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A JUSTIÇA SEGUNDO PLATÃO: UMA BREVE ANÁLISE DE APOLOGIA DE SÓCRATES

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE - FURG 
FACULDADE DE DIREITO – CURSO DE DIREITO 
FUNDAMENTOS DA ÉTICA 
 
 
 
Produção textual: Platão e justiça 
 
 
INDENTIFICAÇÃO 
 
 
 
Nome: Maiane Milena Strieder Matos Matrícula:138805 
Turma: B – Nortuno 
REFERÊNCIA DO TEXTO: 
 
 PLATÃO. Apologia de Sócrates Tradução de Maria Lacerda de Souza L&PM Pocket, 2008. Ebook. 
 
________________________________________________________________________ 
 
A JUSTIÇA SEGUNDO PLATÃO: UMA BREVE ANÁLISE DE APOLOGIA DE 
SÓCRATES 
 
 
Em Apologia de Sócrates, livro escrito por volta de 399 a.C, Platão através de sua 
personagem principal Sócrates, que se utiliza de uma metodologia chamada de maiêutica, a 
qual consiste em fazer diversas perguntas ao seu interlocutor auxiliando o mesmo encontrar 
suas próprias verdades, busca conceituar diversos assuntos pertinentes inclusive a justiça, 
princípio o qual influencia diretamente e indiretamente a história da humanidade e, segundo 
Platão, toda ação deve ser justa ou injusta, pois a justiça é absoluta. 
Já no início da obra, em diálogo com Êutifron e Sócrates, antes que Sócrates se 
apresentasse diante do tribunal por ter sido acusado por Meleto de corromper a juventude e 
também Êutifron, em busca de processar seu pai por ter matado um de seus serviçais, discute-se 
os conceitos de justiça, de ímpio e de piedoso: piedoso, para Êutifron, mesmo que com certo 
conflito de raciocínio quando questionado, é aquele que age de acordo com as vontades divinas, 
já o contrário disso será ímpio por não ser do apreço dos deuses; já a parte justa piedosa e 
religiosa é aquela que diz respeito ao cuidado com os deuses através da arte de servi-los. 
Êutrifon: Mas eu lhe disse um pouco antes, Sócrates, que é enorme feito aprender de 
maneira precisa como se apresentam todas essas coisas. Porém, de maneira simples, lhe 
digo o seguinte: que, se alguém sabe dizer e fazer o que é grato aos deuses – ao orar e 
sacrificar –, que isso é piedoso, e que coisas assim põem a salvo tanto as famílias quanto 
o interesse comum das cidades; mas que o contrário ao grato é ímpio, e a tudo faz virar 
e ruir. (PLATÃO, 2008, l. 33) 
Perante ao tribunal, em seu julgamento, Sócrates discorre ainda mais sobre justiça em sua 
defesa. Ao opor-se às inverdades contra ele ditas, o filósofo demonstra total sossego e nenhum 
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FUNDAMENTOS DA ÉTICA 
 
