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Espécies Tributárias: Taxas

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ESPÉCIES 
TRIBUTÁRIAS 
(profº Pietro Medeiros) 
CONTABILIDADE TRIBUTÁRIA - UNIRB 
Taxas 
 
A CF trata das taxas principalmente no art. 145, inc. II. 
Existem, basicamente, dois tipos de taxas: 
 
a) cobradas em virtude do exercício do poder de polícia e 
 
b) cobradas em virtude da prestação de serviços públicos, 
as quais obedecem alguns requisitos. 
 
Taxa é um tributo contraprestacional (vinculado): vincula-
se a uma atuação estatal, a qual não é necessariamente útil 
– no tocante à taxa de polícia, o Estado fiscaliza. No tocante 
à prestação de serviços, o Estado atende a uma 
necessidade. 
As taxas possuem dois tipos de fatos geradores. 
Fato gerador: exercício do poder de polícia (taxa de polícia) 
ou prestação de terminados serviços (taxa de serviço) – ver 
definição do art. 145, II, CF e detalhamento dos artigos 77 a 
80, do CTN. 
 
CTN, art. 78. “Considera-se poder de polícia atividade da 
administração pública que, limitando ou disciplinando 
direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou 
abstenção de fato, em razão de interesse público 
concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos 
costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao 
exercício de atividades econômicas dependentes de 
concessão ou autorização do Poder Público, à 
tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos 
direitos individuais ou coletivos”. 
Exemplo 1: 
DIREITO DE PROPRIEDADE X DIREITO À SEGURANÇA. 
Ente federativo edita lei que limita a construção de 
edifícios quanto ao número de pavimentos onde se 
localiza aeroporto. A lei limitadora é considerada 
exercício do poder de polícia – exercício abstrato 
(inexistência de caso concreto) e geral (inexistência 
de destinatários específicos). Tal exercício – abstrato 
e geral – impossibilidade a cobrança da taxa de 
polícia. Assim, o ente federativo deverá analisar o 
projeto do construtor e exercer contra este o poder 
de polícia, baseado na lei aplicar ao caso concreto 
a lei que abstratamente trouxe os requisitos para a 
construção naquele local (possibilidade de cobrança 
da taxa de polícia). 
A partir do exemplo, conclui-se que o Estado cobrará a taxa 
de polícia, somente, quanto ao exercício de tal poder no 
plano concreto – atividade de fiscalização de atividade 
individual. Diálogo com o direito administrativo: “Ciclo de 
polícia”: 
a) ordem de polícia (Poder Legislativo elabora os requisitos 
para o exercício do poder de polícia); 
b) fiscalização de polícia. 
 
Na fase “fiscalização de polícia” há ocorrência do fato 
gerador do poder de polícia. Voltando ao exemplo: o 
construtor pagará a taxa no momento em que submete o 
projeto de engenharia à Prefeitura municipal para análise do 
projeto – compatibilização com a lei limitadora. Expedindo-se 
ou não o alvará de construção a taxa de polícia deverá ser 
paga. 
Exemplo 2: Fiscalização do Estado em matéria de 
trânsito. 
Para conduzir um veículo é preciso atender a 
alguns requisitos em razão da segurança da 
população – o Estado restringe o direito de dirigir 
em nome do interesse público concernente à 
segurança. O Estado verificará, por exemplo, o 
conhecimento a respeito da legislação de trânsito, a 
capacidade psicológica. Assim, o Estado cobrará a 
taxa de polícia para realizar tais verificações prova 
teórica, teste psicotécnico, teste de visão, etc. 
Verificamos, igualmente, no exemplo, a tensão entre 
direitos: direito de dirigir x direito à segurança. 
Discussão jurisprudencial: taxa de 
renovação de alvará de funcionamento nos 
Municípios. Regra (maioria dos Municípios): 
para ter um estabelecimento comercial, em um 
Município, é necessário o pagamento de taxa 
de localização (ente fiscaliza o preenchimento 
dos requisitos para exercer determinada 
atividade em determinado local) e taxa de 
funcionamento (ente fiscaliza se ao longo do 
tempo há o mantimento das condições de 
funcionamento). 
A taxa de funcionamento é periódica (renovação de 
alvará de funcionamento). No Brasil, determinadas 
empresas acionaram o PJ alegando que o ente não 
poderia cobrar taxa pela simples renovação de 
alvará quando, na realidade, renovação de alvará 
nem é exercício do poder de polícia nem é 
prestação de serviço. O exercício do poder de 
polícia ocorre quando o Estado fiscaliza se há o 
cumprimento de determinados requisitos. 
Há, portanto, alguma razão para a cobrança da 
renovação de alvará de funcionamento? Sim, o 
Estado precisa verificar se há continuidade no 
cumprimento dos requisitos para funcionar naquele 
local. 
Alegação dos comerciantes/empresas: em nenhum 
momento o ente federativo verificou se há 
continuidade no cumprimento dos requisitos – não 
há fato gerador novo (não poderia ser cobrada uma 
taxa pela mera renovação do alvará). Para que a 
cobrança fosse legítima, o ente deveria realizar nova 
fiscalização, a qual deveria ser comprovada. STF e 
STJ: concordaram os comerciantes e empresários. 
No entanto, mais a frente, outro julgamento, 
do STF, repercutiu na decisão citada. Caso: 
o IBAMA cobra uma taxa de fiscalização 
ambiental, de maneira periódica. Os 
contribuintes acionaram o PJ alegando a 
ausência de nova fiscalização – aplicação da 
jurisprudência da decisão citada. Alegação 
do IBAMA: existe, no local, repartição com 
competência para fiscalizar determinadas 
propriedades rurais com servidores dotados 
de competência para promover os atos de 
fiscalização. 
Presunção: os agentes estavam 
fiscalizando. Não haveria necessidade de 
fiscalização ostensiva fiscalização 
presumida. Observação: o STF não decidiu 
no sentido da cobrança da taxa de polícia 
sem o respectivo exercício do poder de 
polícia. STF decidiu que a taxa fosse 
cobrada em virtude de presunção do 
exercício do poder de polícia. Reflexos na 
primeira decisão: ratificação da taxa pela 
renovação de alvará de funcionamento. 
Observação (ainda quanto à taxa de polícia): 
CTN, art. 78, parágrafo único: “Considera-se 
regular o exercício do poder de polícia 
quando desempenhado pelo órgão 
competente nos limites da lei aplicável, com 
observância do processo legal e, tratando-se 
de atividade que a lei tenha como 
discricionária, sem abuso ou desvio de 
poder”. Expressão “regular”: em 
conformidade com a ordem jurídica – 
exercido nos limites legais. 
Taxa de serviço 
CF, art. 145, inc. II: “taxas, em razão do exercício do 
poder de polícia ou pela utilização, efetiva ou 
potencial, de serviços públicos específicos e 
divisíveis, prestados ao contribuinte ou postos a sua 
disposição”. 
 
