Buscar

Palestra David Harvey sobre o direito à cidade

Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original

Editoriais 
 Notícias 
 Editoriais 
 Antigos Arquivo 
 de notícias Calendário 
 Local e Global português | español 
english | esperanto 
 
	Outras mídias 
	
	  
	 
	  
	
	Publique!
Publique 
 o seu vídeo, áudio, imagens e textos diretamente do seu navegador. 
 
	Notícias
Cobertura 
 imediata dos acontecimentos ligados aos novos movimentos. 
	Política 
 Editorial
Saiba sobre a política de publicação do CMI. 
	Seja 
 um voluntário
Participe desse projeto de democratização da 
 mídia. 
	Contato
Mande 
 sua mensagem para nós. 
	Ajuda
Como 
 publicar as suas notícias em diferentes formatos. 
	Sobre 
 o CMI
Conheça os princípios do Centro de Mídia Independente. 
 
	Bate-papo 
 do CMI
Acesse a nossa sala de bate-papo. "Saiba como". 
	Apoie 
 o Indymedia
Conheça os outros projetos do CMI e contribua com 
 a mídia independente. 
	Artigos 
 Escondidos
Matérias repetidas, sem conteúdo ou que violam a 
 Política Editorial. 
	Rede CMI Brasil 
	
	Página estática dos coletivos. 
 
	
Brasília
Campinas
Caxias 
 do Sul
Curitiba
Florianópolis
Fortaleza
Goiânia
Joinville
Porto 
 Alegre
Rio de 
 Janeiro
Salvador
São 
 Paulo
	 
	Receba o boletim do cmi 
	
	
 Seu e-mail
 
 
	Busca 
	
	
 Encontre
Palavras
todas
qualquer uma
 com 
 imagens
 com áudio
 com vídeo
 
 
	CMIs 
	
	
http://www.indymedia.org/
Projetos 
 da Rede Global
impresso
rádio
tv (newsreal)
vídeo
Tópicos
biotecnologia
África
áfrica do sul
ambazônia
estreito de 
 gibraltar
ilhas 
 canárias
nigéria
quênia
América 
 Latina
argentina
bolívia
brasil
chiapas (mex)
chile
chile, sul
colômbia
equador
méxico
peru
porto rico
qollasuyu (bol)
rosário (arg)
santiago (chi)
tijuana (mex)
uruguai
valparaíso 
 (chi)
América do Norte
canadá
< 
 londres,>
hamilton
maritimes
montreal
ontário
ottawa
quebec
thunder bay
vancouver
victoria
windsor
winnipeg
estados unidos
arizona
arkansas
atlanta
austin
baía de são francisco
baía de tampa
baltimore
binghamton
boston
búfalo
carolina do norte
charlottesville
chicago
cleveland
colorado
columbo
danbury, ct
estados unidos
filadélfia
hampton roads, va
havaí
houston
hudson mohawk
idaho
illinois, sul
ítaca
kansas city
los angeles
madison
maine
massachusetts, oeste
miami
michigan
milwaukee
mineápolis/st. 
 paul
nova 
 hampshire
nova 
 iorque
nova 
 jérsei
nova 
 orleans
novo 
 méxico
oklahoma
omaha
pittsburgh
portland
richmond
rochester
rogue valley
saint louis
san diego
santa bárbara
santa cruz, ca
são francisco
seattle
tallahassee
tennessee
texas, norte
urbana-champaign
utah
vermont
washington, dc
worcester
Ásia
burma
índia
jacarta (ins)
japão
manila (fil)
mumbai (ind)
quezon (fil)
Europa
alemanha
alicante (esp)
andorra
antuérpia (bel)
armênia
atenas (gre)
áustria
barcelona (esp)
bélgica
belgrado (scg)
bielorrússia
bristol (ing)
bulgária
chipre
croácia
escócia
estreito de 
 gibraltar
euskal 
 herria/país basco
flandres ocidental (bel)
flandres oriental (bel)
galiza
grenoble (fra)
holanda
hungria
irlanda
istambul (tur)
itália
la plana (esp)
liege (bel)
lille (fra)
madri (esp)
malta
marselha (fra)
nantes (fra)
nice (fra)
noruega
paris/ilha-de-frança 
 (fra)
polônia
portugal
reino unido
romênia
rússia
suécia
suíça
tessalônica 
 (gre)
toulouse 
 (fra)
ucrânia
valência
Oceania
adelaide (aus)
aotearoa/nova zelândia
brisbane (aus)
burma
darwin (aus)
jacarta (ins)
manila (fil)
melbourne (aus)
oceania
perth (aus)
quezon (fil)
sydney 
 (aus)
Oriente Médio
armênia
beirute (lin)
israel
palestina
Processo
discussão
faq da 
 indymedia
fbi/situação legal
listas de discussão
processo & docs
técnico
voluntários
	 
