Buscar

psiquiatria108 indd

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

c 
a 
p 
í t
 u
 l
 o
 8
transtorno de personalidade
Capítulo 8 – psicofármacos
47
ppsiCofármaCos
Capítulo 8
 INTRODUÇÃO
A maioria dos seres humanos sempre usou “trata-
mentos” e/ou procedimentos que diminuem quadros de 
agitação psicomotora e ansiedade, alteram estados de 
consciência (comumente associados a rituais místicos 
religiosos) ou ainda aumentam a resistência física em 
situações ambientais adversas, tais como grandes altitu-
des, catástrofes e guerras. Freqüentemente, essas drogas 
consistem em plantas naturais ou seus derivados (por 
exemplo, o ópio, cannabis, coca, cactus, cogumelos, 
Rauwolfia serpentina, etc.). Além disso, o etanol tem 
sido muito utilizado por praticamente todos os povos, 
assim como as substâncias inorgânicas, como os sais 
de lítio existentes em águas de algumas fontes que eram 
indicados para tratamentos de pessoas com transtornos 
psiquiátricos na época do Império Romano. Atualmente 
sabemos que todas essas substâncias interferem com 
o funcionamento do sistema nervoso central (SNC), 
embora muitos tratamentos biológicos existentes, até 
mesmo neste século, sejam isentos de efeitos farma-
coló-gicos exceto pelo efeito placebo e algumas pos-
síveis ações psicológicas. As terapias farmacoló-gicas 
constituem a modalidade terapêutica mais amplamente 
utilizada nas últimas quatro décadas. A importância da 
psicofarmacologia é enorme por ter revolucionado a 
psiquiatria, contribuindo para o seu reconhecimento 
como especialidade médica, aproximando-a do modelo 
médico vigente e criando condições para um desenvol-
vimento rápido dos conhecimentos sobre a neuroquí-
mica e neurofisiologia subjacentes ao funcionamento 
do SNC. Além disso, os benefícios diretos aos doentes 
mentais, antes segregados, são inegáveis, pois têm 
permitido sua reintegração na comunidade, através 
do auxílio de outras intervenções psicote-rápicas e de 
reabilitação social.
 CLASSIFICAÇÃO
É importante lembrar que as drogas usadas para o 
tratamento dos transtornos psiquiátricos tratam somente os 
sintomas, nunca a causa, e que antes de prescrever uma 
medicação é importante levar alguns fatores em conta. 
Assim temos:
1) é importante ter uma hipótese diagnóstica bem 
estabelecida;
2) descartar problemas clínicos ou interações medica-
mentosas que possam ser responsáveis pela sintomatolo-
gia; a doença da tireóide, por exemplo, é freqüentemente 
relacionada à presença de sintomatologia psiquiátrica, o 
hipotireoidismo não raro cursa com sintomas depressivos, 
também é comum que drogas usadas para o tratamento 
de labirintopatias, como a cinazirina, provoquem sintomas 
depressivos, os psico-estimulantes, muito usado no ema-
grecimento, podem levar a sintomas maníacos e psicóticos, 
portanto, uma boa história clínica é fundamental;
3) definir sintomas-alvo por ex., ataques de pânico, 
distúrbios do sono, alucinações, humor depressivo, para 
que se possa avaliar a eficácia da medicação instituída.
A classificação tradicional das drogas usadas em 
psiquiatria (ansiolíticos; antipsicóticos; antima-níacos 
e antidepressivos), hoje é questionada por diversas 
razões:
• uma droga de uma classe pode aliviar sintomas 
característicos de muitas doenças, assim, os antide-
pressivos são usados no tratamento da depressão, 
da ansiedade, do transtorno obsessivo-compulsivo, 
na cefaléia, na dor crônica, na enurese noturna, na 
psicose esquizofrênica com sintomas depressivos.
• a mesma patologia pode ser tratada com drogas dife-
rentes, por ex., a doença do pânico é tratada com an-
tidepressivos e ansiolíticos; quadros maníacos podem 
ser tratados com antimaníacos e antipsicóticos;
• drogas usadas em medicina clínica são usadas para 
o tratamento de doenças mentais, por ex., beta-blo-
queadores são úteis para o tratamento da fobia social, 
a clonidina (medicação anti-hipertensiva) pode ser 
usada no tratamento da dependência de opiáceo;
• drogas psiquiátricas são usadas em medicina clínica 
por ex., a fluoxetina é usada em fórmulas de emagre-
cimento, os antidepressivos no tratamento das cefa-
léias e dor crônica, a clorpromazina (antipsicótico) é 
usado como anti-emético.
