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CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 1 AULA 11: NACIONALIDADE, DIREITOS POLÍTICOS E PARTIDOS POLÍTICOS I. NACIONALIDADE 1) INTRODUÇÃO Na lição de Alexandre do Moraes: Nacionalidade é o vínculo jurídico político que liga um indivíduo a um certo e determinado Estado, fazendo deste indivíduo um componente do povo, da dimensão pessoal deste Estado, capacitando-o para exigir sua proteção e sujeitando-o ao cumprimento dos deveres impostos. A Constituição trata da matéria nos art. 12 e 13, que correspondem ao Capitulo III do Título II da Carta – Dos Direitos e Garantias Fundamentais. É, este, portanto, nosso objeto de estudo nesse capitulo. Antes, entretanto, temos que apresentar alguns conceitos aplicáveis direta ou indiretamente à matéria. Estado é um ente político soberano, uma pessoa jurídica de direito público internacional, apta a travar relações com outros entes igualmente soberanos – outros Estados -, e tendo como elementos de composição, além da soberania, o povo, o governo e o território. Nação é o agrupamento humano composto por todas as pessoas que falam a mesma língua e possuem em comum os mesmos laços históricos e culturais, seja qual for o território no qual se encontrem. Segundo Gabriel Dezen Junior, o conceito de nação (...) resulta da associação de indivíduos de igual origem étnica, que falam a mesma língua, vinculam-se aos mesmos precedentes históricos, cultuam e preservam os usos, costumes, peculiaridades, tradições e sentimentos religiosos e ideológicos comuns. Povo é o conjunto dos nacionais que se encontram em determinado território. É o elemento humano do Estado. População é o conjunto de pessoas que se encontram, em certo momento, em determinado território, tenham ou não os mesmos traços lingüísticos históricos e culturais, ou seja, integrem elas ou não uma mesma nação. É conceito, pois, que compreende a totalidade dos nacionais e estrangeiros que em dado momento localizam-se em certo território. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 2 Nacionalidade é conceito que pode ser compreendido em dois sentidos, o sociológico e o jurídico. Em sentido sociológico, identifica-se com o conjunto dos membros de uma nação; em sentido jurídico, indica os indivíduos que integram um mesmo Estado. No sentido jurídico, que é o que nos importa, Alexandre de Moraes define a nacionalidade como o vínculo jurídico político que liga um indivíduo a um certo e determinado Estado, fazendo deste indivíduo um componente do povo, da dimensão pessoal deste Estado, capacitando-o para exigir sua proteção e sujeitando-o ao cumprimento dos deveres impostos. É indispensável à organização de cada Estado a precisa indicação de seus nacionais, sendo este justamente o objeto do art. 12 da Constituição Federal. Desse modo, nacionais são todos os indivíduos assim definidos pelo ordenamento jurídico de um Estado, e por isso a ele ligados por um vínculo especial, que os identifica como integrantes da sua dimensão pessoal. Por contraposição, estrangeiros são todos aqueles que o ordenamento jurídico estatal não qualifica com a condição de nacional. Como assevera Vicente Paulo: Cada Estado é livre para dizer quais são os seus nacionais. Serão nacionais de um Estado, portanto, aqueles que o seu Direito definir como tais; os demais serão estrangeiros: todos aqueles que não são tidos por nacionais, em face de um determinado Estado são, perante este, estrangeiros. Cidadão corresponde ao nacional, nato ou naturalizado no gozo de seus direitos políticos. Trata-se do indivíduo que, além do fato de ser nacional de um Estado, está apto a participar ativamente na sua vida política. Devemos notar que a nacionalidade é conceito mais abrangente que o de cidadania, constituindo-se como requisito desta: apenas o nacional pode ser cidadão, mas nem todo nacional é cidadão, uma vez que apenas aqueles que estiverem no pleno gozo de seus direitos políticos ostentam tal condição. Naturalidade é conceito que indica o local de nascimento de uma pessoa, a localidade, a região onde ela nasceu. Trata-se de um conceito eminentemente geográfico, fixado definitivamente no instante do nascimento do indivíduo. Não se confunde com a nacionalidade, que representa um vinculo jurídico, regulado em cada Estado pelas regras postas em seu ordenamento. Um individuo pode nascer numa localidade integrante do território de certo Estado e ser nacional de outro. 2) ESPÉCIES DE NACIONALIDADE E CRITÉRIOS PARA SUA AQUISIÇÃO DA NACIONALIDADE PRIMÁRIA A nacionalidade primária ou originária, na tradicional definição doutrinária, é aquela que decorre de um fato natural, o nascimento da pessoa. Esta, independentemente de qualquer manifestação de vontade, adquire certa nacionalidade desde seu nascimento, a partir de critério territorial (local de nascimento), sangüíneo (nacionalidade dos pais) ou misto, como analisaremos adiante. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 3 Essa modalidade de nacionalidade é, assim, adquirida de modo involuntário, pois é outorgada ao indivíduo desde seu nascimento, embora eventualmente dependa de um ato posterior seu, como veremos ao analisarmos as normas sobre a matéria prescritas na Constituição. Dois são os critérios passíveis de adoção para a outorga da nacionalidade primária, ambos incidentes a partir do nascimento do indivíduo: o ius sanguinis e o ius solis. O ius sanguinis – origem sanguínea - baseia-se na nacionalidade dos pais. Por tal critério, o indivíduo filho de pais nacionais é também nacional, qualquer que seja o local de seu nascimento. Esse critério é geralmente adotado por países de emigração, como a maioria dos países da Europa, a fim de conservar o vínculo com os descendentes de seus nacionais. O ius solis – origem territorial - funda-se no local de nascimento. Segundo tal critério, o indivíduo nascido no território de certo Estado é seu nacional, qualquer que seja a nacionalidade de seus pais. Esse é o critério geralmente adotado pelos países de imigração, como os países da América Latina, a fim de que os descendentes dos imigrantes tornem-se seus nacionais, embora seus pais sejam estrangeiros (apesar de poderem vir a adquirir a nacionalidade secundária). Nossa Constituição adotou como regra geral o segundo desses critérios – o ius solis - , mas não de forma exclusiva, pois prevê hipóteses de aquisição da nacionalidade primária com base no critério do ius sanguinis, aliado a outros requisitos, conforme o caso. Ademais, como ressalta Alexandre de Moraes, a aplicação deste critério exige sempre uma relação de contemporaneidade, no sentido de que, para que seu filho seja considerado brasileiro, os ascendentes devem ser brasileiros natos ou naturalizados à época do seu nascimento, irrelevante o fato de eventualmente terem ostentado a condição de estrangeiros antes do nascimento ou a ela tornarem após esse evento. A nacionalidade secundária ou adquirida, por sua vez, é aquela que o indivíduo obtém após seu nascimento (geralmente, pela naturalização), em regra mediante um ato de manifestação de vontade. Trata-se, pois, de um modo voluntário de aquisição da nacionalidade, pois pressupõe a expressa opção do indivíduo, aliada à anuência do Estado onde ela foi formulada. A adoção de um ou outro dos critérios de aquisição da nacionalidade originária pelos diferentes Estados gera as figuras do polipátrida e do apátrida ou heimatlos. Polipátrida é termo que indica a condição do indivíduo que, em virtude de seu nascimento, possui mais de uma nacionalidade.Como a cada Estado cabe soberanamente definir as regras para a aquisição da nacionalidade, eventualmente, poderá uma mesma pessoa ser qualificada como nacional segundo as regras de dois ou mais Estados. A tal pessoa denomina-se, pois, polipátrida. Isso ocorre com os descendentes da pais cujo Estado adota o critério do ius sanguinis, quando nascem em um Estado que adota o critério do ius solis. No Brasil, tal situação aplica-se aos descendentes de italianos nascidos em nosso território, desde que um de seus pais não esteja na ocasião à serviço da Itália. Pelo critério principal acolhido no Brasil – o ius solis – os CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 4 descendentes dos italianos são brasileiros natos, por terem nascidos em nosso País. Pelo critério adotado na Itália – o ius sanguinis – os descendentes dos italianos também são italianos natos, já que seus pais são nacionais daquele País. Apátrida ou heimatlos é a pessoa que se encontra em situação oposta, que não se enquadra, em virtude do seu local de nascimento, nas regras de aquisição da nacionalidade originária de nenhum Estado. É, pois, um indivíduo não considerado nacional primário de nenhum Estado. Isso se aplica àqueles que nascem em países que adotam o critério do ius sanguinis, quando seus ascendentes são estrangeiros em relação a este País e o Estado do qual são nacionais acolhe o critério do ius solis. Não serão nacionais do País em nasceram, porque nele adota-se o critério do ius sanguinis, e seus ascendentes são estrangeiros em relação a ele; nem serão nacionais do País de seus ascendentes, já que nele se adota o ius solis, e eles nasceram em território estrangeiro. De se observar que nada impede o apátrida, que não goza de qualquer nacionalidade originária, de vir a adquirir a nacionalidade secundária de certo Estado, desde que preencha os requisitos por ele instituídos. Pedro Lenza chama de conflito positivo de nacionalidade ou multinacionalidade a situação do polipátrida; e de conflito negativo de nacionalidade a situação do apátrida, asseverando ser esta intolerável, uma vez que o art. XV da Declaração Universal dos Direitos Humanos, nas suas palavras, "assegura a toda pessoa o direito a uma nacionalidade, proibindo que seja arbitrariamente dela privada, ou impedida de mudá-la". Vista a matéria em suas linhas gerais, passemos à análise dos dispositivos constitucionais que sobre ela discorrem. 