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TEORIA AVANÇADA DA CONTABILIDADE AULA 3 Prof. Tassiani Aparecida dos Santos 2 CONVERSA INICIAL O objetivo desta aula é introduzi-los aos conteúdos mais atuais do mundo da academia contábil no que tange ao tópico de divulgação voluntária das informações contábeis. Perpassaremos algumas teorias desenvolvidas nessa área de estudos nos últimos anos, que têm sido de grande relevância para a compreensão dos mecanismos de atuação da informação contábil no mercado financeiro e de capitais. Iniciaremos pela exposição da teoria dos stakeholders, discorrendo sobre os seus conceitos e definições primordiais. O tema 2 versa sobre a teoria da legitimidade e suas principais fundamentações. Em seguida, os temas 3 e 4 tratarão dos mecanismos de divulgação voluntária das informações contábeis. No tema 3, o objetivo é conhecer os artifícios inerentes ao mundo da divulgação voluntária das informações contábeis, ou seja, o que é a divulgação voluntária e as suas relações com o mercado financeiro e de capitais. No tema 4, o enfoque recai sobre as motivações dos agentes econômicos para a divulgação voluntária das informações contábeis. Por último, o tema 5 apresenta as principais tendências da pesquisa contábil no Brasil. CONTEXTUALIZANDO A contabilidade financeira tem como finalidade o reconhecimento, a mensuração e a divulgação de informações de natureza contábil-econômico- financeira. Os procedimentos e métodos adotados para reconhecer e mensurar os elementos patrimoniais e econômicos são direcionados pelas normas de contabilidade, no Brasil vigente as IFRSs. Assim como o reconhecimento e a mensuração, a divulgação também é orientada pelas normas brasileiras de contabilidade. Portanto, essas normas estabelecem o conteúdo e o formato de divulgação dessas informações de cunho obrigatório. Além da divulgação obrigatória, existe a prática de divulgação voluntária das informações contábeis e esse é o foco de estudos desta aula. Assim, queridos alunos, de antemão já vamos informar que a divulgação voluntária não ocorre de maneira completa. Reveste-se, portanto, de elevada relevância os estudos sobre o impacto das informações adicionais em métricas de mercado, como o valor de mercado da empresa e o custo de capital, e as motivações que 3 levam as organizações a fazerem divulgações voluntárias, mesmo estando atreladas a custos adicionais de divulgação. Diante disso, sugerimos que vocês reflitam sobre os seguintes pontos: O que é divulgação voluntária? Por que ela não acontece de maneira completa? Quais são as bases teóricas que fundamentam essas explicações? Como esses aspectos impactam o dia a dia profissional dos contadores? A divulgação voluntária acontece só para empresas de capital aberto? São muitos questionamentos, mas essa reflexão inicial auxiliará no andamento desta aula. Para tanto, sugerimos que leiam o artigo A divulgação voluntária e o gerenciamento de resultados contábeis: evidências no mercado de capitais brasileiro”, da Silvia Consoni, do Romualdo Douglas Colauto e do Gerlando Augusto Sampaio Franco de Lima, publicado no ano de 2017. TEMA 1 – TEORIA DOS STAKEHOLDERS Iniciamos, agora, a nossa discussão teórica sobre os aspectos contábeis e as relações com o mercado financeiro e de capitais. A primeira teoria a ser discutida nesta aula é a teoria dos stakeholders. Mas o que são stakeholders? Para trabalharmos com uma definição precisa do termo, a partir desse momento, precisamos entender os stakeholders como “todas as partes interessadas na empresa, as quais são definidas como qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou é afetado pela realização dos objetivos da empresa” (Niyama, 2014, p. 151). Assim, podemos citar como stakeholders os acionistas da empresa, os investidores e credores, o governo, os funcionários e as comunidades que são afetadas pelas ações das organizações. A teoria dos stakeholders é uma teoria baseada nos preceitos da microeconomia clássica, conforme discutimos anteriormente. Essa teoria tem como fundamento o reconhecimento da importância da gestão dos stakeholders, isto é, “os gestores devem tomar decisões que levem em conta todos os círculos que podem afetar o valor da empresa” (Niyama, 2014, p. 152). Estamos falando da gestão dos interesses de agentes econômicos que podem afetar o valor da