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Bloco de Questões 01

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QUESTÃO 1- DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
Explique brevemente o que vêm a ser a denominada cláusula da reserva do possível, a 
proibição do retrocesso e o mínimo existencial. Em seguida, mencione uma situação 
jurídica concreta de atuação do Promotor de Justiça em relação a algum desses institutos. 
 
A Cláusula da Reserva do Possível surgiu na Alemanha, na década de 1970 como 
objeto limitador à ação do Estatal na implementação de políticas públicas. No Brasil, tem sido 
reiteradamente utilizada pela Administração Pública como justificativa para eximir-se da 
responsabilidade do cumprimento de direitos prestacionais em favor da sociedade. 
A reserva do possível é classificada em fática ou jurídica. Entende-se que a reserva 
fática consiste na impossibilidade da prestação dos serviços em razão de inexistência de 
orçamento disponível nos cofres públicos. A jurídica diz respeito à indisponibilidade de 
previsão orçamentária que autorize a efetuação da despesa. 
Entende-se, no entanto, que a Cláusula da Reserva do Possível não pode ser 
aplicada como fator limitante à efetivação do Mínimo Existencial. 
 
No instante em que um direito social é concretizado, este adquire o status de direito de 
defesa, assim sendo, o Estado deve agir visando ao desenvolvimento ou a conservação dos 
níveis gerais de tutela social auferidos anteriormente. 
Desta forma, a proibição do retrocesso social está ligado aos princípios da segurança 
jurídica e da dignidade da pessoa humana, bem como está expresso na Constituição por meio 
de alguns institutos, tais como: direito adquirido, ato jurídico perfeito, coisa julgada; limitações 
constitucionais às restrições legislativas aos Direitos Fundamentais; limites materiais ao poder 
de reforma da Constituição; e vedação de produção normativa que leve ao retrocesso na 
concretização dos Direitos Fundamentais. 
 
Por seu turno, o Mínimo Existencial consiste na essência dos Direitos Fundamentais, 
impossível de ser relativizado. É inatingível e funciona como uma barreira para a atuação do 
Estado. Assim, pode ser considerado como um núcleo fundamental, sem o qual não existiria o 
direito. Deste modo os direitos sociais que exorbitem o Mínimo Existencial sujeitam-se a 
restrições pelo legislador. 
Embora o Mínimo Existencial não esteja expresso no ordenamento jurídico brasileiro, 
este encontra fundamento no princípio da dignidade humana. Este instituto é intrínseco à 
definição de Direitos Fundamentais. Conforme ensinamentos de Ingo Sarlet (2008), o mínimo 
necessário para a existência humana digna é um direito cujo Estado não pode intervir e que 
reclama prestações positivas dele. 
Dessa forma, a cláusula do Mínimo Existencial pode ser observada sob dois aspectos: 
uma dimensão positiva, que abrange a prestação de serviços pelo Estado e uma dimensão 
negativa, que consiste numa margem de proteção aos Direitos Fundamentais de cada indivíduo 
contra ações de Estado ou outros particulares. 
Pode ainda ser conceituado o Mínimo Existencial como a reunião de prestações 
materiais essenciais à garantia de uma vida digna a cada indivíduo 
 
Em relação à atuação do Ministério Público ante à alegação da Cláusula de Reserva do 
Possível, é de conhecimento geral que é dever do Estado viabilizar o acesso efetivo às políticas 
públicas determinadas constitucionalmente, desta forma, não obstante a alegação de limitação 
orçamentária para a implementação de políticas públicas, cabe ao Ministério Público apurar se 
tal afirmação procede e, em caso negativo, comprovar objetivamente a capacidade 
orçamentária do Poder Público para exigir a efetivação do direito constitucional em questão. 
 
Por expressa determinação constitucional, o ministério público é órgão defensor do 
interesse social, conforme o disposto no art. 129, II, da Constituição Federal: 
 
“Art. 129 - São funções institucionais do Ministério Público: 
II - zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância 
pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a 
sua garantia;” 
 
Sempre visando o interesse da coletividade, é de grande importância para o trabalho 
desenvolvido pelo Ministério Público o poder de realização do Inquérito Civil, instrumento 
investigativo exclusivo do referido órgão, bem como detém legitimidade para o ajuizamento de 
Ação Civil Pública, além de ter poderes para a realização de TAC - Termo de Ajustamento de 
Conduta. 
O Ministério Público também é parte legítima e tem interesse de agir para propor ação 
civil pública, na qual defende interesses individuais indisponíveis, pois, neste molde, qualifica-
se o direito à vida e à saúde. 
 
