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Direito Constitucional - Aula 21 - Assuntos Diversos

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AULÃO 21: ASSUNTOS DIVERSOS 
 
 
DEFESA DO ESTADO E DAS INSTITUIÇÕES 
DEMOCRÁTICAS 
 
 
1) INTRODUÇÃO 
Os arts. 136 a 141 da Constituição Federal tratam do que 
doutrinariamente denomina-se sistema constitucional de crises ou 
estado de legalidade extraordinária, expressões que compreendem o 
estado de sítio ou o estado de defesa. 
O estado de defesa é objeto do art. 136 da Constituição, o estado de sítio, 
dos arts. 137 a 139. Os arts. 140 e 141 da Carta contêm normas 
aplicáveis a ambas as situações. 
O estado de defesa e o estado de sítio são decretados em situações nas 
quais a normalidade constitucional encontra-se sob severa ameaça, o que 
autoriza a adoção de medidas excepcionais, que afastam 
temporariamente os parâmetros regulares de legalidade constitucional, 
substituídos por uma legalidade extraordinária, necessária para fazer 
cessar a ameaça. Como ensina Gabriel Dezen Junior, a partir da lição de 
Moacyr Amaral dos Santos, dois são os princípios que norteiam as 
medidas a serem adotadas no estado de defesa ou no estado de sítio: a 
necessidade e a temporariedade. Sem que haja necessidade, qualquer das 
medidas de exceção que discriminaremos a seguir caracteriza golpe de 
Estado; sem que se verifique sua temporariedade, ditadura. 
Isto posto, passemos à apresentação desses dois estados de legalidade 
extraordinária. 
 
2) ESTADO DE DEFESA 
Reza o art. 136 da Constituição, em seu caput: 
Art. 136. O Presidente da República pode, ouvidos o Conselho da 
República e o Conselho de Defesa Nacional, decretar estado de 
defesa para preservar ou prontamente restabelecer em locais 
restritos e determinados, a ordem pública ou a paz social 
ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional ou 
atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza. 
Pelo dispositivo constitucional, podemos sintetizar como características do 
estado de defesa: 
a) competência privativa para a decretação: Presidente da República, após 
a oitiva do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional; 
b) abrangência: locais restritos e determinados; 
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c) objetivo: preservação ou pronto restabelecimento da ordem pública ou 
da paz social, ameaçadas por grave e iminente instabilidade institucional 
ou atingidas por calamidades de grandes proporções na natureza. 
O estado de defesa será instaurado por decreto editado pelo Presidente da 
República, o qual deverá especificar o tempo de sua duração e as áreas 
por ele abrangidas, bem como as medidas de exceção que serão aplicadas 
(art. 136, § 1°). Uma vez editado o decreto, será o mesmo submetido à 
aprovação do Congresso Nacional, sendo eventual rejeição causa imediata 
de cessação de sua vigência. 
A Constituição arrola, em rol taxativo, as medidas passíveis de aplicação 
no estado de defesa, a saber: 
a) restrições aos direitos de: 
- reunião, ainda que exercida no seio das associações; 
- sigilo de correspondência; 
- sigilo de comunicação telegráfica e telefônica; 
b) ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de 
calamidade pública, respondendo a União pelos danos e custos 
decorrentes. 
O prazo de duração do estado de defesa é de trinta dias, prorrogável uma 
única vez por igual período, quando persistirem as razões que 
fundamentaram sua decretação (art. 136, § 2°). Se, ao final desses 
sessenta dias, a situação ainda não tiver sido contornada, não cabe nova 
prorrogação do estado de defesa, mas decretação do estado de sítio. 
O § 3° do art. 136 autoriza a efetivação de prisões por ordem direta de 
autoridade administrativa, sem necessidade de autorização judicial. Nesta 
hipótese, as regras aplicáveis são as seguintes: 
a) a prisão por crime contra o Estado, determinada pelo executor da 
medida, será por este comunicada imediatamente ao juiz competente, que 
a relaxará, se não for legal, facultado ao preso requerer exame de corpo 
de delito à autoridade policial: 
b) a comunicação será acompanhada de declaração, pela autoridade, do 
estado físico e mental do detido no momento de sua autuação; 
c) a prisão ou detenção de qualquer pessoa não poderá ser superior a dez 
dias, salvo quando autorizada pelo Poder Judiciário; 
d) é vedada a incomunicabilidade do preso. 
Decretado o estado de defesa ou sua prorrogação, o Presidente da 
República deverá, em vinte e quatro horas, submeter o ato, 
acompanhados das justificativas para sua produção, ao Congresso 
Nacional, o qual deverá sobre ele deliberar, para fins de aprovação ou 
rejeição, sendo necessário, para a aprovação, maioria absoluta em cada 
uma das Casas Legislativas. Eventual aprovação será formalizada 
mediante decreto legislativo (§ 4°). Já a rejeição acarreta a cessação 
imediata do estado de defesa, sob pena de crime de responsabilidade do 
Presidente da República (§ 7°). 
O prazo máximo para o Congresso apreciar o decreto é de dez dias, a 
contar do recebimento, devendo continuar funcionando enquanto 
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permanecer em vigor o estado de defesa. Se eventualmente o Congresso 
estiver em recesso, deverá haver sua convocação extraordinária, no prazo 
de cinco dias, por ato do Presidente do Senado (art. 136, § § 5° e 6°). 
Gabriel Dezen Junior considera que a não-apreciação do decreto no prazo 
de dez dias equivale à aprovação tácita do estado de defesa. 
 
3) ESTADO DE SÍTIO 
O estado de sítio é instrumento passível de aplicação nas hipóteses de: 
a) comoção grave de repercussão nacional ou ocorrência de fatos que 
comprovem a ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa: 
nesta hipótese, o estado de sítio pode ser decretado por até trinta dias, 
admitindo-se sucessivas prorrogações, cada uma pelo período máximo de 
trinta dias (CF, art. 137, I c/c art. 138, § 1°); 
b) declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada 
estrangeira: nessa hipótese o estado de sítio pode ser decretado por todo 
o tempo que perdurar a guerra ou a agressão armada (Cf, art. 137, II c/c 
art. 138, § 1°). 
Ao contrário do que ocorre no estado de defesa, em que a atuação do 
Congresso se dá a posteriori, no estado de sítio o Presidente da República, 
após a oitiva do Conselho da República e do Conselho de Defesa Nacional, 
solicita ao Congresso a autorização para a decretação da medida (CF, art. 
137, caput c/c art. 49, IV). 
Se o Congresso Nacional aprová-la, por maioria absoluta dos membros de 
cada uma das Casas legislativas, deverá editar um decreto legislativo, a 
partir do que o Presidente instituirá o estado de sítio, por decreto. No ato 
de solicitação deve o Presidente indicar os motivos determinantes do 
pedido (CF, art. 137, caput e § 1°). 
O decreto, além de instituir o estado de legalidade excepcional, indicará 
sua duração, as normas necessárias à sua execução e as garantias 
constitucionais que ficarão suspensas, e, depois de publicado, o Presidente 
da República designará o executor das medidas específicas e as áreas 
abrangidas (art. 138, caput). 
Se o Congresso, quando da solicitação da autorização pelo Presidente, 
encontrar-se em recesso, deverá haver, de imediato, sua convocação 
extraordinária pelo Presidente do Senado Federal, para se reunir no prazo 
de cinco dias, a fim de decidir sobre o pedido de autorização. Se for 
autorizada a decretação do estado de sítio, o Congresso deverá 
permanecer em funcionamento até a cessação das medidas coercitivas 
(CF, art. 138, § § 2º e 3º). 
O art. 139 da Constituição prevê as medidas passíveis de aplicação contra 
as pessoas noestado de sítio decretado, em virtude de comoção grave de 
repercussão nacional ou da ocorrência de fatos que comprovem a 
ineficácia de medida tomada durante o estado de defesa. 
A saber, tais medidas são as seguintes: 
a) obrigação de permanência em localidade determinada; 
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b) detenção em edifício não destinado a acusados ou condenados por 
crimes comuns; 
c) restrições relativas à inviolabilidade da correspondência, ao sigilo das 
comunicações, à prestação de informações e à liberdade de imprensa, 
radiodifusão e televisão, na forma da lei: o parágrafo único do mesmo 
artigo ressalva dessas restrições a difusão de pronunciamentos de 
parlamentares efetuados em suas Casas Legislativas, desde que a 
manifestação seja liberada pela respectiva Mesa; 
d) suspensão da liberdade de reunião; 
e) busca e apreensão em domicílio; 
f) intervenção nas empresas de serviços públicos; 
g) requisição de bens. 
De se destacar que a Constituição não traz um rol das medidas passíveis 
de adoção no estado de sítio decretado em virtude de estado de guerra ou 
de resposta a agressão armada estrangeira, implicitamente outorgando ao 
Presidente da República competência para a determinação das medidas 
necessárias ao combate da situação. 
Os arts. 140 e 141 encerram regramento constitucional da matéria, 
trazendo disposições de cunho geral, aplicáveis tanto ao estado de sítio 
como ao estado de defesa. 
Pelo art. 140, a Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes 
partidários, designará Comissão composta de cinco de seus membros para 
acompanhar e fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de 
defesa e ao estado de sítio. 
E, nos termos do art. 141, cessado o estado de defesa ou o estado de 
sítio, cessarão também seus efeitos, sem prejuízo da responsabilidade 
pelos ilícitos cometidos por seus executores ou agentes. O parágrafo único 
do artigo complementa a regra inicial determinando que, logo que cesse o 
estado de defesa ou o estado de sítio, as medidas aplicadas em sua 
vigência serão relatadas pelo Presidente da República, em mensagem ao 
Congresso Nacional, com especificação e justificação das providências 
adotadas, com relação nominal dos atingidos e indicação das restrições 
aplicadas. 
Com base neste dispositivo e nas regras anteriores estudadas, podemos 
concluir que no estado de defesa há controle concomitante e posterior das 
medidas determinadas pelo Presidente, ao passo que no estado de sítio há 
controle prévio, concomitante e posterior. 
 
