Buscar

As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais

Prévia do material em texto

As Implicações da 
União Estável no 
Registro de Imóveis 
à Luz dos Princípios 
Registrais
São Paulo 2011
As Implicações da 
União Estável no 
Registro de Imóveis 
à Luz dos Princípios 
Registrais
Martiane Jaques La-Flor
Copyright © 2011 by Editora Baraúna SE Ltda
Capa
Aline Benitez
Projeto Gráfico
Tatyana Araujo
Revisão 
Pedro Chimachi
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 
________________________________________________________________
L165i
 
La-Flor, Martiane Jaques
 As implicações da união estável no registro de imóveis à luz dos princípios 
registrais / Martiane Jaques La-Flor. - São Paulo : Baraúna, 2011. 
 
 Inclui bibliografia
 ISBN 978-85-7923-334-0
 
 1. União Estável. 2. Concubinato. 3. Companheiros (Direito de família). 
4. Registro de Imóveis. 5. Direito Notarial e Registral. I. Título. 
11-4107. 
 CDU: 347.62
05.07.11 11.07.11 027807
________________________________________________________________
Impresso no Brasil
Printed in Brazil
DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA 
www.EditoraBarauna.com.br
Rua Januário Miraglia, 88
CEP 04547-020 Vila Nova Conceição São Paulo SP
Tel.: 11 3167.4261
www.editorabarauna.com.br
www.livrariabarauna.com.br
Aos meus pais, 
materializações de Deus na Terra.
6
Martiane Jaques La-Flor
7
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
Apresentação
Fui distinguido pela autora para apresentação deste tra-
balho, que trata justamente de um assunto que tem sido uma 
tônica na atividade notarial e registral e é de extremo interesse 
para a sociedade e especialmente para comunidade jurídica.
O tema relacionado à união estável tem sido deba-
tido desde o advento da Constituição Federal de 1988, 
quando tivemos o reconhecimento da união estável entre 
homem e mulher como entidade familiar, constante do 
§ 3º do art. 226. E, recentemente, com a decisão do Su-
premo Tribunal Federal estendendo os efeitos da união 
estável às uniões homoafetivas, ampliou-se a discussão.
A autora foca seu trabalho nas implicações que o re-
conhecimento da união estável tem no registro imobiliário. 
A referida disposição fez com que surgisse a legislação infra-
constitucional, tratando especificamente do tema e desaguou 
finalmente no Código Civil de 2002, que conceituou a união 
estável, distinguindo do instituto do casamento e regulamen-
tando os efeitos do reconhecimento desta entidade familiar.
O Código Civil ao definir os requisitos para que se 
caracterize a união estável, estabeleceu determinados crité-
8
Martiane Jaques La-Flor
rios para o reconhecimento desta entidade familiar e que 
uma vez constituída resulta em direitos e obrigações. De-
corre deste fato, a necessidade do direito enfrentar, tam-
bém, a questão relacionada à dissolução desta convivência. 
Deve-se então analisar os efeitos da constituição da união 
estável e da sua dissolução, qualquer que seja o motivo. 
Como o Código Civil reconhece os efeitos da união 
estável, mas de forma distinta do casamento, surge o dilema 
quanto às exigências ou não de formalidades, uma vez que a 
união estável é fato, portanto, não decorre de formalidades. 
Sendo assim, em especial no que se refere à questão patrimo-
nial, o problema é de como adaptar estes efeitos ao registro 
imobiliário, que é essencialmente formal.
Por isso, esta obra vem em boa hora, pois trata jus-
tamente da adaptação da informalidade que caracteriza a 
união estável ao formalismo característico da aquisição ou 
da transmissão de direitos reais. Assim, a questão crucial é 
fazer com que este fato tenha acesso ao registro imobiliário, 
para que este possa espelhar uma realidade existente e cum-
pra a sua função de dar publicidade e segurança jurídica.
Este livro contribui para isso, demonstrando a forma 
de se atingir o objetivo principal, adaptado aos princípios 
registrais, através de uma linguagem acessível, tornando a 
leitura agradável, oportunizando aos operadores do direi-
to, uma fonte de informações. As famílias atuais têm ca-
ráter mais afetivo e normalmente são livres de convenções 
e moralidades e o direito deve adaptar esta realidade fática 
aos preceitos legais e é o que esta obra busca demonstrar.
Luiz Carlos Weizenmann – Tabelião.
9
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
Sumário
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1. União Estável Reconhecida como Entidade Familiar .13
1.1 Contexto Histórico de Família . . . . . . . . . . . . . 13
1.2 A Família no Direito Brasileiro . . . . . . . . . . . . 16
1.2.1 Considerações Iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
1.2.2 Tipos Familiais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.3 União Estável e Registros Públicos . . . . . . . . . . 33
1.3.1 Aplicabilidade da Lei 11.441/2007 à União 
Estável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
1.3.2 Possibilidade de um Pacto Patrimonial . . . . 43
1.3.3 Regime de Bens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
1.3.4 Ausência de Ato Formal versus Aquisição de 
Direitos Reais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .50
1.3.4.1 Necessidade de Outorga do Companheiro . . 51
1.3.4.2 Responsabilidade Patrimonial do Companheiro 
na União Estável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
10
Martiane Jaques La-Flor
2. Princípios Registrais e a União Estável . . . . . . . . . 61
2.1 Princípios como Base do Sistema . . . . . . . . . . 62
2.2 Princípios Registrais que Repercutem na União 
Estável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.2.1 Princípio da Continuidade ou do Trato 
Sucessivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .66
2.2.2 Princípio da Especialidade . . . . . . . . . . . . . 69
2.2.3 Princípio da Fé-Pública . . . . . . . . . . . . . . . . 70
2.2.4 Princípio da Publicidade . . . . . . . . . . . . . . . 73
2.2.5 Princípio da Segurança Jurídica . . . . . . . . . 77
2.2.6 Princípio da Concentração . . . . . . . . . . . . . 79
2.3 Solução encontrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
Considerações Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
Modelos dos Atos a Serem Praticados . . . . . . . . . . . . 91
Ato a ser praticado no Tabelionato de Notas . . . . . 91
Atos a serem praticados no Registro de Imóveis . . . 93
Ato de Registro no Livro 3 – Registro Auxiliar . . . . 93
Ato de Averbação no Livro 2 – Registro Geral . . . . 94
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95
11
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
Introdução
A Constituição de 1988 representou um marco ao 
Direito de Família, já que inovou ao reconhecer como 
entidade familiar instituições não emolduradas no perfil 
tradicional de família concebido com o casamento.
Essa mudança paradigmática, voltada para a adoção 
de um conceito fundado nos laços afetivos para a deter-
minação do conceito de família, trouxe no reconheci-
mento da união estável, o que trouxe impactos também 
nas relações patrimoniais dos indivíduos. 
Desde a edição da Lei nº 9.278, de 10 de maio de 1996, 
em seus artigos 3º e 4º, já se tentava formalizar a união estável. 
Tais artigos foram vetados pelo então Presidente da Repúbli-
ca, Fernando Henrique Cardoso, com insigne e correta sus-
tentação de que a união estável é fato e como tal não necessi-
taria de um ato formal para reconhecimento de sua existência.
No entanto, não encontramos vedação para tal re-
gulamentação, caso os conviventes assim desejem; pelo 
contrário, na leitura doartigo 1.725 do Código Civil se 
extrai a possibilidade de formalização do instituto, po-
dendo, igualmente, estipularem quanto aos bens.
12
Martiane Jaques La-Flor
Tal proposição de um pacto patrimonial, em ana-
logia ao que ocorre com o casamento e, tomando como 
fundamentos os princípios notariais e registrais, sob a 
égide dos princípios da publicidade e da concentração, 
nos força a reconhecer no artigo 167 da Lei 6.015/73, 
hipóteses não taxativas de registros e averbações.
Assim, buscaremos, primeiramente, analisar os 
pontos referenciais atinentes à concepção de família, 
começando pela abordagem deste instituto nos tempos 
remotos fazendo sua contextualização histórica e a pro-
blematização deste conceito, culminando nas inovações 
trazidas pela Constituição de 1988.
Após, será abordada a questão dos princípios regis-
trais que se relacionam ao instituto da união estável, sua 
importância e aplicação. Por fim, colocar-se-ão em diá-
logo as relações existentes entre os princípios norteadores 
do sistema registral brasileiro, configurando-os como ga-
rantias devidas a todos os cidadãos, demonstrando a ca-
rência de segurança jurídica quando da não observância 
do princípio da concentração e da publicidade registrais 
no Registro de Imóveis.
13
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
1. União Estável Reconhecida como 
Entidade Familiar
Neste capítulo, será abordado o tema da concepção 
de família, culminando no reconhecimento da união es-
tável como entidade familiar, tendo como referência a 
Carta Magna em seu art. 226.
1.1 Contexto Histórico de Família
A busca de um conceito que contemple a com-
plexidade das relações entre os indivíduos remonta aos 
primórdios da civilização e sempre esteve relacionada 
ao conhecimento teórico e empírico de cada sociedade 
ao longo dos tempos.
Na Antiguidade, o surgimento da noção de família 
proveio da família consanguínea, através da união entre 
irmãos carnais e colaterais dentro de um grupo. Na Ba-
bilônia, a família fundava-se no casamento monogâmico, 
que era obtido com o contrato privado do Código de 
14
Martiane Jaques La-Flor
Hamurabi, indiferente à coabitação e à relação sexual.1 
Na Grécia Antiga o concubinato era normal e acolhido. 
Já no Direito Romano, a base da família natural era 
o casamento, que era formado por um conjunto de pes-
soas e coisas que estavam submetidos a um chefe, o pater 
familias. As mulheres ao contrair casamento subordina-
vam-se à autoridade do marido ou do pater familias do 
marido. Não existiam formalidades, o requisito era de 
liame psicológico, calcado na affectio maritalis; o consen-
timento manifestável pela intenção era suficiente à cria-
ção dos laços conjugais. Nenhuma solenidade era exigida 
e “a união dos sexos não precisava ser consumada para 
que o casamento tivesse existência legal”;2 o que perfazia 
o casamento não era a coabitação, mas o consentimento3.
O concubinato era aceitável, sendo uma união de 
fato duradoura considerada forma inferior ao casamento, 
tanto que os filhos oriundos desse relacionamento eram 
considerados ilegítimos (spurri). 