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
psiquiatria
48
Dessa forma a classificação que iremos usar tem fina-
lidade apenas didática.
 ANTIPSICÓTICOS (NEUROLÉPTICOS)
DEFINIÇÃO
Os antipsicóticos são drogas usadas para o tratamento 
dos quadros psicóticos. Os sintomas psicóticos consistem 
principalmente em delírios, alucinações e distúrbios do 
pensamento (como o descarrilamento e a desagregação). 
Além disso elas agem em nível subcortical, combatendo a 
agitação de qualquer natureza.
As drogas antipsicóticos são indicadas em grande 
variedade de transtornos, portanto a resposta a seu uso 
não é bom parâmetro para fazer diagnóstico, uma vez que, 
além de sua ação antipsicótica, ela tem ação sedativa 
inespecífica.
INDICAÇõES
Os antipsicóticos são indicados nas seguintes situa-
ções:
• esquizofrenia;
• episódios maníacos;
• depressão com sintomas psicóticos;
• transtorno esquizoafetivo;
• transtornos esquizofreniformes;
• transtornos delirantes;
• delirium e psicoses orgânicas;
• demência;
• sintomas psicóticos da doença de Parkinson;
• síndrome de Tourette.
ESqUIzOFRENIA
A esquizofrenia é uma doença crônica e incapacitante, 
de natureza complexa, com manifestações múltiplas e 
quadros variados. Não há consenso sobre ser uma enti-
dade nosológica única ou um conjunto de doenças com 
etiologias diferentes.
Cerca de 1% da população desenvolve esquizofrenia 
ao longo da vida, sua incidência é a mesma em homens 
e mulheres, e também não há diferença de incidência em 
relação à classe social.
Vinte e cinco por cento dos pacientes têm apenas 1 
episódio agudo e evoluem com recuperação completa, 
25% ficam permanentemente perturbados, e outros 50% 
evoluem com episódios agudos intercalados por períodos 
menos sintomáticos.
Sua evolução acontece em surtos, ou seja, a cada 
episódio agudo o paciente não retorna ao nível de funcio-
namento pré-mórbido.
Os sintomas da esquizofrenia são divididos em sin-
tomas positivos e negativos. Os sintomas positivos são 
os delírios (alteração do conteúdo do pensamento, onde o 
indivíduo perde o juízo da realidade, convicções absurdas, 
irrefutáveis pela lógica e experiência), e as alucinações 
(que na esquizofrenia são principalmente auditivas). Já os 
sintomas negativos consistem no empobrecimento do pen-
samento, embotamento afetivo, prejuízo do desempenho 
social, abulia e hipopragmatismo.
Com exceção da clozapina, os antipsicóticos são mais 
eficazes no tratamento dos sintomas positivos que dos 
negativos da doença.
Para os pacientes que têm diagnóstico claro de esqui-
zofrenia, é importante o tratamento a longo prazo, uma vez 
que os pacientes sem manutenção apresentam 50% de 
chance de recaída em 6 meses e 65% a 80% de chance de 
recaída em 1 ano; enquanto os pacientes que permanecem 
com manutenção medicamentosa apresentam 10 a 15% 
de chance de recair em 1 ano. 
EPISÓDIOS mANíACOS
As medicações de primeira escolha no tratamento do 
transtorno bipolar do humor são os antimaníacos. As drogas 
antipsicóticas são de grande importância na abordagem do 
episódio maníaco agudo, quando podem surgir a agitação 
psicomotora, o pensamento delirante com conteúdo de 
grandeza; apesar da grande eficácia da ação dos anti-
maníacos, o tempo de latência da ação dessas drogas faz 
com que tenhamos que lançar mão de drogas de início de 
ação mais rápido.
DEPRESSÃO COm SINTOmAS 
PSICÓTICOS
Alguns quadros depressivos cursam com sintomas 
psicóticos, como pensamentos delirantes com conteúdo 
depressivo e de ruína. Os estudos mostram que quando 
isso ocorre o tratamento de maior eficácia é o usocon-
comitante de antidepressivos e antipsicóticos (70 a 80% 
de resposta contra 30 a 40% quando se usa cada droga 
separadamente).
TRANSTORNO ESqUIzOAFETIvO
O diagnóstico de transtorno esquizoafetivo é aplicado 
naqueles pacientes com períodos de sintomas maníacos 
e/ou depressivos, com proeminentes sintomas psicóticos, 
que estão presentes até mesmo na ausência dos sintomas 
do humor.
