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FILOSOFIA 2bimestreatualizada

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Questões 
 
1) O que caracteriza a Filosofia da Idade Média. 
2) O que se entende por Filosofia Patrística e Filosofia Escolástica e qual filósofo caracterizou 
cada um desses períodos. 
3) O que eram os ordálios? 
4) Quais as visões filosóficas no período do Renascimento? 
5) O que é Jusnaturalismo e Juspositivismo? 
6) Qual a crítica dos Juspositivismos em relação ao Direito Natural? 
7) Estabeleça a diferença entre Direito x Justiça x Moral 
 
 
Filosofia na Idade Média 
Filosofia patrística (do século I ao século VIII) 
Inicia-se com as Epístolas de São Paulo e o Evangelho de São João e termina no século VIII, quando teve 
início a Filosofia medieval. A patrística resultou do esforço feito pelos dois apóstolos intelectuais (Paulo e 
João) e pelos primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião – o Cristianismo – com o pensamento 
filosófico dos gregos e romanos, pois somente com tal conciliação seria possível convencer os pagãos da 
nova verdade e converte-los a ela. A Filosofia patrística liga-se, portanto, à tarefa religiosa da evangelização e 
à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos. 
Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e patrística latina (ligada à Igreja de Roma) e seus 
nomes mais importantes foram: Justino, Tertuliano, Atenágoras, Orígenes, Clemente, Eusébio, Santo 
Ambrósio, São Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo, Isidoro de Sevilha, Santo Agostinho, Beda e 
Boécio. 
A patrística foi obrigada a introduzir ideias desconhecidas para os filósofos greco-romanos: a ideia de criação 
do mundo, de pecado original, de Deus como trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo final ou 
de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, etc. Precisou também explicar como o mal pode existir no 
mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade. Introduziu, sobretudo com Santo 
Agostinho e Boécio, a ideia de “homem interior”, isto é, da consciência moral e do livre-arbítrio, pelo qual o 
homem se torna responsável pela existência do mal no mundo. 
Para impor as ideias cristãs, os Padres da Igreja as transformaram em verdades reveladas por Deus (através 
da Bíblia e dos santos) que, por serem decretos divinos, seriam dogmas, isto é, irrefutáveis e inquestionáveis. 
Com isso, surge uma distinção, desconhecida pelos antigos, entre verdades reveladas ou da fé e verdades da 
razão ou humanas, isto é, entre verdades sobrenaturais e verdades naturais, as primeiras introduzindo a 
noção de conhecimento recebido por uma graça divina, superior ao simples conhecimento racional. Dessa 
forma, o grande tema de toda a Filosofia patrística é o da possibilidade de conciliar razão e fé, e, a esse 
respeito, havia três posições principais: 
1. Os que julgavam fé e razão irreconciliáveis e a fé superior à razão (diziam eles: “Creio porque absurdo”). 
2. Os que julgavam fé e razão conciliáveis, mas subordinavam a razão à fé (diziam eles: “Creio para 
compreender”). 
3. Os que julgavam razão e fé irreconciliáveis, mas afirmavam que cada uma delas tem seu campo próprio de 
conhecimento e não devem misturar-se (a razão se refere a tudo o que concerne à vida temporal dos homens 
no mundo; a fé, a tudo o que se refere à salvação da alma e à vida eterna futura). 
 
PATRÍSTICA 
 
 Por Patrística entende-se o período do pensamento cristão que se seguiu à época do novo testamento 
e chega até ao começo da Escolástica, isto é, os séculos II – VIII da era vulgar (Baixa Idade Média). Este 
período da cultura cristã é designado com o nome de Patrística, e representa o pensamento dos Padres da 
Igreja, que são os construtores da Teologia Católica, guias e mestres da doutrina cristã. 
 A Patrística é contemporânea do último período do pensamento grego, o período religioso, com o qual 
tem fecundo, entretanto dele diferenciando-se profundamente, sobretudo como o teísmo se diferencia do 
panteísmo. E também contemporâneo do império romano, com o qual também polemiza, e que terminará por 
se cristianizar depois de Constantino. 
 A Patrística tem três períodos: antes de Agostinho, tempo de Agostinho e depois de Agostinho. Esse 
último período, foi sistematizado a filosofia patrística. No período antes de Agostinho, os padres defendiam o 
cristianismo contra o paganismo, os padres começam a defender a fé e deixar de lado a razão grega como 
mostrava a filosofia helênica. 
O DIREITO NATURAL E A PATRÍSTICA​: O DIREITO NATURAL PROVEM DA VONTADE DE UMA 
DIVINDADE E POR ESTA É REVELADA AOS HOMENS. O DIREITO É ANTERIOR AO ESTADO, TODA 
NORMA QUE NÃO ESTEJA EM CONFORMIDADE COM A DIVINDADE É INJUSTA, PODENDO SER 
DESOBEDECIDA PELOS CIDADÃOS. 
Santo Agostinho (354-430). 
O cristianismo estava consolidado nessa época: embora tivesse apenas quatrocentos anos, era 
considerado a verdade irrefutável. Apesar disso, ​Santo Agostinho​, que nasceu no norte da África, numa 
cidade chamada Tagaste, nem sempre foi cristão. Fez os primeiros estudos na cidade natal e, com a ajuda de 
um amigo, foi para Cartago, aos dezesseis anos, completar os estudos superiores. Não foi um bom aluno. Na 
juventude, detestava estudar grego. Interessou-se por filosofia ao ler uma obra de Cícero. Quando criança era 
cristão, mas depois passou por outras religiões, como a dos maniqueus, que formavam uma seita e dividiam o 
mundo entre o bem e o mal, trevas e luz, espírito e matéria. Acreditavam que com o seu espírito, o homem 
pode transcender a matéria. O maniqueísmo contém uma visão dualista radical, bem e mal são tomados 
como princípios absolutos. 
Posteriormente, Agostinho combateu essa doutrina, que foi criada por Manes. De início ele recusava a 
ler a Bíblia, por considerá-la vulgar. Teve um caso de amor, envolto em paixões mundanas, e nasceu um 
filho, que falecido ainda adolescente. Com vinte anos, perdeu o pai e ficou sendo o responsável pelo sustento 
de duas famílias. 
Foi professor de retórica em Cartago, mas depois mudou-se para Roma. Sua mãe foi contra a 
mudança e Agostinho teve de enganá-la na hora da viagem. De Roma foi para Milão, lecionar retórica. Muito 
influenciado pelos estóicos, por Platão e o neoplatonismo, também estava entre os adeptos do ceticismo. 
Abandonou o maniqueísmo, que critica. Converteu-se então à fé cristã, depois de conhecer a palavra do 
apóstolo Paulo, e batizou-se aos trinta e dois anos de idade. Desistiu do cargo de professor e voltou a 
Tagaste, onde fundou uma comunidade monástica, disposto a fundamentar racionalmente a fé, como foi 
comum na Idade Média. Tentava demonstrar que, sem a fé, a razão não é capaz de levar à felicidade. A 
razão, para Agostinho serve de auxiliar a fé, esclarecendo e tornando inteligível aquilo que intuímos. Ele tinha 
tomado contato com o pensamento neoplatônico onde a natureza humana contém parte da essência divina. 
Demonstrou que há limites para a racionalidade. 
Virou vigário aos trinta e seis anos, praticando a vida ascética. Santo Agostinho escreveu ​Contra os 
Acadêmicos, ​direcionado à filosofia cética e expôs a teoria de que os sentidos dizem algo verdadeiro. O erro 
provém do juízo que fazemos das sensações, e não delas próprias. A sensação não é falsa, o que é falso é 
querer ver nelas uma verdade externa ao próprio sujeito. Virou Bispo de Hipona. 
Agostinho ficou conhecido por “cristianizar” Platão, fazendo vários paralelos entrea parte espiritualista dele 
(que diz existir um mundo transcendente) e as Sagradas Escrituras. Faz a distinção entre o corpo, sujeito à 
sorte do mundo, e a alma, que é atemporal, e com a qual se pode conhecer Deus. Antes de Deus ter criado o 
mundo a partir do nada as Idéias eternas já existiam na sua mente. Deus é a bondade pura. Ele já conhece o 
que uma pessoa vai viver antes dela viver. Assim, apesar da humanidade ter sido amaldiçoada depois do 
pecado original, alguns alcançarão a verdade divina, a salvação. Isso depende do uso que fazemos do livre 
arbítrio, a faculdade que o indivíduo tem de determinar de acordo com a sua própria consciência a sua 
conduta, livre da Divina Providência, enquanto está vivo. Seria o ato livre de decisão, de opção. Durante um 
diálogo, Agostinho chega a conclusão que o mal não provém de Deus, mas sim do mau uso do livre arbítrio. 
Para ele não existe mal, apenas a ausência de Deus. (com isso ele refuta de vez a doutrina dos maniqueus). 
Essa teoria encontra-se no livro ​O livre arbítrio​. Com uma vida errada, a alma fica presa ao corpo, porém a 
relação correta é a inversa. Os órgãos sensoriais sentem a ação dos elementos exteriores, a alma não. Deus 
é a fonte dos conhecimentos perfeitos e não o homem. A experiência mística leva à iluminação divina. Assim 
se chega às verdades eternas, e o intelecto então é capaz de pensar corretamente a ordem natural divina. A 
unidade divina é plena e viva, e guarda a multiplicidade. O amor de Deus é infinito. A graça e a liberdade 
complementam-se. 
Na obra a ​Cidade de Deus​, Agostinho faz oposição entre sensível e inteligível, alma e corpo, espírito e 
matéria, bem e mal e ser e não ser. Acrescenta a história à filosofia, interpretando a história da humanidade 
como o conflito entre a Cidade de Deus, inspirada no amor à Deus e nos valores que Cristo pregou, presentes 
na Igreja, e a Cidade humana, baseada nos valores imediatos e mundanos. Essas cidades estariam 
presentes na alma humana, e no final a Cidade de Deus triunfaria. 
 