1 Como descreve o art. 128 do mesmo: “se um homem tomou sua esposa 
e não redigiu seu contrato, essa mulher não é sua esposa”. FINET, 1983 
apud AZEVEDO, Álvaro Villaça. Estatuto da Família de Fato. São Paulo: 
Atlas, 2002. p. 30. 
2 NAMUR, 1888, apud LEITE, Eduardo de Oliveira. Tratado de Direito de 
Família. v.1. Curitiba: Juruá,1991. p. 144.
3 O parentesco romano baseava-se em duas maneiras: no poder (potestas) 
onde o pater familias juntamente com o conjunto de pessoas e coisas sobre 
as quais ele exercia poder compunham a família proprio iuri; já a família 
communi iure tinha o poder exercido por um pater familias já falecido. O 
parentesco agnatício é o proveniente do poder familiar exercido pelo pa-
ter familias; era de cunho jurídico e se transmitia em linha direta através 
da linha paterna, visto que somente o varão poderia ser pater familias. O 
outro, tendo por conta os laços sanguíneos maternais para a formação da 
parentalidade, era denominado cognatio, e nestes, obviamente, excluíam-se 
os vínculos. (MARKY, Thomas. Curso Elementar de Direito Romano. 8ª ed. 
São Paulo: Saraiva, 1995, p. 154.)
15
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
No Direito Canônico, o matrimônio era para a Igreja 
Católica um instituto de direito divino natural, isto é, era 
a união íntima entre o homem e a mulher para integrá-los 
física e espiritualmente na geração da prole e na ajuda mútua. 
Desta forma, o concubinato foi combatido e desincentivado.
O § 1º do cânone 1.081 afirmava que o casamento 
era um contrato e, como tal imprescindível a vontade das 
partes ao consentir, porém uma vez consentido permane-
cerá por toda a vida. Conforme Vilhaça4:
Com o advento do Cristianismo, o concubinato foi 
considerado imoral, tendo o imperador Constantino 
aplicado, contra ele, sanções, procurando estimular os 
concubinos a contraírem matrimônio. Por sua vez, o im-
perador Justiniano, procurando limitar o número dessas 
uniões concubinárias, proibiu que um homem tivesse 
mais do que uma concubina e nenhuma se fosse casado.
Durante a Idade Média a Igreja assumiu forte po-
der de decisão dentro do Direito de Família; o casa-
mento passou a ser considerado como uma concessão 
de Deus aos fracos e a moral sexual matrimonial tratava 
as uniões como pecaminosas.
Nessa época não ocorreram grandes transformações 
no âmbito do Direito de Família, já que se mantiveram nos 
códigos as normas pré-estabelecidas pelo Direito Canôni-
co. Como salienta Fachin, “a disciplina jurídica da família 
passa, como incólume, da Idade Média e se projeta para as 
primeiras codificações do início do século XVIII, nomea-
4 AZEVEDO, Álvaro Vilhaça de apud MARQUES, Batista. A União Es-
tável e a Família. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/web/cegraf/
ril/Pdf/pdf_145/r145-18.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2010.
16
Martiane Jaques La-Flor
damente o Código Civil Francês5, que é, a seu tempo, o 
estatuto máximo da família, do Estado e da propriedade.”6 
E foi a Corte de Paris, em julgado de 1872, que acolheu o 
critério da sociedade de fato a uma relação concubinária.
Passaremos a analisar, agora, como ocorreu a evolu-
ção da família, no direito pátrio.
1.2 A Família no Direito Brasileiro 
O Direito é um fenômeno social e, portanto de cará-
ter instável e perecível7, só podendo ser encarado dentro 
dessa dinâmica, em perpétuo movimento, acompanhan-
do as relações humanas; modificando-se e adaptando-se 
às exigências e necessidades da vida. Como poderemos 
observar, dessa forma se deu a evolução do Direito de 
Família em nosso país, refletindo na legislação e jurispru-
dências atuais a repersonalização das relações e assim a 
abertura do conceito de entidades familiais.
5 Os tribunais franceses foram chamados a examinar pretensões fundadas 
em relações concubinárias. O Tribunal de Rennes, em 1883, assegurou a 
retribuição por serviços prestados por uma concubina. (VIANA, Marco Au-
rélio apud SILVA, Maria Rosinete dos Reis. A união estável e sua evolução. 
Disponível em: <http://www.iuspedia.com>. Acesso em: 14 jan. 2010.)
6 FACHIN, Luis Edson. Elementos Críticos do Direito de Família: Curso de 
Direito Civil. Rio de Janeiro: Renovar, 1999. p. 29. 
7 “É o conjunto de regras obrigatórias, determinando as relações sociais im-
postas a todo o momento pelo grupo ao qual pertence.” (LÉVY-BRUHL 
apud LEITE, op. cit., p. 12.)
17
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
1.2.1 Considerações Iniciais
Primitivamente foram as ordenações Filipinas que 
adentraram o ordenamento jurídico brasileiro de Direito 
de Família e, em 1916 o CódigoCivil. Código este que 
refletia a sociedade eminentemente rural e patriarcal da 
época. O Estado assumia a regulamentação da família e 
do casamento sob forte pressão contrária da Igreja.
Devido à moral e à grande influência oriunda da 
Igreja, o Direito brasileiro não se afastou dos cânones, 
absorvendo-os nas legislações em nascimento. Esta influ-
ência era de tal amonte que a Constituição Imperial de 
25 de março de 1824 promulgou em seu art.5º: “a reli-
gião católica apostólica romana continuará ser a religião 
do Império. Todas as outras religiões serão permitidas 
com seu culto doméstico ou particular, em casas destina-
das, sem forma alguma exterior de templo.”8
A Constituição de 1891, amparada pelo Decreto nº. 
181, de janeiro de 1890, regularizou e tornou obrigatório 
o casamento civil no Brasil, e conforme o § 4º de seu 
art.72 afirmava: “A República só reconhece o casamen-
to civil, cuja celebração será gratuita”.9 Em 1934, com o 
advento da Constituição, se reconheceu o casamento reli-
gioso com efeitos civis (art. 146). Com o implemento da 
Constituição de 1946 o posterior registro público desta 
celebração religiosa foi obrigado para fins civis.10
A Constituição de 16 de julho de 1934 em seu art. 146 
8 AZEVEDO, op. cit., p. 123.
9 Ibid, p. 126. Neste sentido é o artigo 226, § 1° da atual Constituição 
Federal, seguindo-se do artigo 1.512, CC.
10 Neste sentido, na legislação atual, os artigos 226,§ 2°, CF e 1.516, CC.
18
Martiane Jaques La-Flor
abriu as portas ao Direito de Família, inserindo o casamento 
em ordem constitucional e assegurando sua indissolubili-
dade. As demais constituições subsequentes (1937; 1946; 
1967; 1969) seguiram a mesma orientação da de 1934.11
A Constituição de 1988 representou um marco ao 
Direito de Família, já que inovou ao reconhecer como 
família instituições não emolduradas no perfil tradicio-
nal: patriarcal, hierarquizada e heterossexual12 adentran-
do no ramo do sentimento, tendo este como a pedra de 
toque para o reconhecimento do instituto de família, e 
não mais o matrimônio como prelecionava o Código Ci-
vil de 1916. Inovou, também, ao reconhecer a igualdade 
conjugal referenciada no seu artigo 226, §5º13 revogando 
o retrógrado artigo 233 do Código Civil de 1916,14 que 
reconhecia o marido como chefe da sociedade conjugal. 
11 Somente em 1962, com o advento da Lei nº. 4.121, de 27 de agosto (Esta-
tuto da Mulher Casada) atribuiu-se a igualdade entre os cônjuges, retirando 
a incapacidade relativa da mulher casada. O divórcio foi chancelado após 
profundas lutas sociais, religiosas e políticas que eclodiram na época, fatores 
que favoreceram a não reestruturação e compilação do projeto de novo Có-
digo Civil de 1975, que somente veio a vigorar em 2003.
12 FERNANDES, Jacinta Gomes. União Homoafetiva como Entidade Fami-
liar: Reconhecimento no Ordenamento Jurídico Brasileiro. In: COUTO, 
Sérgio; MADALENO, Rolf; MILHORANZA, Mariângela Guerreiro. Di-
reito de Família e Sucessões. Sapucaia do Sul: Notadez, 2007. p. 183.
13 Artigo 226, § 5º, da CF/88: “Os direitos e deveres referentes à sociedade 
conjugal são exercido igualmente pelo homem e pela mulher.” 
14 Artigo 233, caput, do CCB de 1916: “O marido é o chefe da sociedade 
conjugal, função que exerce com a colaboração da mulher, no interesse 
comum do casal e dos filhos”. 
19
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
1.2.2 Tipos Familiais
A atual concepção de família é plural, democrática e 
flexível. Não comporta mais em seu âmago aquela estru-
tura patriarcal, patrimonialista e rígida de outrora. Hoje 
são os laços de afeto que unem as pessoas na constituição 
de uma vida em comum. Adiante se esboça aspectos de 
cada entidade familiar abarcada pelo Direito brasileiro, 
do casamento à união estável.
O Decreto n° 181, de 24 de janeiro de 1890, se-
cularizou o casamento, tornando-o formal, o que veio 
refletir na legislação civil. O Código Civil de 2002, já 
incorporando a Constituição Federal de 1988, traz a re-
gulação do casamento nos arts. 1.511 e segs., traçando a 
igualdade entre os cônjuges. 
A sacralização do casamento fez parecer ser esta a úni-
ca forma de constituir família, porém é a família a base da 
sociedade, conforme o art. 226 da Constituição Federal de 
1988, e não aquele. Portanto, nesta acepção, além do casa-
mento civil, novos tipos de famílias adentraram no cenário 
cotidiano forçando assim, sua regulamentação e resguardo.
A família monoparental, surgiu pela ampliação propor-
cionada pelo art. 226, §4°15, da Constituição Federal de 1988, 
onde se pressupõe a ausência de convivência biparental, ou 
seja, a formação de uma nova família, pelo casamento ou não, 
de um homem e uma mulher com os descendentes de cada 
um, havendo ou não prole comum, será caracterizada como 
uma nova entidade familiar, distinta da monoparental” 16
15 Art. 216, § 4º CF/88: Entende-se, também, como entidade familiar a 
comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
16 FERNANDES, op.cit., p. 187.
20
Martiane Jaques La-Flor
A família anaparental, expressão cunhada por Sérgio 
Resende de Barros17, dá nome à família formada entre 
parentes com ausência dos pais e em identificação de pro-
pósito. São exemplos as famílias constituídas por irmãos 
que convivem juntos, avós e netos, tios e sobrinhos. Não 
reconhecida legalmente no nosso ordenamento jurídico, 
sendo amparada pela doutrina e jurisprudências pátrias.