4) FORÇAS ARMADAS 
O art. 142 da Carta Magna dispõe sobre as Forças Armadas: define seus 
princípios e objetivos institucionais, traça as normas gerais sobre o regime 
jurídico de seus membros, e institui regras acerca do serviço militar 
obrigatório. 
Reza o caput do dispositivo que as Forças Armadas, constituídas pela 
Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica são instituições nacionais 
permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na 
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disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e 
destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, 
por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem. 
Segundo o art. 84, XIII, o Presidente da República titulariza a Chefia-geral 
das Forcas Armadas, estando seus três ramos – Exército, Marinha e 
Aeronáutica – sujeitos às suas determinações, o que não impede que cada 
um deles tenha sua chefia própria, a qual, nos termos da EC nº 23, de 
1999, é titularizada, respectivamente, pelos Comandantes do Exército, da 
Marinha e da Aeronáutica. 
O § 1° do art. 142 reserva à lei complementar a competência para 
estabelecer as normas gerais a serem adotadas na organização, no 
preparo e no emprego das Forças Armadas. As normas específicas, por 
sua vez, serão veiculadas em regulamentos militares editados por cada 
uma das três Forças. 
O § 2° trata de tema já abordado neste Curso, asseverando que não 
caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares militares. Como 
destacado anteriormente, o STF entende que a vedação abrange apenas 
o mérito da punição, não impedindo que o Poder Judiciário examine, em 
sede de habeas corpus, os aspectos legais da aplicação da penalidade, 
como vícios processuais, competência para a punição, cerceamento do 
direito de defesa, análise das razões que justificaram a punição, entre 
outros. 
O § 3° do art. 142 acrescentado pela EC nº 18, de 1998, retirou a 
expressão servidor público militar do texto constitucional, passando a 
referir-se aos membros das Forças Armadas sob o designativo militares. 
Esta singela alteração teve consideráveis repercussões jurídicas, uma vez 
que os dispositivos da Constituição que se referem a servidor público só 
se aplicam aos militares se houver expressa prescrição da Carta nesse 
sentido. O dispositivo em comento traça as principais regras do regime 
jurídico dos militares das Forças Armadas, remetendo o restante da 
matéria à lei ordinária. 
Nestes termos, reza que: 
a) as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres a elas inerentes, são 
conferidas pelo Presidente da República e asseguradas em plenitude aos 
oficiais da ativa, da reserva ou reformados, sendo-lhes privativos os 
títulos e postos militares e, juntamente com os demais membros, o uso 
dos uniformes das Forças Armadas; 
b) o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público 
civil permanente será transferido para a reserva, nos termos da lei; 
c) O militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar posse em cargo, 
emprego ou função pública civil temporária, não eletiva, ainda que da 
administração indireta, ficará agregado ao respectivo quadro e somente 
poderá, enquanto permanecer nessa situação, ser promovido por 
antigüidade, contando-se-lhe o tempo de serviço apenas para aquela 
promoção e transferência para a reserva, sendo depois de dois anos de 
afastamento, contínuos ou não transferido para a reserva, nos termos da 
lei; 
d) ao militar são proibidas a sindicalização e a greve; 
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e) o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos 
políticos: como analisado em aula anterior, o STF, em vista desta vedação 
constitucional, entende que a filiação partidária não é requisito para que o 
militar candidate-se a mandatos eletivos, excepcionando, assim, a regra 
do art. 14, § 3°, V; 
f) o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do 
oficialato ou com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de 
caráter permanente, em tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo 
de guerra. Em tempo de paz, o oficial condenado, na justiça comum ou 
militar, à pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sentença 
transitada em julgado, será submetido ao julgamento para fins de 
definição da perda do posto e da patente; 
g) aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, 
XVIII, XIX e XXV e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV: esta previsão 
estende aos militares os direitos ao décimo terceiro salário, ao salário-
família, às férias anuais remuneradas, à licença-gestante, à licença-
paternidade, à assistência gratuita aos filhos e dependentes em creches e 
pré-escolas. Além disso, impõe como limite remuneratório o subsídio 
percebido pelos Ministros do Supremo Tribunal Federal, veda a 
equiparação e a vinculação de remuneração, proíbe que vantagens 
pecuniárias já concedidas sejam consideradas no cálculo de outras 
vantagens pecuniárias, e assegura o direito à irredutibilidade de 
vencimentos;h) a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas, os limites de idade, 
a estabilidade e outras condições de transferência do militar para a 
inatividade, os direitos, os deveres, a remuneração, as prerrogativas e 
outras situações especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de 
suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de compromissos 
internacionais e de guerra: vale relembrar, aqui, que a fixação e o 
aumento dos efetivos militares, bem como seu regime jurídico, 
provimento de cargos, promoções, estabilidade, remuneração, reforma e 
transferência para a reserva são matérias cuja iniciativa legislativa é 
privativa do Presidente da República, a teor do art. 61, § 1°, da 
Constituição. 
O art. 143 da Carta, em seu caput, assevera que o serviço militar é 
obrigatório, nos termos da lei. Esta regra, contudo, deve ser analisada 
conjuntamente com a prescrita no § 2° do mesmo artigo, que isenta as 
mulheres e os eclesiásticos do serviço militar obrigatório em tempo de 
paz, ressalvando que eles podem sujeitar-se a outros encargos que a lei 
lhes atribuir. Podemos, então, concluir que, em tempo de paz, o serviço 
militar obrigatório, nos termos da lei, alcança os homens que não tenham 
optado pela carreira eclesiástica. 
Em cumprimento ao art. 5°, VIII, da CF, o § 1° do art. 142 contempla o 
imperativo de consciência no âmbito do serviço militar obrigatório, 
asseverando que 
Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço 
alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem 
imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de 
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crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se 
eximirem de atividades de caráter essencialmente militar. 
 