Santo Agostinho e o Direito Natural 
Em sua doutrina, pregava que, se as leis terrenas contivessem disposições contrárias à lei de Deus, não 
teriam vigência e não deveriam ser obedecidas. 
A esperança da realização da Justiça Cristã era mantida através da crença em uma norma de caráter mais 
geral, colocada acima do Direito Positivo. Dessa forma, conseguiram-se conter quaisquer revoltas. Apesar de, 
utopicamente, reinar uma igualdade entre os homens e uma satisfação das necessidades materiais humanas 
por meio da posse comum dos bens, empiricamente, cidadão era somente aquele que detinha riquezas, 
situado, destarte, em uma camada restrita e distinta do restante da grande e carente massa popular. 
De maneira análoga, também no período medieval, a realidade empírica era distinta das aspirações de 
Justiça, bastando-se tomar como exemplo os atos da Igreja em repressão àqueles considerados hereges. 
 
ESCOLÁSTICA 
 
 A Escolástica representa o último período da história do pensamento cristão, que vai do início do séc. 
IX até ao fim do séc. XV (Alta Idade Média). Este período do pensamento cristão é denominado 
ESCOLÁSTICO, porque era a filosofia ensinada nas escolas da época por mestres chamados escolásticos. 
Diversamente da patrística, cujo interesse é acima de tudo religioso e cuja glória é a elaboração da teologia 
dogmática católica, o interesse da escolástica é, acima de tudo, especulativo, e a sua glória é a elaboração da 
filosofia cristã. Tal elaboração será plenamente racional, consciente e crítica, apenas Tomás de Aquino, que 
levou a escolástica ao seu apogeu. Até o Aquinate sobrevivem o pensamento e a tendência 
platônico-agostiniana, características da patrística, em que era impossível uma filosofia verdadeira e própria 
por falta de distinção entre natural e sobrenatural, razão e fé, filosofia e teologia. Quanto à divisão da 
escolástica, distinguiremos a escolástica pré-tomista, com orientação agostiniana (IX- XIII); Tomás de Aquino, 
que foi o verdadeiro construtor da filosofia cristã (XIII); o período pós-tomista (XIV-XV), que representa a 
rápida decadência histórica da escolástica. 
 Neste período, aconteceram grandes avanços na área filosófica, devido ao pensamento gnosiológico, 
místico, dialético, metafísico e moral. 
 
São Tomás Aquino (1225-1274) 
 
Nascido em uma família de nobres, Tomás de Aquino fez os primeiros estudos no castelo de Monte Cassino. 
Em Nápoles, para onde foi em 1239, estudou artes liberais, ingressando, em seguida, na Ordem dos 
Dominicanos, em 1244. De Nápoles, a caminho de Paris, em companhia do Geral da ordem, foi seqüestrado 
por seus irmãos, inconformados com seu ingresso no convento. 
No ano seguinte, fiel à sua vocação religiosa, viajou a Paris, onde se tornou discípulo de ​Alberto 
Magno​, acompanhando-o a Colônia. Em 1252, voltou a Paris, onde se formou em teologia e lecionou durante 
três anos. Depois de voltar à Itália, foi nomeado professor na cúria pontifical de Roma. 
Ensina, durante anos, em várias cidades italianas. Uma década depois, retorna a Paris, onde leciona 
até 1273. A seguir, parte para Nápoles, onde reestrutura o ensino superior. Em 1274, convocado pelo papa 
Gregório 10º, viaja para participar do Concílio de Lyon. Adoece, contudo, durante a viagem, vindo a falecer no 
mosteiro cisterciense de Fossanova, aos 49 anos de idade. 
Chamado de Doutor Angélico e de Príncipe da Escolástica, Tomás de Aquino foi canonizado em 1323 
e proclamado doutor da Igreja Católica em 1567. 
 
Provas da existência de Deus 
A primeira questão de que se ocupa Tomás de Aquino - na ​Suma Teológica​, sua obra máxima - é a das 
relações entre a ciência e a fé, a filosofia e a teologia. Fundada na revelação, a teologia é a ciência suprema, 
da qual a filosofia é serva ou auxiliar. À filosofia, procedendo de acordo com a razão, cabe demonstrar a 
existência e a natureza de Deus. 
Profundamente influenciado por ​Aristóteles​, Tomás de Aquino sustenta que nada está na inteligência 
que não tenha estado antes nos sentidos, razão pela qual não podemos ter de Deus, imediatamente, uma 
idéia clara e distinta. 
Assim, para provar a existência de Deus, o filósofo procede ​a posteriori​, partindo não da idéia de Deus, 
mas dos efeitos por ele produzidos, formulando cinco argumentos, cinco vias: 
 
 
1) o movimento existe e é uma evidência para os nossos sentidos; ora, tudo o que se move é movido por 
outro motor; se esse motor, por sua vez, é movido, precisará de um motor que o mova, e, assim, 
indefinidamente, o que é impossível, se não houver um primeiro motor imóvel, que move sem ser movido, que 
é Deus; 
 
2) há uma série de causas eficientes, causas e efeitos, ao mesmo tempo; ora, não é possível remontar 
indefinidamente na série das causas; logo, há uma causa primeira, não causada, que é Deus; 
 
3) todos os seres que conhecemos são finitos e contingentes, pois não têm em si próprios a razão de sua 
existência - são e deixam de ser; ora, se são todos contingentes, em determinado tempo deixariam todos de 
ser e nada existiria, o que é absurdo; logo, os seres contingentes implicam o ser necessário, ou Deus; 
 
4) os seres finitos realizam todos determinados graus de perfeição, mas nenhum é a perfeiçãoabsoluta; logo, 
há um ser sumamente perfeito, causa de todas as perfeições, que é Deus; 
 
5) a ordem do mundo implica em que os seres tendam todos para um fim, não em virtude de um acaso, mas 
da inteligência que os dirige; logo, há um ser inteligente que os dirige; logo, há um ser inteligente que ordena 
a natureza e a encaminha para seu fim; esse ser inteligente é Deus. 
 