4) HIPÓTESES DE AQUISICAO DA NACIONALIDADE PRIMÁRIA OU ORIGINÁRIA - CONDIÇÃO DE BRASILEIRO NATO A Constituição contempla no art. 12, inc. I, as hipóteses de aquisição da nacionalidade primária ou originária, ou seja, da condição de brasileiro nato. Trata-se de um rol exaustivo, não sendo possível sua ampliação pela legislação subconstitucional. Assim sendo, todas as hipóteses possíveis de reconhecimento da condição de brasileiro nato são as previstas no art. 12, I da Constituição, sendo inconstitucional qualquer tentativa de acréscimo pela legislação ordinária das hipóteses a seguir apresentadas. Segundo o referido dispositivo da Constituição, são brasileiros natos: 1o) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço do seu País (critério territorial). Essa hipótese representa a regra geral para a aquisição da nacionalidade primária, segundo o critério do ius solis (origem territorial). É necessário, apenas, que a pessoa tenha nascido no território brasileiro, mesmo que seus pais sejam estrangeiros, e automaticamente adquirirá a condição de brasileiro nato. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 5 Território nacional, para fins de aplicação dessa regra, deve ser compreendido não apenas como o espaço físico de nosso território, aí abrangidas nossas terras, rios, lagos, baías, golfos e ilhas, mas como englobando também o espaço aéreo subjacente e o mar territorial brasileiro, os navios e aeronaves militares brasileiros, onde quer que estejam, os navios mercantes brasileiros em alto mar ou de passagem em mar territorial estrangeiro, as aeronaves civis brasileiras em vôo sobre o alto mar ou de passagem sobre águas territoriais ou espaços aéreos estrangeiros. A única hipótese em que não é adquirida a nacionalidade brasileira originária ocorre quando ambos os pais sejam estrangeiros e um deles ou ambos estejam a serviço de seu próprio País (e não de um terceiro), como ocorre com os diplomatas, ou os que se encontrem no Brasil a serviço de entidades internacionais, como a ONU, desde que na entidade atuem como representantes de seu Estado. Se, apesar de ambos os pais serem estrangeiros, estiverem eles no Brasil representando um terceiro País, do qual não são nacionais, ou atuando em caráter particular, seu descendente será brasileiro nato. Ainda, se um dos pais for estrangeiro a serviço de seu País, mas o outro for brasileiro (nato ou naturalizado), da mesma forma seu filho será brasileiro nato. Enfim, todos os nascidos no território brasileiro são brasileiros natos, a não ser que ambos os ascendentes sejam estrangeiros e que um deles ou ambos estejam em nosso território representando seu próprio País. 2o) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil (critério sangüíneo – ius sanguinis –, acrescido de um critério funcional). A Constituição reconhece a condição de brasileiro nato aos filhos de mãe ou de pai brasileiros nascidos no exterior, desde que um deles esteja a serviço do Brasil. Não é necessário que ambos sejam brasileiros, ou que ambos estejam a serviço de nosso país, mas que aquele que for brasileiro (nato ou naturalizado, não há distinção) esteja atuando nessa condição. A CF não adotou o critério do jus sanguinis puro, que exige a nacionalidade brasileira de ambos os pais. Basta que um deles, o homem ou a mulher, indiferentemente, seja brasileiro, e que seja ele que esteja atuando no exterior a serviço de nosso Estado, o que compreende o serviço consular, o serviço diplomático e os serviços públicos de natureza diversa prestados à Administração direta ou indireta da União, dos Estados, dos Municípios, do Distrito Federal ou dos Territórios. 3o) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira. Esta é a última hipótese de aquisição da nacionalidade brasileira originária, prevista no art. 12, III, c, da Constituição. Sua redação atual é fruto da Emenda de Revisão 03, de 1994. Na redação anterior do dispositivo exigia- se que a residência fosse estabelecida no Brasil até a data de aquisição da CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 6 maioridade. Como se nota, atualmente não é prevista qualquer restrição nesse sentido, podendo a residência em solo pátrio ser estabelecida a qualquer tempo. A diferença entre esta hipótese e a anterior é que neste caso nenhum dos pais está no exterior a serviço do Brasil. Em função disso, a aquisição da condição de brasileiro nato aqui não é adquirida automaticamente, como antes: para tanto, é necessário que o nascido venha a residir no nosso país e opte, a qualquer tempo, pela nossa nacionalidade. Para que se perfaça essa hipótese, quatro são os elementos constitutivos (a) que o nascimento tenha ocorrido no exterior, e que ao menos um dos pais seja brasileiro; (b) que o ascendente brasileiro não esteja a serviço do nosso Estado (se um dos pais for estrangeiro a serviço doBrasil, tal circunstância é irrelevante); (c) que o nascido no exterior venha residir a qualquer tempo em nosso País; e (d) que, mediante expressa manifestação de vontade, opte, também a qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira. A doutrina denomina tal hipótese de aquisição da condição de brasileiro nato de nacionalidade potestativa, pois o nascido no exterior de pai ou mãe (ou ambos) brasileiros tem direito à aquisição da nacionalidade originária brasileira, desde que a qualquer tempo venha residir no Brasil e manifeste regularmente sua opção pela nacionalidade brasileira. Uma vez preenchidos os demais pressupostos, a aquisição da nacionalidade pátria depende exclusivamente de sua válida manifestação de vontade. A opção pode ser feita somente após a idade de 18 anos, quando se adquire a maioridade civil no Brasil. Deve ser feita perante a justiça federal, a quem incumbe, segundo o art. 109, X, da "processar e julgar as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção". A opção deve ser manifestada num processo de jurisdição voluntária, o qual se encerra com a decisão homologatória da opção, desde que preenchidos todos os requisitos legais e constitucionais para tanto. O STF, sob a égide da atual Constituição, assentou o entendimento de que a homologação judicial da opção pelo juiz federal competente é, pois, condição suspensiva do reconhecimento da condição de brasileiro nato. Apenas com a referida homologação pode o optante passar a exercer os direitos inerentes à nacionalidade originária. Sobre a matéria, é válido transcrever, da obra de Alexandre de Moraes, a lição do então deputado federal Nelson Jobim, relator da Emenda de Revisão 3, de 1994, que resultou na atual redação da alínea c do inc. I do art. 12 da CF. Disse o emérito relator: A opção pode agora ser feita a qualquer tempo. Tal como nos regimes anteriores, até a maioridade, são brasileiros esses indivíduos. Entretanto, como a norma não estabelece mais prazo, podendo a opção ser efetuada a qualquer tempo, alcançada a maioridade essas pessoas passam a ser brasileiras sob condição suspensiva, isto é, depois de alcançada a maioridade, até que optem pela nacionalidade brasileira, sua condição de brasileiro nato fica suspensa. Nesse período o Brasil os reconhece como nacionais, mas a manifestação volitiva do Estado torna-se inoperante até a realização do acontecimento previsto, a opção. É lícito considerá-los nacionais CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 7 no espaço de tempo entre a maioridade e a opção, mas não podem invocar tal atributo porque pendente da verificação da condição. Sob a égide da Constituição de 1946 era outro o entendimento da Corte. A antiga Carta fixava em quatro anos, a partir da maioridade, o prazo para a opção, entendendo o STF que até então o indivíduo ostentava a condição de brasileiro nato e poderia plenamente gozar dessa condição. Se ao final do quadriênio o indivíduo não tivesse efetivado sua opção pela nacionalidade brasileira, sua inércia tinha os efeitos de condição resolutiva, acarretando, por conseguinte, a cessação da sua condição de brasileiro nato. Face à redação atual da CF, em seu art. 12, III, c, e valendo-nos da lição de Alexandre de Moraes, podemos sintetizar o regramento aplicável a esta hipótese de aquisição da nacionalidade brasileira primária nos seguintes termos. A aquisição da nacionalidade originária, de forma provisória, se dá com a fixação da residência no Brasil, sendo a opção uma condição confirmativa, não formativa, da nacionalidade. O fato gerador da nacionalidade, a condição formativa, é a fixação da residência no Brasil, mas seus efeitos ficam suspensos até que se ultime a referida condição