Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Capítulo 18: As Cidades e os Espaços Urbanos As áreas residenciais que circundam Greenwich Vil- lage no coração de Nova Iorque atingem alguns dos valores mais elevados em todos os Estados Unidos. As casas mais próximas são vendidas acima do milhão de dólares, enquanto os condomínios mais pequenos podem atingir o dobro daquele valor. O rendimento médio dos agregados familiares na região é superior a 65.000 dólares por ano. É um bair- ro conhecido pela riqueza das suas ofertas culturais, incluindo lojas de livros em segunda mão, cafés, galerias de arte e teatros. Greenwich Village é, desde há muito, o 'bairro boémio* de Nova Iorque - o lar de gerações de intelectuais, artistas e escritores. Os seus habitantes pertencem predominantemente à classe média alta, aos empregados do sector terciário e aos estudantes. Contudo, existe um outro lado de Greenwich Vil- lage. As ruas do bairro agitam-se e murmuram com uma actividade que está longe da afluência acima descrita. Pedintes, traficantes de drogas, vendedores de rua e sem-abrigo também fizeram de Greenwich Village a sua residência. Ao longo das últimas déca- das, as pessoas das zonas de grande pobreza acharam que o 'passeio1 - a designação americana para 'pavi- mento' - pode oferecer oportunidades para se viver. A vibrante vida de rua, o fluxo constante de pedestres e a mistura da riqueza e da pobreza formam um mosaico caótico no qual os nova-iorquinos margina- lizados se podem integrar. Segundo o sociólogo Mit* chell Duneier, é um bairro que 'se oferece aos ricos e aos sem-abrigo, aos doutorados e aos que não têm escolarização, no mesmo passeio e ao mesmo tempo* (Duneier, 1999). Duneier estudou a vida dos passeios de Greenwich Village estudando a vida dos pobres, predominante- mente homens negros, que ali trabalham e vivem (ver capítulo 20, 'Métodos de Investigação em Sociolo- gia' , p. 654). Durante um período de 5 anos observou - e participou - a vida económica informal dos pas- seios. Trabalhou ao lado de vendedores de revistas e livros, os Varredores de rua* que encontram merca- doria no lixo e que a vendem nas ruas, e ao lado dos pedintes que pedem ao lado das caixas de multi- banco. Testemunhou o modo como o cumprimento da lei nova-iorquina atingia os homens do passeio através de campanhas de 'qualidade de vida1 que procuravam reduzir os sinais de desordem social. Em *Sidewalk\ Duneier descreve um quadro complexo de vidas marcadas pelo uso e pelo vício das drogas, alcoolismo, senvabrigo, deficiências, iliteracia, sen- tenças de prisão e racismo pernicioso. Também des- creve a poderosa comunidade que existe no passeio - os sistemas informais de auto-ajuda, suporte mútuo, apoio e sobrevivência. O passeio de Greenwich Village é um microcosmo dos fortes contrastes e desigualdades que caracteri- zam as grandes cidades do mundo. A globalização e a disseminação da tecnologia de informação estão a intensificar os processos de urbanização arrastando grande número de pessoas para as cidades e aí con- centrando a economia. Hoje, mais do que nunca, as cidades tornaram-se no cruzamento de desconcertante ordem de culturas, línguas e origens. Uma nova elite internacional cruza continentes, ligando uma rede de 'cidades globais1. Nestas cidades globais, crescem sedes de multinacionais, sobre os bairros empobreci- dos; os super-ricos e os que não têm direitos civis são 'utilizadores* das mesmas cidades, mas as suas reali- dades quotidianas não poderiam ser mais diferentes. De quem são as cidades? Por um lado, existe a cidade como uma 'zona de glamour u r b a n o ' - u m cir- cuito estonteante de restaurantes e hotéis, edifícios de escritórios, aeroportos e teatros, frequentados pelos arquitectos e pelos administradores da nova econo- mia global. Com a disseminação da globalização, esta população de 'utilizadores das cidades' conti» nuará a crescer na periferia do crescimento económi- co cujas reivindicações à cidade são também legíti- mas, mas muitas vezes menos bem vindas. Os imi- grantes, os pobres e os desfavorecidos são uma pre- sença crescente nos centros urbanos do mundo. Mais do que nunca, as grandes cidades do mundo albergam tanto grandes concentrações de poder e riqueza como desconcertantes situações de desigualdade e pobreza. A justaposição de vidas e meios de vida é crescente- mente visível nas cidades em todo o mundo. A S C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S 5 7 3 Neste capítulo investigaremos o processo de urbanização que esteve na origem - e continua a moldar - das cidades modernas. Discutiremos em primeiro lugar o grande crescimento em número dos habitantes das cidades que teve lugar no último sécu- lo e consideraremos algumas das principais teorias do urbanismo que se desenvolveram para compreender este processo- Em seguida, passaremos a comparar diferentes padrões de urbanização no mundo, anali- sando primeiro a urbanização do ocidente utilizando exemplos dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, para depois analisar a urbanização no mundo em desenvolvimento. De forma não surpreendente, a globalização tem tido um impacto enorme nas cida- des e teremos em consideração algumas das dimen- sões deste processo no final deste capítulo. Características do Urbanismo Moderno Todas a sociedades industriais modernas são forte- mente urbanizadas. As cidades mais povoadas dos países industrializados chegam a atingir os vinte e cinco milhões de habitantes e as conurbações urba- nas - conjuntos de cidades formando vastas áreas construídas - podem ter muitos mais. A forma mais extrema da estrutura urbana actual é representada pelo que se designou como megalópolis, a "cidade das cidades". O termo teve origem na Grécia Antiga para designar a cidade-estado planeada para ser a inveja de todas as civilizações, mas o seu uso corren- te tem pouca relação com esse sonho. Foi usado pela primeira vez nos tempos modernos para designar a faixa marítima do nordeste dos Estados Unidos, uma • v.r iX I « > « A ti Megalópolrs, também conhecida como Nova Iorque A S C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S 574 conurbaçào com cerca de 450 milhas desde o norte de Boston ao sul de Washington D.C. Nesta região vivem cerca de 40 milhões de pessoas, o que repre- senta uma densidade populacional de mais de 700 pessoas por milha quadrada. A Grã-Bretanha, a primeira sociedade a conhecer a industrialização, foi também o primeiro país a pas- sar da ruralidade para um estado predominantemente urbano. Em 1800, bem menos de 20 por cento da população vivia em cidades ou vilas com mais de 10 000 habitantes. Por volta de 1900, este valor tinha atingido os 74 por cento. Em Londres, a capital, viviam cerca de 1.1 milhões de pessoas em 1800 e, no início do século X X , a sua população tinha aumentado para mais de 7 milhões de habitantes. Nessa altura, Londres era, de longe, a maior cidade que alguma vez havia existido no mundo, um enorme centro industrial, comercial e financeiro no coração do império britânico, então ainda em expansão. A urbanização da maioria dos outros países euro- peus e dos Estados Unidos efectuou-se um pouco mais tarde - mas em certos casos, assim que come- çou, desenvolveu-se ainda mais rapidamente. Em 1800, os Estados Unidos eram uma sociedade mais rural do que os principais países europeus da época. Menos de 10 por cento da população vivia em comu- nidades com mais de 2500 habitantes. Hoje, fazem- -no mais de três quartos dos americanos. Entre 1800 e 1900, a população de Nova Iorque saltou de 60 000 pessoas para 4.8 milhões! A urbanização no século X X é um processo glo- bal, para o qual os países em desenvolvimento são cada vez mais arrastados (ver fig. 18.1). Antes de 1900, quase todo o crescimento urbano tinha lugar no Ocidente. Houve umacerta expansão das cidades do Terceiro Mundo nos cinquenta anos seguintes, mas o período principal do seu crescimento ocorreu nos últimos cinquenta anos ou coisa parecida. Entre 1960 e 1992, o número de habitantes urbanos no mundo aumentou cerca de 1.4 bilhões. Prevê-se que cresça cerca de mais um bilião nos próximos 15 anos. As populações urbanas estão a crescer a um ritmo muito mais rápido do que a totalidade da população mundial: 39 por cento da população mundial vivia em zonas urbanas em 1975; de acordo com estimati- vas das Nações Unidas, prevê-se que este número seja de 50 por cento no ano 2000 e de 63 por cento em 2025. O Este e o Sul da Ásia contarão com cerca ao m • M V , t A • • « s s » .V m • ^ » «" T m v v / y .. . - A • 9 : . * - * * . w ' : s * ,: / >. ' s; • . , - X . ftÉW WhaWHUMfri • ? W ftà % K Flg. 18.1 Urbanização das regiões do mundo por graus de desenvolvimento, 1975-1995 e projecções para 2015. Fontes-. NU, World Uffeanization prospecte. 