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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL – UNIJUÍ GILBERTO PEREIRA VIABILIDADE ECONÔMICA DA INSTALAÇÃO DE UM BIODIGESTOR EM PROPRIEDADES RURAIS Ijuí 2009 2 GILBERTO PEREIRA VIABILIDADE ECONÔMICA DA INSTALAÇÃO DE UM BIODIGESTOR EM PROPRIEDADES RURAIS Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação do Departamento de Física, Estatística e Matemática da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Modelagem Matemática. Orientador: Prof. Dr. Gideon Leandro Ijuí – RS 2009 3 UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL DeFEM – DEPARTAMENTO DE FÍSICA, ESTATÍSTICA E MATEMÁTICA DeTEC – DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MODELAGEM MATEMÁTICA A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação VIABILIDADE ECONÔMICA DA INSTALAÇÃO DE UM BIODIGESTOR EM PROPRIEDADES RURAIS Elaborada por GILBERTO PEREIRA Como requisito para a obtenção do grau de Mestre em Modelagem Matemática Comissão Examinadora: ______________________________________________ Prof. Dr. Gideon Villar Leandro ____________________________________________________ Prof. Dr. Fabiane Avena de Oliveira ______________________________________________ Prof. Dr. Carlos Costa 4 Ijuí, RS, agosto de 2009 AGRADECIMENTOS Aos meus queridos pais Ângelo e Adair, irmãos Cláudio e Rosângela que nesta caminhada foram o incentivo, apoio e a base de toda a minha vida. Aos meus Sogros Adelino e Bernardina, cunhados Miriam e Dino, que o apoio recebido, será guardado no fundo de meu coração para toda vida. Aos professores do curso de Mestrado em Modelagem Matemática, em especial aos professores Fabiane Avena de Oliveira, Gilmar Veloso pela dedicação e carinho. E à nossa querida funcionária Geni de Quadros, pela paciência e amizade. Ao meu Orientador, Professor Gideon Leandro, que nos momentos mais difíceis foi um grande amigo, capaz de orientar e compreender os fatos. Professor, muito obrigado! Aos colegas de Mestrado, especialmente aos amigos e companheiros de estudo: Fernando, Luiz, Douglas, Roberta e Grazi, pela amizade, apoio e troca de conhecimento. Nunca esquecerei os momentos difíceis; as alegrias e o apoio de vocês. Também registrar o apoio e acolhida Pensão da Dona Zaida e do Sr. Artur. À Faculdade Ideau por acreditar no meu trabalho e, em especial ao Professor Flávio, que não mediu esforços para que chegasse a esta conquista. Aos Professores e amigos Eduardo e Marcos, pelo apoio de sempre. Aos Colegas Professor Claudecir e Professora Milena, valeu pelas dicas e orientações. Para minha Querida e amada Esposa Marinês, que sempre esteve no meu lado neste período, nas alegrias e momentos delicados. Você foi minha inspiração. A todos vocês minha eterna gratidão! Obrigado a Deus por Vocês existirem. Fico agradecido pela convivência. RESUMO A sociedade moderna e o desenvolvimento econômico tornam a energia num combustível necessário e indispensável. A geração de energia e a sociedade produzem fortes impactos e danos ambientais. Contudo, a preocupação com o meio ambiente instiga questões relacionadas à disposição dos resíduos sólidos. O objetivo principal deste trabalho é criar um procedimento para análise da viabilidade econômica para instalação de um biodigestor para geração de energia elétrica, com a utilização do biogás, proveniente da decomposição anaeróbica de dejetos de suínos. Incluída a preocupação ambiental com destinação adequada dos resíduos, podemos verificar uma nova receita da atividade da suinocultura. Nos resultados será um estudo de caso na propriedade Granja Fontana, no Município de Charrua, com apresentação de uma ferramenta matemática, por meio de um modelo, representado em uma programação que mostre a viabilidade da instalação de um biodigestor. Estes procedimentos contêm receitas e despesas da instalação de um biodigestor, contendo também todo investimento para desenvolver a atividade suína nesta propriedade. Para análises, são criados cenários para o estudo da viabilidade. Estes cenários serão denominados com variação de números de matrizes, para simulação na programação desenvolvida no software Matlab. Assim os resultados do programa nos indicarão qual melhor cenário. A instalação de um biodigestor para gerar energia elétrica traria como benefícios financeiros a geração de receita para o proprietário e também a destinação adequada dos dejetos suínos. Palavras-chaves: Energia de biomassa. Gás Metano. Biodigestor. Geração de energia elétrica. Viabilidade econômica. 7 ABSTRACT The Modern society and the economic development turn the energy in a necessary and indispensable fuel. Power generation and society produce strong impacts and environmental damage. However, the concern with the environment instigates issues related to solid waste disposal. The main objective of this work is creating a procedure for the economic viability analysis in installing a digester to generate electricity, with the use of biogas from swine manure anaerobic digestion. Included environmental concern with proper waste disposal, it is possible to verify a new recipe of pig farming activity. The literature review discusses the pig biomass waste transformation into biogas and the economic and environmental benefits. The results will be a case study in Fontana Farm property in the Charrua City, with the showing of a mathematical tool through a model, represented on a schedule that shows the feasibility of installing a digester. These procedures contain revenue and expenditure of installing a digester, also containing all investment activity to develop swine activity in this property. For analysis scenarios are created to study the viability. The digester installation to generate electricity would bring financial benefits as the revenue generation for the owner and also the proper disposal of pig manure. Keywords: Biomass energy. Methane. Biodigester. Electric power Generation. Viability. LISTA DE FIGURAS Figura 01 Digestão anaeróbica 31 Figura 02 Exigências e vantagens da biodigestão 46 Figura 03 Design da pesquisa 55 LISTA DE TABELAS Tabela 01 Produção de dejetos por grupo 26 Tabela 02 Expectativa de produção biogás por biomassa 26 Tabela 03 Rebanho suíno por região geográfica 29 Tabela 04 Rebanho suíno no RS 29 Tabela 05 Composição média da mistura gasosa 39 Tabela 06 P.C.I 40 Tabela 07 Equivalências energéticas 41 Tabela 08 Produção de dejetos 42 Tabela 09 Estrutura de custos e consumos 53 Tabela 10 Variáveis cenário A 73 Tabela 11 Variáveis cenário B 74 Tabela 12 Variáveis cenário C 75 Tabela 13 Variáveis cenário D 76 Tabela 14 Capacidade de produção de energia 77 Tabela 15 Especificações dos valores de investimentos 78 Tabela 16 Financiamento 78 Tabela 17 Resultados do período 8010 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 01 Animais/produção de energia 78 Gráfico 02 Investimento/desembolso 80 Gráfico 03 Desempenho 82 NOTAÇÃO DE SIGLAS E SÍMBOLOS x número de cabeças de suínos a.a Ao ano AM Amortização ANEEL Agência Nacional de Energia Elétrica C Capital CEEE Companhia Estadual de Energia Elétrica CEPEL Centro de Pesquisas de Energia Elétrica CERPCH Centro Nacional de Referência em Pequenas Centrais Hidrelétricas CH4 Metano CO Monóxido de carbono CO2 Dióxido de carbono CT Custos Totais 0C Graus Celsius D Depreciação DNA Ácido desoxirribonucléico DT Depreciação Total EP Energia produzida FC Fluxo de Caixa FLC Fluxo Líquido de Caixa h Horas I Investimento II Investimento Inicial k Taxa Mínima de Atratividade Financeira kg/ m 3 Quilograma por metro cúbico kW Quilowatt kWh Quilowatt-hora m Metros Pc Valor de mercado da energia produzida PL Programação Linear RGE Rio Grande Energia RL Receita Líquida 12 RS Rio Grande do Sul $ Reais RT Receita Total t Duração de um período em anos T Total de horas do período analisado TJ Taxa de Juros V Volts VF Valor Futuro VP Valor Presente VPL Valor Presente Líquido W Watts Pc valor de mercado da energia produzida EG Energia produzida pelo biodigestor l Número de leitões Pl Preço unitário por leitão K Taxa Mínima de Atratividade Financeira PG(t) Preço do motor-gerador substituído em tempo especifico VE Vazão do efluente DBO DBO do efluente V Carga volumétrica aceitável CD Constante de degradação p Peso do suíno trh Tempo de retenção hidráulica vdd Volume de dejetos dia Alag Área das lagoas Abar Área dos barracões Abio Área do biodigestor Adisp Área disponível para o complexo biodigestor Pbio Preço do biodigestor por suíno VIbio Valor inicial do biodigestor Pgm Preço do motor-gerador por suíno VIgm Valor inicial do motor-gerador Pgal Preço do galpão por suíno 13 VIgal Valor inicial do galpão Plag Preço da lagoa por suíno VIlag Valor inicial da lagoa TJ Taxa de Juros. SUMÁRIO 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ..................................................................... 16 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ...................................................................... 18 1.3 JUSTIFICATIVA ......................................................................................... 19 1.4 OBJETIVOS ............................................................................................... 21 1.4.1 Objetivo geral ........................................................................................ 