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Capítulo 8 – psicofármacos
49
Os sintomas na esfera do humor costumam responder 
bem aos antimaníacos e antidepressivos. E os sintomas 
psicóticos, especialmente aqueles que ocorrem entre os 
episódios de humor, geralmente requerem a instituição de 
medicação antipsicótica.
TRANSTORNO ESqUIzOFRENIFORmE
O transtorno esquizofreniforme é aquele onde os sinto-
mas psicóticos têm curta duração, com retorno completo 
ao funcionamento pré-morbido, e sem futuras reincidências 
dos sintomas.
TRANSTORNO DELIRANTE
Esse transtorno consiste em alteração do pensamento, 
com conteúdo delirante, muitas vezes de cunho persecu-
tório.
Esses pacientes são particularmente difíceis de tratar, 
e geralmente não aceitam que têm algum tipo de doença 
ou necessidade de tratamento. Não é incomum que a 
equipe terapêutica seja rapidamente incorporada às suas 
crenças delirantes.
As medicações antipsicóticas são indicadas e possuem 
maior eficácia no início da doença. Pacientes com longo 
tempo de doença, em que o delírio é mais sistematizado, 
apresentam maior refratariedade às medicações. Assim, o 
tratamento deve ser sempre iniciado com baixas doses, a 
fim de minimizar efeitos colaterais, aumentando a aderência 
ao tratamento.
Delirium E PSICOSES ORgâNICAS
O delirium é uma síndrome clínica que consiste em 
depressão global das funções cerebrais (rebaixamento 
do nível da consciência), geralmente acompanhada de 
quadro de confusão mental, delírios e alucinações pouco 
sistematizadas.
O delirium pode ser resultado de uma grande variedade 
de problemas clínicos, o tratamento principal é o suporte 
clínico e o tratamento da causa base. Muitas vezes esses 
pacientes precisam ser contidos para evitar que se ma-
chuquem, tirem tubos, etc. Até que o tratamento da causa 
base seja instituído, e tenha resultado, pode ser necessário 
o uso dos antipsicóticos.
Existem algumas causas de delirium nas quais não 
são indicados o uso dos antipsicóticos, como é o caso do 
delirium tremens.
Quando se opta pelo uso dos antipsicóticos deve-se 
dar preferência àqueles de alta potência, que possuem 
menos efeitos cardiorrespiratórios.
DEmêNCIA
Na abordagem de pacientes dementes os antipsicóticos 
têm 2 funções principais: o tratamento das complicações 
psicóticas, que podem acontecer no decorrer da doença, 
e o tratamento da agitação psicomotora.
SINTOmAS PSICÓTICOS NA DOENÇA DE 
PARkINSON
Alguns pacientes com Parkinson podem apresentar 
sintomas psicóticos secundários ao uso das medicações 
anti-parkinsonianas ou pela demência, que pode ocorrer 
no decorrer da patologia.
SíNDROmE DE TOURETTE
A síndrome de Tourette é caracterizada por múltiplos tics 
fônicos e motores que se desenvolvem desde a infância e 
têm curso crônico. A natureza e a gravidade dos sintomas 
variam muito de indivíduo para indivíduo, e podem ser 
agravados com impulsividade, obsessões e compulsões.
 POTêNCIA X EFICÁCIA
Para compreensão dos antipsicóticos é necessário ter 
em mente os conceitos de potência e eficácia.
A eficácia se refere à ação terapêutica de uma droga, 
ou seja, aos efeitos sobre as doenças e sintomas que 
se deseja combater.
A potência se refere à quantidade da droga para se 
obter os efeitos terapêuticos. Assim, as drogas de baixa 
potência são aquelas que necessitam altas doses para se 
obter os efeitos terapêuticos, enquanto as drogas de alta 
potência necessitam de baixas doses para se obter os 
mesmos efeitos. 
 CLASSIFICAÇÃO
Existem 2 classes principais de antipsicóticos: típicos ou 
de primeira geração; atípicos ou de segunda geração.
Os antipsicóticos típicos são divididos em drogas 
de alta potência e de baixa potência.
Os antipsicóticos de alta potência (por ex., Haldol) 
necessitam de uma dose menor, em miligramas, para 
obter seu efeito terapêutico. São drogas pouco sedativas, 
alteram a pressão arterial, têm pouco efeito anticolinérgico 
e grande efeito extrapiramidal.
As drogas de baixa potência (por ex., amplictil) neces-
sitam de doses maiores, em miligramas, para seu efeito. 
São substâncias sedativas, hipotensoras, anticolinérgicas 
e têm pouco efeito extrapiramidal.