A família decorrente da convivência entre pessoas 
por laços afetivos e solidariedade mútua que busca a feli-
cidade individual vivendo um processo de emancipação 
de seus membros é chamada eudemonista.18 É o caso dos 
jovens que saem da casa paterna em busca de realização 
pessoal tornando-se socialmente úteis. Tal como no caso 
da família anaparental, seu reconhecimento vem por 
meio da Justiça em prestigiosas e salvaguardas decisões.
Já a família unipessoal, conforme a jurisprudência 
pátria19 é aquela formada por uma só pessoa (solteira, 
separada, divorciada ou viúva), que mantém um lar só 
seu, por imposição ou opção. 
Família homoafetiva,20 caracteriza-se pela relação afe-
17 Explica o autor sobre a expressão: bastante apropriada, pois “ana” é prefixo 
de origem grega indicativo de “falta”, “privação”, como em “anarquia”, termo 
que significa falta de governo. (BARROS, Sérgio Resende. Direitos Humanos 
e Direito de Família. In: Sérgio Resende de Barros. Disponível em: <http://www.
srbarros.com.br/artigos.php?TextID=85>. Acesso em: 16 abr. 2009.) 
18 WELTER apud DIAS, op.cit., p. 48.
19 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp n° 218.377/ES. 4ª Turma. 
Ministro Relator: Barros Monteiro. Data julgamento: 11/09/2000; STJ. 
AI 240.297/SP. 3ª Turma. Ministro Relator: Nancy Andrighi. Data de 
Julgamento: 24/10/2000. Disponível em: <http://www.stj.gov.br/>. Aces-
so em: 16 maio. 2009.
20 Neologismo cunhado por Dias na primeira edição da obra. (DIAS, Maria 
Berenice. União Homossexual: o Preconceito e a Justiça. 3ª ed. Porto Ale-
gre: Livraria do Advogado, 2006. p. 34.)
21
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
tiva entre pessoas do mesmo sexo, com características de 
uma união estável, entendimento esse há muito defendido 
pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul21. Muito 
embora persistia, na maioria das decisões do país, o enten-
dimento de que a união homoafetiva era simples socieda-
de de fato, aplicando-se a ela, dessa forma, a súmula 380 
do Supremo Tribunal Federal: “Comprovada a existência 
de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua 
dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adqui-
rido pelo esforço comum.” Esse reconhecimento servia 
tão só para divisão do patrimônio amealhado pelo esforço 
comum. Ademais, era esse o entendimentodo Superior 
Tribunal de Justiça, porém reconhecendo em tal instituto 
direitos símiles à união estável,22 conforme se deduz do se-
guinte voto do Ministro Humberto de Barros23:
O relacionamento regular homoafetivo, embora não 
configurando união estável, é análogo a esse instituto. 
Com efeito: duas pessoas com relacionamento estável, 
21 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. 
AI 599075496. 8ª C.Civil. Ministro Relator: Breno Moreira Mussi. 
Data de julgamento: 17/06/1997; TJRS. AC  598362655. 8ª C.Civil. 
Ministro Relator: José Ataídes Siqueira Trindade. Data de julgamento: 
11/03/2009; TJRS. AI 70008631954. 8ª C.Civil. Ministro Relator: José 
Ataídes Siqueira Trindade. Data de julgamento: 24/06/2004. Disponível 
em: <http://tj.rs.gov.br/>. Acesso em: 14 jan. 2010.
22 PLANO DE SAÚDE. COMPANHEIRO. “A relação homoafetiva gera 
direitos e, analogicamente à união estável, permite a inclusão do compa-
nheiro dependente em plano de assistência médica” (REsp nº 238.715, 
RS, Relator Ministro Humberto Gomes de Barros, DJ 02.10.06). Agravo 
regimental não provido. (STJ. AgRg no Ag 971466 / SP. 3ª Turma. Minis-
tro Relator: Ari Pargendler. Data de Julgamento: 02/09/2008. Disponível 
em: <http://www.stj.gov.br/>. Acesso em: 14 jan. 2010.)
23 STJ. REsp 238715/RS. 3ª Turma. Ministro Relator: Humberto Gomes de 
Barros. Data de Julgamento: 07/03/2006. Disponível em: <http://www.
stj.gov.br/>. Acesso em: 14 jan. 2010.
22
Martiane Jaques La-Flor
duradouro e afetivo, sendo homem e mulher formam 
união estável reconhecida pelo Direito. Entre pessoas do 
mesmo sexo, a relação homoafetiva é extremamente se-
melhante à união estável.
Foi seguindo essa exegese que ocorreu o seguinte 
julgamento, incluído no Informativo de Jurisprudência 
nº. 472, do Superior Tribunal de Justiça:
A Seção, ao prosseguir o julgamento, por maioria, enten-
deu ser possível aplicar a analogia para reconhecer a parce-
ria homoafetiva como uma das modalidades de entidade 
familiar. Para tanto, consignou ser necessário demonstrar a 
presença dos elementos essenciais à caracterização da união 
estável – entidade que serve de parâmetro diante da lacuna 
legislativa –, exceto o da diversidade de sexos, quais sejam: 
convivência pública, contínua e duradoura estabelecida 
com o objetivo de constituir família e sem os impedimen-
tos do art. 1.521 do CC/2002 (salvo o do inciso VI em 
relação à pessoa casada separada de fato ou judicialmente). 
Frisou-se, ademais, que, uma vez comprovada essa união, 
devem ser atribuídos os efeitos jurídicos dela advindos. 
Reconheceu-se, portanto, o direito à meação dos bens ad-
quiridos a título oneroso na constância do relacionamento, 
ainda que eles tenham sido registrados em nome de ape-
nas um dos parceiros, não se exigindo a prova do esforço 
comum, que, no caso, é presumido. REsp 1.085.646-RS, 
Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 11/5/2011.24
No mesmo sentido entendeu o TSE, decidindo que o 
relacionamento homossexual estável gera a inelegibilidade 
prevista no art. 14, § 7º, da CF, pois, à semelhança do 
24 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Informativos de Jurisprudência. 
Informativo nº. 0472 . Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/
infojur/toc.jsp>. Acesso em: 26 maio 2011.
23
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
casamento, da união estável e do concubinato presume-se 
na relação homoafetiva o forte laço afetivo, que influencia 
os rumos eleitorais e políticos. Por isso, o TSE atestou a 
existência de uma “união estável homossexual”.25
Recentemente, pacificou-se a controvérsia, quando 
os Ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), ao jul-
garem, em 05/05/2011, a Ação Direta de Inconstitucio-
nalidade (ADI) 4277 e a Arguição de Descumprimento 
de Preceito Fundamental (ADPF) 132, reconheceram 
a união estável para casais do mesmo sexo. O relator 
das ações, Ministro Ayres Britto, votou no sentido de 
dar interpretação conforme a Constituição Federal para 
excluir qualquer significado do artigo 1.723 do Código 
Civil que impeça o reconhecimento da união entre pes-
soas do mesmo sexo como entidade familiar. Ele argu-
mentou que o artigo 3º, inciso IV, da CF veda qualquer 
discriminação em virtude de sexo, raça, cor e que, nesse 
sentido, ninguém pode ser diminuído ou discriminado 
em função de sua preferência sexual. “O sexo das pessoas, 
salvo disposição contrária, não se presta para desiguala-
ção jurídica”,26 observou o Ministro, para concluir que 
qualquer depreciação da união estável homoafetiva coli-
de, portanto, com o inciso IV do artigo 3º da CF.
O Superior Tribunal de Justiça já havia se pronun-
ciado a respeito do tema, afirmando que as leis infra-
25 BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. REsp Eleitoral nº 24.564. Ministro 
Relator: Gilmar Ferreira Mendes. Data de julgamento: 02/10/2004. Dis-
ponível em: <http://www.tse.jus.br/internet/jurisprudencia/index.htm>. 
Acesso em: 14 jan. 2010.
26 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Notícias STF. Supremo reconhece 
união homoafetiva. Disponível em: <http://stf.jus.br/portal/cms/verNo-
ticiaDetalhe.asp?idConteudo=178931>. Acesso em: 9 maio 2011.
24
Martiane Jaques La-Flor
constitucionais garantiam status de união estável para 
relações homoafetivas. Segundo a Ministra Nancy An-
drighi, “a negação aos casais homossexuais dos efeitos 
inerentes ao reconhecimento da união estável impossi-
bilita a realização de dois dos objetivos fundamentais de 
nossa ordem jurídica, que é a erradicação da margina-
lização e a promoção do bem de todos, sem preconcei-
tos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras 
formas de discriminação.”27
O reconhecimento de família sobre outras formas que 
não a provinda do casamento foi gradual. Foi a jurisprudên-
cia que levou a Constituição a albergar as uniões extramatri-
moniais sob o nome de união estável. A constitucionalização 
do conceito de entidade familiar sem estar condicionado à 
tríade: casamento, sexo e reprodução28 tem mérito da Justiça 
face ao legislador conservar-se inerte, como Maria Berenice 
Dias relatou: “o legislador sempre chega depois. Além de ter 
um viés conservador, ele teme defender causas das minorias, 
para não desagradar o eleitorado. Esse medo, o Judiciário 
não tem, porque é independente.” 29
O concubinato, primeiramente, para a sua configura-
ção exigia a comprovação de vida more uxório, porém, de-
pois de muitos julgados neste sentido, foi editada a súmula 
27 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Sala de Notícias: Decisão. STJ afir-
ma que leis já garantem status de união estável para relações homoafeti-
vas . Disponível em: <http://www.stj.jus.br/portal_stj/publicacao/engine.
wsp?tmp.area=398&tmp.texto=101785>. Acesso em: 13 maio 2011.
28 DIAS, Maria Berenice. Álbum de Família. In: Jornal Estado de Direito. 
Porto Alegre, Ano II, n. 13. fev/mar 2008. p. 13-14.