empresa, ou seja, em especial, investidores e credores da organização. Niyama (2014) retratou a teoria dos stakeholders da seguinte maneira: A teoria dos stakeholders da empresa requer não só uma compreensão dos tipos de influência das partes interessadas, mas também como as empresas respondem a essas influências. As partes interessadas se envolvem com a empresa, porque é do seu interesse fazê-lo, 4 reconhecendo a capacidade de influenciar nas ações da empresa e resguardar a promoção do seu bem-estar. A busca é por uma situação de equilíbrio de poder entre stakeholders e a organização, para que assim a empresa possa ganhar legitimidade aos olhos dos atores relevantes (ou sociedade), de forma que a interação possa realmente ser mútua. Dessa maneira, é importante que as empresas tenham um bom relacionamento com seus stakeholders e isso implica bons resultados financeiros. A literatura contábil aponta que um contexto de harmonia entre empresa e stakeholders acarreta em um maior valor para a empresa, e mesmo que isso não signifique lucro no curto prazo, implica a sobrevivência da organização no longo prazo. Portanto, para manter esse equilíbrio das relações com os stakeholders, é necessário a compreensão de como gerenciar os interesses das partes relacionadas (Niyama, 2014). A teoria dos stakeholders prevê e explica os mecanismos nos quais a gestão adequada desses agentes econômicos acarreta em uma influência positiva no resultado financeiro e na valorização da empresa. A teoria também prevê que o diálogo entre as partes relacionadas gera interesses compartilhados que levarão a maximização do valor da empresa para todos os participantes do processo. Em suma, a teoria dos stakeholders versa sobre a importância da gestão dos agentes econômicos que afetam e são afetados pela organização, uma vez que uma harmonização entre os interesses da empresa e dos stakeholders provoca uma influência positiva no resultado financeiro e na valorização da empresa. TEMA 2 – TEORIA DA LEGITIMIDADE A outra teoria que sustenta os preceitos da divulgação voluntária – tópico a ser discutido nos próximos dois temas dessa aula – é a teoria da legitimidade. Essa teoria assevera que as empresas buscam meios de se legitimar perante a sociedade. Algumas dúvidas importantes para vocês refletirem: o que é legitimidade? Por que a legitimidade é importante? Quais são os meios utilizados pelas empresas para se legitimar? Vamos começar pela apresentação do conceito de legitimidade. Para Niyama (2014, p. 149), “a legitimidade deve ser definida como uma condição ou estado do sistema que se verifica quando o valor de uma entidade é congruente com o valor do sistema social da qual a entidade é uma parte”. Nesse sentido, 5 alunos, a legitimidade pode ser compreendida como um estado ou condição pelo qual a empresa é “aceita” pelo sistema social do qual faz parte (Niyama, 2014). Por exemplo, vamos discutir a legitimidade de uma empresa mineradora X, responsável por um crime ambiental que ocorreu na comunidade em que estava inserida. Após o episódio da tragédia ambiental e social, a empresa passou a ser vista como uma empresa ruim para a comunidade que vive ao entorno da organização. Assim, a sua aceitaçãoou valor do sistema social passou a ser muito pequena e a empresa viu sua legitimidade se tornar ilusória. Um dos pilares fundamentais da legitimidade é a comunicação socioambiental entre empresa e sociedade. “Nessa perspectiva, a sociedade aceita e aprova os posicionamentos tomados pela organização. É importante para a legitimidade que a empresa seja vista como um ente social e ambientalmente responsável” (Niyama, 2014, p. 150). Portanto, a preocupação com a comunicação entre empresa e sociedade, no que tange aos aspectos sociais e ambientais, se configura como uma importante estratégia para conferir legitimidade. E por que a legitimidade é tão importante? As organizações só existem na medida em que a sociedade confere sobre as organizações o estado de legitimidade. Niyama (2014, p. 150) assevera que “as organizações não são consideradas detentoras de qualquer direito inerente aos recursos, ou mesmo de existir”. Dessa maneira, podemos pensar na empresa mineradora, responsável pelo crime ambiental, conforme supracitado, caso a sociedade decida que a empresa não deve existir naquele local ou que os serviços prestados para a