	 
 	
 Leia a palestra de David Harvey sobre o 
 direito à cidade
Por FÓRUM SOCIAL 
 MUNDIAL 2009 13/02/2009 às 16:15 
 
 
 
 No dia 29 de janeiro o geógrafo David Harvey fez a palestra inaugural 
 do seminário "Lutas pela reforma urbana: o direito à cidade como 
 alternativa ao neoliberalismo", organizado pelo Fórum Nacional de 
 Reforma Urbana. Leia abaixo a transcrição de sua palestra, na íntegra. 
 A tradução foi feita por Fernando Alves Gomes.
 Para Harvey, "o direito à cidade significa o direito de todos nós 
 criarmos cidades que satisfaçam as necessidades humanas, as nossas 
 necessidades. O direito à cidade não é o direito de ter as migalhas que 
 caem da mesa dos ricos. Todos devemos ter os mesmos direitos de construir 
 os diferentes tipos de cidades que nós queremos que existam". O geógrafo 
 já havia defendido esta idéia no texto "A liberdade da cidade", que abriu 
 o terceiro número da revista Urbânia, 
 lançada em 2008 pela Editora Pressa.
 palestra:
 Para mim, é um imenso prazer estar aqui, mas em primeiro lugar eu 
 gostaria de me desculpar por falar em inglês, que é a língua do 
 imperialismo internacional. Eu espero que o que eu vá dizer seja 
 suficientemente antiimperialista para que vocês me perdoem por isso. 
 continue 
 a leitura aqui
 
 
 
