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Argumento Final de Sócrates

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DISSERTAÇÃO DE FILOSOFIA
A ARGUMENTAÇÃO DE SÓCRATES SOBRE O CONCEITO
DE JUSTIÇA NO LIVRO A REPÚBLICA DE PLATÃO
 SÃO PAULO
 2019
O livro A República de Platão, em seu primeiro capítulo, apresenta um importante embate filosófico, inicialmente, entre Sócrates e Polemarco e, principalmente, entre aquele e o sofista Trasímaco. No debate, o qual ocorria na casa de Céfalo e de seu filho Polemarco, discute-se principalmente o que é a verdadeira justiça.
Após Sócrates e Polemarco chegarem ao consenso de que não cabe ao homem justo fazer o mal, mesmo que seja para prejudicar seu inimigo, pois os homens, quando tratados mal se tornam mais injustos, assim como ocorre com os cães e cavalos, que se tornam animais piores, em relação a seus atributos, ao sofrerem maus-tratos. O homem justo faz o bem e o injusto faz o mal, ou seja, não pode ocorrer o contrário, do mesmo modo que o calor consiste em aquecer e não em esfriar. 
Com término da discussão, o sofista Trasímaco, muito incomodado, critica Sócrates, alegando que este, por si mesmo, não sabia responder o que é a justiça e, por isso, apenas ficava fazendo perguntas. Então, Sócrates e os outras pessoas presentes insistem para que o sofista responda à questão debatida. Trasímaco, com muita presunção, afirma, confiantemente, que a justiça é o interesse do mais forte.
Sócrates refuta o sofista, argumentando que como os governantes podem tomar decisões errôneas que lesam a si próprios, quando isso acontece, o povo ao prejudica-los está agindo de maneira justa. Trasímaco rebate o argumento do filósofo, alegando que em sua forma de pensar a justiça, utiliza-se da ideia do governante em seu sentido estrito, ou seja, aquele que no exercício da sua função não toma decisões erradas, da mesma maneira que não se pensa no médico em seu sentido estrito, como aquele que comete erros durantes suas operações. Então, Sócrates alega que um governante, no sentido estrito da palavra, jamais governa para seus interesses, mas sim para o do povo, do mesmo modo que um comandante de navio não pilota a embarcação, seguindo sua própria ambição, mas a de toda tripulação. 
Trasímaco, já muito irritado, alega que na realidade, ninguém governa para o interesse dos súditos, e sim para proveito pessoal, da mesma forma que os vaqueiros não criam as vacas para garantir a vontade delas, mas para come-las ou vende-las. O sofista também afirma que a injustiça é mais vantajosa, nobre e forte que a justiça, visto que os súditos enquanto agem de maneira justa, tornam os governantes mais felizes, enquanto não tiram a menor vantagem de suas atitudes. Já os injustos, sempre se saem beneficiados.
Ao terminar seu argumento, Trasímaco pretendia se retirar, porém, é impedido por Sócrates e pelos outros, que insistem em uma explicação de suas palavras. Então, Sócrates começa a refutar o sofista, argumentando que os vaqueiros, enquanto realizam sua arte de cuidar do rebanho, estão fazendo aquilo que melhor convém as vacas, que é serem bem cuidadas, protegidas e alimentadas. Já, quando estão prestes a vendê-las, eles passam a praticar a arte do mercenário, a qual visa o dinheiro. Todos aqueles que se comprometem a governar, acreditam que não tira nenhuma vantagem do exercício do poder público e, por isso, exigem uma compensação para realizar sua arte. Desse mesmo modo, não se condena um médico por receber salário, visto que não é isso não altera sua finalidade, que é cuidar dos doentes. Todos os artistas, ao receberam dinheiro, fazem isso extrínseco ao seu próprio ofício, visto que não modificam o propósito particular da sua arte, mas a associam à arte do mercenário. 
Enquanto eles continuam o debate, Trasímaco reitera que a justiça é uma nobilíssima ingenuidade, enquanto a injustiça é perspicácia, pois somente os injustos conseguem dominar povos inteiros. Para refutar o sofista, Sócrates, por meio de perguntas, mostra que homens injustos sempre lutam para estar acima de todos, ao contrário dos justos que não tentam levar a melhor sobre os outros. Em todos os tipos de ciência ou ignorância, o perito, que é sábio e bom, não tenta superar outro perito, já o inapto, que é ignorante e mau, pretende sempre prevalecer sobre o outro. Portanto, conclui-se que o justo se comporta como o perito, sendo assim, bom e a sábio. O injusto age como o inapto, ou seja, é mau e ignorante. 
Continuando o mesmo raciocínio, Sócrates afirma que até mesmo os injustos, quando se reúnem e atingem um objetivo em comum, como o domínio de outro povo, ainda têm um pouco de justiça em suas ações, pois caso não tivessem, não conseguiriam trabalhar juntos, já que a injustiça provoca a discórdia e a briga.
Sócrates afirma que os deuses são justos, logo os homens justos serão amigos deles e os injusto serão inimigos. Também, para defender seu ponto, ele usa da ideia de virtude e função, afirmando que a vida é uma função da alma, assim como a capacidade de decidir. Portanto, a alma injusta tomará decisões ruins, enquanto a alma justa boas decisões, logo a primeira levará o sujeito à infelicidade e a segunda à felicidade.

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