29 OLIVETO, Paloma. Justiça sai na Frente. In: Correio Brasiliense. Dispo-
nível em: <http://www.direitos.org.br/index.php?option=com_content&
task=view&id=2630&Itemid=2>. Acesso em: 5 abr. 2009.
25
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
382 do Supremo Tribunal de Justiça, que dispensou tal re-
quisito: “A vida em comum sob o mesmo teto, ‘more uxo-
rio’, não é indispensável à caracterização do concubinato.”
Para se evitar injustiças através de enriquecimen-
tos injustificados, o STF editou outra súmula, a de 
número 380, já referida, a qual previu diante da exis-
tência de uma sociedade de fato entre os concubinos, 
a partilha do patrimônio adquirido em conjunto es-
forço. Não entendia o instituto da união estável como 
entidade familiar, sendo julgada a existência das socie-
dades de fato nas varas cíveis da época.
Este foi o passo da jurisprudência, deslocando os ca-
sos de concubinatosao Direito Obrigacional contornan-
do assim as vedações legais existentes. 
A referida súmula ainda tem aplicação nos casos de 
concubinatos impuros,30 evitando-se, assim, o locupleta-
mento indevido. O concubinato puro foi legislado consti-
tucionalmente e teve sua nomenclatura alterada para união 
estável, nos termos do art.1.723 do Código Civil de 2002.31
Somente em 1977 foi chancelado o divórcio (Lei 
30 Ocorreu uma distinção entre os tipos de concubinatos. A importân-
cia desta distinção está em manter a coerência em nosso ordenamento 
jurídico com o princípio da monogamia. Temos dois tipos de concu-
binatos; o puro ou denominado união estável que é a união duradou-
ra entre homem e mulher desimpedidos e o concubinato impuro ou 
adulterino onde um ou ambos os concubinos é/são comprometido(s) 
ou sofre(m) algum impedimento para o casamento. O concubinato 
impuro pode ser: adulterino no caso, por exemplo, de um homem 
casado manter relação concubinária ao lado/concomitantemente com 
a manutenção de uma família legítima; ou incestuoso, quando há pa-
rentesco próximo entre os entre os concubinos. 
31 Ao incorporar elementos da Lei nº 8.971/94 que estabelece o direito dos 
companheiros a alimentos e à sucessão e da Lei nº 9.278/96 que regulou 
o § 3º do art. 226 da CF/88.
26
Martiane Jaques La-Flor
6.515/77), razão pela qual, segundo Sílvio Rodrigues,32 se jus-
tificou, na época, a grande difusão do concubinato no Brasil.
Já a Constituição Federal de 1988 surgiu como mar-
co inovador reconhecendo expressamente a união estável 
como entidade familiar33 no §3º do artigo 226: “Para 
efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união es-
tável entre o homem e a mulher como entidade familiar, 
devendo a lei facilitar sua conversão em casamento.”
Desta forma tal instituto deixou de ser tratado como 
mera sociedade de fato, regulada pelo Direito das Obrigações, 
transformando-se em um instituto de Direito de Família.34 
A família instituída pela união estável é a decorrente 
da convivência pública, contínua e duradoura entre um 
homem e uma mulher, formada com o objetivo de cons-
tituição de família. 
A primeira lei a regulamentar este instituto jurí-
dico foi a Lei n°. 8.971/94 que, dentre seus requisitos, 
exigia o elemento objetivo temporal de 5 (cinco) anos 
32 RODRIGUES, Silvio apud Maria Rosinete dos Reis. A união estável e 
sua evolução. Disponível em: <http://www.iuspedia.com>. Acesso em: 
14 jan. 2010.
33 Muitos autores, porém entendem que tal reconhecimento da união es-
tável não a equipararia ao casamento, são eles: Arnaldo Wald, Benedito 
Silvério e Euclides de Oliveira. Posição esta não adotada pela maioria da 
doutrina, que embasada nos princípios fundamentais da igualdade e dig-
nidade reconhecem a pluralidade de formas de constituição de família.
34 Em 1991, para dirimir as controvérsias existentes em relação à compe-
tência para o julgamento dos litígios acerca da matéria, e em sintonia com 
o artigo 9º da Lei 9.278/96, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul 
editou a súmula 14 decretando: “ É da Vara de Família, onde houver, a 
competência para as ações oriundas de união estável” (RIO GRANDE 
DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. Súmulas do Rio 
Grande Do Sul. Disponível em <http://www.tjrs.jus.br/jurispru/sumulas-
tj.php>. Acesso em: 11 jan. 2010.) 
27
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
de convívio ou a existência de prole para o seu reconhe-
cimento. A citada lei tinha por fim regular a sucessão e 
os alimentos na união estável, silenciando sobre a regu-
lação patrimonial entre os conviventes.
Criticada severamente, foi complementada pela en-
tão lei (Lei n° 9.278/96), que ensejou o artigo referente à 
união estável na Constituição, afastando assim, a exigên-
cia de tempo mínimo, como condition sine qua non para 
sua tipificação e exigindo apenas o elemento subjetivo do 
animus de constituir família.
Nesse ínterim, todavia, muita coisa foi tratada juris-
prudencialmente e mesmo, legislativamente35, podemos 
citar a Lei 8.560/92 que dispõe acerca da investigação 
de paternidade, regulou quanto à união estável a ques-
tão dos filhos havidos fora do casamento formal vedan-
do qualquer tipo de referência no registro de nascimento 
acerca do estado civil dos genitores, da natureza da filia-
ção, ordem em relação a irmãos do mesmo prenome, em 
prol da dignidade do reconhecido. Também, no campo 
da previdência social, o Plano de Benefícios da Previdên-
cia Social (Lei 8.213, de 24.07. 1991) em seu artigo 16, 
35 Antes mesmo já havia algumas regulações quanto à união estável como cita 
Marques: “o Decreto-Lei 7.036/44, que estabeleceu a igualdade de direitos 
entre a concubina e a esposa quando se tratasse de acidente no trabalho, o 
que veio a se consolidar com a Lei 6.367/76 (Seguros de Acidentes de Tra-
balho). Com referência à possibilidade do reconhecimento de filhos havidos 
fora do matrimônio, tem-se o Decreto-Lei nº 4.737/42 e a Lei nº 883/49. 
Com relação à situação de contribuinte, acerca do tema, tem-se a Lei nº 
4.242/63, a Lei nº 4.862/65 e o Decreto nº 85.450/80, que possibilita 
colocar-se como dependente do Imposto de Renda a concubina que esteja 
nessa condição por mais de cinco anos. (MARQUES, Batista. A União Está-
vel e a Família. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/web/cegraf/ril/
Pdf/pdf_145/r145-18.pdf>. Acesso em: 14 jan. 2010.)
28
Martiane Jaques La-Flor
I, com redação dada pela Lei 9.032, de 28.04.1995)36, 
assim como o Regulamento (Dec. 2.172, de 05.03.1997 
artigo 13, I) permitiram a inclusão da companheira ou 
companheiro na categoria de beneficiários do Regime 
Geral da Previdência Social, recebendo, assim, tratamen-
to semelhante ao dispensado aos legalmente casados, des-
de que a união estável fosse devidamente comprovada.
O Código Civil de 1916 não se preocupou com a 
família ilegítima, preocupava-se sim, em proteger a fa-
mília real, ora proibindo doações à concubina, ora não 
reconhecendo os filhos ilegítimos (artigos 248 e 358 da 
Lei nº 3.071, de 1º de Janeiro de 1916). 
O Código Civil de 2002 tratou expressamente do 
assunto da união estável a partir do seu artigo 1.723, não 
trazendo grandes inovações, apenas acompanhando o 
que já havia sido legislado anteriormente. Acrescentou, 
entretanto, a inviabilidade da constituição da união es-
tável quando presentes os impedimentos matrimoniais 
do artigo 1.521, CC, excetuando apenas a hipótese de 
pessoas casadas poderem se relacionar estavelmente, não 
o fazendo quanto às causas suspensivas do artigo 1.523.
Adverte-se que os direitos e deveres advindos da 
união estável são os mesmos provenientes do casamento, 
excepcionando-se o da coabitação, que de per si não pro-
va a existência da vida em comum:
Sociedade de fato (inexistência). Concubinato. Patrimô-
nio (partilha). A vida more uxorio de per si não basta 
36 Art.  16.  São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na 
condição de dependentes do segurado: I – o cônjuge, a companheira, o 
companheiro e o filho não emancipado, de qualquer condição, menor de 
21 (vinte e um) anos ou inválido.
29
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
à prova da sociedade. Exato, pois, ao se afirmar que “a 
simples existência do concubinato, que o próprio em-
bargado reconhece, é prova insuficiente para caracterizar 
a existência da sociedade de fato”. 2. Sem dúvida que se 
admite, para o reconhecimento da sociedade, a contri-
buição indireta da ex-companheira. Precedentes do STJ. 
Entretanto, se não se prova a contribuição, é inadmissí-
vel, conforme bem se disse na origem, “acolher a sua pre-
tensão de ver reconhecida a sociedade mantida ao longo 
de 4 (quatro) anos com o seu concubino”. 3. À míngua 
de ofensa a texto de lei federale de dissídio, a 3ª Turma 
do STJ não conheceu do recurso especial.37
O Código Civil ainda regulou expressamente o con-
cubinato, em seu artigo 1.727. Questão a ser sublinhada 
neste ponto é que, como já referido, embora a lei fale em 
“impedidos de casar” admite-se ao separado judicialmente 
constituir união estável, não configurando concubinato. A 
lei civilista não regulou expressamente, porém, o direito 
real de habitação ao companheiro sobrevivente, decorren-
do daí entendimentos, como o de Sebastião Amorim, de 
sua inexistência frente à ampliação dos direitos do convi-
vente sobrevivente na sucessão hereditária, já que o Códi-
go Civil de 2002 não o taxou como herdeiro necessário, 
como se fez com o cônjuge (art. 1.845, CC). Entendimen-
to que não é seguido pela Corte Superior, como vemos:
USUFRUTO. Companheira. Meação. Habitação.
– O companheiro que tem filhos não pode instituir em favor 
da companheira usufruto sobre a totalidade do seu patrimô-
nio, mas apenas sobre a parte disponível. Art. 1576 do CC.
