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CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 1 AULA 19: CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE – PARTE I I. CONSIDERAÇÕES GERAIS 1) INTRODUÇÃO A inconstitucionalidade verifica-se nas situações em que há um conflito entre certo dispositivo constitucional - seja norma ou princípio – e uma ação ou omissão, sejam elas de caráter concreto ou normativo, oriundas do Poder Público ou de particulares. Este conflito é sempre resolvido em favor da Constituição, por meio dos mais variados instrumentos de controle de constitucionalidade, e que, em seu conjunto, formam o sistema de controle de constitucionalidade vigente em certo Estado. Para a plena eficiência deste controle, faz-se necessário que a Constituição possua duas características: o caráter escrito e a rigidez. Quanto ao caráter escrito, apenas a partir da codificação das normas constitucionais num documento único, solenemente posto em vigor, é que se pode considerar que existe um parâmetro seguro para a aferição da conformidade de uma conduta à disciplina constitucional. Seria sobremaneira inútil decretar-se a desconformidade de uma conduta frente a um texto constitucional, se vigentes outras fontes normativas de idêntica natureza, diante das quais a mesma norma, antes declarada inconstitucional, pudesse ser considerada válida. Complementarmente, é imprescindível, para um efetivo controle de constitucionalidade, a fixação de um procedimento diferenciado, mais dificultoso para a alteração da Constituição, de modo a assegurar uma relativa estabilidade a seus preceitos, em função exatamente desta maior dificuldade para a modificação de seus preceitos. Nisso consiste o caráter rígido de uma Constituição. Seria de pouca valia eventual declaração de inconstitucionalidade de uma ação ou omissão, em função da sua desconformidade com determinado dispositivo constitucional, se posteriormente tal dispositivo pudesse ser facilmente objeto de modificação por meio de procedimento legislativo idêntico ao prescrito para a inovação da legislação infraconstitucional. Conforme vimos em aulas anteriores (Aula 0 e Aula 4), a rigidez tem por decorrência situar a Constituição num patamar de superioridade em relação às demais leis do ordenamento jurídico (princípio da supremacia da Constituição). Como salientado acima, atos e omissões do Poder Público ou de particulares, de caráter concreto ou normativo, podem entrar em linha de confronto com os dispositivos constitucionais. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 2 Há, todavia, uma espécie de inconstitucionalidade que merece uma atenção especial, em função da abrangência das suas conseqüências sobre um grande leque de relações jurídicas. Trata-se da inconstitucionalidade presente em atos normativos, os quais, pelo caráter genérico e abstrato de seu conteúdo, podem resultar numa multiplicidade de atos inconstitucionais. A desconformidade entre a lei – genericamente falando – e a Constituição pode decorrer de vício presente no próprio conteúdo dos dispositivos legais, da incompetência do órgão que elaborou o ato legislativo ou da inobservância dos diversos preceitos constitucionais que regulam o processo para sua elaboração. Qualquer que seja o tipo de vício – material, subjetivo, formal -, sua desconformidade para com a Constituição implica, uma vez reconhecido o defeito, na sua retirada do ordenamento jurídico, pela aplicação do princípio da supremacia da Constituição, que alça a Carta Magna à condição de ato legislativo superior e absoluto no universo do ordenamento jurídico de certo Estado. Todavia, mesmo estas leis em desconformidade para com o texto constitucional devem ser acatadas por seus destinatários, até que seja reconhecido o vício por um dos instrumentos de controle de constitucionalidade, em função do princípio da presunção de constitucionalidade das leis. Este princípio, que acompanha toda e qualquer lei desde a sua edição, obriga ao seu cumprimento em face da presunção de que o diploma legal foi editado, em termos de forma e conteúdo, em plena compatibilidade com a Constituição. Para que os destinatários da lei possam ser liberados de seu cumprimento faz-se indispensável que os órgãos que tenham dentre suas atribuições exercer o controle de constitucionalidade das leis pronunciem-se expressamente acerca do diploma legal em questão. Se entenderem que o mesmo está em plena consonância com a Constituição, a presunção relativa de constitucionalidade que acompanha a lei desde sua criação torna-se definitiva; ao contrário, se verificarem que o diploma encontra-se eivado de vício de inconstitucionalidade, liberados estarão os destinatários da lei de seu cumprimento. Sendo assim, fica claro que a declaração de inconstitucionalidade das leis é medida de caráter excepcional. Os diversos instrumentos de controle de constitucionalidade, os órgãos para tanto competentes e o procedimento a ser observado no desempenho desta missão compõem o sistema de controle de constitucionalidade, nosso objeto de estudo, nesse momento. 2) INCONSTITUCIONALIDADE E REVOGAÇÃO Desde logo, é oportuno diferenciarmos a inconstitucionalidade da revogação. A inconstitucionalidade se estabelece a partir de uma relação de confronto entre atos normativos de hierarquia diversa, a Constituição, ocupando a posição de norma-parâmetro, hierarquicamente superior, e a lei, hierarquicamente subordinada a esta, resolvendo-se o conflito, sempre, a favor da Constituição. Como lei contrária à Carta Maior é lei nula, a CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 3 inconstitucionalidade atinge o plano da validade, e, por via de conseqüência, o plano da eficácia, retirando do ordenamento jurídico a lei incompatível com a Constituição, em regra com eficácia retroativa (ex tunc), desde a data em que a lei iniciou sua vigência. Já a revogação é confronto entre dois atos normativos plenamente válidos e de idêntica hierarquia, que se resolve a favor daquele que foi editado posteriormente. Temos, pois, duas leis tratando da mesma matéria, sendo uma delas a posterior, que, em função disso, revoga a anterior com ela incompatível. A revogação faz sentir-se no plano da existência, e, como conseqüência, no plano da eficácia da norma revogada. Como nenhuma das leis apresenta qualquer vício de validade, os efeitos da revogação são pró-ativos (ex nunc), da data em diante, permanecendo incólumes os efeitos que a norma anterior produziu até o momento da sua revogação. Cabe aqui apenas uma consideração adicional: no caso de incompatibilidade material entre normas pré-constitucionais e a Constituição em vigor, temos uma hipótese única de revogação que envolve normas de nível hierárquico diferente. Outra diferença que cabe ser apontada é que a inconstitucionalidade pode decorrer de vício formal ou material, ao passo que a revogação sempre decorre de incompatibilidade material entre a norma posterior e a norma anterior. Enfim, na inconstitucionalidade temos duas normas situadas em patamar hierárquico diferenciados, resolvendo-se o conflito sempre a partir da norma hierarquicamente superior, no caso, a Constituição, acarretando o reconhecimento do vício a declaração de invalidade da lei com efeitos, em regra, retroativos, desde a data em que entrou em vigor. Na revogação, o confronto instaura-se entre normas de mesma hierarquia que se sucedem cronologicamente, de modo que a posterior extingue a anterior. Seus efeitos são sentidos no plano da existência e, como conseqüência, no da eficácia. Como não há que se falar, neste caso, em vício de validade,a revogação opera efeitos pró-ativos, a contar dela própria, mantendo-se todos os efeitos jurídicos que a norma anterior produziu até a sua retirada do mundo jurídico pela entrada em vigor norma posterior. 3) A RETIRADA DO PARÂMETRO DE INCONSTITUCIONALIDADE A questão que se coloca aqui é se uma lei, declarada inconstitucional por afrontar certo dispositivo da Constituição, poderia ter sua validade restabelecida, na hipótese de o dispositivo constitucional em questão ser revogado da Constituição. A resposta é negativa. A inconstitucionalidade é vício perene, que não é afastado em virtude de eventual revogação do dispositivo constitucional que justificou a declaração de invalidade da lei. Esta, quando foi editada, afrontou a Constituição, e a constatação deste defeito tem caráter permanente, em nada prejudicado pela posterior revogação do preceito constitucional violado naquela oportunidade. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 4 4) INADMISSIBILIDADE DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE SOBRE NORMAS CONSTITUCIONAIS ORIGINÁRIAS Certa corrente doutrinária alienígena defende a tese de que existe hierarquia entre as normas constantes da Constituição. Segundo entendem os defensores desta corrente, há normas constantes do documento constitucional que podem ser tidas como de importância secundária, pois não tratam de assuntos fundamentais ao Estado ou à sociedade a que vinculam. Seriam normas apenas formalmente constitucionais, porque inseridas na Constituição. Há, por outro lado, normas insertas na Constituição que efetivamente regulam temas de interesse nuclear para o Estado e a sociedade, como as que versam sobre a estrutura e a competência dos órgãos políticos, a forma de aquisição e exercício do poder, os direitos fundamentais, entre outras. Segundo essa concepção, essas normas formal (porque encartadas na Constituição) e materialmente constitucionais (porque tratam de temas fundamentais à organização política do Estado) seriam superiores àquelas apenas formalmente constitucionais. Assim sendo, em caso de conflito entre essas duas espécies de normas, as normas formal e materialmente constitucionais, em vista de sua superioridade, preponderariam sobre as normas apenas formalmente constitucionais, as quais poderiam ser declaradas em descompasso com aquelas e expurgadas da Constituição. Esta corrente defende, portanto, a possibilidade de reconhecimento do vício de inconstitucionalidade em normas constitucionais originárias, elaboradas e postas a vigorar por obra do poder constituinte originário. No Brasil, esta tese não encontra amparo segundo nessa doutrina e jurisprudência predominantes. O Supremo Tribunal Federal, apreciando a questão, emitiu o seguinte pronunciamento: A tese de que há hierarquia entre normas constitucionais originárias dando azo à declaração de inconstitucionalidade de umas em face de outras é incompossível com o sistema de Constituição rígida. Na atual Carta Magna, “Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição” (art. 102, caput), o que implica dizer que essa jurisdição lhe é atribuída para impedir que se desrespeite a Constituição como um todo, e não para, com relação a ela, exercer o papel de fiscal do Poder Constituinte originário, a fim de verificar se este teria, ou não, violado os princípios do direito suprapositivo que ele próprio havia incluído no texto da mesma Constituição. Por outro lado, as cláusulas pétreas não podem ser invocadas para sustentação da tese da inconstitucionalidade de normas constitucionais inferiores, em face de normas constitucionais superiores, porquanto a Constituição as prevê como limites ao Poder Constituinte derivado, ao rever ou ao emendar a Constituição elaborada pelo Poder Constituinte originário, e não como abarcando normas cuja observância se impôs ao próprio Poder Constituinte originário, com relação às outras que não sejam CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 5 consideradas como cláusulas pétreas, e, portanto, possam ser emendadas (ADIn nº 815-3/RS). As conclusões acima expostas limitam-se às normas que integram a Constituição desde a sua promulgação. Já as normas decorrentes de emendas à Constituição sujeitam-se à controle de constitucionalidade, sob os aspectos material e formal. 5) TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE Em termos genéricos, como já exposto, inconstitucionalidade é incompatibilidade com a Constituição. Neste ponto, cabe procedermos a um maior detalhamento da matéria, apresentando os diversos tipos de inconstitucionalidade que podem ocorrer em atos normativos. 5.1) Inconstitucionalidade formal e orgânica A inconstitucionalidade orgânica (ou subjetiva) verifica-se quando o órgão que elaborou o ato normativo não é competente para tanto. Seria o caso, por exemplo, de uma medida provisória editada pelo Congresso Nacional, ou de um decreto legislativo editado pelo Presidente da República. Já a inconstitucionalidade formal corresponde à violação de qualquer dos preceitos que comandam o processo de produção das leis compreendendo, também, a inconstitucionalidade orgânica. Desse modo, um ato normativo que tem seu processo iniciado por órgão ou autoridade incompetente, uma lei ordinária federal posta a vigorar sem ter sido levada à sanção ou veto do Presidente da República, uma lei complementar aprovada por maioria relativa, uma medida provisória apreciada pelas Casas do Congresso sem o juízo preliminar acerca da sua urgência e relevância, são alguns exemplos de vícios que acarretam a inconstitucionalidade formal do diploma legal. Enfim, a violação de qualquer dos preceitos constitucionais que comandam o processo legislativo configuram vício de inconstitucionalidade formal do diploma legal desconforme. 5.2) Inconstitucionalidade material ou substancial Configura-se quando o conteúdo da lei é incompatível com o tratamento conferido à matéria pela Constituição, podendo o vício resultar de ofensa à norma ou a princípio posto na Carta Maior. Assim, por exemplo, uma lei ordinária que vede a greve no serviço público é inconstitucional por violação do art. 37, IX, da Carta Maior, que reconhece este direito aos servidores públicos, remetendo à legislação ordinária dispor sobre as condições para o seu exercício. Da mesma forma, é materialmente inconstitucional uma lei que, a pretexto de regular certo direito previsto na Constituição, o faça de modo tão restritivo que se considere violado o princípio da proporcionalidade, previsto implicitamente na Constituição. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 6 O campo de incidência da inconstitucionalidade material é a ofensa à norma ou a princípio, explícito ou implícito, da Constituição, ressalvados aqueles que tratam do processo legislativo. 5.3) Inconstitucionalidade total É aquela que atinge todo o ato, fulminando complementarmente sua validade jurídica. A inconstitucionalidade orgânica sempre é total, pois, se o ato legislativo foi editado por órgão incompetente, todas suas disposições são eivadas de nulidade, não havendo o que possa ser aproveitado. A inconstitucionalidade formal geralmente é total, embora possa se pensar em hipótese de vício parcial, como, por exemplo, no caso de uma lei ordinária, em que parte de suas disposições adentrar matéria reservada pela Constituição à lei complementar. Apenas estas disposições, que adentraram matéria reservada a outra espécie legislativa, padecem de inconstitucionalidade formal, não havendo, por tal motivo, defeito no restante doato legislativo. A inconstitucionalidade material pode ser total ou parcial, predominando esta segunda situação, pois dificilmente o conteúdo integral de uma lei é incompatível com a Constituição. 5.4) Inconstitucionalidade parcial Verifica-se quando apenas uma parte do ato é incompatível com a Constituição. Suas disposições viciadas são expurgadas do ordenamento jurídico, e as demais têm reconhecida sua validade. Pode ocorrer, todavia, que as disposições da lei que não tenham, em si mesmas, qualquer defeito, sejam logicamente dependentes das disposições viciadas. Neste caso, a declaração de nulidade destas acarretará o mesmo destino àquelas. É caso, pois, de nulidade total. 5.5) Inconstitucionalidade antecedente ou imediata Ocorre quando a norma viola diretamente a Constituição. O conflito instaura-se diretamente entre a norma e a Constituição, acarretando o reconhecimento da invalidade daquela. 5.6) Inconstitucionalidade conseqüente ou derivada Ocorre quando parte das disposições de uma lei não contém, em si mesmas, qualquer defeito de inconstitucionalidade, mas são logicamente dependentes de outra, que é reconhecida como inconstitucional. Esta, por si mesma, é inválida, e a relação de dependência, por conseqüência, acarreta a invalidação da primeira. A doutrina também reconhece a inconstitucionalidade conseqüente ou derivada quando existem dois atos normativos de hierarquia diferente, sendo que um deles é o fundamento imediato da validade do outro. Neste caso, a declaração de nulidade do ato hierarquicamente superior acarreta, como conseqüência, igual destino ao ato hierarquicamente subordinado. É CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 7 o que ocorre, por exemplo, na hipótese de declaração de inconstitucionalidade de uma lei ordinária, que teve suas disposições detalhadas por decreto regulamentador. Como o decreto tem por seu fundamento primeiro de validade a lei, sendo desta dependente, o reconhecimento de sua invalidade contamina-o, expurgando-o, do mesmo modo, do ordenamento jurídico. 5.7) Inconstitucionalidade por ação É a que decorre de um ato comissivo, de um fazer. O Poder Público ou mesmo os particulares produzem algo, e esta produção mostra-se contrária a alguma norma ou princípio constitucional. É o caso, por exemplo, dos dirigentes de um hospital privado que impedem a saída de um paciente internado, violando seu direito de locomoção, ou de uma lei ordinária que determine a gratuidade nas desapropriações, violando o direito à justa indenização, geralmente prévia e em dinheiro. 5.8) Inconstitucionalidade por omissão Neste caso não houve a produção de certo ato em hipótese na qual, nos termos da Constituição, esta produção era obrigatória. Como ensina Gabriel Dezen Junior, não é qualquer não-fazer que se configura como omissão constitucionalmente relevante. Nas palavras do Autor "omissão, em sentido jurídico-constitucional, significa não fazer aquilo a que, de forma concreta, se estava constitucionalmente obrigado". Retornaremos ao ponto quando analisarmos a ação direta de inconstitucionalidade por omissão, o instrumento de controle abstrato de constitucionalidade voltado especificamente ao combate da inércia do Poder Público no cumprimento de seu dever constitucional de legislar. 5.9) Inconstitucionalidade originária Aquela presente desde o início da vigência da lei. Esta, desde a sua entrada em vigor, já afrontava a Constituição. 