1998; The UNESCO Courier, Junho de 1999. A S C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S 575 de metade da população mundial em 2025 e, por essa altura, as populações urbanas da África e da América do Sul irão ultrapassar as da Europa. O desenvolvimento das cidades modernas A expansão das cidades é uma consequência do aumento da população, bem como da migração de pes- soas das zonas rurais, aldeias e vilas. Esta migração tinha frequentemente um carácter internacional, com as pessoas das áreas rurais a mudarem-se para as cida- des de outros países. A imigração de grande número de europeus provenientes de zonas rurais pobres para os Estados Unidos é o exemplo mais óbvio, mas a migra- ção nacional para as cidades também se estendeu entre países da própria Europa. Os camponeses e aldeãos mudaram-se para as cidades (tal como hoje acontece de forma maciça nos países em desenvolvimento) devido à falta de oportunidades nas zonas rurais e às vantagens e atractivos aparentes das cidades, onde as ruas eram 'pavimentadas a ouro' (empregos, riqueza, um leque amplo de bens e serviços). Desta forma, as cidades tornaram-se centros onde se concentrava o poder industrial e financeiro e, por vezes, os empresá- rios criavam cidades novas a partir do nada. O desenvolvimento das cidades modernas teve um impacto enorme não apenas nos hábitos e formas do comportamento, como também nos padrões de pen- samento e dos sentimentos. Desde o início dos gran- des aglomerados urbanos, no século X V I I I , tem-se verificado uma polarização das opiniões sobre os efeitos das cidades na vida social - o que ainda hoje acontece. Alguns encaravam as cidades como repre- sentantes da "virtude civilizada', a fonte do dinamis- mo e da criatividade cultural. Para estes autores, as cidades maximizam as oportunidades de desenvolvi- mento cultural e económico e proporcionam uma existência confortável e agradável. Outros estigmati- zaram a cidade como um inferno cheio de fumo e de multidões agressivas e desconfiadas, carregada de crimes, violência e corrupção. A medida que as cidades cresciam em tamanho, muitas pessoas ficavam horrorizadas ao ver que as desigualdades e a pobreza urbana se pareciam inten- sificar na mesma proporção. A extensão da pobreza urbana e as grandes diferenças entre os bairros da cidade foram dos principais factores que estiveram na origem dos primeiros estudos sociológicos sobre a vida urbana. Não constituiu surpresa o facto de os primeiros estudos sociológicos de relevo e das teorias sobre as condições urbanas modernas terem surgido em Chicago, uma cidade marcada por um extraordi- nário grau de desenvolvimento e por desigualdades muito pronunciadas, que viu a sua população crescer para mais de 2 milhões de habitantes em 1900, quan- do era quase desabitada até aos anos 30 do século X I X . Teorias do Urbanismo A Escola de C h i c a g o Alguns escritores ligados à Universidade de Chicago, entre os anos 1920 e 1940, em especial Robert Park, Ernest Burgess e Louis Wirth, desenvolveram ideias que foram durante muitos anos a principal base da teoria e da pesquisa em Sociologia Urbana. Merecem atenção especial dois conceitos desenvolvidos pela "Escola de Chicago'. Um é a chamada abordagem ecológica à análise urbana, o outro, a caracterização do urbanismo como um modo de vida, desenvolvido por Wirth (Park, 1952; Wirth, 1938). A Ecologia Urbano Ecologia é um termo oriundo da Física, é o estudo da adaptação de organismos vegetais e animais ao seu meio-ambiente. É este o sentido em que a 'ecologia' é utilizada no contexto de problemas de ambiente em geral, vide capítulo 19, Crescimento populacional e crise ecológica'. Na natureza, os organismos tendem a distribuir-se de forma sistemática pelo terreno de forma a conseguir-se o equilíbrio entre diferentes espécies. A Escola de Chicago acreditava que a implantação dos principais sítios urbanos e a distri- buição de diferentes tipos de bairro nos mesmos podiam ser entendidos segundo princípios semelhan- tes. As cidades não crescem ao acaso, mas de acordo com as características do meio-ambiente. As grandes áreas urbanas das sociedades modernas, por exem- plo, tendem a desenvolver-se ao longo dos leitos dos rios, em planícies férteis ou na intersecção de rotas comerciais ou de vias ferroviárias. Segundo Park, "assim que uma cidade se estabele- ce (...) torna-se, ao que parece, um grande mecanis- mo de selecção que (...) escolhe infalivelmente de A S C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S 576 entre toda a população os indivíduos mais bem pre- parados para viver numa determinada região ou meio" (Park, 1952, p. 79). As cidades organizam-se em 'áreas naturais* por meio de processos de compe- tição, invasão e sucessão * os quais têm lugar na ecologia biológica. Se repararmos na ecologia de um lago no seu estado natural, vemos que a competição entre as várias espécies de peixes, insectos e outros organismos se faz de forma a alcançar um equilíbrio estável entre eles. Este equilíbrio é perturbado quan- do há uma invasão' de novas espécies, que tentam fazer do lago o seu lar. Alguns dos organismos que costumavam proliferar na área central do lago são afastados para as margens, onde levam uma existên- cia precária. As espécies invasoras tomam o seu lugar na parte central do lago. Os padrões de localização, movimento e relocali- zação nas cidades, de acordo com o ponto de vista ecológico, assumem formas idênticas. Desenvolvem- -se bairros diferentes a partir dos ajustamentos feitos pelos habitantes, à medida que lutam pela vida. Uma cidade pode ser representada como um mapa de áreas com características sociais distintas e que contrastam entre si. Nas fases iniciais do crescimento das cidades modernas, as indústrias congregam-se em locais ade- quados às matérias-primas de que necessitam, locais próximos das linhas de abastecimento. A população reúne-se em volta destes locais de trabalho, que, à medida que cresce a população da cidade, se tomam cada vez mais diversificados. Os equipamentos urba- nos desenvolvem-se e estes locais tomam-se mais atractivos, havendo uma maior competição pela sua aquisição. O valor da terra e os impostos sobre a pro- priedade aumentam, o que torna difícil para as famí- lias continuar a viver na zona central, excepto em condições de superlotação ou em habitações deca- dentes com rendas baixas. O centro fica dominado pelos negócios e por espaços de entretenimento, enquanto os habitantes mais prósperos mudam para bairros novos na periferia da cidade. Este processo segue as rotas dos transportes, pois estes minimizam o tempo gasto na deslocação para o trabalho. As áreas espalhadas entre esses percursos desenvolvem-se mais lentamente. Podemosencarar as cidades como sendo formadas por círculos concêntricos, divididos em segmentos. No interior ficam as áreas centrais, que misturam a prosperidade das grandes empresas com a decadência dos edifícios de habitação. Para lá destas ficam bair- ros antigos, que alojam trabalhadores manuais com empregos estáveis. U m pouco mais longe ficam os subúrbios, onde tendem a residir os grupos com ren- dimentos mais elevados. Há processos de invasão e sucessão dentro dos segmentos dos círculos concên- tricos. Assim, à medida que se deterioram os edifícios na área central ou próximo do centro, os grupos étni- cos minoritários poderão começar a ocupá-los. Quan- do isto acontece, a população preexistente começa a mudar-se, precipitando uma deslocação em massa para outros bairros ou subúrbios da cidade. Embora durante algum tempo a abordagem da ecologia urbana tenha caído em desgraça, foi mais tarde retomada e desenvolvida por vários autores, em especial por Amos Hawley (Hawley, 1950, 1968). Em vez de concentrar a sua atenção na competição por recursos escassos, tal como o tinham feito os seus antecessores, Hawley salienta a interdependência das diferentes áreas da cidade. A diferenciação - a espe- cialização dos grupos e dos papéis ocupacionais - é a forma principal pela qual os seres humanos se adap- tam ao seu meio ambiente. Os grupos dos quais mui- tos outros dependem terão um papel dominante que se reflecte frequentemente na sua posição geográfica central. Os grupos económicos, por exemplo, como os bancos e as companhias de seguros, fornecem ser- viços-chave para a comunidade e, por conseguinte, localizam-se normalmente nos centros das cidades. Hawley sublinha que as zonas que se desenvolvem em áreas urbanas surgem não só de relações de espa- ço, mas também de tempo. O predomínio das activi- dades económicas, por exemplo, exprime-se não só nos padrões de utilização do solo, como no ritmo das actividades quotidianas, sendo a hora de ponta um bom exemplo disso. A ordenação do tempo no quoti- diano das pessoas reflecte a hierarquia dos bairros da cidade. A abordagem ecológica revelou-se importante tanto pela quantidade de investigação empírica que fomentou, como pelo seu valor como perspectiva teó- rica. Houve muitos estudos globais sobre cidades e sobre bairros específicos, que foram estimulados pelo pensamento ecológico, que se preocupava, por exem- plo, com os processos de 'invasão* e de 'sucessão' acima mencionados. No entanto, podem-lhe ser feitas várias críticas com toda a justiça. A perspectiva eco- lógica tende a desvalorizar a importância da acção e A S C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S 5 7 7 do planeamento consciente na organização da cidade, encarando o desenvolvimento urbano como um pro- cesso 'natural1. Os modelos de organização espacial elaborados por Park, Burgess e os seus colegas foram retirados da experiência americana; além de só se revelarem adequados a alguns tipos de cidades ame- ricanas, são desadequados em relação às cidades da Europa, do Japão ou do Terceiro Mundo. O urbanismo como um modo de vida A tese de Wirth sobre o urbanismo como modo de vida preocupa-se menos com a diferenciação interna das cidades do que com o urbanismo como forma de existência social Wirth observa: O grau em que podemos considerar o mundo contempo- râneo como 'urbano' não depende inteira ou exactamen- te da proporção da população total que vive nas cidades. A influência que as cidades exercem sobre a vida social humana é maior do que o rácio da população urbana indica, pois a cidade é não só o local de habitação e de trabalho do homem moderno, como constitui o centro de fomento e de controlo da vida económica, política e cultural que levou as comunidades mais remotas do mundo para a sua órbita e transformou num cosmos lugares, pessoas e actividades