 
QUESTÃO 2 – DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
Realizado o processo licitatório, a Administração Pública Estadual resolve não contratar 
com o licitante vencedor, pois considera necessária a revogação do certame, motivada por 
razões de conveniência e oportunidade. Nesse caso, ainda não foi realizada a contratação, 
mas já houve homologação e adjudicação. Pergunta-se: 
 
a) Pode o licitante vencedor exigir indenização do Poder Público? Justifique sua resposta. 
 
O artigo 49 da Lei de Licitação estabelece que o procedimento de licitação poderá ser 
revogado por razões de interesse público decorrente de fato superveniente devidamente 
comprovado, assim, em caso de inconveniência e importunidade, o processos licitatório pode 
ser revogado, ainda que já homologado e adjudicado. 
Contudo, o regular desfazimento do procedimento de licitação e do contrato 
administrativo deve ser precedido, invariavelmente, da observância do devido processo legal e 
da indenização dos licitantes e contratados de todos os prejuízos decorrentes, sob pena de clara 
afronta ao artigo 37, § 6º da Constituição Federal, que impõe a responsabilidade civil do Estado 
fundada no risco administrativo (responsabilidade objetiva ou sem culpa). 
Assim, a revogação da licitação opera efeitos ex nunc, isto é, produz efeitos a partir da 
decisão revocatória, porque, até então, o ato ou procedimento revogado era eficaz e válido. Daí 
por que da revogação resulta para o Poder Público a obrigação de indenizar o adjudicatário 
prejudicado, uma vez respeitada a Súmula 473 do STF, que prevê o respeito ao direito 
adquirido ante a revogação de um ato administrativo. 
Portanto, o licitante vencedor cuja proposta haja sido satisfatória terá no caso de 
revogação lícita, direito a ser indenizado pela despesa em que incorreu para disputar o certame. 
 
 
 
b) Caso a Administração Pública Estadual sustentasse, no ato de revogação, que as razões 
de conveniência e oportunidade se fizeram presentes pela identificação de que houve 
prática de cartel pelas empresas participantes do certame, poderia haver atuação do 
Ministério Público? Justifique sua resposta 
Primeiramente, insta salientar que quando identificada a prática de cartel (bid rigging), 
o procedimento licitatório tem que ser anulado e não revogado, uma vez que se trata de 
ocorrência de ilegalidade, nos termos do artigo 49 da Lei de Licitação, isto porque a própria Lei 
8.666/93 prevê como crime sua prática, em seu artigo 90, com pena detenção de 02 a 04 anos e 
multa. 
Outrossim, a Lei Antitruste também tipifica tal conduta em seu artigo 36, bem como o 
Código Penal dispõe sobre o crime de cartel em licitações de forma geral em seu artigo 355. 
Desta forma, o Ministério Público, que exerce controle externo da licitação, pode além 
de propor uma ação requerendo a anulação do certame, também pode promover a denúncia das 
empresas participantes, ressalvados os requisitos previstos nos artigos do Código de Processo 
Penal. 
 
 
 
QUESTÃO 3 – PROCESSO CIVIL 
 
Suponhaque, em ação de investigação de paternidade proposta por menor impúbere 
(representado por sua genitora), decretada a revelia do investigado, foi proferida, em sede 
de julgamento antecipado do mérito, decisão de procedência do pedido, sem, contudo, 
prova técnica da paternidade ou elemento de convicção capaz de gerar presunção da 
paternidade invocada. Responda, fundamentadamente: 
 
a) Agiu corretamente o magistrado? 
 
Quanto à revelia, cabe salientar que essa ocorre quando não é oferecida a 
contestação ou quando a mesma é oferecida intempestivamente, isto é, após o prazo 
determinado em lei. A revelia, em regra, gera uma presunção, ainda que relativa, pois admite 
prova em contrário, de veracidade dos fatos alegados pelo autor. 
Porém, quando o litígio versar sobre direito indisponível, como é o caso das ações 
investigatórias de paternidade, a revelia não terá o efeito de presunção de veracidade, assim 
sendo, caso o réu não se manifeste tempestivamente no processo, ocorrerá a revelia, porém sem 
os efeitos da presunção de veracidade, tendo como efeito, apenas a desnecessidade de nova 
intimação para os demais atos subsequentes do processo, podendo voltar a intervir em qualquer 
fase processual, passando, a partir desse momento, a ter o direito de ser intimado na pessoa de 
seu advogado. 
Assim sendo, será sempre necessária a produção de provas, não se presumindo 
verdadeiros os fatos alegados pelo autor pela simples revelia do réu. Por outro lado, a 
jurisprudência entende que a revelia poderá gerar por si só a presunção de paternidade, pois o 
réu não deve ser beneficiado com uma sentença improcedente por ter se omitido de cooperar no 
processo. 
Dessa forma, não agiu corretamente o magistrado. 
 
 
b) Poderá o Ministério Público, atuando como custos legis, contrariar a posição 
defendida, no processo, pelo menor e promover recurso apelatório? 
 