5.10) Inconstitucionalidade superveniente Quando da sua edição a lei não afrontava qualquer dispositivo constitucional, mas passa a fazê-lo num segundo momento, seja porque o texto constitucional foi alterado, seja porque, mesmo inexistente alteração formal de seus preceitos, modificou-se a sua interpretação. O novo dispositivo constitucional, ou a nova interpretação da Constituição, são incompatíveis com a lei anterior, configurando-se, pois, a inconstitucionalidade superveniente. Desde logo, cabe ressaltar que majoritariamente não se admite esta figura em nosso sistema jurídico, a partir do raciocínio de que uma lei deve ter sua constitucionalidade analisada frente ao texto constitucional então em vigor, e com base na interpretação atual de seus dispositivos, não se podendo admitir o reconhecimento de defeito na atuação legislativa em face de alterações constitucionais posteriores. CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 8 Deste modo, as leis anteriores à Constituição de 1988 devem ter sua adequação à Carta atual analisada no contexto do fenômeno da recepção. Se for constatada sua compatibilidade, tem-se as mesmas por recepcionadas; se for verificada sua incompatibilidade, toma-se estas por revogadas). O mesmo pode-se dizer no caso de uma lei editada após a Constituição de 1988 que vem a afrontar preceito introduzido na Carta, via emenda. A lei, quando da sua entrada em vigor, estava em plena compatibilidade com a Constituição, mas veio a tornar-se posteriormente incompatível em virtude da alteração promovida pela Emenda. A partir da entrada em vigor da Emenda à Constituição, tem-se por revogada a lei agora incompatível. Como se trata de revogação e não de inconstitucionalidade, os efeitos, nesta hipótese, são pró-ativos, da data em diante, mantendo-se incólumes os efeitos que a lei produziu até sua revogação em virtude da posterior alteração constitucional. 6) SISTEMAS DE CONTROLE Cada Estado, no exercício pleno de sua soberania, elege o sistema de controle de constitucionalidade que reputar mais adequado à sua realidade e às suas tradições político-institucionais. Em termos teóricos, três são os possíveis sistemas de controle: o jurisdicional, o político e o misto. No sistema de controle jurisdicional cabe a um ou vários órgãos integrantes do Poder Judiciário o exercício do controle de constitucionalidade das leis e atos em geral. Historicamente, dois foram os modelos de sistema jurisdicional postos a vigorar: o sistema norte-americano, no qual todos os órgãos do Poder Judiciário, no contexto de um caso concreto posto à sua apreciação, gozam de competência para a realização do controle de constitucionalidade; e o austríaco, criado em 1920, caracterizado pela existência de um só órgão competente para o exame de constitucionalidade, o Tribunal Constitucional, que teria por finalidade analisar em abstrato a lei ou ato normativo, com o objetivo de proclamá- lo constitucional ou inconstitucional com efeitos erga omnes, gerais. Como veremos à frente, estas duas experiências históricas culminaram em duas vias de controle jurisdicional de constitucionalidade, a difusa, que é exercida pelos diversos órgãos jurisdicionais integrantes do Poder Judiciário; e a concentrada, em que a competência para o controle é atribuída a apenas um órgão do Poder Judiciário ou a órgãos determinados da sua estrutura. No sistema de controle político a tarefa de efetuar o controle de constitucionalidade é outorgada a um órgão independente dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em regra, composto por membros investidos em mandato por prazo certo. Diz-se político esse sistema porque esta é a natureza da deliberação realizada pelo órgão, que profere CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 9 um juízo acerca da constitucionalidade ou não do ato apreciado com base em critérios extrajurídicos, essencialmente políticos. A doutrina cita a França como exemplo de Estado onde vigora o controle político. No sistema misto temos uma subdivisão na matéria, cabendo a órgãos integrantes doPoder Judiciário a análise da constitucionalidade de algumas normas, estando as demais sujeitas à apreciação de um órgão de natureza política. A Suíça é exemplo de País onde vigora este sistema, pois nela as leis de âmbito nacional têm sua compatibilidade para com a Constituição apreciada por um órgão político, cabendo ao Poder Judiciário a análise da compatibilidade vertical das leis locais. Dentre os três sistemas, o jurisdicional é o predominante na atualidade, sendo o adotado no Brasil. 7) VIAS DE CONTROLE JURISDICIONAL Temos duas vias (ou critérios) de controle jurisdicional: o controle difuso, ou jurisdição constitucional difusa; e o controle concentrado, ou jurisdição constitucional concentrada. Ocorre o controle constitucional difuso quando a competência para verificar a adequação à Constituição das leis e atos em geral é conferida a todos os órgãos com competência jurisdicional integrantes do Poder Judiciário. Por esta via todo e qualquer juiz ou Tribunal possui aptidão para realizar o controle de constitucionalidade. Já o controle concentrado verifica-se quando a competência para a realização do controle de constitucionalidade é conferida somente a um órgão do Poder Judiciário, ou a determinados órgãos do Poder Judiciário, conforme a Constituição-parâmetro do controle (federal ou estadual) Temos o controle concentrado quando a competência para realizar o controle de constitucionalidade é outorgada somente ao órgão de cúpula do Poder Judiciário, ou a apenas alguns órgãos, especificamente determinados, conforme a norma-parâmetro de análise (Constituição Federal ou Estadual). Estas duas vias de controle deságuam em duas possíveis formas de exercício do controle jurisdicional de constitucionalidade: a via incidental, ou de exceção; e a via abstrata, ou de ação direta. O controle incidental ocorre no bojo de um processo judicial qualquer, em que a apreciação da constitucionalidade da lei ou do ato normativo não corresponde ao pedido da ação, mas à causa de pedir, o fundamento do pedido. Neste caso, o litígio tem por objetivo não a invalidação da lei com efeitos gerais, mas, a partir do reconhecimento da sua inconstitucionalidade (a causa do pedido), busca-se a sua não aplicação a um caso em concreto, sendo este o objeto principal da discussão judicial. Por exemplo, se ao considerar-se que certa lei, instituidora de certo tributo, é inconstitucional, pretende-se, sob a alegação de inconstitucionalidade do referido diploma, que o tributo não seja exigido CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 10 (ou seja, que a lei não seja aplicada àquele caso em concreto posto em discussão). No controle incidental não só o autor da ação, mas também o réu, ou mesmo um terceiro interveniente (como o Ministério Público) podem propor o debate acerca da constitucionalidade de um ato, normativo ou concreto, querendo com isso fazer prevalecer o seu posicionamento na questão. Ademais, o magistrado, atuando de ofício, pode realizar o controle de constitucionalidade. Na via abstrata, um dos legitimados pela Constituição vai a juízo, mediante a interposição de uma ação específica, pleitear a invalidação da lei com efeitos gerais, buscando expurgá-la do ordenamento jurídico, por afronta formal ou material à Constituição. A estrutura, neste caso, é diversa: o fundamento, a causa de pedir, identifica-se com a hipótese anterior (o fundamento é a inconstitucionalidade da lei); mas o pedido, o objeto da ação, não se resume à não aplicação da lei a certo caso em concreto. Busca-se, a partir do reconhecimento de sua inconstitucionalidade (este é o fundamento, a causa de pedir da ação), a declaração de sua invalidade com eficácia geral (este é o pedido da ação), com sua conseqüente retirada do ordenamento jurídico. Neste controle, pode-se buscar também, mediante uma ação específica, o reconhecimento da omissão em editar uma lei exigida pela Constituição. Trata-se, aqui, da inconstitucionalidade por omissão legislativa, que estudaremos em separado. Ademais, tanto o controle incidental como o abstrato podem ser exercidos de modo preventivo. No primeiro caso, busca-se evitar a produção de um ato que se entende lesivo à Constituição, ou o ingresso no ordenamento jurídico de uma lei que se reputa inconstitucional. Sobre este ponto falaremos abaixo. 8) CONTROLE PREVENTIVO E CONTROLE REPRESSIVO Quanto ao momento em que pode ser realizado o controle, temos que o controle poderá ser preventivo e repressivo. O controle preventivo atua durante o processo de elaboração do ato legislativo, ou antes que seja produzido o ato contrário à Constituição, visando impedir que o ato legislativo ingresse no ordenamento jurídico ou que o ato em concreto efetivamente ultime a ofensa à Constituição. O controle repressivo incide sobre a norma já em vigor ou sobre o ato já produzido, objetivando fazer cessar a lesão à Constituição, pelo expurgo da norma ou do ato do nosso universo jurídico. 