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
psiquiatria
50
ANTIPSICÓTICOS TíPICOS OU DE 
PRImEIRA gERAÇÃO
São medicações eficazes para o tratamento de episó-
dios psicóticos agudos ou crônicos. São predominante-
mente eficazes para os sintomas positivos e não têm ação 
importante em sintomas negativos. Apresentam muitos 
efeitos colaterais (parkinsonismo) e maior chance de de-
senvolver descinesia tardia.
Mecanismos de ação dos antipsicóticos típicos: os 
antipsicóticos típicos não diferem quanto à eficácia. Eles di-
ferem quanto à potência e ao perfil de efeitos colaterais.
A melhora inicial do paciente se devem por ação seda-
tiva inespecífica e os efeitos antipsicóticos propriamente 
dito só são observados 4 a 6 semanas após a instituição 
das medicações antipsicóticas.
Embora úteis para tratar os sintomas positivos, são 
pouco eficazes no tratamento dos sintomas negativos da 
esquizofrenia, onde os antipsicóticos atípicos “prometem” 
ter maior eficácia.
O principal mecanismo de ação dessas drogas se dá pe-
los efeitos de bloqueio dos receptores da dopamina (D2).
As principais vias dopaminérgicas do SNC são:
• a via mesolímbica: vai do tegumento mesencefálico 
para as áreas límbicas, onde se supõe que o aumento 
da atividade da dopamina é responsável pelos sintomas 
positivos da esquizo-frenia;
• a via mesocortical: vai da área tegumental para o 
córtex pré-frontal, onde se supõe que a diminuição 
da atividade dopaminérgica leva aos sintomas ne-
gativos;
• a via meso-estriatal: projeção da substância negra 
para os núcleos da base, onde o bloqueio dopami-
nérgico é responsável pelos efeitos motores;
• o hipotálamo: nesta área a dopamina bloqueia a 
liberação de prolactina.
Além do bloqueio dos receptores D2, os antipsicóticos 
típicos atuam sobre vários outros receptores o que lhe 
atribui um perfil de efeitos colaterais.
Efeitos colaterais dos antipsicóticos típicos: além do 
efeito terapêutico, o bloqueio dos receptores dopaminérgi-
cos também é responsável por muitos efeitos colaterais.
O bloqueio de dopamina no hipotálamo eleva a secre-
ção de prolactina, levando à amenorréia, ao aumento da 
mama, a disfunções sexuais e à galactorréia.
Efeitos motores que se devem à ação do bloqueio na 
região meso-estriatal:
• síndrome Parkinsonóide: caracterizada por lentidão 
dos movimentos, tremor de extremidade, imobilidade 
da expressão facial, marcha de pequenos passos;
• distonia aguda: contratura muscular aguda e in-
termitente, usualmente envolvendo os músculos do 
pescoço, da língua, da face e das costas;
• acatisia: estado de desconforto intenso nos membros 
inferiores com incapacidade do paciente de perma-
necer com as pernas paradas;
• discinesia tardia: ocorre com o uso prolongado dos 
antipsicóticos típicos e consiste em movimentos invo-
luntários, principalmente da face, como movimentos 
laterais da mandíbula e movimentos anormais da 
língua, e ocorreem 10 a 20% dos pacientes. A in-
cidência desses efeitos colaterais é alta no uso dos 
antipsicóticos típicos. Eles são minimi-zados com o 
uso concomitante de drogas anticolinérgicas, como 
o fenergam (prometazina) e o akineton (biperideno);
• diminuição do limiar de convulsão: principalmente 
nos antipsicóticos de baixa potência;
• síndrome neuroléptica maligna: trata-se de reação 
idiosincrásica, onde o principal sintoma é a febre 
alta, podendo chegar a 41°C; seguida de rigidez, 
instabilidade autonômica e delirium.
Efeitos cardiovasculares: • hipotensão postural 
– consiste na queda de pressão que ocorre na mudança 
de decúbito, sendo observada principalmente nas drogas 
de baixa potência;
• toxicidade cardíaca – pode ocorrer diminuição da 
velocidade de condução cardíaca. É encontrada 
principalmente no pimozide.
Peso: ganho de peso é observado na maioria dos 
antipsicóticos, tanto típicos quanto atípicos.
Efeitos oculares: • visão borrada – é encontrada 
principalmente com o uso de antipsicóticos de baixa po-
tência, devido a seus efeitos anticolinérgicos que provocam 
dificuldade de acomodação visual levando à dificuldade 
de leitura.
