Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Capítulo 1: Termometria prof. José Luiz Fernandes Foureaux 1 Termometria Prof. José Luiz Fernandes Foureaux (Versão para impressão) Apresentação Termometria é a parte da Física que trata da medição daquilo a que chamamos Temperatura. Saber medir e poder controlar a temperatura de um corpo ou sistema é de fundamental importância na Física, na Medicina, na Química, na Geologia, na Mecânica, na Eletricidade/Eletrônica, na Metalurgia, na Automação e Controle, na Construção Civil, na Meteorologia, na Astronomia e em diversas outras áreas da atividade humana. Neste capítulo são abordados os fundamentos da Termometria. Diversas outras fontes de informação que detalham aspectos particulares são indicadas ao longo do texto. Objetivos específicos Ao terminar o estudo deste capítulo você deverá ser capaz de: 1. Conceituar temperatura do ponto de vista sensorial 2. Explicar porque o conceito sensorial de temperatura não é adequado para aplicações científicas. 3. Definir propriedade termométrica 4. Explicar o que se entende por termoscópio 5. Definir equilíbrio térmico 6. Enunciar a lei número zero da Termodinâmica 7. Definir: o Ponto fixo o Ponto do gelo o Ponto do vapor o Escala termométrica 8. Descrever as escalas o Celsius o Fahrenheit o Kelvin 9. Deduzir a expressão que permite transformar a leitura de uma escala termométrica para outra. 10. Resolver problemas de transformação de escalas 11. Conceituar termômetro 12. Enumerar as características desejáveis de um termômetro. 13. Descrever diferentes tipos de termômetros 14. Definir Pirometria 15. Definir Criometria 16. Citar aplicações da Criogenia Pré-requisitos Antes de iniciar o estudo deste capítulo você já deverá ser capaz de lidar com os seguintes assuntos: 1. Equações de 1º grau 2. Equações de 2º grau 3. Razões e proporções Capítulo 1: Termometria prof. José Luiz Fernandes Foureaux 2 Para rever conteúdos relacionados com os pré-requisitos apontados na página anterior você pode consultar: http://www.somatematica.com.br/efund.php http://pessoal.sercomtel.com.br/matematica/fundam/fundam.htm Conceito de temperatura Existem diversas definições para TEMPERATURA. Por exemplo: Definição 1: Grandeza física que mensura a energia cinética média de cada grau de liberdade de cada uma das partículas de um sistema em equilíbrio térmico. Definição 2: Derivada parcial da energia interna em relação à entropia: 𝑇 = 𝜕𝑈 𝜕𝑆 A essa altura, em nosso estudo, as definições acima fazem muito pouco sentido. Vamos partir de um outro enfoque. Conceito sensorial: Temperatura é a causa das sensações de FRIO e QUENTE. Para obter mais informações a respeito você pode consultar: http://sentidos5espsmm.blogspot.com.br/2008/01/sensaes-cutneas.html http://es.wikipedia.org/wiki/Sensaci%C3%B3n_t%C3%A9rmica http://es.wikipedia.org/wiki/Corp%C3%BAsculos_de_Ruffini O conceito de temperatura baseado em sensações táteis, embora satisfatório para nossas aplicações quotidianas, é inadequado para fins científicos porque é: • Subjetivo: Depende da opinião de pessoas. • Limitado: Temperaturas muito altas (>>50ºC) ou muito baixas (<<0ºC) provocam é sensação de dor, e não de frio ou quente! ( Curiosidade: A menor temperatura já medida pelos físicos foi de 700 nanoKelvins, e a maior 4 trilhões de graus Celsius – conf. http://pt.wikipedia.org/wiki/Temperatura ) • Impreciso: Mesmo percebendo que um corpo está mais “quente” que outro, não sabemos dizer quanto. • Depende da situação anterior do observador. O experimento de Tyndall, clássico na Física, mostra bem isso. • Depende da condutividade térmica do material tocado. Ex: Se tocamos na madeira (mau condutor de calor) de uma porta, e no metal (bom condutor de calor) da maçaneta da mesma porta, a maçaneta nos parece mais fria (tira calor de nosso corpo mais rápido do que o corpo consegue repor), embora as 2 temperaturas sejam idênticas. O que fazer para