5) SEGURANÇA PÚBLICA 
Segundo Gabriel Dezen Junior, "a segurança pública consiste numa 
atuação de preservação ou restabelecimento de convivência social que 
permite que todos gozem de seus direitos e exerçam suas atividades sem 
ser perturbados por outrem. 
Nos termos do art. 144 da Constituição Federal, a segurança pública é 
dever do Estado, mas direito e responsabilidade de toda a coletividade, 
sendo exercida com vistas à preservação da ordem pública e à 
incolumidade das pessoas e do patrimônio, por meio dos seguintes 
órgãos: 
a) polícia federal; 
b) polícia rodoviária federal; 
c) polícia ferroviária federal; 
d) polícias civis; 
e) polícias militares e corpos de bombeiros militares. 
O Supremo Tribunal Federal declarou inconstitucional lei estadual que 
criava taxas de exercício do poder de polícia e de utilização de serviços 
prestados pelos órgãos de segurança pública e de defesa da cidadania, 
sob o fundamento de que, como se trata de dever do Estado e de direito 
de toda a coletividade, seu custeio deve-se dar mediante a arrecadação 
de impostos, não podendo ser instituída taxa para tal finalidade (ADI 
2424, de 1°/4/2004). 
O primeiro dos órgãos de segurança pública tratado na Constituição é a 
Polícia Federal, definida pelo § 1° do art. 144 como órgão permanente, 
instituído por lei, organizado e mantido pela União e estruturado em 
carreira, competindo-lhe exercer as seguintes atividades: 
a) apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em 
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades 
autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática 
tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão 
uniforme, segundo se dispuser em lei. De se destacar que não se insere 
na competência da Polícia Federal apurar infrações perpetradas contra as 
sociedades de economia mista federais, sendo tal tarefa de atribuição das 
Polícias Civis; 
É oportuno chamar a atenção para o fato de que a atribuição da Polícia 
Federal engloba as infrações penais, ou seja, os crimes e contravenções 
praticados contra as pessoas jurídicas acima arroladas, enquanto a 
competência da Justiça Federal é restrita ao julgamento dos crimes, 
cabendo à Justiça Estadual o julgamento das contravenções (art. 109, IV). 
b) prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o 
contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros 
órgãos públicos nas respectivas áreas de competência: pela redação do 
dispositivo resta evidenciado que a prevenção e a repressão ao tráfico de 
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drogas, ao contrabando e ao descaminho devem ser efetuadas pela Polícia 
Federal, mas não só por esta, pois a Receita Federal, a Polícia Civil, a 
Polícia Militar, entre outros órgãos, também detêm competências nesta 
área. Na área de prevenção e repressão do tráfico de drogas, a atuação 
da Polícia Federal é voltada principalmente para o tráfico internacional e 
interestadual, restando a repressão local a cargo das polícias militar e 
civil; 
c) exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras: a 
EC nº 19, de 1998, modificou o dispositivo, substituindo a expressão 
"polícia aérea" por "polícia aeroportuária", mais adequada à Polícia 
Federal, uma vez que a atividade de policiamento das aeronaves em vôo é 
atribuição do Ministério da Aeronáutica, ao passo que à Polícia Federal 
compete assegurar a manutenção da ordem pública nos aeroportos. 
Trata-se, pois, de um policiamento aeroportuário, não aéreo, como 
corretamente consta atualmente no dispositivo; 
d) exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União: a 
Polícia Federal exerce, em caráter exclusivo, a função de polícia judiciária 
da União, atividade que tem por objetivo investigar a ocorrência e a 
autoria das infrações penais de sua competência, fornecendo subsídios 
para que o órgão do Ministério Público possa ajuizar a ação penal pública 
(CF, art. 129, I). 
É uma função de caráter administrativo, mas que vai surtir efeitos na 
esfera judiciária, não podendo, de forma alguma, ser confundida com a 
atividade de polícia administrativa da União. 
Esta – a atividade de polícia administrativa –, por sua vez, consiste na 
prerrogativa conferida aos órgãos e entidades da Administração Pública de 
condicionar e limitar o uso e o gozo dos bens, direitos e interesses 
individuais em prol da coletividade. É atividade de cunho essencialmente 
fiscalizatório, que se distingue da polícia judiciária principalmente pelos 
seguintes aspectos: 
- sua atuação restringe-se à esfera administrativa, enquanto a atividade 
de polícia judiciária vai ter repercussão na esfera judiciária; 
- é exercida por órgãos de fiscalização, enquanto a outra é executada por 
órgãos de segurança; 
- atua com relação a bens, direitos e atividades, enquanto a judiciária 
dirige-se aos indivíduos. 
Sobre essa última área de atuação da Policia Federal transcrevemos lição 
de Gabriel Dezen Junior: 
A Polícia Federal, como polícia judiciária da União, tem por funções 
precípuas atuar repressivamente nos casos de crimes contra a 
ordem política e social (como difusão de ideais racistas, incentivo à 
desobediência civil, tentativas de secessão e a divulgação de ideais 
secessionistas, contestações das autoridades constitucionais), na 
investigação de quaisquer infrações criminais contra qualquer bem, 
serviço ou interesse da União, suas autarquias e empresas públicas 
(como furto em um órgão público federal, crimes praticados contra 
agentes públicos federais). 
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O § 2° do art. 144 trata da Polícia Rodoviária Federal, definindo-a como 
órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em 
carreira, que tem por objetivo,na forma da lei, o patrulhamento ostensivo 
das rodovias federais. 
O § 3° do mesmo artigo, por sua vez, dispõe sobre a Polícia Ferroviária 
Federal. Da mesma forma que a Polícia Rodoviária Federal, é um órgão 
permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, 
mas sua finalidade é diversa, pois se destina, na forma da lei, ao 
patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. 
À Polícia Civil incumbe o exercício da função de polícia judiciária do 
respectivo Estado-membro, excetuando-se a apuração das infrações 
militares cometidas pelos membros das Polícias Militares e dos Corpos de 
Bombeiros Militares, que caberá aos órgãos próprios (CF, art. 144, § 4º). 
São dirigidas por delegados de polícia de carreira, os quais devem ser 
bacharéis de direito aprovados no concurso próprio, não sendo admissível 
o exercício das funções por bacharéis de direito ou por agentes da 
instituição que não tenham logrado êxito no concurso para o ingresso na 
carreira, por violação ao inc. II do art. 37 da CF, que institui a regra do 
concurso público. 
As Polícias Civis são subordinadas aos Governadores dos Estados, do DF 
ou dos Territórios. A organização, as garantias, os direitos e os deveres da 
polícia civil são matérias de competência legislativa concorrente entre 
União, Estados e Distrito Federal (CF, art. 24, XVI). A Polícia Civil do 
Distrito Federal é organizada e mantida pela União, a teor do inc. XIV do 
art. 21. 
As polícias militares e os corpos de bombeiros militares vêm contemplados 
nos §§ 5º e 6º do art. 144. O primeiro dispositivo trata das suas 
atribuições, asseverando que às polícias militares incumbe o policiamento 
ostensivo e a manutenção da ordem pública; e aos corpos de bombeiros 
militares, além de outras funções previstas em lei, a execução de 
atividades de defesa civil. 
Pelo segundo, ambos os órgãos constituem forças auxiliares e reserva do 
Exército, estando subordinadas aos Governadores dos Estados, do Distrito 
Federal e dos Territórios, conforme o caso. 
Cabe à União legislar sobre normas gerais de organização, efetivos, 
material bélico, garantias, convocação e mobilização das polícias militares 
e dos corpos de bombeiros militares (CF, art. 22, XXI). Ainda, no Distrito 
Federal a polícia militar e o corpo de bombeiros militar pertencem à União, 
logo, seu regramento é proveniente de legislação federal (CF, art. 21, 
XIV), sendo sua utilização pelo governo do Distrito Federal também 
definida em lei federal (CF, art. 32, § 4°). 
As Guardas Municipais podem ser criadas pelos Municípios para 
protegerem seus bens, serviços e instalações, nos termos da lei. (CF, 
art. 144, § 8º). Apesar da colocação topológica do parágrafo, as Guardas 
Municipais - cuja criação é facultativa – não integram o sistema de 
segurança pública, uma vez que não são citas no caput do art. 144. Não 
podem, portanto, exercer funções de polícia judiciária, ou quaisquer 
outras privativas dos órgãos de segurança. 
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O § 7° do art. 144 traz norma programática, prevendo que a lei 
disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis 
pela segurança pública, de maneira a garantir a eficiência de suas 
atividades. E o § 9° completa o artigo, determinando que todos os 
servidores policiais nele mencionados sejam remunerados pelo regime de 
subsídio. De se notar que a regra não alcança os membros das Guardas 
Municipais, que não são servidores policiais. 
 
 
 
FINANÇAS PÚBLICAS 
 
 
O Título VI da Constituição Federal – Da Tributação e do Orçamento – é 
composto por dois capítulos. O primeiro trata do Sistema Tributário 
Nacional; o segundo, das Finanças Públicas. 
Este segundo capítulo, que transcorre dos arts. 163 a 169 da Constituição, 
trata das normas gerais sobre finanças públicas, emissão de moeda, 
sistema orçamentário, limites de despesas com pessoal ativo e inativo, 
entre outras matérias. 
Este será nosso objeto de estudo nessa unidade 
 
1) RESERVA DE LEI COMPLEMENTAR 
O art. 163 da Carta apresenta diversas matérias relacionadas às Finanças 
Públicas, reservando à lei complementar a competência para a sua 
normatização. 
Devemos analisar esta competência com a enunciada no art. 24, I, da 
Carta, pelo qual cabe à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar 
concorrentemente sobre Direito Financeiro. Desse modo, à União caberá, 
por lei complementar, estabelecer as normas gerais nas matérias referidas 
no art. 163 da CF, e aos Estados e ao DF dispor sobre normas específicas, 
aplicáveis em seus respectivos territórios (sem esquecer-se de que a 
União poderá também editar normas específicas, de incidência restrita à 
esfera federal). 
 Nos termos do dispositivo em apreço, caberá à lei complementar dispor 
sobre : 
a) finanças públicas: que pode ser definida como a disciplina jurídica que 
se volta à regulação e estudo das despesas, das receitas, dos orçamentos 
e dos créditos públicos; 
b) dívida pública externa e interna, incluída a das autarquias, fundações e 
demais entidades controladas pelo Poder Público; 
c) concessão de garantias pelas entidades públicas: relembrando que a 
concessão de garantia pela União depende de autorização do Senado 
Federal, nos termos do art. 52, VIII; 
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d) emissão e resgate de títulos da dívida pública: os títulos da dívida 
pública são as emissões realizadas pelas entidades políticas com o 
objetivo de captação de recursos; 
e) fiscalização financeira da administração pública direta e indireta: este 
dispositivo foi alterado pela EC nº 40, de 2003, tendo sido ampliada sua 
abrangência. Na redação anterior, a lei complementar trataria apenas da 
fiscalização das instituições financeiras; atualmente, seu conteúdo 
possível é a fiscalização financeira de todos os órgãos e entidades que 
compõem a Administração Pública; 
f) operações de câmbio realizadas por órgãos e entidades da União, dos 
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; 
g) compatibilização das funções das instituições oficiais de crédito da 
União, resguardadas as características e condições operacionais plenas 
das voltadas ao desenvolvimento regional. 
 
