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TEORIA AVANÇADA DA 
CONTABILIDADE 
AULA 3 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Prof. Tassiani Aparecida dos Santos 
 
 
 
 
2 
CONVERSA INICIAL 
O objetivo desta aula é introduzi-los aos conteúdos mais atuais do mundo 
da academia contábil no que tange ao tópico de divulgação voluntária das 
informações contábeis. Perpassaremos algumas teorias desenvolvidas nessa 
área de estudos nos últimos anos, que têm sido de grande relevância para a 
compreensão dos mecanismos de atuação da informação contábil no mercado 
financeiro e de capitais. 
Iniciaremos pela exposição da teoria dos stakeholders, discorrendo sobre 
os seus conceitos e definições primordiais. O tema 2 versa sobre a teoria da 
legitimidade e suas principais fundamentações. Em seguida, os temas 3 e 4 
tratarão dos mecanismos de divulgação voluntária das informações contábeis. 
No tema 3, o objetivo é conhecer os artifícios inerentes ao mundo da divulgação 
voluntária das informações contábeis, ou seja, o que é a divulgação voluntária e 
as suas relações com o mercado financeiro e de capitais. No tema 4, o enfoque 
recai sobre as motivações dos agentes econômicos para a divulgação voluntária 
das informações contábeis. Por último, o tema 5 apresenta as principais 
tendências da pesquisa contábil no Brasil. 
CONTEXTUALIZANDO 
A contabilidade financeira tem como finalidade o reconhecimento, a 
mensuração e a divulgação de informações de natureza contábil-econômico-
financeira. Os procedimentos e métodos adotados para reconhecer e mensurar 
os elementos patrimoniais e econômicos são direcionados pelas normas de 
contabilidade, no Brasil vigente as IFRSs. Assim como o reconhecimento e a 
mensuração, a divulgação também é orientada pelas normas brasileiras de 
contabilidade. Portanto, essas normas estabelecem o conteúdo e o formato de 
divulgação dessas informações de cunho obrigatório. 
Além da divulgação obrigatória, existe a prática de divulgação voluntária 
das informações contábeis e esse é o foco de estudos desta aula. Assim, 
queridos alunos, de antemão já vamos informar que a divulgação voluntária não 
ocorre de maneira completa. Reveste-se, portanto, de elevada relevância os 
estudos sobre o impacto das informações adicionais em métricas de mercado, 
como o valor de mercado da empresa e o custo de capital, e as motivações que 
 
 
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levam as organizações a fazerem divulgações voluntárias, mesmo estando 
atreladas a custos adicionais de divulgação. 
Diante disso, sugerimos que vocês reflitam sobre os seguintes pontos: O 
que é divulgação voluntária? Por que ela não acontece de maneira completa? 
Quais são as bases teóricas que fundamentam essas explicações? Como esses 
aspectos impactam o dia a dia profissional dos contadores? A divulgação 
voluntária acontece só para empresas de capital aberto? 
São muitos questionamentos, mas essa reflexão inicial auxiliará no 
andamento desta aula. Para tanto, sugerimos que leiam o artigo A divulgação 
voluntária e o gerenciamento de resultados contábeis: evidências no mercado 
de capitais brasileiro”, da Silvia Consoni, do Romualdo Douglas Colauto e do 
Gerlando Augusto Sampaio Franco de Lima, publicado no ano de 2017. 
TEMA 1 – TEORIA DOS STAKEHOLDERS 
Iniciamos, agora, a nossa discussão teórica sobre os aspectos contábeis 
e as relações com o mercado financeiro e de capitais. A primeira teoria a ser 
discutida nesta aula é a teoria dos stakeholders. Mas o que são stakeholders? 
Para trabalharmos com uma definição precisa do termo, a partir desse 
momento, precisamos entender os stakeholders como “todas as partes 
interessadas na empresa, as quais são definidas como qualquer grupo ou 
indivíduo que pode afetar ou é afetado pela realização dos objetivos da empresa” 
(Niyama, 2014, p. 151). Assim, podemos citar como stakeholders os acionistas 
da empresa, os investidores e credores, o governo, os funcionários e as 
comunidades que são afetadas pelas ações das organizações. 
A teoria dos stakeholders é uma teoria baseada nos preceitos da 
microeconomia clássica, conforme discutimos anteriormente. Essa teoria tem 
como fundamento o reconhecimento da importância da gestão dos stakeholders, 
isto é, “os gestores devem tomar decisões que levem em conta todos os círculos 
que podem afetar o valor da empresa” (Niyama, 2014, p. 152). Estamos falando 
da gestão dos interesses de agentes econômicos que podem afetar o valor da 
empresa, ou seja, em especial, investidores e credores da organização. Niyama 
(2014) retratou a teoria dos stakeholders da seguinte maneira: 
A teoria dos stakeholders da empresa requer não só uma compreensão 
dos tipos de influência das partes interessadas, mas também como as 
empresas respondem a essas influências. As partes interessadas se 
envolvem com a empresa, porque é do seu interesse fazê-lo, 
 