Outros efeitos anticolinérgicos: • Boca seca;
• Retenção urinária;
• Constipação intestinal;
• Piora de alguns tipos de glaucoma.
De forma geral, os antipsicóticos de baixa potência, 
como o amplicitil, têm maior efeito sedativo, hipotensor e 
anticolinérgico, enquanto as drogas de alta potência têm 
maior efeito motor.
Alguns desses efeitos colaterais podem ser confundi-
dos, como piora dos sintomas psicóticos, por exemplo, a 
acatisia.
Apesar dos efeitos colaterais intensos dessas drogas, 
esses medicamentos são bastante seguros.
Apresentação: as drogas antipsicóticas estão disponí-
veis para uso oral, comprimido ou líquido. Dessa forma tem 
boa absorção, apesar da interferência quando administra-
das com antiácidos, e do forte efeito de primeira passagem. 
A forma líquida tem absorção mais rápida.
Existem também as formas injetáveis, administrados IM, 
que têm início de ação em cerca de 15 a 20 minutos.
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Capítulo 8 – psicofármacos
51
Existem preparações de depósito, muito úteis para pacien-
tes com baixa aderência ao tratamento. Elas são preparações 
em veículo oleoso, que podem ser dadas quinzenalmente 
(anatensol depot), ou mensalmente (haldol decanoato).
OS ANTIPSICÓTICOS ATíPICOS
O grande problema no tratamento da esquizo-frenia, 
é que os antipsicóticos típicos tratam com sucesso os 
sintomas positivos, mas não tratam os sintomas negativos 
da esquizofrenia. Com isso se desenvolveu um grupo de 
medicamentos com perfil de ação nos neurotransmissores 
um pouco diferente, que prometem ser mais eficazes. A 
percussora destas drogas foi a clozapina, lançada nos EUA 
em 1960, mas foi proibida devido ao grave e potencialmente 
fatal efeito hematológico, agranulocitose, que ocorre em 
1% dos pacientes. Hoje seu uso é permitido somente com 
rígido acompanhamento da contagem das células brancas, 
que nos primeiros 6 meses de tratamento deve ser semanal. 
Além disso ela provoca muita sedação, ganho de peso, 
diminuição do limiar de convulsão.
A risperidona é uma medicação que, pelo seu perfil de 
ação sobre os receptores, tem a vantagem de ter menos 
efeitos extrapiramidais.
A olanzapina é, dos atípicos, o que tem maior seme-
lhança com a clozapina, sem apresentar o efeito colateral 
hematológico grave, e parece ter importante eficácia nos 
sintomas negativos. Também apresenta importantes efeitos 
sedativos.
A escolha do antipsicótico: como já foi dito, todos os 
antipsicóticos com exceção da clozapina e possivelmente 
da olanzapina, têm eficácia semelhante. Assim alguns 
critérios de escolha são utilizados:
• resposta prévia favorável com determinada medi-
cação;
• perfil de efeitos colaterais: por ex., usar drogas mais 
sedativas em pacientes mais agitados ou, no caso de in-
tolerância aos efeitos extrapiramidais, usar um atípico;
• pacientes com convulsões devem usar drogas de alta 
potência, que interferem menos no limiar de convulsão;
• pacientes idosos e cardiopatas devem usar drogas 
de alta potência;
Tabela 1. 
Nome/marca Apresentação/preço Dose terapêutica / dose máxima
Nome convencional / 
Laboratório
Clorpromazina 25 (20cp) / R$ 2,52
100 (20cp) / R$ 3,71
Gotas (4%) / R$ 2,97
300-800/800-1.200 mg/dia Amplicitil, Longanctil, Rhodia 
farma, Cristália
Flufenazina 5 (20cp) / R$ 19,77 5-10/30 mg/dia Fufenazina, Cristália
Haloperidol 1 (20cp) / R$ 2,20
5 (20cp) / R$ 4,15
Gotas (2%)/ R$3,57
5-15/30 mg/dia Haldol, Haloperidol, Janssen-
Cilag, Cristália
Levomeprazina 25 (20cp)/ R$3,86
100 (20cp) / R$ 8,38
Gotas (4%) / R$ 5,17
100-300/600 mg/dia Neozine, Levozine
Periciazina 10 (20cp) / R$ 3,66
Gotas (4%) / R$ 7,25
10-20/90 mg/dia Neuleptil, Rhodia farma
Penfluridol 20 (6cp) / R$ 4,58 20-40/60 mg/dia Senap-Depot, Janssen-Cilag
Pimozide 1 (20cp) / R$ 5,00
4 (20cp) / R$ 8,10
2-4/8 mg/dia Orap, Janssen-Cilag
Popotiazina 10 (20cp) / R$35,45 20-50/100 mg/dia Piportil Rhodia
Sulpiride 50 (20cp) / R$7,2 - 5,0*
200 (20cp) / R$ 10,7 - 9,5*
600 - 1.000 / 1.600 mg/dia Dogmatil, Equilid*, 
Synthelabo, HMR
Tiodazina 10 (20cp) / R$ 3,45
25 (20cp) / R$ 6,16
50 (20cp) / R$ 7,41
100 (20cp) / R$ 13,51
200 (20cp) / R$ 24,83
Gotas (3%) R$ 11,43
200 - 300/600 mg/dia Melleril, Novartis
Trifluoperazina Stelazine 2 (20cp) / R4 3,76
5 (20cp) / R$ 4,86 
15-20/40 mg/dia Smithkline, Enila
Zuclopentixol 10 (20cp) / R$ 14,65
25 (20cp) / R$ 31,92
20-40/75 mg/dia Clopixol, Shering Plough
Paola
Realce
Paola
Realce
psiquiatria
52
• uso de medicação de depósito em pacientes com 
baixa aderência ao tratamento.