2) COMPETÊNCIA PARA A EMISSÃO DE MOEDA 
O art. 164 da Constituição, em seu caput, confere ao Banco Central do 
Brasil, com exclusividade, a competência para a emissão de moeda em 
nosso País. 
O Banco Central (BACEN) é uma autarquia federal, vinculada ao Ministério 
da Fazenda, que titulariza parcela da competência da União na esfera 
financeira, por expressa disposição constitucional. 
A Constituição não menciona a Casa da Moeda, do que pode-se concluir 
que, na vigente normatização constitucional, a Casa da Moeda é um órgão 
integrante da estrutura do Banco Central. 
O § 1º, do art. 164, da CF proíbe ao Banco Central conceder, direta ou 
indiretamente, empréstimos ao Tesouro Nacional e a qualquer órgão ou 
entidade que não seja instituição financeira. Analisando a norma por outra 
perspectiva, podemos concluir que a Constituição autoriza o BACEN a 
conceder empréstimos somente a instituições financeiras. 
Em continuidade, seu § 2º autoriza ao BACEN comprar e vender títulos de 
emissão do Tesouro Nacional, com o objetivo de regular a oferta de 
moeda ou a taxa de juros. No exercício dessa competência caberá à 
entidade controlar a liquidez do sistema financeiro, aumentando-a ou 
reduzindo-a, conforme as necessidades do momento. 
O art. 164 da CF é finalizado com o § 3º, segundo o qual as 
disponibilidades de caixa da União serão depositadas no Banco Central; as 
dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e dos órgãos ou entidades 
do Poder Público e das empresaspor ele controladas, em instituições 
financeiras oficiais, ressalvados os casos previstos em lei. 
É clara a disciplina constitucional: as disponibilidades de caixa da União 
serão obrigatoriamente depositadas no BACEN, e as das demais entidades 
referidas no dispositivo em instituições financeiras oficiais (a exemplo dos 
bancos federais e estaduais), ressalvadas as hipóteses a serem previstas 
em lei ordinária editada pela União. 
 
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3) LEIS ORÇAMENTÁRIAS 
O art. 165 da Constituição enumera as três modalidades de lei 
orçamentária existentes em nosso ordenamento jurídico, a saber: a lei do 
plano plurianual (LPP), a lei de diretrizes orçamentárias (LDO) e a lei 
orçamentária anual (LOA), três diplomas legais de natureza transitória, 
como veremos abaixo. Em termos mais amplos, o dispositivo consagra o 
princípio da legalidade orçamentária. 
Nos seus termos, compete privativamente aos chefes de Poder Executivo, 
nas suas respectivas esferas de Governo, a iniciativa das três leis 
orçamentárias, tendo o STF decidido que é inconstitucional norma de 
Constituição Estadual que reserve parcela da receita tributária para fins 
pré-determinados, por suprimir a competência do chefe do Executivo na 
elaboração da lei orçamentária, ao obrigar-lhe a destinar dotações 
orçamentárias a finalidades já estabelecidas (ADIMC 780, de 1993). Pelos 
mesmos fundamentos, o STF decidiu pela inconstitucionalidade de artigo 
de Constituição Estadual que reservou recursos orçamentários para certa 
Universidade estadual (ADIMC 2447, de 2002). 
Antes de prosseguirmos, cabe destacar que o § 9º do art. 165 traz duas 
hipóteses de reserva de lei complementar, sendo obrigatório o uso desta 
espécie legislativa para: (a) dispor sobre o exercício financeiro, a vigência, 
os prazos, a elaboração e a organização do plano plurianual, da lei de 
diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual; (b) estabelecer 
normas de gestão financeira e patrimonial da administração direta e 
indireta bem como condições para a instituição e funcionamento de 
fundos. Ao contrário das leis orçamentárias propriamente ditas (LPP, LDO 
e LOA), neste caso, não estamos perante hipótese de iniciativa legislativa 
privativa, de modo que o projeto de lei complementar tratando das 
matérias aqui referidas pode ser apresentado também pelos membros do 
Poder Legislativo, além de ser possível a iniciativa popular, nos termos da 
Constituição. 
Ainda, cabe ressaltar que a duração do exercício financeiro é de 12 meses, 
atualmente coincidindo com o ano civil (de modo que se inicia em 1° de 
janeiro e se encerra em 31 de dezembro de cada ano). A doutrina admite 
que seja alterada a data de início e de término do exercício financeiro, 
desde que seja respeitado o período de 12 meses. 
O plano plurianual é a lei orçamentária que estabelece as diretrizes 
administrativas a médio e longo prazo. Segundo Ricardo Lobo Torres, 
citado por Gabriel Dezen Junior, a lei que contém o plano plurianual "é lei 
formal, dependendo do orçamento anual para que possa ter eficácia 
quanto à realização das despesas, constituindo-se em mera programação 
ou orientação que deve ser respeitada pelo Poder Executivo na execução 
dos orçamentos anuais, mas que não vincula o Poder Legislativo na feitura 
das leis orçamentárias". 
O § 1º do art. 165 da CF estabelece o conteúdo da LPP, ao dispor que o 
diploma estabelecerá, de forma regionalizada, as diretrizes, objetivos e 
metas da administração pública federal para as despesas de capital e 
outras delas decorrentes e para as relativas aos programas de duração 
continuada (que ultrapassam o exercício financeiro e, portanto, o 
orçamento em que foram iniciados). Nos termos do § 4º, os planos e 
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programas nacionais, regionais e setoriais previstos na Constituição, além 
de serem de apreciação obrigatória pelo Congresso Nacional, deverão ser 
elaborados em estrita conformidade com o plano plurianual. A doutrina 
entende que esta regra consagra o princípio da programação. 
A lei de diretrizes orçamentárias, prevista genericamente no caput do art. 
165, tem seu conteúdo definido no § 2º do mesmo artigo, nos termos do 
qual a LDO compreenderá as metas e prioridades da administração 
pública federal, incluindo as despesas de capital para o exercício financeiro 
subseqüente, orientará a elaboração da lei orçamentária anual, disporá 
sobre as alterações na legislação tributária e estabelecerá a política de 
aplicação das agências financeiras oficiais de fomento. 
O objetivo principal da LDO é a fixação das metas e prioridades da 
Administração para o exercício financeiro subseqüente, servindo de 
parâmetro para a elaboração da lei orçamentária. Podemos, concluir, 
portanto, que ela, a exemplo da LPP, ultrapassa o exercício financeiro em 
que é elaborada. Mais uma vez nos valemos de Gabriel Dezen Junior, o 
qual cita Ricardo Lobo Torres ao esclarecer que a LDO: 
(...) é, como o próprio orçamento, mera lei em sentido formal, 
apenas, constituindo-se em simples orientação ou sinalização, de 
caráter anual, para a feitura do orçamento, devendo ser elaborada 
no primeiro semestre. Não cria direitos subjetivos para terceiros 
nem tem eficácia fora da relação entre os Poderes do Estado. Não 
vincula o Congresso Nacional na feitura da lei orçamentária anual. 
O art. 57, § 2°, da Constituição Federal condiciona a interrupção do 
primeiro período legislativo, em julho, à aprovação da lei de diretrizes 
orçamentárias. 
E, temos, como terceira lei orçamentária, a lei orçamentária anual (LOA), 
o diploma legal que contém a previsão das receitas e a fixação de 
despesas para o exercício financeiro subseqüente. Em outros termos, a 
LOA traz a previsão da receita que ingressará nos cofres públicos no 
exercício financeiro posterior ao da sua aprovação, e a autorização para a 
realização de despesas, também no exercício financeiro posterior, não 
podendo dispor sobre outras matérias, de natureza não-orçamentária. 
A natureza da LOA é explicitamente definida pelo § 8° do art. 165, 
segundo o qual a lei orçamentária anual não conterá dispositivo estranho 
à previsão da receita e à fixação da despesa, não se incluindo na proibição 
a autorização para abertura de créditos suplementares e contratação de 
operações de crédito, ainda que por antecipação de receita, nos termos da 
lei. A doutrina entende que essa disposição constitucional contém o 
princípio da exclusividade, ao vedar a inclusão de matérias de natureza 
não-orçamentária na LOA. 
Observe-se que a Constituição não impede que a LOA contenha 
autorização para a abertura de créditos suplementares, bem como para a 
contratação de operações de crédito, mesmo que por antecipação de 
receita. As operações de crédito por antecipação de receita são 
empréstimos que o Poder Público realiza e liquida no mesmo exercício 
financeiro, vinculando ao pagamento receitas que ainda ingressarão nos 
cofres públicos. Por isso que se diz antecipação de receita: a receita não 
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ingressou nos cofres públicos, mas ingressará, o que justifica sua 
utilização para a realização do empréstimo. 
O § 5º do art. 165 estabelece as três espécies de orçamento existentes 
em nosso ordenamento, estatuindo que a lei orçamentária anual 
compreenderá: 
I - o orçamento fiscal referente aos Poderes da União, seus fundos, 
órgãos e entidades da administração direta e indireta, inclusive 
fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público; 
II - o orçamento de investimento das empresas em que a União, 
direta ou indiretamente,detenha a maioria do capital social com 
direito a voto; 
III - o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as 
entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou 
indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos 
pelo Poder Público. 
A doutrina aponta, como um dos princípios orçamentários, o da unidade, o 
que deve ser interpretado em consonância com a Constituição, no sentido 
de que não se exige que a lei orçamentária esteja contida em um 
documento, já que a Carta prevê três, mas que eles sejam harmônicos 
entre si. 
Os estudiosos afirmam que o § 5º contempla, também, o princípio da 
anualidade orçamentária, uma vez que a lei orçamentária vige por um 
período de 12 meses, correspondente ao exercício financeiro em que se 
dará a sua execução; e o princípio da universalidade, no sentido de que a 
lei orçamentária deve obrigatoriamente conter todas as despesas e 
receitas referidas no dispositivo, por seus valores brutos. 
O § 6°, do art. 165, da Carta consagra o princípio da transparência 
orçamentária, ao dispor que o projeto de lei orçamentária será 
acompanhado de demonstrativo regionalizado do efeito, sobre as receitas 
e despesas, decorrente de isenções, anistias, remissões, subsídios e 
benefícios de natureza financeira, tributária e creditícia. 
O § 7°, por sua vez, determina que o orçamento fiscal e o orçamento de 
investimento das estatais (art. 165, § 5°, I e II), elaborados em 
conformidade com o plano plurianual, terão entre suas funções a de 
reduzir desigualdades inter-regionais, segundo critério populacional. 
E o § 3° estabelece o princípio da publicidade orçamentária, ao determinar 
que o Poder Executivo proceda à publicação, em até trinta dias após o 
encerramento de cada bimestre, de um relatório resumido sobre a 
execução orçamentária. 
 