não depender das sensações de frio e quente? Descobriu-se que os corpos possuem propriedades que variam quando a temperatura varia. São as chamadas PROPRIEDADES TERMOMÉTRICAS. Por exemplo: • Pressão de um gás mantido a volume constante; • Volume de um gás mantido a pressão constante; • Resistência elétrica de condutores. • Cor de certos corpos. • Dimensões geométricas dos corpos A observação da variação de propriedades como essas (existem outras além das que foram citadas) nos permite avaliar temperaturas sem recorrermos a sensações. Capítulo 1: Termometria prof. José Luiz Fernandes Foureaux 3 Tomando como base uma propriedade termométrica podemos construir dispositivos capazes de mostrar variações de temperatura. Esses dispositivos são chamados termoscópios, e o primeiro deles foi construído por Galileu Galilei em 1592 (há questionamentos com relação à isso. Veja http://en.wikipedia.org/wiki/Galileo_thermometer .) Para conhecer o termoscópio de Galilei e vê-lo em funcionamento acesse http://catalogue.museogalileo.it/multimedia/Thermoscope.html Equilíbrio térmico Qualquer termoscópio, quando colocado em contato com corpos a temperaturas diferentes, dá indicações diferentes. Se, antes de colocarmos o termoscópio em contato com cada um dos corpos, colocarmos os dois corpos em contato, depois de algum tempo o termoscópio dará a mesma indicação quando colocado em contato com qualquer um dos corpos, o que mostra que as temperaturas se igualaram. Esse estado, caracterizado pela igualdade de temperatura, para o qual tendem dois ou mais corpos colocados em contato, é chamado EQUILÍBRIO TÉRMICO. Observação: É possível definir temperatura como sendo a propriedade em comum de dois ou mais corpos em equilíbrio térmico. Lei zero da Termodinâmica Se um corpo A está em equilíbrio térmico com um corpo B, e um terceiro corpo C também está em equilíbrio térmico com o corpo B, então A e C também estão em equilíbrio térmico entre si. É com base nesta lei que utilizamos um termômetro (que seria o corpo B) para comparar temperaturas de corpos que não possam ser colocados em contato Nota: É importante ressaltar que a lei zero não é tão óbvia quanto parece. Por exemplo: Um prego A atrai um imã B, e um prego C também atrai o imã B, mas isso não acarreta que o prego A atraia o prego C Escalas termométricas Pontos fixos Existem fenômenos físicos (por exemplo, fusão do gelo, ebulição da água) que só ocorrem em temperaturas muito bem definidas, que permanecem constantes enquanto esses fenômenos ocorrem. Essas temperaturas são chamadas pontos fixos. Sabemos que a temperatura em que esses fenômenos ocorrem é sempre a mesma porque qualquer propriedade termométrica sempre atinge o mesmo valor quando em presença do referido fenômeno. Vídeo que mostra que a temperatura fica constante durante a fusão do gelo: https://www.youtube.com/watch?v=AJyKBu2QlCU Escala termométrica Utilizando os pontos fixos como elementos de referência podemos construir o que se conhece como escala termométrica, que não passa de uma sucessão de números que são associados aos diferentes estados térmicos de um corpo. Falando de uma forma simplificada, as escalas termométricas são construídas atribuindo-se valores arbitrários à propriedade termométrica utilizada quando o Capítulo 1: Termometria prof. José Luiz Fernandes Foureaux 4 termoscópio é colocado em contato com gelo fundente e com o vapor desprendido pela água em ebulição. O intervalo entre esses dois valores é subdividido num certo número de partes iguais. O que diferencia uma escala termométrica de outra são os valores que cada uma delas atribui aos pontos fixos. Escalas termométricas usuais Nome Valorque atribui ao ponto do gelo Valor que atribui ao ponto do vapor Valor que atribui ao zero absoluto Kelvin 273,15 373,15 0 Celsius 0 100 -273,15 Fahrenheit 32 212 -459,67 Rankine 491,67 672 0 Transformação de escalas Quando se conhece o valor atribuído a