Homem, alma e conhecimento 
 
Para Tomás de Aquino, o homem é corpo e alma inteligente, incorpórea (ou imaterial), e se encontra, no 
universo, entre os anjos e os animais. Princípio vital, a alma é o ato do corpo organizado que tem a vida em 
potência. 
Contestando o platonismo e a tese das ideias inatas, Tomás de Aquino observa que se a alma tivesse de 
todas as coisas um conhecimento inato, não poderia esquecê-lo, e, sendo natural que esteja unida a um 
corpo, não se explica porque seja o corpo a causa desse esquecimento. 
Conhecer, para Tomás de Aquino, não é lembrar-se, como pretendia ​Platão​, mas extrair, por meio do 
intelecto agente, a forma universal que se acha contida nos objetos sensíveis e particulares. Do conhecimento 
depende o apetite, ou o desejo, inclinação da alma pelo bem. 
O homem, segundo Tomás de Aquino, só pode desejar o que conhece, razão pela qual há duas espécies de 
apetites ou desejos: os sensíveis e os intelectuais. Os primeiros, relativos aos objetos sensíveis, produzem as 
paixões, cuja raiz é o amor. Quanto aos segundos, produzem a vontade, apetite da alma em relação a um 
bem que lhe é apresentado pela inteligência como tal. 
Seguindo Aristóteles, Tomás de Aquino diz que, para o homem, o bem supremo é a felicidade, que não 
consiste na riqueza, nem nas honrarias, nem no poder, em nenhum bem criado, mas na contemplação do 
absoluto, ou visão da essência divina, realizável somente na outra vida, e com a graça de Deus, pois excede 
as forças humanas. 
 
Direito Para Santo Tomás Aquino 
Santo Tomás de Aquino distinguia em sua obra "Suma Teológica", três espécies de leis: a "lex aeterna" ou 
razão divina, que governa o mundo; a "lex naturalis", inserida por Deus no coração do homem e feita sob 
medida para a natureza deste, e, finalmente, a "lex humana", criada pelo homem conforme os preceitos da lei 
natural. Em face desta estreita dependência entre a lei positiva e a lei divina, surgiu a supremacia da Igreja 
sobre o Estado. 
 
Direito Canônico 
Na baixa idade média o poder eclesiástico atingiu o seu apogeu; os reis recebiam o seu poder da igreja, que 
os sagrava e podia excomungá-los. O cristianismo começou com muita simplicidade, mas, na medida em que 
conseguia consolidar a sua estrutura, foi, gradativamente, elaborando suas próprias regras, que, com o 
passar do tempo, chegariam constituir um direito particular: o direito canônico. 
A palavra "canônico" é usada para designar algo referente a Igreja. "Canon" é um termo usado pela Igreja 
para definir os seus próprios assuntos, usos e costumes. Portanto, Direito Canônico é o direito da Igreja 
Católica. 
Foi a partir do século VIII que o Direito Canônico começou a ser chamado assim. Até o Decreto de Graciano 
em 1140, o direito canônico não era uma ciência autônoma em relação à teologia. Depois do Decreto até o 
Concílio de Trento cada vez mais a ciência canônica toma uma direção própria, e com a promulgação do 
primeiro código em 1917, alcança o seu auge como ciência jurídica dentro da Igreja. 
O Direito Canônico foi, durante a maior parte da Idade Média, o único direito escrito; foi redigido, comentado e 
analisado a partir da Alta Idade Média e prossegue até os nossos dias. A Igreja admitiu (quase sempre) a 
dualidade de dois sistemas jurídicos: o direito religioso e o direito laico. 
A religião cristã se impôs na Idade Média por toda parte, adquirindo um caráter UNITÁRIO. Certos domínios 
do direito privado foram redigidos exclusivamente pelo direito canônico, os conflitos nessa área eram 
resolvidos pelos tribunais eclesiásticos, com exclusão dos tribunais laicos. 
A finalidade do Direito ou Código Canônico se resume no fato de que a Igreja, constituída como corpo social 
visível, precisa de normas: para que se torne visível sua estrutura hierárquica e orgânica; para que se 
organize devidamente o exercício das funções que lhes foram devidamente confiadas; para que se 
componham, segundo a justiça inspirada na caridade, as relações mútuas entre os fiéis e finalmente para que 
as iniciativas comuns empreendidas em prol de uma vida cristã mais perfeita, sejam apoiadas, protegidas e 
promovidas pelas leis canônicas. 
A Inquisição 
Foi um Órgão criado para combater qualquer movimento contrário aos ideais eclesiásticos, denominado 
Tribunal do Santo Ofício da Inquisição. É responsável pela defesa dos princípios regentes do catolicismo da 
época. 
Consistia na identificação, julgamento e condenação de indivíduos suspeitos de praticar outras religiões, ou 
quem ela entendesse como inimigo, acusando-os de hereges. 
Quem estabelece regras deve se preocupa com seu cumprimento. Os conflitos internos e externos da 
comunidade eclesiástica eram arbitrados pelos bispos, com base no procedimento acusatório herdado do 
direito romano, mas logo ficou aparente que nem sempre havia parte acusadora para colocar um freio aos 
desvios da fé. Então, as autoridades eclesiásticas começaram a investigar de oficio, inicialmente como 
procedimento disciplinar restrito ao policiamento do clero. Nesse período é que teve inicio a Inquisição, criada 
para combater toda e qualquer forma de contestação aos dogmas da igreja. 
A Inquisição exercia também uma severa vigilância sobre o comportamento moral dos fiéis e censurava toda 
a produção cultural bem como resistia fortemente a todas as inovações científicas. Era composta por tribunais 
Eclesiásticos e Seculares que julgavam todos aqueles considerados uma ameaça às doutrinas da Igreja. 
Todos os suspeitos eram perseguidos e julgados, e aqueles que eram condenados, cumpriam as penas que 
podiam variar desde prisão temporária ou perpétua até a morte na fogueira, onde os condenados eram 
queimados vivos em plena praça pública. 
O Tribunal da Inquisição orientava-se, por um Regimento Interno, onde estavam sistematizados as leis, 
jurisprudência, ordens e prazos a serem seguidos. Os crimes julgados pelo Tribunal eram de duas naturezas: 
contra a fé, como judaísmo, protestantismo, luteranismo, deísmo, libertinismo, molinismo, maometismo, 
blasfêmias, apostasia, desacatos, críticas aos dogmas; e contra a moral e os costumes, como bigamia, 
sodomia, feitiçaria etc, com toda sua série de modalidades. 
Podiam acontecer três tipos de processo: ​por acusação, por denúncia, por inquérito​. A investigação do 
processo resumia-se a perguntar às pessoas informadas ou envolvidas no caso; aceitavam-se denúncias de 
qualquer categoria de pessoas e mesmo cartas anônimas. 
As pessoas viviam amedrontadas e sabiam que podiam ser denunciadas a qualquer momento sem que 
houvesse necessariamente razão para isso. Com base em meros boatos, aprisionavam as pessoas, 
interrogavam-nas, e muitas vezes, torturavam-nas até confessarem. 
O processo penal acusatório era um sistema de julgamento irracional, a ação penal só poderia ser 
desencadeada por uma pessoa privada, que seria a parte prejudicada. O juiz era um árbitro imparcial, que 
orientava o processo, mas nunca julgava o acusado. Em caso de dúvidas, a determinação da culpa ou 
inocência era feita de modo irracional, era colocado nas mãos de Deus. A forma utilizada era chamada de 
Ordálio e suas práticas eram diversas. 
O processo por inquérito substituiu o processo acusatório, alterandoo sistema penal, atribuindo racionalidade 
ao sistema. No processo por inquérito oficializou-se todas as etapas do processo judicial a partir da 
apresentação da denúncia. O juiz já não era mais um árbitro imparcial, ele e os demais oficiais do tribunal 
assumiam a investigação dos crimes e determinavam e a culpabilidade ou não do réu, tudo registrado por 
escrito. 
A tortura era o meio utilizado pelos inquisidores para obterem a confissão ou informação de uma pessoa 
acusada. Argumentava-se que quando uma pessoa fosse submetida ao sofrimento físico durante o 
interrogatório, confessaria a verdade. 
O condenado era obrigado a confessar sua culpa em uma igreja e a pedir perdão na frente de uma multidão, 
esse evento era denominado autos-de-fé. Em seguida, era conduzido ao cadafalso, em praça pública, onde 
seria queimado pelo carrasco. Durante a execução a sentença era lida em público para que todos tomassem 
ciência dos malefícios por eles praticados. 
Após a morte na fogueira, os bens da pessoa executada eram confiscados a pretexto de prover as custas do 
processo e os familiares passavam a ser investigados, uma vez que a prática de certos crimes era 
considerada hereditária. 
A Inquisição sofreu uma importante reforma no tempo do Marquês de Pombal em 1772, e foi extinta 
gradualmente ao longo do ​século XVIII​, embora só em ​1821​ se dê a extinção formal em Portugal numa 
sessão das Cortes Gerais. 
 