sociedade são irrisórios perto dos riscos ambientais, essa empresa deixará de existir. Outro elemento importante para a teoria da legitimidade são os contratos sociais. Neles, estão implícitas ou explícitas a aceitação dos agentes a respeito da forma como as empresas devem atuar e se posicionar na sociedade (Niyama, 2014). Como vimos na teoria contratual da firma, se um contrato for quebrado, pode ameaçar a harmonia existente no sistema empresarial e a própria continuidade da organização. Assim, conforme Niyama (2014, p. 150): Quando um evento negativo ocorre, se tem uma ameaça presente ou potencial à legitimidade da entidade, os gestores devem procurar ferramentas que mudem ou amenizem tais efeitos, tentando assim recuperar a percepção sobre os objetivos da organização. 6 Retomando o caso da empresa mineradora, após o incidente ambiental, provavelmente a empresa tomou decisões e ações que amenizaram o efeito do evento sobre a legitimidade, uma vez que ela foi capaz de se manter operando no mercado. Mas quais são os mecanismos utilizados para assegurar a legitimidade das empresas? São eles: disclosure social e disclosure voluntário. O disclosure social visa atuar como um instrumento de legitimação da empresa perante a sociedade, e apresenta informações de cunho socioambientais e econômico-financeiras. Esse relatório visa apresentar essas informações para um grande número de stakeholders, os quais vão legitimar e aceitar as decisões tomadas pela companhia. Dessa maneira, frequentemente, pode ser visto como um elemento estratégico para a implementação de objetivos pela organização. O disclosure, ou divulgação, voluntário será tópico de discussão dos próximos temas. Contudo, alunos, podemos adiantar que ele também atua como um instrumento de legitimidade para as organizações, como veremos a seguir. Em suma, a teoria da legitimidade versa sobre a aceitação de uma organização em seu sistema social, bem como essas implicações e os mecanismos de gestão da legitimidade. Finalizamos, assim, os dois primeiros tópicos desta aula, que objetivaram discorrer sobre duas teorias que embasam e dão fundamentos para a prática de divulgação voluntária das informações contábeis. TEMA 3 – DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA DAS INFORMAÇÕES CONTÁBEIS Conforme apresentado anteriormente, a divulgação das informações contábeis se configura como um importante mecanismo para gestão dos stakeholders e da legitimidade das organizações. Neste tópico, vamos abordar as definições de divulgação voluntária e suas inter-relações com as teorias microeconômicas, nomeadamente a teoria da agência e a teoria contratual da firma. O primeiro aspecto a ser compreendido é: no que consiste a divulgação voluntária das informações contábeis? Nesse sentido, podemos definir divulgação voluntária como as informações contábeis que não têm obrigatoriedade para serem divulgadas, segundo as normas em vigor no país ou os órgãos reguladores. Contudo, essas informações são divulgadas para os 7 stakeholders no conjunto das demonstrações financeiras. Como exemplo podemos citar o número de funcionários do gênero feminino na diretoria executiva da empresa. Essa informação não possui obrigatoriedade de divulgação, porém, a empresa pode optar por divulgá-la – a decisão, de divulgar ou não essas informações adicionais, será discutida no próximo tema. Retomando o conceito de divulgação voluntária, vamos relembrar a teoria da agência, já discutida. A teoria da agência tem como premissa que as relações entre os diferentes agentes econômicos são conflituosas, motivadas pela assimetria das informações. Nesse contexto, a assimetria de informação entre insiders – agente econômicos que estão dentro da organização e, portanto, têm informações privilegiadas – e outsiders – agentes econômicos que estão de fora das discussões e decisões operacionais da companhia e, por isso, têm menor nível de acesso a informações estratégicas – caracteriza-se como o elemento principal das relações conflituosas de agência (Consoni; Colauto; Lima, 2017). A divulgação voluntária é um mecanismo de diminuição desses conflitos de agência. De acordo com Consoni, Colauto e Lima (2017, p. 251), as pesquisas na área contábil demonstram que: A assimetria informacional reduz a medida que o nível de divulgação voluntária de informações aumenta, isso