 
 Eu estou muito grato pelo convite que me fizeram, porque eu aprendo 
 muito com os movimentos sociais. Eu vim aqui para aprender e para ouvir, 
 e, portanto, eu já considero esta uma grande experiência educacional, 
 pois, como disse Karl Marx certa vez, sempre há a grande questão acerca de 
 quem vai educar os educadores.
 Eu tenho trabalhado já há algum tempo com a idéia de um direito à 
 cidade. Eu entendo que o direito à cidade significa o direito de todos nós 
 a criarmos cidades que satisfaçam as necessidades humanas, as nossas 
 necessidades. O direito à cidade não é o direito de ter - e eu vou usar 
 uma expressão do inglês - as migalhas que caem da mesa dos ricos. 
 Todos devemos ter os mesmos direitos de construir os diferentes 
 tipos de cidades que nós queremos que existam.
 O direito à cidade não é simplesmente o direito ao que já existe na 
 cidade, mas o direito de transformar a cidade em algo radicalmente 
 diferente. Quando eu olho para a história, vejo que as cidades 
 foram regidas pelo capital, mais que pelas pessoas. Assim, nessa luta pelo 
 direito à cidade haverá também uma luta contra o capital.
 Eu quero agora falar um pouco sobre a história da relação entre o 
 capital e a construção de cidades, fazendo uma pergunta: Por que o capital 
 consegue exercer tantos direitos sobre a cidade? E por que as forças 
 populares são relativamente fracas contra aquele poder? Eu também gostaria 
 de falar sobre como, na verdade, a forma com que o capital opera nas 
 cidades é uma de suas fraquezas. Assim, eu acredito que, dessa vez, 
 a luta pelo direito à cidade está no centro da luta contra o 
 capital. Nós estamos vivendo agora, como todos sabem, uma crise 
 financeira do capitalismo. Se nós olharmos para a história recente, nós 
 descobriremos que ao longo dos últimos 30 anos houve muitas crises 
 financeiras. Alguém fez os cálculos e disse que desde 1970 houve 378 
 crises financeiras no mundo. Entre
1945 e 1970 houve apenas 56 crises 
 financeiras. Portanto, o capital tem produzido muitas crises financeiras 
 nos últimos 30 ou 40 anos. E o que é interessante é que muitas dessas 
 crises financeiras têm origem na urbanização. No fim da década de 1980, a 
 economia japonesa quebrou, e quebrou por conta da especulação da 
 propriedade e da terra. Em 1987, nos Estados Unidos, houve uma enorme 
 crise, na qual centenas de bancos foram à falência, e tudo se deveu à 
 especulação sobre a habitação e o desenvolvimento de propriedade 
 imobiliária. Nos anos de 1970 houve uma grande crise mundial nos mercados 
 imobiliários. E eu poderia continuar indefinidamente, dando-lhes exemplos 
 de crises financeiras com origens urbanas. Meu cálculo é que metade das 
 crises financeiras dos últimos 30 anos teve origem na propriedade urbana. 
 As origens dessa crise nos Estados Unidos estão em algo chamado crise das 
 hipotecas sub prime. Mas eu chamo esta crise não de crise das hipotecas 
 sub prime, e sim de crise urbana.
 O que aconteceu foi que nos anos de 1990 surgiu o problema 
 de um excedente de dinheiro sem destinação - o capitalismo é um sistema 
 que sempre produz excedentes. Nós podemos pensar a coisa da seguinte 
 forma: o capitalismo acorda certa manhã e vai ao mercado com certa 
 quantidade de dinheiro e compra trabalho e meios de produção. Ele põe 
 estes elementos para trabalhar e produz certo bem, para vendê-lo por mais 
 dinheiro do que ele tinha no começo. Assim, no fim do dia o capitalista 
 tem mais dinheiro do que ele tinha no começo do dia. E a grande pergunta 
 é: o que é que ele faz com aquele extra que conseguiu? Bem, se ele fosse 
 como você e eu, ele provavelmente sairia e se divertiria gastando o 
 dinheiro. Mas o capitalismo não é assim. Há forças competitivas 
 que o impelem a reinvestir parte de seu capital em novos desenvolvimentos. 
 Na história do capitalismo, tem havido uma taxa de crescimento de 3% desde 
 1750. Uma taxa de crescimento de 3% significa que é preciso encontrar 
 saídas para o capital. Desse modo, o capitalismo sempre se confronta com 
 aquilo que eu chamo de problema da absorção do excedente do capital: onde 