Sim, pois segundo posicionamento do STJ a legitimidade do MP para apelar das 
decisões tomadas em ação de investigação de paternidade, onde atua na qualidade de custos 
legis (CPC art. 499, parágrafo 2º), não se limita à defesa do menor investigado, mas do 
interesse público, na busca da verdade real, que pode não coincidir, necessariamente, com a 
da parte autora. Destarte, decretada em 1º grau a revelia do investigado, mas sem que 
qualquer prova da paternidade ou elementos de convicção a respeito tenham sido produzido 
nos autos, tem legitimidade e interesse em recorrer da sentença o Ministério Público. 
 
 
QUESTÃO 4 – TUTELA DE INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS 
 
Discorra acerca da responsabilização dos agentes políticos nos termos da Lei nº 8.429/92 
(Lei de Improbidade Administrativa). 
Segundo a Lei 8.492/92, artigo 2º, Reputa-se agente público, para os efeitos desta 
lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, 
nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, 
mandato, cargo, emprego ou função na administração direta, indireta ou fundacional de 
qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, 
de empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade para cuja criação ou custeio o 
erário haja concorrido ou concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou da 
receita anual 
Com o advento da Lei nº 8.429/92, os agentes públicos passaram a ser 
responsabilizados na esfera civil pelos atos de improbidade administrativa descritos nos arts. 9º, 
10 e 11, ficando sujeitos, conforme se analisará mais adiante, às penas do art. 12 daquela lei. 
Muito se discute se a Ação de Improbidade Administrativa seria aplicada aos 
Agentes Políticos. Maria Silvia Zanella Di Pietro nos ensina que: “São, portanto, agentes 
políticos, no direito brasileiro, apenas os Chefes dos Poderes Executivos federal, estadual e 
municipal, os Ministros e Secretários de Estado, além de Senadores, Deputados e Vereadores.” 
Note-se, contudo, que no julgamento da Rcl 2.138, o Tribunal Pleno restringiu-se a 
consignar o não cabimento da lei de improbidade administrativa tão somente em relação aos 
agentes políticos detentores de foro por prerrogativa de função nos moldes do artigo 102, I, “c”, 
da Constituição da República, assentando que, nesses casos, deve-se aplicar apenas o disposto 
na Lei 1.079/50 (STF AI 810.393). 
Em outras palavras, a Lei nº 8.429/92 prossegue sendo aplicável para os agentes 
públicos e políticos que não possuem foro por prerrogativa de função de que se trata o artigo 
102, I, “c”, da Constituição da República (STF AI 810393). 
Essa é a razão pela qual os prefeitos, se submetem à lei de improbidade 
administrativa, submetendo-se, ainda, à ação penal por crime de responsabilidade, na forma do 
Decreto-lei nº 201/67, em decorrência do mesmo fato (STF ARE 644.749). 
O STJ em diversos acórdãos, a questão da incidência ou não da Lei 8429/92 não 
tem sido solucionada por critério constitucional, mas por critério infra-constitucional, qual seja, 
a Lei 1079/50. Melhor explicando, de acordo com a jurisprudência do STJ as autoridades 
elencadas na Lei 1079/50 não estão sujeitas ao regime jurídico da Lei 8429/92, pois já 
respondem pelos crimes de responsabilidade da Lei 1079/50. 
Esse é o critério da jurisprudência do STJ, que é de fundamento legal, não 
constitucional, e bem diverso do critério do STF que é constitucional. Por exemplo, um 
presidente de tribunal está elencado pela Lei 1079/50 como possível sujeito ativo de crime de 
responsabilidade; pela jurisprudência do STJ sujeita-se ao regime jurídico da Lei 1079/50, mas 
não o da Lei 8429/92. Já os demais desembargadores da mesma Corte, respondem pelo regime 
jurídico da Lei 8429/92, respeitando-se o foro próprio por prerrogativa de função. Em suma, 
quanto ao STJ, o artigo não reflete a consolidada jurisprudência desta Corte de Justiça.

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