4) PROCESSO LEGISLATIVO DAS LEIS ORÇAMENTÁRIAS 
O art. 166 da Constituição é reservado ao tratamento do processo 
legislativo federal das leis orçamentárias. Este, por sua vez, apresenta 
peculiaridades com relação ao processo legislativo ordinário, o que 
justifica seu detalhamento em separado na Constituição. As regras 
próprias deste processo legislativo serão a seguir apresentadas, 
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aplicando-se, no mais, as normas do processo legislativo ordinário que 
forem com ele compatíveis (CF, art. 166, § 7º). 
No art. 165 da Carta consta ser de competência privativa do Chefe do 
Poder Executivo a apresentação dos projetos de lei orçamentária. O § 6º 
do art. 166 traz regra análoga asseverando que, na esfera federal, os 
projetos de lei do plano plurianual, das diretrizes orçamentárias e do 
orçamento anual serão enviados pelo Presidente da República ao 
Congresso Nacional, nos termos da lei complementar a que se refere o 
art. 165, § 9º. O dispositivo consagra um princípio extensível, logo, de 
observância obrigatória pelos demais entes federados. Desse modo, 
caberá privativamente aos Governadores e aos Prefeitos, nas suas 
respectivas esferas de Governo, iniciar os projetos relativos ao plano 
plurianual, à lei de diretrizes orçamentárias e ao orçamento anual. 
Uma vez apresentado o projeto pelo Presidente, caberá ao Congresso 
Nacional a sua apreciação. Nestes termos dispõe o caput do art. 166: os 
projetos de lei relativos ao plano plurianual, às diretrizes orçamentárias, 
ao orçamento anual e aos créditos adicionais serão apreciados pelas duas 
Casas do Congresso Nacional, na forma do regimento comum. 
Desse modo, após a apresentação do projeto, caberá a cada uma das 
Casas do Congresso deliberar sobre o mesmo e pô-lo em votação, sendo 
necessário, para a aprovação, o voto da maioria dos membros de cada 
Casa, uma vez que a Constituição não estabeleceu, no caso, quorum 
especial. 
Antes de o projeto ir a Plenário, em cada uma das Casas Legislativas, 
caberá a uma comissão mista permanente de Senadores e Deputados 
examiná-lo e sobre o mesmo emitir um parecer. Trata-se da Comissão 
Mista de orçamento, de caráter permanente e formada paritariamente por 
Deputados Federais e Senadores. 
O art. 166, em seu § 1º, regula as competências desta Comissão, 
determinando que lhe cabe: 
a) examinar e emitir parecer sobre os projetos referidos no seu caput, e 
sobre as contas apresentadas anualmente pelo Presidente da República: 
relembrando, nos termos do art. 84, XXIV, da CF, o Presidente tem o 
prazo de sessenta dias, a contar do início da sessão legislativa ordinária, 
para apresentar suas contas diretas ao Congresso Nacional; 
b) examinar e emitir parecer sobre os planos e programas nacionais, 
regionais e setoriais previstos na Constituição e exercer o 
acompanhamento e a fiscalização orçamentária, sem prejuízo da atuação 
das demais comissões do Congresso Nacional e de suas Casas: o 
dispositivo ressalva a atuação de outras Comissões Legislativas, pois 
ambas as Casas do Congresso têm comissões, também de caráter 
permanente, que tratam de temas relacionados à administração, finanças 
públicas e orçamento, e que, portanto, também analisarão os planos e 
programas nacionais, regionais e setoriais previstos na Constituição; 
Outra competência da Comissão Mista do Orçamento vem descrita § 2º do 
art. 166, pois é perante esta Comissão que deverão ser apresentadas as 
emendas aos projetos de lei orçamentária ou de créditos adicionais. 
Caberá á Comissão emitir parecer sobre as emendas, após o que elas 
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serão apreciadas, na forma regimental, pelo plenário das duas Casas do 
Congresso Nacional. 
O art. 72 da Constituição prevê, ainda, mais uma competência para a 
Comissão Mista, de caráter fiscalizatório, pois o órgão, diante de indícios 
de despesas não autorizadas, ainda que sob a forma de investimentos não 
programados ou de subsídios não aprovados, poderá solicitar à autoridade 
governamental responsável que, no prazo de cinco dias, preste os 
esclarecimentos necessários. 
Não prestados os esclarecimentos, ou considerados estes insuficientes, a 
Comissão solicitará ao Tribunal de Contas da União pronunciamento 
conclusivo sobre a matéria, no prazo de trinta dias. Entendendo irregular 
a despesa, o Tribunal cientificará deste fato a Comissão, e esta, se julgar 
que o gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão à economia 
pública, proporá ao Congresso Nacional sua sustação. 
Uma regra bastante peculiar deste processo legislativo encontra-se no § 
5º do art. 166, segundo o qual o Presidente da República poderá enviar 
mensagem ao Congresso Nacional para propor modificação nos projetos a 
que se refere este artigo enquanto não iniciada a votação, na Comissão 
mista, da parte cuja alteração é proposta. 
O Presidente, portanto, além de ter competência privativa para a 
apresentação dos projetos, tem a possibilidade de, mediante mensagem à 
Comissão Mista, propor alterações em seu texto, desde que a Comissão 
ainda não tenha iniciado a votação da parte do projeto cuja alteração é 
proposta pelo Presidente. Caso a votação já tenha sido iniciada, cessa a 
possibilidade de o Presidente propor alterações ao projeto de sua autoria. 
Ressalte-se que a votação referida no dispositivo não tem caráter 
terminativo, pois caberá ao Congresso Nacional, pelas suas duas Casas, 
decidir a respeito do projeto e das alterações propostas. 
O § 3º do art. 166 estabelece as condições de admissibilidade das 
emendas ao projeto de lei orçamentária anual ou aos projetos que o 
modifiquem, determinando que elas somente poderão ser aprovadas 
quando: 
a) sejam compatíveis com o plano plurianual e com a lei de diretrizes 
orçamentárias; 
b) indiquem os recursos necessários, admitidos apenas os decorrentes de 
anulaçãode despesa, excluídas as que incidam sobre: (1) dotações para 
pessoal e seus encargos, (2) serviço da dívida, (3) transferências 
tributárias constitucionais para Estados, Distrito Federal e Municípios; ou 
c) sejam relacionadas: (1) com a correção de erros ou omissões, ou (2) 
com os dispositivos do texto do projeto de lei. 
O § 4°, por sua vez, impõe como condição para a aprovação de emendas 
ao projeto de lei de diretrizes orçamentárias sua compatibilidade com o 
plano plurianual. Já o projeto de lei relativo ao plano plurianual, na lição 
de Alexandre de Moraes, não poderá ser objeto de emendas que 
impliquem aumento da despesa nele prevista. 
O § 8° encerra o regramento do art. 166 da Carta, determinando que os 
recursos que, em decorrência de veto, emenda ou rejeição do projeto de 
lei orçamentária anual, ficarem sem despesas correspondentes poderão 
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ser utilizados, conforme o caso, mediante créditos especiais ou 
suplementares, com prévia e específica autorização legislativa. Esses 
créditos – especiais e suplementares – são autorizados pelo Legislativo em 
lei ordinária, cuja tramitação segue as regras do processo legislativo 
ordinário. 
Analisando esta regra em conjunção com a que está contida no art. 57, § 
2º, da Carta (a sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação 
do projeto de lei de diretrizes orçamentárias), podemos concluir que não 
há possibilidade de o Congresso Nacional rejeitar o projeto de LDO, uma 
vez que, enquanto não aprová-lo, a sessão legislativa não será 
interrompida. 
O mesmo não se aplica ao projeto da lei orçamentária anual, em que a 
aplicação do § 8° do art. 166, na lição de Alexandre de Moraes, "permite 
concluir pela possibilidade de rejeição total ou parcial ou projeto", 
hipótese na qual os recursos que ficarem sem despesas correspondentes 
poderão ser utilizados, conforme o caso, mediante créditos especiais ou 
suplementares, com prévia e específica autorização legislativa. 
O Autor sustenta, portanto, a possibilidade de rejeição total do projeto de 
lei orçamentária anual. Mas, também, apresenta a posição do Professor 
Adilson Abreu Dallari, que não admite a rejeição total do projeto, 
entendendo que o Poder Legislativo pode legitimamente alterá-lo por meio 
de emendas, mas jamais rejeitá-lo totalmente. 
Por fim, Alexandre de Moraes ressalta que, apesar do posicionamento 
doutrinário pela impossibilidade de aprovação do projeto de lei 
orçamentário no mesmo exercício financeiro a que se refere, na prática 
não é raro que isto ocorra, sendo a lei orçamentária promulgada e 
publicada no mesmo exercício financeiro em que será executada. 
 