 
pouco temeroso diante à justiça humana que alegava que, investigando tudo que há sob a terra, 
tornava superior o discurso inferior e ludibriaria os jurados através de suas falas. Para Sócrates, 
aqueles que acusavam-no serviram-se de calúnia e inveja de sua sabedoria, pois nenhum daquele 
tribunal jamais o ouviu dialogando sobre as coisas de que era acusado. Ao relatar uma de suas 
experiências ao buscar por pessoas mais sábias que ele, ao acreditar que não haveria de ser ele o 
detentor de maior sabedoria, que encontrou nos mais benquistos (como os que investigavam-no) 
uma grande carência de reflexões; já nos mais simples e banais, uma conduta reflexiva razoável. 
Logo, estariam, aqueles que apontam e acusam, dotados de pura ignorância. Teria iniciado aí a 
revolta destes contra o filósofo, pois ao serem “inspecionados”, os que diziam muito saber, 
pouco ou nenhum conhecimento demonstravam e passavam a odiá-lo e o acusar de corromper os 
mais jovens. Sócrates diz que Meleto, seu acusador, age mal, pois conduz homens ao tribunal de 
modo leviano e finge levar a sério questões pelas quais jamais militou. Em diálogo com Meleto, 
ele alega que não corrompe os jovens, e se os corrompe, o faz involuntariamente e, nesse caso a 
abordagem seria outra segundo as leis, visto que os convocados ao tribunal são dignos de castigo 
e não de ensino, como seria aplicável em seu caso, se desta acusação fosse culpado. 
Sócrates reafirma sua crença nas coisas numinosas, deixando evidente a todos que não era 
merecedor daquelas acusações, porém sem se preocupar com o risco da pena de morte, pois crê 
que foi colocado ali, em julgamento, no final de sua vida, aos setenta anos, pois era naquele lugar 
que os deuses queriam que o mesmo estivesse e dele deveria permanecer, sem temer a morte. 
Seria decerto terrível, e na verdade muito justamente então eu seria convocado até o 
tribunal, porque na existência de deuses não creio ao desobedecer à adivinhação, ao 
temer a morte e ao pensar que sou sábio, quando não sou. Porque naturalmente, varões, 
temer a morte não é outra coisa senão parecer que se é sábio, quando não se é – pois é 
parecer que se sabe o que não se sabe... Mas a morte, ninguém sabe se acaso não é o 
maior de todos os bens para o homem – porém a temem como se soubessem ser o maior 
dos males! E o que é isso, senão aquela ignorância mais reprovável: a de se pensar saber 
o que não se sabe? (PLATÃO, 2008, l. 50) 
O filósofo encerrou sua apologia alertando que falava em defesa dos que ali estavam, para 
que não errassem, pois a morte não seria algo ruim para ele, mas para a população ateniense, pois 
este não fazia outra coisa senão persuadir o jovens e os mais velhos a militar em favor da alma 
sobre todas as outras coisas; mas morrer ou ficar em exílio em nada o prejudicaria. Tinha por 
certeza que nenhum jovem havia corrompido, pois depois da maturidade, perceberiam e o 
acusariam, portanto, fazia sua defesa sossegadamente. 
Após Sócrates ser considerado culpado e condenado à morte por envenenamento, Platão 
narra o diálogo do filósofo com Cítron, que vai até a cadeia, no seu penúltimo dia de vida, 
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propondo que o mesmo escapasse, infringisse a lei e deixasse a cidade, livrando-se da pena de 
morte. Sócrates propõe uma análise: era justou injusto que ele tentasse se salvar sem a 
deliberação dos atenienses? Para que chegassem a uma conclusão, Sócrates “dialoga” com as 
Leis e os Interesses Comuns, em que é questionado se pretende descumprir o acordo feito em 
tribunal e invalidar as leis perante o povo ateniense, já que as sentenças dadas não teriam valor 
nenhum e jamais seriam respeitadas a partir de seu exemplo. Ademais, com sua fuga, estaria 
desrespeitando a pátria e as Leis que o regeram e regeram seus antepassados, criaram-no assim 
como seus pais o fizeram, e, por isso, ele não deveria desrespeitar nem a um, nem a outro. Não 
obstante, não era justo que, por opção ele escolhesse permanecer naquela cidade e ser governado 
por aquelas Leis durante toda sua vida, e depois as negasse. Tivesse antes, então, ido a Tessália, 
onde é máxima a desordem e a insolência. Não seria justo, também, que agora tencionasse fugir 
para outro local, quando teve a oportunidade de trocar sua pena por exílio e ainda assim não o 
fez. Partindo de tais reflexões, Sócrates decide cumprir com o acordo feito em tribunal e tem sua 
decisão apoiada por Cítron, pois era preferível que partisse como vítima de uma má ação dos 
homens a transgredir o pacto e agir mal, o que é vergonhoso para o malfeitor. 
Mas se você sair daqui assim vergonhosamente, agindo mal de volta e praticando o mal 
de volta – transgredindo os pactos e o que foi reconhecido por você mesmo de comum 
acordo conosco, e fazendo mal a quem menos devia: a você mesmo, aos amigos, à 
pátria, a nós –, não apenas nós vamos nos exasperar com você enquanto viver, como 
também nossas irmãs de lá, as Leis do Hades, não o vão receber benevolamente, 
sabendo que você tencionou, da parte que lhe toca, destruir até mesmo a nós. 
(PLATÃO, 2008, l. 78) 
Na presente obra de Platão, pode-se identificar que para o autor a justiça é sábia, 
piedosa e religiosa, na medida em que a negação da mesma é a injustiça, inculta e ímpia. A 
postura de Sócrates pode parecer equivocada, mas revela que a obediência às leis é o que difere 
o homem civilizado dobárbaro. Além do mais, sabia o filósofo que as leis eram a expressão 
máxima da concordância entre os cidadãos da polis, e que descumprir a lei equivaleria a ferir 
de forma direta todos aqueles que fazem parte do acordo que dá origem a essa mesma lei. 
Como em A República, também escrita por Platão, em que a justiça depende de dois 
fatores: a) que cada indivíduo cumpra a sua função: os filósofos devem governar, os guerreiros 
protegê-la e os temperados trabalhar como artesões e comerciantes; b) e da realização do 
homem. E somente estando estes dois em equilíbrio com as aptidões da alma, seria possível a 
realização da justiça, o que se concretiza em Apologia de Sócrates, brevemente relatada 
anteriormente, haja vista que Platão, mesmo considerando injusta a condenação de Sócrates, 
cumpre com as decisões tomadas pelos jurados em nome do justo aos deuses e aos humanos. 
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Ademais, Sócrates pautou sua vida por uma ética post mortem, ou seja, na crença de que 
a conduta virtuosa e verdadeira durante a sua vida, lhe daria a paz necessária e a credibilidade 
moral para ser recepcionado pelos deuses. Em razão disso, e também do julgamento injusto, 
previne que era chegada a hora de partirem, ele para a morte, o outros para a vida. E sobre quem 
seguiria melhor destino, se ele, ou os outros, era um segredo para todos, exceto para os deuses. 
Para Platão, a alma sendo harmônica logo será justa, então o justo é mais feliz que o 
injusto, pois essa harmonia trará uma paz interior e um equilíbrio à vida do homem, a justiça 
compensa na medida em que é o caminho a uma vida plena. Tão pouco, a justiça, segundo 
Sócrates, será uma questão de aparência ou coerção social, pois a justiça parte da alma 
harmônica do homem, ou seja, do seu interior.

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