37 STJ. REsp 125815/RJ. 3ª turma. Ministro Relator: Nilson Naves.. Data 
de julgamento: 08/08/2000. Disponível em: <http://www.stj.jus.br>. 
Acesso em: 14 jan. 2010.
30
Martiane Jaques La-Flor
– A companheira tem, por direito próprio e não decor-
rente do testamento, o direito de habitação sobre o imó-
vel destinado à moradia da família, nos termos do art. 7º 
da Lei 9278/96.38
Como vimos a união estável constitui uma espécie 
do gênero família, uma família que existe originariamen-
te na prática, para depois buscar a proteção jurídica; dife-
rentemente da já abordada família derivada do casamen-
to, que primeiramente encontra amparo legal (com o ato 
formal do casamento civil), para depois existir.
Em relação ao aspecto patrimonial da união estável, foi 
este tratado na Lei 9.278/96, que em seu artigo 5° prevê:
Art. 5° Os bens móveis e imóveis adquiridos por um ou 
por ambos os conviventes, na constância da união estável 
e a título oneroso, são considerados fruto do trabalho 
e da colaboração comum, passando a pertencer a am-
bos, em condomínio e em partes iguais, salvo estipulação 
contrária em contrato escrito.
Seguido do Código Civil que em seu artigo 1.725 
fala em regime parcial de bens, mostra-se evidente pela 
leitura do artigo acima transcrito ou mesmo pela exegese 
do artigo 1.660, CC que os bens adquiridos na constân-
cia do relacionamento a título oneroso são considerados 
frutos de uma colaboração mútua, pertencendo a ambos 
os conviventes em condomínio. Nota-se que esta “cola-
boração” não precisa ser de ordem econômica:
38 STJ. REsp 175862/ES. 4ª turma. Ministro Relator: Ruy Rosado de 
Aguiar. Data de julgamento: 16/08/2001. Disponível em: <http://www.
stj.jus.br>. Acesso em: 11 set. 2009. 
31
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
União estável. Dissolução. Partilha do patrimônio. Regi-
me da separação obrigatória. Súmula nº 377 do Supre-
mo Tribunal Federal. Precedentes da Corte.
1. Não há violação do art. 535 do Código de Processo 
Civil quando o Tribunal local, expressamente, em duas 
oportunidades, no acórdão da apelação e no dos declara-
tórios, afirma que o autor não comprovou a existência de 
bens da mulher a partilhar.
2. As Turmas que compõem a Seção de Direito Privado 
desta Corte assentaram que para os efeitos da Súmula nº 
377 do Supremo Tribunal Federal não se exige a prova do 
esforço comum para partilhar o patrimônio adquirido na cons-
tância da união. Na verdade, para a evolução jurisprudencial 
e legal, já agora com o art. 1.725 do Código Civil de 2002, 
o que vale é a vida em comum, não sendo significativo ava-
liar a contribuição financeira, mas, sim, a participação direta 
e indireta representada pela solidariedade que deve unir o 
casal, medida pela comunhão da vida, na presença em todos 
os momentos da convivência, base da família, fonte do êxito 
pessoal e profissional de seus membros.
3. Não sendo comprovada a existência de bens em nome da 
mulher, examinada no acórdão, não há como deferir a par-
tilha, coberta a matéria da prova pela Súmula nº 7 da Corte.
4. Recurso especial não conhecido.(grifos nossos)39
DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. UNIÃO ESTÁVEL. 
REGIME DE BENS. IMÓVEL ADQUIRIDO NA 
CONSTÂNCIA DO RELACIONAMENTO. ES-
FORÇO COMUM QUE SE PRESUME.
– Não há ofensa ao Art. 535 do CPC se, embora rejeita-
dos os embargos de declaração, o acórdão recorrido exa-
minou, motivadamente, todas as questões pertinentes.
– É inviável, em sede de recurso especial, o reexame de 
matéria fática. Incidência da Súmula 7, STJ.
39 STJ. REsp 736627/PR. 3ª turma. Ministro Relator: Carlos Alberto Me-
nezes Direito. Data de julgamento: 11/04/2006. Disponível em: <http://
www.stj.jus.br>. Acesso em: 14 jan. 2010. 
32
Martiane Jaques La-Flor
– O regime patrimonial da união estável implica em se reco-
nhecer condomínio com relação aos bens adquiridos por um 
ou por ambos os companheiros a título oneroso durante o re-
lacionamento, conforme dispõe o art. 5º da Lei n.º 9.278/96.
– A comunicabilidade de bens adquiridos na constância 
da união estável é regra e, como tal, deve prevalecer sobre 
as exceções, que merecem interpretação restritiva.
– Deve-se reconhecer a contribuição indireta do compa-
nheiro, que consiste no apoio, conforto moral e solida-
riedade para a formação de uma família. Se a participa-
ção de um dos companheiros se resume a isto, ao auxílio 
imaterial, tal fato não pode ser ignorado pelo direito. 
Recurso parcialmente provido.40
Portanto, como afirma Felipe Lerrer,41 a sociedade 
brasileira vive um novo panorama da união estável onde 
direitos são assegurados, mas deveres, que geram efeitos 
na esfera patrimonial dos conviventes, são impostos.
Nesse desiderato, evidentes serão os reflexos patrimo-
niais advindos dessa declaração, já que a união estável, como 
já referido, gera um condomínio dos bens adquiridos na 
constância do relacionamento, e o STF hodiernamente es-
tendeu essa característica também às relações homoafetivas.
Considerado o reflexo patrimonial uma consequên-
cia da constituição da união estável, surge o impasse de 
como isto se refletirá nas aquisições de bens imóveis feitas 
pelos conviventes. Para tanto, iremos analisar, de início, 
este instituto em diálogo com os Registros Públicos.
40 STJ. REsp 915297/MG. 3ª Turma. Ministro Relator: Nancy Andrighi. 
Dara de julgamento: 13/11/2008. Disponível em: <http://www.stj.jus.
br>. Acesso em: 14 jan. 2010. 
41 LERRER, Felipe Jakobson. Execução contra o companheiro na união 
estável. In: MADALENO, Rolf (Org.). Ações de Direito de Família. Porto 
Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 227.
33
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
1.3 União Estável e Registros Públicos
Lembramos que o casamento é negócio jurídico e a 
união estável é fato jurídico e, sendo fato, prescindiria de 
qualquer ato formal para o seu reconhecimento. No entan-
to, é admitida a sua deliberada formalização, por meio dos 
Registros Públicos quando da sua inserção nos Registros de 
Títulos e Documentos, tendo em vista que a estes compete 
o registro de quaisquer documentos para fins de publici-
dade e conservação, forte no art. 127 da Lei 6.015/73 que 
afirma: “No Registro de Títulos e Documentos será feita 
a transcrição: VII – facultativo, de quaisquer documentos, 
para sua conservação.” A Consolidação Normativa do Rio 
Grande do Sul vai ainda mais longe e aceita o registro de 
escrituras declaratórias de uniões homoafetivas, desta for-
ma redigida em função do Provimento nº. 06/04-CGJ:
Artigo 245, Parágrafo único. As pessoas plenamente ca-
pazes, independente da identidade ou oposição de sexo, 
que vivam uma relação de fato duradoura, em comunhão 
afetiva, com ou sem compromisso patrimonial, poderão 
registrar documentosque digam respeito a tal relação. As 
pessoas que pretendam constituir uma união afetiva na 
forma anteriormente referida também poderão registrar 
os documentos que a isso digam respeito.42
Em convergência com o que dispõe a própria lei re-
gistral, a qual atribui caráter residual ao Registro de Tí-
42 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. 
Consolidação Normativa Notarial e Registral do Rio Grande Do Sul. Dispo-
nível em: <https://www3.tj.rs.gov.br/legisla/CNNR_CGJ_junho_2009_
Prov_28.pdf?PHPSESSID=273bdada2470d5192c9979ac7db0dbfc>. 
Acesso em: 30 jun. 2009.
34
Martiane Jaques La-Flor
tulos e Documentos, decidiu o Des. Salles na 1ª Vara 
de Registros Públicos de São Paulo, no processo de n° 
Processo nº: 000.02.156268-7:
Ante o exposto, acolho o entendimento da maioria dos 
Oficiais das Serventias de Registro de Títulos e Docu-
mentos, para reconhecer a registrabilidade das Declara-
ções de União Estável quando um dos conviventes for 
casado, ou das Declarações de Sociedade de Fato, entre 
pessoas do mesmo sexo.43 
Pela leitura do artigo acima transposto, que fala em 
“registrar documentos”, poderíamos dizer que o contrato 
de convivência poderá ser feito na forma pública por meio 
de escritura pública lavrada em Tabelionato de Notas, ca-
bendo neste caso ao tabelião averiguar sobre a capacidade 
das partes; ou por contrato particular com as firmas reco-
nhecidas por Tabelião, caso em que a análise da capaci-
dade caberá ao registrador, seguida em ambos os casos de 
posterior registro no Registro de Títulos e Documentos, 
como ora ventilado. Adiante discorreremos pormenor-
mente sobre a forma que deve se dar tal contrato.
Cabe ressaltar, no entanto, que anteriormente havia 
o entendimento que a escritura pública declaratória de 
união estável não provava a união em si, mas servia para 
embasar futura decisão judicial, neste sentido, verifica-
mos o excerto abaixo:
PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL EM 
MEDIDA CAUTELAR COM O OBJETIVO DE DES-
43 IRTDPJ-SP. 1ª Vara de Registros Públicos Decide Sobre o Registro de União 
Estável. Disponível em: <http://www.irtdpjsaopaulo.com.br/1Vara.Unia-
oEstavel.htm>. Acesso em: 15 jan. 2010.
35
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
TRANCAR RECURSO ESPECIAL E CONFERIR-LHE 
EFEITO ATIVO.
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA QUE INDEFERE 
ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. ANÁLISE DE SEUS 
PRESSUPOSTOS. REEXAME DE PROVAS. SÚ-
MULA 7-STJ. APARÊNCIA DO BOM DIREITO. 
INEXISTÊNCIA. PROVAS DA EXISTÊNCIA DE 
UNIÃO ESTÁVEL.
DECISÃO JUDICIAL E CERTIDÕES DELA DE-
CORRENTES. CAUTELAR EXTINTA.