21 1.4.2 Objetivos específicos ........................................................................... 21 1.5 LIMITAÇÃO DO TRABALHO...................................................................... 21 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO................................................................... 22 2.1 BIOMASSA................................................................................................. 23 2.1.1 Biomassa de dejetos suínos................................................................ 25 2.1.2 Suinocultura .......................................................................................... 27 2.1.2.1 Cabeças de suínos no Brasil ..............................................................................................27 2.1.3 Processos de transformação............................................................... 29 2.1.3.1 Passagem de matéria à energia .........................................................................................29 2.1.4 Sistemas de digestão ........................................................................... 31 2.1.4.1 Sistema de digestão contínuo .............................................................................................31 2.1.4.2 Sistema de digestão descontínuo........................................................................................32 2.1.4.3 Indicações de uso dos resíduos nos processos de digestão ................................................32 2.1.5 Biogás .................................................................................................... 33 2.1.5.1 Conceituação .....................................................................................................................33 2.1.5.2 Biogás - recurso natural ou bem econômico......................................................................34 2.1.5.3 Identificação como fonte energética ..................................................................................35 2.1.5.4 Características físico/ químicas e equivalências ...............................................................36 2.1.5.4.1 A composição média da mistura gasosa.........................................................................36 2.1.5.4.2 Equivalências energéticas..............................................................................................37 2.1.5.4.3 Produção diária de dejetos nas diferentes fases de produção.........................................38 2.2 BIODIGESTOR........................................................................................... 38 2.2.1 Conceituação......................................................................................... 38 2.2.2 Surgimento e evolução do equipamento de biodigestão ................. 39 2.2.3 Vantagens da instalação do biodigestor ............................................ 41 2.2.4 Dimensionamento do equipamento de biodigestão.......................... 42 2.2.5 Determinação, adequação e funcionamento do equipamento ......... 43 2.2.6 Processamento de dejetos suínos como garantia de preservação ambiental e possíveis implicações .............................................................. 45 3.1 CARACTERIZAÇÃO DA EMPRESA .......................................................... 47 3.2 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA.............................................................. 48 4.1 PESQUISA OPERACIONAL ...................................................................... 50 15 4.2 PROGRAMAÇÃO LINEAR......................................................................... 50 4.3 DESCRIÇÃO DO MODELO MATEMÁTICO PROPOSTO ......................... 52 4.3.1 Função objetivo..................................................................................... 53 4.4 FATORES QUE INFLUENCIAM NOS RESULTADOS ECONOMICOS DO PROJETO......................................................................................................... 56 4.4.1 Influência das receitas.......................................................................... 57 4.4.2 Influência dos custos............................................................................ 58 4.5 AVALIAÇÃO DA RENTABILIDADE DE PROJETOS.................................. 59 4.5.1 Avaliação do valor presente líquido (VPL) ......................................... 60 4.5.2 Avaliação da taxa interna de retorno (TIR) ......................................... 61 4.6 AVALIAÇÃO FINANCEIRA DE PROJETOS .............................................. 61 4.6.1 Fluxo líquido de caixa (FLC) ................................................................ 61 5.1 APRESENTAÇÃO DO PROCEDIMENTO.................................................. 62 5.5.1 Cenários a partir do modelo matemático ........................................... 62 5.5.1.1 Cenário A ............................................................................................62 5.5.1.2 Cenário B ............................................................................................ 63 5.5.1.3 Cenário C ............................................................................................ 64 5.5.1.4 Cenário D ............................................................................................ 65 5.5.2 Capacidade de geração de energia elétrica ....................................... 66 5.5.3 Estrutura de investimentos em implantação conservação do projeto ......................................................................................................................... 67 5.5.4 Financiamento do empreendimento.................................................... 67 5.5.5 Estruturas de despesas e receitas do empreendimento................... 68 6.1 QUANTO À LITERATURA.......................................................................... 71 6.2 QUANTO AOS OBJETIVOS....................................................................... 72 6.3 QUANTO AOS RESULTADOS .................................................................. 73 6.4 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .............................. 74 1 INTRODUÇÃO 1.1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS O desenvolvimento econômico e o crescimento desordenado das populações, associado ao estilo de vida da sociedade moderna, configuram-se em processos complexos que compartilham um denominador comum: a disponibilidade de um abastecimento adequado e confiável de energia. Deste modo, da interação complexa da sociedade em que vivemos resulta uma relevante preocupação com o meio ambiente e suas fontes de energias. Para Dorigon (2008), a ameaça iminente de escassez de recursos naturais e os altos índices de poluição e degradação ambiental forçam a busca de alternativas energéticas limpas e renováveis. Portanto, percebe-se que a constante procura por práticas de produção de energia limpa, é determinante para crescimento econômico e sustentável de uma Nação. Contudo, a intranqüilidade em relação ao meio ambiente instiga questões relacionadas a todos os setores produtivos. Uma das questões preocupantes é para com a destinação adequada dos resíduos, resultantes da atividade suína. Esta biomassa (resíduos orgânicos) em sua grande maioria é disposta na natureza de forma inadequada, fator nocivo ao ambiente natural e que impossibilita à agregação de valor à propriedade por meio da produção e consumo de Biogás, o que, por conseguinte, retrai o processo de otimização de custos, comprometendo, indiretamente, a profissionalização e a sustentabilidade da propriedade rural. Sabe-se que no Brasil, de acordo com o IBGE (1993), a atividade suína é muito desenvolvida em pequenas propriedades. Cerca de 81,7% dos suínos são criados em unidades de até 100 hectares (ha). Essa atividade primária se encontra em 5,8 milhões de propriedades existentes no país, empregando mão-de-obra tipicamente familiar e constituindo uma importante fonte de renda e de estabilidade social. Tendo, portanto, a atividade de criação papel determinante na manutenção de propriedades rurais, é fundamental perceber a necessidade de agregar valor a mesma. Esta ação é viável e plenamente passível de execução por meio da 17 produção de energia elétrica, a partir da biomassa oriunda dos resíduos orgânicos de suínos. Observe-se que, além de viabilizar o processo de profissionalização da propriedade por meio da redução de custos relativos ao consumo de energia elétrica a operacionalização desses instrumentos de sustentabilidade, também possibilita a eliminação dos fatores de riscos à sanidade dentro da propriedade, por meio da destinação adequada do material, em todas as etapas do processo. A implantação de um equipamento denominado biodigestor em propriedades rurais viabiliza de modo sistêmico o tratamento dos dejetos a partir da coleta até a consecução de um bem final limpo e ecologicamente correto: o biogás. Contudo, o processo de instalação do equipamento deve resultar da análise obtida por meio do confronto das variáveis econômicas, naturais e sociais, observadas na propriedade e devendo ser realizado, portanto, um trabalho criterioso de investigação das potencialidades e limitações dentro de cada