Antipsicóticos atípicos ou de segunda geração: 
devem ser utilizados como primeira escolha no tratamento 
do primeiro episódio psicótico, quando há intolerância 
pelos neurolépticos típicos ou predominância de sintomas 
negativos. Os mais indicados para o primeiro uso são a 
risperidona e a olanzapina.
 ANTIDEPRESSIvOS
DEFINIÇÃO
Os antidepressivos são um grupo heterogêneo de 
drogas que consistem na pedra angular do tratamento da 
depressão e de outros transtornos psiquiátricos.
Os antidepressivos clássicos foram descobertos por 
acaso. No início da década de 1950 os investigadores 
observaram que pacientes tuberculosos apresentavam 
elevação prolongada do humor quando tratados com a 
iproniazida, uma droga (IMAO) considerada um antituber-
culose. A iproniazida não se mostrou eficaz no tratamento 
da depressão. Essa droga foi posteriormente retirada do 
mercado devido ao temor que provocava necrose hepá-
tica.
INDICAÇõES
Depressão maior: a depressão é um transtorno psiqui-
átrico que tem como sintoma principal o humor deprimido, 
sendo os demais sintomas conseqüentes da alteração do 
humor, como a falta de interesse e prazer, a energia redu-
zida, os pensamentos pessimistas.
Ela tem prevalência de 5% na população geral, e aco-
mete duas vezes mais mulheres que homens. Dez a 15% 
dos pacientes deprimidos tentam suicídio.
Existem várias formas de apresentação da depressão. 
Na depressão típica ocorre, além do humor deprimido, 
a diminuição da psicomotricidade, insônia, e diminuição 
do apetite. Na depressão atípica observamos agitação, 
ansiedade, hipersonia e aumento do apetite. Em alguns 
casos o sintoma que predomina é a irritação e a ansie-
dade. Além disso, alguns pacientes deprimidos podem 
cursar com sintomas psicóticos quando se observa que a 
melhor resposta se dá com a combinação de medicações 
antidepressivas aos antipsicóticos.
Estudos controlados mostram que 20 a 40% dos pa-
cientes apresentam melhora, não pelo efeitoterapêutico 
da droga, mas pelo seu efeito placebo. Em geral quando 
isso acontece, a melhora se dá ao longo das 2 primeiras 
semanas de tratamento, com recaída em seguida. Esse 
efeito ocorre com menos freqüência nas depressões mais 
graves.
Cinqüenta por cento dos pacientes deprimidos res-
pondem ao tratamento medicamentoso, com o uso de 
apenas uma droga. Do restante, alguns vão apresentar 
melhora sem remissão completa dos sintomas, e 10 a 
15% não vão apresentar melhora. Para aqueles que não 
apresentam remissão completa dos sintomas, podem-se 
associar outras drogas, a fim de potencializar o efeito dos 
antidepressivos.
As razões mais comuns para a falência do tratamento 
são dose inadequada e uso da medicação por tempo insu-
ficiente, já que os antidepressivos levam de 3 a 6 semanas 
para apresentarem efeitos terapêuticos.