 
4 
reconhecendo a capacidade de influenciar nas ações da empresa e 
resguardar a promoção do seu bem-estar. A busca é por uma situação 
de equilíbrio de poder entre stakeholders e a organização, para que 
assim a empresa possa ganhar legitimidade aos olhos dos atores 
relevantes (ou sociedade), de forma que a interação possa realmente 
ser mútua. 
Dessa maneira, é importante que as empresas tenham um bom 
relacionamento com seus stakeholders e isso implica bons resultados 
financeiros. A literatura contábil aponta que um contexto de harmonia entre 
empresa e stakeholders acarreta em um maior valor para a empresa, e mesmo 
que isso não signifique lucro no curto prazo, implica a sobrevivência da 
organização no longo prazo. Portanto, para manter esse equilíbrio das relações 
com os stakeholders, é necessário a compreensão de como gerenciar os 
interesses das partes relacionadas (Niyama, 2014). 
A teoria dos stakeholders prevê e explica os mecanismos nos quais a 
gestão adequada desses agentes econômicos acarreta em uma influência 
positiva no resultado financeiro e na valorização da empresa. A teoria também 
prevê que o diálogo entre as partes relacionadas gera interesses compartilhados 
que levarão a maximização do valor da empresa para todos os participantes do 
processo. 
Em suma, a teoria dos stakeholders versa sobre a importância da gestão 
dos agentes econômicos que afetam e são afetados pela organização, uma vez 
que uma harmonização entre os interesses da empresa e dos stakeholders 
provoca uma influência positiva no resultado financeiro e na valorização da 
empresa. 
TEMA 2 – TEORIA DA LEGITIMIDADE 
A outra teoria que sustenta os preceitos da divulgação voluntária – tópico 
a ser discutido nos próximos dois temas dessa aula – é a teoria da legitimidade. 
Essa teoria assevera que as empresas buscam meios de se legitimar perante a 
sociedade. Algumas dúvidas importantes para vocês refletirem: o que é 
legitimidade? Por que a legitimidade é importante? Quais são os meios utilizados 
pelas empresas para se legitimar? 
Vamos começar pela apresentação do conceito de legitimidade. Para 
Niyama (2014, p. 149), “a legitimidade deve ser definida como uma condição ou 
estado do sistema que se verifica quando o valor de uma entidade é congruente 
com o valor do sistema social da qual a entidade é uma parte”. Nesse sentido, 
 