confirmativa – a opção -, que terá efeitos retroativos. Porém, se a fixação da residência se verificar antes da aquisição da maioridade civil, o menor residente poderá imediatamente gozar de todos os direitos inerentes à condição de brasileiro nato desde a fixação da residência, até que sobrevenha a maioridade. Uma vez atingida a maioridade, a nacionalidade brasileira passa a sujeitar- se à condição suspensiva da opção. Desse modo, enquanto não for manifestada validamente a opção (e enquanto não for a mesma homologada pelo juiz federal competente), não poderão ser exercidos pelo optante quaisquer direitos privativos de brasileiros natos. Finalizamos com as palavras de Alexandre de Moraes: Portanto, o filho de pai brasileiro e/ou mãe brasileira nascido no estrangeiro adquire a nacionalidade originária no momento da fixação de sua residência no Brasil, devendo confirmar sua vontade de conservar a nacionalidade brasileira a partir da aquisição da maioridade civil, de maneira personalíssima. Durante o período de fixação da residência até atingir a maioridade civil, por não poder validamente realizar a opção, todos os direitos inerentes à nacionalidade poderão ser exercidos, pois a "aludida condição suspensiva só vigora a partir da maioridade, haja vista que, antes, o menor, por intermédio do registro provisório (Lei n. 6.015/73, art. 3°, § 2°), desde que residente no país, é considerado brasileiro nato para todos os efeitos". 1 De se ressaltar que o art. 12, I, c, na sua redação original, previa uma quarta hipótese de aquisição da condição de brasileiro nato: os nascidos no exterior, de pai brasileiro ou mãe brasileira que não estivessem a serviço do Brasil, desde que fossem registrados na repartição competente, a saber, a embaixada ou o consulado brasileiro no território estrangeiro. Entretanto, a Emenda Constitucional de Revisão 3/94 revogou essa hipótese da Carta. 5) HIPÓTESES DE AQUISICAO DA NACIONALIDADE SECUNDÁRIA - CONDICAO DE BRASILEIRO NATURALIZADO CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 8 A nacionalidade secundária, voluntária ou por opção, enfim, a condição de brasileiro naturalizado, pode ser adquirida nas hipóteses prescritas no art. 12, II, da Constituição Federal. Nas são essas, todavia, as únicas hipóteses de aquisição da nacionalidade brasileira secundária, havendo outras previstas na legislação infraconstitucional. De pronto, pois, podemos concluir que a legislação ordinária, inapta para a instituição de hipóteses aquisição da nacionalidade primária, é idônea para contemplar hipóteses de aquisição da nacionalidade secindária. A aquisição da nacionalidade secundária se dá por meio da naturalização, entendendo a doutrina que, em termos teóricos, existem duas modalidades de naturalização: a tácita, que independe de manifestação de vontade do naturalizado, decorrendo automaticamente de incidência das normas de nacionalização existentes em dado Estado; e a expressa, que, apesar de inegavelmente decorrer da aplicação das regras de nacionalização existentes no Estado, depende de expressa manifestação de vontade do interessado. Ainda, a naturalização expressa, na lição de Gabriel Dezen Junior, pode ser "ordinária (quando esse requerimento é regido pela lei) e extraordinária (quando a hipótese de aquisição é oferecida pela própria Constituição)". A naturalização tácita foi prevista na Constituição de 1891, no art. 69, § 4°, segundo o qual foram considerados cidadãos brazileiros os estrangeiros que, achando-se no Brazil aos 15 de novembro de 1889, não declararem, dentro em seis mezes depois de entrar em vigor a Constituição, o animo de conservar a nacionalidade de origem. O objetivo da norma, vigente por apenas seis meses, foi conferir a nacionalidade brasileira aos imigrantes europeus, e cumpriu a contento sua missão. Nossas constituições subseqüentes continuaram contemplando a regra, mas sem repercussões práticas. Não, porém, anossa atual Carta Magna, que não prevê mais tal regra, contemplando somente hipóteses de naturalização expressa, que pressupõe a manifestação de vontade do interessado. Nos termos da Constituição atual, em regra não há direito subjetivo a naturalização, o que significa que o preenchimento dos requisitos pelo interessado não lhe assegura a aquisição da nacionalidade secundária. Sua concessão é ato discricionário do Presidente da República, no exercício da soberania nacional. Como exposto, a naturalização expressa, a única prevista em nossa Carta, pode ser ordinária e a extraordinária. A naturalização expressa ordinária corresponde às hipóteses da alínea a do inc. II do art. 12 da CF; e a extraordinária à hipótese da alínea b do inc. II do art. 12 da CF. Segundo o art. 12, II , da Constituição, são brasileiros naturalizados: 1o) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral. Essa hipótese, de naturalização expressa ordinária, é, assim, aplicável aos estrangeiros que preencham os requisitos prescritos na legislação infraconstitucional, mais precisamente, no estatuto do Estrangeiro (Lei CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 9 6.815/80). O estrangeiro que preencher tais requisitos, se quiser tornar-se brasileiro naturalizado, deve instaurar um processo administrativo que se inicia e tem seu transcurso perante o Ministério da Justiça, encerrando-se com a decisão do Presidente da República, ao qual cabe, discricionariamente, decidir acerca da concessão da nacionalidade secundária ao estrangeiro. Como já afirmado, o Presidente atua aqui no exercício pleno da soberania nacional, podendo legitimamente negar a pretensão do requerente mesmo quando satisfeitos todos os requisitos legais. Nos termos da lei 6.815/80, são requisitos a serem preenchidos para a naturalização: capacidade civil, segundo a lei brasileira; registro como permanente no Brasil; residência contínua no Brasil pelo prazo mínimo de 4 anos, imediatamente anteriores ao pedido de naturalização; saber ler e escrever em português; exercício de profissão ou posse de bens suficientes para a manutenção própria e da família; bom procedimento; inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação penal, no Brasil ou no exterior; gozo de boa saúde. Para os estrangeiros originários de países de língua portuguesa (a saber, Portugal, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Açores, Cabo Verde, Príncipe, Goa, Gamão, Dio, Macau e Timor) a Constituição prescreve um tratamento mais favorável, exigindo apenas comprovação de residência ininterrupta por um ano e idoneidade moral, além do requerimento solicitando a concessão da nacionalidade brasileira. Da mesma forma que na hipótese anterior, a concessão da nacionalidade brasileira secundária, quando preenchidos esses requisitos, é decisão discricionária do Presidente da República. 2o) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira. Nessa hipótese, que é de naturalização expressa extraordinária, a Constituição exige dos estrangeiros (que podem ser originários dos países de língua portuguesa), a comprovação de três condições: (1) residência no Brasil há mais de quinze anos ininterruptos; (2) inexistência de condenação penal; e (3) requerimento do interessado, de caráter pessoal, não extensível a terceiros, mesmo se tratando de cônjuge ou filho. Com relação a estes requisitos, é de se notar que a ausência eventual do estrangeiro do nosso território não é impedimento à sua pretensão, já que, como declarou o STF, "a Constituição exige residência contínua, e não permanência contínua". Ademais, embora não conste expressamente no dispositivo em comento, é de se considerar que apenas uma condenação penal transitada em julgado constitui óbice à concessão da nacionalidade brasileira, pela aplicação do princípio da presunção de inocência. Condenações penais não-definitivas, ou condenações, definitivas ou não, em ações de natureza não-penal (trabalhista, cível) não constituem impedimento à aquisição da nacionalidade brasileira. Segundo entendimento doutrinário prevalente, preenchidos os requisitos constitucionais, os estrangeiros em geral, nessa hipótese, têm direito CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 10 subjetivo à aquisição da nacionalidade brasileira secundária. Em outros termos, a atuação do Presidente, nesse caso, é estritamente vinculada, sendo obrigatória a concessão da nacionalidade ao estrangeiro que preencher os requisitos prescritos na Constituição. Tal conclusão sobressai da parte final do dispositivo, quando o constituinte valeu-se da expressão "...desde que requeiram...", sustentando o entendimento exposto acima. Em fechamento, cabe destacar que existem duas outras hipóteses de aquisição da nacionalidade brasileira previstas na legislação ordinária, a saber, nos art. 11, a, e 12, do Estatuto do Estrangeiro: a radicação precoce e a conclusão de curso superior. A radicação precoce aplica-se aos estrangeiros que tenham vindo residir no Brasil antes de atingirem cinco anos de idade e desde então tenham permanecido definitivamente em nosso território. A naturalização, nesse caso, depende de requerimento do estrangeiro manifestando sua opção, no prazo máximo de dois anos após atingir a maioridade civil. Já a conclusão de curso superior aplica-se aos estrangeiros que tenham vinco residir em nosso território antes de atingirem a maioridade civil, e tenham concluído em estabelecimento nacional curso de ensino superior. A naturalização, nessa hipótese, dependendo de o estrangeiro manifestar sua opção em até um ano após a formatura. Ambas as hipóteses constavam da Constituição de 1967, não tendo sido contempladas pela atual Constituição. Como, entretanto, não afrontam qualquer de seus dispositivos, e lembrando-se que a legislação infraconstitucional é apta à previsão de hipóteses de aquisição de nacionalidade secundária, permanecem plenamente válidas a radicação precoce e a conclusão de curso superior, nos termos acima abordados, como hipóteses de aquisição da condição de brasileiro naturalizado, tendo sido neste ponto recepcionada a Lei 6.815, de 1980. 