Luto patológico: após perda, de uma pessoa querida 
ou de um emprego, ocorre o comprometimento da auto-
estima e sintomas depressivos. Na maioria dos casos o 
tratamento principal é a psicoterapia, mas algumas vezes 
esses sintomas são muito intensos e têm durabilidade 
muito grande, necessitando de introdução de medicação 
antidepressiva. A dose de antidepressivo recomendada é a 
mesma usada para o tratamento da depressão, mas o que 
se observa é que a medicação pode ser retirada precoce-
mente, após remissão completa dos sintomas depressivos 
de acordo com a rapidez da resposta.
Estudos recentes sugerem que algumas formas de psi-
coterapia podem ser tão eficazes quanto à farmacoterapia 
em quadros depressivos moderados, e que a combinação 
das duas modalidades de tratamento é mais eficaz que 
ambas isoladamente. 
Depressão do transtorno bipolar: qualquer droga 
antidepressiva é eficaz no tratamento da depressão, que 
ocorre no curso da doença bipolar, mas há algumas com-
plicações que podem ser observadas:
• 30 a 50% dos pacientes desenvolvem episódio maní-
aco durante o tratamento com antidepressivos;
• em alguns pacientes a instituição do antidepressivo 
pode desencadear e manter a ciclagem rápida (mais 
de 3 episódios maníacos por ano), apresentando 
também diminuição à resposta com lítio.
Nesses casos, pode ser útil fazer um gráfico com o 
curso da doença, com tempo e gravidade dos sintomas, 
bem como com a resposta às medicações usadas.
Distimia: a distimia consiste em sintomas leves/mode-
rados de depressão de curso crônico.
Já se acreditou que esses pacientes não apresentavam 
melhora com a medicação antidepressiva, e isso aconte-
ceu pois os sintomas não apresentam muita gravidade e 
pouca intensidade, então eram utilizadas doses baixas dos 
antidepressivos, o que levava à ausência de resposta. O 
que observamos, no entanto, é que os pacientes podem se 
beneficiar com o uso da medicação de forma apropriada 
e associada à psicoterapia.
Transtorno do humor secundário a condições 
clínicas: os transtornos do humor devem ser sempre 
considerados um diagnóstico de exclusão, ou seja, após 
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Paola
Realce
Capítulo 8 – psicofármacos
53
descartada qualquer patologia clínica que possa cursar 
com quadro depressivo, uma vez que existem muitas do-
enças não-psiquiátricas (neurológicas, endocrinológicas) e 
medicações que podem cursar com sintomas depressivos. 
Podemos listar algumas patologias para as quais devemos 
estar atentos:
• medicações: anti-hipertensivos, corticóides, medi-
cações usadas no tratamento das labirintopatias, 
benzodiazepínicos;
• abuso de drogas: ansiolíticos, álcool, abstinência a 
psico-estimulantes;
• endócrinas: hiper e hipotireoidismo, diabetes;
• neurológicas: AVC, demência, Parkinson;
• outras: carcinoma pancreático, infecções virais, de-
ficiência de B12;
Nos casos em que a condição de base foi tratada sem 
remissão completa dos sintomas depressivos, pode-se 
instituir a medicação antidepressiva.
Transtorno do pânico: consiste na ocorrência de sin-
tomas agudos de ansiedade, físicos (taquicardia, dor pre-
cordial, falta de ar, cefaléia, tremor, sudorese e alterações 
gastrintestinais) e psíquicos (medo de perder o controle, 
medo de enlouquecer, desrealização, despersonalização 
e medo de morrer). Ela pode cursar com ansiedade ante-
cipatória e comportamento fóbico, como a agorafobia, em 
que o indivíduo pára de sair, pelo receio de ter uma crise 
de pânico em local que não pode ser socorrido.
Os antidepressivos são bastante eficazes no tratamento 
do pânico. No início do tratamento, muitas vezes é neces-
sário o uso concomitante de benzodiazepínicos.
Transtorno obsessivo-compulsivo: o transtorno 
obsessivo-compulsivo consiste em pensamentos intrusos 
(obsessões), que o indivíduo reconhece como absurdos 
e que são muitas vezes seguidos de uma atitude para 
neutralizar o pensamento (compulsões).
O tratamento é feito com medicação antidepressiva, 
muitas vezes necessitando doses maiores que as usadas no 
tratamento dos quadros depressivos. Além disso, observa-se 
que os pensamentos obsessivos respondem melhor ao trata-
mento farmacológico que o comportamento compulsivo.
Transtorno dismórfico corporal: consiste na preocu-
pação excessiva com um defeito físico imaginado. Parece 
responder bem à medicação antidepressiva.
Transtorno de estresse pós-traumático: seguido de 
uma experiência traumática; o indivíduo pode desenvolver 
a sensação de reviver a experiência traumática (flashback), 
podendo ser complicado com sintomas de depressão e 
comportamento fóbico.