cenário rural. No entanto, posteriormente a análise das variáveis, torna-se pertinente estabelecer um processo acurado de mensuração do tempo e montante do investimento e das variáveis econômico-financeiras e de rentabilidade, resultados que, por sua vez, serão representados por meio do Valor Presente Líquido (VLP). Desse modo, observando-se a atividade criatória, percebe-se que políticas governamentais de apoio à utilização de fontes renováveis de energia são importantes ferramentas na implementação e desenvolvimento de uma cultura preservacionista com vistas à manutenção das condições ideais de vida no planeta. É fato que profissionalizando os criadores, aperfeiçoam-se os processos de gestão das propriedades, ou seja: todos os fatores; quer naturais, sociais ou econômicos, passam a ser observados, analisados e acompanhados. Sendo assim, a atividade produtiva decorre por meio do manejo adequado dos recursos naturais, não interferindo na preservação das espécies. Cabe ressaltar que a visão que o suinocultor tem de sua atividade e a extensão de seus impactos junto ao meio ambiente está proporcionalmente ligada à disponibilidade das fontes de educação e, entenda-se, profissionalização a que este tem acesso. Portanto, ao disponibilizar uma tecnologia que possibilite gerar energia limpa, mais propriamente o biogás, no meio rural, não se está somente vislumbrando uma possibilidade de redução de custos, mas, principalmente, a implementação de uma importante premissa à obtenção da sustentabilidade na pequena propriedade rural. 18 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA A disposição dos resíduos orgânicos e inorgânicos na natureza vem sendo citada como uma das grandes preocupações dos ambientalistas, não só pelos impactos devastadores que causam ao meio ambiente, mas também pelos riscos indiretos que geram a qualidade de vida do homem no planeta. Uma das atividades responsáveis pela aglomeração de grandes quantidades de biomassa é a atividade suína e, justamente por isso, encontra-se no foco das demandas ambientais das comunidades locais e das sociedades em nível global e seus governos; quer pelos aspectos ligados à veiculação de doenças e, portanto, à saúde pública; pela contaminação de cursos d’água e lençóis freáticos, na abordagem ambiental ou ainda por questões sociais. Diante desse cenário de mobilização social, decorrem muitas iniciativas voltadas à minimização ou eliminação dos fatores negativos decorrentes da suinocultura, ou seja, modos de transformar fatores problema como a biomassa suína em produtos economicamente viáveis gerando, desse modo, agregação de renda a atividade rural. De acordo com a FNP (2005), nesse período, o Brasil contava 34,5 milhões de cabeças de suínos, salientando que a que maior parte deste rebanho esta localizado na região Sul do país. Diante desses números, verificou-se a ocorrência de uma grande quantidade de biomassa de dejetos suínos. Konzen (1983), diz que um animal adulto produz, em média, cerca de 0,27 m3 de dejetos líquidos por mês. Estima-se que o montante de dejetos gerados pela população de suínos no País seja suficiente para a produção de cerca de 4 milhões de m3/dia de biogás. Admitindo-se um consumo médio mensal de energia elétrica por residência de 170 kw/mês a suinocultura brasileira poderia atender mais de 350 mil residências. Portanto, esta atividade representauma importante fonte de agregação de valor, uma vez que culmina em grandes benefícios sociais e econômicos, por meio da geração de empregos diretos e indiretos e renda nas áreas rurais e urbanas. A recente aprovação de projetos no âmbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto no Protocolo de Quioto, com o objetivo de 19 diminuir a emissão de gases causadores do efeito estufa, vem ao encontro da necessidade de se criar novas e positivas expectativas em relação à minimização dos impactos ambientais ocasionados pela suinocultura, por meio da utilização de biodigestores para produção de biogás com vistas na transformação em energia elétrica, a partir dos resíduos resultantes da atividade. Desse modo, incluindo ao fato de se configurar como o primeiro passo rumo à sustentabilidade à produção de biogás, viria conferir a atividade uma imagem mais responsável junto aos profissionais e empresas ligados a órgãos de preservação e a sociedade como um todo. Esses projetos podem gerar renda para os fazendeiros e trazer grandes benefícios ambientais tanto para o planeta quanto para as áreas de produção. O agravamento do efeito estufa é o mais grave problema ambiental da humanidade. Esse agravamento vem sendo causado pelo aumento da concentração atmosférica dos gases de efeito estufa e está relacionado com as emissões, principalmente de dióxido de carbono; de metano e de óxidos nitrosos. Estimativas recentes (CCE, 2004) indicam que os dejetos de animais são responsáveis por 5 a 10% de todo o metano gerado no mundo. Portanto é natural focar a discussão deste trabalho na verificação da viabilidade econômica da produção de biogás, a partir do metano, demonstrando que por meio da implementação de um equipamento biodigestor na propriedade, a suinocultura assume um caráter mais rentável, com níveis significativamente mais baixos de impacto junto ao ambiente natural, tornando, desse modo, a atividade criatória não só viável economicamente, mas também sustentável. Assim, diante da análise de todos os fatores que compõem este cenário, torna-se importante à verificação da viabilidade econômica da utilização do biogás como fonte geradora de energia elétrica. Definindo-se, portanto, como questão de pesquisa: como sistematizar um procedimento que permita estudar a viabilidade econômica da utilização do biogás em uma propriedade rural 1.3 JUSTIFICATIVA A necessidade de produzir mais alimentos com custo reduzidos, com vistas na competitividade e atendimento das principais demandas internacionais, ocasionadas pelo crescimento populacional e das atividades industriais trazem como 20 conseqüência uma necessidade cada vez maior de produção de energia e o aumento na geração de resíduos sólidos. Estes fatores impõem alguns problemas a serem solucionados, tais como: os relativos às questões ambientais, disponibilidade e custos de energia. A realização da atividade de modo rudimentar impõe agressões ao meio ambiente para suprir as necessidades de produção. Porém, podem-se equilibrar os benefícios versus prejuízos da suinocultura por meio de práticas de gestão, que agreguem valor aos processos, minimizando os fatores agressivos e viabilizando a ascensão da rentabilidade, tornando as propriedades rurais eficazes e sustentáveis. Alcançar índices constantes de desenvolvimento sustentável e uma economia crescente é o foco da reestruturação da sociedade mundial, uma vez que não basta somente produzir, é necessário que também se pratique a cultura da preservação, uma vez que os efeitos das atividades devastadoras são sentidos de modo significativo em todas as regiões do globo. Deve-se ressaltar que também é possível se produzir energia a partir de outras fontes alternativas tais como eólica e pequenas centrais hidroelétricas. De acordo com o mencionado anteriormente e segundo os dados divulgados pela FNP (2005), no Brasil, no referido ano, eram contadas 34,5 milhões de cabeças de suínos, sendo que maior parte deste rebanho se alocava na região Sul do país. Portanto, tem-se aqui uma grande quantidade de biomassa de dejetos suínos. Sendo assim, a concentração do rebanho na região sul do Brasil se configura em um significativo diferencial, ou seja, para distribuição da energia elétrica gerada a partir do biogás não são necessários investimentos na construção de linhas de transmissão, pela proximidade da fonte geradora ao centro consumidor. Segundo a Agência Estado (2003), além da oportunidade de gerar energia elétrica para diversificar a matriz energética com uma alternativa descentralizada, a utilização do biogás de biomassa de suínos contribui para diminuir as conseqüências das mudanças climáticas, uma vez que o gás metano, produzido pelos resíduos sólidos, é mais nocivo que o gás carbônico (CO2) na formação do efeito estufa. Com isso, projetos de aproveitamento desse recurso são passíveis de comercialização de créditos no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, previsto no Protocolo de Quioto. Portanto, é relevante estudar a viabilidade econômica da instalação de biodigestores com vistas na ampliação para todo o país, da geração de energia 21 elétrica a partir do biogás, sendo este uma fonte de energia renovável e de grande potencial econômico e social. 1.4 OBJETIVOS 1.4.1 Objetivo geral O presente trabalho tem por objetivo geral criar um procedimento para avaliar a viabilidade econômica da geração de energia elétrica com a utilização do biogás, proveniente de biomassa de dejetos suínos e apresentá-los por meio de um modelo matemático, de modo que possamos expressar este modelo em forma de uma programação linear. 