9) SISTEMA BRASILEIRO DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 11 Nossa Constituição adotou o sistema de controle jurisdicional de constitucionalidade, combinando os métodos de controle difuso e concentrado, concreto e abstrato, em regra de atuação repressiva. O controle difuso, como já posto, permite que qualquer juiz ou Tribunal integrante do Poder judiciário avalie a constitucionalidade das leis e atos postos em discussão num caso em concreto que lhes cabe decidir. Já o controle concentrado é de incumbência do Supremo Tribunal Federal, se a Constituição-parâmetro for a Constituição Federal, ou dos Tribunais de Justiça dos Estados ou do Distrito Federal, se a Constituição-parâmetro for a Constituição Estadual ou a Lei Orgânica do Distrito Federal. Além do Poder Judiciário, o intérprete por excelência do Texto Maior, a Constituição admite a participação dos Poderes Legislativo e Executivo, no âmbito do controle de constitucionalidade, instituindo algumas hipóteses de controle preventivo e outras de controle repressivo. Isso não significa, de modo algum, que tenhamos adotado um sistema misto de controle de constitucionalidade, pois não há entre nós um órgão de natureza política cuja esfera de atuação exclusiva seja o controle de constitucionalidade, e nem atos cujo exame de constitucionalidade submetam-se somente a ele. Como dito, nosso sistema de controle de constitucionalidade tem seu núcleo no Poder Judiciário, admitindo somente algumas hipóteses de intervenção dos Poderes Legislativo e Executivo, as quais passamos a apresentar. 9.1) Poder Executivo A primeira hipótese de atuação do Poder Executivo no âmbito do controle de constitucionalidade vem prevista art. 66, § 1º, da CF, e tem por titular exclusivo, na esfera federal, o Presidente da República, durante o processo legislativo de elaboração das leis ordinárias e complementares. Manifesta-se mediante o exercício de seu poder de veto. Aprovado um projeto de lei complementar ou ordinária pelas duas Casas do Congresso, a Casa em que se deu o encerramento da votação deve remetê-lo ao Presidente da República, que deverá sancioná-lo ou vetá-lo, no prazo de quinze dias úteis, a contar de seu recebimento (CF, arts. 65 e 66, caput e § 1º). Se decidir pelo veto, pode fazê-lo motivado por razões de interesse público (veto político) ou por considerá-lo inconstitucional (veto jurídico). Nesta última hipótese, estará o Presidente da República exercendo um controle de constitucionalidade do tipo preventivo, pois trata-se, no caso, de um projeto de lei, e político, pois esta é a natureza da atuaçãopresidencial (apesar de ter se pacificado a denominação, no caso, de veto jurídico). De se ressaltar que a negativa presidencial não tem força definitiva, pois o veto poder ser superado pelo Congresso Nacional, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, e sessão conjunta (CF, art. 66, § 4º). Pelo princípio da simetria, incidente no caso, os demais chefes de Poder Executivo também possuem o poder de vetar projetos de lei complementar ou ordinária, motivados por contrariedade ao interesse CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 12 público ou inconstitucionalidade, cabendo a apreciação do veto à maioria absoluta dos membros do Poder Legislativo respectivo. Há ainda outra hipótese em que, segundo o STF, admite a participação do Poder Executivo em sede de controle de constitucionalidade: quando o Chefe do Poder, dentro de cada esfera de Governo, expede um decreto determinando que órgãos da Administração não apliquem determina lei ou ato normativo a ela equiparado, por considerá-la inconstitucional. No caso, é um controle repressivo, pois o ato legislativo já ingressou no ordenamento jurídico. Trata-se de um poder de autodefesa reconhecido pelo STF aos chefes de Poder Executivo (e apenas a eles, não sendo passível de exercício por qualquer outra autoridade do Poder Executivo), por meio do qual, com discricionariedade, tais autoridades impedem que, na Administração que chefiam, seja executada uma lei que reputam inconstitucional. Há contudo, um requisito inafastável para o legítimo exercício desta prerrogativa: a inexistência de pronunciamento do Poder Judiciário sobre a constitucionalidade da lei. Se editada a lei, o Poder judiciário já decidiu pela sua constitucionalidade, não pode o chefe do Executivo determinar a sua não-aplicacão; se ao contrário a decisão do Judiciário pela constitucionalidade foi posterior ao decreto de não-aplicação, deve o Chefe do Poder Executivo, uma vez publicada a decisão, imediatamente, expedir outro decreto, desfazendo o anterior e tornar a lei novamente aplicável no âmbito da Administrativa. O Chefe do Executivo não pode ignorar a decisão judicial contrária ao seu entendimento, sob pena de crime de responsabilidade e, em se tratando de Governadores de Estado e de Prefeitos municipais, da possibilidade de decretação de intervenção. É interessante notar que podem ocorrer os dois controles de constitucionalidade de forma inter-relacionada: isto ocorre quando o Chefe do Executivo, inicialmente, veta um projeto de lei por considerá-lo inconstitucional e, posteriormente, tendo em vista a derrubada do veto pelo Legislativo e o ingresso da lei no ordenamento jurídico, determina aos órgãos da Administração que não dêem aplicação ao diploma legislativo. Uma terceira possibilidade em que se pode vislumbrar o controle de constitucionalidade pelo Presidente da República ou pelos Governadores de Estado, conforme o caso, verifica-se na intervenção, medida útlima para se recompor a ordem constitucional lesada ou ameaçada de grave lesão em certa unidade federada. 9.2) Poder Legislativo A primeira hipótese de controle de constitucionalidade pelo Poder Legislativo assume o modo preventivo, pois incide sobre projetos de lei, sendo realizada pelas Comissões de Constituição e Justiça na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, bem como pelas suas congêneres nas demais unidades federadas. Como analisamos durante o estudo do processo legislativo, antes de qualquer projeto de lei complementar ou ordinária ser submetido à deliberação do Plenário da Casa, é o mesmo apreciado pelas diversas CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 13 Comissões Legislativas, dentre as quais, nesse contexto, sobressaem as Comissões de Constituição e Justiça (CCJ) que, pelo voto da maioria de seus membros, se manifestarão acerca da constitucionalidade ou inconstitucionalidade do projeto de lei. É um controle preventivo, pois incidente sobre projetos de lei, e político, pois efetuado por órgão não integrante do Poder Judiciário. De se ressaltar que, este controle de constitucionalidade pode ser efetuado pelo próprio Plenário da Casa Legislativa, pois lhe é autorizado rejeitar o projeto de lei por inconstitucionalidade. Outra hipótese de controle, esta, repressiva, está prescrita no art. 49, V, da Constituição Federal, onde se prevê que o Congresso Nacional, via decreto legislativo, pode sustar os atos normativos editados pelo Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites da delegação legislativa. Essa prerrogativa conferida pela Constituição ao Congresso é comumente conhecida como veto legislativo, e, como visto, é passível de incidir em duas hipóteses: a) exorbitância pelo Poder Executivo dos limites do poder regulamentar: salvo as hipóteses em que a Constituição autoriza ao Presidente a edição de decretos autônomos (CF, art. 84, VI), o Chefe do Poder Executivo Federal só pode expedir, com caráter normativo, os decretos regulamentadores (decretos executivos ou regulamentos de execução), pelo qual a autoridade executiva detalha as normas de leis, a fim de conferir-lhes aplicabilidade. É uma competência eminentemente infralegal, pois pressupõe lei a ser regulamentada e não pode ultrapassar os seus limites, criando diretamente direitos ou obrigações para os administrados. Se este limite for ultrapassado, estará o chefe do Executivo ilegitimamente inovando na ordem jurídica, o que autoriza o Poder Legislativo a sustar o decreto, quanto aos dispositivos que tenham extrapolado a função regulamentadora; b) exorbitância pelo Poder Executivo dos limites da delegação legislativa: estamos, aqui, perante as leis delegadas, passíveis de edição pelo Presidente da República após delegação de competência efetivada pelo Congresso Nacional mediante resolução, que especificará seu conteúdo e os termos de seu exercício (CF, art. 68, § 2º). Se o Presidente da República ultrapassar os termos da delegação, poderá o Congresso Nacional, por decreto legislativo sustar os efeitos da lei delegada, mais uma vez, no que toca aos dispositivos exorbitantes. Em contrapartida, segundo entendimento assente do STF, o decreto legislativo editado pelo Congresso, sustando os efeitos do decreto regulamentador ou da lei delegada, também é passível de apreciação jurisdicional, inclusive em sede de ação direta de inconstitucionalidade (ADIn) interposta perante o Supremo Tribunal Federal. Importante ressaltar que os efeitos do decreto legislativo são meramente ex nunc, uma vez que se trata, no caso, de sustação de eficácia, não de pronúncia de inconstitucionalidade. Uma terceira hipótese de controle de constitucionalidade pelo Poder Legislativo vem prescrita no art. 62, § 5°, da Constituição, que, no processo legislativo das medidas provisórias, determina que a análise do mérito do ato legislativo está condicionada ao prévio juízo acerca de seus CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 14 pressupostos constitucionais. Como a medida provisória produz efeitos jurídicos imediatamente após a sua edição, eventual rejeição da MP por inconstitucionalidade caracterizará controle de constitucionalidade repressivo. Sobre a matéria, vale transcrever a lição do Professor Vicente Paulo: Essas manifestações do Poder Legislativo – fiscalização da CCJ, sustação do ato exorbitante do Executivo e apreciação de medida provisória – não são dotadas de força definitiva, vale dizer, não impedem a apreciação judicial. Por fim, ressalte-se que o STF entende não ser possível ao Poder Legislativo editar projeto de lei declarando a inconstitucionalidadede lei anterior, com eficácia ex tunc (retroativa), uma vez que, na hipótese, estaria havendo usurpação da competência do Poder Judiciário, que goza da competência exclusiva para pronunciar-se de modo definitivo sobre a constitucionalidade ou não de atos legislativos. Eventual lei com este teor, elaborada pelo Poder Legislativo deverá, segundo a Corte, ser considerada como mera revogação da lei anterior, produzindo, desse modo, eficácia ex nunc (ou pró-ativa). 