Teoria do Conhecimento 
RACIONALISMO X EMPIRISMO 
Desde as origens da filosofia o problema do conhecimento sempre ocupou a maioria dos filósofos. O 
tema já era tratado pelos pensadores pré-socráticos, os quais, dada a maneira como abordavam o assunto, 
se dividiam entre racionalistas e empiristas. O racionalismo e o empirismo representam visões opostas na 
maneira de explicar como o homem adquire conhecimentos. A classificação em correntes de pensamento, 
evidentemente, foi realizada pelos pensadores posteriores, já que nem os gregos ou os medievais tinham 
clara a separação entre as duas tendências. Parmênides (cerca de 530 a.C. -460 a.C.) e os pitagóricos 
(século VI a.C.) concordam que além do conhecimento empírico existe também o racional, e é somente este 
último que efetivamente tem valor absoluto. Por outro lado, os sofistas Protágoras (480 a.C. -410 a.C.) e 
Górgias (480 a.C.375 a.C.) reconhecem somente o conhecimento sensível. Assim, como sabiam que as 
experiências eram falhas e que não eram as mesmas para todo e qualquer indivíduo, os sofistas concluíram 
pela relatividade do conhecimento, o que os permitiu afirmar que “o homem é a medida de todas as coisas”, 
negando qualquer conhecimento necessário e universal. 
Avançando mais no tempo, encontramos a filosofia de Platão (427 a. C.- 347 a. C.), cujo pensamento 
é classificado como racionalista. O grande filósofo, afirmava que para chegar à verdade era preciso 
ultrapassar os dados da experiência, falhos e mutáveis, e alcançar o mundo da Idéias, princípios eternos e 
perfeitos. O grande filósofo ateniense afirmava que antes de viver neste mundo as almas humanas habitavam 
o mundo das Idéias e ali conheciam o Bem, o Belo, as Proporções e muitas outras. Ao nascerem em corpos 
humanos, as almas esqueciam o que haviam vislumbrado neste mundo superior. Somente através de uma 
ascese e da atividade filosófica é que as Idéias poderiam ser relembradas. O exemplo clássico desta crença é 
o Mito da Caverna, descrito no livro “A República”. A base de todo o mito é o argumento de Platão, depois 
incorporado de diversas formas à filosofia pelos pensadores racionalistas, de que existem conceitos que são 
inatos ao ser humano (como a Razão, o Bem, a Justiça, etc.), os quais precisamos apenas recordar. Um dos 
grandes argumentos apresentados ao longo da história em favor do inatismo (o fato destes conceitos serem 
inatos, de já nascermos com eles) era a capacidade de realizarmos operações matemáticas. Segundo os 
racionalistas, não havia como aprender conceitos e raciocínios matemáticos pela experiência; estes deveriam 
ser inatos. O mais famoso exemplo desta argumentação é apresentado em um dos diálogos de Platão, no 
“Menon”. Neste diálogo, Sócrates inicia uma conversa com um jovem escravo, que passava pelo local onde o 
filósofo confabulava com alguns amigos. Fazendo uma série de perguntas dirigidas, Sócrates consegue que o 
escravo realize diversos raciocínios matemáticos e geométricos, sem que nunca antes tivesse estudado estas 
ciências. A historicidade do ocorrido narrado por Platão nunca pôde ser provada. Fato é que com aquela 
história Platão queria provar que certas idéias matemáticas eram inatas, já que com elas tínhamos tido 
contato no mundo das Idéias. 
Por outro lado sabemos por dados históricos e arqueológicos que a álgebra e a geometria sofreram 
um lento desenvolvimento, desde a contagem de dias, registrados em ossos há mais de 15.000 anos, até as 
técnicas desenvolvidas para observação dos astros, construção de canais, medição de terras, construção de 
templos e comércio, pelas grandes civilizações do Oriente Médio, Ásia e Mesoamérica. Tudo isto – podemos 
acompanhá-lo por diversos documentos históricos – foi o resultado de um lento aprimoramento de certos 
conceitos e práticas por força das necessidades econômicas, a princípio bastante simples e elementares. 
Aristóteles (384 a.C.-322 a. C) discípulo de Platão, tinha uma posição diferente de seu mestre. 
Defendia que a observação era a atividade básica para poder entender o mundo. Em outras palavras, dizia 
que dos dados empíricos podiam-se tirar conclusões e destas criar regras que explicassem o funcionamento 
da Natureza. Com esta maneira de interpretar os dados da experiência, Aristóteles tornou-se o fundador de 
diversas ciências e um dos maiores representantes do empirismo (na realidade, chamado de realismo). 
Após Aristóteles, a maioria dos filósofos do período helênico seguiria a orientação empirista. Mesmo 
porque, estas correntes filosóficas eram voltadas para temas práticos, como a ética e a física e pouco para o 
desenvolvimento de um pensamento mais sutil, como a metafísica. A escola cirenaica, fundada por Aristipo 
de Cirene (435 a.C. -356 a.C.), afirmava que só as sensações eram critério de conhecimento. O mesmo 
ocorria com pequenas variações com os cínicos, escola fundada por Antístenes (444 a.C. -365 a.C.), e com 
os estóicos, que tinham em Zenon de Cítium (334 a.C. -262 a.C.) seu iniciador. Esta última escola filosófica 
antecipou-se ao pensador inglês John Locke (do qual falaremos adiante) em quase dois mil anos, afirmando 
que a alma humana não continha qualquer tipo de idéia inata no nascimento, e que todo desenvolvimento 
posterior era resultado da experiência através dos sentidos. Outra corrente bastante importante e com uma 
orientação empirista foi o epicurismo, fundado por Epicuro de Samos (341 a.C.271 a.C.), para quem todo o 
conhecimento provinha das sensações, causadas pelos átomos. A última escola de pensamento empirista da 
Antiguidade foi o ceticismo, fundado por Pirro de Elis (360 a.C. -c. 270 a.C.). O último grande representante 
desta escola foi Sexto, cognominado de“O Empírico” (que também quer dizer médico). Os céticos partiam do 
pressuposto de que a base do conhecimento eram os sentidos, que, no entanto, não eram dignos de 
confiança. Sendo assim, afirmavam que nada se poderia conhecer verdadeiramente e que a cada afirmação 
era possível contrapor uma afirmação contrária. 
Durante grande parte da Idade Média, pelo menos até o século XIII, a filosofia dominante teve uma 
orientação racionalista. Isto se deve principalmente à grande influência exercida pela filosofia neoplatonica 
(século III d.C.), de Amônio Sacas (175 242) e Plotino (205 -270), sobre vários pensadores dos primeiros 
séculos da nossa era. Dentre estes filósofos estava Santo Agostinho (354 -431), que com sua obra moldaria 
toda a teologia e filosofia medieval até o aparecimento de São Tomás de Aquino (1225 -1274). Os conceitos 
de Ideias, elaboradas por Platão, foram substituídas por conceitos como Deus, Alma e Bem, conceitos que 
segundo Agostinho, Deus já tinha impregnado na alma do homem e que este descobria ao seguir o 
cristianismo. 
A partir do século XII, com os frequentes contatos com a cultura árabe, o ocidente cristão toma 
conhecimento das obras de Aristóteles. Os escritos do filósofo grego, desaparecidos da cultura ocidental por 
longo tempo, passariam a exercer uma grande influência sobre os teólogos da Igreja. Todavia, chegaram a 
ser proibidos, para depois adquirirem plena aceitação após terem sido incorporados á filosofia cristã por São 
Tomás de Aquino. Este pensador não era empirista, mas acreditava que esta tendência filosófica não excluiria 
a fé. Através dos dados dos sentidos, segundo Tomás, o conhecimento pode abstrair de cada objeto 
individual a sua essência, sua forma universal. Deus, para Aquino, é cognoscível (pode ser conhecido) por 
meios sensíveis e racionais, Com base nisso, o filósofo propõe as “Cinco Vias”, as cinco sentenças que tenta 
provar a existência de Deus, baseadas em parte no empirismo e no racionalismo. 
A síntese medieval culminou com o sistema abrangente de Tomás de Aquino. O racionalismo 
escolástico estava unido ao misticismo cristão e o conhecimento dos gregos estava amoldado aos 
ensinamentos da Igreja, formando uma imagem do universo. As causas finais estavam por trás de cada 
processo da natureza. Uma inteligência divina permeava tudo. E a vontade de Deus, apesar de 
incompreensível em seus detalhes, proporcionava racionalidade e sentido a todas as coisas. 
Todavia, o Renascimento inauguraria uma nova mentalidade, uma maneira diferente de enxergar o 
universo, já bastante influenciada pelo princípio de desenvolvimento das ciências naturais. Um dos primeiros 
cientistas-filósofos da época (ainda não havia clara distinção entre ambas as ciências), Bernardino Telésio, é 
um típico representante da nova mentalidade empírico-científica da época. Segundo Höffding, Telésio 
considerava que mesmo o mais alto e mais perfeito conhecimento simplesmente consistia na habilidade de 
descobrir atributos e condições desconhecidas do fenômeno, através de suas similaridades com outros casos 
conhecidos. Ou seja, novas descobertas devem ser feitas empiricamente, baseadas na observação dos 
fenômenos da natureza, como já ensinava Aristóteles. 
É neste ambiente cultural que o empirismo e o racionalismo moderno se desenvolvem. Um dos 
grandes precursores do empirismo – e por sinal também um dos ideólogos do moderno método científico – foi 
Francis Bacon (1561-1626). Dizia ele que todo conhecimento tinha que ser baseado em dados da 
experiência. As informações, no entanto, deveriam ser reunidas e utilizadas de acordo com um método, de 
modo a possibilitar fazer inferências cientificamente aproveitáveis. 
Os sucessores intelectuais de Bacon foram os empiristas ingleses, dos quais os principais 
representantes eram Thomas Hobbes (1588-1674), John Locke (1632-1704), George Berkeley (1685-1753) e 
David Hume (1711-1776). O ponto de partida das investigações destes filósofos não foram os problemas do 
ser, mas do conhecer. No entanto, enquanto filósofos continentais (os racionalistas) encaram o problema do 
conhecimento a partir das ciências exatas, os empiristas voltam-se para as ciências experimentais. O próprio 
ambiente cultural e sócio-econômico da Inglaterra da época coopera para tanto, já que ocorria um grande 
florescimento das ciências experimentais – botânica, astronomia, química, mecânica, etc. Seguindo a linha de 
raciocínio das ciências experimentais, o empirismo parte de fatos, eventos constatados pela experiência. 
Agindo assim, chega à seguinte problemática epistemológica: como, partindo da experiência sensível, é 
possível chegar às leis universais? A solução encontrada pelos filósofos foi a de que partindo do pressuposto 
de que todo o conhecimento é originário da experiência, conclui-se que mesmo as ideias abstratas e as leis 
científicas têm a mesma incerteza, instabilidade e particularidade do conhecimento empírico. A alma (a 
mente) não possui ideias inatas, como afirmava o racionalista Platão. As impressões, obtidas pela 
experiência, isto é, pela sensação, percepção e pelo hábito, são direcionadas à memória e desta – através de 
um processo de associação de ideias, segundo o filósofo Hume – formam-se os pensamentos. O próprio 
hábito de associar ideias, pela diferenças ou semelhanças, forma a razão, ainda segundo Hume. A mais 
famosa tese do empirismo, desenvolvida por John Locke, é a da tabula rasa. Com este conceito o filósofo 
queria dizer que ao nascermos não temos nenhum princípio ou ideia inata e tudo que aprendemos e 
processamos em nossa mente provêm das experiências feitas durante a vida. 
 