diversas. (Wirth, 1938, p- 342) . Nas cidades, salienta Wirth, um grande número de pessoas vivem muito próximas umas das outras, sem se conhecerem pessoalmente - um contraste funda- mental com as pequenas aldeias tradicionais. A maior parte dos contactos entre os habitantes da cidade são passageiros e parciais, e constituem meios para se atingirem objectivos, em vez de serem intrinseca- mente gratificantes. Os contactos com os empregados de balcão das lojas, caixas de banco, viajantes ou revisores dos transportes são encontros passageiros, que valem não por si, mas pelo f im que têm em vista. Dado a população das áreas urbanas tender a ter grande mobilidade, as relações pessoais são relativa- mente fracas. As pessoas estão envolvidas em activi- dades e situações diferentes todos os dias - o 'ritmo de vida* é mais acelerado do que nas áreas rurais. A competição prevalece sobre a cooperação. Wirth aceita que a densidade da vida social nas cidades dá origem à formação de bairros com características dis- tintas, alguns dos quais preservam as características de pequenas comunidades. Nas áreas de imigrantes, por exemplo, encontram-se formas de relacionamen- to tradicional entre as famílias, pois a maioria conhe- ce-se numa base pessoal. Não obstante, quanto mais essas áreas são absorvidas pelos padrões da vida cita- dina, mais desapareceram estas características. As ideias de Wirth gozaram, merecidamente, de vasta aprovação. O carácter impessoal de muitos con- tactos diários nas cidades modernas é inegável - e, até certo ponto, o mesmo acontece com a vida social em geral nas sociedades modernas. A teoria de Wirth é importante, porque reconhece que o urbanismo não é apenas parte da sociedade, mas exprime e influen- cia a natureza do sistema social mais global. Os aspectos do modo de vida urbano são característicos da vida social das sociedades modernas no seu con- junto e não só das actividades dos habitantes das grandes cidades. Não obstante, as ideias de Wirth têm limitações assinaláveis. Tal como a perspectiva eco- lógica, com a qual tem muito em comum, a teoria de Wirth baseia-se principalmente em observações fei- tas em cidades americanas, mas que são generaliza- das ao urbanismo em toda a parte. O urbanismo não é a mesma coisa em todos os tempos e lugares. Como foi mencionado, por exemplo, as cidades antigas eram, em muitos aspectos, bastante diferentes das cidades das sociedades modernas. A vida da maioria das pessoas nas cidades antigas não era muito mais anónima ou impessoal do que a das que vivem em comunidades rurais. Wirth também exagera o carácter impessoal das cidades modernas. As comunidades onde existem laços de amizade ou de parentesco são mais correntes nas colectividades urbanas modernas do que supôs. Everett Hughes, um colega de Wirth na Universidade de Chicago, escreveu sobre ele o seguinte: 'Louis costumava dizer todas essas coisas sobre o carácter impessoal das cidades - mas, no entanto, ele próprio vivia com um clã de parentes e amigos numa base muito pessoal' (citado em Kasarda e Janowitz, 1974). Os grupos, como aqueles a quem Herbert Gans chama 'aldeãos urbanos*, são comuns nas cidades modernas (Gans, 1962). Os seus 'aldeãos urbanos' são os americanos de origem italiana que vivem num bairro no centro de Boston. Estas áreas de 'etnia branca* estão provavelmente a tornar-se menos signi- ficativas nas cidades americanas do que antigamente, mas estão a ser substituídas por comunidades de A S C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S 578 novos imigrantes que se estabelecem no centro das cidades. Mais importante ainda, os bairros que envolvem laços de parentesco próximo e laços pessoais pare- cem ser criodos muitas vezes pela vida na cidade. Não são apenas vestígios de um modo de vida ante- rior que sobreviveu durante algum tempo na cidade. Claude Fisher formulou uma interpretação para explicar porque é que o urbanismo emlarga escala tem tendência para promover subculturas diversas, em vez de aglutinar toda a gente numa massa anóni- ma. Segundo ele, os que vivem nas cidades podem colaborar com outras pessoas de origens ou interesses semelhantes para desenvolverem relações locais. Além disso, podem juntar-se a grupos religiosos, étnicos e políticos distintos e a outros grupos subcul- turais. Uma cidade pequena ou vila não permite o desenvolvimento de tal diversidade subcultural (Fis- her, 1984). Aqueles que formam comunidades étnicas nas cidades, por exemplo, podiam conhecer-se pouco ou nada nas suas terras de origem. Quando chegam, são atraídos para áreas onde vivem outras pessoas com origens linguísticas e culturais semelhantes, e assim se formam novas estruturas subcomunitárias. U m artista pode encontrar poucos artistas a quem se associar numa aldeia ou vila, mas, numa grande cida- de, pelo contrário, pode-se juntar a uma subcultura artística e intelectual significativa. Uma grande cidade é um 'mundo de estranhos', mas, no entanto, apoia e origina relações pessoais. Não se trata de um paradoxo. Temos de dividir a experiência urbana entre a esfera pública dos encon- tros com estranhos e o mundo mais privado da famí- lia, dos amigos e colegas de trabalho. Pode ser difícil 'conhecer pessoas' para alguém que acabe de chegar a uma grande cidade. Mas quem quer que vá viver para uma comunidade rural pequena, estabelecida, sente que a simpatia dos habitantes é apenas uma forma de gentileza pública - e que pode levar anos a ser-se aceite" Isto não acontece nas cidades. Tal como Edward Krupat comentou: O ovo urbano ... tem uma casca difícil de quebrar. Sem oportunidade ou ocasião para tomar a iniciativa, muitas pessoas que se vêem todos os dias no autocarro ou na estação ferroviária, num café, ou nos corredores do tra- balho nunca passam de 'estranhos familiares' . Algumas pessoas também permanecem totalmente afastadas das outras, por lhes faltarem aptidões para o convívio social ou por não terem iniciativa. Não obstante, a verdade é que, devido à diversidade dos estranhos - cada um é um amigo potenciai - e à variedade dos estilos de vida e interesses na cidade, as pessoas conseguem penetrar no grupo. E. uma vez dentro de um grupo ou organização, as possibilidades para expandir as suas relações muhi- p l icam-se .Como resultado, tudo indica que as oportuni- dades positivas das cidades parecem superar frequente- mente as forças constrangedoras, permitindo que as pes- soas desenvolvam e mantenham relacionamentos muito satisfatórios. (Krupat, 1985, p. 36). As ideias de Wirth ainda mantêm uma certa vali- dade, mas à luz de contribuições posteriores percebe- -se que é excessivamente generalizador. As cidades modernas implicam frequentemente relações sociais impessoais e anónimas, mas são também fonte de diversidade e, por vezes, de intimidade. O urbanismo e o ambiente criado As teorias do urbanismo mais recentes salientam que o urbanismo não é um processo autónomo e que deve ser analisado em conjunto com os principais padrões da mudança política e económica. Os dois principais autores sobre a análise urbana na actualidade, David Harvey e Manuel Castells, foram fortemente influen- ciados por Marx (Harvey, 1973,1982,1985; Castells, 1977,1983) . Harvey: A restruturação do espaço O Urbanismo, realça Harvey, é uma das características do meio ambiente criado que a expansão do capita- lismo industrial produziu. Nas sociedades tradicionais, a cidade e o campo eram claramente diferenciados. No mundo moderno, a indústria toma pouco clara a divi- são entre a cidade e o campo. A agricultura mecaniza- sse e é dirigida simplesmente de acordo com conside- rações de preço e de lucro, tal como a actividade indus- trial, e este processo reduz as diferenças nos modos de vida social das populações urbanas e rurais. No urbanismo moderno, salienta Harvey, o espaço é permanentemente reestruturado. O processo é determinado pelo local onde as grandes empresas decidem construir as suas fábricas, centros de inves- tigação e desenvolvimento e outros; pelo controlo dos governos sobre os terrenos e a produção indus- A S C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S 5 7 9 trial, e pelas actividades dos investidores privados que compram e vendem casas e propriedades. As empresas, por exemplo, avaliam continuamente as vantagens relativas de novas localizações, comparan- do-as com as existentes. À medida que a produção se toma mais barata numa dada área do que noutra, ou que a empresa muda de um produto para outro, os escritórios e as fábricas são encerrados num dado local e abertos noutro. Nesse sentido, a uma dada altura, quando estão em jogo lucros consideráveis, pode existir uma grande actividade de construção de edifícios de escritórios no centro das grandes cidades. Uma vez concluídos os edifícios, e 'reconstruída' e modernizada a área central, os investidores vão em busca de oportunidades para a construção especulati- va de futuros edifícios noutros locais. Muitas vezes o que é lucrativo num certo período não o é noutro, quando se altera o clima financeiro. As actividades dos compradores particulares de habitações são fortemente influenciáveis pelos inves- timentos comerciais, bem como pelos juros dos empréstimos e pelos impostos estipulados pelos governos centrais e locais. Após a segunda guerra mundial, por exemplo, deu-se uma enorme expansão dos subúrbios nas principais cidades dos Estados Unidos. Em parte, isto deveu-se à discriminação étni- ca e à tendência da população branca para se deslocar para longe dos centros das cidades. Contudo, argu- menta Harvey, isto só foi possível porque o Governo decidiu conceder benefícios fiscais aos compradores de casas e às empresas de construção, bem