porque, pode reduzir o componente de seleção adversa do bid-ask spread (o mecanismo de proteção do preço quando os títulos são vendidos ou comprados). Consequentemente, o volume de negociações e a liquidez de mercado das ações aumentam, reduzindo potencialmente o custo de capital. Relacionamos esse trecho dos autores com a apresentação do conceito de assimetria informacional das aulas anteriores. Como vimos, ao diminuir a assimetria de informações, isto é, a diferença no nível de informação a que os diferentes agentes econômicos têm acesso, os agentes econômicos podem tomar decisões de maneira mais racional, visando maximizar a sua utilidade individual e, assim, diminui-se a seleção adversa do mercado (Consoni; Colauto; Lima, 2017). Ao reduzir a seleção adversa os agentes econômicos têm mais informações assertivas sobre os diferentes ativos da organização e podem ofertar melhores condições, elevando a negociação do mercado de capitais, aumentando a liquidez dos papéis e, consequentemente, diminuindo o custo de capital (Consoni; Colauto; Lima, 2017). 8 Por exemplo, podemos pensar em um caso da negociação de um automóvel seminovo. Ambos os agentes econômicos, comprador e vendedor, têm informações completas sobre o estado do ativo (veículo). Esse fato acarreta em possibilidade para uma negociação racional, na qual ambos os agentes ofertam suas melhores condições. Assim, a seleção adversa é diminuída e os veículos são negociados muito próximo de seu valor real de mercado, e não pelo seu valor médio. Esse é um exemplo de diminuição da seleção adversa por meio da divulgação voluntária. Esse mesmo exemplo, se transposto para o mercado de capitais, leva ao entendimento de que a seleção adversa diminui os riscos e, portanto, aumenta o número de negociações de ativos. Esse fato acarreta em um menor custo de capital para as organizações. Portanto, os gestores têm incentivos suficientes para divulgar todas as informações adicionais com o intuito de se distinguirem no mercado e diminuírem os custos de capital. Contudo, isso não acontece. A literatura demonstrou que os gestores tendema divulgar parcialmente as informações voluntárias. Por que não acontece a divulgação voluntária das informações contábeis de maneira completa? Esse questionamento será tratado no próximo tema. TEMA 4 – MOTIVAÇÕES PARA A DIVULGAÇÃO VOLUNTÁRIA DAS INFORMAÇÕES CONTÁBEIS Por que os gestores não divulgam as informações adicionais de maneira completa? Essa discussão tem ocupado a agenda de pesquisa contábil desde os anos 2000 e tem se apresentado como um questionamento complexo. Os pesquisadores apontaram cinco aspectos que tem se mostrado relevante dentro dessa discussão: os gestores não divulgam informações essencialmente verdadeiras, existe o gerenciamento de resultados, existem custos de divulgação, há efeitos da informação sobre o valor da companhia e os efeitos explicados pela teoria dos jogos (Consoni; Colauto; Lima, 2017). De acordo com Consoni, Colauto e Lima (2017), “a ideia de que a divulgação voluntária é eficaz e contribui para a alocação eficiente de recursos no mercado de capitais está vinculada à credibilidade das informações financeiras divulgadas”. Dessa maneira, se a informação divulgada não for essencialmente verdadeira, ela perde relevância para os stakeholders e não adiciona valor aos demonstrativos da empresa. 9 Outro aspecto importante refere-se ao gerenciamento de resultados. Um fator determinante na credibilidade das informações adicionais é o nível de gerenciamento de resultados praticados pela companhia. Empresas que gerenciam muitas informações podem ter um retorno negativo do mercado de capitais, assim como nos casos de informações não essencialmente verdadeiras, no longo prazo. Contudo, outro aspecto que é considerado pelos gestores refere-se ao custo da informação, de maneira geral, se a informação não contém viés, ela tem um custo elevado e, portanto, a divulgação voluntária acaba não acontecendo (Consoni; Colauto; Lima, 2017). Dessa maneira, conforme discutidos nos dois primeiros aspectos que podem motivar a divulgação voluntária, é comum que os gestores apresentem informações não verdadeiras ou gerenciem as informações adicionais, pois os custos de divulgação só compensarão se obtiverem um efeito positivo sobre o valor de mercado da empresa (Consoni; Colauto; Lima, 2017). Assim, como