CTN, art. 77: “As taxas cobradas pela União, pelos 
Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, 
no âmbito de suas respectivas atribuições, têm como 
fato gerador o exercício regular do poder de polícia, 
ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço 
público específico e divisível, prestado ao 
contribuinte ou posto à sua disposição”. 
A utilização pode ser: 
 
Utilização efetiva de serviço público 
específico e divisível prestado ao 
contribuinte ou postos a sua 
disposição. 
 
 Utilização potencial de serviço 
público específico e divisível prestado 
ao contribuinte ou postos a sua 
disposição. 
Glossário 
“CTN, art. 79: Os serviços públicos a que se refere o 
artigo 77 consideram-se: 
 
I – utilizados pelo contribuinte: 
a) efetivamente, quando por ele usufruídos a qualquer título; 
b) potencialmente, quando, sendo de utilização compulsória, 
sejam postos à sua disposição mediante atividade 
administrativa em efetivo funcionamento; 
 
II – específicos,quando possam ser destacados em 
unidades autônomas de intervenção, de utilidade, ou de 
necessidades públicas; 
 
III – divisíveis, quando suscetíveis de utilização, 
separadamente, por parte de cada um dos seus usuários”. 
É pacífica a jurisprudência (STF e STJ) que as custas judiciais – 
serviço específico e divisível de jurisdição – são tributos da 
espécie taxa. O serviço judicial está à disposição de todos. Se 
fossemos aplicar o raciocínio da taxa de lixo, a taxa judiciária 
seria cobrada de todos, mesmo daquele que em nenhum 
momento litigou. No entanto, a taxa judiciária é cobrada de 
quem a use efetivamente o serviço público da jurisdição. 
Assim, existem serviços para os quais somente a efetiva 
utilização justifica a cobrança da taxa. Igualmente, existem 
serviços para os quais a potencial utilização justifica a 
cobrança da taxa. Observação: ligação entre os primeiros 
requisitos alternativos (efetiva e potencial) e os últimos 
requisitos alternativos (prestado ao contribuinte ou postos a 
sua disposição). Em relação à utilização potencial deve ser 
aplicado o CTN, art. 79, I, “b. “Utilização compulsória” 
(destinado ao legislador): se prejudicial à coletividade 
(compulsória – p. e.: taxa de lixo) ou se não prejudicial à 
coletividade (não compulsória – p. ex.: taxa judicial). 
Quando for possível ao Estado identificar com 
absoluta precisão quem está utilizando o 
serviço e quando for possível ao usuário 
identificar com absoluta precisão qual o serviço 
a ele prestado: serviço específico e divisível 
(frase do professor: eu te vejo, tu me vês). 
 