como pela concessão de créditos especiais por parte das organi- zações financeiras. Estas medidas foram a base da construção e compra de edifícios para a habitação nas periferias das cidades e promoveram, simultanea- mente, a procura de produtos industriais como, por exemplo, os automóveis. Desde a década de 60, o crescimento e a prosperidade das cidades do sul da Grã-Bretanha estão directamente relacionados com o declínio das velhas indústrias no norte e a subse- quente transferência do investimento para novas oportunidades industriais. Castells: urbanismo e movimentos sociais Tal como Harvey, Castells salienta que a forma espa- cial de uma sociedade está intimamente relacionada com os mecanismos gerais do seu desenvolvimento. Para entender as cidades, temos de perceber os pro- cessos através dos quais as formas espaciais são cria- das e transformadas. A disposição e as características arquitectónicas das cidades e dos arredores expri- mem lutas e conflitos entre os diferentes grupos da sociedade. Por outras palavras, os ambientes urbanos representam manifestações simbólicas e espaciais de forças sociais mais vastas, Os ananha-céus, por exem- plo, podem ser construídos com objectivos lucrati- vos, mas os edifícios gigantescos também 'simboli- zam a força do dinheiro na cidade por meio da tecno- logia e da autoconfiança e são as catedrais do perío- do de desenvolvimento do capitalismo empresarial* (Castells, 1983, p. 103). Por contraste com os sociólogos da Escola de Chi- cago, Castells vê a cidade não só como uma localiza- ção distinta - a área urbana mas como parte inte- gral de processos de consumo colectivo, o qual é por sua vez, uma dimensão inerente ao capitalismo industrial. As casas, escolas, serviços de transportes e complexos recreativos são formas pelas quais as pes- soas 'consomem' os produtos da indústria moderna. O sistema fiscal influencia quem consegue comprar ou alugar e onde, e quem constrói e onde. As grandes empresas, bancos e companhias de seguros,que for- necem o capital para os projectos de construção detêm bastante poder sobre estes processos. Mas os organismos governamentais também afectam directa- mente muitos aspectos da vida citadina, ao construí- rem estradas e habitações públicas, ao projectarem espaços verdes, etc. O aspecto físico das cidades é, portanto, um produto tanto das forças de mercado como do poder do governo. No entanto, a natureza do ambiente criado não resulta apenas das actividades dos ricos e poderosos. Castells sublinha a importância das lutas dos grupos desprivilegiados para alterarem as suas condições de vida. Os problemas urbanos estimulam múltiplos movimentos sociais, que se preocupam com a melho- ria das condições habitacionais, protestam contra a poluição atmosférica, defendem os parques e espaços verdes e combatem os projectos de construção que alteram o meio ambiente de uma dada área. Castells estudou, por exemplo, as actividades de grupos homossexuais de São Francisco, que conseguiram reestruturar os bairros de acordo com os seus próprios valores culturais - permitindo o crescimento de mui- tas organizações, clubes e bares de homossexuais - e adquirir uma posição proeminente na política local. 5 8 0 A S C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S Castells e Harvey enfatizam o facto de as cidades serem, na sua quase totalidade, ambientes artificiais, construídos peias próprias pessoas. N e m mesmo a maioria das zonas rurais escapa à influência da inter- venção humana e da tecnologia moderna, pois a acti- vidade humana remodelou e reordenou o mundo da natureza. Os alimentos não são produzidos para os habitantes locais, mas para mercados nacionais e internacionais e na agricultura mecanizada a terra é rigorosamente subdividida, submetida a usos espe- cializados e ordenada, de acordo com padrões físicos que pouco têm a ver com as características naturais do meio ambiente. Aqueles que vivem em proprieda- des agrícolas e nas zonas rurais mais isoladas estão económica, política e culturalmente ligados à socie- dade mais ampla, por muito diferentes que sejam os seus modos de comportamento em relação aos dos habitantes das cidades. Avaliação As visões de Harvey e Castells têm sido profusamen- te debatidas e o seu trabalho foi importante para a reorientação da análise urbana. Ao contrário da abor- dagem ecológica, Harvey e Castells não colocaram a ênfase nos processos espaciais 'naturais', mas na forma como a terra e o ambiente criado são um refle- xo dos sistemas do podei social e económico. Trata- -se de uma mudança significativa. Não obstante, as ideias de Harvey e Castells são frequentemente apre- sentadas de forma bastante abstracta, e não estimula- ram uma tão grande variedade de pesquisas como o trabalho efectuado pela Escola de Chicago. De certa forma, os pontos de vista apresentados por Harveys e Castells e pelos sociólogos da Escola de Chicago complementam-se com utilidade e podem ser combinados de forma a dar uma imagem global do processo urbano. De facto, os contrastes entre as áreas da cidade, descritos pela Ecologia Urbana, existem, assim como o carácter impessoal, próprio da vida nas cidades, em geral. Não obstante, estes contrastes são mais variáveis do que os mem- bros da Escola de Chicago pensavam, e são determi- nados, antes do mais, pelas influências sociais e económicas analisadas por Harvey e Castells. John Logan e Harvey Molocht sugeriram uma abordagem que relaciona directamente as perspectivas de autores como Harvey e Castells com certos aspectos da pers- pectiva ecológica (Logan e Molotch, 1987). Logan e Molocht estão de acordo com Harvey e Castells quanto ao facto de as características gerais do desen- volvimento económico, que se estendem nacional e internacionalmente, afectarem a vida urbana de forma bastante directa. Mas, em sua opinião, estes factores económicos de longo alcance são 'filtrados* pela acção das organizações locais, incluindo as acti- vidades económicas do bairro, dos bancos e dos orga- nismos governamentais, em conjunto com as activi- dades dos compradores particulares de casas. Os locais - terrenos e edifícios - são comprados e vendidos, de acordo com Logan e Molocht, exacta- mente como quaisquer outros produtos nas socieda- des modernas, mas os mercados que estruturam o ambiente das cidades são influenciados pela forma como os diferentes grupos de pessoas desejam utilU zar as propriedades que compram e vendem. Surgem muitas tensões e conflitos na sequência deste proces- so - e estes são os factores principais da reestrutura- ção dos bairros citadinos. Para Logan e Molocht, as grandes empresas finan- ceiras e comerciais nas cidades modernas tentam intensificar constantemente o uso da terra em áreas específicas. Quanto mais o podem fazer, maiores são as oportunidades de especulação e construção lucra- tiva de novos edifícios. Estas empresas preocupam-se pouco com os efeitos sociais e físicos das suas activi- dades num dado bairro - não têm em consideração, por exemplo, o facto de residências antigas e atraen- tes serem demolidas para dar lugar a grandes edifí- cios de escritórios. Os processos de crescimento fomentados pelas grandes empresas envolvidas no sector do imobiliário colidem frequentemente com os interesses dos negócios locais e dos residentes que podem tentar resistir. As pessoas organizam-se em grupos locais para defenderem os seus interesses de residentes. Tais associações podem defender o aumento das áreas protegidas, impedir a construção de novos edifícios em zonas verdes ou em parques, ou exercer pressão para serem publicadas leis de arrendamento mais favoráveis. Tendências no desenvolvimento urbano Ocidental Nesta secção iremos considerar alguns dos principais padrões no desenvolvimento urbano ocidental no 581 AS C I D A D E S E O S E S P A Ç O S U R B A N O S pós-guerra, utilizando os exemplos da Grã-Bretanha e dos Estados-Unidos. A atenção concentrar-se-á no aparecimento dos subúrbios e no declínio dos centros das cidades, no conflito urbano, nas crises financeiras e nas estratégias destinadas à renovação urbana. A suburbanização Alguns convertidos à vida nas grandes cidades olha- ram com desdém para a grande expansão dos subúr- bios, com as suas vivendas semi-separadas e os jar- dins bem arranjados cobrindo as zonas limítrofes das cidades inglesas. Outros, como o poeta John Betje- man, celebraram a excentricidade modesta da arqui- tectura dos subúrbios e o impulso para combinar as oportunidades de emprego da cidade como um modo de vida em termos práticos com a propriedade do emprego e do cano e em termos de valores como a vida familiar tradicional. Muitos subúrbios em torno de Londres cresceram entre as duas guerras e aglomeraram-se entre as novas estradas e ligações efectuadas pelo metropoli- tano que podiam trazer os habitantes dos subúrbios até ao centro. Nos Estados Unidos, o processo da suburbanização atingiu o seu apogeu nos anos 50 e 60. Durante esse período, as zonas centrais das cida- des tiveram uma taxa de crescimento de 10 por cento, enquanto a das áreas suburbanas foi de 48 por cento. A maioria do fluxo em direcção aos subúrbios envol- veu famílias brancas. A imposição da integração racial nas escolas pode ser visto como um factor importante na decisão do abandono dos centros das cidades. A mudança para os subúrbios foi uma opção atractiva para as famílias que preferiam que os seus filhos frequentassem escolas só para brancos. Ainda hoje, os subúrbios americanos continuam a ser pre- dominantemente brancos. Os grupos minoritários constituíam apenas 18 por cento do total da popula- ção suburbana em 1990. Três em quatro afro-ameri- canos continuam a viver nos centros das cidades, em comparação com um em cada quatro dos brancos. Amaioria dos residentes suburbanos negros vive em bairros de maioria negra em cidades-satélite da metrópole. Contudo, a dominação dos brancos nos subúrbios está a desaparecer à medida que cada vez mais mem- bros das minorias raciais e étnicas deixam o centro das cidades. Entre 1980 e 1990 a população suburba- Os habitantes dos subúrbios de Paris fazem as suas via- gens diárias de carro para dentro e para fora dos subúrbios. na negra cresceu cerca de 34,4 por cento, os latinos cerca de 69 3 por cento e os asiáticos 125,9 por cento. E m contrapartida, a população suburbana branca só cresceu 9,2 por cento. Os membros das minorias étni- cas mudaram-se para os subúrbios pelas mesmas razoes daqueles que antes os precederam: melhores condições de habitabilidade, escolas e amenidades. Tal como as pessoas que iniciaram o êxodo para os subúrbios nos anos 50 são, na sua maioria, trabalha- dores da classe média. De acordo com o Presidente da Autoridade para a Habitação de Chicago, 4 a subur- banização já não está relacionada com factores de raça, mas de classe. Ninguém quer ter por perto gente pobre, por causa de todos os problemas que acompa- nham os pobres: escolas pobres, ruas inseguras, ban- dos' (citado em DeWitt , 1994). 