  
A escola racionalista, inaugurada por René Descartes (1596-1650), tem um posicionamento diferente 
em relação à maneira como é adquirido o conhecimento. Vivendo em um ambiente diferente dos empiristas, 
assolado por guerras (Guerra dos 30 anos de 1618 a 1648) e perseguições religiosas (Massacre de São 
Bartolomeu em 1572), os filósofos racionalistas foram mais apegados a conceitos imutáveis, como os das 
ciências teóricas (matemática e geometria). Para os filósofos racionalistas, cujos representantes principais 
foram Descartes, Nicolas Malebranche (1638-1715), Baruch Espinosa (1632-1677) e Leibniz (1646-1716), é 
necessário descobrir uma metodologia de investigação filosófica sobre a qual se pudesse construir todo o 
conhecimento. A resposta a esta questão, encontrada por Descartes, foi que o conhecimento válido não 
provém da experiência, mas encontra-se inato na alma. Em relação ao método para atingir este 
conhecimento, o filósofo francês propõe colocar em dúvida qualquer conhecimento que não seja claro e 
distinto. Este conhecimento pode ser obtido através da análise racional, com a qual é possível apreender a 
natureza verdadeira e imutável das coisas. Trata-se, de certa forma, de uma reedição do platonismo, 
possibilitando a metafísica e a aceitação de uma moral baseada em princípios tidos como racionais e 
universalmente válidos.A solução de Kant 
A dicotomia entre racionalismo e empirismo perpassa toda a filosofia dos séculos XVII e XVIII. A 
possibilidade do conhecimento efetivo e absoluto, afirmado pelos racionalistas e negado pelos empiristas é 
estudada detalhadamente pelo filósofo Immanuel Kant (1724-1804). Este teve sua atenção despertada para o 
problema do conhecimento após ler a obra do empirista Hume, que, segundo o próprio Kant, o acordou do 
“sonho dogmático”. A solução para a oposição entre o racionalismo e o empirismo foi chamada por ele 
mesmo de “Revolução copernicana da filosofia”, numa referência à revolução paradigmática feita por 
Copérnico na astronomia, que mudou nossa visão do mundo e de sua posição no universo. 
De certo modo, Kant tentou provar que tanto os inatistas (os racionalistas, que consideravam certas 
ideias inatas na alma) quanto os empiristas estavam errados. Ou seja, os conteúdos do conhecimento não 
eram inatos nem eram adquiridos pela experiência. Kant postula que a razão é inata, mas é uma estrutura 
vazia e sem conteúdo, que não depende da experiência para existir. A razão fornece a forma do 
conhecimento e a matéria é fornecida pelo conhecimento. Desta maneira, a estrutura da razão é inata e 
universal, enquanto os conteúdos são empíricos, obtidos pela experiência. Baseado nestes pressupostos, 
Kant afirma que o conhecimento é racional e verdadeiro. 
Todavia, segundo o filósofo, não podemos conhecer a realidade das coisas e do mundo, o que ele 
chamou de ​noumeno​, “a coisa em si”. A razão humana só pode conhecer aquilo que recebeu as formas (cor, 
tamanho, etc.) e as categorias (elementos que organizam o conhecimento) do sujeito do conhecimento, isto é, 
de cada um de nós. A realidade, portanto, não está nas coisas (já que não as podemos conhecer em última 
análise), mas em nós. Assim, vemos o mundo “filtrado e processado” pela nossa razão, depois que as 
percepções passaram pelas categorias. 
Resumindo: 
 - ​Racionalismo​ argumenta que a obtenção do conhecimento científico se dá pelas ideias inatas, que seriam 
pensamentos existentes no homem desde sua origem que o tornariam capazes de intuir (deduzir) as demais 
coisas do mundo. Tais ideias inatas seriam o fundamento da Ciência. 
- ​Empirismo​, a Experiência é a base do conhecimento científico, ou seja, adquire-se a Sabedoria através da 
percepção do Mundo externo, ou então do exame da atividade da nossa mente, que abstrai a Realidade que 
nos é exterior e as modifica internamente. Daí ser o Empirismo de caráter individualista, pois tal conhecimento 
varia da percepção, que é diferente de um indivíduo para o outro. 
(Ricardo Ernesto Rose) 
 