– O entendimento do STJ é no sentido de que aferir se 
estão presentes ou não os requisitos da prova inequí-
voca e da verossimilhança da alegação, exigidos pelo 
art. 273 do CPC, esbarra no óbice da Súmula 7/STJ, 
eis que tais pressupostos estão essencialmente ligados 
ao conjunto fático-probatório. Além disso, na espécie, 
o acórdão recorrido fez, explicitamente, análise das 
provas apresentadas.
– A aparente inviabilidade do recurso especial, por óbice 
da Súmula 7/STJ, inviabiliza a demonstração do pressu-
posto do fumus boni iuris do seu processo acessório.
– As únicas provas da existência de união estável são: (i) 
a sentença judicial que reconhece a união estável, seja ela 
proferida em ação declaratória (cfr. art. 4.°, I, do CPC) 
ou em processo de justificação (cfr. arts. 861 a 866, do 
CPC); e (ii) as certidões decorrentes dessa sentença. Ou-
tros documentos (tais como escrituras) e depoimento de 
testemunhas podem até servir de meios de prova da con-
vivência duradoura, pública e contínua de um homem e 
uma mulher, a qual alude o art. 1.° da Lei n.º 9.278/96, 
mas não da existência da própria união estável, que depen-
de de declaração judicial. Agravo regimental improvido.44
44 STJ. AgRg na MC 12068/RJ. 3ª C.Civil. Ministro Relator: Nancy Andri-
ghi. Data de julgamento: 07/05/2007. Disponível em: <http://www.stj.
gov.br/>. Acesso em: 15 jan. 2010.
36
Martiane Jaques La-Flor
Com a admissão da aplicação da Lei 11.441/07 e da 
Resolução 35 do CNJ, no intuito de buscar a prevenção 
de litígios e a tempestividade dos atos, referido entendi-
mento foi alterado, como adiante verificaremos.
Abordaremos agora alguns pontos sobre a união es-
tável numa visão notarial e registral.
1.3.1 Aplicabilidade da Lei 11.441/2007 à União 
Estável
Inicialmente pairou dúvida se as questões pertinen-
tes à união estável, seu reconhecimento, conversão em 
casamento, dissolução, entre outros assuntos, poderiam 
ou não ser regradas pela Lei 11.441/2007. Diante dis-
so, analisando o instituto de uma forma sistêmica com 
todo o ordenamento jurídico, surgiu a Resolução nº. 35-
CNJ de 24 de abril de 2007 que tratou de normatizar a 
aplicação da Lei 11.441/07, fazendo referência expressa 
à possibilidade de reconhecimento da união estável nas 
escrituras de inventário e partilha, não o fazendo em rela-
ção às separações e divórcios.
A outra conclusão não se poderia chegar senão pela 
possibilidade de realizar a dissolução da união estável de 
forma consensual por escritura pública. Aplicam-se aqui 
as mesmas exigências45 para viabilidade da separação e di-
45 Primeiramente deve haver consenso entre as partes e as mesmas devem ser 
capazes, não possuir filhos menores ou incapazes, estarem assistidas por 
advogado e no caso de inventário, não pode haver testamento. (CNJ. Re-
solução 35 de 24 de Abril de 2007. Disponível em: <http://www.cnj.jus.
br/index.php?option=com_content&view=article&catid=57:resolucoes&i
d=2927:resolu-no-35-de-24-de-abril-de-2007->. Acesso em: 15 jan. 2010.)
37
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
vórcio consensuais extrajudiciais. Nesse sentido Júlio Ce-
sar Medeiros e Maria de Guadalupe Medeiros ensinam:
A solução para a omissão da lei é o emprego da analogia, 
de forma a aplicar o art. 1.124 – A também aos casos 
de dissolução da união estável. Ademais, se o próprio 
vínculo matrimonial pode ser dissolvido por meio de 
escritura pública, por que não admitir que seja a união 
estável, nas mesmas condições46.
Corroborando este pensamento foi editado pela 
Corregedoria Geral de Justiça do Rio Grande do Sul o 
ofício circular nº. 309/2009, que trouxe em seu bojo:
Senhor tabelião/registrador:considerando os termos da 
lei nº 11.441/07 e a ausência de previsão legal específica 
para a escrituração de dissolução de união estável com 
partilha; ressalvando, ademais, a oportunidade de sus-
citação de dúvida nos casos concretos que resultem em 
averbação e/ou registro nos ofícios registrais, esclareço 
a vossa senhoria que inexiste óbice à realização de escri-
tura pública de dissolução de união estável com parti-
lha de bens, observados os requisitos previstos na lei nº 
11.441/07, no que couber.
Percebemos, então, ser somente necessária a inter-
venção judicial nos casos de dissenso, filhos incapazes ou 
existência de testamento, conforme ratifica os artigos da 
sobredita Resolução:
Art. 18 O(A) companheiro(a) que tenha direito à suces-
46 MEDEIROS, Julio César; MEDEIROS, Maria Guadalupe. A aplicabi-
lidade da Lei 11.441/2007: inventário, partilha, separação e divórcio ex-
trajudiciais. Revista Direito e Liberdade / Escola da Magistratura do Rio 
Grande do Norte, v.4, n.8, pt.2, p. 401-427, jan. 2008, p. 423.
38
Martiane Jaques La-Flor
são é parte, observada a necessidade de ação judicial se o 
autor da herança não deixar outro sucessor ou não hou-
ver consenso de todos os herdeiros, inclusive quanto ao 
reconhecimento da união estável. 
Art. 19 A meação de companheiro(a) pode ser reconhecida 
na escritura pública, desde que todos os herdeiros e interes-
sados na herança, absolutamente capazes, estejam de acordo.
Art. 3º As escrituras públicas de inventárioe partilha, 
separação e divórcio consensuais não dependem de ho-
mologação judicial e são títulos hábeis para o registro ci-
vil e o registro imobiliário, para a transferência de bens 
e direitos, bem como para  promoção de todos os atos 
necessários à materialização das transferências de bens e 
levantamento de valores (DETRAN, Junta Comercial, 
Registro Civil de Pessoas Jurídicas, instituições financei-
ras, companhias telefônicas, etc.) 
Seguido do provimento nº. 12/09-CGJ que alterou 
os artigos da Consolidação Normativa Notarial e Regis-
tral do Rio Grande do Sul, regulamentando a conversão 
da união estável em casamento, recomendada pela Cons-
tituição Federal em seu art. 226, §3º:
Art. 148 – A transformação da união estável em casa-
mento será procedida mediante pedido ao Oficial do 
Registro Civil das Pessoas Naturais, o qual fará exame 
preliminar da documentação, atentando em especial 
para as exigências do art. 1.525 e incisos, do CCB. 
Uma vez autuada e estando em ordem a documenta-
ção, o Oficial remeterá ao Juiz competente, que desig-
nará audiência para ouvir os requerentes e duas teste-
munhas – não impedidas ou suspeitas.
39
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
Como percebemos, a conversão da união estável em 
casamento deve ser requerida junto ao Registro Civil das 
Pessoas Naturais, ficando dispensados os proclamas47 48, 
mas será homologado pelo juiz competente, ouvido o 
membro do Ministério Público.49
Somente após a homologação o juiz ordenará o re-
gistro do casamento, que se realizará no Livro B auxiliar 
da serventia,50 no mesmo livro que recebe os casamentos 
religiosos com efeitos civis.
Deve-se atentar ao fato, por fim, que só poderá haver 
dissolução de uma união estável que já tenha sido reconhe-
cida pelos conviventes judicial ou extrajudicialmente, em 
caso contrário, a mesma escritura pública que põe termo 
a união estável, terá que primeiro reconhecê-la. Desta for-
ma, utilizando-se do artigo 53 da Resolução em comento, 
havendo escritura pública declaratória de união estável ou 
de convivência ou de pacto patrimonial realizada ante-
riormente ou mesmo sentença judicial de união estável, o 
Tabelião deve certificar na escritura de dissolução esta si-
tuação que comprova a existência da união estável, dispen-
47 Em conformidade com o artigo 1.726, CC: “Art. 1.726. A união estável 
poderá converter-se em casamento, mediante pedido dos companheiros 
ao juiz e assento no Registro Civil.” 
48 De forma divergente é a norma do Estado de São Paulo, onde se requer 
habilitação e o posterior registro se dará no Livro B, conforme artigos 87.1 
e 87.6 do Provimento 58/89 da Corregedoria Geral de Justiça de São Paulo. 
Disponível em: <http://www.tjsp.jus.br/Download/Corregedoria/Norma-
sExtrajudiciais/NSCGJTomoII.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2010. Juntamente 
as normas do Estado do Paraná, ver item 15.7.3 CN/CGJ/PR.
49 Inteligência dos artigos 153 e 155 da Consolidação Normativa Notarial 
e Registral do RS.
50 Conforme artigos 53, “c” e 156 da CNNR/RS e artigo 33, III da Lei 
6.015/73.
40
Martiane Jaques La-Flor
sando neste caso as testemunhas de conhecimento. Caso 
contrário a declaração dos companheiros não bastará para 
a comprovação da existência da união estável, sendo in-
dispensável a declaração de duas testemunhas de conheci-
mento, que intervierem na escritura pública de dissolução, 
declarando a existência de dita união estável.
Ocorre na prática que poucos recorrem à conversão 
da união estável em casamento, por ser um procedimento 
mais moroso e oneroso. A maioria opta por casar sim-
plesmente, habilitando-se administrativamente junto ao 
Registro Civil, contra o que se insurge o Desembargador 
Luiz Felipe Brasil Santos: “Descumpre aí o legislador, 
flagrantemente, o comando constitucional (artigo 226, 
p. 3°, CF) no sentido de que deva ser facilitada a conver-
são da união estável em casamento.”51
O Deputado Ricardo Fiuzza propôs um projeto de 
lei (PL 6960/2002) que visava tornar tal procedimento 
mais ágil, conforme segue:
O requerimento dos companheiros deve ser realizado ao 
Oficial do Registro Civil de seu domicílio e, após o de-
vido processo de habilitação com manifestação favorável 
do Ministério Público, será lavrado o assento do casa-
mento, prescindindo o ato da respectiva celebração.52
O projeto não vingou, fazendo com que os Tribu-
nais criassem suas próprias normas. O Estado de São 
51 SANTOS, Luiz Felipe Brasil. A União Estável no Novo Código Civil. 
Disponível em: <http://www.blindagemfiscal.com.br/familia/uniao_esta-
vel01.htm>. Acesso em: 15 jan. 2010.