582 A S C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S Na Grã-Bretanha, a deslocação da população resi- dencial das áreas centrais da cidade para os subúrbios e cidades-dormitôrio (aglomerados situados fora dos limites da cidade, habitados principalmente por pes- soas que nela trabalham) ou para as aldeias nos anos 70 e início dos anos 80 significou que a população da grande Londres baixou cerca de meio milhão naque- le período. Ao mesmo tempo, muitas cidades mais pequenas cresceram rapidamente - por exemplo, Cambridge, Ipswich, Norwich, Oxford e Leicester. Nas cidades industriais do Norte, a rápida perda da indústria também afectou os centros das cidades, enquanto a população dos subúrbios e das cidades mais pequenas - e a deslocação para sudeste - se expandiu novamente durante o boom económico do final dos anos 90. A decadência dos centros das cidades A 'debandada para os subúrbios' teve consequências dramáticas na saúde e vitalidade tanto dos centros urbanos britânicos, como americanos. A decadência dos centros urbanos que marcou todas as grandes cidades americanas nas últimas décadas é uma con- sequência directa do crescimento dos subúrbios. A deslocação dos grupos mais prósperos para fora das cidades implica uma perda de receitas provenien- tes dos impostos locais. Dado que os que permane- cem, ou os substituem, incluem muitos dos que vivem na pobreza, há poucas hipóteses de substituir essa fonte de rendimentos perdida. Se se aumentam os impostos nos centros das cidades, os grupos mais prósperos e os negócios ainda terão uma maior ten- dência para se mudar para mais longe. Esta situação toma-se mais grave à medida que os edifícios nos centros das cidades se deterioram mais do que os dos subúrbios, e que o índice de criminali- dade e a taxa do desemprego aumentam. Torna-se necessário, por conseguinte, aumentar as despesas com a segurança social, as escolas e a manutenção dos edifícios, a polícia e os bombeiros. Desenvolve- -se um ciclo de deterioração, no qual quanto mais os subúrbios se expandem, maiores são os problemas dos centros citadinos. Em muitas áreas urbanas ame- ricanas, o efeito tem sido terrível - especialmente nas cidades mais antigas como Nova Iorque, Boston ou Washington. E m certos bairros destas cidades, a dete- rioração da propriedade é provavelmente mais grave do que em qualquer dos maiores centros urbanos dos outros países do mundo industrializado. Edifícios de apartamentos decadentes e edifícios ocupados e incendiados alternam com áreas desertas cobertas de lixo. Na Grã-Bretanha, a decadência do centro das cida- des foi menos marcada do que nos Estados Unidos. No entanto, alguns centros urbanos, como, por exem- plo, Liverpool, estão tão delapidados como alguns bairros das cidades americanas. Uma das razões para que tal acontecesse é que a crise financeira afectou muitos centros das cidades na Grã-Bretanha. A partir de finais da década de 70, as autoridades locais foram fortemente pressionadas para limitar os seus orça- mentos e reduzir os serviços locais mesmo nas áreas urbanas mais degradadas. As autoridades tocais que excedessem os orçamentos estabelecidos pelo gover- no nacional podiam ser penalizadas. Isto deu origem a conflitos intensos entre o governo e uma série de conselhos metropolitanos responsáveis por centros de cidade problemáticos quando não conseguiam cumprir os níveis orçamentais estabelecidos. A intro- dução da Poli Tax pelo governo da Mrs. Thatcher afectou ainda mais as finanças das autarquias. Ape- sar da Poli Tax ter sido finalmente abandonada em virtude da forte oposição, muitas autarquias urbanas ficaram com menos rendimentos e foram compeli- das a fazer cortes em serviços tidos por todos como essenciais. O relatório da Igreja de Inglaterra sobre 1985, Fé na Cidade, descreve os centros citadinos em termos sombrios: 'Paredes cinzentas, ruas cobertas de lixo, janelas entaipadas, escritos nas paredes, ruínas e escombros, são tristemente aspectos normais dos dis- tritos e paróquias de que nos ocupamos - as habita- ções do centro são mais antigas do que as outras. Perto de um quarto das casas inglesas foram cons- truídas antes de 1919, mas a proporção nos centros urbanos situa-se entre os 40 e os 60 por cento1 (Igre- ja de Inglaterra, 1985, p. 18). Paul Harrison, ao descrever Hackney, uma das áreas administrativas mais pobres de Londres, retra- tou uma atmosfera de desespero: As forças policiais enfrentam a tarefa virtualmente impossível de manter sob controlo a mistura explosiva que as dinâmicas da sociedade britânica criaram nos centros urbanos. Esta mistura, aquecida pela recessão e 600 A S C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S A morte de um sonho: prédios das autarquias em Londres, construídos como casas modernas para os habitantes, tornaram-se num fixo de descontentamento e de decadência urbana. por um elevado nível de desemprego, gera inevitavel- mente um número elevado de crimes. Este facto obriga a polícia a estar mais presente e com maior número de efectivos do que em áreas com outras características, o que acarreta mais frequentemente contactos desagradá- veis com as pessoas, tidas como suspeitos potenciais, e cria mais oportunidades de erro e abuso policial. (Harri- son, 1983, p .369) O resultado é um círculo vicioso. Os mais despro- vidos não só constituem as maiores vítimas do crime, como têm de lidar com uma presença da polícia muito maior. Por sua vez, um maior número deles dedica-se a actividades criminosas. Em áreas como Hackney, avisou Harrison, está a emergir 'uma socie- dade barricada de autodefesa', marcada também por uma rápida erosão das liberdades civis'. Doenças sociais semelhantes afectam as grandes cidades, tanto nos Estados Unidos como na Grá-Bre- tanha: abuso de drogas, crime e delinquência, desem- prego, sem-abrigo, intolerância racial e étnica, exclu- são social, serviços públicos insuficientes, escolas fracas e tensões entre o cumprimento da lei e os cida- dãos. Por vezes, estas múltiplas desvantagens sobre- pôem-se de tal forma que explodem sob a forma de conflitos e tumultos urbanos abertos. Conflito urbano Numa era da globalização, movimento e rápida mudança, as grandes cidades tomaram-se expressões concentradas e intensificadas dos problemas sociais que afligem a sociedade como um todo. Frequente- mente, as falhas geológicas 'invisíveis' das cidades deram lugar ao equivalente a tremores de terra sociais. Tensões semelhantes sobem à superfície, por vezes de forma violenta, sob a forma detumultos, pilhagens e destruição generalizada. Foi o que aconteceu em Los Angeles, na Primave- ra de 1992, quando eclodiram tumultos em vários locais da cidade. Henry Cisneros, secretário do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano, dirigiu-se à cidade para investigar em pri- meira mão o que estava a acontecer: O que eu vi foi uma cidade com fumo por todo o lado. Cheirava a ferro e plástico queimados. O fumo era tão denso que ofuscava as luzes de um helicóptero que por 584 A S C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S ali sobrevoava. As sirenes disparavam com intervalos de poucos segundos, enquanto equipas de socorro munidas de extintores, protegidas pelos carros patrulha das auto- -estradas da Califórnia - literalmente comboios de vinte veículos, os carros patrulha para protegerem os que combatiam o fogo - corriam de um fogo para outro ... Naquela quinta-feira à noite, Los Angeles era o verda- deiro apocalipse urbano numa espécie de fumaça laran- ja, um assalto a todos os sentidos, pessoas de olhos esbugalhados, tomadas de pânico somente com um som alto ao longe (Cisneros, 1993). Os conflitos urbanos também atingiram as cidades britânicas - em Brixton, em Broadwater Farm em Tottenham, a norte de Londres, onde um polícia foi assassinado, em Oxford, Bristol e outras cidades. Que causas motivam estas tensões e as múltiplas carências a culminar em formas abertas de conflito urbano? U m factor é certamente a pobreza; outro, é a divisão e o antagonismo étnico, em particular entre brancos e negros; um terceiro é o crime; um quarto é simplesmente a insegurança. Inseguranças e incerte- zas emergem dos três primeiros factores, sejam os indivíduos afectados directamente ou não por eles. Tal como no Reino Unido, a pobreza nos Estados Unidos expandiu-se nas duas últimas décadas. Na primeira metade