Filosofia do Direito 
O DIREITO 
Origem da palavra direito (nominal) 
“Directum” ​ou “​rectum” ​(do latim) > significa direito ou reta 
“Dirigere” ​(do latim) > significa dirigir, guiar 
“Jus” – derivação de “justum”. Aquilo que é justo, conforme a justiça 
“Yu”- (vocábulo sânscrito) que significa vinculo, radical de “jus”, justo 
 
CONCEITO DE DIREITO 
Impossível de se ter uma fórmula única, variando de acordo com visão da Escola ou Teoria. 
O Direito, no sentido da lei ou norma, é uma das acepções mais conhecidas. 
Conceitos: 
Gustav Radbruch: “o conjunto de normas gerais e positivas que regulam a vida social”. 
Henri Mazeaud: “O fim do direito é precisamente determinar regras que permitam aos homens a vida em 
sociedade” 
Ao conjunto dessas normas, gerais e positivas, ditadas por um poder soberano e que disciplinam a vida 
social, se denomina direito. 
Rudolf von Ihering: “um conjunto de normas, coativamente garantidas pelo poder público” 
Hermes de Lima: Direito é o conjunto de regras de organização e conduta que, consagradas pelo Estado, se 
impõe coativamente, visando a disciplina da convivência social 
Hans Kelsen: Direito é uma ordem de conduta humana. Uma ordem é um sistema de regras. 
 
DIVISÕES DO DIREITO 
Jusnaturalismo - Direito Natural 
Chama-se Jusnaturalismo a corrente tradicional do pensamento jurídico, que sustenta a existência de 
um direito natural superior ao direito positivo. A corrente jusnaturalista não se tem apresentado, no curso da 
história, com uniformidade de pensamento. Há diversas matizes que implicam a existência de correntes 
distintas, mas que guardam entre si um denominador comum de pensamento: a convicção de que, além do 
direito escrito, há uma ordem superior àquela, e que é a expressão do direito justo. Traz a ideia do direito 
perfeito e por isso deve servir de modelo para o legislador. É o direito ideal, mas ideal não no sentido utópico, 
mas um ideal alcançável. É importante lembrar que a maior divergência na conceituação do direito natural 
está centralizada na origem e fundamentação desse direito. 
Na antiguidade, defendia-se a existência de uma “lei verdadeira” (direito natural), conforme a razão, 
universal e imutável, que não muda com os países e com o tempo, estabelecendo o que é bom e fundando-se 
num critério moral, e uma lei civil (direito positivo) particular e que estabelece aquilo que é útil, baseando-se 
em um critério econômico e utilitário. 
Na Idade Média, o jusnaturalismo adquiriu cunho teológico, com fundamentos na inteligência e na 
vontade divina. As normas eram emanadas e reveladas por Deus prevalecendo, assim, a concepção do 
direito natural, que os escolásticos concebiam como um conjunto de normas ou princípios morais que são 
imutáveis, consagrados ou não na legislação da sociedade, visto que resultam da natureza das coisas e do 
homem, sendo por isso apreendidos imediatamente pela inteligência humana como verdadeiros. São Tomás 
de Aquino entendeu como a “lei natural” àquela fração da ordem imposta pela mente de Deus, que encontra 
presente na razão do homem, uma norma, portanto, racional. 
No início da Modernidade, o jusnaturalismo passou a se manifestar com fundo antropológico. Surge, então, 
Hugo Grotius que dividiu o direito em duas categorias: jus voluntarium, que decorre da vontade divina ou 
humana, e o jus naturale, oriundo da natureza do homem devido a sua tendência inata de viver em 
sociedade. Para Hugo Grotius o direito natural seria o ditame da razão, indicando a necessidade ou 
repugnância moral inerente a um ato por causa de sua conveniência ou inconveniência à natureza racional e 
social do homem. Hugo Grotius libertou a ciência do direito de fundamentos teológicos, cedendo às 
tendências sociológicas de seu tempo, e intuiu que o senso social é 
Para uma corrente, o Direito Natural é constituído pelos princípios que servem de fundamento ao direito 
positivo, normas tais como: “deve se fazer o bem”, “dar a cada um o que lhe é devido”, “não lesar a outrem”. 
Ao estabelecer em leis os critérios de justiça, o legislador deverá basear-se em uma fonte irradiadora de 
princípios - o Direito Natural. (princípios fundamentais do direito). 
Se o ordenamento jurídico se afasta dos princípios do direito Natural, prevalecem as leis injustas. 
Como uma bússola, o Direito Natural conduziria o Direito Positivo ao objetivo final, o bem comum, o ideal de 
justiça. O Direito Natural deixa de ser antagônico ao Direito Positivo passando a ser seu norteador. 
 
Juspositivismo - Direito Positivo 
O Positivismo Jurídico é uma doutrina do Direito que considera que somente é Direito aquilo queé posto pelo 
Estado. Sua tese básica é a de que o direito constitui produto da ação e vontade humana (Direito posto pelo 
Estado = Direito Positivo) e não mais o direito da imposição divina, da natureza ou da razão como afirma o 
Jusnaturalismo. Boa parte dos autores, partidários do positivismo jurídico defende também que não existe 
necessariamente uma relação direta entre o Direito, a moral e a justiça, visto que as noções de justiça e moral 
são relativas, mutáveis no tempo, no espaço e sem força política para se impor contra a vontade de quem cria 
as novas jurídicas. Muitos filósofos e teóricos do Direito adotaram o positivismo jurídico. Entre os principais 
desses autores, se destacaram, no século XX; Hans Kelsen, autor da "Teoria Pura do Direito", principal obra 
sobre o Positivismo Jurídico e Herbert Hart, autor de "O Conceito de Direito". Atualmente, deparamos com um 
vasto debate e uma vasta literatura sobre o Positivismo Jurídico, representada por correntes positivistas e 
correntes adeptos do jusnaturalismo, os quais são críticos do Positivismo. 
Ao contrário do que defende a corrente ​jusnaturalista ​(​jusnaturalismo​), a corrente ​juspositivista 
(juspositivismo) ​acredita que só pode existir o direito e conseqüentemente a justiça através de normas 
positivadas, ou seja, normas emanadas pelo Estado com poder coercivo, podemos dizer que são todas as 
normas escritas, criadas pelos homens por intermédio do Estado. 
 O ​direito positivo é aquele que o Estado impõe à coletividade, e que deve estar adaptado aos princípios 
fundamentais do direito natural. 
O Ordenamento Jurídico é o sistema de legalidade do Estado que compreende não só as leis como todas as 
demais fontes do Direito. 
Este disciplinamento/ordenamento é um ​Sistema ​em que as normas guardam uma conexão entre si, fazendo 
um todo harmonioso. 
Os positivistas ​negam a existência e validade do Direito Natural por considerá-lo um ideal de justiça a ser 
atingido pelo homem. Para eles, só existe o Direito Positivo, imposto pelo Estado, reconhecido pelo corpo 
social e pelos magistrados. 
 
