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TRATADOS INTERNACIONAIS DE BITRIBUTAÇÃO: FORMAS E APLICAÇÕES EM RAZÃO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS TÉCNICOS Laboratório de Direito Público Professor Hélcio de Abreu Dallari Júnior São Paulo 2019 1. Os tratados de bitributação No mundo globalizado de hoje, os tratados internacionais representam a principal medida bilateral capaz de atenuar ou evitar a bitributação internacional, que constitui verdadeira contraposição ao desenvolvimento das relações econômicas internacionais, visto que desencoraja as empresas a diversificarem seus investimentos e impede atração de investimentos estrangeiros. A interdependência econômica existente entre os países e a grande quantidade de investimentos estrangeiros em todo o mundo, torna necessária a adoção de medidas políticas internacionais eficientes em matéria tributária, as quais objetivam o fim dos problemas relacionados à bitributação, bem como a atração de mais investimentos estrangeiros. Por meio de tratados internacionais, os Estados participantes podem delimitar suas respectivas competências tributárias, estabelecendo os limites dentro dos quais podem aplicar o seu ordenamento jurídico interno para evitar o fenômeno da bitributação. Além disso, os tratados internacionais para evitar a bitributação estão vinculados a alguns objetivos, que seriam: (i) proteção ao contribuinte contra a bitributação internacional; (ii) prevenção contra o desestímulo aos investimentos em razão da grande tributária; (iii) proteção do contribuinte contra qualquer tipo de discriminação; (iv) estreitamento das relações e maior cooperação entre os países em matéria tributária. Assim sendo, os tratados internacionais para evitar a bitributação têm papel fundamental no desenvolvimento das relações econômicas internacionais, visto que estabelecem uma garantia ao investidor do tratamento fiscal que encontrará no país estrangeiro, como também formam um canal de incentivo de investimentos entre os Estados signatários. 2. Histórico dos tratados de bitributação A liga das nações abriu as portas para os estudos sobre a eliminação da dupla tributação internacional, em 1921, o que resultou no primeiro modelo de Convenção bilateral, em 1928. Este modelo serviu como base para a Convenção Modelo do México, de 1943, e de Londres, de 1946. 1 A participação da ONU nos estudos sobre tratados internacionais, o que incluiria tratados de bitributação, começou em 1967, quando a Resolução nº 1273 determinou a criação do Grupo Ad Hoc de Peritos em Tratados Internacionais entre Países Desenvolvidos e em Desenvolvimento, que tinha como meta promover e facilitar a celebração de tratados entre estes países. Assim sendo, após mais de dez anos de estudo, em 1980, foi publicado o primeiro modelo de convenção da ONU. Este grupo mencionado é o que se chama hoje de Comitê de Peritos sobre Cooperação Internacional em Matéria Tributária. Entretanto, hoje em dia, o modelo da ONU possui pouca influência em matéria tributária, tendo em vista a falta de recursos do Comitê. Sendo assim, a ONU têm se limitado à apenas atualizar seu modelo de tratado, usando como base os fundamentos do modelo OCDE. 2 Em 1969, foi aprovada a Convenção de Viena Sobre o Direito dos Tratados, que visava criar “regras” que facilitariam a correta interpretação e aplicação dos tratados. Assim sendo, em seus artigos 31 a 33, estabeleceu-se a “única e combinada operação de interpretação, ou seja, os textos dos tratados internacionais devem direcionar à interpretação ao objetivo e propósito do tratado, evitando interpretações extremas tanto para o lado literal quanto para o lado teleológico. 3 Neste sentido, Richard K. Gardiner, ao analisar estes artigos, apresenta uma “fórmula” de interpretação prevista pela Convenção de Viena, onde (1) literal, (2) teleológica e (3) subjetiva, formal a seguinte equação: “(1) + (2) = (3), 1 Ladeira Ávila, Marcio. As convenções Brasileiras Contra a Dupla Tributação Firmadas com Países Desenvolvidos e o Direito ao Desenvolvimento. 2010. 2 Ladeira Ávila, Marcio. As convenções Brasileiras Contra a Dupla Tributação Firmadas com Países Desenvolvidos e o Direito ao Desenvolvimento. 2010. 3 Neto, Luís Flávio. Os “Contextos” na Interpretação e Aplicação de Acordos de Bitributação. Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. 2015. ou seja, para se chegar no objetivo do tratado, deve-se conciliar (somar) a interpretação teleológica e a interpretação subjetiva, não chegando à seus extremos. 4 Além disso, o artigo 31 da Convenção de Viena indica que os tratados devem ser interpretados de boa-fé, ou seja, não se pode utilizar de uma interpretação diferente ao objetivo do tratado para que, assim, obtenha-se vantagem indevida. Assim sendo, no contexto dos tratados internacionais de bitributação, entende-se que a interpretação de tais tratados deve ser feita observando, sempre, o objetivo principal dos tratados, que é evitar a dupla tributação de renda e do capital, ou seja, o interprete não pode se valer destes tratados para, por exemplo, não ter qualquer tributação sobre sua renda ou seu capital, como muitas vezes se observa e será melhor aprofundado mais à frente. A partir de 1964, com o início da ditadura e novas políticas econômicas, houve, também, a abertura da economia ao exterior. Neste sentido, o brasil abriu as portas para assinatura de tratados internacionais de bitributação em 1967, quando acordou com o Japão seu primeiro tratado de matéria tributária. Desde então, o Brasil assinou mais 33 tratados com diferentes países, sem contar os tratados que ainda estão em trâmite interno, como o tratado com Singapura. 3. Elaboração dos Tratados internacionais A celebração dos tratados internacionais possui três fases: a fase preparatória, a fase constitutiva e a fase integrativa de eficácia. A primeira delas, a fase preparatória, se inicia com a negociação do tratado entre os países. Esta fase costuma ser mais ágil, visto que se segue modelos pré-definidos, sendo necessário apenas negociar eventuais métodos alternativos de aplicação e alíquotas. No caso de alíquotas, muitas vezes esta acaba tendo diferença de tratados para tratados, por exemplo, há tratados em que a alíquota máxima de 4 Gardiner, Richard K. Internacional Law. Pearson: Harlaw, 2003, p 80-81. Imposto de Renda na Fonte na remessa de valores referentes à Royalties é de 15%, sendo que em outros, essa alíquota máxima cai para 10%. Após negociação do texto do tratado, as partes devem rubricar o texto acordado, fazendo referência à sua aceitação e intenção de formular o acordo, finalizando-se, assim, a primeira fase. Já a segunda fase, a fase constitutiva, é o momento em que se inicia os trâmites legais em território nacional, ou seja, o tratado será encaminhado ao congresso nacional, que fará a análise do tratado e votará a aprovação deste. Após aprovação, o presidente deve ratificar o tratado, encerrando-se a segunda fase. A última fase, fase integrativa de eficácia, nada mais é do que a promulgação, sendo este o decreto do presidente, e a publicação deste decreto no Diário Oficial, tornando-o público e eficaz.5 5 Da Hora Lopes, Fernando José. Tratados internacionais para evitar a bitributação no Direito Brasileiro. Disponível em: https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/4537/Tratados-internacionais-para-evitar- a-bitributacao-no-Direito-Brasileiro. Acesso em:08 jan 2019.
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