apresentado nos parágrafos anteriores, é salutar compreender que a divulgação de informações gera custos para as organizações. Vale a pena divulgar informação adicional? Qual o custo dessa divulgação? Esses questionamentos são produzidos pelos gestores no processo de decisão da divulgação de informações adicionais. “Os custos de divulgação variam de acordo com a natureza do que for divulgado” (Consoni; Colauto; Lima, 2017). Dessa maneira, o gerenciamento dos stakeholders e da legitimidade – tópicos 1 e 2 desta aula – serão determinantes na decisão da divulgação voluntária completa, uma vez que existem custos envolvidos (Consoni; Colauto; Lima, 2017). Os gestores também avaliam os efeitos da informação adicional sobre o valor de mercado da companhia. Na prática, temos o seguinte resultado: os investidores não sabem com certeza se os gestores estão retendo informações privilegiadas, portanto, não conseguem interpretar se a empresa possui más notícias, que estão sendo retidas. Dessa forma, os investidores não conseguem distinguir entre empresas com más notícias e empresas que não fazem divulgação adicional. Nesse caso, ambas perdem valor de mercado (Consoni; Colauto; Lima, 2017). Assim, podemos afirmar que as empresas podem utilizar o mecanismo de divulgação voluntária para gerenciar os stakeholders e elevar seu valor de mercado. 10 O último ponto a ser mencionado refere-se à teoria dos jogos. Consoni, Colauto e Lima (2017, p. 252) afirmam que “para interpretar corretamente a ação do gestor, é necessário identificar os incentivos que este tem para divulgar boas e más notícias e o conjunto de informações que poderia ter divulgado, porém escolheu não o fazer”. Por essa razão a divulgação voluntária é um caso especial da teoria dos jogos: não se sabe quais os incentivos para a divulgação de determinadas informações; para compreendê-los, é necessário avaliar todo o conjunto de informações disponíveis para divulgação e qual foi a escolha feita pelo executivo (Consoni; Colauto; Lima, 2017). Por exemplo, uma boa notícia geralmente é divulgada com o objetivo de aumentar o valor de mercado da organização em momentos de negociação de seus papéis ou de captação de recursos. Contudo, más notícias podem ser divulgadas com o intuito de reduzir o valor do lucro ou resultados operacionais futuros em momentos de negociação com sindicato, no qual a empresa deseja apresentar dificuldades operacionais e econômico-financeiras (Consoni; Colauto; Lima, 2017). Em suma, as motivações que influenciam na decisão dos gestores de divulgarem as informações adicionais nos demonstrativos financeiros são essas: os gestores não divulgam informações essencialmente verdadeiras; existe o gerenciamento de resultados; existem custos de divulgação; há efeitos da informação sobre o valor da companhia e os efeitos explicados pela teoria dos jogos. Vimos, também, que a propensão maior é que os gestores selecionem as informações adicionais que vão divulgar, em razão dos cinco aspectos supracitados. Portanto, podemos afirmar que o full disclosure (divulgação completa) não acontece nas empresas estudadas pelos pesquisadores. TEMA 5 – TENDÊNCIAS DA PESQUISA CONTÁBIL NO BRASIL Adentramos, agora, um tema muito importante para os pesquisadores e futuros pesquisadores da academia contábil brasileira: as tendências da pesquisa contábil no Brasil. Neste tópico, apresentaremos sete temas de pesquisa que tem despontado como fundamentais para o desenvolvimento científico da contabilidade: intangíveis criados internamente, capital intelectual, pesquisas históricas, contabilidade gerencial e teoria da contabilidade, adequações das IFRSs, relato integrado e filosofia da contabilidade (Iudicibus; Lopes, 2004; Iudicibus, 2012). 