dos anos 90, a proporção da popula- ção a viver abaixo do limiar da pobreza é a maior desde há um quarto de século. Em particular quando origina subclasses privadas, a pobreza separa largos segmentos da população da sociedade mais lata; mui- tos dos grupos mais pobres concentram-se nos cen- tros das cidades que se estão a degradar. O elemento espacial para a exclusão social é claramente perceptí- vel neste caso. Renovação urbana Que abordagem deveriam desenvolver os governos locais, regionais e nacionais para enfrentar os com- plexos problemas que afectam os centros das cida- des? Como pode ser controlada a rápida expansão dos subúrbios para prevenir a erosão das áreas verdes e dos campos? Uma política de renovação urbana é particularmente desafiante porque exige acção simul- tânea em múltiplas frentes. No Reino Unido, por exemplo, foram introduzidos um conjunto de esquemas nacionais - envolvendo, por exemplo, programas de subsídios para a reabili- tação de casas pelos seus proprietários ou incentivos de impostos para atrair os negócios - para reavivar as fortunas dos centros das cidades. O programa do Governo Conservador, Acção paro as Cidades, de 1998, por exemplo, valorizava mais o papel do inves- timento privado e das forças do mercado para gerar desenvolvimento do que a intervenção estatal. Toda- via, a resposta do capital privado revelou-se muito mais fraca do que o previsto. Os estudos realizados indicam que, para além do efeito propagandístico, dar incentivos e esperar que a iniciativa faça o resto, não é uma via eficiente para lidar com os problemas fundamentais da ordem social gerados pelos centros urbanos. H á um conjun- to tão grande de circunstâncias opressivas nos centros das cidades, que a inversão dos processos de declínio é, em qualquer caso, extraordinariamente difícil. As investigações sobre a decadência do centro das cida- des, tal como o relatório Scarman sobre os tumultos de Brixton, em 1981, chamou a atenção para o facto de não existir uma abordagem coordenada dos pro- blemas dos centros urbanos (Scarman, 1982). Sem o aumento da despesa pública - que não é verosímil num futuro próximo - as possibilidades de uma melhoria radical são, na verdade, diminutas (Macgre- gore Pimlott, 1991). E m direcção ao Renascimento Urbano: o relatório da Urban Task Force A renovação urbana não é apenas a recuperação das áreas dos centros da cidade, mas também o desenvol- vimento sustentável das regiões em redor da cidade. As previsões do governo são as de que serão forma- dos mais de 3.8 milhões de lares entre 1996 e 2021. O trânsito automóvel deverá crescer 1/3 nas duas pró- ximas décadas; já a média de deslocações para os tra- balhadores britânicos é 4 0 % mais elevada do que há 20 anos atrás. U m em cada quatro residentes acredita que a sua área se degradou em anos recentes, enquan- to apenas um em dez sente que melhorou (Urban Task Force, 1999). Confrontado com os desafios já existentes em áreas urbanas e suburbanas, como com a promessa de 585 AS C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S maior expansão nos próximos anos, o governo con- verteu a Urban Task Force, sob a chefia do arquitec- to e urbanista Lord Rogers, a fazer recomendações para melhorar a qualidade de vida nas zonas britâni- cas urbanas e rurais. No relatório publicado em Junho de 1999, a Task Force desenhou mais de 100 reco- mendações com a intenção de desenvolver um "renascimento urbano" na Grã-Bretanha. 'Desde a revolução industrial que perdemos a propriedade das nossas vilas e cidades, deixando que elas fossem estragadas por um design pobre, dispersão económi- ca e polarização social', notou a Task Force. Segun- do os autores do relatório, o início do século X X i apresenta três grandes oportunidades para a mudan- ça. A revolução tecnológica produziu novas formas de tecnologia de informação e novos modos de trocar informação; a crescente ameaça ecológica despolo- tou a necessidade de desenvolvimento sustentável; e uma transformação social alargada pode ser sentida num aumento da esperança de vida e o significado das escolhas de vida nas vidas profissionais e pes- soais das pessoas. No seu relatório, a Task Force enfatizou muitos temas-chave essenciais para a protecção contra a ero- são do campo e para a promoção de áreas urbanas saudáveis e vibrantes. Sem os seguintes princípios fundamentais, defendem os autores, existe um perigo real de que as cidades se fragmentem, de que as áreas rurais sejam engolidas e a poluição, o congestiona- mento do trânsito e a degradação social se agravem. • Reciclagem da terra e dos edifícios - Sempre que possível, a construção de novas casas deveria ser feita em terras anteriormente urbanizadas, em vez de em locais verdes. O relatório assinalou que, actualmente, 1.3 milhões de edifícios residenciais e comerciais estavam vazios na Grã-Bretanha. O governo está a projectar 60% de novas casas antecipadas a serem construídas em locais 'reci- clados' (ver abaixo). 9 Melhorar o ambiente urbano - As áreas urbanas existentes têm de ser mais atractivas para que as pessoas decidam viver, trabalhar e socializar nelas. As áreas urbanas deveriam ajudar a desen- volver um sentido de comunidade e de segurança pública. Os bairros devem estar mais bem ligados entre si para encorajar as pessoas a andarem a pé ou de bicicleta ou de transportes públicos. m Atingir a excelência na gestão das áreas locais - U m renascimento urbano dependerá de uma forte liderança política local e de uma participação democrática alargada dos cidadãos. Os residentes deveriam ter um papel crescente nos processos de tomada de decisão. • Desenvolver a regeneração - Deveria ser dado maior poder às autoridades locais e responsabilida- de para identificarem recursos direccionados para a regeneração de longo termo das áreas degradadas. Os fundos públicos deveriam ser utilizados de modo a atrair investimento privadoatravés do mercado. O relatório da Urban Task Force enfatizou que a renovação urbana não pode ser o produto apenas do esforço político. Pelo contrário, exige uma mudança da cultura, competências, crenças e valores pelos políticos, autoridades locais e cidadãos médios. A educação, o debate e a troca de informação serão cruciais em trazer uma 'renovação urbana* (1999). Gentrifícaçâo e i reciclagem urbanay A reciclagem urbana - a renovação de edifícios antigos para novos usos - tomou-se bastante comum nas grandes cidades. Esse processo faz parte, às vezes, de programas de planeamento, mas mais fre- quentemente é o resultado da gentriflcaçao - a reno- vação de edifícios em bairros degradados para serem utilizados por grupos com rendimentos mais eleva- dos, ou para servirem para equipamentos dedicados a servi-los, como lojas e restaurantes. A gentrificação dos centros das cidades teve lugar nas principais cidades da Grã-Bretanha, Estados Uni- dos e Canadá e parece continuar nos próximos anos. Uma das razões é económica e demográfica. Os jovens profissionais escolhem casar e iniciar as suas famílias mais tarde na vida. Porque as suas carreiras exigem muitas vezes longas horas em edifícios de escritórios no centro das cidades, a vida nos subúr- bios toma-se mais um inconveniente do que uma vantagem. Os casais ricos sem filhos têm capacidade para pagar rendas elevadas em áreas centrais das cidades recuperadas e podem preferir construir esti- los de vida em torno de opções culturais, culinárias e de entretenimento de elevada qualidade aí disponí- veis. Os casais mais velhos cujos filhos deixaram a casa também podem ser tentados a regressar ao cen- tro das cidades pelas mesmas razões. 5 8 6 A S CIDADES E OS E S P A Ç O S U R B A N O S Docklands: renovação urbana ou desastre urbano? O exemplo mais importante deste facto é represen- tado pela renovação da área das Docas, em Lon- dres. Estaremos perante um caso único de sucesso em matéria de regeneração urbana, ou diante de um desastre mais ou menos completo? Cada um destes pontos de vista tem os seus defensores, embora todos concordem com o facto de o progresso do pro- cesso de rejuvenescimento das Docas ser menor do que o esperado pelos seus defensores, desde o momento e m que a economia entrou em recessão. A área das Docas ocupa cerca de oito milhas qua- dradas e meia (1.360 hectares) do território Leste de Londres junto ao Tamisa, que deixou de ter funções económicas devido ao encerramento das Docas e ao declínio industrial; Procíamou-se que este pro- cesso representava la maior área de renovação imo- biliária da Europa Ocidental' e 'a maior oportunidade desde o Fogo de Londres'. As Docas estão próximas do distrito financeiro da City de Londres, mas também estão próximas das áreas pobres da classe trabalhadora no outro lado. A partir dos anos sessenta houve batalhas internas - que prosseguem - acerca do futuro da área. Muitos habitantes ou vizinhos das Docas preferiam uma renovação levada a cabo através de projectos de desenvolvimento da comunidade, que protegesse os interesses dos residentes mais pobres. Entretanto, com a criação da Empresa de Desenvolvimento das Docas em 1981, a região tornou-se num elemento central da estratégia para encorajar a iniciativa priva- da a desempenhar o papel principal no rejuvenesci- mento urbano, que já mencionámos. Hoje em dia, a área é nítida e visivelmente dife» rente dos bairros empobrecidos que a ladeiam. Abundam os edifícios modernos, por vezes de uma arquitectura aventurosa. Converteram-se armazéns em apartamentos de luxo e construíram-se novos blocos. Ediftcou-se um grande complexo de escritó- rios em Canary Wharf. Contudo, no meio do brilho, há edifícios degradados e terrenos abandonados. O espaço destinado a escritórios