6) PORTUGUESES EQUIPARADOS Analisamos no tópico anterior que a Constituição, em tema de naturalização, confere um tratamento privilegiado aos indivíduos oriundos dos países de língua portuguesa, exigindo deles, além do requerimento solicitando a naturalização, somente comprovação de residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral. No § 1o do art. 12 a Constituição contempla uma nova hipótese de tratamento preferencial, agora não a todos aqueles oriundos dos países de língua portuguesa, mas apenas aos portugueses, asseverando que "aos portugueses com residência permanente no país, se houver reciprocidade em favor dos brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição". De se ressaltar que a antiga redação do § 1o do art. 12 da Constituição previa a equiparação dos portugueses aos brasileiros natos, mas tal regramento foi alterado pela Emenda Constitucional de Revisão 03, de 1994, a partir da qual a equiparação passou a ser feita com os brasileiros naturalizados. O dispositivo não traz uma nova hipótese de naturalização, mas abre aos portugueses a possibilidade de, sem se naturalizar, passarem a exercer os CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHETwww.pontodosconcursos.com.br 11 direitos inerentes aos brasileiros naturalizados. Tais portugueses, sem abrir mão de sua nacionalidade originária, passarão a usufruir do tratamento jurídico outorgado aos brasileiros naturalizados, desde que Portugal conceda idêntico tratamento aos brasileiros residentes em Portugal, ou seja, desde que haja reciprocidade de tratamento. Nesse caso, os brasileiros em Portugal permanecerão como brasileiros, mas gozarão dos direitos que o ordenamento português confere aos portugueses naturalizados; e os portugueses no Brasil, sem deixar de ser portugueses e sem se tornarem brasileiros, exercerão os direitos que nossa Constituição reserva aos brasileiros naturalizados. Poderão, por exemplo, votar nas eleições para cargos do Executivo e do Legislativo, desde que preenchidos os demais requisitos legais, que analisaremos na próxima unidade. Para que se concretize tal situação a Constituição instituiu os dois requisitos acima citados: que os portugueses tenham residência permanente no Brasil e que Portugal conceda tratamento recíproco aos brasileiros em solo português. Preenchidos esses dois requisitos, os portugueses têm o direito de exercer os direitos típicos de brasileiro naturalizado. O reconhecimento da equiparação, entretanto, não é automático, sendo indispensável que o interessado requeira o benefício, e que sua solicitação seja deferida, o que se dará após a comprovação dos requisitos para tanto. O Ministério da Justiça é o órgão com competência na matéria. Ensina Alexandre de Moraes que, além do reconhecimento dos direitos e deveres entre os portugueses equiparados e os brasileiros naturalizados, atribuição do Ministério da Justiça, o exercício dos direitos políticos pelos portugueses equiparados está condicionado à apresentação de um requerimento perante a Justiça Eleitoral, bem como à comprovação de residência permanente no Brasil por um período mínimo de cinco anos. 7) TRATAMENTO DIFERENCIADO ENTRE BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS O § 2o do art. 12 da Constituição determina que "a lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição". É bem clara a regra contida no dispositivo: a Carta Magna é o único diploma normativo apto a instituir tratamento diferenciado entre brasileiros natos e naturalizados, sendo qualquer norma ordinária que pretenda ampliar as hipóteses nela flagrantemente inconstitucional. A primeira hipótese de tratamento diferenciado prescrita na Constituição consta no § 3o do art. 12, que reserva alguns cargos exclusivamente a brasileiros natos. Considerando-se as demais hipóteses de tratamento diferenciado prescritas na Constituição, o rol é o seguinte: a) extradição (CF, art. 5°, LI): é vedada em termos absolutos a extradição do brasileiro nato. Já o brasileiro naturalizado pode ser extraditado no caso de cometimento de crime comum, antes da naturalização (ou seja, quando ainda era estrangeiro), ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 12 b) cargos privativos de brasileiros natos: o § 3o do art. 12 da CF declara que são privativos de brasileiro nato os cargos de Presidente e Vice- Presidente da República, de Presidente da Câmara dos Deputados, de Presidente do Senado Federal, de Ministro do Supremo Tribunal Federal, da carreira diplomática, de oficial das Forças Armadas e de Ministro de Estado de Defesa. Na lição de Pontes de Miranda, trazida por Alexandre de Moraes, dois foram os critérios para a fixação dos cargos privativos de brasileiros natos: a segurança nacional e a linha sucessória. O primeiro critério justifica a reserva para os três últimos cargos citados acima, o segundo critério para os demais; c) membros do Conselho da República: o Conselho da República é o órgão superior de consulta do Presidente da República, estando previsto no art. 89 da CF. O inc. VII do referido artigo reserva seis vagas no Conselho a cidadãos brasileiros natos com mais de 35 anos, sendo dois nomeados pelo próprio Presidente, dois eleitos pela Câmara dos Deputados e dois pelo Senado Federal, para um mandato de três anos, vedada a recondução. Além dessas seis vagas, expressamente reservadas a brasileiros natos, do Conselho participam o Vice-Presidente da República e os presidentes da Câmara e do Senado, com o que se amplia para nove o número de vagas necessariamente ocupadas por brasileiros natos. Restam, como vagas passíveis de ocupação também por brasileiros naturalizados, as reservadas aos líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados e no Senado Federal e ao Ministro da Justiça. Desse modo, das quatorze vagas no Conselho, nove, no mínimo, sempre serão preenchidas por brasileiros natos, sendo as cinco restantes passíveis de preenchimento também por brasileiros naturalizados; d) propriedade de empresa jornalística e de radiofusão sonora de sons e imagens (CF, art. 222): no que toca às pessoas físicas, apenas brasileiros natos e brasileiros naturalizados há mais de dez anos podem ser proprietário de empresa jornalística e de radiofusão sonora de sons e imagens. 8) HIPÓTESES DE PERDA DA NACIONALIDADE A Constituição, O art. 12, § 4o, da CF estabelece as duas únicas hipóteses de perda da nacionalidade brasileira, sendo inconstitucional qualquer norma ordinária que pretender ampliar o rol constitucional. Nos termos do referido dispositivo, será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: a) tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional; b) adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos de (1) reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira ou de (2) imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 13 A primeira hipótese – perda da nacionalidade brasileira em virtude da prática de atividade nociva ao interesse nacional – depende de sentença judicial transitada em julgado proferida em ação de cancelamento de naturalização. A legitimidade para a propositura da ação de cancelamento de naturalização é do Ministério Público Federal. Não há tipificação legal sobre as atividades consideradas nocivas ao interesse nacional. Logo, é incumbência do MP, frente ao caso em concreto, considerar se certa atividade é nociva aos interesses brasileiros. Se concluir positivamente sua análise deve interpor a ação de cancelamento, que terá seu trâmite perante a Justiça Federal, a quem cabe decidir se no caso verifica-se ou não atividade contrária aos interesses nacionais. Se for decretada a perda da nacionalidade, por decisão transitada em julgado, seus efeitos são meramente proativos. Devemos ressaltar que o Professor Gabriel Dezen Junior trata de forma diversa esta matéria. É sua a seguinte lição: O brasileiro naturalizado que for processado e julgado culpado de algum crime no Brasil poderá, na sentença, receber uma pena acessória de cancelamento da naturalização, de acordo com a gravidade do crime. Nesse caso, a partir dessa sentença, por ato do Presidente da República, será declarada a perda de sua nacionalidade, para viabilizar a expulsão do Brasil já que expulsão de brasileiro, mesmo que naturalizado, configura banimento, que é pena inconstitucional, nos termos do art. 5°, XLVII, d). Essa hipótese de perda da nacionalidade é conhecida como conhecida como de perda-punição, e sóé cabível em relação ao brasileiro naturalizado, já