1.4.2 Objetivos específicos � Determinar todas as variáveis relevantes na delimitação do cenário rural; � Verificar a capacidade de geração de biomassa da propriedade; � Avaliar o potencial de geração de biogás, conforme necessidades da propriedade; � Sistematizar o procedimento de análise da viabilidade econômica da implantação de um biodigestor para a geração de energia elétrica utilizando o biogás gerado com biomassa de dejetos suínos; � Aplicar o procedimento para análise da viabilidade econômica da implantação de um biodigestor na propriedade analisada. 1.5 LIMITAÇÃO DO TRABALHO Este trabalho se baseou em dados de uma propriedade rural como referência na coleta de dados, fazendo um estudo de caso para análises e comparações com propriedades que desenvolvem a atividade suína. Portanto, serão utilizados os valores de investimento e custo de manutenção e operação do biodigestor para geração de energia elétrica e do sistema de captação do biogás e transformá-lo em energia elétrica. 22 Para a geração da energia foi desenvolvido um modelo matemático que representa por meio dos dados coletados a viabilidade econômica da instalação do biodigestor. Este modelo, que representa o processo como um todo, foi apresentado em forma de programação linear por meio do Matlab 2007. A avaliação do empreendimento foi baseada na análise da viabilidade econômica e não foram considerados os benefícios sócio-ambientais e o impacto financeiro no setor público pelas receitas da venda do biogás; energia elétrica e créditos de carbono. 1.6 ESTRUTURA DO TRABALHO Além do presente capítulo, onde estão apresentados o problema de pesquisa; a justificativa e os objetivos, esta dissertação contém mais quatro capítulos. No capítulo 2, apresenta-se uma revisão bibliográfica a respeito dos conceitos necessários ao entendimento do tema da pesquisa. Inicialmente é abordada a origem da biomassa; a produção de biogás com instalaçãode um biodigestor e suas implicações no meio ambiente, e alternativa de renda na propriedade. O capítulo 3 apresenta os métodos e materiais utilizados para a realização deste trabalho. Assim teremos no capítulo 4 um modelo matemático que apresenta a viabilidade da instalação de um biodigestor. Este modelo também é apresentado na forma de programação linear, por meio do Matlab 2007. No capítulo 5 são apresentados os resultados da pesquisa. Num primeiro momento é feita a explanação do procedimento criado para avaliação da viabilidade econômica da geração de energia elétrica com a utilização do biogás proveniente da decomposição anaeróbica de resíduos de suínos. Após é aplicado o procedimento ao estudo de caso a uma propriedade. Teremos no capítulo 6 uma analise de resultados, com apresentação de demonstrativos de cenários com resultados do modelo. Também traz as conclusões da pesquisa e sugestões para outros trabalhos relacionados ao tema estudado. 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1 BIOMASSA Na natureza estamos cercados de materiais orgânicos e, diante disso, podemos denominar por biomassa todos os materiais, que por causas biológicas são passíveis de decomposição, ou seja, pela ação de diferentes tipos de bactérias. Também Menezes (2007), define como Biomassa a matéria orgânica capaz de ser processada para a produção de energia e combustíveis. A biomassa decomposta sob a ação de bactérias metanogênicas (produtoras de metano) produz biogás em maior ou menor quantidade, em virtude de diversos fatores: temperatura, nível de pH, relação Carbono/Nitrogênio, presença ou não de oxigênio, nível de umidade, quantidade de bactérias X volume de biomassa, entre outros. Podemos encontrar matéria orgânica passível de ser decomposta nas cidades, no meio rural (agricultura ou pecuária), nas regiões litorâneas, existindo grande concentração de seres vivos (tanto vegetais como animais). Podemos afirmar então que estamos cercados de biomassa em todos os ambientes em que vivemos. Sem dúvida, a energia produzida a partir do biogás, configura-se como uma das fontes disponíveis mais adequadas e facilmente disponibilizadas para a utilização no meio rural e não apenas como fonte de calor em dias frios ou para o preparo de comidas, mas também como alimentação energética de caldeiras e instrumentos movidos a vapor. Além disso, a produção de biomassa com fins energéticos dentro da propriedade rural se traduz na fonte de energia que pode ser obtida com o menor impacto ambiental entre as demais. Segundo a resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) n°001/86, impacto ambiental é qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente afetem: a) A saúde, a segurança e o bem estar da população; b) As atividades sociais e econômicas; 24 c) A biota; d) As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; e) A qualidade ambiental. Restos de culturas, como o milho, podem ser utilizados como fonte energética de combustão a partir de biomassa, pois é sabido que os restos culturais de milho não atuam como fonte eficaz de reposição de nutrientes do solo, sendo freqüentemente queimados, além de representar pouco para nutrição animal devido sua baixa constituição nutricional, palatabilidade e digestibilidade. O colmo de milho pode, por meio de técnicas de prensagens, constituir-se de blocos de carvão para serem utilizados energeticamente por meio de combustão. Este mesmo sistema de produção de carvão pode ser utilizado também com a biomassa de pastagens. No entanto, estes restos culturais cobrem o solo, sendo contribuintes na reposição de matéria orgânica e, por isto, a utilização dos mesmos como combustíveis deve ser delimitada somente após a realização de uma análise criteriosa. O uso de lenha no Brasil é bastante difundido, apesar de ter perdido importância desde a década de 50. Até os anos 40, a biomassa correspondia a 80% da energia consumida e, na década de 60, já havia caído para 45% do total. O Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) subsidiado pelo governo foi a fonte energética que mais contribuiu para esta queda na utilização da lenha, uma vez que passou a ser largamente utilizado em âmbito residencial como combustível. As indústrias metalúrgicas, por sua vez, e mais recentemente, também a substituíram. A produção de biogás, metano (CH4), por meio da decomposição de resíduos orgânicos, também é reconhecidamente uma fonte de energia oriunda da utilização da biomassa. Os alcoóis se constituem numa outra fonte importante de energia, oriunda da produção de biomassa. O álcool obtido por meio da fermentação de açúcares presentes na composição de vegetais. A capacidade de converter energia solar em energia bioquímica e o seu armazenamento varia bastante, sendo que vegetais como a cana-de-açúcar e o sorgo sacarino são bons exemplos de ótima conversão, pois são gramíneas C4. Conforme Menezes (2007), toda biomassa pode ser utilizada para produzir tanto etanol quanto metanol, sendo que a madeira, por exemplo, é quase toda 25 aproveitada, se for utilizada para a produção de metanol, enquanto que para a produção de etanol, seu aproveitamento é de cerca de 50%. Os cálculos de balanço energético mostram o etanol como um potencial substituto à gasolina automotiva. Além das vantagens de ser menos poluente quanto aos resíduos oriundos da combustão, é renovável. A fotossíntese e o ciclo do carbono correspondem às reações responsáveis pelo sucesso da utilização da biomassa como energia pelas propriedades rurais e serão descritas a seguir. 2.1.1 Biomassa de dejetos suínos Neste estudo, utilizaremos a biomassa de dejetos de suínos para produção de biogás, sendo que esta será transformada em energia elétrica. Podemos também citar, dejetos de outros animais, como: bovinos, caprinos, muares, bufalinos e aves, que podem ser utilizados, sendo que alguns podem apresentar um rendimento maior, em determinados aspectos, ao de origem suína. Devemos analisar cada propriedade com cautela, pois, apenas como exemplo, os dejetos oriundos de aves podem conter certos níveis de resíduos de antibióticos. Tais resíduos, quando acondicionados no interior dos biodigestores podem diminuir a produção do biogás ou mesmo reduzir ou destruir completamente a população de bactérias metanogênicas, devido à sua ação bactericida. Na tabela a seguir podemos verificar a quantidade de dejetos de alguns animais. Tabela 1- Produção de dejetos por rebanhos de animais Tipo de animal Média de dejeto (em kg/dia) Aves 0,18 Bovino 10,0 Eqüino 10,0 Ovino 2,80 Suíno 2,25 Fonte: Sganzerla, 1983 Na tabela abaixo os dejetos de suínos apresentam uma grande capacidade de produção de biogás, superior aos de aves e muito próximo dos de ovinos, perdendo apenas para bovinos e eqüinos, que são, de longe, os que apresentam 26 maior capacidade de produção de biogás. Uma das dificuldades principais na utilização do estrume de suínos é que seu processo de fermentação é mais lento que dos demais. Tabela 2 - Expectativa de produção de biogás por biomassa por rebanhos Biomassa (dejetos) Produção de Biogás (Material seco em m³/ton) Gás metano Aves 285 Variável Bovinos 270 55% Eqüinos 260 Variável Ovinos 250 50% Suínos 560 50% Fonte: Sganzerla, 1983. Apenas como comparação e convém salientar que os dejetos de bovinos produzem apenas 270m³ de biogás/tonelada, sendo o índice de presençade metano neste biogás de 55%, ou seja, apenas 5% a mais que o índice alcançado pelo estrume de suínos. Esta excelente produção de biogás a partir de dejetos suínos é o fator que melhor compensa a demora destes dejetos em começar a produção de biogás, além da presença de grande quantidade inicial de gás carbônico em relação ao nível de metano. Assim, diante de todas as informações pertinentes à transformação de biomassa em biogás, a escolha do modelo de biodigestor deve ser determinada a partir da análise da qualidade de biomassa que estará disponível para utilização, uma vez que só assim será possível calcular, com precisão, a capacidade real de produção de biogás, após ser instalado o equipamento de biodigestão. O nível de consumo diário de biogás para a atividade a que o mesmo está destinado se constitui noutra variável muito importante a se levar em conta, quando da definição acerca das dimensões do equipamento. A geração de energia elétrica a partir de gás natural é feita pela queima do gás combustível em turbinas a gás, cujo desenvolvimento é relativamente recente, após a Segunda Guerra Mundial. 