 eu posso encontrar uma saída lucrativa em que aplicar o meu capital? Em 
 1750, o mundo inteiro estava aberto para essa questão. E, àquela época, o 
 valor total da economia global era de 135 bilhões de dólares em bens e 
 serviços. Quando se chega a 1950, há 4 trilhões de dólares em circulação, 
 e você tem que encontrar saídas para 3% de 4 trilhões. E quando se chega 
 ao ano 2000, tem-se 42 trilhões de dólares em circulação. Hoje, 
 provavelmente, este valor chega a cerca de 50 trilhões. Em 25 anos, a uma 
 taxa de crescimento de 3%, ele será de 100 trilhões. Isso significa que há 
 uma crescente dificuldade em encontrar saídas rentáveis para o excedente 
 de capital.
 Essa situação pode ser apresentada de outra forma. Quando o 
 capitalismo era essencialmente o que acontecia em Manchester e em outros 
 poucos lugares do mundo, uma taxa de crescimento de 3% não representava um 
 problema. Agora nos temos que colocar uma taxa de 3% em tudo que acontece 
 na China, no Leste e no Sudeste asiáticos, na Europa, em grande parte da 
 América Latina e na América do Norte, e aí nós temos um imenso, gigantesco 
 problema. Os capitalistas, quando têm dinheiro, têm também a escolha de 
 como reinvesti-lo. Você pode investir em nova produção. Um dos 
 argumentos para tornar os ricos ainda mais ricos é que eles reinvestirão 
 na produção, e que isso gerará mais emprego e melhores padrões de vida 
 para o povo. Mas desde 1970 eles têm investido cada vez menos em novas 
 produções. Eles têm investido na compra de ativos, ações, direitos de 
 propriedade, inclusive intelectual, e, é claro, em propriedade 
 imobiliária. Portanto, desde 1970, cada vez mais dinheiro tem 
 sido destinado a ativos financeiros, e quando a classe capitalista começa 
 a comprar ativos, o valor destes aumenta. Assim eles começam a fazer 
 dinheiro com o crescimento no valor de seus ativos.
 Com isso, os preços da propriedade imobiliária aumentam mais e 
 mais. E isso não torna uma cidade melhor, e sim a torna mais 
 cara. Além disso, na medida em que eles querem construir 
 condomínios de luxo e casas exclusivas, eles têm que empurrar os pobres 
 para fora de suas terras - eles têm que tirar o nosso direito à cidade. Em 
 Nova York, eu acho muito difícil viver em Manhattan, e vejam que eu sou um 
 professor universitário razoavelmente bem pago. A massa da população que 
 de fato trabalha na cidade não tem condições de viver na cidade porque o 
 preço dos imóveis subiu exageradamente. Em outras palavras, o direito das 
 pessoas à cidade foi subtraído. Às vezes ele é subtraído por meio de ações 
 do Mercado, às vezes por meio de ações do governo, que expulsa as pessoas 
 de onde elas vivem, às vezes ele é subtraído por meios ilegais, violentos, 
 ateando- se fogo a um prédio. Houve um período em que parte de Nova York 
 sofreu incêndio após incêndio.
 O que isso faz é criar uma situação em que os ricos podem cada vez 
 mais exercer seu domínio sobre toda a cidade, e eles têm que fazer isso, 
 porque essa é a única forma de usar seu excedente de capital. E em algum 
 momento, entretanto, há também incentivos para que esse processo de 
 construção da cidade alcance as pessoas mais pobres. As instituições 
 financeiras concedem empréstimos aos empreendedores imobiliários para que 
 eles desenvolvam grandes áreas da cidade. Você tem os empreendedores que 
 promovem o desenvolvimento, mas o problema é: para quem eles vendem os 
 imóveis? Se a renda da classe trabalhadora estivesse crescendo, então 
 talvez eles poderiam vendê-los para os trabalhadores. Mas desde os anos de 
 1970 as políticas do neoliberalismo têm implicado reduções salariais. Nos 
 EUA, os salários reais não têm aumentado desde 1970, de tal modo que se 
 tem uma situação em que os salários reais são constantes, mas os preços 
 dos imóveis estão subindo. E de onde vem a demanda por habitação? A 
 resposta consistia em conduzir as classes trabalhadoras a uma situação de 
 débito. E o que nós vemos é que o débito com habitação nos EUA passou de 
 cerca de 40.000 dólares por família para mais de 120.000 dólares por 
 família nos últimos 20 anos. As instituições financeiras batem nas portas 