que se trata de perda da naturalização. Uma vez efetivada, impede nova naturalização. A única forma de o condenado voltar à situação de brasileiro naturalizado é anular a sentença ou acórdão que a decretou, mediante a interposição de ação rescisória; A segunda hipótese - aquisição de outra nacionalidade – é chamada de perda-mudança, e aplica-se tanto ao brasileiro nato como ao naturalizado. Para que se configure essa segunda modalidade de perda da nacionalidade brasileira, é necessário que a efetiva aquisição da outra nacionalidade, não bastando a mera formalização do pedido perante o outro Estado. Ademais, é indispensável que a aquisição tenha decorrido de ato voluntário, e que o optante, no momento em que se efetivou a escolha, gozasse de capacidade civil para tanto. Preenchidos esses requisitos, a perda não é decretada no transcurso de um processo judicial, como na hipótese anterior, mas pelo Presidente da República, após a apuração da aquisição da outra nacionalidade em processo administrativo, que transcorre no Ministério da Justiça. Os efeitos do decreto presidencial que determina a perda na nacionalidade são ex nunc, não-retroativos, não atingindo situações jurídicas anteriores à sua edição. Nessa hipótese de perda, é possível a reaquisição da nacionalidade brasileira mediante nova naturalização, na condição de brasileiro naturalizado, mesmo se a condição anterior à perda era de brasileiro nato. Além das duas hipóteses de perda da nacionalidade aqui tratadas, a doutrina, apesar de não haver previsão constitucional, admite também a CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 14 possibilidade de perda da nacionalidade quando se comprovar que sua aquisição se deu com fraude à lei, de acordo com a legislação civil que regula a matéria. Segundo esse entendimento, amplamente aceito, a aquisição da nacionalidade, como qualquer ato jurídico, não pode subsistir quando realizada com fraude à lei, vício que acarreta sua perda. Em fechamento, é válido informar que a Constituição de 1967 previa uma terceira hipótese de perda da nacionalidade, a saber, no caso de aceitação de comissão, emprego ou pensão de governo estrangeiro sem a expressa licença do Presidente da república. Nossa atual Constituição não contempla essa hipótese, o que autoriza aos atingidos por ela, segundo Alexandre de Moraes, a reaquisição da nacionalidade brasileira com efeitos retroativos. 9) HIPÓTESES CONSTITUCIONAIS DE DUPLA NACIONALIDADE Há dois casos em que a aquisição de outra nacionalidade não acarreta a perda da nacionalidade brasileira: reconhecimento da nacionalidade originária pela lei estrangeira; e imposição da naturalização pelo país estrangeiro, como condição para a permanência em seu território ou para o exercício dos direitos civis. São essas as duas únicas hipóteses em que a Constituição admite a dupla nacionalidade, estando prescritas nas alíneas a e b do inc. II do § 4º do art. 12 da CF. Em outras hipóteses, não previstas na Constituição, a aquisição de outra nacionalidade implica a perda da nossa. A primeira hipótese - reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira – aplica-se quando o indivíduo era nacional nato do outro país desde o nascimento, pela aplicação do critério do ius sanguinis. Neste caso, o brasileiro simplesmente ingressou com um processo administrativo no Estado estrangeiro, a fim de obter o reconhecimento da sua condição de nacional nato. Terá reconhecida tal situação, sem qualquer prejuízo no que toca à sua nacionalidade brasileira. Terá, pois dupla nacionalidade. Na segunda hipótese - imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis – a Constituição permite a dupla nacionalidade porque a aquisição da nacionalidade estrangeira não decorreu de uma livre manifestação de vontade do brasileiro. Este, inegavelmente, desejava permanecer no território do Estado estrangeiro, mas não necessariamente adquirir a respectiva nacionalidade, tendo sido forçado a tanto para poder permanecer no território ou para nele poder exercer direitos de natureza civil, em sentido amplo (motivos profissionais ou familiares, acesso aos serviços públicos oferecidos no Estado etc). 10) ARTIGO 13 DA CONSTITUIÇÃO CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 15 Apenas para conhecimento, sem qualquer comentário, transcrevemos o art. 13 da Constituição, que encerra o capítulo III do seu Título II. O dispositivo é vazado nos seguintes termos: Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil. § 10 São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. § 20 Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos próprios. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 16 II. DIREITOS POLÍTICOS 1) INTRODUÇÃO Segundo José Afonso da Silva, (...) os direitos políticos positivos consistem no conjunto de normas que asseguram o direito subjetivo de participação no processo político e nos órgãos governamentais, Eles garantem a participação do povo no poder de dominação política por meio das diversas modalidades de direito de sufrágio: direito de voto nas eleições, direito de elegibilidade (direito de ser votado), direito de voto nos plebiscitos e referendos, assim como por outros direitos de participação popular, como o direito de iniciativa popular, o direito de propor ação popular e o direito de organizar e participar de partidos políticos. Nossa Constituição reserva trata da matéria nos art. 14 a 16, que compõem o capítulo IV do seu Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais. Como ressalta Alexandre de Moraes, tais dispositivos representam um desenvolvimento do princípio democrático, inscrito no parágrafo único do artigo primeiro da Constituição, segundo o qual todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, segundo as regras da Constituição. O dispositivo em questão, ao asseverar que o exercício do poder pelo povo pode se dar diretamente ou por meio de representantes eleitos, remete às diferentes espécies de regime democrático. Temos a democracia direta, na qual o próprio povo, diretamente, sem intermediários, interfere no processo político do Estado; a democracia representativa ou indireta, na qual o povo elege representantes para, em seu nome, atuarem no processo decisório do país; e, por fim, temos a democracia participativa ou semidireta, um sistema misto, que abrange mecanismos de participação direta e de participação indireta do povo no processo político do Estado. O art. 14 da Constituição assevera que a soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com igual valor para todos e, nos termos da lei, mediante plebiscito, referendo e iniciativa popular. O dispositivo consagra a democracia representativa ou indireta como o modelo democrático adotado em caráter principal pela Constituição, mas menciona, ao final, o plebiscito, o referendo e a iniciativa popular, mecanismos de participação direta do povo no processo decisório do País. Podemos concluir, desse modo, que a Constituição aponta para um modelo de democracia participativa ou semidireta, contemplando mecanismosde participação direta e indireta do povo no processo decisório do Estado. Numa perspectiva mais restrita, elencamos entre os direitos políticos o direito de sufrágio, o direito de voto em eleições (alistabilidade), o direito de CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 17 ser votado em eleições (elegibilidade), a iniciativa popular de leis, a ação popular e a possibilidade de participação em partidos políticos. Numa perspectiva mais ampla, podemos elencar como instrumentos de participação política o direito de votar em eleições, o direito de ser votado em eleições, o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular de leis (CF, art. 61, § 2o; art. 27, § 4o, e art. 29, XIII), a ação popular (CF, art. 5o, LXXIII), a possibilidade de participação em partidos políticos, a fiscalização popular das contas públicas (CF, art. 31, § 3o), o direito de informação em órgãos públicos (CF, art. 5o, XXXIII), o direito de petição (CF, art. 5o, XXXIV, a) e direito de certidão (CF, art. 5o, XXXIV, b). 2) DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS – DIREITO DE SUFRÁGIO O sufrágio constitui a essência dos direitos políticos, e corresponde ao direito de participar da vida política do Estado. Na lição de José Afonso da Silva, é um direito público subjetivo, de natureza política, que confere ao cidadão a prerrogativa de eleger, de ser eleito e de participar da organização e da atividade política do Estado. O núcleo do direito ao sufrágio é, pois, constituído pela capacidade eleitoral ativa – denominada alistabilidade, que corresponde à capacidade de votar – e pela capacidade eleitoral passiva – denominada elegibilidade, que corresponde à capacidade de ser eleito -. No Brasil, o sufrágio possui caráter universal. Todos os brasileiros, sejam natos ou naturalizados (bem como os portugueses equiparados) têm o direito de exercê-lo, uma vez preenchidos os requisitos legais e constitucionais, nenhum deles discriminatório, vinculado a aspectos culturais ou econômicos. Dentre os tipos de sufrágio discriminatórios, restritivos, não-albergados pelo texto constitucional, sobressaem o sufrágio censitário (que condiciona o direito de voto a critérios de ordem econômica, como patrimônio ou rendimento mínimo) e o capacitário (que condiciona o direito ao voto a condições especiais, em regra de índole cultural ou intelectual, como grau mínimo de escolaridade). A Constituição, como exposto, contempla o sufrágio universal, não condicionado à comprovação de quaisquer requisitos de natureza econômica ou cultural. De se ressaltar que a existência de requisitos formais, como a obrigatoriedade de alistamento eleitoral, e de requisitos materiais, como nacionalidade e idade mínima, porque não discriminatórios, não retiram do sufrágio seu caráter universal. 