5) VEDAÇÕES CONSTITUCIONAIS 
O art. 167, caput, da Constituição contempla uma série de vedações de 
ordem financeiro-orçamentária. 
Numa análise agregada de suas disposições, podemos enumerar, como 
vedações impostas pela Constituição: 
a) o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária 
anual: a regra representa a expressa previsão do princípio da legalidade 
em matéria orçamentária; 
b) a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que 
excedam os créditos orçamentários ou adicionais: crédito orçamentário é 
aquele previsto na lei orçamentária para custear as despesas nela 
especificadas; crédito adicional, por sua vez, é aquele não previsto ou 
insuficientemente previsto na lei orçamentária; 
Há três espécies de créditos adicionais: (a) os suplementares, que se 
destinam a complementar os créditos previstos na lei orçamentária que, 
durante o exercício, se mostraram insuficientes para cobrir a despesa a 
eles vinculada; (b) os especiais, que se destinam ao atendimento de 
despesas para as quais não haja dotação específica na lei orçamentária; e 
(c) os extraordinários, que visam ao atendimento de despesas 
imprevisíveis e urgentes, não previstas na lei orçamentária, a exemplo 
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das decorrentes de guerra externa, comoção interna ou de calamidade 
pública (CF, art. 167, § 3º). 
Os créditos suplementares e os créditos especiais são abertos por decreto 
do Poder Executivo, mas exigem autorização legislativa para sua abertura; 
os créditos extraordinários, em função da despesa inusitada que 
objetivam custear, não exigem autorização do Poder Legislativo, sendo 
abertos diretamente por decreto do Poder Executivo. 
c) a realização de operações de créditos que excedam o montante das 
despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos 
suplementares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder 
Legislativo por maioria absoluta; 
Sobre os conceitos contidos nesta regra, transcrevemos lição de Gabriel 
Dezen Junior: 
Despesas de capital: São classificadas em investimentos, inversões 
financeiras e transferências de capital. Investimentos são dotações 
para o planejamento e a execução de obras, inclusive aquisição de 
imóveis. Inversões financeiras são dotações destinadas à aquisição 
de imóveis ou de bens de capital já em utilização ou à aquisição de 
títulos representativos de capital de empresa ou entidade. 
Transferências de capital são dotações para investimentos ou 
inversões financeiras que outras pessoas de direito público ou 
privado devam realizar. 
d) a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, 
ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se 
referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e 
serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do 
ensino e para realização de atividades da administração tributária, como 
determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a 
prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de 
receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º do 
artigo em comento (redação dada pela EC nº 42, de 2003): o dispositivo 
veda, como regra geral, a vinculação da receita oriunda da arrecadação de 
impostos a órgão, fundo ou despesa, à exceção das hipóteses nele próprio 
enumeradas; 
e) a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização 
legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes: a autorização 
do Poder Legislativa é dada por lei ordinária; 
f) a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de 
uma categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, 
sem prévia autorização legislativa: também aqui a autorização legislativa 
deve constar de lei ordinária; 
g) a concessão ou utilização de créditos ilimitados; 
h) a utilização, sem autorização legislativa específica, de recursos dos 
orçamentos fiscal e da seguridade social para suprir necessidade ou cobrir 
déficit de empresas, fundações e fundos, inclusive dos mencionados no 
art. 165, § 5º; 
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i) a instituição de fundos de qualquer natureza, sem prévia autorização 
legislativa: nesta hipótese, bem como na anterior, autorização mais uma 
vez é veiculada em lei ordinária; 
j) a transferência voluntária de recursos e a concessão de empréstimos, 
inclusive por antecipação de receita, pelos Governos Federal e Estaduais e 
suas instituições financeiras, para pagamento de despesas com pessoal 
ativo, inativo e pensionista, dos Estados, do Distrito Federal e dos 
Municípios: esta regra foi incluída pela EC nº 19, de 1998, e busca, 
precipuamente, a obtenção de um equilíbrio nas contas de pessoal dos 
entes federados, nos termos do art. 169 da Constituição, adiante 
apresentado; 
l) a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de quetrata o art. 195, I, a, e II, para a realização de despesas distintas do 
pagamento de benefícios do regime geral de previdência social de que 
trata o art. 201: a regra, inserida pela EC nº 20, de 1998, visa 
nitidamente a evitar o desvio dos recursos oriundos do recolhimento das 
contribuições para a seguridade social a que se refere, a saber: (a) as 
contribuições do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada, 
incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos do trabalho 
pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste 
serviço, mesmo sem vínculo empregatício; (b) as contribuições do 
trabalhador e dos demais segurados da previdência social; 
As disposições do caput do art. 167 são complementadas pelos seus §§ 1º 
a 4º. 
O primeiro desses dispositivos determina que nenhum investimento cuja 
execução ultrapasse um exercício financeiro poderá ser iniciado sem 
prévia inclusão no plano plurianual, ou sem lei que autorize a inclusão, 
sob pena de o infrator responder por de crime de responsabilidade. 
O § 2º dispõe sobre a duração temporal dos créditos especiais e 
extraordinários, estipulando que tais créditos vigorarão, em regra, apenas 
durante o exercício financeiro em que tiver sido autorizada sua abertura, 
salvo se o ato de autorização for promulgado nos últimos quatro meses 
daquele exercício, caso em que, reabertos nos limites de seus saldos, 
serão incorporados ao orçamento do exercício financeiro subseqüente. 
O § 3º determina que apenas despesas imprevisíveis e urgentes podem 
justificar a abertura de um crédito extraordinário, como exposto acima. 
E o § 4º contém uma das regras que excepcionam a vedação da 
vinculação da receita de impostos, asseverando que é permitida a 
vinculação de receitas próprias geradas pelos impostos a que se referem 
os arts. 155 e 156, e dos recursos de que tratam os arts. 157, 158 e 159, 
I, a e b, e II, todos da Constituição, para a prestação de garantia ou 
contragarantia à União e para pagamento de débitos para com esta. 
 
6) DUODÉCIMO DOS PODERES LEGISLATIVO E JUDICIÁRIO, DO 
MINISTÉRIO PÚBLICO E DA DEFENSORIA PÚBLICA. 
O art. 168 da Constituição teve sua redação alterada pela EC nº 45, de 
2004, com o objetivo de fortalecer a autonomia orçamentário-financeira 
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dos Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria 
Pública. 
A norma determina que o Poder Executivo, responsável pela execução 
orçamentária, repasse aos órgãos dos Poderes Legislativo e Judiciário, do 
Ministério Público e da Defensoria Pública os recursos correspondentes às 
suas dotações orçamentárias, compreendidos eventuais créditos 
suplementares e especiais, até o dia 20 de cada mês, sob a forma de 
duodécimos, observada a lei complementar a que se refere o art. 165, § 
9º, da Constituição. 
Os duodécimos correspondem a 1/12 avos da dotação orçamentária 
anual. 
 