 
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alunos, a legitimidade pode ser compreendida como um estado ou condição pelo 
qual a empresa é “aceita” pelo sistema social do qual faz parte (Niyama, 2014). 
Por exemplo, vamos discutir a legitimidade de uma empresa mineradora X, 
responsável por um crime ambiental que ocorreu na comunidade em que estava 
inserida. Após o episódio da tragédia ambiental e social, a empresa passou a 
ser vista como uma empresa ruim para a comunidade que vive ao entorno da 
organização. Assim, a sua aceitaçãoou valor do sistema social passou a ser 
muito pequena e a empresa viu sua legitimidade se tornar ilusória. 
Um dos pilares fundamentais da legitimidade é a comunicação 
socioambiental entre empresa e sociedade. “Nessa perspectiva, a sociedade 
aceita e aprova os posicionamentos tomados pela organização. É importante 
para a legitimidade que a empresa seja vista como um ente social e 
ambientalmente responsável” (Niyama, 2014, p. 150). Portanto, a preocupação 
com a comunicação entre empresa e sociedade, no que tange aos aspectos 
sociais e ambientais, se configura como uma importante estratégia para conferir 
legitimidade. 
E por que a legitimidade é tão importante? 
As organizações só existem na medida em que a sociedade confere sobre 
as organizações o estado de legitimidade. Niyama (2014, p. 150) assevera que 
“as organizações não são consideradas detentoras de qualquer direito inerente 
aos recursos, ou mesmo de existir”. Dessa maneira, podemos pensar na 
empresa mineradora, responsável pelo crime ambiental, conforme supracitado, 
caso a sociedade decida que a empresa não deve existir naquele local ou que 
os serviços prestados para a sociedade são irrisórios perto dos riscos 
ambientais, essa empresa deixará de existir. 
Outro elemento importante para a teoria da legitimidade são os contratos 
sociais. Neles, estão implícitas ou explícitas a aceitação dos agentes a respeito 
da forma como as empresas devem atuar e se posicionar na sociedade (Niyama, 
2014). Como vimos na teoria contratual da firma, se um contrato for quebrado, 
pode ameaçar a harmonia existente no sistema empresarial e a própria 
continuidade da organização. Assim, conforme Niyama (2014, p. 150): 
Quando um evento negativo ocorre, se tem uma ameaça presente ou 
potencial à legitimidade da entidade, os gestores devem procurar 
ferramentas que mudem ou amenizem tais efeitos, tentando assim 
recuperar a percepção sobre os objetivos da organização. 
 
 
6 
Retomando o caso da empresa mineradora, após o incidente ambiental, 
provavelmente a empresa tomou decisões e ações que amenizaram o efeito do 
evento sobre a legitimidade, uma vez que ela foi capaz de se manter operando 
no mercado. 
Mas quais são os mecanismos utilizados para assegurar a legitimidade 
das empresas? São eles: disclosure social e disclosure voluntário. 
O disclosure social visa atuar como um instrumento de legitimação da 
empresa perante a sociedade, e apresenta informações de cunho 
socioambientais e econômico-financeiras. Esse relatório visa apresentar essas 
informações para um grande número de stakeholders, os quais vão legitimar e 
aceitar as decisões tomadas pela companhia. Dessa maneira, frequentemente, 
pode ser visto como um elemento estratégico para a implementação de objetivos 
pela organização. 
O disclosure, ou divulgação, voluntário será tópico de discussão dos 
próximos temas. Contudo, alunos, podemos adiantar que ele também atua como 
um instrumento de legitimidade para as organizações, como veremos a seguir. 
Em suma, a teoria da legitimidade versa sobre a aceitação de uma 
organização em seu sistema social, bem como essas implicações e os 
mecanismos de gestão da legitimidade. Finalizamos, assim, os dois primeiros 
tópicos desta aula, que objetivaram discorrer sobre duas teorias que embasam 
e dão fundamentos para a prática de divulgação voluntária das informações 
contábeis. 
TEMA 3 – DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA DAS INFORMAÇÕES CONTÁBEIS 
Conforme apresentado anteriormente, a divulgação das informações 
contábeis se configura como um importante mecanismo para gestão dos 
stakeholders e da legitimidade das organizações. Neste tópico, vamos abordar 
as definições de divulgação voluntária e suas inter-relações com as teorias 
microeconômicas, nomeadamente a teoria da agência e a teoria contratual da 
firma. 
O primeiro aspecto a ser compreendido é: no que consiste a divulgação 
voluntária das informações contábeis? Nesse sentido, podemos definir 
divulgação voluntária como as informações contábeis que não têm 
obrigatoriedade para serem divulgadas, segundo as normas em vigor no país ou 
os órgãos reguladores. Contudo, essas informações são divulgadas para os 
 