 dos trabalhadores e dizem "Nós temos um bom negócio para você. Nós lhe 
 emprestamos dinheiro e você pode ter sua casa própria. E não se preocupe 
 se mais adiante você não conseguir pagar sua dívida, porque os preços dos 
 imóveis estão subindo, então tudo está bem".
 Assim, mais e mais pessoas de baixa renda foram levadas a contrair 
 dívidas. Mas cerca de dois anos atrás, os preços dos imóveis começaram a 
 cair. A distância entre o que os trabalhadores podiam pagar e o tamanho da 
 dívida tornou-se grande demais. De repente houve uma onda de execuções de 
 hipotecas em muitas cidades americanas. Mas como geralmente acontece com 
 algo desse tipo, há um desenvolvimento geográfico desigual de tal onda. A 
 primeira onda atingiu comunidades de baixíssima renda em muitas das 
 cidades mais antigas dos Estados Unidos. Há um maravilhoso mapa que pode 
 ser visto na página eletrônica da BBC das execuções hipotecárias na cidade 
 de Cleveland. O que se vê é um mapa pontilhado das execuções, que é 
 altamente concentrado em certas
áreas da cidade. Há do lado deste um outro 
 mapa, que mostra a distribuição da população afro-americana, e os dois 
 mapas correspondem entre si. O que isso significa é que ocorreu um roubo à 
 população afro-americana de baixa renda. Esta foi a maior perda de ativos 
 de populações de baixa renda nos EUA de todos os tempos: dois milhões de 
 pessoas perderam suas casas. E naquele mesmo momento o pagamento de bônus 
 em Wall Street ultrapassava a casa dos 30 bilhões de dólares - que é o 
 dinheiro extra pago aos banqueiros pelo seu trabalho. Assim, os 30 bilhões 
 pagos em Wall Street foram efetivamente retirados das populações dos 
 bairros de baixa renda. Fala-se sobre isso nos Estados Unidos como um 
 "Katrina financeiro", porque, como vocês se lembram que o furacão Katrina 
 atingiu particularmente Nova Orleans, e foi a população negra de baixa 
 renda que foi deixada para trás, sendo que muitos morreram. Os ricos 
 protegeram seu direito à cidade, mas os pobres essencialmente perderam o 
 deles.
 Na Flórida, na Califórnia e no Sudoeste americano, o padrão foi 
 diferente. Ele se mostrou muito mais nas periferias das cidades. Lá, muito 
 dinheiro estava sendo emprestado a grupos de construtoras e 
 incorporadoras. Eles estavam construindo casas fora da cidade, 45km fora 
 de Tuscon e de Los Angeles, e não conseguiam encontrar para quem 
 vendê-las. Então eles buscaram a população branca que não gostava de viver 
 perto de imigrantes e de negros nas cidades centrais. Isso levou a uma 
 situação que se revelou há um ano, quando os altos preços da gasolina 
 tornaram as coisas muito difíceis para aquelas comunidades. Muitas pessoas 
 não conseguiam pagar suas dívidas, de modo que aconteceu uma onda de 
 execuções hipotecárias que está se dando nos subúrbios, e atinge 
 principalmente os brancos, em lugares como a Flórida, o Arizona e a 
 Califórnia. Enquanto isso, o que Wall Street fez foi pegar todas aquelas 
 hipotecas de risco e embrulhá- las em estranhos instrumentos financeiros. 
 Eles pegavam todas as hipotecas de um determinado lugar e colocavam-nas 
 num pacote, e então vendiam partes daquele pacote para outras pessoas. O 
 resultado é que todo o mercado financeiro de hipotecas se globalizou, e o 
 que se vê são pedaços de propriedade hipotecária sendo vendidas para 
 pessoas na Noruega, na Alemanha, no Golfo e em qualquer lugar. Todos foram 
 convencidos de que essas hipotecas e esses instrumentos financeiros eram 
 tão seguros quanto casas. Acabou que eles não se mostraram seguros, e 
 então sobreveio a grande crise, que segue sem parar. Meu argumento é que 
 se essa crise é basicamente uma crise de urbanização, então a solução deve 
 ser uma urbanização diferente, e é aí que a luta pelo direito à cidade se 
 torna crucial, porque nós temos a oportunidade de fazer algo 
 diferente.
 Mas sempre me perguntam se essa crise é o fim do neoliberalismo. 
 Minha resposta é "não", se se olha para o que está sendo proposto em 
 Washington e em Londres. Um dos princípios básicos que foram estabelecidos 