 Veja as principais diferenças entre o Jusnaturalismo e o Juspositivismo: 
 
JUSNATURALISMO 
• Leis superiores 
• Direito como produto de ideias (Metafísico) 
• Pressuposto: Valores 
• Existência de leis naturais 
 
 
JUSPOSITIVISMO 
• Leis impostas 
• Leis como produto da ação humana (empírico-cultural) 
• Pressuposto: o próprio ordenamento positivo 
• Existência de leis formais 
 
 
Direito e Justiça 
 
O direito e a justiça são categorias que, ao longo da história, têm-se colocado ora em lados 
antagônicos, ora ao mesmo lado. Dá-se o antagonismo quando os ideais de justiça não encontram respaldo 
na ordem posta. Ocorre a parceria no momento em que a justiça respalda uma ordem positiva ou quando esta 
ordem a persegue como um fim. 
O antagonismo e a parceria revelam uma simbiose entre os dois conceitos. Distingui-los: eis um dos 
desafios da filosofia, máxime a filosofia do direito. 
No que pese o imbróglio, na língua latina, tanto o direito como a justiça possuem uma origem 
etimológica comum. A expressão é o ​ius​. No grego ocorre o mesmo, com relação ao termo ​to dikaion ​(direito) 
e ao termo ​dikaio-sunê​ (virtude de justiça)​, ​como atesta Michel Villey. ​[01]​ Estas expressões, na tradição 
ocidental, servem para designar tanto o direito como a justiça. A origem comum, do ponto de vista 
etimológico, revela pontos de intersecção no surgimento das duas categorias. É o que atesta Tércio Sampaio 
Ferraz Júnior. ​[02] 
Os romanos, entretanto, perceberam que nem todo direito posto é justo. Tal constatação encontra-se, 
séculos antes, no povo grego, como retrata Sófocles, na obra ​Antígona​. Nesta peça, a protagonista, 
Antígona, filha de Édipo, se opõe à ordem imposta por seu tio, rei Creonte, por reputá-la injusta. ​[03]​ Entre o 
povo hebreu também. Na Bíblia, encontram-se inúmeros relatos sobre a oposição dos profetas às ordens 
impostos pelos mais diversos soberanos. Esta oposição tem acompanhado a humanidade em seu percurso 
histórico. 
Com relação ao direito, há um certo consenso. Tem-se este como o conjunto de regras que regulam 
a convivência social, positivada pelo Estado. Diz-se positivada para separar o direito dos demais tipos 
normativos, como a moda, a etiqueta, a religião, a moral, a economia etc. A relação entre o direto positivo e a 
justiça está no vínculo fim-meio. 
Saliente-se, por oportuno, que existem correntes teóricas que vislumbram a existência de um direito 
não-estatal. No caso, o denominado direito alternativo, que consiste na idéia de que há um direito não criado 
pelo Estado, mas no meio social, que regula, da mesma forma, coercitivamente, a conduta humana. Não é 
transcendente, mas imanente, emergente, insurgente, achado na rua. Este direito é considerado, para os 
seus defensores, vivo, pois, além de atuante, encontra-se em permanente formação. Para esta concepção, a 
sociedade, em sua marcha histórica, desenvolve formas distintas de soluções de conflitos. Este direito pode 
ter uma configuração democrática, com também bárbara, como as regras constituídas nas delegacias, 
prisões, criminalidade organizada etc. ​[04]​ Quando vinculado com os anseios legítimos da comunidade, há uma 
nítida relação com o ideal de justiça. 
O direito natural, que é transcendente, nas suas mais diversas manifestações, acaba tendo um 
vínculo intrínseco com a justiça, melhor dizendo, com uma das acepções da justiça. Ele encampa uma ordem 
transcendental pautado supostamente na justiça. Por esta razão, este está mais relacionado com o ideal de 
justiça, mesmo que de forma ideológica. 
Com isso se percebe que a justiça se relaciona com as mais diversas formas de manifestação de 
direito. Neste passo, há hoje inúmeras acepções para a categoria justiça. Eis a dificuldade. Não há falta de 
definição, mas abundância. Nada obstante, esta dificuldade deve ser ultrapassada para se poder qualificar 
uma ordem jurídica como justa ou injusta. 
Diversos critérios foram construídos para identificar o que é justiça. Charles Perelman identifica 
algumas formas de manifestação da justiça. Ei-los: a cada qual a mesma coisa; a cada qual segundo seus 
méritos; a cada qual segundo suas obras; cada qual segundo suas necessidades; cada qual segundo sua 
posição; e a cada qual segundo o que a lei lhe atribui. 
- ​Primeiro critério​ – a cada qual a mesma coisa - é eminentemente formal. Neste, todos são 
tratados da mesma maneira, não se verificando as particularidades que distinguem os indivíduos. No senso 
comum, a morte é o sumo da justiça, pois esta atinge a todos, sem distinção. 
- Segundo critério​ - a cada qual segundo seus méritos -, não há espaço para a igualdade formal. O 
sujeito será medido pela sua virtude. Nesta versão, a justiça ficará ao talante do juízo moral do julgador que 
irá pesar o que reputa mérito ou demérito. Este terá que julgar a intenção do agente. Para os que acreditam 
no deus semita – Javé ou Alá – esta é a maneira que se separará o joio do trigo. Aqui se tem a justiça 
distributiva, já preconizada por Aristóteles. 
-​Terceira corrente​ – a cada um segundo suas obras – tem-se uma determinação da justiça de forma 
objetiva. Esta não está baseada na igualdade ou no valor moral – intenção -, mas pautado no resultado da 
ação. Tem-se um tratamento compatível com o que fora produzido pelo indivíduo. Utiliza-se esta forma de 
justiça nos concursos, competições, concorrências etc. 
- ​Quarto critério​ – a cada um segundo suas necessidades – há a valorização da existência digna do 
homem. Neste ponto, há uma aproximação do justo à caridade. A justiça aqui vemcompensar a 
impossibilidade de alguns em garantir a própria existência. Afinal, quem pede esmola, não pede dinheiro, 
pede que o potencial doador lhe permita continuar existindo. Este contorno do justo fundamenta a 
denominada legislação social. Aqui se tem a justiça caridade. 
- Quinto critério​ – a cada qual segundo a sua posição – percebe-se, na sua configuração, uma 
fórmula aristocrata. A demarcação do justo depende da classe que pertença determinado sujeito. Este 
sistema não deve prevalecer em um Estado republicano, máxime, sob o regime democrático. 
Na última configuração​ – a cada um segundo o que a lei lhe atribui -, tem-se a célebre definição de 
Cícero, difundida por Ulpiano, onde se define justiça como sendo "justiça é a vontade constante e perpétua 
de dar a cada um o seu direito". Haverá justiça se o responsável aplicar a situações idênticas a mesma lei. 
Com relação a esta característica, ser justo é aplicar o direito positivo, enquanto que ser injusto consiste em 
distorcer esse direito. João Mangabeiras, quanto a esta definição lançou o seguinte rechaço: 
Porque se a justiça consiste em dar a cada um o que é seu, dê-se ao pobre a pobreza, ao miserável 
a miséria e ao desgraçado a desgraça, que isso é o que é deles. Nem era senão por isso que ao escravo se 
dava a escravidão, que era o ​seu, ​no sistema de produção em que a fórmula se criou. Mas bem sabeis que 
essa justiça monstruosa tudo pode ser, menos Justiça. ​[24] 
Estas versões de justiça são consideradas por Perelman como espécies de Justiça Concreta. A partir 
delas, retirando aquilo que lhe é comum, chega-se ao conceito de Justiça Formal, cujo marco determinativo é 
a igualdade. Há um nítido retorno a Aristóteles. Na primeira e na sexta noção de justiça, há a marca da 
igualdade formal; nas demais, de certa forma, uma igualdade material. Eis o conceito de Justiça Formal: 
"princípio de ação segundo o qual os seres de uma mesma categoria essencial devem ser tratados da mesma 
forma". ​[25]​ A igualdade aqui é uma consequência lógica. Haverá justiça toda vez que aplicarmos a mesma 
regra a uma categoria essencial. 
Após esta formulação, entende-se que o direito não se contrapõe à justiça formal, este a realiza. A 
contraposição, entretanto, pode ocorrer com relação à concepção concreta de justiça eleita. 
A aplicação da justiça formal depende, entretanto, da delimitação da denominada "categoria 
essencial". Para Perelman, esta categoria será determinada pela escala de valores vigentes em uma 
determinada sociedade. Esta escala é histórica. O cristianismo eliminou a distinção entre bárbaros, nacionais, 
livres e escravos. Criou uma nova. Crentes e gentios. Esta é a que conta para a justiça divina pois, "quem crer 
e for batizado será salvo, quem não crer será condenado" (Jesus Cristo, no evangelho de São Marcos, cap. 
16, versículo 16). Na revolução francesa, estabelece-se a idéia de cidadão iguais perante a lei. Tal construção 
se opõe ao do antigo regime que distinguia os seres humanos entre nobres, clérigos e servos. O Estado 
liberal busca uma liberdade formal. O Estado social visa à justiça como veículo de participação de todos nos 
bens da nação e assim por diante, segundo conceituação corrente. 
 