 
7 
stakeholders no conjunto das demonstrações financeiras. Como exemplo 
podemos citar o número de funcionários do gênero feminino na diretoria 
executiva da empresa. Essa informação não possui obrigatoriedade de 
divulgação, porém, a empresa pode optar por divulgá-la – a decisão, de divulgar 
ou não essas informações adicionais, será discutida no próximo tema. 
Retomando o conceito de divulgação voluntária, vamos relembrar a teoria 
da agência, já discutida. A teoria da agência tem como premissa que as relações 
entre os diferentes agentes econômicos são conflituosas, motivadas pela 
assimetria das informações. Nesse contexto, a assimetria de informação entre 
insiders – agente econômicos que estão dentro da organização e, portanto, têm 
informações privilegiadas – e outsiders – agentes econômicos que estão de fora 
das discussões e decisões operacionais da companhia e, por isso, têm menor 
nível de acesso a informações estratégicas – caracteriza-se como o elemento 
principal das relações conflituosas de agência (Consoni; Colauto; Lima, 2017). A 
divulgação voluntária é um mecanismo de diminuição desses conflitos de 
agência. 
De acordo com Consoni, Colauto e Lima (2017, p. 251), as pesquisas na 
área contábil demonstram que: 
A assimetria informacional reduz a medida que o nível de divulgação 
voluntária de informações aumenta, isso porque, pode reduzir o 
componente de seleção adversa do bid-ask spread (o mecanismo de 
proteção do preço quando os títulos são vendidos ou comprados). 
Consequentemente, o volume de negociações e a liquidez de mercado 
das ações aumentam, reduzindo potencialmente o custo de capital. 
Relacionamos esse trecho dos autores com a apresentação do conceito 
de assimetria informacional das aulas anteriores. Como vimos, ao diminuir a 
assimetria de informações, isto é, a diferença no nível de informação a que os 
diferentes agentes econômicos têm acesso, os agentes econômicos podem 
tomar decisões de maneira mais racional, visando maximizar a sua utilidade 
individual e, assim, diminui-se a seleção adversa do mercado (Consoni; Colauto; 
Lima, 2017). 
Ao reduzir a seleção adversa os agentes econômicos têm mais 
informações assertivas sobre os diferentes ativos da organização e podem 
ofertar melhores condições, elevando a negociação do mercado de capitais, 
aumentando a liquidez dos papéis e, consequentemente, diminuindo o custo de 
capital (Consoni; Colauto; Lima, 2017). 
 
 
8 
Por exemplo, podemos pensar em um caso da negociação de um 
automóvel seminovo. Ambos os agentes econômicos, comprador e vendedor, 
têm informações completas sobre o estado do ativo (veículo). Esse fato acarreta 
em possibilidade para uma negociação racional, na qual ambos os agentes 
ofertam suas melhores condições. Assim, a seleção adversa é diminuída e os 
veículos são negociados muito próximo de seu valor real de mercado, e não pelo 
seu valor médio. Esse é um exemplo de diminuição da seleção adversa por meio 
da divulgação voluntária. 
Esse mesmo exemplo, se transposto para o mercado de capitais, leva ao 
entendimento de que a seleção adversa diminui os riscos e, portanto, aumenta 
o número de negociações de ativos. Esse fato acarreta em um menor custo de 
capital para as organizações. 
Portanto, os gestores têm incentivos suficientes para divulgar todas as 
informações adicionais com o intuito de se distinguirem no mercado e diminuírem 
os custos de capital. Contudo, isso não acontece. A literatura demonstrou que 
os gestores tendema divulgar parcialmente as informações voluntárias. Por que 
não acontece a divulgação voluntária das informações contábeis de maneira 
completa? Esse questionamento será tratado no próximo tema. 
TEMA 4 – MOTIVAÇÕES PARA A DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA DAS 
INFORMAÇÕES CONTÁBEIS 
Por que os gestores não divulgam as informações adicionais de maneira 
completa? Essa discussão tem ocupado a agenda de pesquisa contábil desde 
os anos 2000 e tem se apresentado como um questionamento complexo. Os 
pesquisadores apontaram cinco aspectos que tem se mostrado relevante dentro 
dessa discussão: os gestores não divulgam informações essencialmente 
verdadeiras, existe o gerenciamento de resultados, existem custos de 
divulgação, há efeitos da informação sobre o valor da companhia e os efeitos 
explicados pela teoria dos jogos (Consoni; Colauto; Lima, 2017). 
De acordo com Consoni, Colauto e Lima (2017), “a ideia de que a 
divulgação voluntária é eficaz e contribui para a alocação eficiente de recursos 
no mercado de capitais está vinculada à credibilidade das informações 
financeiras divulgadas”. Dessa maneira, se a informação divulgada não for 
essencialmente verdadeira, ela perde relevância para os stakeholders e não 
adiciona valor aos demonstrativos da empresa. 
 