3) CAPACIDADE ELEITORAL ATIVA A capacidade eleitoral ativa corresponde ao direito de votar nas eleições, referendos e plebiscitos. É denominada alistabilidade, e constitui direito de todos os brasileiros, natos ou naturalizados, maiores de dezesseis anos, desde que não estejam CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 18 na condição de conscritos (cumprindo serviço militar obrigatório) e que não tenham tido seus direitos políticos suspensos ou perdidos. (CF, art. 14, §§ 1o e 2o). A aquisição dessa capacidade se dá mediante o alistamento eleitoral, ato produzido mediante procedimento administrativo realizado perante a Justiça Eleitoral. O alistamento, no Brasil, é feito sempre a pedido do indivíduo, não cabendo se falar em alistamento de ofício. É com a produção do ato e com a expedição do título de eleitor que se dá a aquisição da capacidade eleitoral ativa. É quando, pois, o nacional passa a gozar da condição de cidadão, adquirindo aptidão para o exercício dos direitos políticos, a partir do que pode votar, propor ação popular, iniciar o processo legislativo de leis. Todavia, nem todos os direitos políticos podem ser exercitados a partir do alistamento eleitoral. Adiante analisaremos a capacidade eleitoral passiva, a capacidade para ser votado, conhecida como elegibilidade, que pressupõe o preenchimento de outros requisitos, a exemplo do domicílio eleitoral na circunscrição e a filiação partidária. O alistamento eleitoral é o ato pelo qual se adquire a alistabilidade, e esta é a primeira condição para a aquisição da elegibilidade, mas não a única. Podemos, assim, concluir que todo aquele que possui a capacidade passiva – para ser votado – possui também a capacidade eleitoral ativa – para votar -, uma vez que esta é requisito para aquela. O contrário, todavia, não é verdadeiro. A capacidade eleitoral ativa (alistabilidade) é adquirida com o alistamento eleitoral, mas não implica, por si só, na aquisição da elegibilidade, que pressupõe o preenchimento de outros requisitos prescritos na Constituição. Com isso, podemos concluir que nem todo aquele que possui a capacidade eleitoral ativa detém também a capacidade eleitoral passiva. Sintetizando, podemos afirmar que todo aquele que goza de elegibilidade goza também de alistabilidade, mas nem todo aquele que possui esta goza daquela. Segundo o art. 14, § 1o da Constituição, o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para os maiores de dezoito anos, e facultativos para os maiores de setenta anos, para os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos e para os analfabetos, independentemente de idade. Nos termos do dispositivo, a obrigatoriedade, aplicável aos maiores de dezoito e menores de setenta anos não-analfabetos, alcança tanto o alistamento como o voto. Portanto, é obrigatório aos que se enquadram na hipótese não só a promoção de seu alistamento perante os órgãos da Justiça Eleitoral, mas também seu comparecimento formal, votando, nas eleições. Nas hipóteses de facultatividade o raciocínio é idêntico. Os maiores de setenta anos, os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos e os analfabetos de qualquer idade podem alistar-se ou não, segundo seu livre critério, e, mesmo alistados, podem optar por votar ou não. Mesmo alistados, podem simplesmente deixar de exercer o direito de voto. A Constituição lhes faculta tal atuação. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 19 O art. 14, § 2º da CF declara que não podem alistar-se os estrangeiros e, durante o período de serviço militar obrigatórios, os conscritos. Trata-se, pois, de uma vedação à capacidade eleitoral ativa, que influencia diretamente na passiva. Os estrangeiros e os conscritos (aqueles que cumprem serviço militar obrigatório) não podem alistar e, em conseqüência, votar, nem se candidatar a cargos eletivos. Não gozam, pois de alistabilidade e de elegibilidade. Não devemos considerar como conscritos os militares de carreira, que exercem suas funções em caráter profissional, integrando a estrutura permanente das Forças Armadas, das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares. Os conscritos exercem atividades militares na condição de nacionais no cumprimento de um dever, sem qualquer feição profissional. Assim, os militares das Forças Armadas e os militares dos Estados, Distrito Federal e Territórios têm o direito/dever de alistar-se e votar, além de serem elegíveis (CF, art 14, § 8°, e art. 42, § 1°). Para os estrangeiros a vedação só cessa em caso de eventual naturalização; para os conscritos, com o fim do serviço militar obrigatório. Enfim, cessa a vedação quando, no primeiro caso, o estrangeiro passar a ser brasileiro, e, no segundo, o anterior conscrito deixar de encontrar-se nessa condição. De se ressaltar que a vedação ao alistamentonão se aplica a uma espécie de estrangeiro, a saber, aos portugueses equiparados, que gozam dos direitos inerentes à condição de brasileiro naturalizado, apesar de permanecem na condição de estrangeiros. Gabriel Dezen Junior informa que o Tribunal Superior Eleitoral entende que o conceito de conscrito alcança os médicos, farmacêuticos, dentistas e veterinários que prestam serviço militar obrigatório, bem como aqueles que prestam serviço militar na condição de prorrogação de enganjamento. Podemos sintetizar a matéria nos seguintes termos: 1°) o alistamento eleitoral e o voto são obrigatórios para todos os brasileiros alfabetizados maiores de dezoito anos, desde que tenham menos de setenta anos e não sejam militares conscritos, conforme o disposto no art. 14, §§ 1o e 2o, da CF. Podemos dizer que todos os que se encontram nestas condições têm um direito/dever de alistar-se e votar; 2°) há casos, no entanto, em que o alistamento e o voto são apenas uma faculdade, ou seja, um direito, mas não um dever. Isto é válido para os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos, os maiores de setenta anos e os analfabetos; 3°) e há situações, ainda, em que o alistamento e o voto não constituem nem direito nem dever, mas uma vedação. Isto se aplica aos militares conscritos (que prestam serviço militar obrigatório) e aos estrangeiros (com exceção dos portugueses equiparados, que podem exercer os direitos típicos de brasileiro naturalizado, embora permaneçam como estrangeiros, segundo o art. 12, § 1o, da CF). 4) O VOTO Esclarece José Afonso da Silva: CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 20 (…) as palavras sufrágio e voto são empregadas comumente como sinônimos. A Constituição, no entanto, dá-lhes sentidos diferentes, especialmente, no seu artigo 14, por onde se vê que o sufrágio é universal e o voto é direto e secreto e tem valor igual. A palavra voto é empregada em outros dispositivos, exprimindo a vontade num processo decisório. Escrutínio é outro termo com que se confundem as palavras sufrágio e voto. É que os três se inserem no processo de participação do povo no governo, expressando: um, o direito (sufrágio), outro, o seu exercício (o voto), e o outro, o modo de exercício (escrutínio). Explicitando a lição do Professor, podemos afirmar que o sufrágio é o direito conferido ao povo de participar na vida política do Estado; é, assim, o direito à participação política. O voto, por sua vez, representa o exercício desde direito quanto à capacidade eleitoral ativa. Temos o direito de participação política, o sufrágio, que em uma de suas acepções – a capacidade eleitoral ativa – é exercido por meio do voto. Como ressalta o professor, o sufrágio é o direito, o voto seu exercício (relativamente à capacidade eleitoral ativa). De outra forma: o voto é o instrumento de exercício do direito de sufrágio, no que toca à capacidade eleitoral ativa. Como, entretanto, o voto é conseqüência do direito de sufrágio, é comum considerá-lo também como um direito, e neste sentido, podemos defini-lo como um direito público subjetivo de participação nas eleições, plebiscitos e referendos. Por fim, como analisamos acima, o voto em regra é obrigatório, o que justifica sua definição também como um direito/dever de participação no processo político. O escrutínio, por sua vez, corresponde ao modo de exercício do voto (público ou secreto). O art. 14 da CF, em seu caput, aponta expressamente, como características do voto seu caráter direto e secreto, com valor igual para todos. A tais características devemos agregar a universalidade, a periodicidade, a obrigatoriedade formal de comparecimento, o caráter livre e o caráter personalíssimo. São essas as características essenciais do voto, nos seguintes termos: 1°) direto: no Brasil, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos nas eleições para a Presidência, os cidadãos não