uma dada temperatura por uma certa escala, e se deseja determinar qual o valor que uma outra escala atribui à mesma temperatura, deve-se fazer uma transformação de escalas. Trata-se de um simples problema de proporção. E o importante é saber fazer a dedução. Não interessa simplesmente decorar a equação de conversão. Veja abaixo, como exemplo, a transformação de leitura Celsius para Fahrenheit 9 32 5 180 32 100 32212 32 0100 0 FC FC FC tt tt tt Termômetro É um termoscópio ao qual foi associada uma escala termométrica. A ideia é atribuída a Santoro Santorio (1611), colega de Galileu Galilei, mas o termômetro propriamente dito foi inventado por Ole Christizen Roemer em 1701 e melhorado por Fahrenheit em 1708. (Há quem considere que o termômetro seja o resultado de uma ideia que vem evoluindo ao longo do tempo – não existiria propriamente um inventor.) Um termômetro torna possível associar um valor numérico a cada estado térmico do corpo. A partir daqui podemos definir temperatura como sendo o valor numérico que se atribui a cada um dos estados térmicos (quente ou frio) de um corpo. Você pode ler mais sobre termômetros em http://es.wikipedia.org/wiki/Termómetro Para aprender como se calibra um termômetro você pode assistir https://www.youtube.com/watch?v=iFiSaJ4qGZ0 C 100 0 Tc 212 32 Tf F Capítulo 1: Termometria prof. José Luiz Fernandes Foureaux 5 Características desejáveis num termômetro • Sensibilidade: A propriedade termométrica deve apresentar variação notável para variações pequenas de temperatura; • Fidelidade: A propriedade termométrica deve retomar o mesmo valor nas mesmas condições; • Massa pequena: Para não alterar a temperatura que se quer medir. Por que o mercúrio sempre foi muito usado em termômetros • Sendo opaco, facilita a visibilidade; • Obtido quimicamente puro, preserva as características do aparelho; • Bom condutor de calor, entra em equilíbrio térmico rapidamente; • Calor específico pequeno, não altera significativamente a temperatura que se quer medir; • Permanece líquido entre -40º e +360º, intervalo no qual se encontram a maioria das temperaturas que interessa. Sendo substância altamente tóxica, o mercúrio vem sendo abandonado (já foi proibido na Europa) Para saber mais sobre essa proibição: http://www.onu.org.br/convencao-que-restringe-uso-de-mercurio-e-assinada-por-92- paises-em-conferencia-no-japao/ De acordo com o Greenpeace, são esses os efeitos dos metais pesados no organismo humano: Chumbo: Prejudicial ao cérebro e ao sistema nervoso central. Afeta o sangue, os rins e o sistema digestivo e reprodutor. Eleva a pressão arterial. É agente teratogênico, isto é, acarreta mutação genética. Cádmio: É comprovadamente um agente cancerígeno, teratogênico, e pode causar danos ao sistema reprodutivo. Mercúrio: Intoxicação aguda: Tem efeitos corrosivos violentos na pele e nas membranas das mucosas. Causa náuseas, vômito, dor abdominal, diarreia com sangue, danos nos rins e morte num período aproximado de 10 dias. Intoxicação crônica: Sintomas neurológicos, tremores, vertigens, irritabilidade e depressão, associados a salivação, estomatite, diarreia, descoordenação motora progressiva, perda de visão e audição e deterioração mental. Cromo: Dermatites, úlceras cutâneas, inflamação nasal, câncer de pulmão e perfuração do septo nasal. Zinco: Sensações como paladar adocicado e secura na garganta, tosse, fraqueza, dor generalizada, arrepios, febre, náusea e vômitos. Capítulo 1: Termometria prof. José Luiz Fernandes Foureaux 6 Tipos de termômetro Existem inúmeros tipos de termômetros, dependendo da aplicação, do princípio de funcionamento, dos materiais e das propriedades termométricas utilizadas. Apenas a título de informação citamos: Termômetro Características básicas de líquido Consiste num recipiente (bulbo) que contém um líquido e é ligado a um tubo capilar. Quando a temperatura do bulbo varia o líquido sobe pelo tubo (dilatação) no qual