 
9 
Outro aspecto importante refere-se ao gerenciamento de resultados. Um 
fator determinante na credibilidade das informações adicionais é o nível de 
gerenciamento de resultados praticados pela companhia. Empresas que 
gerenciam muitas informações podem ter um retorno negativo do mercado de 
capitais, assim como nos casos de informações não essencialmente 
verdadeiras, no longo prazo. Contudo, outro aspecto que é considerado pelos 
gestores refere-se ao custo da informação, de maneira geral, se a informação 
não contém viés, ela tem um custo elevado e, portanto, a divulgação voluntária 
acaba não acontecendo (Consoni; Colauto; Lima, 2017). 
Dessa maneira, conforme discutidos nos dois primeiros aspectos que 
podem motivar a divulgação voluntária, é comum que os gestores apresentem 
informações não verdadeiras ou gerenciem as informações adicionais, pois os 
custos de divulgação só compensarão se obtiverem um efeito positivo sobre o 
valor de mercado da empresa (Consoni; Colauto; Lima, 2017). 
Assim, como apresentado nos parágrafos anteriores, é salutar 
compreender que a divulgação de informações gera custos para as 
organizações. Vale a pena divulgar informação adicional? Qual o custo dessa 
divulgação? 
Esses questionamentos são produzidos pelos gestores no processo de 
decisão da divulgação de informações adicionais. “Os custos de divulgação 
variam de acordo com a natureza do que for divulgado” (Consoni; Colauto; Lima, 
2017). Dessa maneira, o gerenciamento dos stakeholders e da legitimidade – 
tópicos 1 e 2 desta aula – serão determinantes na decisão da divulgação 
voluntária completa, uma vez que existem custos envolvidos (Consoni; Colauto; 
Lima, 2017). 
 Os gestores também avaliam os efeitos da informação adicional sobre o 
valor de mercado da companhia. Na prática, temos o seguinte resultado: os 
investidores não sabem com certeza se os gestores estão retendo informações 
privilegiadas, portanto, não conseguem interpretar se a empresa possui más 
notícias, que estão sendo retidas. Dessa forma, os investidores não conseguem 
distinguir entre empresas com más notícias e empresas que não fazem 
divulgação adicional. Nesse caso, ambas perdem valor de mercado (Consoni; 
Colauto; Lima, 2017). Assim, podemos afirmar que as empresas podem utilizar 
o mecanismo de divulgação voluntária para gerenciar os stakeholders e elevar 
seu valor de mercado. 
 