10) TRIBUNAIS DE CONTAS Os Tribunais de Contas não integram a estrutura do Poder Judiciário, o que de pronto afasta qualquer possibilidade de sua atuação no âmbito do controle abstrato de constitucionalidade, que objetiva o expurgo da norma viciada do ordenamento jurídico. Nada impede, entretanto, que os Tribunais de Contas, no exercício de suas funções constitucionais de fiscalização externa financeiro- orçamentária, realizem o controle de constitucionalidade das leis e atos normativos nos casos concretos que apreciam, podendo, desse modo, negar a aplicação da lei ou do ato ao caso em questão, por motivo de inconstitucionalidade. Não se trata, no caso, de uma análise com força de definitividade, o que implica dizer que a decisão do Tribunal de Contas pode ser levada à discussão perante o Poder Judiciário. 11) MODALIDADES DE DECISÃO NO ÂMBITO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE O Professor Vicente Paulo apresenta uma síntese na matéria, a partir do estudo realizado pelo Ministro do STF, Gilmar Ferreira Mendes. Segundo o eminente Autor, são modalidades de decisão do Poder Judiciário, no âmbito do controle de constitucionalidade: 1º) declaração de nulidade total como expressão de unidade técnico-legislativa: ocorre quando a norma apresenta vícios em seu CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 15 processo de elaboração (vício de competência, falta do quorum constitucional para aprovação etc.). Neste caso, não há outra opção senão a declaração de nulidade total da lei; 2º) declaração de nulidade total: dá-se quando, analisado o conteúdo das disposições da lei, verifica-se que todas são inconstitucionais (o que é raro), ou que, apesar de apenas algumas apresentarem vícios e outras não, há uma forte interdependência entre aquelas disposições e as demais, em si mesmas, constitucionais. Neste caso, a lei toda é declarada inconstitucional, pois de outra forma adviria uma das seguintes conseqüências: (1) ficariam as disposições restantes ilógicas, desconexas, sem sentido, em função da retirada do texto das disposições inconstitucionais; ou (2) as disposições da lei adquiririam um sentido completamente novo, inédito, pela retirada das disposições inconstitucionais, o que implicaria a criação de uma nova lei, em detrimento das atribuições legiferantes dos demais Poderes. A primeira situação é inaceitável, por permitir a existência, no ordenamento, de normas inúteis ou sem sentido; bem como a segunda, porque significaria a atuação do STF como legislador positivo, inovando na ordem jurídica, em ilegítima usurpação das funções do Poder Legislativo; 3º) declaração de nulidade parcial: ocorre quando as disposições da lei são divisíveis, de forma que a inconstitucionalidade de algumas não prejudica o sentido lógico e originário das demais, não-viciadas. Nessa hipótese, apenas aquelas são anuladas, permanecendo estas integrando o ordenamento jurídico. Vale salientar que o Judiciário poderá declarar a inconstitucionalidade de apenas uma palavra ou expressão de um dispositivo legal (desde que isso não implique a criação de norma nova), pois a vedação constitucional à supressão de palavras ou expressões isoladas de lei aplica-se tão-somente ao veto do Chefe do Poder Executivo (CF, art. 66, § 2º); 4º) declaração de nulidade parcial sem redução de texto: verifica- se quando o STF, preservando a integridade literal do texto legal originário, apenas declara sua não-aplicação a certas pessoas ou a determinados períodos. Por exemplo, uma lei que aumentasse a alíquota de uma contribuição social e não respeitasse a anterioridade nonagesimal, seria declarada inconstitucional apenas com relação ao período de noventa dias, protegido pela anterioridade, permanecendo válida e eficaz a partir de seu encerramento, ou seja a inconstitucionalidade, aqui, refere-se apenas à exigência do tributo no mesmo exercício financeiro em que publicada a lei. A partir do primeiro dia do exercício seguinte, a exigência seria legítima, constitucional. Nesta situação, como se percebe, nenhum dispositivo da lei foi suprimido, apenas a incidência da lei com relação a determinado período foi obstada pelo STF; 5º) interpretação conforme a Constituição: dá-se quando apenas um sentido interpretativo da norma é declarado inconstitucional, ou é declarada a sua constitucionalidade, desde que adotada determinada interpretação. Assim, a interpretação conforme a Constituição, de acordo com o caso, pode redundar em várias interpretações consentâneas com o Texto Maior, ou em apenas uma interpretação da norma compatível com a Constituição (as demais são declaradas inconstitucionais). Aqui, como na modalidade de decisão antes estudada, não há qualquer supressão no CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 16 texto legal, que permanece íntegro; apenas são fixadas as interpretações constitucionais ou vedadas as interpretações inconstitucionais. A interpretação conforme a Constituição tem alguns limites de utilização, pois ela (a) não pode contrariar a literalidade do texto legal; (b) pressupõe que exista efetivamente um espaço de interpretação, a partir do qual a constitucionalidade da norma possa ser salva; (c) não pode implicar dissonância do dispositivo interpretado com o restante dos dispositivos constitucionais, de forma a romper a unidade sistemática da Constituição; e (d) não pode ofender a vontade do legislador, alterando o sentido da norma como originariamente elaborada. Quando qualquer destes quatro limites for ultrapassado, não terá aplicação a interpretação conforme a Constituição, devendo ser declarada a inconstitucionalidade da norma; 6º) a declaração de “lei ainda constitucional”: esta decisão tem lugar frente a situações transitórias, que no momento são ainda constitucionais, mas que, em futuro próximo, deixarão de sê-lo. São situações em que, perante uma alteração relevante em algum tema de caráter constitucional, mesmo que a alteração date da entrada em vigor da CF/88, é necessário conferir-se ao Poder Legislativo ou ao Poder Executivo, conforme o caso, um período de tempo razoável para a adoção das providências requeridas pela Constituição. O STF proferiu decisão dessa natureza, por exemplo, quando admitiu a constitucionalidade da prestação dos serviços de assistência jurídica aos que têm insuficiência de recursos pelo Ministério Público, embora a Constituição tenha previsto que tal função é atribuição da Defensoria Pública. Desta forma, considerou “ainda constitucional” o art. 68 do Código de Processo Penal, onde consta tal atribuição ao MP, apesar do disposto no art. 134 da CF, que outorga tal competência à Defensoria Pública. O art. 68 foi declarado “ainda constitucional”, o que significa dizer que, por enquanto, os promotores de Justiça podem prestar este serviço. Contudo, em futuro próximo, na proporção em que forem constituídas as Defensorias Públicas, paulatinamente o art. 68 irá perdendo sua constitucionalidade, até que todas as Defensorias Públicas estejam em efetivo funcionamento, quando então a norma legal passará a ser absolutamente inconstitucional. Por isso, tal declaração também pode ser denominada de inconstitucionalidade progressiva.II. CONTROLE DIFUSO 1) NOÇÕES GERAIS O controle difuso de constitucionalidade, também conhecido como controle por via de exceção ou defesa, é aquele exercido por qualquer Tribunal ou magistrado do Poder Judiciário brasileiro, no bojo de um caso em concreto posto à sua apreciação. Sua origem histórica remonta ao ano CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 17 de 1803, nos Estados Unidos da América, quando o juiz Marshall, da Suprema Corte Americana, ao julgar o caso Madison X Marbury, declarou que é inerente ao exercício da função jurisdicional a interpretação e a aplicação da lei, e que se, no desencargo desta tarefa, o julgador verificar que há conflito entre a Constituição e a lei em questão no caso em concreto, deve ser negada aplicação a esta, em virtude da supremacia hierárquica da Constituição perante qualquer outro ato normativo que integre o ordenamento jurídico estatal. Este controle foi definitivamente instituído no Brasil pela Lei nº 221, Federal, de 1894, que outorgou aos juízes e tribunais do Poder Judiciário competência para a análise da compatibilidade das leis e regulamentos perante a Constituição Federal, a partir do que poderiam negar a aplicação daquelas aos casos em concreto sob sua jurisdição, quando as considerassem inconstitucionais. Sobre o tema, transcrevemos lição de Vicente Paulo: No controle difuso, quando o autor da ação procura a tutela do Poder Judiciário, sua preocupação inicial não é com a inconstitucionalidade da lei em si. Seu objetivo é um dado direito concreto, exigível em face de alguém (a outra parte na ação). A constitucionalidade só é apreciada porque esse direito pretendido envolve a aplicação