11 Intangíveis criados internamente (goodwill): O goodwill é um elemento patrimonial que ainda não tem mecanismos para reconhecimento e mensuração. Iudicibus (2012) aponta como um elemento que deve ser estudado pela contabilidade normativa. A indicação de um “modo de fazer ideal”, ou seja, um modelo de reconhecimento e mensuração, é fundamental para que esse item passe a ser incorporado aos demonstrativos contábeis. Capital intelectual: Assim como o goodwiil, o capital intelectual é um item que ainda não é reconhecido e mensurado no balanço patrimonial. Isso acontece, em grande parte, em virtude de a contabilidade não ter desenvolvido uma metodologia adequada para esses intangíveis. Por serem itens gerados internamente, a empresa pode utilizar como meios para gerenciamento de resultados contábeis, podendo afetar gravemente o valor dos ativos das companhias. Portanto, um estudo aprofundado deve ser realizado pela corrente normativa, a fim de encontrar métodos seguros e confiáveis de reconhecer e mensurar esses ativos. Pesquisas históricas: As pesquisas históricas têm surgido com força na área de contabilidade em âmbito internacional. Portanto, desponta, também, como um tópico a ser tratado pela academia brasileira. As ciências contábeis são uma ciência social e, portanto, sua própria existência está atrelada a existência da humanidade. Se não existirem sociedades, a contabilidade também deixa de existir. Dessa maneira, para compreender a evolução dessa ciência e os caminhos percorridos, faz-se indispensável o aprofundamento em pesquisashistóricas. Contabilidade gerencial e a teoria da contabilidade: A contabilidade gerencial tem sido pouco discutida dentro do espectro da teoria da contabilidade e negligenciada durante anos. Os tópicos abordados pela teoria da contabilidade, tanto pela corrente normativa quanto pela corrente positiva, são exclusivamente preocupados com os usuários externos e, em especial, o enfoque recai sobre o mercado financeiro e de capitais. Iudicibus (2012) coloca a inserção da contabilidade gerencial dentro da teoria geral da contabilidade como uma tendência de pesquisa que contribuirá para o desenvolvimento do corpo teórico desta. Adequações das IFRSs: Um outro aspecto apontado por Iudicibus (2012) é a adequação das normas brasileiras de contabilidade às normas 12 internacionais. Esse tópico de pesquisa vem sendo estudado nos últimos anos e já se constitui como um dos principais tópicos da agenda de pesquisa da área. Alguns questionamentos giram em torno de: a forma adotada de internacionalização foi a melhor? Os benefícios da adequação às normas internacionais compensam os custos? Qual a relação entre as IFRSs e o custo de capital? Relato integrado: O relato integrado constitui um conceito moderno dentro da contabilidade financeira que visa aprimorar e aumentar a qualidade da informação contábil-econômico-financeira. Esse relatório tem como intuito implementar um pensamento integrado como estratégia de negócio. Nesse modelo, a comunicação corporativa se torna conectada em cinco aspectos: materialidade, geração de valor, capitais, modelo de negócio e conectividade, e promove, assim, melhorias no valor de mercado da empresa e em seu custo de capital. Filosofia da contabilidade: O tema filosofia da contabilidade se configura como um aspecto fundamental para o desenvolvimento científico. Estudos que se preocupam com esse tópico devem direcionar esforços para a compreensão dos fundamentos da ciência contábil e das ontologias e epistemologias que guiam a nossa ciência. Abrir a mente para esse tipo de estudo significa evoluir para patamares superiores no campo científico. Só dessa maneira seremos capazes de desenvolver modelos epistemológicos próprios e nos abrimos para outras correntes epistemológicas, por exemplo, vertentes críticas e interpretativas. Assim, encerramos mais uma aula, apresentando perspectivas futuras de pesquisas para guiarem o desenvolvimento do corpo teórico da contabilidade e, assim, contribuírem para o direcionamento da agenda de pesquisa dos cientistas da área. TROCANDO IDEIAS Estamos caminhando para o final desta aula! Vamos trocar ideias com os colegas sobre os principais aspectos? Para consolidar os conhecimentos adquiridos nesta aula, vamos realizar uma atividade de fórum. Você deverá articular os conceitos aprendidos nesta aula sobre o que é divulgação voluntária e as motivações para praticar a 13 divulgação voluntária das informações contábeis. Para tanto, reflita sobre a utilização dos conceitos da teoria dos jogos como explicação para as motivações dos gestores divulgarem más notícias. Descreva pelo menos dois casos em que os gestores podem divulgar más notícias e o intuito dessa divulgação. Essa atividade auxiliará na fixação dos conteúdos estudados. NA PRÁTICA Chegamos na última tarefa desta aula. Esta atividade tem cunho prático, para que vocês possam desenvolver habilidades. O tema de discussão da atividade prática é