27 Nos últimos anos, esse quadro tem se modificado substancialmente, na medida em que o gás natural surge como uma das principais alternativas de expansão da capacidade de geração de energia elétrica em vários países, inclusive no Brasil. 2.1.2 Suinocultura A suinocultura no Brasil é uma atividade predominante nas pequenas propriedades rurais com importância relevante do ponto de vista social e econômico, especialmente como instrumento de fixação do homem no campo. Cerca de 81,7% dos suínos são criados em unidades de até 100 hectares. Essa atividade se encontra presente em 46,5 % das 5,8 milhões de propriedades existentes no país, empregando mão-de-obra tipicamente familiar e constituindo uma importante fonte de renda e de estabilidade social. A suinocultura é considerada pelos órgãos ambientais como “atividade potencialmente causadora de degradação ambiental”, sendo enquadrada como de grande potencial poluidor. Pela Legislação Ambiental (Lei 9.605/98 – Lei dos Crimes Ambientais), o produtor pode ser responsabilizado criminalmente por eventuais danos causados ao meio ambiente e à saúde dos homens e animais. Os dejetos suínos, até a década de 70, não constituíam fator preocupante, pois a concentração de animais era pequena e o solo das propriedades tinha capacidade para absorvê-los ou eram utilizados como adubo orgânico. Porém, o desenvolvimento da suinocultura trouxe a produção de grandes quantidades de dejetos, que pela falta de tratamento adequado, se transformou na maior fonte poluidora dos mananciais de água. 2.1.2.1 Cabeças de suínos no Brasil O rebanho suíno brasileiro tem a sua maior representação numérica, econômica e tecnológica na região Sul. Seguem pela ordem as regiões Sudeste, Centro Oeste, Nordeste e Norte. Tendo em vista o tamanho continental do nosso país e a influência européia na criação de suínos, na região Sul se concentra a maior parte das indústrias e, por conseqüência, uma tecnologia de ponta. As regiões Sudeste e Centro-Oeste 28 também têm se destacando na suinocultura brasileira, sobretudo nos grandes investimentos que estão sendo feitos nos estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul de modo especial. As regiões Norte e Nordeste que detêm um rebanho muito grande têm uma importância social e econômica expressiva para estes estados. Hoje, o rebanho brasileiro está estimado conforme tabela e gráfico abaixo: Tabela 3 - Rebanho suíno por região geográfica do Brasil Região N° cabeças (milhões) % Estados Sul 13, 34,21 RS, SC, PR Sudeste 7,20 18,95 MG, ES, RJ, SP Nordeste 8,75 23,03 MA, PI, CE, RN, PB, AL, SE, BA, PE Centro-Oeste 6,15 16,18 MT, MS, GO, DF Norte 2,90 7,63 RO, AC, AM. PR. PA, AP, TO TOTAL 38, 100, Fonte: IBGE, 2003 De acordo com a tabela e dados do IBGE, em 2003, podemos observar que maior concentração de animais está localizada na região Sul do País. Também podemos relatar que na região Sul a maior concentração de animais está no Estado de Santa Catarina. Tabela 4 - Rebanho suíno no RS – 1997 a 2007 ANO CABEÇAS 1997 4.066.847 1998 4.055.024 1999 4.140.468 2000 4.133.303 2001 4.076.247 2002 4.036.952 2003 4.145.052 29 2004 4.094.030 2005 4.216.851 2006 4.343.356 2007 4.473.657 Fonte: Associação gaúcha de suinocultores, 2006 Conforme dados apresentados nesta tabela podemos verificar um crescente aumento no número de animais. Isso nos leva a acreditar em uma grande oportunidade para produção de biogás e assim produção de energia elétrica limpa. 2.1.3 Processos de transformação 2.1.3.1 Passagem de matéria à energia No processo de digestão anaeróbica a estrutura de materiais orgânicos complexos é atacada por determinadas bactérias, estas atuam na ausência de oxigênio, assim formam compostos simples, como:metano, dióxido de carbono, água e outros. Conforme com a figura nº. 01 - Digestão anaeróbica. Figura 1 – Esquema resumido de digestão anaeróbica, adaptado de Chernicharo (1997). 30 A transformação da matéria orgânica em diversas substâncias químicas, no decurso da fermentação anaeróbica, processa-se por meio de uma cadeia de degradações sucessivas devidas a diferentes tipos de bactérias. Observe-se que é possível verificar no decorrer do processo de fermentação metanogênica, duas fases seqüenciais distintas: A primeira fase configura-se na transformação das moléculas orgânicas em ácidos gordos, sais ou gás. Seqüencialmente, tem-se a transformação destes numa mistura gasosa essencialmente constituída por metano e dióxido de carbono. Por sua vez a atividade de decomposição das bactérias depende intimamente da temperatura. Ela é fraca a 10°C e nula acima dos 65°C. A faixa dos 20°C a 45°C corresponde à fase mesófila, enquanto que entre os 50°C e os 65°C, temos a fase termófila. É importante, portanto que os níveis de temperatura de trabalho sejam definidos por meio da análise do volume de gás a produzir, o grau de fermentação e o tempo de retenção. Existe uma diferenciação da aceitação de variação dos níveis de oscilação de temperatura no decorrer do processo, ou seja, na fase mesófila, as variações de temperatura são aceitáveis desde que não sejam bruscas. Já na fase termófila, não é pertinente que ocorram variações térmicas, porém esta permite cargas mais elevadas e um tempo de relação menor, com maiores taxas de produção de gás. Outro parâmetro que influência a digestão anaeróbica é o pH do meio. Em meio ácido, a atividade enzimática das bactérias é anulada. Num meio alcalino, a fermentação produz anidrido sulfuroso e hidrogênio. A digestão pode se efetuar entre os pH de 6,6 e 7, 6, encontrando-se o ótimo a pH=7. Para valores abaixo de 6,5, a acidez aumenta rapidamente e a fermentação para. Em relação à matéria a fermentar, há que levar em consideração a relação corbono/nitrogênio (C/N), que deve ter um valor compreendido entre 30 e 35. Acima deste valor, o processo é pouco eficaz, uma vez que as bactérias não têm possibilidade de utilizar todo o carbono disponível. Para um valor baixo, corre-se o perigo de aumentar a quantidade de amoníaco, que pode atingir os limites da toxidade. É de considerar também a presença de fósforo, já que a sua ausência, conduz à paragem da fermentação. Sendo que as bactérias apresentam baixa resistência a matérias tóxicas, deve ser evitada a presença de detergentes e outros produtos químicos, uma vez 31 que uma pequenaconcentração destes produtos, para provocar a intoxicação e morte das bactérias. 2.1.4 Sistemas de digestão Dentro do processo de experimentação com vistas no aproveitamento dos compostos simples, vários foram os sistemas de digestão concebidos, no decorrer da história da humanidade e do próprio homem como ser inventivo e insatisfeito, sendo que de modo concomitante, verifica-se o surgimento de inúmeros equipamentos digestores, os quais visavam atender necessidades isoladas de grupos de indivíduos, atividades ou regiões específicas. Porém, distinguem-se dois grandes tipos de digestores: os contínuos e os descontínuos. São muitos os fatores que determinam à escolha de um sistema, no entanto, essencialmente devem ser observadas as características do substrato; as necessidades de depuração; a disponibilidade de mão-de-obra e as condições de ordem econômica. 2.1.4.1 Sistema de digestão contínuo O sistema contínuo se caracteriza pela introdução da matéria orgânica na cuba de fermentação, a uma determinada taxa de diluição (a qual depende do tipo de matéria orgânica a fermentar), ficando retida durante vários dias. Importante é correlacionar o tempo de retenção ao volume de gás a produzir e o grau de digestão que se pretende a temperatura de funcionamento. Depois de carregada a cuba e iniciada a fermentação, impõe-se a estabilização do sistema. Nessa fase é relevante à verificação sistêmica de todos os parâmetros como o pH, temperatura, qualidade do efluente, produção e qualidade do gás. A estabilização do sistema pode ser demorada e algumas correções podem ser exigidas. Neste tipo de fermentação, é absolutamente necessária à agitação da matéria orgânica incubada, a fim de evitar a formação de crostas na superfície, a decomposição de matéria no fundo, permitir a higienização na concentração das bactérias e manter uma temperatura uniforme no interior da cuba. 32 A produção de biogás é uniforme no tempo e a quantidade produzida ocorre em função do tipo de matéria orgânica utilizada. 