de uma lei, e esta lei é inquinada de inconstitucional pela parte que pretende vê-la afastada. Então, sendo argüida a inconstitucionalidade da norma, o juiz, para reconhecer ou negar o direito do autor, vê-se obrigado a examinar a questão de constitucionalidade suscitada. Por isso se diz que, no controle difuso, o objeto da ação não é a constitucionalidade em si, mas sim uma relação jurídica qualquer. Ou, mais ainda: por isso esse controle é também denominado "incidental" (incidenter tantum, por via de exceção, por via de defesa, concreto, indireto), porque a controvérsia sobre a constitucionalidade representa uma questão acessória (um incidente) a decidir, surgida no curso de uma demanda judicial que tem como objeto principal o reconhecimento ou a proteção de um direito alegado em um caso concreto. Sobre o mesmo ponto, vale transcrevemos também a lição de Alexandre de Moraes: Na via de exceção, a pronúncia do Judiciário, sobre a inconstitucionalidade, não é feita enquanto manifestação sobre o objeto principal da lide, mas sim sobre questão prévia, indispensável ao julgamento de mérito. Nesta via, o que é outorgado ao interessado é obter a declaração de inconstitucionalidade somente para o efeito de isentá-lo, no caso concreto, do cumprimento da lei ou ato, produzidos em desacordo com a Lei Maior. Entretanto, este ato ou lei permanece válidos no que se refere à sua força obrigatória com relação a terceiros. A essência do controle difuso não é difícil de ser percebida: todo e qualquer órgão jurisdicional, no transcurso de um processo judicial, é instado a interpretar a lei a certo caso em concreto. No exercício desta função, poderá o julgador verificar que há descompasso entre a lei e a CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 18 Constituição, caso em que, especificamente para aquele caso em concreto posto à sua apreciação, deve afastar a aplicação da norma legal destoante da Constituição. O controle difuso, assim, pode ser instaurado perante qualquer órgão do Poder Judiciário, seja monocrático ou colegiado. Desse modo, no Brasil, desde os magistrados de primeira instância até o órgão da cúpula do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal, passando pelos Tribunais de Justiça, pelos Tribunais Regionais Federais, Eleitorais e do Trabalho, bem como os Tribunais Superiores, todos gozam de competência para negar a aplicação de certo diploma legal num caso em concreto, tendo por fundamento da negativa sua desconformidade para com a Constituição. O controle pode ser instaurado pelo autor da ação, pelo réu, por alguns dos intervenientes no processo, como o Ministério Público, e pelos próprios magistrados, atuando de ofício. O que se busca neste controle não é propriamente a declaração de inconstitucionalidade da lei, sendo o reconhecimento do vício o pressuposto para o pedido, a causa de pedir que justifica a pretensão levada a juízo. Por isso se afirma que, no controle difuso, a declaração de inconstitucionalidade da lei não constitui o objeto principal do processo, o que é inegavelmente correto neste âmbito, uma vez que do controle difuso jamais poderá resultar uma decisão declarando a invalidade da lei com eficácia erga omnes, de modo a alcançar também todos aqueles que não participaram da relação processual. Se o Judiciário entender que a lei não se conforma, em termos materiais ou formais com a Constituição, limitar-se a afastar sua aplicação no caso em concreto, tendo esta decisão eficácia meramente inter partes, ou seja, restrita àqueles que participaram do processo. Ademais, a decisão limita- se, também, àquele específico processo em que foi prolatada, não atingindo outros processos, mesmo que envolvam as mesmas partes. Enfim, o reconhecimento da inconstitucionalidade da lei alcança apenas o objeto daquele processo, vinculando apenas as partes dele integrantes. Para ilustrarmos a sistemática do controle difuso, basta pensarmos em uma lei instituindo um tributo que dado particular considera inconstitucional por violação ao princípio constitucional-tributário do não-confisco. O Fisco, em face da criação do tributo por lei, faz o necessário lançamento, e exige o pagamento do tributo ao particular. Este, inconformado com a exigência, instaura uma ação na qual visa a declaração de nulidade do tributo, sob a alegação de que a lei que o instituiu é inconstitucional. O pedido da ação, seu objeto, é afastar a incidência do tributo; o fundamento, a causa de pedir, a justificativa para a sua pretensão, é a nulidade da lei que instituiu o tributo, por ofensa ao princípio do não-confisco. Se o Judiciário considerar procedente o pedido, determinará o não- cabimento do tributo, em virtude da inconstitucionalidade da sua lei instituidora. Esta decisão só é válida para aquele processo, e para aqueles que dele participaram. Assim, se em exercício posterior foi editada uma lei com idêntico conteúdo, o particular atingido só afastará sua aplicação se instaurar outra ação. Da mesma forma, se outros particulares, também inconformados com a primeira lei, quiserem liberar-se do pagamento do CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 19 tributo, devem instaurar uma ação própria, pois não se aproveitam minimamente da decisão proferida no processo de que não participaram. Mais uma vez destacando, o controle de constitucionalidade pode ser instaurado pelo réu da ação ou por um dos terceiros intervenientes, a exemplo do Ministério Público. Pode também o magistrado, independentemente de qualquer pedido, de ofício determinar a não-aplicação da lei por vício de inconstitucionalidade, uma vez que é dever primeiro de qualquer membro do Judiciário, antes de aplicar qualquer lei a um caso em concreto, preliminarmente, verificar sua compatibilidade formal e material com o Texto Maior. Como se nota, o interessado em suscitar o debate da constitucionalidade da lei em facede certa situação em concreto pode fazê-lo de forma ativa, atacando o ato cuja produção é pretendida a partir de uma lei que o suscitante reputa inconstitucional; ou de forma passiva, aguardando que seja primeiramente praticado o ato contra si e, quando instado judicialmente acerca de sua negativa em acatá-lo, justificar sua conduta alegando a inconstitucionalidade da lei que fundamenta a produção do ato. Ademais, o controle difuso de constitucionalidade pode ser acionado no bojo de qualquer espécie de ação judicial – penal, civil, trabalhista etc. -, inclusive por meio dos remédios constitucionais, individuais ou coletivos – habeas corpus, mandado de segurança, ação popular – sempre perante um caso concreto cujo deslinde afete diretamente a situação jurídica daquele que alegou a inconstitucionalidade do ato legislativo. Podem nele ser impugnadas quaisquer espécies legislativas, tenham sido elas editadas pela União, pelos Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios. 2) EFEITOS DA DECISÃO A regra geral é que as decisões judiciais no controle difuso só produzam eficácia inter partes, ou seja, entre as partes participantes do processo em que foram prolatadas. É de todo irrelevante que a decisão provenha de um juiz singular, de um Tribunal de Justiça, de um Tribunal Regional, de um Tribunal Superior ou do próprio Supremo Tribunal Federal. Se a inconstitucionalidade de uma lei é reconhecida no âmbito de certo processo instaurado em sede de controle difuso, apenas seus participantes são atingidos pela decisão judicial. Para terceiros não integrantes da relação processual a lei permanece plenamente válida e eficaz. Há, entretanto, uma possibilidade de que o Senado venha a conferir eficácia erga omnes a tais decisões, do modo a fazê-las incidir também sobre os não-participantes do processo em que proferida. Este será o objeto do tópico subseqüente. Entre os participantes do processo, a regra geral é que a decisão produz efeitos ex tunc ou retroativos, ou seja, alcança todos os efeitos jurídicos que a lei viciada produziu com relação ao caso em concreto objeto do CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 20 processo, desde sua entrada em vigor, e não apenas desde a data em que foi proferida a decisão judicial. Por exemplo, imaginemos que uma lei regulando certos contratos entre em vigor em 10-10-2001 e, com base em suas disposições, é celebrado um contrato exatamente na mesma data, cujo prazo de duração é definido em 05 anos. Um dos signatários do contrato, inconformado com certas disposições da lei, que obrigatoriamente tiveram que ser observadas no contrato, impugna sua validade, alegando a inconstitucionalidade da lei que lhe serviu de fundamento. A decisão judicial, que reconhece o vício da lei transita em julgado em 10-04-2006, quando restavam apenas 06 meses de vigência do contrato impugnado. Como tal decisão produz efeitos retroativos, não se limitará a obstar a aplicação das cláusulas contratuais que têm por fundamento a lei apenas a partir de 10-04-2006, data em que foi proferida. Ela atingirá o contrato desde a sua celebração, uma vez que esta ocorreu exatamente na data em que se iniciou a vigência da lei. Logo, a decisão atingirá a aplicação do contrato desde 10-10-2001. A eficácia ex tunc é, então, a regra geral nas decisões judiciais prolatadas no controle difuso. Mas não é, entretanto, a única, pois o STF, em março de 2003, reconheceu a possibilidade de proferir decisões com eficácia pro futuro no âmbito do controle difuso (no controle abstrato há expressa previsão legal neste sentido), desde que existam fundadas razões de segurança jurídica que justifiquem que tal efeito seja conferido à decisão. O efeito pro futuro permite que a decisão só produza efeitos jurídicos a partir da data da sua expedição, ou em outro momento fixado pelo STF, na própria decisão. Por exemplo, imaginemos uma decisão do STF proferida em 15-12-2006, que tenha reconhecido vício de inconstitucionalidade em uma lei que teve sua vigência iniciada em 15-08-2003. Aplicando-se a regra geral, seus efeitos retroagirão até a data em que entrou em vigor a lei (15-08-2003). Se não houver expressa menção da eficácia temporal na decisão, seus efeitos são retroativos. Poderá o Tribunal, entretanto, conferir eficácia pro futuro à decisão, determinando que ela produza efeitos em momento posterior à data em que foi proferida (por exemplo, 10-03-2007); ou ex nunc (pró-ativos), a partir da data em que proferida (15-12-06); ou ex tunc (retroativos), em momento anterior à data proferida (por exemplo, 10-04-2004). Ressalte-se que, até o presente momento, o STF só reconheceu à própria Corte a possibilidade de proferir decisões no controle difuso com eficácia pro futuro ou ex nunc, embora permaneça como regra geral a eficácia retroativa. Para os demais órgãos jurisdicionais a eficácia retroativa é a única aplicável, em se tratando de controle difuso. 