divulgação voluntária, o qual discutimos de forma explícita nos temas 3 e 4 desta aula, mas que está embasada na teoria dos stakeholders, tema 1 e na teoria da legitimidade no tema 2. Reúna os conhecimentos adquiridos durante esse curso e vamos fazer um exercício de abstração. A empresa mineradora está no período de fechamento das demonstrações contábeis. Esta empresa passou por um episódio de desastre ambiental no ano anterior. Após esse episódio, a legitimidade da empresa ficou abalada, pois a sociedade começou a ver a empresa como uma ameaça ao meio ambiente. Para tratar esse problema, no período atual, a empresa se comprometeu a tomar diversas ações de controle ambiental com o intuito de diminuir os riscos associados. Os gestores da empresa não conseguiram cumprir uma parte do contrato social de controle ambiental, 15% das barragens de rejeitos não foram tratadas de maneira adequada, conforme previa o contrato social. Contudo, os gestores decidiram informar aos stakeholders que todas as ações relacionadas ao projeto ambiental foram implementadas com sucesso. O intuito do corpo executivo era aumentar o preço das ações da companhia, visto que a empresa precisará captar investimentos no mercado no próximo período para ampliar sua fatia no mercado internacional. Questionamento: a divulgação das informações ambientais vai gerar um impacto positivou ou negativo no preço das ações da empresa? Justifique sua resposta com base nos conceitos aprendidos nesta aula. Resolução: se pensarmos isoladamente, considerando apenas esse fator ambiental, a resposta é sim. Isso porque, ao informar ao mercado de capitais que todas as ações acordadas com a sociedade foram cumpridas, a legitimidade da organização será recuperada. 14 Nesse aspecto, o aluno estará utilizando os conceitos da teoria da legitimidade, que afirma que esta é alcançada quando a empresa é aceita pelo sistema social do qual faz parte. Portanto, ao informar a sociedade que a empresa está cumprindo o seu contrato social, a legitimidade é recuperada. O outro aspecto refere-se à teoria dos stakeholders. A empresa optou por mentir aos stakeholders sobre o cumprimento do contrato social. Esse fato é explicado por essa teoria, visto que os stakeholders são agentes econômicos que podem afetar o valor da empresa. Assim, ao mentir, a empresa está ocultando uma informação e divulgando um resultado positivo, com o objetivo de aumentar seu valor de mercado. O outro lado da moeda, tratado por essa teoria, é que esses agentes também sofrem influência da organização, que, nesse caso, é o possível dano ambiental, uma vez que a organização optou pelo elevado risco ambiental. FINALIZANDO Esta aula contribui para a sedimentação dos conhecimentos que estamos adquirindo, por isso, inserimos as teorias do stakeholder e da legitimidade com o intuito de embasar as discussões sobre divulgação voluntária. Portanto, nos dois primeiros temas desta aula, foram apresentados os principais conceitos das teorias do stakeholder e da legitimidade. A primeira tratou da importância da gestão dos stakeholders para conquistar e manter a legitimidade das organizações. A segunda explicou o que é legitimidade e a importância da harmonia da empresa com o sistema social na qual está inserida. O terceiro e quarto tema da aula abordaram a divulgação voluntária. No terceiro tópico versamos sobre os fundamentos da divulgação voluntária e o que ela representa para o mercado financeiro e de capitais. No quarto tema discorremos sobre as motivações que levam os gestores a divulgarem as informações adicionais. Por fim, a aula apresentou as tendências de pesquisa na área de contabilidade e que devem figurar como itens da agenda de pesquisa dos próximos anos. 15 REFERÊNCIAS CONSONI, S.; COLAUTO, R. D.; LIMA, G. A. S. F. A divulgação voluntária e o gerenciamento de resultados contábeis: evidências no mercado de capitais brasileiro. Revista Contabilidade & Finanças, v. 28, n. 74, p. 249-263, 2017. IUDICIBUS, S.; LOPES, A. B. Teoria avançada da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2004. IUDICIBUS, S. Teoria da contabilidade: evoluçãoe tendências. Revista de Contabilidade do Mestrado em Ciências Contábeis da UFRJ, v. 17, n. 2, p. 5-13, 2012. NIYAMA, J. K. Teoria avançada da contabilidade. São Paulo: Atlas, 2014.
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