2.1.4.2 Sistema de digestão descontínuo O sistema de digestão descontínuo se caracteriza por um funcionamento irregular. Assim, a cuba de fermentação é totalmente carregada periodicamente. Neste processo, o fator diluição não é considerado um problema, uma vez que a matéria orgânica é fermentada praticamente sem adição de água. Com altos níveis de fermentação aeróbica, fortemente exotérmica, inicia-se o processo de digestão descontínuo onde ocorre a degradação das moléculas pouco polimerizadas e que podem ser um fator de acidificação do meio. Em média a duração desta fermentação é de 2 a 8 dias, seguindo-se a fermentação anaeróbica durante um período de 30 a 40 dias, aproximadamente. Dentro deste processo de fermentação não cabem correções, sendo também a temperatura um fator pouco crítico, porém ao observar ocorrências não previstas é pertinente abortar o processo e reiniciá-lo. O processo de digestão descontínuo é tido como simples e geralmente apresenta um bom funcionamento com resultados satisfatórios, onde a produção de gás é irregular e o volume produzido é da ordem dos 60 m³ (Metros Cúbicos) por tonelada de matéria bruta. 2.1.4.3 Indicações de uso dos resíduos nos processos de digestão Dos processos de digestão resultam dois tipos de afluentes o sólido e o líquido, os quais apresentam outras aplicabilidades. O biofertilizante é o afluente sólido dos biodigestores, resultante do processo de fermentação anaeróbica da matéria orgânica ao produzir biogás. Este contém muita fibra, sendo utilizado como adubação de fundação por ocasião de plantio e adubação periódica, por enterramento, em torno da copa da planta. Sua assimilação é lenta. Por sua vez, o biofertilizante líquido (biolíquido) é a parte aquosa do biofertilizante natural quando se efetua o peneiramento e a filtração, provocando-se a eliminação do conteúdo sólido. Sua utilização pode se dar por aspersão como 33 adubo folhear, diretamente no solo, junto às raízes, ou ainda em sistemas de produção hidropônicos. O biofertilizante líquido apresenta uma assimilação rápida pelas plantas, sendo assim totalmente adequado nas culturas de ciclo curto. Como o adubo possui uma composição altamente complexa e variável; por ser um produto fermentado por bactérias, leveduras e bacilos, e a matéria orgânica vegetal servida de base alimentar; contém quase todos os macros e micros elementos necessários a nutrição vegetal. O biofertilizante age como um projetor natural das plantas cultivadas, contra doenças e pragas, uma vez que apresenta efeitos fito hormonal, fungistático, de repelências contra insetos, nematecida e acaricida. O maior benefício obtido por meio do uso do biofertilizante está relacionado ao baixo nível potencial de dano ao meio ambiente, contribuindo, portanto com a manutenção da biota e condições ideais de vida e saúde humana. 2.1.5 Biogás 2.1.5.1 Conceituação Atribui-se o nome de Biogás (também conhecido como gás dos pântanos) à mistura gasosa, combustível, resultante da fermentação anaeróbica da matéria orgânica (decomposição de matérias orgânicas, em meio anaeróbico, por bactérias denominadas metanogênicas). Também diz que, Biogás é um tipo de mistura gasosa de dióxido de carbono e metano produzido naturalmente em meio anaeróbico pela ação de bactérias em matérias orgânicas, que são fermentadas dentro de determinados limites de temperatura, teor de umidade e acidez. O biogás é um combustível gasoso com um conteúdo energético elevado semelhante ao gás natural, composto, principalmente, por hidrocarbonetos de cadeia curta e linear. Pode ser utilizado para geração de energia elétrica, térmica ou mecânica em uma propriedade rural. (www.biodieselbr.com, junho, 2009). 34 2.1.5.2 Biogás - recurso natural ou bem econômico A mistura gasosa com potencial combustível determinada como biogás, advém de processos de fermentação a partir de dejetos orgânicos, porém a determinação da proporção exata de gás obtida em cada matéria depende diretamente de vários parâmetros, sendo dentro destes os principais o tipo de digestor e o substrato a digerir. De qualquer modo, a mistura ou substrato tende essencialmente a ser constituída por metano (CH4), com valores médios na ordem de 55 a 65%, e por dióxido de carbono (CO2) com aproximadamente 35 a 45% de sua composição. Estando o seu poder calorífico diretamente relacionado com a quantidade de metano existente na mistura gasosa. Justamente deste entendimento sobre características específicas dos desejos que permitem aproveitamentos, bem como dos processos de fermentação anaeróbica que produzem metano, surgiu o interesse do homem em criar formas de aliar os dois conceitos, gerando modos de efetivar o tratamento destes depósitos e gerar um bem econômico, ou seja, a energia, mais propriamente o biogás. A princípio, o processamento dos resíduos era realizado a partir de processos simples, porém, destinavam-se ao tratamento de esgotos domésticos de pequenas comunidades, ou mesmo dos resíduos da indústria agro-alimentar ou agro-pecuária. Com o passar dos tempos, estes sistemas simplificados de tratamento evoluíram nos países desenvolvidos, no final do século passado, quando começaram a ser utilizados os chamados “digestores”, para efetuar a estabilização das lamas resultantes da sedimentação primária e do tratamento biológico aeróbico dos esgotos. A produção do biogás é naturalmente encontrada em pântanos, aterros e esgotos urbanos ou rurais, entre outros. Um fato curioso está ligado ao antigo costumede se enterrar o lixo em buracos nos quintais, bastante comum ainda hoje onde não se tem serviço de coleta de lixo. Após aterrado o material orgânico no meio anaeróbico formado, sob a ação das bactérias metanogênicas, passava a produzir gás metano, em alguns casos o volume retido alcançava altas pressões produzindo rompimento do solo e freqüentemente a combustão espontânea, desprendendo enormes chamas com duração de alguns minutos, tal fato algumas vezes era erroneamente associado, por desconhecimento das pessoas 35 surpreendidas, a fenômenos sobrenaturais ou manifestações de seres místicos e folclóricos. Atualmente existem duas situações possíveis para o aproveitamento do biogás. Produção por meio da queima direta (aquecedores, esquentadores, fogões, caldeiras), ou à conversão de biogás em eletricidade. Nesta forma de produção ocorre a transformação de biogás em energia elétrica e térmica. Assim, os sistemas que produzem o biogás, podem tornar a exploração pecuária auto-suficiente em termos energéticos, por meio principalmente do aproveitamento dos desejos suínos, assim como contribuir para a resolução de problemas de poluição de fontes e mananciais, pelo derramamento desordenado de materiais orgânicos. Em vários países, o biogás é produzido em aterros sanitários e aplicado como fonte energética em diversos processos sendo até em casos específicos, comercializado para uso nas indústrias. Em São Paulo, o biogás chegou a ser utilizado, experimentalmente, em caminhões de coleta de lixo. Em algumas regiões já existem processos mais elaborados onde as usinas de açúcar e álcool estão conseguindo produzir biogás a partir do vinhoto, o produto obtido, depois de tratado e engarrafado, pode ser usado como combustível em várias aplicações nas próprias usinas e, além disso, a decomposição do vinhoto resulta em fertilizante de excelente qualidade, evitando-se assim, a poluição de rios e mananciais pelo lançamento direto do vinhoto, que é originalmente um resíduo tóxico. Portanto, diante de tantos fatos relevantes é pertinente afirmar que o biogás configura-se ao mesmo tempo em um aliado do meio ambiente uma vez que processa resíduos que primariamente seriam prejudiciais e agrega valor aos indivíduos, comunidades e principalmente propriedades rurais, por meio da diminuição de custos. 2.1.5.3 Identificação como fonte energética O Biogás era simplesmente encarado como um subproduto até há pouco tempo, obtido a partir da decomposição anaeróbica (sem presença de oxigênio) de 36 lixo urbano, resíduos animais e de lamas provenientes de estações de tratamento de efluentes domésticos. Porém, o acelerado desenvolvimento econômico das últimas décadas em confluência com a progressão acentuada dos preços dos combustíveis convencionais tem incentivado o surgimento e aprofundamento de pesquisas com vistas na produção de energia a partir de novas fontes alternativas e economicamente atrativas como a exemplo da produção de biogás a partir de biomassa suína. Saliente-se que as sucessivas tentativas de criar novas formas de produção energética têm como objetivo principal permitir que os recursos naturais esgotáveis, sejam inteligentemente geridos e preservados e também agregar valor às propriedades, gerando sustentabilidade. Relativamente ao grande volume de resíduos provenientes das explorações agrícolas e pecuárias, assim como aqueles produzidos por matadouros, destilarias, fábricas de lacticínios, esgotos domésticos e estações de tratamento de lixos urbanos (a partir dos quais é possível obter Biogás), estes apresentam uma carga poluente elevada de tal modo que impõe a criação de soluções que permitam diminuir os danos provocados por essa poluição, gastando o mínimo de energia possível em todo o processo. Assim, o tratamento desses efluentes pode se processar por intermédio da fermentação anaeróbica (metânica) que, além da capacidade de despoluir, permite valorizar um produto energético (Biogás) e ainda obter um fertilizante, cuja disponibilidade contribui para uma rápida amortização dos custos da tecnologia instalada. Obtido a partir de um processo que degrada a matéria orgânica, possibilitando a produção de energia térmica e elétrica, o Biogás vem, de modo inexorável, proporcionar novas aplicações para resíduos das explorações agro-pecuárias da atividade industrial e esgotos. 