elegem membros de um colegiado, a quem caberá, por sua vez, eleger os representantes populares nos Poderes Executivo e Legislativo. No Brasil, mediante o voto são escolhidos os próprios representantes populares nos Poderes Executivo e Legislativo. Há assim, a escolha direta de tais representantes. Esse é o significado do voto direto. Há apenas uma hipótese de eleição indireta no Brasil, prescrita no art. 81, §1° da CF, passível de ocorrência no caso de vagarem os cargos de Presidente e de Vice-Presidente da República nos últimos dois anos do mandato, quando então a nova eleição para o restante do período será feita pelo Congresso Nacional; 2°) secreto: é indevassável a opção do eleitor. É assegurado o sigilo absoluto no local das votações para que o conhecimento das opções do eleitor não seja passível de conhecimento por terceiros. Gabriel Dezen Junior traz decisão do STF, prolatada no tempo em que ainda não havia sido implantado o sistema de urnas eletrônicas, na qual a Corte decidiu que CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 21 fere o caráter sigiloso do voto a identificação pessoal do eleitor na cédula de votação, sendo nula tal cédula; Sobre essa característica, afirma Alexandre de Morares: O sigilo do voto deverá ser garantido mediante algumas providências legais, tais como: uso de cédulas oficiais, que impossibilitam o reconhecimento do eleitor; isolamento do eleitor em cabine indevassável, para assinalar, em segredo, o candidato de sua preferência; verificação da autenticidade da cédula oficial, à vista das rubricas dos mesários emprego de uma que assegure a inviolabilidade do sufrágio e seja suficientemente ampla para que não se acumulem as cédulas na ordem em que forem introduzidas pelo próprio eleitor, não se admitindo que outro o faça (Código Eleitoral, art. 103 do Código Eleitoral). Ressalte-se, ainda, que na hipótese de votação por meio de urnas eletrônicas, sempre haverá a necessidade de garantir-se, por meio de correto programa computadorizado, não só o total sigilo do voto como também a possibilidade do eleitor optar pelo voto em branco ou pelo voto nulo, a fim de resguardar-se a liberdade de escolha. 3°) universal: no Brasil o exercício do voto não está condicionada a nenhum requisito de capacidade econômica, cultural ou intelectual. Como já visto, em nosso País o voto não é restrito, por não ser capacitário ou censitário; 4°) periódico: apesar de não contar expressamente no art. 14 da CF, a periodicidade do voto é decorrência automática do adoção do regime republicano de Governo, que tem como um de seus fundamentos a periodicidade dos mandatos eletivos; 5°) com valor igual para todos: o peso do voto de cada eleitor equivale exatamente ao peso do voto de todos os demais, independentemente de condição social, econômica ou cultural, de cor, sexo, raça ou quaisquer outros elementos discriminatórios; 6°) obrigatoriedade formal de comparecimento: para aqueles cujo alistamento e voto é obrigatório, há dever de comparecimento ao local de votação no dia da eleição, depositando seu voto na urna convencional ou inscrevendo ele na urna eletrônica; 7°) caráter livre: embora seja obrigatório o voto, como regra geral, o eleitor é absolutamente livre na escolha de seus candidatos. Poderá votar em quem quiser ou mesmo não votar em nenhum candidato; 8°) personalíssimo: é indispensável o comparecimento pessoal do eleitor para votar. É possível se casar por procuração mas não pode se votar por procuração; 5) PLEBISCITO E REFERENDO O art. 14. I e II, da Constituição, prevê o referendo e o plebiscito como dois instrumentos de consulta popular diretamente decorrentes do direito de sufrágio. A convocação de ambas as consultas, nos termos do art. 49,XV, da Carta, é competência privativa do Congresso Nacional, por decreto CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 22 legislativo, salvo quando a própria Constituição excepciona tal competência, como ocorre, por exemplo, na hipótese de criação, incorporação fusão e desmembramento de Municípios, em que a convocação do plebiscito é competência das Assembléias Legislativas dos Estados-membros onde estão sediados os Municípios envolvidos, a teor do art. 18, § 4°, da Constituição. Ambos os instrumentos são de exercício exclusivo pelos detentores de capacidade civil ativa, ou seja, os nacionais no gozo de seus direitos políticos (bem como os portugueses equiparados). A diferença básica entre essas duas modalidades de consulta é o momento de sua realização. O plebiscito é uma consulta prévia aos cidadãos, mediante a qual se oferece certo ato administrativo ou legislativo à sua aprovação ou rejeição antes da sua produção propriamente dita. Como ensina Gabriel Dezen Junior, trata- se de uma consulta sobre uma questão definida, mas ainda hipotética. A Lei 9.709/98 regula o plebiscito. O referendo é uma consulta posterior aos cidadãos. Trata-se de uma consulta sobre uma questão já definida e concretizada em um ato administrativo ou legislativo. Nesse caso temos inicialmente a produção do ato legislativo ou administrativo, e após isso sua submissão à ratificação ou rejeição dos cidadãos. Segundo Alexandre de Moraes, a aprovação popular pode funcionar como condição suspensiva ou resolutiva do ato governamental. No primeiro caso, ele somente inicia a produção de seus efeitos após sua aprovação (se aprovado); no segundo, ele é eficaz desde a sua edição, mas seus efeitos cessam se não houver sua aprovação na consulta. A Lei 9.709/98 também disciplina o referendo. 6) CAPACIDADE ELEITORAL PASSIVA A capacidade eleitoral passiva corresponde ao direito de ser votado, ao direito de concorrer a um mandato eletivo nos Poderes Executivo e Legislativo e, caso eleito, a ser investido no mandato respectivo. Para que se concretize essa faculdade, ou seja, para que alguém possa candidatar-se a um cargo eletivo, é necessário que o interessado (a) satisfaça todos os requisitos de elegibilidade prescritos no§ 3o do art. 14 da CF (elegibilidade genérica); (b) não se enquadre em nenhum dos impedimentos prescritos no § 4o do art. 14 da CF (inegibilidade absoluta); e, por fim, (c) não incida em nenhuma das vedações dos hipóteses §§ 5º, 6º, 7o e 8o do art. 14 da CF (inegibilidade relativa). O § 3o do art. 14 da CF estabelece os requisitos de elegibilidade: nacionalidade brasileira, pleno exercício dos direitos políticos, alistamento eleitoral, domicílio eleitoral na circunscrição, filiação partidária e observância da idade mínima, conforme o cargo a ser disputado. Quem possui todos estes requisitos é detentor de elegibilidade genérica. O § 4o do art. 14 da CF determina que são inelegíveis os inalistáveis e os estrangeiros. Assim, são inelegíveis os militares conscritos, os analfabetos e CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 23 os estrangeiros (com exceção dos portugueses equiparados), inaptos para disputar qualquer cargo eleitoral. A doutrina classifica tais hipóteses como de inegibilidade absoluta, não podendo a legislação infraconstitucional ampliá-las (CF, art. 14, § 4o). Há, por fim, as hipóteses de inegibilidade relativa, nos quais se enquadram aqueles que, não obstante titulares de elegibilidade genérica, não podem concorrer a determinados cargos, ou só podem fazê-lo mediante o cumprimento de condições específicas, como é o caso dos Chefes do Poder Executivo que, para concorrerem a outros cargos, têm que renunciar aos respectivos mandatos, até seis meses antes da eleição. Os §§ 5o, 6º, 7o e 8o do art. 14 enumeram tais casos, que podem, entretanto, ser ampliados por lei complementar, conforme o disposto no § 9o do mesmo artigo. Neste tópico analisaremos os requisitos para a aquisição da elegibilidade (ou elegibilidade genérica), deixando para o tópico posterior a análise das regras concernentes à inexigibilidade. Nos termos do § 3o do art. 14 da CF, que regula a matéria, são requisitos ou condições de elegibilidade: 1o) nacionalidade brasileira: a Constituição fala genericamente em nacionalidade, de modo a abranger, indiscutivelmente, os brasileiros natos e naturalizados. Excepcionam-se apenas os cargos de Presidente e Vice- Presidente da República, que exigem a condição de brasileiro nato (CF, art. 12, § 3°). De se notar que um estrangeiro implicitamente preenche este requisito: o português equiparado, que, por força do § 1° do art. 12 da CF, goza dos direitos inerentes ao brasileiro naturalizado; 2o) pleno exercício dos direitos políticos: não satisfaz esse requisitos aqueles cujos direitos políticos foram perdidos ou suspensos; 3o) alistamento eleitoral: o alistamento perante a Justiça Eleitoral é o terceiro requisito de elegibilidade, sendo comprovado mediante a apresentação do título de eleitor; 4o) domicílio eleitoral na circunscrição: o candidato deve ter domicílio eleitoral na circunscrição (área territorial) para a qual concorre, pelo período mínimo exigido na legislação. Um candidato a deputado federal por São Paulo, por exemplo, deverá obrigatoriamente ter seu domicílio eleitoral nesse Estado. Como salienta Gabriel Dezen Junior, pela Constituição o domicílio eleitoral não necessariamente se confunde com o domicílio civil ou com a residência, embora a legislação eleitoral possa fazê-los coincidir. Diz o Autor que atualmente "o domicílio eleitoral consiste na afixação de residência, pelo candidato, na circunscrição eleitoral relativa ao mandato pleiteado, pelo prazo mínimo fixado na legislação eleitoral infraconstitucional"; 5o) filiação partidária: é a inscrição do candidato em algum partido político regulamente registrado. A Constituição não deixa qualquer dúvida quanto à inadmissibilidade de candidatura avulsa, da candidatura sem filiação a certo partido político; CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 24 6o) idade mínima: na data das eleições (e não na data do registro da candidatura) os candidatos devem observar os limites de (a) trinta e cinco anos, para os cargos de Presidente, Vice-Presidente da República e senador da República; (b) trinta anos, para os cargos de Governador e Vice- Governador de Estado e do Distrito Federal; (c) vinte e um anos, para os cargos de deputado federal, deputado estadual ou distrital, Prefeito, Vice-- Prefeito e juiz de paz; e (d) dezoito anos, para vereador. 