 
10 
O último ponto a ser mencionado refere-se à teoria dos jogos. Consoni, 
Colauto e Lima (2017, p. 252) afirmam que “para interpretar corretamente a ação 
do gestor, é necessário identificar os incentivos que este tem para divulgar boas 
e más notícias e o conjunto de informações que poderia ter divulgado, porém 
escolheu não o fazer”. Por essa razão a divulgação voluntária é um caso especial 
da teoria dos jogos: não se sabe quais os incentivos para a divulgação de 
determinadas informações; para compreendê-los, é necessário avaliar todo o 
conjunto de informações disponíveis para divulgação e qual foi a escolha feita 
pelo executivo (Consoni; Colauto; Lima, 2017). 
Por exemplo, uma boa notícia geralmente é divulgada com o objetivo de 
aumentar o valor de mercado da organização em momentos de negociação de 
seus papéis ou de captação de recursos. Contudo, más notícias podem ser 
divulgadas com o intuito de reduzir o valor do lucro ou resultados operacionais 
futuros em momentos de negociação com sindicato, no qual a empresa deseja 
apresentar dificuldades operacionais e econômico-financeiras (Consoni; 
Colauto; Lima, 2017). 
Em suma, as motivações que influenciam na decisão dos gestores de 
divulgarem as informações adicionais nos demonstrativos financeiros são essas: 
os gestores não divulgam informações essencialmente verdadeiras; existe o 
gerenciamento de resultados; existem custos de divulgação; há efeitos da 
informação sobre o valor da companhia e os efeitos explicados pela teoria dos 
jogos. Vimos, também, que a propensão maior é que os gestores selecionem as 
informações adicionais que vão divulgar, em razão dos cinco aspectos 
supracitados. Portanto, podemos afirmar que o full disclosure (divulgação 
completa) não acontece nas empresas estudadas pelos pesquisadores. 
TEMA 5 – TENDÊNCIAS DA PESQUISA CONTÁBIL NO BRASIL 
Adentramos, agora, um tema muito importante para os pesquisadores e 
futuros pesquisadores da academia contábil brasileira: as tendências da 
pesquisa contábil no Brasil. Neste tópico, apresentaremos sete temas de 
pesquisa que tem despontado como fundamentais para o desenvolvimento 
científico da contabilidade: intangíveis criados internamente, capital intelectual, 
pesquisas históricas, contabilidade gerencial e teoria da contabilidade, 
adequações das IFRSs, relato integrado e filosofia da contabilidade (Iudicibus; 
Lopes, 2004; Iudicibus, 2012). 
 
 
11 
 Intangíveis criados internamente (goodwill): O goodwill é um elemento 
patrimonial que ainda não tem mecanismos para reconhecimento e 
mensuração. Iudicibus (2012) aponta como um elemento que deve ser 
estudado pela contabilidade normativa. A indicação de um “modo de fazer 
ideal”, ou seja, um modelo de reconhecimento e mensuração, é 
fundamental para que esse item passe a ser incorporado aos 
demonstrativos contábeis. 
 Capital intelectual: Assim como o goodwiil, o capital intelectual é um item 
que ainda não é reconhecido e mensurado no balanço patrimonial. Isso 
acontece, em grande parte, em virtude de a contabilidade não ter 
desenvolvido uma metodologia adequada para esses intangíveis. Por 
serem itens gerados internamente, a empresa pode utilizar como meios 
para gerenciamento de resultados contábeis, podendo afetar gravemente 
o valor dos ativos das companhias. Portanto, um estudo aprofundado 
deve ser realizado pela corrente normativa, a fim de encontrar métodos 
seguros e confiáveis de reconhecer e mensurar esses ativos. 
 Pesquisas históricas: As pesquisas históricas têm surgido com força na 
área de contabilidade em âmbito internacional. Portanto, desponta, 
também, como um tópico a ser tratado pela academia brasileira. As 
ciências contábeis são uma ciência social e, portanto, sua própria 
existência está atrelada a existência da humanidade. Se não existirem 
sociedades, a contabilidade também deixa de existir. Dessa maneira, para 
compreender a evolução dessa ciência e os caminhos percorridos, faz-se 
indispensável o aprofundamento em pesquisashistóricas. 
 Contabilidade gerencial e a teoria da contabilidade: A contabilidade 
gerencial tem sido pouco discutida dentro do espectro da teoria da 
contabilidade e negligenciada durante anos. Os tópicos abordados pela 
teoria da contabilidade, tanto pela corrente normativa quanto pela corrente 
positiva, são exclusivamente preocupados com os usuários externos e, 
em especial, o enfoque recai sobre o mercado financeiro e de capitais. 
Iudicibus (2012) coloca a inserção da contabilidade gerencial dentro da 
teoria geral da contabilidade como uma tendência de pesquisa que 
contribuirá para o desenvolvimento do corpo teórico desta. 
 Adequações das IFRSs: Um outro aspecto apontado por Iudicibus 
(2012) é a adequação das normas brasileiras de contabilidade às normas 
 
