012,p.17) “O setor de metal já possui no Brasil a experiência bem-sucedida de coleta: as latas de alumínio registram 98% de reciclagem, e as latas de aço obtiveram um índice de 82%, ambas registrando recorde mundial. Com o novo sistema, haverá aumento na reciclagem das demais latas de aço utilizadas para produtos alimentícios, tintas e produtos químicos.” A experiência de diversos setores com o reaproveitamento de materiais, é um estímulo para que outras áreas da economia busquem alternativas para destinar resíduos. O sucesso da aplicação de alguns metais reciclados em produtos novos, é um exemplo de que a logística reversa pode agregar valor aos processos produtivos, assim gerando retorno finaceiro para as empresas. Para (Rodríguez et al, 2012, p.648) a logística reversa segue “a maioria das estratégias organizacionais, O objetivo fundamental estratégico no desenvolvimento de sistemas de logística reversa é o econômico, ou de agregação de valor monetário, além de outros objetivos determinados especialmente por questões sociais.” Percebe-se que há possibilidades da introdução de produtos originados de descarte dentro dos processos produtivos, mas é necessário avaliar o real retorno, o peso entre custos e competitividade, se o consumidor está disposto a pagar por este investimento, se as empresas veem soluções para os resíduos em todos os setores. 3 ANÁLISE DOS DADOS A empresa estudada foi uma fábrica de bebidas localizada no município de Cariacica, região metropilitana de Vitória, no estado do Espírito Santo. Para o estudo de caso desta pesquisa, foi realizada uma entrevista direcionada ao gestor do setor de compra e vendas da empresa. Onde foram abordados os assuntos relevantes para elucidar o problema de pesquisa proposto anteriormente. A empresa utiliza a logística reversa como um processo rotineiro, a fim de obter vantagens com o uso dessa ferramenta, que vem sendo cada vez mais aplicada às indústrias para a minimização do impacto de suas atividades. Para o gestor, a empresa consegue economizar tempo e dinheiro através da logística revesa, pois com sua aplicação a instituição não precisa adquirir novos recipientes, o que leva tempo, para cotações e prazos de entrega, além do valor dos materiais novos que são mais caros e vendidos em lotes fechados. Porém, de acordo com o depoente, muitas garrafas não são recuperadas, devido ao processo de venda que em muitos estabelecimentos não são recolhidos , além dos acidentes que acabam quebrando algumas garrafas, tornado-as irrecuperáveis. Pensamento este, que entra em acordo com Barbieri e Dias (2002), que afirmam que a logística reversa é um processo eficiente e a um custo eficaz, que tem como objetivo recuperar valor ou realizar um descarte final adequado. A respeito das atividades exercidas pela concorrência, e de como a empresa se localiza dentro do mercado, o gestor relata que não possui parâmetros de análise com outras empresas, pois esse é um diferencial competitivo que é adotado de acordo com o perfil de cada instituição. A logística reversa é um processo que visa reduzir custos de produção, e para isso existe um controle de estoque, do volume de garrafas disponíveis, onde é verficado se o volume atende a produção, e assim são tomadas as decisões do que será feito. É possível notar que a teoria de Rodríguez et al (2012) entra em concordância com o que é dito pelo entrevistado, quando ele fala que o uso da logística reversa vai de acordo com a estratégia adotada por cada empresa. Todo processo logístico depende de uma boa ligação entre os agentes da cadeia de suprimentos ou de retorno, e em relação a este tema, o entrevistado afirma que seus fornecedores costumam atender seus pedidos a tempo e não há falta de materiais. No caso do retorno das garrafas, o varejista é o elo de ligação com o consumidor e são eles os agentes que recolhem as garrafas, com intuito de comprar mais da fábrica, mas sem pagar pelo recipiente que vem com o produto. Fica claro que a estratégia da empresa está em convergência com a teoria de Barbieri e Dias (2002), quando fala do elo entre os agentes que formam um fluxo que deve funcionar de forma homogênea para a obtenção do sucesso ao fim do processo. Após o recolhimento das garrafas vem o processo de recuperação, que ocorre quando os recipientes chegam à fábrica. O gestor descreve o processo da seguinte forma: as garrafas após chegarem são separadas, e verifica-se a integridade das peças, os recipientes quebrados são alocados em um ambiente para posterior descarte ou reciclagem, separam-se as garrafas íntegras, que avançam no processo, passando para o estágio de limpeza, e assim vão para o estoque para serem usadas na produção. Inserir o processo de logística reversa nas operações industriais, demanda a adequação das instalações, pois juntamente com a logística reversa são empregadas atividades complementares, que são necessárias para a recuperação dos produtos recollhidos do mercado, e sem essas adequações a logística reversa se torna inviável. Encontra-se convergência entre o depoimento e a teoria em Leite (2009), onde o autor relata que os agentes da cadeia inversa realizam processamentos diversos de agrupamento e separação, reciclagem e remanufatura industrial e reintegração ao ciclo produtivo ou de negócios por meio de um produto aceito pelo mercado. Prática realizada na empresa que recupera materiais que serão devolvidos ao mercado. De acordo com o gestor, a empresa busca trabalhar com o varejista, entregando a ele a responsabilidade de estimular seu consumidor. Para ele o esforço da empresa seria muito grande e não obteria êxito, já que cada estabelecimento possui um perfil, e o varejista é quem sabe como tratar o consumidor, e sabe a melhor forma de incentivá-lo a participar do processo. Como benefício o gestor lembra que o produto costuma ficar mais barato quando o fabricante reduz seus custos, e isso é um benefício para o consumidor, pagar menos por aquilo que vai consumir. Neste caso o elo entre o varejista e o fabricante é muito grande, pois a empresa atribui uma função que é determinante para o sucesso da logística reversa ao varejista, assim dependendo diretamente de seu empenho para conseguir atingir seus objetivos. Uma das funções atribuídas a logística reversa é sua utilidade para minimizar resíduos, e assim ajudar em processos sustentáveis dentro das organizações. O gestor acredita que o cliente não pense tanto em sustentabilidade quando se trata de bebidas.Para ele o consumidor não possui conhecimento a respeito da redução de resíduos, e da importância que o mesmo tem para que as empresas sejam mais sustentáveis. O consumidor como parte integrante da cadeia não pode entregar toda a responsabilidade para a indústria e o varejo, é necessário que o cliente desempenhe sua função, pois é ele quem dá início ao processo de retorno, sem que o cliente o faça, nenhum dos outros processos são realizados. Integrar o consumidor na cadeia desempenhando seu papel de forma satisfatória é um grande desafio O entrevistado também afirma que as pressões governamentais exigem adequações voltadas para a preservação ambiental. Normas, leis e todo tipo de regulamentação são necessárias para realizar o descarte de resíduos, mas quando a empresa consegue reaproveitar os materiais que seriam descartados, todos estes processos de descarte de materiais são eliminados, e em conjunto toda burocracia envolvida neste processo é eliminada também. O benefício é muito grande, além de reduzir custos, evitam-se trâmites burocráticos que demandam vários processos administrativos que implicariam em outras despesas. A ideia de Assis (2005) reflete bem o depoimento do gestor, a correlação entre o tripé atividade econômica, meio ambiente e bem-estar citado pelo autor é refletido na realidade, quando se tem uma exigência da população por práticas mais sustentáveis, uma aplicação maior das empresas depende da consciência dos consumidores que a sustentam. O relato do gestor aponta para o caminho estudado por Nascimento e Mothé (2007), pois é flagrante a convergência entre a teoria e a prática. O gestor deixa claro que existem regulamentações e normas que devem ser seguidas, e os autores afirmam que esse é o papel que o poder público vem assumindo ao redor do mundo. Para o gestor, a empresa tende a melhorar sua imagem, mas não diretamente com a logística reversa, pois ela é um processo que compõe as atividades dentro da empresa. Ela reflete no todo, em como a empresa se relaciona com a comunidade, mas esse processo não é percebido pelas pessoas, mas o que a empresa entrega para o mercado é percebido, a sua relação com os colaboradores e parceiros são as faces que as pessoas veem. A teoria de Oliveira (2008) se enquadra bem com o o pensamento do gestor, quando aborda que a boa relação com a comunidade e colaboradores é fundamental para que a empresa consiga benefícios que vão além da produtividade e do lucro. A boa relação com os stakeholders vem sendo um dos principais objetivos do setor empresarial. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS No processo de análise da entrevista realizada ao gestor da indústria de bebidas, pudemos concluir que os conceitos da logística reversa, mesmo relativamente novos no mundo empresarial, estão ganhando cada vez mais participação nas estratégias e no planejamento das empresas. No entanto, percebe-se a necessidade de uma participação integrada entre os atores da cadeia de suprimentos e da cadeia reversa devido à relevância de cada integrante ser complementar a do outro, tornando a logística reversa um processo complexo e de difícil ajuste. É possível ressaltar que muitas das barreiras à implementação da logística reversa encontram-se na percepção do real valor que o processo pode trazer para as empresas, e para a sociedade. A logística reversa tem ganhado destaque no planejamento das organizações como ferramenta importante para solucionar diversos problemas relacionados aos resíduos e ainda trazendo benefícios financeiros para as indústrias, pois estas têm sido apontadas como os principais agentes responsáveis pela poluição do meio ambiente. Percebe-se, que a logística reversa possui limitações. O ajuste correto entre os integrantes é o maior problema encontrado, pois conjugar os interesses e capacidades dos agentes aos objetivos gerais do processo, demanda uma série de peculiaridades, que vão além do retorno financeiro, passando pelo perfil de cada empresa no tratamento com seus clientes, na forma como elas cuidam do pós-venda. Encontrar esse alinhamento é o maior desafio na implementação da logística reversa, pois nem todas empresas enxergam neste processo uma vantagem, como a indústria enxerga e cada vez mais tenta se aperfeiçoar, para avançar e atingir seus objetivos, adequando-se aos anseios da sociedade e às premissas socioambientais. Nota-se que logística reversa, além de eliminar a poluição e o desperdício associado a produtos e materiais de embalagens, também proporciona a redução de custos associados a produção. É possível notar que com a recuperação de garrafas, a indústria economiza em insumos, no caso recipientes, que têm um custo, e que sem dúvidas são incorporados no preço de venda. Quando a indústria consegue recuperar estes materiais, ela pode entregar um preço mais baixo para o consumidor. Há a necessidade clara de alinhar todos os agentes da cadeia, fazendo com que todos desempenhem seu papel da melhor maneira possível. A busca pela disseminação e otimização da logística reversa deve fazer parte da visão das empresas industriais, pois alcançar um bom desempenho deste processo pode ser fundamental para o futuro das indústrias, tendo em vista a pressão envolvida nas questões ambientais. Percebe-se que o cliente demanda sustentabilidade, mas não compreende seu papel no todo, e além disso não enxerga o valor do processo de recuperação, juntamente com isso, o cliente está muito distante da compreensão dos processos que as empresas desenvolvem para atingir o objetivo de minimizar resíduos. A atribuição das competências deve ser bem definida e disseminada, para que todos os processos sustentáveis sejam compreendidos e otimizados, assim todos agentes se beneficiariam. REFERÊNCIAS ALMEIDA, F. Afinal, o que é sustentabilidade? Disponível em: <http://www.convibra.com.br/> Acesso em: 30 maio 2014. ASSIS, J. Uma Nova Ética para o Desenvolvimento. 3. ed. São Paulo: Aboré, 2000. Disponível em: <http://www.revistas.uea.edu.br> Acesso em: 30 mai 2014. BALLOU, R. H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos. 4. ed. São Paulo: Bookman, 2001. BALLOU, R. H. Logistica Empresarial. São Paulo: Atlas, 1993. BARBIERI, J.C.; DIAS, M. Logística Reversa com instrumento de Progrmas de Produção e Consumo Sustentáveis, São Paulo: Tecnologísta, 2002. Disponível em: <http://gvpesquisa.fgv.br/professor/jose-carlos-barbieri> Acesso em: 30 mai 2014. BARROS, A. J. P; LEHFELD, N. A. S. Fundamentos de metodologia: um guia para iniciação científica. São Paulo: Makron, 1986. BOWERSOX, D. J.; CLOSS, D. J. 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