7) INELEGIBILIDADE Ensina o Professor Pedro Lenza: Ao contrário dos direitos políticos positivos, os direitos políticos nega- tivos individualizam-se ao definirem formulações constitucionais restritivas e impeditivas das atividades político-partidárias, privando o cidadão do exercício de seus direitos políticos, bem como impedindo-os de eleger um candidato (capacidade eleitoral ativa) ou de ser eleito (capacidade eleitoral passiva). Comecemos pelas inelegibilidades para depois analisarmos as situações em que os direitos políticos ficam suspensos ou são perdidos (privação dos direitos políticos). Pela lição de Pedro Lenza, os direitos políticos negativos abrangem a inelegibilidade, a perda e a suspensão dos direitos políticos. Idêntica é a lição de Alexandre de Moraes. Seguindo a ordem com que a matéria é tratada na Constituição, inicialmente trataremos da inelegibilidade, reservando para momento posterior o estudo das hipóteses de perda e de suspensão dos direitos políticos.Mais uma vez nos valendo de Pedro Lenza, declara o Autor: As inelegibilidades são as circunstâncias (constitucionais ou previstas em lei complementar) que impedem o cidadão do exercício total ou parcial da capacidade eleitoral passiva, ou seja, da capacidade de eleger-se. Restringem, portanto, a elegibilidade do cidadão. Genericamente falando, a inelegibilidade consiste em hipóteses impeditivas da capacidade eleitoral passiva, obstando a candidatura a mandatos eletivos, a possibilidade de ser votado. Pode ela representar uma restrição absoluta, impedindo o nacional de concorrer a quaisquer cargos eletivos; ou relativa, quando atinge apenas determinados cargos, ou exige o acatamento ou o cumprimento de condições especiais para a viabilização da candidatura. As hipóteses de inelegibilidade absoluta encontram-se prescritas no § 4° do art. 14 da CF, e as hipóteses de inelegibilidade relativa encontram-se discriminadas, a nível constitucional, nos §§ 5.° a 8.° da Constituição. Trata-se de dispositivos constitucionais de eficácia plena, que dependem de complementação pela legislação ordinária para a produção imediata e integral de seus efeitos. Tratando da mesma matéria, o § 9.° do art. 14 da CF, norma constitucional de eficácia limitada, autoriza que lei complementar estabeleça outras hipóteses de inelegibilidade relativa e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 25 mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade e legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta. Com base neste dispositivo podemos retirar duas conclusões: a lista constitucional das hipóteses de inelegibilidade não é numerus clausus, uma vez que pode ser ampliada por lei complementar; a Constituição é o único diploma apto a estabelecer hipóteses de inegibilidade absoluta, pois a Carta outorga à lei complementar retroreferida competência tão somente para a instituição de novas hipóteses de inegibilidade relativa. Passemos à análise das hipóteses de inelegibilidade relativa e absoluta. 7.1) INEGIBILIDADE ABSOLUTA Como o próprio termo indica, a inelegibilidade absoluta impede que o nacional concorra a quaisquer mandatos eletivos. Nos termos do § 4° do art. 14 da CF, são absolutamente inelegíveis: a) os inalistáveis: segundo o § 2° do art. 14 da CF são inalistáveis os estrangeiros e, durante o período de serviço militar obrigatório, os conscritos. Como já afirmado, a capacidade eleitoral ativa - para votar – é pressuposto da capacidade eleitoral passiva – para ser votado -. Logo, aquele que não pode alistar-se como eleitor também não pode, por via de conseqüência, concorrer a qualquer mandato eletivo. Nessa situação, nos termos do dispositivo, encontram-se os estrangeiros e os conscritos, enquanto permanecerem nesta condição, que não podem concorrer a qualquer cargo eletivo no Brasil. A única exceção à regra encontra-se nos portugueses equiparados que, apesar de estrangeiros, podem concorrer a cargos eletivos não privativos de brasileiros natos; b) os analfabetos: o alistamento e o voto são facultativos para os analfabetos, qualquer que seja sua idade (art. 14, § 1°, inc. II, da CF). Logo, possuem os analfabetos, se assim o desejarem, capacidade eleitoral ativa. Porém, segundo o § 4° do art. 14 da CF, não gozam de capacidade eleitoral passiva, não podendo concorrer a cargos eletivos enquanto permanecerem nessa condição. Os únicos casos de inelegibilidade absoluta são os que constam na Constituição, no § 4° do art. 14. 7.2) INEGIBILIDADE RELATIVA Ensina Alexandre de Moraes: As inelegibilidades relativas, diferentemente das anteriores, não estão relacionadas com determinada característica pessoal daquele que pretende candidatar-se, mas constituem restrições à elegibilidade para certos pleitos eleitorais e determinados mandatos, em razão de situações especiais existentes, no momento da eleição, em relação ao cidadão. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 26 O relativamente inelegível possui elegibilidade genérica, porém, especificamente em relação a algum cargo ou função eletiva, no momento da eleição, não poderá candidatar-se. Em complemento à lição do Professor, podemos considerar que a inelegibilidade relativa pode compreender (a) a impossibilidade de disputa de certos cargos eletivos, em função da situação que se encontra o cidadão na ocasião; ou (b) a necessidade da submissão a certas condições para a viabilização da candidatura. No primeiro caso enquadram-se as hipóteses trazidas no § 5° e no § 7° do art. 14 da Constituição; no segundo, as hipóteses contidas no § 6°, no § 8° e no § 9° do art. 14 da CF. As hipóteses de inelegibilidade relativa são as seguintes: - por motivos funcionais; - por motivos de casamento, parentesco ou afinidade; - pela condição de militar; - por situações previstas em lei complementar. 7.2.1) Por motivos funcionais Determina a Constituição Federal, no art. 14, § 5°, que "o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido, ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subseqüente". O dispositivo em questão tem sua redação atual oriunda da EC 16, de 1997, que instituiu a possibilidade de reeleição para os chefes de Poder Executivo. Desde nossa primeira Constituição republicana, de 1891, jamais foi contemplada a possibilidade de reeleição do Chefe do Poder Executivo, como forma de se evitar o uso da máquina administrativa pelo titular do cargo numa nova tentativa de reeleição, e de se impedir que uma mesma pessoa pudesse perpetuar-se na chefia do Executivo. A EC 16, de 1997 veio, portanto, quebrar esta tradição centenária em nossa história constitucional, admitindo a possibilidade de reeleição do chefe do Executivo para um único período subseqüente. Note-se que a regra continua prescrevendo uma inelegibilidade relativa parcial, uma vez que veda a reeleição para um terceiro mandato consecutivo. Por outro lado, nada impede que uma mesma pessoa venha a ocupar a chefia do Executivo federal, estadual, distrital ou municipal diversas vezes, desde que não se verifique uma eleição a um terceiro mandato sucessivo. O § 5° do art. 14 da CF não exige a desincompatibilização do chefe do Executivo que almeje candidatar-se a um segundo mandato consecutivo Não precisa ele, portanto, renunciar ou mesmo afastar-se temporariamente do cargo para concorrer a um novo mandato. Isto fica perfeitamente claro com a leitura do 6° do art. 14 da CF, adiante realizada, que exige a desincompatibilização do chefe do executivo quando pretende concorrer a outros cargos eletivos. Nada obsta que o chefe do Executivo, com base em seu juízo de conveniência e oportunidade, solicite ao Poder legislativo uma licença para CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 27 poder dedicar-se à campanha eleitoral visando à sua reeleição, mas tal medida é decisão absolutamente discricionária, de modo algum imposta pela Constituição. O que norteou o legislador constituinte, ao não exigir a desincompatibilização do chefe do Executivo para concorrer à reeleição, foi o conceito de continuidade administrativa. Parte-se da idéia de que o eventual sucesso da atual chefe do Poder Executivo na busca por um segundo mandato fundamenta-se essencialmente na aprovação popular da sua gestão.
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