3) COMPETÊNCIA DO SENADO FEDERAL NO ÂMBITO DO CONTROLE DIFUSO CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 21 A Constituição estabelece um mecanismo para ampliar os efeitos das decisões definitivas proferidas pelo STF que declarem, em sede de recurso extraordinário (ou seja, em sede de controle difuso, como veremos adiante), a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo. Como analisamos no tópico anterior, uma decisão dessa espécie, proferida no controle difuso, gera efeitos apenas entre os participantes da relação processual onde ela foi exarada (eficácia inter partes). Para ampliar esta eficácia, o art. 52, X, da CF outorga ao Senado competência para suspender, mediante a edição de uma resolução, a execução da lei ou do ato normativo objeto da decisão definitiva do STF em controle difuso, estendendo a decisão da Corte aos não-participantes da relação processual (eficácia erga omnes). A sistemática da atuação do Senado é explicitada por Alexandre de Moraes nos seguintes termos: O Supremo Tribunal Federal, decidindo o caso concreto poderá, incidentalmente, declarar, por maioria absoluta de seus membros, a inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo do Poder Público (CF, art. 97; RISTF, arts. 176 e 177). A partir disso, poderá oficiar o Senado Federal, para que este, nos termos do art. 52, X, da Constituição, através da espécie normativa resolução, suspenda a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal. O Regimento Interno do Senado Federal prevê, em seu art. 386, que o Senado conhecerá da declaração, proferida em decisão definitiva pelo Supremo Tribunal Federal, de inconstitucionalidade, total ou parcial de lei mediante: comunicação do Presidente do Tribunal; representação do Procurador-Geral da República; projeto de resolução, de iniciativa da comissão de constituição, justiça e cidadania. A comunicação, a representação e o projeto acima referidos deverão ser instruídos com o texto da lei cuja execução se deva suspender, do acórdão do Supremo Tribunal Federal, do parecer do Procurador-Geral da República e da versão do registro taquigráfico do julgamento. Uma vez lida em plenário, a comunicação ou representação será encaminhada à comissão de constituição, justiça e cidadania, que formulará projeto de resolução suspendendo a execução da lei, no todo ou em parte. No exercício desta atribuição, que vale destacar, é discricionária, atua o Senado como órgão nacional, e não apenas federal. Isto significa que a suspensão pode incidir sobre leis e atos normativos federais, estaduais, distritais e municipais, uma vez que todas podem ser declaradas inconstitucionaispelo STF, na via do controle difuso. Deve-se ressaltar que, o Senado não revoga ou anula a lei ou ato normativo, somente suspende sua eficácia. A revogação é a retirada de uma lei válida do ordenamento; a suspensão de eficácia incide sobre leis declaradas inválidas, porque desconformes à Constituição. A anulação de uma lei ou ato normativo, por sua vez, é atribuição do Poder Judiciário, não do Poder Legislativo. Assim, o Senado limita-se a suspender a eficácia CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 22 da norma, a partir da constatação pelo STF de sua incompatibilidade com a CF. A suspensão da execução da norma é ato de natureza política, tendo o Senado total autonomia para decidir se edita ou não a resolução suspensiva. Se decidir editá-la, contudo, deverá fazê-lo nos estritos termos da decisão prolatada pelo STF, atingindo a resolução os mesmos dispositivos reconhecidos como inconstitucionais pela Corte, não podendo, de qualquer modo, alterar ou restringir o rol de dispositivos. A Constituição, ao prever tal competência para o Senado, vale-se dos seguintes termos: "suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal". Pelo que aqui foi afirmado, a interpretação da norma constitucional deve ser no sentido de que, quando o STF declarar a nulidade de toda a lei, se o Senado decidir suspender a execução, será também de toda a lei; se a declaração de nulidade foi parcial, também será parcial a suspensão, alcançando exatamente os mesmos dispositivos da decisão da Corte. Em decorrência do fato se ser uma competência política, não há qualquer prazo para a atuação do Senado. Todavia, tendo a Casa decidido pela edição da resolução, é seu ato irretratável, não podendo o Senado, posteriormente, revogar ou alterar a resolução anteriormente editada. A doutrina divide-se quanto à extensão dos efeitos da resolução do Senado que suspende a execução de norma declarada inconstitucional pelo STF em controle difuso de constitucionalidade A primeira corrente, que confere eficácia ex nunc à resolução do Senado, baseia seu entendimento na literalidade do preceito constitucional (“suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do STF” – CF, art. 52, X). Afirma tal corrente que a suspensão da execução de uma norma pressupõe sua validade anterior, pois só se suspende a execução de uma norma se até então ela era válida e eficaz. A resolução do Senado viria apenas sustar seus efeitos, sem atingir sua validade pretérita, o que significa dizer que são eles ex nunc. Além disso, sendo a edição de uma norma jurídica conseqüência, em regra, da atuação conjunta e autônoma de dois Poderes da República (Executivo e Legislativo), não poderia este último, por meio da atuação isolada do Senado, declarar o desfazimento de seus efeitos com força retroativa (ex tunc), pois tal prerrogativa seria privativa do Poder Judiciário. A segunda corrente, diferentemente, defende a concessão de eficácia ex tunc à resolução do Senado, pois considera que esta Casa Legislativa, ao manifestar sua concordância com a decisão do STF, por meio da expedição de uma resolução que lhe confere eficácia erga omnes, nada mais faz do que estender os efeitos desta decisão, que até então vinculava apenas as partes no processo, com eficácia retroativa (ex tunc), a todos os demais destinatários da norma. Se menos amplo fosse o alcance dos efeitos da resolução (ex nunc), teriam os terceiros com relação ao processo, que recorrer ao Judiciário, caso desejassem obter o desfazimento dos efeitos jurídicos retroativamente. Tal resolução, CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 23 portanto, também teria efeitos ex tunc, retroativos, ou perderia grande parte de sua utilidade. No nosso entender, a doutrina majoritária está no sentido de conferir-se à suspensão do Senado Federal eficácia pró-ativa (ex nunc). Por fim, não cabe qualquer atuação do Senado em sede de controle abstrato de constitucionalidade, pois, neste caso, como veremos, a própria decisão do Poder Judiciário já é dotada de eficácia erga omnes. Em encerramento, trazemos lição de Gabriel Dezen Junior, segundo o qual: A lei que havia sido revogada pela lei que o Senado veio a suspender volta a viger, sem que se trate, aqui, de repristinação. Essa volta à vigência começa na data da publicação da resolução do Senado que suspender a lei revogadora. 