 na década de 70 é que o poder do Estado deve proteger as instituições 
 financeiras a qualquer preço. Se há um conflito entre o bem estar das 
 instituições financeiras e o bem estar do povo, opta-se pelo bem estar das 
 instituições financeiras. Este é o princípio que foi desenvolvido na 
 cidade de Nova York City em meados dos anos 70, e que foi definido 
 internacionalmente pela primeira vez quando houve a ameaça de falência do 
 México em 1982. Se o México tivesse ido à falência, isso teria destruído 
 os bancos de investimentos de Nova York. Assim, o Banco Central dos 
 Estados Unidos e o Fundo Monetário Internacional combinaram esforços para 
 ajudar o México a não entrar em falência. Em outras palavras, eles 
 emprestaram o dinheiro que o México precisava para pagar os banqueiros de 
 Nova York. Mas, ao fazê-lo, eles impuseram austeridade à população 
 mexicana. Ou seja, eles protegeram os bancos e destruíram as pessoas. Essa 
 tem sido a prática padrão do FMI desde então. Agora, se olharmos para a 
 resposta dada à crise pelos Estados Unidos e a Inglaterra, nós veremos que 
 o que eles efetivamente fizeram foi salvar os bancos ? são 700 bilhões de 
 dólares para os bancos nos EUA. Eles não fizeram absolutamente nada para 
 proteger os proprietários de imóveis que perderam suas casas. Então, é 
 este exatamente o mesmo princípio que agora vemos em funcionamento: 
 proteger as instituições financeiras e foda-se o povo. O que nós 
 deveríamos ter feito era pegar os 700 bilhões e criar um banco de 
 re-desenvolvimento urbano, para salvarmos todas as comunidades que estavam 
 sendo destruídas e reconstruir as cidades a partir das demandas populares. 
 O interessante é que, se nós tivéssemos feito isso antes, muito da crise 
 teria simplesmente desaparecido, porque não haveria a execução das 
 hipotecas. Nesse meio tempo, nós precisamos organizar um movimento 
 antidespejo - e temos visto isso acontecer em Boston e em algumas outras 
 cidades. Mas, nesse momento da história nos EUA, há um sentimento de que a 
 mobilização popular está restrita porque a eleição de Obama era a 
 prioridade. Muitas pessoas esperam que Obama faça algo diferente, 
 mas infelizmente os seus consultores econômicos são exatamente os mesmos 
 que criaram o problema. Eu duvido que Obama venha a ser tão 
 progressista quanto Lula. Eu acho que nós teremos que esperar um pouco 
 antes que os movimentos sociais comecem a agir. Nós precisamos de um 
 movimento nacional pela reforma urbana como o que vocês têm aqui. Nós 
 temos que construir uma militância do mesmo tipo que vocês construíram 
 aqui. Nós temos que, de fato, começar a exercer nosso direito à 
 cidade. E em algum momento nós teremos que reverter o modo como 
 as instituições financeiras são priorizadas em detrimento do povo. Nós 
 temos que nos questionar o que é mais importante, o valor dos bancos ou o 
 valor da humanidade. O sistema bancário deveria servir às pessoas, e não 
 viver à custa das pessoas. A única forma que temos de, em algum momento, 
 nos tornarmos capazes de exercer nosso direito à cidade é controlando o 
 problema da absorção do excedente capitalista. Nós temos que socializar o 
 excedente do capital. Nós temos que usá-lo para atender necessidades 
 sociais. Nós temos que nos livrar do problema da acumulação constante dos 
 3%. Nós chegamos a um ponto em que uma taxa de crescimento constante de 3% 
 irá impor custos ambientais tão imensos, irá exercer uma pressão tão 
 grande sobre as questões sociais, que nós viveremos em perpétua crise 
 financeira. Se nós sairmos dessa crise financeira do modo que eles querem, 
 haverá uma outra crise financeira dentro de cinco anos. Chegamos a 
 um ponto em que não podemos mais de aceitar o que disse Margaret Thatcher, 
 que "não há alternativa", e que devemos dizer que deve haver uma 
 alternativa. Deve haver uma alternativa para o capitalismo em geral. E nós 
 podemos começar a nos aproximarmos dessa alternativa percebendo o direito 
 à cidade como uma exigência popular internacional, e eu espero que 
 possamos todos nos unir nessa missão.
 Muito obrigado.
 Tradução de Fernando Alves Gomes
 