Ex.: “O serviço de iluminação pública não pode 
ser remunerado mediante taxa” (Súmula 
Vinculante 41). Em relação ao serviço de 
iluminação . não são possíveis as identificações 
acima – divisibilidade. Estado criou a 
contribuição de iluminação pública. 
Específico: “unidade autônoma”: saber o porquê está sendo 
cobrado. 
Divisível: “separadamente”: possibilidade de o Estado 
identificar quem é o usuário do serviço. 
 
“Taxa de coleta domiciliar de lixo” (constitucional): divisível. 
“Taxa de limpeza de logradouros públicos” (inconstitucional): 
indivisível (não é possível identificar o usuário). SV 19: “A 
taxa cobrada exclusivamente em razão dos serviços públicos 
de coleta, remoção e tratamento ou destinação de lixo ou 
resíduos provenientes de imóveis não viola o artigo 145, II, 
da Constituição Federal”. 
 
“Exclusivamente”: garante a especificidade (“imóveis”: 
visibilidade do usuário); “provenientes de imóveis”: garante a 
divisibilidade. 
Base de cálculo das taxas 
 
CF, art. 145, § 2º: “As taxas não poderão ter base 
de cálculo própria de impostos”. 
 
CTN, art. 77, parágrafo único: “A taxa não pode ter 
base de cálculo ou fato gerador idênticos aos que 
correspondam a imposto nem ser calculada em 
função do capital das empresas”. 
 
Jurisprudência: base de cálculo – grandeza que 
guarde correlação com o custo da atividade estatal, 
não podendo ser base de cálculo própria de 
imposto. 
Ideal: valor exato da atividade estatal – impossibilidade. P. 
ex.: custas judiciárias (quanto o Estado dispensará para 
julgar o processo?). 
 
Em matéria tributária, o valor de um tributo é fixado, em 
regra, da seguinte forma: alíquota (%) x base de cálculo 
(R$). 
Exemplo 1: Custas judiciais: percentuais sobre o valor da 
causa ou sobre a condenação. STF: exige que a lei de 
custas judiciais possua limites. S. 667 STF: “Viola a garantia 
constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária 
calculada sem limite sobre o valor da causa”. 
SV. 29: “É constitucional a adoção, no cálculo do valor de 
taxa, de um ou mais elementos da base de cálculo própria 
de determinado imposto, desde que não haja integral 
identidade entre uma base e outra”. Caso concreto: taxa 
pela coleta domiciliar de lixo calculada em função da área 
do imóvel. Contribuintes: elemento utilizado também para 
o cálculo do IPTU – violação da CF, art. 145, § 2o. STF: 
É razoável presumir que imóveis maiores produzam mais lixo – presunção. 
 
 Ao cobrar a taxa proporcionalmente à área do imóvel: taxa é graduada de 
acordo com a capacidade econômica do contribuinte. CF, art. 145, § 2o - cf. 
interpretação do dispositivo: não há proibição paraque as taxas sejam 
graduadas, apesar do princípio da capacidade contributiva referir-se aos 
impostos. 
 
Observação: quanto aos impostos: obrigatoriedade da aplicação do 
princípio, se possível (impossível, p.ex., para o ICMS). 
A CF proíbe que as taxas possuam base de 
cálculo idêntica a dos impostos. A base de 
cálculo da taxa levando em consideração a área 
– é igual à base de cálculo do imposto? Não. Na 
base de cálculo da taxa, a área foi utilizada 
apenas como um elemento. E mesmo que a base 
de cálculo fosse exatamente a área, ainda assim, 
não seria idêntica à base de cálculo do IPTU. A 
área é um elemento para se chegar a base de 
cálculo do IPTU (utilização do valor venal). Ler 
novamente a SV. 29. 
Competência para instituição 
Competência comum. 
Constituição Federal não possui lista referente à criação de taxas – como faz com 
os impostos. A lista não é necessária porque a taxa depende de uma atuação 
estatal específica em relação ao contribuinte, isto é, como a taxa é 
contraprestacional quem poderá cobrar a taxa é quem exerce/entrega a prestação. 
Portanto, decorre das competências administrativas vigentes na Constituição. Em 
suma, não existem listas atributivas de 
competência, pois quem exercer a atividade estatal, é competente para instituir a 
respectiva taxa. 
 
STF: determinada taxa poderia ser cobrada por dois 
entes distintos. A CF prevê como competência 
comum dos entes federados a proteção ao meio 
ambiente. Um dos mecanismos para proteger o 
meio ambiente é exigir que os empreendimentos 
potencialmente nocivos ao meio ambiente 
dependam de licença ambiental em que órgão 
competente analisara os impactos do 
empreendimento sobre o meio ambiente. Existe 
licenciamento ambiental feito pela União e pelos 
Estados – entes verificam o requisitos com base em 
suas respectivas legislações.

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