7) DESPESAS COM PESSOAL ATIVO E INATIVO 
O art. 169 da Constituição determina que a despesa com pessoal ativo e 
inativo da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios não 
poderá exceder os limites estabelecidos em lei complementar. 
O legislador ordinário, a fim de conferir aplicabilidade ao dispositivo 
constitucional, editou a Lei Complementar nº 101, de 2000 (Lei de 
Responsabilidade Fiscal), que fixa em 50% da receita corrente líquida 
o limite para a União, e em 60% o limite para Estados, Municípios e 
Distrito Federal. São estes, portanto, os limites a serem respeitados pelos 
entes federados no tocante às suas despesas com pessoal ativo e inativo. 
Os entes federados terão um prazo, também definido na lei 
complementar, para se adaptar a estes limites, dentro do qual deverão 
adotar algumas medidas com essa finalidade. Decorrido este prazo sem a 
adaptação aos parâmetros previstos na lei complementar, serão 
imediatamente suspensos todos os repasses de verbas federais ou 
estaduais aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios que não 
observarem os referidos limites (CF, art. 169, § 2º). 
O § 3º, do art. 169, da Constituição enumera as medidas a serem 
adotadas pelos entes federados para fins de enquadramento nos limites 
com despesa de pessoal. 
Por primeiro, deverão reduzir em ao menos 20% suas despesas com 
cargos em comissão e funções de confiança. Se, ainda assim, o limite 
estiver sendo ultrapassado, deverão os entes federados exonerar seus 
servidores não-estáveis, bem como os servidores que adquiriram 
estabilidade sem concurso (art. 33 da EC nº 19/98, combinado com o 
inc. II, do § 3º do art. 169, da CF). 
Adotadas tais medidas e estando ainda as despesas de pessoal superiores 
ao limite legal, poderão os servidores estáveis (mediante concurso) ser 
exonerados, desde que ato normativo motivado de cada um dos Poderes 
especifique a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa 
objeto da redução de pessoal (CF, art. 169, § 4º). Observe-se que as três 
primeiras medidas são obrigatórias, mas a exoneração dos estáveis por 
concurso é facultativa. 
O servidor estável por concurso que perder seu cargo por excesso de 
despesa com pessoal fará jus a uma indenização equivalente a um mês de 
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remuneração por ano de serviço (CF, art. 169, § 5º). Ademais , os cargos 
atingidos pela redução serão tidos por extintos, sendo vedada a criação de 
cargo, emprego ou função com atribuições iguais ou assemelhadas pelo 
prazo de quatro anos (CF, art. 169, § 6º). É indiferente, para a aplicação 
desta última regra, que o cargo tenha até então sido ocupado por um 
servidor estável ou não-estável. 
O § 7º do art. 169 determina que caberá à lei federal dispor sobre as 
normas gerais a serem obedecidas na exoneração dos servidores estáveis 
mediante concurso. 
Este comando constitucional resultou na edição da Lei nº 9.801/99, 
aplicável a todos os entes federados. O art. 2º da Lei elenca os requisitos 
que o ato normativo extintivo dos cargos deve especificar, devendo-se, 
dentre eles, ressaltar a necessidade de indicação do critério geral 
impessoal escolhido para a definição dos servidores estáveis que serão 
atingidos pela medida. Poderá ser o menor tempo de serviço público, a 
maior remuneração ou a menor idade. Escolhido o critério geral, poderá 
ele ser combinado com o critério complementar de menor número de 
dependentes, para fins de classificação. 
Segundo o art. 3º da Lei, os servidores que exercem atividade exclusiva 
de Estado só poderão ser exonerados se a exoneração dos demais 
servidores da unidade ou órgão objeto da redução atingir pelo menos 30% 
do total dos cargos, e cada ato de redução só poderá atingir 30% do 
número desses servidores. Este dispositivo da lei obedece à determinação 
do art. 247 da Constituição, segundo o qual as leis previstas no inciso III 
do § 1º do art. 41 (exoneração por insuficiência de desempenho) e no § 
7º do art. 169 (exoneração por excesso de despesa com pessoal) deverão 
prever “critérios e garantias especiais para a perda do cargo pelo servidor 
público estável que, em decorrência das atribuições do seu cargo efetivo, 
desenvolva atividades exclusivas de Estado”. 
Por fim, resta-nos, nesse momento, apenas transcrever o § 1º, do art. 
169, da CF, que não trata das regras atinentes aos limites de despesas 
com pessoal, motivo pelo qual só agora é apresentado. 
Reza o citado dispositivo que: 
§ 1º A concessão de qualquer vantagem ou aumento de 
remuneração, a criação de cargos, empregos e funções ou alteração 
de estrutura de carreiras, bem como a admissão ou contratação de 
pessoal, a qualquer título, pelos órgãos e entidades da 
administração direta ou indireta, inclusivefundações instituídas e 
mantidas pelo poder público, só poderão ser feitas: 
I - se houver prévia dotação orçamentária suficiente para atender 
às projeções de despesa de pessoal e aos acréscimos dela 
decorrentes; 
II - se houver autorização específica na lei de diretrizes 
orçamentárias, ressalvadas as empresas públicas e as sociedades 
de economia mista. 
 
 
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ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA 
 
 
O Título VII de nossa Carta destina-se ao regramento da ordem 
econômica e financeira, sendo subdivido em quatro capítulos: 
- Dos princípios gerais da atividade econômica (art. 170 a 181); 
- Da política urbana (art. 182 e 183); 
- Da política agrícola e fundiária (art. 184 a 191) 
- Do sistema financeiro nacional (art. 192) 
 
1) PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA 
O art. 170 da Carta lança as bases da ordem econômica, define seus 
objetivos precípuos e os princípios que devem ser respeitados em seu 
âmbito. 
Iniciando, em seu caput assevera que a ordem econômica é fundada na 
valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, e tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social. 
A seguir, enumera, como seus princípios: 
I - soberania nacional: este princípio complementa o contido no inc. I do 
artigo primeiro de nossa Constituição. Enquanto lá se impõe que o nosso 
Estado seja politicamente soberano, aqui, se exige que esta soberania 
englobe também a esfera econômica, não no sentido de se excluir a 
atividade econômica estrangeira no território nacional, o que é atualmente 
inviável e contrário aos mais básicos postulados de coexistência das 
nações, mas no sentido de se fortalecer a economia interna, fazendo-a 
preponderar sobre os investimentos estrangeiros, na atividade econômica 
desenvolvida em nosso Estado; 
II - propriedade privada: o respeito à propriedade privada é princípio 
basilar de qualquer Estado capitalista. A Constituição, por um lado, 
assegura a propriedade, inclusive como direito fundamental, mas, por 
outro, impõe que ela seja utilizada em conformidade com sua função 
social, como se observa a seguir; 
III - função social da propriedade: a função social da propriedade urbana 
é disciplinada no art. 182, § 2°, e a da propriedade rural no art. 186, 
ambos da Constituição; 
IV - livre concorrência: a livre concorrência decorre diretamente da 
liberdade de iniciativa, considerada, como consta acima, um dos 
fundamentos da ordem econômica brasileira; 
V - defesa do consumidor: a defesa do consumidor, além de ser princípio 
da ordem econômica, é também direito fundamental individual, nos 
termos do art. 5°, XXXII, o que autoriza a intervenção do Estado no 
domínio econômico amparado por tal finalidade; 
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado 
conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus 
processos de elaboração e prestação: este dispositivo foi alterado pela EC 
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nº 42, de 2003, justamente pata autorizar um tratamento mais benéfico, 
inclusive tributário, conforme o impacto ambiental da atividade 
econômica; 
VII - redução das desigualdades regionais e sociais: a redução das 
desigualdades, mais que princípio da ordem econômica, é dos objetivos 
fundamentais da República Federativa do Brasil (CF, art. 3°, III); 
VIII - busca do pleno emprego: princípio que decorre diretamente de 
outro fundamento da ordem econômica, o trabalho humano, além de 
constituir um direito fundamental de segunda geração; 
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte 
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e administração 
no País: o dispositivo foi alterado pela EC n° 6/95. Na sua redação 
original, era assegurado tratamento favorecido para as empresas 
brasileiras de capital nacional de pequeno porte; o art. 171, I, revogado 
pela mesma emenda, conceituava como brasileira a empresa constituída 
sobre nossas leis e com sede e administração no País. Com a alteração 
constitucional, o tratamento favorecido permanece, mas agora ele é 
dirigido a todas as empresas de pequeno porte, seja seu capital nacional 
ou estrangeiro, desde que sejam constituídas sob as nossas leis e tenham 
sua sede e administração no País. Não se encontra mais expressa no texto 
constitucional a conceituação de empresa brasileira, mas os critérios que 
serviam para a sua definição – constituição sob a lei pátria e sede e 
administração no Brasil – são agora requisitos para a obtenção do 
tratamento favorecido, de acordo com a nova redação do art. 170, IX. 
O parágrafo único do art. 170 assegura a todos o livre exercício de 
qualquer atividade econômica, independentemente de autorização do 
Poder Público, ressalvadas as hipóteses previstas em lei. Como vimos, o 
caput do art. 170 alça à condição de fundamentos da ordem econômica o 
trabalho humano e a livre iniciativa, ambos gozando de mesmo valor, sem 
qualquer espécie de prevalência. A existência de dois fundamentos já 
aponta sua relativização, uma vez que deverão incidir de forma harmônica 
na esfera econômica. O parágrafo único também deve ser considerado na 
sua interpretação, uma vez que ressalva, na sua parte final, a 
possibilidade de intervenção estatal, impondo limites e condicionamentos, 
desde que sejam os mesmos veiculados em lei. 
O art. 170 determina que a lei disciplinará, com base no interesse 
nacional, os investimentos de capital estrangeiro, incentivará os 
reinvestimentos e regulará a remessa de lucros. 
Os conceitos de investimento, reinvestimento e remessa de lucros são 
explicitados por Tupinambá Miguel Castro do Nascimento, citado por 
Gabriel Dezen Junior: 
Investir capital estrangeiro é se aportar para a atividade econômica 
brasileira dinheiro estrangeiro, ou o que possa ser avaliado em 
dinheiro. É o ingresso na economia nacional de recursos financeiros, 
monetários ou de outros bens avaliáveis em dinheiro, pertencentes 
às pessoas físicas ou jurídicas residentes, domiciliadas ou com sede 
em outro País. O capital estrangeiro investido produz, ou deve 
produzir, rendas em benefício do investidor. Três caminhos tem, em 
tese, o investidor quanto à renda. Remetê-la de volta para o 
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exterior, reaplicá-la na empresa que gerou o rendimento ou 
alimentar o desenvolvimento nacional, fazendo ingressar em outra 
empresa nacional. As duas últimas situações, ambas significando 
novos recursos para o desenvolvimento do País, retratam a figura 
do reinvestimento. A remessa de lucros, nessa linha, é o retomo 
dos frutos do capital ao exterior, para o titular do capital, que tem 
sobre isso direito subjetivo, embora restringível por lei brasileira, no 
interesse nacional. 
Caberá à União, por lei ordinária, dispor sobre as três operações acima 
referidas. 
O art. 173 da Constituição trata das hipóteses em que se autoriza ao 
Estado atuar diretamente na área econômica, em atividades comerciais ou 
industriais. Deve-se perceber a atuação do Estado nessa esfera sempre 
como excepcional, uma vez que o domínio econômico é o reino da 
iniciativa privada, sendo a atuação típica do Estado, nesse contexto, 
regulatória e fiscalizatória, como esclarece o art. 174. 
A Constituição encampa totalmente esta orientação, ao asseverar que, 
ressalvados os casos previstos no seu próprio texto (por exemplo, art. 21, 
XI e XII, e art. 177), a exploração direta de atividade econômica pelo 
Estado só será permitida quando necessária aos imperativos da segurança 
nacional ou a relevante interesse coletivo,conforme definidos em lei. 
Quando o Estado se valer dos permissivos constitucionais, em regra não 
exercerá atividade econômica por meio dos órgãos integrantes de sua 
Administração Direta. Para tal finalidade, criará entidades administrativas, 
as empresas públicas e sociedades de economia mista, e a estas 
outorgará, por lei, competência para tanto. 
Em vista disso, o § 1º do art. 173 determina que lei estabeleça um 
estatuto jurídico próprio para as empresas públicas, sociedades de 
economia mista e suas subsidiárias que explorem atividade econômica de 
produção ou comercialização de bens ou de prestação de serviços, 
devendo referido diploma dispor, no mínimo sobre: 
a) sua função social e formas de fiscalização pelo Estado e pela sociedade: 
b) a sujeição ao regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive 
quanto aos direitos e obrigações civis, comerciais, trabalhistas e 
tributários: como a área de atuação dessas entidades será tipicamente 
privada, desta natureza será também seu regime jurídico, a fim de evitar 
que seja instaurado um desequilíbrio a seu favor, em detrimento da 
iniciativa privada, uma vez que elas estarão competindo entre si. São 
ressalvadas as hipóteses em que a Constituição, explícita ou 
implicitamente, impõe a aplicação de regras próprias do regime jurídico de 
direito público, a exemplo do art. 37, II, que obriga às entidades 
administrativas promoverem concursos públicos para o preenchimento de 
seu quadro de pessoal; 
c) licitação e contratação de obras, serviços, compras e alienações, 
observados os princípios da Administração Pública: atualmente todas as 
empresas públicas e sociedades de economia mista, bem como suas 
subsidiárias, estão sujeitas à Lei nº 8.666, de 1993, nossa Lei de normas 
gerais sobre licitação e contratos da Administração Pública. Esse 
dispositivo foi alterado pela EC nº 19 justamente para possibilitar a 
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instituição de um regime licitatório próprio para essas entidades estatais, 
com menores formalidades que o instituído na Lei nº 8.666, a fim de 
possibilitar-lhes um funcionamento mais célere, em conformidade com as 
exigências da área em que atuam; 
d) a constituição e o funcionamento dos conselhos de administração e 
fiscal, com a participação de acionistas minoritários; 
e) os mandatos, a avaliação de desempenho e a responsabilidade dos 
administradores. 
O § 2° do art. 173 contém importante regra, prescrevendo que as 
empresas públicas e as sociedades de economia mista não poderão gozar 
de privilégios fiscais não extensivos às do setor privado. Esse dispositivo é 
uma aplicação específica da regra apresentada acima, que impõe às 
entidades administrativas exploradoras de atividade econômica o mesmo 
regime jurídico das empresas da iniciativa privada. Tanto aqui como lá, o 
que se busca é evitar uma concorrência desleal por parte das entidades 
administrativas, o que inegavelmente ocorreria se tais entidades 
pudessem ser agraciadas com benefícios e privilégios fiscais exclusivos, 
não passíveis de fruição pela iniciativa privada. É válida a concessão de 
benefícios e privilégios fiscais, mas desde que eles tenham caráter geral, 
no sentido de serem extensíveis à iniciativa. Com isso, não há risco de 
concorrência desleal. 
O § 3° do art. 173 traz norma programática, asseverando que caberá a lei 
regulamentar as relações da empresa pública com o Estado e a sociedade. 
Segundo Gabriel Dezen Junior, a lei em questão será federal, estadual, 
distrital ou municipal, conforme a qualidade da pessoa federativa 
instituidora. 
o § 4° do mesmo artigo determina que a caberá à lei reprimir o abuso do 
poder econômico que vise à dominação dos mercados, à eliminação da 
concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros. Sobre ele falaremos mais 
adiante. 
O § 5°, fechando o art. 173 da CF, traz regra bastante peculiar, dispondo 
que a lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos dirigentes da 
pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade desta, sujeitando-a às 
punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra a 
ordem econômica e financeira e contra a economia popular. 
Sempre foi axioma do Direito Penal que apenas pessoas físicas, porque 
detentoras de vontade própria, poderiam ser responsabilizadas 
criminalmente. Com a inserção dessa regra na Constituição, abre-se a 
possibilidade de que lei, editada pela União, venha instituir penalidades de 
natureza penal aplicáveis às pessoas jurídicas, desde que, à evidência, 
sejam elas compatíveis com a sua natureza (por exemplo, a pena de 
multa). 
Temos assim, que por condutas atentatórias à ordem econômica e 
financeira ou à economia popular, são passíveis de incidência duas esferas 
de responsabilização penal: uma, que recai sobre os dirigentes da pessoa 
jurídica, e demais pessoas físicas envolvidas no ilícito penal; e outra que 
recai diretamente sobre a pessoa jurídica. 
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O art. 174 versa sobre as funções próprias do Estado na esfera 
econômica. Anteriormente destacamos que o Estado, em caráter 
excepcional, pode atuar diretamente no domínio econômico, por meio de 
entidades da Administração Indireta, quando sua intervenção for 
necessária, em função de imperativos de segurança nacional ou relevante 
interesse público. 
Mas, suas funções precípuas na esfera econômica são a normatizadora e a 
reguladora, quando, então, age o Estado regulamentando, fiscalizando, 
incentivando ou planejando a atividade econômica do nosso país, nos 
termos do caput do art. 174 da CF. 
As diretrizes e bases instituídas pelo Estado na sua função de 
planejamento são vinculantes para o setor público, que obrigatoriamente 
deverá determinar sua atuação por elas, mas são meramente indicativas 
para o setor privado, que as adotará ou não, segundo sua conveniência, 
pois, de outra forma, estaria sendo violado o princípio da livre iniciativa. 
Nos termos do § 1º, a lei estabelecerá as diretrizes e bases do 
planejamento do desenvolvimento nacional equilibrado, o qual incorporará 
e compatibilizará os planos nacionais e regionais de desenvolvimento. 
Esta lei, porque de caráter nacional, é de competência da União, mas as 
matérias de Direito Econômico, genericamente falando, situam-se na 
competência legislativa concorrente entre a União, Estados e Distrito 
Federal (CF, art. 24, I). 
Neste, ponto, em que se enfatiza a função regulatória e normativa do 
Estado no domínio econômico, é útil ressaltarmos a possibilidade de 
estipulação, pelo ente estatal, de preços máximos e mínimos em certos 
setores da economia, não obstante nossa Constituição considere a livre 
iniciativa como um dos fundamentos da ordem econômica. 
Para isso, nos valemos do seguinte julgado do Superior Tribunal de Justiça 
(MS nº 2.887-1 – DF): 
A Constituição Federal, no seu art. 170, preceitua que a ordem 
econômica é fundada na valorização do trabalho e na livre 
iniciativa, tendo por finalidade assegurar a todos existência digna, 
conforme os ditames da justiça social, observados os princípios que 
indica. No seu art. 174 pontifica que, como agente normativo e 
regulador da atividade econômica, o Estado exercerá, na forma da 
lei, as funções de fiscalização, incentivo e planejamento. Desses 
dispositivos resulta claro que o Estado pode atuar como agente 
regulador nas atividades econômicas em geral, sobretudo nas de 
que cuidam as empresas que atuam em um setor absolutamente 
estratégico daí ser-lhe lícito estipular os preços que devem ser por 
elas praticados. 
Os demais parágrafos do art. 174 tratam de temas conexos. O segundo, 
de caráter programático, determina que a lei apoiará e estimulará o

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