   >>Adicione 
 um comentário 
 
 
	Comentários 
 E mesmo assim se continua a exploração capitalista 
 
 Rodrigo Araújo 14/02/2009 21:06
rodrigodm2@hotmail.com
 Extremamente pertinente a comunicação do Sr. David 
 Harvey, especialmente no tocante à explicação do fundamento da crise, que 
 está embasada no grande déficit habitacional. No entanto algo que fica de 
 fora de sua explicação, talvez motivada por sua formação e enfoque de 
 geógrafo, é a questão da extração da mais-valia. 
A exploração do 
 homem pelo homem é o principal problema do sistema mundial contemporâneo, 
 é a raiz que engendra as desigualdades sociais, engendra a catástrofe 
 ecológica eminente, porque o processo de extração de mais-valia é o que 
 condiciona o conseqüente processo de desumanização das instituições. 
 
Portanto o problema não está somente fundamentado na questão da 
 propriedade privada, como é o foco de sua comunicação, e de sua formação 
 marxista, mas também na forma como se faz para se gerarem mais riquezas, o 
 tal excedente de 3%. 
É necessária a construção imediata de 
 alternativas de gestão do capital social que estejam além da forma de 
 exploração capitalista. E para isso é necessária a desestruração do 
 sistema de extração de mais-valia, que é base da acumulação capitalista. 
 
A forma? Não tenho a resposta, porém nos velhos mecanismos da 
 esquerda também não enxergo a resposta, pois se sua proposta fosse levada 
 a cabo, certamente teríamos um capitalismo mais nivelado, porém as 
 barreiras entre as classes seriam solidificadas, porque teríamos um 
 capitalismo mais eficiente, que estaria prevenido contra motivos de 
 insatisfações sociais. E o capitalismo mais ou menos eficiente é algo 
 desejável? 
 	
 Re alinhamento cultural 
 Celso Brandão 17/02/2009 12:05 
 celsobrandaopersonal@yahoo.com.br
 Todos temos consciência da tragédia humana 
 psico-social em que vivemos, pura realidade a bebedeira de um ministro 
 japonês que não consegue nem mais se expressar; a confusão mental 
 sócio-urbana é caótica; é lógico que precisamos de diretrizes vindas de 
 novas cabeças e em especial vindas de homens naturalmente dignos por 
 natureza. E onde achá-los? Não há alternativa senão obedecermos o código 
 secreto e explícito da natureza, Ela é a mãe de nossa vida no planeta 
 Terra, pois os distúrbios urbanos são derivados de atitudes humanas 
 descabidas...mudar curso de rios, fazer fumaça tóxica, criar falsos 
 paradígmas de evolução...não há evolução e sim um caos social firmado 
 sobre o arqui-virus Soccio-civiliccoccus tranngendium, tradução do autor ( 
 civilização social tragica), é so tragédia não há evolução, e então temos 
 que buscar soluções urgentes e emergentes...com uma base log para tudo: 
 não mexer com o dragão da natureza, ele pode despertar e aí...

Teste o Premium para desbloquear

Aproveite todos os benefícios por 3 dias sem pagar! 😉
Já tem cadastro?

Outros materiais