2.1.5.4 Características físico/ químicas e equivalências 2.1.5.4.1 A composição média da mistura gasosa O Biogás é um gás combustível, no qual ocorre a presença de metano, com proporção aproximada de 60%, seu poder calorífico inferior (P.C.I) é de cerca de 5500 Kcal/m3. 37 A título de comparação, o quadro que se segue apresenta os P.C.I. s para os outros gases correntes: Tabela 5 – Composição média da mistura gasosa de gases Gases Composição (%) Metano (CH4) 50 a 75 Dióxido de carbono (CO2) 25 a 40 Hidrogênio (H2) 1 a 3 Nitrogênio (N2) 0.5 a 2,5 Oxigênio (O2) 0.1 a 1 Sulfeto de Hidrogênio (H2S) 0.1 a 0,5 Amoníaco (NH3) 0.1 a 0,5 Monóxido de Carbono (CO) 0 a 0,1 Água (H2O) Variável Fonte: www.itacreto.com.br 2.1.5.4.2 Equivalências energéticas O biogás é uma fonte energética limpa e totalmente apropriado ao uso em propriedades rurais, uma vez que pode ser processado à partir da biomassa proveniente da atividade suinícola. A seguir, apresenta-se um rol comparativo entre a potencialidade energética do biogás em relação de várias outras fontes. Tabela 7 - Equivalências energéticas Biogás Demais Combustíveis 1 m³ de Biogás = 6000 Kcal 1,7 m³ de Metano 1 m³ de Biogás = 6000 Kcal 1,5 m³ de Gás de Cidade 1 m³ de Biogás = 6000 Kcal 0,8 L de Gasolina 1 m³ de Biogás = 6000 Kcal 1,3 L de Álcool 1 m³ de Biogás = 6000 Kcal 2 Kg de Carboneto de Cálcio 1 m³ de Biogás = 6000 Kcal 0,7 L de Gasóleo 1 m³ de Biogás = 6000 Kcal 7 Kw h de Eletricidade 38 1 m³ de Biogás = 6000 Kcal 2,7 Kg de Madeira 1 m³ de Biogás = 6000 Kcal 1,4 Kg de Carvão de Madeira 1 m³ de Biogás = 6000 Kcal 0,2 m3 de Butano 1 m³ de Biogás = 6000 Kcal 0,3 m3 de Propano Fonte: www.itacreto.com.br 2.1.5.4.3 Produção diária de dejetos nas diferentes fases de produção Ao estudar a composição química de diferentes dejetos de suínos, Oliveira (1994) mostrou que a quantidade de nutrientes excretados pelos animais é bastante elevada, necessitando que sejam estudados os procedimentos que possam reduzir estas perdas. Tabela 8 - Produção de dejetos suínos em diferentes fases Fases De Produção Esterco kg/Dia Esterco/Urina kg/Dia Dejetos/Líq. Litros/dia Prod. Dejetos Líq. m3/animal/m Leitão até 25 kg 0,35 0,95 1,40 0,05 Porca 3,6 11 16 0,48 Porca Lactante 6,4 18 27 0,81 Macho 3 6 9 0,28 Suíno a 25/100 kg 2,3 4,9 7 0,25 Média 2,25 5,8 8,6 0,27 Fonte: Adaptação de OLIVEIRA, Paulo A. V., 1994 2.2 BIODIGESTOR 2.2.1 Conceituação O estudo de várias fontes permite determinar quais fatores são primordiais na conceituação do equipamento biodigestor, conforme segue. Configura-se como Biodigestor, o equipamento em cujo interior se propiciam condições controladas de temperatura, umidade, homogeneidade e aeração durante 39 a produção de composto. Nele ocorre a produção de gás metano, que pode ser usado como combustível. (www.fepam.rs.gov.br, junho, 2009). Nesta fermentação anaeróbica de matéria orgânica, produzindo biofertilizantes e gás metano (biogás). (www.moodle.virtual.ufpb.br, junho, 2009) Biodigestor é um tanque protegido do contato com o ar atmosférico, onde amatéria orgânica contida nos efluentes é metabolizada por bactérias anaeróbias (que se desenvolvem em ambiente sem oxigênio). Neste processo, os subprodutos obtidos são o gás (Biogás), uma parte sólida que decanta no fundo do tanque (Biofertilizante), e uma parte líquida que corresponde ao efluente mineralizado (tratado). (www.ambientebrasil.com.br) 2.2.2 Surgimento e evolução do equipamento de biodigestão Tudo leva a crer que o “gás dos pântanos” foi considerado por Shirley em 1667. No entanto, foi só um século mais tarde que se volta a reconhecer a presença de metano no gás dos pântanos. Já no século XIX, Ulysses Gayon, aluno de Louis Pasteur, realizou a fermentação anaeróbica de uma mistura de estrume e água, a 35°G, conseguindo obter 100 litros de gás por m³ de matéria. Em 1884, Louis Pasteur, ao apresentar à Academia das Ciências os trabalhos do seu aluno, considerou que esta fermentação podia constituir uma fonte de aquecimento e iluminação. Porém, por volta do ano de 1806, na Inglaterra, Humphrey Davy identificou um gás rico em carbono e dióxido de carbono, resultante da decomposição de dejetos animais em lugares úmidos. Nogueira (1986) ressalta que apenas em 1857, em Bombaim, na Índia, foi construída a primeira instalação operacional destinada a produzir gás combustível, para um hospital de hansenianos. O mesmo autor ressalta que nesta mesma época, pesquisadores como Fisher e Schrader, na Alemanha e Grayon, na França, entre outros, estabeleceram as bases teóricas e experimentais da biodigestão anaeróbia. Posteriormente, em 1890, Donald Cameron projetou uma fossa séptica para a cidade de Exeter, Inglaterra, sendo que o biogás produzido foi utilizado para iluminação pública de algumas ruas da cidade de Exeter, na Inglaterra, a que se seguiram outras experiências motivadas 40 principalmente pelo entusiasmo inicial que este processo atingiu, mas apesar disso, este combustível não conseguiu vingar como substituto dos tradicionais. Somente com o inicio da 2ª Guerra Mundial, a biodigestão começou a ser fortemente difundida entre os países europeus, usando-se o biogás em substituição aos derivados de petróleo, por meio da queima direta e o uso em veículos. Porém, terminado o conflito, caiu substancialmente o uso desta tecnologia, com exceção da Índia, China e África do Sul, regiões onde seu desenvolvimento permaneceu, mas mais restrito a propriedades de pequeno porte. (GASPAR, 2003). Inegavelmente, a pesquisa e o desenvolvimento de biodigestores evoluíram muito na Índia, onde, em 1939, o Instituto Indiano de Pesquisa Agrícola desenvolveu a primeira usina de gás de esterco, em Kanpur. Para Nogueira (1986), o sucesso obtido animou os indianos a continuarem as pesquisas, formando o Gobar Gás Institute (1950) cujas pesquisas resultaram em grande difusão da metodologia de biodigestores como modo de tratar os dejetos animais, obter biogás e ainda conservar o efeito fertilizante do produto final. Foi esse trabalho pioneiro, realizado na região de Ajitmal (Norte da Índia), que permitiu a construção de quase meio milhão de unidades de biodigestão no interior daquele país. A utilização do biogás, também conhecido como gobar gás ou gás de esterco, como fonte de energia motivou a China a adotar a tecnologia a partir de 1958, onde, até 1972, já haviam sido instalados aproximadamente 7,2 milhões de biodigestores na região do Rio Amarelo (GASPAR, 2003). Para os chineses, a implantação de biodigestores se transformou em questão vital, tanto pela posição geográfica, como pelo excesso populacional, uma vez que a produção do biogás garantia uma alternativa sustentável de energia, a qual, em caso de ataque às centrais energéticas, possibilitaria a continuidade pelo menos de parte das atividades econômicas, Durante as décadas de 70 e 80, a maior parte das aplicações do processo de biodigestão anaeróbia no meio rural foi direcionada para os dejetos animais, sendo que os níveis de biogás produzidos foram consideráveis, porém muitas dessas instalações não operaram por muito tempo devido ao custo excessivo e às dificuldades operacionais (ROSS et al. 1996). As dificuldades citadas por este autor serão as mesmas que ocorreram no Brasil, como demonstrado por estudos da Emater e da Embrapa Suínos e Aves. 41 Especificamente, uma delas, dificuldade de operação, e a que, novamente, tem se mostrado como um limitante ao correto manejo dos biodigestores na atualidade. 2.2.3 Vantagens da instalação do biodigestor Sabendo-se que os biodigestores são equipamentos apropriados ao recebimento dos dejetos que são formados pela urina e fezes, restos de alimentação. Podemos ressaltar as inúmeras vantagens de sua instalação junto às propriedades rurais. Dentre os principais benefícios de instalação do equipamento adequado de biodigestão de dejetos suínos temos: � Baixo custo de implantação e operacional; � Adequada eficiência na remoção das diversas categorias de poluentes (Matéria orgânica biodegradável, sólidos suspensos, nutrientes e patogênicos.) � Não há consumo de energia elétrica, uma vez que dispensa o uso de bombas, baixa demanda de área, reduzindo os custos de implantação. � Produção de metano, gás de elevado teor calorífico. � Favorece a preservação das colônias de bactérias, dando sustentabilidade ao sistema e possibilita a recuperação de subprodutos úteis, visando sua aplicação com fertirrigação de culturas agrícolas. Para Oliver (2008), as exigências são mínimas em relação as vantagens de instalação do biodigestor de dejetos suínos nas propriedades rurais, conforme segue o esquema da Figura nº02 – Exigências e vantagens da biodigestão. B I O D I G E S T O R E X I G Ê N C I A S R E S ID U O S A G R O P E C U Á R IO S M A N E J O A D E Q U A D O IN V E S T IM E N T O IN IC IA L O P E R A Ç Ã O E M A N U T E N Ç Ã O B IO G Á S – E L E T R IC . E C A L O R B IO F E R T IL IZ A N T E R E D U Ç Ã O D E C U S T O S R E D U Ç Ã O D E P O L U IÇ Ã O B E N E F Í C I O S Figura 2. – Exigências e vantagens da biodigestão. Fonte: Adaptado de Oliver (2008) 42 Para Cunha (2006), o produtor rural pode reduzir custos, ao economizar gás e/ou energia elétrica. Desse modo, o uso do biogás pode reduzir a demanda por gás de cozinha ou por energia elétrica e evitar a poluição dos rios. Claro que o efeito isolado, sob o ponto de vista energético, e de aquecimento global é pequeno, mas, se um percentual grande de propriedades passarem a adotar este esquema, ele pode representar algo mais significativo. E, nesta guerra contra o aquecimento e o uso desvairado de recursos naturais, qualquer ajuda é bem-vinda. 