 
12 
internacionais. Esse tópico de pesquisa vem sendo estudado nos últimos 
anos e já se constitui como um dos principais tópicos da agenda de 
pesquisa da área. Alguns questionamentos giram em torno de: a forma 
adotada de internacionalização foi a melhor? Os benefícios da adequação 
às normas internacionais compensam os custos? Qual a relação entre as 
IFRSs e o custo de capital? 
 Relato integrado: O relato integrado constitui um conceito moderno 
dentro da contabilidade financeira que visa aprimorar e aumentar a 
qualidade da informação contábil-econômico-financeira. Esse relatório 
tem como intuito implementar um pensamento integrado como estratégia 
de negócio. Nesse modelo, a comunicação corporativa se torna 
conectada em cinco aspectos: materialidade, geração de valor, capitais, 
modelo de negócio e conectividade, e promove, assim, melhorias no valor 
de mercado da empresa e em seu custo de capital. 
 Filosofia da contabilidade: O tema filosofia da contabilidade se 
configura como um aspecto fundamental para o desenvolvimento 
científico. Estudos que se preocupam com esse tópico devem direcionar 
esforços para a compreensão dos fundamentos da ciência contábil e das 
ontologias e epistemologias que guiam a nossa ciência. Abrir a mente 
para esse tipo de estudo significa evoluir para patamares superiores no 
campo científico. Só dessa maneira seremos capazes de desenvolver 
modelos epistemológicos próprios e nos abrimos para outras correntes 
epistemológicas, por exemplo, vertentes críticas e interpretativas. 
Assim, encerramos mais uma aula, apresentando perspectivas futuras de 
pesquisas para guiarem o desenvolvimento do corpo teórico da contabilidade e, 
assim, contribuírem para o direcionamento da agenda de pesquisa dos cientistas 
da área. 
TROCANDO IDEIAS 
Estamos caminhando para o final desta aula! Vamos trocar ideias com os 
colegas sobre os principais aspectos? 
Para consolidar os conhecimentos adquiridos nesta aula, vamos realizar 
uma atividade de fórum. Você deverá articular os conceitos aprendidos nesta 
aula sobre o que é divulgação voluntária e as motivações para praticar a 
 