continua frequen- temente vazio, o mesmo acontecendo a algumas das novas habitações que vieram a revelar-se inven- dáveis aos preços estabelecidos. A zona das Docas possui algumas das habitações mais pobres do país, mas as pessoas que aí vivem pouco beneficia- ram da construção à sua votta. Ofereceu-se um bom número de casas "acessíveis". Porém, só uma pequena proporção dos residentes locais, as queria comprar ou podia fà2ê-lo. Uma história única de sucesso na regeneração urbana ou um desastre mais ou menos completo? Cada uma das visões tem U m factor que promove a gentríficaçâo nos Esta- dos Unidos é a queda das taxas de criminalidade. Desde 1991, a incidência do crime violento caiu uma média de 34% nas dez maiores cidades norte-ameri- canas. Apesar da lei da 'tolerância zero* e das políti- cas de ordem favorecidas por muitas cidades norte- -americanas - de forma mais proeminente em Nova Iorque - terem sido severamente criticadas por serem racistas, arbitrárias e muito duras, produziram indu- bitavelmente centros de cidades menos perigosos. Finalmente, o perfil económico da nova economia do conhecimento é muito favorável aos centros das cidades. Muitas empresas envolvidas na tecnologia, comunicações, publicidade e marketing, localizaram- -se em distritos de negócios centrais. Um crescente número de empresas que se estão a expandir neste domínio escolhem implantar-se no centro das cidades em vez de nos subúrbios. Auto-estradas congestiona- das e longas horas de viagem tornaram-se um modo de vida para muitos habitantes dos subúrbios; existem evidências que um crescente número de trabalhadores na nova economia pode escolher quebrar este padrão, vivendo e trabalhando nos centros das cidades. Em Londres, as Docklands foram um notável exemplo de 'reciclagem urbana' (ver caixa). Nos Estados Unidos, os construtores compram armazéns industriais em cidades, de Milwaukee a Filadélfia, e convertem-nos em caros lofts residenciais e estúdios. 587 A S C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S A criação de espaços públicos interessantes nos cen- tros urbanos degradados de Baltimore a Pittsburgh foi anunciada como triunfo da renovação urbana. Contudo, é difícil conciliar a degradação que conti- nua nos bairros a pouca distância destes centros revi- talizados. Richard Senett, no seu livro acerca da história da cidade, The Conscience of the Eye (1993), argumen- ta contra projectos de desenvolvimento como os das Docas e afirma que os urbanistas deveriam efectuar tentativas para preservar, o que designa como a 'cida- de humana' ou para regressar à mesma. Os enormes edifícios impessoais em muitas cidades voltam as pessoas para si mesmas tomando-as distantes umas das outras. Mas as cidades podem voltar as pessoas para o exterior, colocando-as em contacto com uma variedade de culturas e de modos de vida. Devería- mos tentar criar ruas que não se limitassem a ser seguras mas que fossem também 'cheias de vida', de um modo contrário ao que 'as artérias do tráfego, apesar de todo o seu movimento de veículos o não são9. A zona comercial suburbana com os seus pas- seios e lojas uniformizados está tão distante da 'cida- de humana' como a auto-estrada. Deveríamos inspi- rar-nos nas áreas antigas das cidades, como as que se encontram em muitos centros das cidades italianas, que são à escala humana e misturam a diversidade com a elegância do seu desenho. O ^ N A ^ Q t d) 9 A ^ A (D II) t A ri A W © ® • ® - * . < • . . . in o cg Ê * 0) Q> e .o 03 1 w I 1 ai • g ^ <0 if> * '5 Í M c ^ l $ & 1 5 3 « 2 (í> <S « w c <0 o "8 (A S l i a> g I I CJ I I £ A S C Í D A O E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S 5 8 9 Urbanizaçao no mundo em desenvolvimento A população urbana mundial poderia atingir os 2.5 biliões de pessoas em 2025. Segundo algumas esti- mativas, 4 milhões destes habitantes urbanos serão residentes das cidades nos paísesem desenvolvimen- to. Como mostra o mapa das 'megacidades* (vide figura 18.2), a maioria das 36 cidades projectadas para terem mais de 8 milhões de residentes em 2015 localizam-se nos países em desenvolvimento.. Manuel Castells refere-se às megacidades como uma das principais características da urbanização do terceiro milénio (1996). Não se definem apenas pelo seu tamanho - apesar de ser uma vasta aglomeração de pessoas - mas também pelo seu papel como pon- tos de ligação entre populações humanas enormes e a economia global. As megacidades são bolsas concen- tradas de actividade através das quais fluem a políti- ca, os media, as comunicações, as finanças e a pro- dução. Segundo Castells, as cidades funcionam como imanes para os países ou regiões em que estão locali- zadas. As pessoas são aiTastadas para as grandes regiões urbanas por vários motivos; nas megacidades estão tanto aqueles que conseguem perfurar no siste- ma global, como os que não conseguem. Para além de servirem xomo nós na economia global as mega- cidades também se tornam em 'depositários de todos os segmentos da população que lutam para sobrevi- ver ' (1996: 404). Porque é que a taxa de crescimento urbano nas regiões menos desenvolvidas do mundo é muito mais elevada do que em qualquer outro lugar? Têm de ser tomados em conta dois factores em particular. Em primeiro lugar, as taxas de crescimento populacional são maiores nos países em desenvolvimento do que nas nações industrializadas (vide capítulo 19, 'Cres- cimento populacional e crise ecológica*). O cresci- mento urbano é estimulado pelas elevadas taxas de fertilidade entre as pessoas que já vivem nas cidades. E m segundo lugar, existe uma migração interna muito dessiminada das zonas rurais para as zonas urbanas - como no caso da megacidade em desen- volvimento de Hong Kong - Guangdong acima men- cionada. As pessoas são arrastadas para as cidades no mundo em desenvolvimento motivadas tanto porque os seus sistemas tradicionais de produção rural se desintegraram como porque as áreas urbanas ofere- cem maiores oportunidades de trabalho. A pobreza rural impele muita gente a tentar a sua sorte na vida da cidade. Podem ter a intenção de migrarem para a cidade apenas por um curto período de tempo, que- rendo regressar às suas aldeias depois de terem ganho dinheiro suficiente. Alguns regressam, mas a maioria é forçada a ficar, tendo, por um ou outro motivo, per- dido a sua posição nas suas comunidades de origem. Desafios da urbanização no mundo em desenvolvimento Implicações económicas A medida que um número crescente de agricultores e trabalhadores desqualificados imigra para os centros urbanos, a economia formal luta, muitas vezes, para absorver este fluxo como força de trabalho. Na maio- ria das cidades no mundo em desenvolvimento, é a economia informal que permite aos que não conse- guem encontrar trabalho sobreviverem. Do trabalho ocasional nas fábricas às actividades de comércio de pequena escala, o sector informal não regulamentado oferece oportunidades de ganhar a vida aos trabalha- dores pobres e sem formação. As oportunidades geradas pela economia informal são uma importante ajuda para milhares de famílias a sobreviverem em condições urbanas, mas também têm aspectos problemáticos. A economia informal não tem impostos e não é regulada. Também é menos produtiva do que a economia formal. Os países onde a actividade económica se concentra neste sector falham na recolha das muito necessárias receitas através dos impostos. O baixo nível de produtividade também afecta a economia em geral - o volume de PIB gerado pela actividade económica informal é muito mais baixo do que a percentagem da população envolvida no sector. A O C D E estima que serão necessários mil milhões de novos empregos até 2025 para sustentar os cresci- mento estimado da população das cidades do mundo em crescimento. É pouco provável que todos estes empregos sejam criados na economia formal. Alguns analistas do desenvolvimento são da opinião de que deveria ser prestada atenção à formalização ou regu- lação da economia informal, onde muito do 'excesso' da força de trabalho é provável que se concentre nos próximos anos. 5 9 0 A S C I D A D E S E O S E S P A Ç O S U R B A N O S A construção de ume megacidade Na Ásia, está a formar-se presentemente um dos maiores aglomerados urbanos da história, numa área de 50.000 quilómetros quadrados que vão de Hong Kòng até à China, o Delta do Rio das Pérolas d Macau (vide figura 18.3). Apesar de a região não ter um nome formal ou estrutura administrativa, em 1995 já tinha atingido tima população de 50 milhões de pessoas. Segundo Manuel Castells, perspectiva- •se que venha a ser um dos centros industrias, de negócios e culturais mais significativos do século. Castells aponta vários factores que se inter-rela- cíonam para ajudar a explicar a emergência desta enorme conurbaçãa Em primeiro lugar, a China está a passar por uma transformação económica e Hong Kong é um dos pontos nodais que liga a China à economia global. Em segundo lugar, o papel de Hong Kong como centro global, financeiro e de negócios, tem crescido à medida que a sua economia se está a afastar da produção de bens para a produção de serviços. Por fim, entre a segun- da metade dos anos 60 e dos anos 90, os empre- sários de Hong Kong Iniciaram um processo dramá- tico de industrialização no Delta do Rio das Pérolas. Mais de 6 milhões de pessoas trabalhavam em 20.000fábricas e em 10.000 empresas. O resultado destes processos sobrepostos foi o de uma 'explo- são urbana sem precedentes1 (Castells, 1996). r * " + ^ « - x i ' ' , < < * s < 7< " 4 i ' QOflPBhut:^ív.^i> vr * r * • -• - " ^ frtffrti''-•' - 1 v ^ ' - •m Í Figure 18.3 A megacidade de Hong Kong-Guar>gdong Fontes: M.Castells, The Rise òf the Network Sodety, Blacfcwell, 1996. De J. Borja e M. Castells, Local and Global, Earthscan. 