52 CAMARA. Consulta de tramitações. Disponível em: <http://www.camara.
gov.br/Sileg/Prop_Detalhe.asp?id=56549>. Acesso em: 15 jan. 2010.
41
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
Paulo, perfilhando o entendimento da Constituição, 
emitiu parecer de n° 202/2006-E, admitindo a interven-
ção judicial somente nos casos excepcionais:
REGISTRO CIVIL – Procedimento de Conversão da 
União Estável em Casamento – Tramitação perante o 
Oficial do Registro Civil das Pessoas Naturais – Dispensa 
do pronunciamento judicial, salvo em casos excepcionais 
– Admissibilidade, desde que editada portaria neste sen-
tido pelo Juízo Corregedor Permanente – Procedimento 
similar ao da Habilitação para o Casamento, onde já se 
encontra prevista a desobrigação de manifestação do juízo 
em determinadas situações (item 66 do Capítulo XVII das 
Normas de Serviço) – Hipóteses semelhantes que ensejam 
tratamento uniforme – Facilitação determinada pelo arti-
go 226, § 3°, da CF – Edição de Provimento para que se 
dê nova redação aos itens 87.2 e 87.3 do Capítulo XVII 
das Normas de Serviço da Corregedoria Geral da Justiça.53
O único senão é que na conversão poderá o juiz, 
a pedido dos requerentes instituir o prazo inicial em 
que se deu a união estável, tendo o casamento assim, 
efeitos retroativos.54 55 Esta possibilidade de se auferir 
efeitos retroativos à conversão da união estável em casa-
mento surge por um processo mental lógico dedutivo, 
pois o que adiantaria existir a norma regulamentando 
tal conversão se não preservasse a data em que a mes-
53 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Portal do 
Extrajudicial. Parecer 202/2006-E. Disponível em: <https://www.extraju-
dicial.tj.sp.gov.br/pexPtl/visualizarDetalhesPublicacao.do?cdTipopublica
cao=5&nuSeqpublicacao=284.>. Acesso em: 11 set. 2009. 
54 Conforme previsão do artigo 152, CNNR/RS.
55 Diferentemente é a norma do Estado de São Paulo: “87.6. Não constará 
do assento de casamento convertido a partir da união estável, em nenhu-
ma hipótese, a data do início, período ou duração desta.” 
42
Martiane Jaques La-Flor
ma se iniciou, pois do contrário bastaria o casamento 
e não haveria razão de existência na lei sobre a conver-
são. Poderemos, igualmente, lançar mão de comparação 
com o registro de casamento religioso com efeitos civis, 
onde conforme o artigo 75 da Lei 6.015/73 os efeitos 
jurídicos do registro começa a viger da celebração do 
casamento religioso e não da data do registro do mesmo 
no Registro Civil competente.56
Em conformidade com o exposto, inclusive, o enun-
ciado n. 261 do Conselho da Justiça Federal: “261 – art. 
1.641: a obrigatoriedade do regime da separação de bens 
não se aplica a pessoa maior de sessenta anos, quando o 
casamento for precedido de união estável iniciada antes 
dessa idade.”57 Da mesma forma o julgado: 
EMENTA:  APELAÇÃO CÍVEL. ALTERAÇÃO DO 
REGIME DE SEPARAÇÃO OBRIGATÓRIA DE 
BENS PARA COMUNHÃO UNIVERSAL. INC. II 
DO ART. 1.641 DO CC/02. PEDIDO JURIDICA-
MENTE POSSÍVEL. JULGAMENTO PELO TRI-
BUNAL, NOS MOLDES DO PARÁGRAFO 3º DO 
ART. 515 DO CPC. MODIFICAÇÃO DO REGIME 
DE BENS DO CASAMENTO. POSSIBILIDADEE 
CONVENIÊNCIA. A alteração do regime de bens é 
possível juridicamente, consoante estabelece o § 2º do 
art. 1.639 do CCB e as razões postas pelas partes evi-
denciam a conveniência para eles, constituindo o pedido 
motivado de que trata a lei. Assim, não é juridicamente 
impossível o pedido dos apelantes – conforme enten-
56 Art. 75 da Lei 6.015/73. O registro produzirá efeitos jurídicos a contar 
da celebração do casamento. 
57 CONSELHO DA JUSTIÇA FEDERAL. Enunciados aprovados – III 
jornada de direito civil: Disponível em: <http://daleth.cjf.jus.br/revista/
enunciados/IIIJornada.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2010.
43
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
dimento exposto na sentença – tendo eles o direito de 
postularem em juízo a troca do regime da separação obri-
gatória de bens para os que possuem mais de 60 anos no 
momento do casamento, ainda que um deles conte com 
mais de sessenta anos, em face do caráter genérico da 
norma (inc. II do art. 1641 do CC), que merece ser rele-
vada, no caso, diante da manifestação positiva das partes 
interessadas e atento ao princípio da isonomia. (SEGRE-
DO DE JUSTIÇA) RECURSO PROVIDO.58
Ultrapassado este ponto, passamos a enfrentar a 
ideia de um pacto entre os conviventes, similarmente ao 
pacto antenupcial dos nubentes. 
1.3.2 Possibilidade de um Pacto Patrimonial
Como é cediço, para constituição do vínculo ma-
trimonial pelo casamento (tanto o civil como o religioso 
com efeitos civis) deve-se inicialmente, caso escolhido 
regime diferente do estabelecido legalmente,59 qual seja, 
o da comunhão parcial de bens, lavrar, em Tabelionato 
de Notas, por meio de escritura pública, pacto ante-
nupcial, seguindo o seu posterior registro no Livro 3 do 
58 RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul. 
AC 70019358050. 7ª C.Civil. Ministro Relator: Ricardo Raupp Ruschel. 
Data de julgamento: 15/08/2007. Disponível em: <http://www.tjrs.jus.
br>. Acesso em: 15 jan. 2010.
59 Art. 1.640, CC. Não havendo convenção, ou sendo ela nula ou ineficaz, 
vigorará, quanto aos bens entre os cônjuges, o regime da comunhão par-
cial. Parágrafo único. Poderão os nubentes, no processo de habilitação, 
optar por qualquer dos regimes que este código regula. Quanto à forma, 
reduzir-se-á a termo a opção pela comunhão parcial, fazendo-se o pacto 
antenupcial por escritura pública, nas demais escolhas. 
44
Martiane Jaques La-Flor
Registro de Imóveis (Registro Auxiliar)60 do primeiro 
domicílio dos nubentes para que se obtenha publicida-
de. Também averbar-se-á61 tal pacto, em todas as matrí-
culas dos imóveis dos nubentes, conforme determina a 
Lei de Registros Públicos (Lei 6.01573).
Cabe ressaltar que o Tabelião a ser escolhido para a 
lavratura do pacto antenupcial não se circunscreve ao li-
mite territorial do domicílio dos nubentes, pois tais pro-
fissionais só não poderão praticar atos de seu ofício fora 
do Município para o qual receberam delegação, confor-
me rezam os artigos 8º e 9º da Lei dos Notários e Regis-
tradores (Lei 8.935/94)62.
Indagação surge, então, da possibilidade, à similitu-
de do que ocorre com o casamento, da elaboração, pelos 
companheiros de um contrato de convivência que regu-
lasse questões patrimoniais entre eles. 
Tal indagação é dirimida pela simples leitura do artigo 
1.725, CC, que determina o seguinte: “Na união estável, 
salvo contrato escrito entre os companheiros, aplica-se às re-
lações patrimoniais, no que couber, o regime da comunhão 
parcial de bens.” (grifos nossos), desponta daí um novo 
questionamento quanto à forma a ser dada a este contrato. 
60 Art. 178 da Lei 6.015/73– Registrar-se-ão no Livro nº 3 – Registro Au-
xiliar: V – as convenções antenupciais; 
61 Art. 167 da Lei 6.015/73– No Registro de Imóveis, além da matrícula, 
serão feitos. II – a averbação: 1) das convenções antenupciais e do regime 
de bens diversos do legal, nos registros referentes a imóveis ou a direitos 
reais pertencentes a qualquer dos cônjuges, inclusive os adquiridos poste-
riormente ao casamento.
62 Art. 8º É livre a escolha do tabelião de notas, qualquer que seja o domi-
cílio das partes ou o lugar de situação dos bens objeto do ato ou negócio; 
Art. 9º O tabelião de notas não poderá praticar atos de seu ofício fora do 
Município para o qual recebeu delegação. 
45
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
Embora a lei não faça referência à forma que de-
verá ser feito o referido contrato, intitulado de “pacto 
patrimonial” pelo Registrador Mario Mezzari, afirma ele 
que deverá ser feito por escritura pública, forte no artigo 
1.653, CC, a exemplo do que ocorre no casamento. Po-
sição que encontra discordância na doutrina, citamos o 
eminente doutrinador Sílvio de Salvo Venosa que afirma 
a não obrigatoriedade da escritura pública, já que a lei 
apenas fala em “contrato escrito.”63 
Com a devida vênia, nos filiamos à linha de enten-
dimento difundida por Mezzari, não só pelo caráter do 
pacto patrimonial em si, que regula matéria de ordem 
relevante (Direito de Família) o que requereria maior 
diligência que é conseguida quando lavrado por pro-
fissional que traz segurança jurídica (Notário ou Tabe-
lião); como também alicerçados analogicamente nos ar-
tigos 1.640, parágrafo único, combinado com o 1.653, 
ambos do Código Civil. 
Pacificada a possibilidade de um pacto patrimo-
nial, levanta-se ainda outra pergunta, seria possível o 
seu posterior registro no Livro 3 do Registro de Imóveis 
e sua averbação nas matrículas dos imóveis dos convi-
ventes tal como o pacto patrimonial? Esta é a indagação 
cerne deste trabalho, o qual entendendo pela sua admis-
sibilidade irá solvê-la ulteriormente. 
Falamos aqui em possibilidade de estipulação contra-
tual, não sendo ato obrigatório entre as partes, poderá ter 
o seu momento de celebração estabelecido pelas partes, 
63 VENOSA, Sílvio da Salvo. Direito Civil: Direito de Família. 6ªed. São 
Paulo: Atlas. 2006. p. 451. 