 
13 
divulgação voluntária das informações contábeis. Para tanto, reflita sobre a 
utilização dos conceitos da teoria dos jogos como explicação para as motivações 
dos gestores divulgarem más notícias. Descreva pelo menos dois casos em que 
os gestores podem divulgar más notícias e o intuito dessa divulgação. Essa 
atividade auxiliará na fixação dos conteúdos estudados. 
NA PRÁTICA 
Chegamos na última tarefa desta aula. Esta atividade tem cunho prático, 
para que vocês possam desenvolver habilidades. O tema de discussão da 
atividade prática é divulgação voluntária, o qual discutimos de forma explícita 
nos temas 3 e 4 desta aula, mas que está embasada na teoria dos stakeholders, 
tema 1 e na teoria da legitimidade no tema 2. Reúna os conhecimentos 
adquiridos durante esse curso e vamos fazer um exercício de abstração. 
A empresa mineradora está no período de fechamento das 
demonstrações contábeis. Esta empresa passou por um episódio de desastre 
ambiental no ano anterior. Após esse episódio, a legitimidade da empresa ficou 
abalada, pois a sociedade começou a ver a empresa como uma ameaça ao meio 
ambiente. Para tratar esse problema, no período atual, a empresa se 
comprometeu a tomar diversas ações de controle ambiental com o intuito de 
diminuir os riscos associados. 
Os gestores da empresa não conseguiram cumprir uma parte do contrato 
social de controle ambiental, 15% das barragens de rejeitos não foram tratadas 
de maneira adequada, conforme previa o contrato social. Contudo, os gestores 
decidiram informar aos stakeholders que todas as ações relacionadas ao projeto 
ambiental foram implementadas com sucesso. O intuito do corpo executivo era 
aumentar o preço das ações da companhia, visto que a empresa precisará captar 
investimentos no mercado no próximo período para ampliar sua fatia no mercado 
internacional. 
Questionamento: a divulgação das informações ambientais vai gerar um 
impacto positivou ou negativo no preço das ações da empresa? Justifique sua 
resposta com base nos conceitos aprendidos nesta aula. 
Resolução: se pensarmos isoladamente, considerando apenas esse fator 
ambiental, a resposta é sim. Isso porque, ao informar ao mercado de capitais 
que todas as ações acordadas com a sociedade foram cumpridas, a legitimidade 
da organização será recuperada. 
 
 
14 
Nesse aspecto, o aluno estará utilizando os conceitos da teoria da 
legitimidade, que afirma que esta é alcançada quando a empresa é aceita pelo 
sistema social do qual faz parte. Portanto, ao informar a sociedade que a 
empresa está cumprindo o seu contrato social, a legitimidade é recuperada. 
O outro aspecto refere-se à teoria dos stakeholders. A empresa optou por 
mentir aos stakeholders sobre o cumprimento do contrato social. Esse fato é 
explicado por essa teoria, visto que os stakeholders são agentes econômicos 
que podem afetar o valor da empresa. Assim, ao mentir, a empresa está 
ocultando uma informação e divulgando um resultado positivo, com o objetivo de 
aumentar seu valor de mercado. O outro lado da moeda, tratado por essa teoria, 
é que esses agentes também sofrem influência da organização, que, nesse caso, 
é o possível dano ambiental, uma vez que a organização optou pelo elevado 
risco ambiental. 
FINALIZANDO 
Esta aula contribui para a sedimentação dos conhecimentos que estamos 
adquirindo, por isso, inserimos as teorias do stakeholder e da legitimidade com 
o intuito de embasar as discussões sobre divulgação voluntária. 
Portanto, nos dois primeiros temas desta aula, foram apresentados os 
principais conceitos das teorias do stakeholder e da legitimidade. A primeira 
tratou da importância da gestão dos stakeholders para conquistar e manter a 
legitimidade das organizações. A segunda explicou o que é legitimidade e a 
importância da harmonia da empresa com o sistema social na qual está inserida. 
O terceiro e quarto tema da aula abordaram a divulgação voluntária. No 
terceiro tópico versamos sobre os fundamentos da divulgação voluntária e o que 
ela representa para o mercado financeiro e de capitais. No quarto tema 
discorremos sobre as motivações que levam os gestores a divulgarem as 
informações adicionais. Por fim, a aula apresentou as tendências de pesquisa 
na área de contabilidade e que devem figurar como itens da agenda de pesquisa 
dos próximos anos. 
 
 
 
15 
REFERÊNCIAS 
CONSONI, S.; COLAUTO, R. D.; LIMA, G. A. S. F. A divulgação voluntária e o 
gerenciamento de resultados contábeis: evidências no mercado de capitais 
brasileiro. Revista Contabilidade & Finanças, v. 28, n. 74, p. 249-263, 2017. 
IUDICIBUS, S.; LOPES, A. B. Teoria avançada da contabilidade. São Paulo: 
Atlas, 2004. 
IUDICIBUS, S. Teoria da contabilidade: evoluçãoe tendências. Revista de 
Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UFRJ, v. 17, n. 2, p. 
5-13, 2012. 
NIYAMA, J. K. Teoria avançada da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2014.

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