1997. 591 AS C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S Os desafios do ambiente A rápida expansão das áreas urbanas no mundo em desenvolvimento difere de forma dramática das cida- des no mundo industrializado. Apesar de todas as cidades enfrentarem problemas ambientais, as dos países em desenvolvimento confrontam-se com ris- cos particularmente severos. Poluição, falta de habi- tação, saneamento inadequado e reservas de água pouco seguras são problemas crónicos para as cida- des nos países menos desenvolvidos. O alojamento é um dos problemas mais agudos em muitas áreas urbanas. As cidades, como Calcutá e São Paulo, estão muito congestionadas; a taxa de imi- gração interna é muito elevada para a oferta de habi- tação existente. Os imigrantes aglomeram-se em zonas ocupadas que proliferam como cogumelos nas orlas das cidades. Nas áreas urbanas do Ocidente, os recém-chegados estabelecem-se normalmente perto dos centros das cidades, mas o inverso tende a acon- tecer nos países em desenvolvimento, onde os emi- grantes povoam o que tem sido designado como a 'franja séptica' das áreas urbanas. Barracas feitas de fibra de cânhamo e juta ou de cartão, montam-se na periferia das cidades, onde quer que haja um pouco de espaço. Em São P^ulo, estima-se que houve uma quebra de 5.4 milhões de casas habitáveis em 1996. Alguns investigadores estimam que esta quebra se eleva aos 20 milhões, se a definição de 'casas habitáveis' for interpretada de forma mais estrita. Desde 1980 o défice crónico da habitação em São Paulo produziu uma onda de 'ocupações* não oficiais de edifícios vazios. Grupos de famílias sem casa iniciaram 'ocu- pações em massa' em hotéis abandonados, escritórios e edifícios do governo. Muitas famílias acreditam que é melhor partilhar uma cozinha e uma casa de banho com centenas de outras famílias do queviver nas ruas ou nas favelas, em bairros de lata improvi- sados às portas da cidade. Os governos urbanos e regionais nos países menos desenvolvidos são muito pressionados para acompa- nharem a procura em espiral de habitação. Em cida- des como São Paulo, as autoridades de habitação e os governos locais discordam sobre como enfrentar o problema da habitação. Alguns argumentam que a estrada mais realizável é a de melhorar as condições nas favelas - fornecer electricidade e água corrente, pavimentar as ruas e atribuir endereços postais. Outros temem que os bairros de lata improvisados sejam fundamentalmente inabitáveis e deveriam ser demolidos para darem lugar a habitação própria para as famílias pobres. O congestionamento e o sobrede sen volvi mento nos centros das cidades deu lugar a sérios problemas ambientais em muitas áreas urbanas. A Cidade do México é disso um importante exemplo. Noventa e quatro por cento da Cidade do México consiste em áreas construídas, com apenas 6 por cento de terra náo construída. O número de 'espaços verdes' - par- ques e espaços abertos de terra verde - é muito infe- rior ao encontrado nas cidades norte-americanas ou europeias mais populosas. A poluição é o maior pro- blema, originada principalmente pelos carros, auto- carros e camiões que se amontoam nas ruas inade- quadas das cidades, derivando o resto de poluentes industriais. Estima-se que viver na Cidade do Méxi - co é o equivalente a fumar 40 cigarros por dia. Em Março de 1992 a poluição atingiu o maior nível. Onde um nível de ozono de cerca de menos 100 pon- tos foi considerado 'satisfatório* para a saúde, naque- le mês o nível subiu para os 398 pontos. O governo teve que obrigar algumas fábricas a fechar durante algum tempo, as escolas fecharam e 40 por cento de carros foram proibidos de circular na cidade. Efeitos sociais Muitas áreas urbanas nos países em desenvolvimento estão sobrelotadas e sem reservas. A pobreza está dis- seminada e os serviços sociais existentes não conse- guem ir ao encontro das necessidades de assistência médica, de aconselhamento do planeamento familiar, educação e formação. O desequilíbrio da distribuição das faixas etárias nos países em desenvolvimento ajuda às suas dificuldades económicas e sociais. Comparado com os países industrializados, um número muito maior da população no mundo em desenvolvimento tem idade inferior aos quinze anos. Uma população jovem necessita de apoios e de edu- cação e, durante este período, os jovens não são membros economicamente produtivos. Mas muitos países em desenvolvimento têm falta de recursos que lhes permitam fornecer uma educação universal. Quando as suas famílias são pobres, muitas crianças têm de trabalhar a tempo inteiro ou têm de tentar 5 9 2 A S C I D A D E S E O S E S P A Ç O S U R B A N O S A pobreza e a prosperidade que coexistem em cidades como o Rio de Janeiro são evidentes no ambiente construído e nas construções improvisadas. sobreviver nas ruas, mendigando o que poderem. Quando as crianças de rua crescem, muitas delas tor- nam-se sem-abrigo ou desempregadas, ou ambas as coisas. O futuro da urbanização no mundo em desenvolvimento Ao considerar o objectivo dos desafios que enfrentam as áreas urbanas nos países em desenvolvimento, pode ser difícil perspectivar a mudança e o desenvol- vimento. As condições de vida em muitas das maio- res cidades do mundo parecem declinar mais nos pró- ximos anos. Mas o quadro nâo é de todo negativo. Em primeiro lugar, apesar de, em muitos países, as taxas de natalidade continuarem elevadas, têm uma grande probabilidade de decrescerem nos próximos anos à medida que a urbanização aumenta. Este facto, por sua vez, concretizar-se-á num decréscimo gra- dual na própria taxa de urbanização. Na África Oci- dental, por exemplo, a taxa de urbanização deveria decair para 4,2 por cento por ano por volta de 2020, abaixo de uma taxa de crescimento anua) de 6 3 por cento nas últimas três décadas. E m segundo lugar, a globalização apresenta importantes oportunidades para as áreas urbanas nos países em desenvolvimento. Com a integração eco- nómica, as cidades em torno do mundo podem entrar nos mercados internacionais, podem promover-se como locais para o investimento e desenvolvimento e podem criar ligações económicas através das frontei- ras dos Estados-Nação. A globalização apresenta uma das aberturas mais dinâmicas para que os centros urbanos em crescimento se tornem em importantes forças no desenvolvimento económico e na inovação. De facto, muitas cidades no mundo em desenvolvi- mento já se estão a juntar às listas das 'cidades glo- bais* do mundo, como veremos brevemente. 593 AS C I D A D E S E OS E S P A Ç O S U R B A N O S As cidades e a globalização Nos tempos pré-modernos, as cidades eram entidades autodelimitadas que se mantinham afastadas das áreas predominantemente rurais em que se localiza- vam. Os sistemas rodoviários uniam, por vezes, as áreas urbanas mais importantes, mas viajar era uma actividade característica de mercadores, soldados e outros que precisavam de atravessar distâncias com alguma regularidade. A comunicação entre as cidades era limitada. No início do século X X I , o quadro é muito diferente. A globalização teve um efeito pro- fundo nas cidades tornando-as mais interdependentes e encorajando a proliferação de ligações horizontais entre as cidades através das fronteiras nacionais. No presente, os laços físicos e virtuais entre as cidades abundam e estão a emergir redes globais de cidades. Algumas pessoas previram que a globalização e as novas tecnologias da comunicação poderão conduzir ao desaparecimento das cidades tal como as conhece- mos. Isto acontece, porque muitas das funções tradi- cionais das cidades podem agora ser desenvolvidas no ciber-espaço em vez de o serem nas densas e con- gestionadas áreas urbanas. Por exemplo, os mercados financeiros tornaram-se electrónicos, o comércio eléctronico reduz a necessidade de tanto produtores como consumidores se sediarem no centro das cida- des e as 'trocas electrónicas'permitem que um núme- ro crescente de empregados trabalhem a partir de casa em vez de num edifício de escritórios. Contudo, até aí, estas previsões não se esgotaram. Em vez de conduzir ao desaparecimento das cidades, a globalização está a transformá-las em centros vitais na economia global. Os centros urbanos tornaram-se fundamentais na coordenação dos fluxos de informa- ção, na gestão das actividades de negócio e em novos serviços e tecnologias inovadoras. Assistimos a uma dispersão e concentração simultâneas de actividade e poder num conjunto de cidades em torno do globo (Castells, 1996). As cidades globais O papel das cidades na nova ordem global tem atraí- do a atenção dos sociólogos. A globalização é muitas vezes pensada em termos de dualidade entre o nível nacional e o global. Contudo, são as maiores cidades do mundo que compreendem os principais circuitos através dos quais ocorre a globalização (Sassen, 1998). O funcionamento da nova economia global depende de um conjunto de localizações centrais com infraestruturas de informação desenvolvidas e com uma 'hiperconcentração* de serviços. É nestes locais que o 'trabalho* da globalização é efectuado e dirigi- do. À medida que os negócios, a produção, a publici- dade e o marketing assumem uma escala global, exis- te uma enorme quantidade de actividade organizativa que tem de ser feita de modo a manter e a desenvol- ver estas redes globais. Saskia Sassen foi uma das principais contribuidoras para o debate sobre as cidades e a globalização. Utili- za o termo cidade global para se referir aos centros urbanos que são a sede de grandes empresas transna- cionais e de uma superabundante oferta de serviços
Compartilhar