46
Martiane Jaques La-Flor
quer antes quer no decorrer da relação afetiva.64 É ques-
tão discutível, como nos aponta Weizenmann,65 já que 
se a união é fato e configurada pela convivência pública, 
contínua e duradoura, só se configuraria com a efetiva 
convivência, mas parte da doutrina dando uma exegese 
mais aberta ao artigo 1.725, CC, admite a realização pré-
via de uma escritura pública declaratória que terá efeito 
suspensivo, ou seja, só terá eficácia se realmente se der a 
união pública, contínua e duradoura.
Eventual alteração posterior do contrato de união 
estável no ensinamento de Gozzo,66 não admite restrições 
podendo ser modificado a qualquer tempo apenas com a 
anuência de ambos conviventes. Postura a qual não com-
pactuamos, já que o artigo 1.639, § 2° do Código Civil 
somente admite a alteração do regime de bens mediante 
autorização judicial em pedido motivado de ambos os 
cônjuges, ressalvados os direitos de terceiros.67 68
64 Anotamos posições contrárias: Grieco B. Pessoa e Francisco Cahali en-
tendem que deve ser na constância da relação e Guilherme Calmon e Al-
buquerque Pizzolante em momento anterior. (WOHNRATH, Vinícius 
Parolin. Parâmetros e delimitações do contrato de convivência nas relações 
de união estável. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 2038, 29 jan. 2009. 
Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12266>. 
Acesso em: 18 jan. 2010.)
65 Luiz Carlos Weizenmann, Presidente do Colégio Notarial do Brasil Sec-
ção do Rio Grande do Sul, em entrevista cedida por e-mail em data de 
18/01/2010.
66 GOZZO, Débora apud WOHNRATH, op. cit.
67 Mesma posição adotada por Salaverry, que ainda cita outra cláusula in-
disponível por vontade das partes: a de reconhecimento de filho. (SALA-
VERRY, op. cit.). 
68 Ainda o grande mestre da áreanotarial, Luiz Carlos Weizenmann, sobre 
o assunto: “Entendo que, por analogia, a alteração só poderia ser feita com 
intervenção judicial. No casamento o juiz é quem julga se os motivos para 
alteração são razoáveis (art. 1639, §2º.-CC) Por isso, não faço escrituras 
47
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
Noutro curso, poderão os conviventes de comum acor-
do extinguirem o contrato através de realização de escritura 
pública de dissolução de união estável com partilha de bens, 
fulcro no art. 1.124-A, CPC, de acordo com ofício circular 
nº. 309/2009 CGJ/RS; extinguindo-o também com a mor-
te de uma das partes ou o fim da situação fática existente.
A diferença fundamental entre o pacto antenupcial 
e o contrato de convivência reside em relação aos efeitos 
surtidos,69 enquanto o pacto antenupcial só gerará efei-
tos se os nubentes casarem, o contrato surte os efeitos 
desde já, da sua lavratura independente de seu registro. 
Friza-se, o contrato de convivência não cria a união es-
tável (está é fato), mas ajuda a estabelecer regras, que 
para Cahali,70 podem ser as mais diversas ao arbítrio 
dos conviventes, porém suas cláusulas71 não poderão ser 
vetadas pelos dispositivos legais, nem eivadas de vícios 
e ilicitudes e terão efeitos obrigatórios somente entre os 
contratantes, não se pode obrigar que outrem reconhe-
declaratórias de alteração de regime de bens na união estável. Não estou 
dizendo com isso que eles estariam ‘proibidos’ de fazer, afinal tudo é ‘fato’, 
e, por se tratar de fato, nada impede que eles façam uma declaratória no 
meu Tabelionato hoje e daqui a seis meses façam nova declaração em ou-
tro Tabelionato declarando a união estável com outro regime, sem referir 
a existência do anterior, pois não existe registro cativo para isso.”
69 SALAVERRY, Ursula Ernlund. Aspectos Patrimoniais no Ato da Conversão da 
União Estável em Casamento. Disponível em: <www.cesumar.br/pesquisa/perio-
dicos/index.php/revjuridica/article/.../461>. Acesso em: 15 jan. 2010.
70 CAHALI apud SALAVERRY, Ursula Ernlund. Aspectos Patrimoniais no 
Ato da Conversão da União Estável em Casamento. Disponível em: <www.
cesumar.br/pesquisa/periodicos/index.php/revjuridica/article/.../461>. 
Acesso em: 15 jan. 2010.
71 Quanto às cláusulas poderão estipular interesses futuros ou situações pre-
téritas, ao exemplo de definir propriedade de imóvel adquirido anterior-
mente pelo casal. (VENOSA, op. cit. pp. 43-44.)
48
Martiane Jaques La-Flor
ça o contrato firmado entre os conviventes. Podem ser 
cláusulas de estipulação diferenciada do patrimônio, di-
reito real de habitação, formal de partilha caso haja dis-
solução da união, pagamento de indenização por quem 
der causa a dissolução, escolha de arbitragem para reso-
lução de conflitos, proposições sobre a administração 
dos bens, pensão alimentícia72 e previdenciária, reco-
nhecimento de filhos, dentre outros, o próprio regime 
de bens que os regulará, conforme explanação abaixo.
1.3.3 Regime de Bens
A doutrina diverge, bem assim, quanto ao regime 
que se aplicaria às uniões estáveis quando inexistente o 
pacto patrimonial; para Gama o regime legal que regeria 
as uniões estáveis não seriam os relacionados com o casa-
mento, mas aplicar-se-ia o art. 1.660, inciso I do Código 
Civil73, pois que há presunção de comunhão das aquisi-
ções feitas durante o convívio dos companheiros, confi-
gurando o regime de participação final nos aquestos, uma 
72 Que não terá força de título executivo: “Habeas corpus. Título executivo 
extrajudicial. Escritura pública.
Alimentos. Art. 733 do Código de Processo Civil. Prisão civil.1. O des-
cumprimento de escritura pública celebrada entre os interessados, sem a 
intervenção do Poder Judiciário, fixando alimentos, não pode ensejar a 
prisão civil do devedor com base no art. 733 do Código de Processo Civil, 
restrito à “execução de sentença ou de decisão, que fixa os alimentos pro-
visionais”.2. Habeas corpus concedido.” (STJ. HC 22401/SP. 3ª T. Mi-
nistro Relator: Carlos Alberto Menezes Direito. Disponível em: <http://
www.stj.jus.br>. Acesso em: 14 jan.2010.)
73 Art. 1.660. Entram na comunhão: I – os bens adquiridos na constância do 
casamento por título oneroso, ainda que só em nome de um dos cônjuges;
49
As Implicações da União Estável no Registro de Imóveis à Luz dos Princípios Registrais
vez que os bens elencados no art. 1.659, CC74 e os incisos 
II, IV e V do art. 1.660, CC também não se comunica-
riam ao regime legal de bens do companheirismo.75 
Em posição divergente e majoritária, Sílvio Rodri-
gues76 e Marilene Guimarães sustentam que passam a par-
tilhar todo o patrimônio adquirido na constância da união, 
como se casados fossem77. Para Pizzolante78 não se fala em 
sede de união estável em comunicabilidade ou incomuni-
cabilidade de aquestos, como se discute no casamento. 
A união estável reger-se-á pelas normas pertinentes 
74 Art. 1.659. Excluem-se da comunhão: 
I – os bens que cada cônjuge possuir ao casar, e os que lhe sobrevierem, 
na constância do casamento, por doação ou sucessão, e os sub-rogados 
em seu lugar;
II – os bens adquiridos com valores exclusivamente pertencentes a um dos 
cônjuges em sub-rogação dos bens particulares;
III – as obrigações anteriores ao casamento;
IV – as obrigações provenientes de atos ilícitos, salvo reversão em proveito 
do casal;
V – os bens de uso pessoal, os livros e instrumentos de profissão;
VI – os proventos do trabalho pessoal de cada cônjuge;
VII – as pensões, meios-soldos, montepios e outras rendas semelhantes.
(Ibidem.)
75 NOGUEIRA DA GAMA, Guilherme Calmon. Regime legal de bens no 
companheirismo: o paradigma do regime da comunhão parcial de bens. 
apud LERRER, Felipe Jakobson. Execução contra o companheiro na 
união estável. In: MADALENO, Rolf (Org.). Ações de Direito de Família. 
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 232.
76 RODRIGUES, Sílvio apud LERRER, Felipe Jakobson. Execução contra 
o companheiro na união estável. In: MADALENO, Rolf (Org.). Ações 
de Direito de Família. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006. p. 232.
77 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Resp 915297 / MG. 3ªturma. 
Ministra Relatora: Nancy Andrighi. Data julgamento: 13/11/2008; STJ. 
REsp 251057/SP. 4ª turma. Ministro Relator: Aldir Passarinho Junior. 
Data de julgamento: 22/04/2003. Disponível em: <http://www.stj.jus.
br>. Acesso em: 12 set. 2009. 
78 PIZZOLANTE, Albuquerque de; PIRES, Francisco E.O. União Estável 
no Sistema Jurídico Brasileiro. São Paulo: Atlas, 1999. p.114.
50
Martiane Jaques La-Flor
ao regime da comunhão parcial de bens o que nos reme-
te, necessariamente, aos artigos 1.659 e 1.660 do Código 
Civil, admitindo assim, a divisão de bens adquiridos por 
fato eventual e os frutos dos bens comuns pendentes.
Portanto, se o bem adquirido, embora após a cons-
tância da união estável, for fruto de patrimônio particular 
de um dos conviventes não se cogita falar em aquisição 
em condomínio ou patrimônio comum. 
Assunto intrigante circunda a escolha do regime de 
bens quando feita em momento oportuno. Explico: se os 
conviventes há anos convivem estavelmente sem qualquer 
contrato escrito que os regule, vindo posteriormente firmar 
pacto estabelecendo o regime de separação absoluta entre 
eles, teremos que dar efeito ex nunc a este ato, devendo os 
bens adquiridos anteriormente ser partilhados em partes 
iguais entre os parceiros, já que há época da aquisição deste 
imperava o regime de comunhão parcial de bens.
1.3.4 Ausência de Ato Formal versus Aquisição de 
Direitos Reais
Como mencionado, sendo a união estável um fato 
social, independe de qualquer rigor formal para sua 
caracterização,79 opostamente do que se dá com o ca-
79 Euclides de Oliveira explica: ‘não há formalidade prévia nem qualquer 
ato solene que

Continue navegando