4) PRINCÍPIO DA RESERVA DE PLENÁRIO Como já exposto, no controle difuso de constitucionalidade a argüição de inconstitucionalidade é feita incidentalmente no curso da ação, não como pedido, mas como causa de pedir. O sujeito processual que procede a tal argüição não tem como interesse principal a declaração de inconstitucionalidade da lei ou ato normativo, mas o reconhecimento da existência de algum direito ou da inexistência de alguma obrigação, em virtude deste vício da norma. Pode esta espécie de controle ser exercido por qualquer órgão jurisdicional brasileiro Os órgãos jurisdicionais monocráticos (os juízes) não têm que observar qualquer procedimento processual especial para declarar incidentalmente a inconstitucionalidade de uma norma. Todavia, os Tribunais, para decidirem pela declaração de inconstitucionalidade da norma jurídica, necessitam da manifestação da maioria absoluta de seus membros, pela aplicação do princípio da reserva de plenário, previsto no art. 97 da CF. Reza o referido dispositivo constitucional: Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. O dispositivo alcança todos os Tribunais do Poder Judiciário (Tribunais de Justiça, Tribunais Regionais Federais, Tribunais Superiores, STF etc). Ademais, alcança o controle efetuado em face da Constituição Federal, das Constituições Estaduais e das Leis Orgânicas dos Municípios e do Distrito Federal. A reserva de plenário é, pois, o procedimento especial instituído pela Constituição para que os Tribunais do Poder Judiciário reconheçam a inconstitucionalidade de certo ato legislativo e declarem isto num processo CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 24 sob sua apreciação. A decisão do Tribunal exarada com a inobservância da reserva padece, pois, de vício de nulidade absoluta. O princípio em questão se justifica especialmente pelo princípio da presunção de constitucionalidade das leis. Se a lei é presumivelmente constitucional, exige-se um quorum especial, de maioria absoluta, para derrubar tal presunção. Pode-se salientar, também, a maior segurança jurídica que a Constituição assegura ao exigir este quorum especial para a declaração de inconstitucionalidade, seja na via difusa, seja na concentrada. Perceba-se que o art. 97 da Constituição menciona a possibilidade de a decisão ser proferida não só pelo Plenário, mas também pelo órgão especial do Tribunal. O art. 93, XI, da Carta, prevê a possibilidade de os Tribunais instituírem este órgão, sendo vazado nos seguintes termos: XI - nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antigüidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno. Desse modo, nos Tribunais que instituírem o órgãoespecial acima referido, a declaração de inconstitucionalidade pode ser proferida pelo voto da maioria absoluta dos membros do plenário ou do órgão especial. Inexistente o órgão especial, a competência é exclusiva do Plenário. Há, assim, uma divisão funcional de competência: aos órgãos fracionários, por maioria relativa, cabe a solução do caso concreto posto em julgamento e eventual declaração de constitucionalidade da norma posta em questão; e ao pleno ou ao órgão especial do tribunal, por maioria absoluta, cabe declarar a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo. Tal princípio, portanto, veda a possibilidade de os órgãos fracionários dos tribunais (turmas, câmaras, seções) procederem à declaração de inconstitucionalidade de uma norma jurídica, competência funcional privativa do plenário ou do órgão especial do respectivo órgão, mediante o voto da maioria absoluta de seus membros. Os órgãos fracionários podem apreciar a questão constitucional e, em o fazendo, decidir pela constitucionalidade da norma objeto da análise. Contudo, se o pronunciamento for pela inconstitucionalidade da norma, deve o órgão fracionário suspender o julgamento, sem declarar o vício, e remeter os autos do processo ao plenário ou ao órgão especial do tribunal, que decidirá a questão constitucional e devolverá os autos processuais ao órgão fracionário, a quem caberá aplicar, vinculadamente, a decisão assim proferida ao caso posto em julgamento. Enfim, o pleno ou o órgão especial julga o incidente de constitucionalidade, vinculando neste aspecto o órgão fracionário, a quem competirá a aplicação da decisão ao caso específico que lhe cabe julgar. A jurisprudência do STF, entretanto, ressalva a aplicação deste princípio em duas situações: 1º) quando o tribunal, através do plenário ou de seu órgão especial, já reconheceu em julgamento anterior a inconstitucionalidade da lei ou ato CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 25 normativo, nesta ocasião, manifestando-se a maioria absoluta de seus membros pela inconstitucionalidade da norma; 2º) quando o próprio STF, em controle difuso ou concentrado, já declarou da mesma forma a inconstitucionalidade da lei ou do ato normativo. Segundo o STF, o art. 97 objetiva impedir que os órgãos fracionários do Tribunal possam, pela primeira vez, declarar a inconstitucionalidade de certo ato legislativo. Portanto, se a lei em questão já teve reconhecida sua inconstitucionalidade, seja em controle difuso ou concentrado, pelo STF ou pelo plenário ou órgão especial do próprio Tribunal, cessa a necessidade de ser observado o art. 97, estando os órgãos fracionários, a partir de então, aptos a pronunciar diretamente a inconstitucionalidade da lei. A posição do STF, na matéria, foi adotada pela Lei nº 9.756, de 1998, que, alterou o parágrafo único do art. 481 do Código de Processo Civil, que atualmente vigora com a seguinte redação: Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao plenário, ou ao órgão especial, a argüição de inconstitucionalidade, quando já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal Federal sobre a questão. Em caso de posição divergente entre o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal em questão, prevalece a posição do STF. Observe que não é necessário o quorum de maioria absoluta para a declaração de constitucionalidade da lei ou ato normativo, que pode então ser pronunciada pelos diretamente pelos órgãos fracionários dos tribunais, ou mesmo pelo seu pleno ou órgão especial, por maioria relativa. Conclui- se isso a partir de uma interpretação a contrario sensu do art. 97 da Constituição. Como ensina Gabriel Dezen Junior, também não se aplica o princípio da reserva de plenário aos órgãos colegiados de primeiro grau, a exemplo das Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis, os quais, deste modo, podem reconhecer a inconstitucionalidade de uma lei por maioria relativa de seus membros. O art. 97 é claro ao circunscrever sua incidência aos Tribunais. Da mesma forma, prossegue o Autor, o princípio não alcança eventual decisão do Tribunal ou de seus órgãos fracionários pela revogação da lei por não-recepção, pois não se trata, no caso, de inconstitucionalidade. 5) CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE EM AÇÃO CIVIL PÚBLICA Matéria que já foi objeto de intensa discussão, mas atualmente está pacificada no âmbito do STF, concerne à possibilidade de ser exercitado o controle de constitucionalidade no âmbito de ações civis públicas. As conclusões da Corte sobre o ponto, na verdade, não se afastam das considerações já expostas até este momento e que, levadas para a ação civil pública, podem ser assim sintetizadas: CURSOS ON-LINE – DIREITO CONSTITUCIONAL – CURSO REGULAR PROFESSOR GUSTAVO BARCHET www.pontodosconcursos.com.br 26 a) é cabível exercer o controle de constitucionalidade, quando se busca a invalidação de certo ato praticado com base em lei que se reputa afrontosa à Constituição, seja a lei federal, distrital, estadual ou municipal. Neste caso, o desfazimento do ato será o objeto da ação civil pública, e a causa de pedir será a alegação de inconstitucionalidade da lei. Por exemplo, pode o Ministério Público Federal interpor a ação buscando a anulação de um contrato porque praticado com base em lei que considera inconstitucional. Nesta hipótese, se o Judiciário concluir pela existência do vício, declarará a inconstitucionalidade da lei, especificamente para aquele caso em concreto, e, em função disso, determinará a anulação do contrato a partir dela praticado; b) não se admite a interposição de ação civil pública cujo pedido, principal ou subsidiário, seja pela declaração de inconstitucionalidade da lei, pois neste caso, se provida a ação, a decisão implicaria na invalidação da lei com eficácia erga omnes, já que estes são os efeitos da decisão nesta ação, por força da Lei nº 7.347, de 1985. Isto representaria, inegavelmente, usurpação da competência do STF, se a Constituição- parâmetro for a Federal, ou dos Tribunais de Justiça, se a Constituição- parâmetro for Estadual, pois apenas tais órgãos jurisdicionais, em sede de controle concentrado, gozam de competência para proferir decisões declaratórias de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos com eficácia erga omnes. Enfim, veda-se a utilização da ação civil pública como sucedâneo da ação direta de inconstitucionalidade (ADIn). 6) CONTROLE DIFUSO DE CONSTITUCIONALIDADE NO TRANSCURSO DO PROCESSO LEGISLATIVO Em regra, o controle de constitucionalidade é exercido com relação a leis e atos normativos já prontos e acabados, ou seja, que já se encontrem plenamente vigentes. Todavia, o STF abre uma exceção a esta regra geral, admitindo que os parlamentares possam discutir, no âmbito do controle difuso e em sede de mandado de segurança, vícios de inconstitucionalidade que entendam presentes no transcurso do projeto legislativo. Trata-se, no caso, de um controle incidente sobre um projeto de lei, pois ainda não se completou seu processo de formação. O fundamento do posicionamento da Corte é que o processo legislativo de elaboração de atos normativos primários é minudentemente disciplinado na Constituição, e os parlamentares, e apenas eles, têm o direito líquido e certo de participar de um processo legislativo em plena conformidade com as regras postas no Texto Maior. A existência deste direito justifica o uso, no caso, do mandado de segurança. Os Ministros do STF, concordes com a possibilidade de os parlamentares impugnarem, em mandado de segurança, atos concretos praticados durante o trâmite de um processo legislativo, não manifestaram um posicionamento uniforme quanto à amplitude deste controle,
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