Direito e Moral 
Pode-se mesmo estudar a autonomia do Direito em face das outras experiências, o que se fará a seguir, mas 
não se poderá fazê-lo sem considerar a importância de vislumbrar que a matéria da qual se constitui toda a 
experiência jurídica advêm do caudal das influências das demais regras de dever-ser. Diga-se, de princípio, 
que: 
O Direito é forma, a qual se apropria das experiências gerais da sociedade (incluídas as morais dos grupos, 
as reflexões religiosas, os imperativos políticos, as ideologias reinantes etc.) para colocá-las sob uma forma, 
que passa a determinar esta substância ou este conteúdo como juridicamente determinado e vinculante. Uma 
sociedade hipócrita em seus valores tende a ter um Direito que resguarda sua hipocrisia (moral hipócrita). 
Uma sociedade democrática, livre, madura politicamente, eticamente responsável, tende a conceber os seus 
direitos a partir desses valores. 
O tema da relação entre Direito e Moral, normalmente, é tratado de forma que se indique a experiência moral 
e a norma moral como anteriores, sobretudo tendo-se em vista o cronológico surgimento das regras de Direito 
relativamente às regras da moral. 
Costuma-se também afirmar que a norma moral é interior, prescindindo de qualquer fenômeno exterior, como 
geralmente ocorrer com o fenômeno jurídico. Afirma-se, ainda, que a norma moral não é cogente, pois não 
pode dispor do poder punitivo de uma autoridade pública para fazer valer seus mandamentos, recorrendo-se, 
normalmente, a sanções diferenciadas das jurídicas (consciência, rejeição social, vergonha). 
E, por fim, afirma-se que a norma moral não é sancionada nem promulgada, pois estas são as características 
de normas estatais que se regulamentam dentro de um procedimento formal, complexo e rígido, com o qual 
se dá publicidade aos mandamentos jurídicos. No entanto, os autores que enunciam essas notas diferenciais 
entre ambos os grupos de normas; de um lado, as jurídicas; de outro lado, as morais, reconhecem a 
falibilidade que os afeta. 
A isso tudo se acresça ainda a necessidade de segurança jurídica para ter Direito, fator que propicia a criação 
de outras necessidades internas ao sistema jurídico, que acabam por torná-lo fenômeno peculiar: criação de 
autoridades; divisão de competências; imposição de formas jurídicas; procedimentalização dos atos; 
discriminação taxativa de fatos, crimes, direitos, deveres e outras 
Os esforços de diferenciar Direito e moral não devem ser maiores que os de demonstrar suas imbricações. O 
Direito pode caminhar em consonância com os ditames morais de uma sociedade, assim como andar em 
dissonância com os mesmos. Na primeira hipótese, está-se diante de um Direito moral e, na segunda 
hipótese, está-se diante de um Direito imoral. Essas expressões bem retratam a pertinência ou impertinência 
do Direito com relação às aspirações morais da sociedade. 
O curioso é dizer que o Direito imoral, apesar de contrariar sentidos latentes axiologicamente na sociedade, 
ainda assim é um Direito exigível, que obriga, que deve ser cumprido, que submete a sanções pelo não 
cumprimento de seus mandamentos, ou seja, que pode ser realizado. Em outras palavras, o Direito imoral, é 
tão válido quanto o Direito moral. Este, no entanto, é mais desejável, pois em sua base de formação se 
encontra o consentimento popular, ou seja, o conjunto de balizas morais de uma sociedade, refletindo anseios 
e valores cristalizados de modo expressivo e coletivo. 
Se a moral demanda do sujeito uma atitude (solidariedade), seu estado de espírito, sua intenção e se 
convencimento interiores devem estar direcionados no mesmo sentido vetorial das ações exteriores que 
realiza (intenção solidária, e não interesseira). 
É certo que a norma ética se constitui, na mesma medida da norma jurídica, de um comando de ordenação e 
orientação da conduta humana (dever- ser), tornando-se critério para averiguação da ação conforme ou 
desconforme, mas há que se notar esse diferencial.​[13]​ Se o Direito demanda do sujeito uma atitude (não 
matar), conforma-se com a simples não ocorrência do fato considerado criminoso, não arguindo acercada 
volição (rivalidade). 
De fato, o que se há de dizer é que a moral se caracteriza por uma série de dados (espontaneidade, 
consciência, unilateralidade, conduta interior) que a faz algo distinto do Direito (coercitividade, bilateralidade, 
heteronomia, atributividade). 
São provas que corroboram a tese da intensa intimidade do Direito com a moral, a saber: 
a) a obrigação natural (ex.: dívida de jogo) descrita no art. 814 do novo Código Civil. Trata-se de obrigação 
puramente moral, não exigível juridicamente, mas que, se solvida, não pode ser motivo de ação judicial 
(pedido impossível). Tem-se aí a absoluta indiferença do Direito por um ato (não pagamento de dívida 
decorrente de obrigação natural) moralmente recriminável; 
b) o incesto não é considerado crime no sistema jurídico repressivo brasileiro, inexistindo tipo penal específico 
para a apenação do agente. Não obstante a indiferença legal sobre o assunto, trata-se de um típico 
comportamento moralmente condenável; 
c) a preocupação constitucional com o princípio da moralidade pública, expressa no art. 37, da Constituição 
Federal, caput: “A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do 
Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, 
publicidade e eficiência...”. Aqui se comprova a relevância do princípio moral para a própria organização, 
manutenção e credibilidade cívica dos serviços públicos. O que é moralmente recomendável tornou-se 
juridicamente exigível do funcionalismo público; 
d) toda a teoria do negócio jurídico e dos tratos comerciais circula em torno da ideia de boa-fé, estabelecendo 
inúmeras presunções a ela concernentes (art. 164, C. Civil, 2002); 
e) o mau proceder moral dos pais, do ponto de vista moral, pode acarretar efeitos jurídicos sobre o poder 
familiar, conforme se verifica da leitura deste artigo da legislação civil (art. 1.638, C. Civil, 2002); 
f) os próprios princípios gerais de Direito, de possível aplicabilidade em todos os ramos do Direito na falta de 
norma jurídica específica (art. 4º, LICC), têm origem ética (a ninguém lesar – ​neminem laedere​; dar a cada um 
o seu – ​suum cuique tribuere​; viver honestamente – ​honeste vivere​); 
g) fica o juiz autorizado, jurídica e formalmente, em caso de lacuna da lei, a aplicar os costumes como forma 
de solução de litígios (art. 4º, LICC). 
Até mesmo do ponto de vista histórico, pode-se provar a intrínseca relação do Direito com a moral. Isso 
porque, a princípio, eram indistintas nas comunidades primitivas as práticas jurídicas, as práticas religiosas e 
as práticas morais. A sacralidade, o espiritualismo e o ritualismo das antigas práticas jurídicas e de suas 
fórmulas denunciam essa intrínseca relação.​[15]​ 
O que há que se questionar agora é qual a relação mantida entre Direito e moral, visto que foram analisados 
os principais aspectos que caracterizam cada qual dos ramos normativos. E, nesse sentido, só se pode 
afirmar que o Direito se alimenta da moral, tem seu surgimento a partir da moral, e convive com a moral 
continuamente, enviando-lhe e recebendo novos conceitos e normas. A moral é, e deve sempre ser, o fim do 
Direito.​[16]​ 
Com isso, pode-se chegar conclusão de que Direito sem mora, ou Direito contrário às aspirações morais de 
uma comunidade, é puro arbítrio, e não Direito. ​[17]​ 
Conclui-se, portanto, que a ordem moral, por ser espontânea, informal e não coercitiva, distingue-se da ordem 
jurídica. No entanto, ambas não se distanciam, mas se complementam na orientação do comportamento 
humano. A axiologia é, portanto, capítulo de fundamental importância para os estudos jurídicos, visto que dá 
cristalização reiterada e universal por meio dos costumes diante do surgimento de exigências normativas 
jurídicas. 
Apesar dos esforços teórico-didáticos no sentido de diferenciar Direito e moral, não se pode perceber senão 
uma profunda imbricação entre o exercício do juízo jurídico e o exercício do juízo mora; pode-se até mesmo 
perceber esta inter-relação no ato decisório do juiz, sempre sobrecarregado pelas inflexões pessoais, 
costumeiras, axiológicas, contextuais e socioeconômicas que circundam o caso sub judice.

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