se grava a escala. de gás Quando a temperatura do gás contido num recipiente varia o aumento de pressão desloca ou a posição de um índice ou a coluna de um manômetro, o que possibilita a medição da temperatura. É o termômetro padrão. Termopar Baseia-se no efeito termoelétrico ou efeito Seebeck. Quando a temperatura da junção de 2 metais diferentes (termopar) varia é gerada uma força eletromotriz que, medida, possibilita avaliar a temperatura. http://en.wikipedia.org/wiki/Thermocouple de termistor O termistor é um componente cuja resistência elétrica varia (NTC quando diminui e PTC quando aumenta) significativamente com a temperatura. A variação de corrente daí resultante é usada para medir a temperatura. http://en.wikipedia.org/wiki/Thermistor de resistência Baseia-se na variação da resistência de um condutor com a temperatura. http://en.wikipedia.org/wiki/Resistance_thermometer de infravermelho Dispõe de um sensor que converte a radiação infravermelha (emitida pelo corpo para o qual o termômetro foi apontado) em sinais elétricos que são medidos. http://en.wikipedia.org/wiki/Infrared_thermometer http://en.wikipedia.org/wiki/Thermographic_camera de máxima e mínima Indicam a maior e a menor temperaturas ocorridas num certo intervalo de tempo. Utilizados geralmente em Meteorologia. Clínico Medem a temperatura corporal. Os de líquido têm um estreitamento no capilar que cortam a coluna de líquido, dando tempo de se efetuar a leitura. Por isso precisam ser sacudidos antes de cada utilização. Diferencial Permitem medir simultaneamente a temperatura em dois locais/posições diferentes, e a diferença de temperatura entre eles. de cristal líquido Constituído por cristal líquido sensível à temperatura colocado entre 2 folhas de plástico. Com a mudança de temperatura ou a cor ou a transparência do cristal muda, indicando a temperatura. http://en.wikipedia.org/wiki/Liquid_crystal_thermometer http://www.brasilescola.com/fisica/os-cristais-liquidos.htm de lâmina bimetálica Uma espiral bimetálica enrola ou desenrola com a variação de temperatura, deslocando um ponteiro. de globo Uma esfera pintada de preto envolve o bulbo de um termômetro e permite medir a temperatura da radiação térmica num ambiente. Capítulo 1: Termometria prof. José Luiz Fernandes Foureaux 7 Termógrafo Termômetro que registra automaticamente as temperaturas verificadas num dado intervalo (geralmente 1 semana). Usados por meteorologistas. Cone pirométrico Pequenas pirâmides triangulares feitas de uma mistura de pasta de argila e fundentes que amolecem e se dobram em temperaturas bem determinadas. Utilizados por ceramistas. http://en.wikipedia.org/wiki/Pyrometric_cone Medição de altas temperaturas A parte da Termometria que trata da medição de temperaturas muito altas é chamada Pirometria. Um vídeo interessante, que mostra a medição direta da temperatura do ferro fundido pode ser visto em http://www.italterm.com/item.php?prod=8 Medição de baixas temperaturas A medição de temperaturas muito baixas é chamada Criometria. E a Física das baixas temperaturas recebe o nome de Criogenia. Muitos fenômenos “estranhos” (superfluidez, supercondutividade) ocorremnessas temperaturas extremas. Um vídeo que mostra efeitos curiosos produzidos pela supercondutividade é https://www.youtube.com/watch?v=p3drZELYZYE Exercícios 1. Deduza a expressão que permite transformar temperatura kelvin em temperatura Celsius. 2. Transforme 20ºF em ºC 3. Em que temperatura um termômetro célsius e um termômetro fahrenheit dão a mesma leitura? 4. Dois termômetros, um célsius e um fahrenheit, são introduzidos num recipiente que contém certo líquido. Se a diferença entre as leituras dos 2 termômetros é 5º, qual é a temperatura? 5. Uma escala termométrica X foi construída atribuindo-se o valor 20 ao ponto do gelo e o valor 50 ao ponto do vapor. a. Deduza a expressão que permite transformar ºX em ºC. b. Transforme 50ºC em ºX.
Compartilhar