2.2.4 Dimensionamento do equipamento de biodigestão Para que seja definido o dimensionamento adequado do equipamento de biodigestão é necessário observar que existem vários modelos de biodigestores. Os mais simples possuem um único estágio: alimentação contínua e sem agitação. O tempo de retenção dos dejetos depende da capacidade das bactérias em degradar a matéria orgânica. Um método prático de estimar o tamanho do biodigestor será calculado pelo produto da carga diária e do tempo de retenção, conforme a fórmula: VB = VC X TRH � VB = Volume do biodigestor (m³); � VC = Volume da carga diária (dejetos+água) (m³/dia); � TRH = Tempo de retenção hidráulica (dias). Para calcular o volume da carga diária, é necessário conhecer a média da massa de dejetos produzida e somar a quantidade de água, observando a relação esterco/água, de acordo com os dadosdescritos na tabela nº. 08 – Produção de dejetos. Portanto, tendo em vista a realidade da propriedade estudada e a estrutura de seu plantel, é possível estimar por meio da fórmula a seguir, qual será a quantidade de dejetos produzidas por dia. 43 VT (m3/dia) = N x volume de dejetos/ dia Onde: VT – Volume total de dejetos por dia (m³/dia). N – Número total de animais por fase. V – Volume de dejetos produzidos por animal (m³/dia). Podemos encontrar o volume total de dejetos da propriedade, multiplicando o número total de animais pelo volume de dejetos de cada animal por dia. 2.2.5 Determinação, adequação e funcionamento do equipamento Um dos sistemas mais conhecidos de obtenção do biogás é o biodigestor para aplicação rural, existindo grande número de unidades instaladas, principalmente nos países originários dos modelos mais difundidos, como a Índia (com aproximadamente 300 mil) e China (com mais de 8 milhões). Recentemente, vários outros têm realizado programas de uso de biodigestores. Por apresentarem processos de construção relativamente simples e operarem a partir da mistura de água, esterco animal e ou fibras vegetais como capim e cascas, os biodigestores tem sido o foco de vários programas de disseminação da cultura de fontes de energia renováveis em diversos países do continente europeu. Os biodigestores têm como principal função garantir um meio anaeróbico favorável a biodigestão, permitir a alimentação sistemática da matéria orgânica e a coleta e armazenamento do gás produzido. Os resíduos líquidos e sólidos resultantes do processo formam um biofertilizante de excelente qualidade e larga aplicabilidade na agricultura. O biogás pode ser usado em fogões, motores, lâmpadas e geladeiras a gás, podendo ser considerado uma das fontes energéticas mais econômicas e de fácil aquisição pelas pequenas propriedades rurais. Os efluentes obtidos são normalmente tratados em sistemas de lagunagem, sendo depois utilizados em rega de terrenos agrícolas ou lançados em linhas de água. Nas 44 restantes instalações, onde este tratamento não existe, o efluente é, em regra, utilizado diretamente na agricultura, ou lançado em linhas de água (Biofertilizante). Numa análise global, o biogás é um gás incolor, geralmente inodoro (se não contiver demasiadas impurezas) e insolúvel em água. A escolha do modelo de biodigestor deve ser a análise da qualidade de biomassa que estará disponível para utilização. Só assim será possível calcular, com precisão, a capacidade real de produção de biogás após ser instalado o biodigestor. O nível de consumo diário de biogás para a atividade a que está destinado se constitui noutra variável muito importante a se levar em conta, quando da definição acerca das dimensões do equipamento. As observações feitas por técnicos, criadores de animais e Ministério da Agricultura, levaram à conclusão de que um animal qualquer produz, em média, em torno de 19 gramas de dejetos por cada quilo de peso do animal, durante um período de 24 horas. Com base nestes dados, torna-se mais fácil calcular a quantidade (média) de estrume produzida pelo animal diariamente. É só multiplicar o peso do animal vivo por 0,019. Biodigestores são estruturas hermeticamente fechadas nas quais podem ser acumuladas grandes quantidades de dejetos orgânicos que, por digestão anaeróbica, produzem biogás. O metano é o principal componente energético do biogás. Após ser purificado, esse gás pode ser utilizado para cocção; aquecimento; resfriamento e para sistemas de geração de energia elétrica. Ressalte-se, no entanto, que os biodigestores fazem parte de um processo de tratamento dos dejetos, não devendo ser vistos como uma solução definitiva, pois eles apresentam limitações quanto à eficiência de remoção de matéria orgânica e de nutrientes. O processo de geração do metano em biodigestores pode ocorrer em três níveis de temperatura. Com temperatura entre 45 e 60º C, o processo é considerado termofílico; de 20 a 45º C é mesofílico e a digestão anaeróbia de matéria orgânica temperaturas menores que 20º C é chamada de digestão psicrofílica. A maioria dos biodigestores anaeróbios tem sido projetada na faixa mesófila. Destaque-se que mudanças bruscas de temperatura podem afetar o desempenho da digestão adversamente Parkin & Owen (1986). Segundo Massé (2003), o desempenho do biodigestor anaeróbio diminui significativamente quando a temperatura operacional 45 cai de 20°C para 10°C. Em fazendas do sul do país, os biodigestores podem estar sujeitos a flutuações de temperatura. Assim sendo, recomenda-se o aquecimento do substrato em digestão para aumentar a eficiência do biodigestor. Ao se utilizar sistemas de aquecimento, deve- se fazer uma análise de viabilidade econômica que deve considerar a quantidade de energia necessária e o volume adicional de gás produzido. A idéia de que os biodigestores com grandes volumes de biomassa produzem altas quantidades de biogás nem sempre é verdadeira. O correto dimensionamento do biodigestor deve levar em consideração o tempo de residência hidráulica, a temperatura da biomassa e a carga de sólidos voláteis Oliveira (2005) Registre-se que biodigestores com grandes gasômetros podem representar um risco à segurança dos produtores, em razão da ação mecânica dos ventos. Essa ação pode provocar vazamentos de gás e ocorrência de combustão fora de controle. Muitas vezes, os biodigestores adotados entre os produtores de suínos não passam de “simples esterqueiras cobertas”, que nem sempre são adequadamente projetadas. Além disso, os dejetos tendem a ser extremamente liquefeitos, com baixa concentração de sólidos voláteis. Isso geralmente ocorre por excesso de água em bebedores, pela entrada de água de chuva e pela lavagem inadequada das baias (OLIVEIRA, 2005). Registre-se, por fim, que ao passar pelo biodigestor, o efluente perde carbono na forma de CH4 e CO2. A diminuição na relação entre carbono e nitrogênio da matéria orgânica melhora as condições do material para fins agrícolas em função do aumento da solubilidade de alguns nutrientes. Contudo, os custos de transporte, a topografia ondulada, o tamanho das propriedades e a ausência de mecanização podem ser obstáculos à otimização do uso de dejetos animais como biofertilizantes. 2.2.6 Processamento de dejetos suínos como garantia de preservação ambiental e possíveis implicações Os problemas ambientais decorrentes da atividade suinícola se configuram como uma das atuais preocupações de ambientalistas e de órgãos de gestão, uma vez que os resíduos orgânicos resultantes da atividade são nocivos ao meio ambiente. 46 Justamente por suas conseqüências negativas estes resíduos orgânicos devem ser devidamente tratados antes de serem alocados na natureza, com vistas neste fato várias ações, projetos, tecnologias, políticas foram desenvolvidas e estão sendo propostas pelos diversos segmentos ligados a gestão em nível global. Certamente, não existem respostas prontas ou métodos ideais, sendo que para cada cenário rural, deve-se adaptar um método de processamento que gere benefícios econômicos, sociais e ambientais, diminuindo assim o impacto da atividade. O conjunto de soluções disponíveis hoje, principalmente os diversos tipos de biodigestores, contribuíram significativamente para a melhoria da qualidade ambiental das regiões suinícolas, bem como da convivência desta produção com o ambiente. Porém, desafios ainda existem e se tornarão maiores se considerarmos a potencial expansão desta atividade no Brasil, baseado em estudos de várias
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