Fobia social: é definida como medo persistente de 
situações sociais em que o indivíduo se sente vulnerável 
a humilhações. Esse transtorno pode ser tratado com anti-
depressivos, beta-bloqueadores e costuma apresentar boa 
resposta à terapia cognitivo-comportamental.
Transtornos alimentares: os transtornos alimentares 
se caracterizam pela preocupação patológica com o peso, 
forma física e desejo intenso de emagrecer. Eles são a 
anorexia (onde o indivíduo, em geral mulheres jovens, se 
submetem a regimes alimentares radicais, acreditando-se 
obesas apesar de muito abaixo do peso; cursa com com-
plicações clínicas graves, como desnutrição, amenorréia, 
Tabela 2. Antipsicóticos atípicos
Nome/marca Apresentação Dose terapêutica/ Dose máxima Indicações
Amisulprida Socian 50 (20cp)
200 (20cp)
200 - 500 mg/dia
800 mg/dia
Sintomas negativos até 300 mg/dia
Sintomas positivos de 400 a 800 
mg/dia
Olanzapina 2,5 (14cp)
2,5 (28cp)
5 (14cp)
5 (28cp)
10 (14cp)
10 (28cp)
10-20 mg/dia
20 mg/dia
Predominância de sintomas negati-
vos e depressivos. 
Primeiro episódio psicótico, 
intolerância e neurolépticos 
típicos.
Risperidona 1 (20cp) 1-4 mg/dia Sintomas positivos e negativos
Risperdal** Zargus 1 (20cp)
3 (20cp) 16 mg/dia
Primeiro episódio psicótico, 
intolerância a neurolépticos típicos 
Clozapina 25 (20cp)
100 (30 cp)
300-450 mg/dia
900 mg/dia
Em casos de discenia tardia e 
esquizofrenia refratária
Quetiapina 25 (14cp)
100 (28cp)
300-400 mg/dia
750 mg/dia
Sintomas negativos e depressivos
Ziprasidona 40 (14cp)
40 (30cp)
80 (30cp)
40-160 mg/dia
160 mg/dia
Sintomas positivos e negativos.
Na depressão associada com 
ganho de peso
Aripiprazol 10, 15 15 mg/dia Sintomas negativos e positivos
psiquiatria
54
distúrbios metabólicos e morte), e a bulimia (onde o pa-
ciente apresenta episódios de compulsão alimentar, com 
ingesta de grande quantidade de alimentos, seguida de 
comportamento purgativo, como vômitos e uso de laxan-
tes). Os antidepressivos são muito eficazes no tratamento 
da bulimia.
Transtorno de ansiedade generalizada: consiste na 
presença de sintomas de ansiedade de forma crônica, 
com grande comprometimento da vida do indivíduo. Os 
sintomas duram mais que 6 meses.
Déficit de atenção e hiperatividade: trata-se de um 
transtorno que tem iníciona infância e cursa com dificulda-
de de manter a atenção, a impulsividade e a hiperatividade. 
É mais freqüentemente tratado com psico-estimulantes, 
mas parece ter boa resposta à bupropiona.
Dor crônica: os antidepressivos têm se mostrado úteis 
no tratamento da dor crônica, mesmo na ausência da de-
pressão. Nesses casos são usados doses menores que 
aquelas usadas no tratamento da depressão. A melhor res-
posta é com os tricíclicos (principalmente a amitriptilina).
mECANISmO DE AÇÃO
O mecanismo de ação preciso pelo qual os antidepres-
sivos exercem seu efeito terapêutico ainda é desconhecido, 
mas sabemos qual é a sua ação aguda no SNC.
Sua principal interação se dá com os sistemas noradre-
nergéticos e serotoninérgicos (noradrenalina e serotonina), 
onde regulam muitas funções psíquicas, como a vigilância, 
a atenção e os estados de humor.
Após a liberação na fenda sináptica, a serotonina e a 
noradrenalina podem ser destruídas pela enzima monoami-
xodase, podem ser recaptadas, quando estarão novamente 
dentro de vesículas do neurônio pré-sináptico para serem 
novamente liberadas. Dessa forma os antidepressivos atu-
am na inibição da recaptação, na inibição da recaptação 
ou na inibição da monoaminoxidase.
 CLASSIFICAÇÃO
Os antidepressivos podem ser classificados conforme 
a seguir.
Tricíclicos e tetracíclicos: os tricíclicos foram des-
cobertos em 1950, por acaso, uma vez que têm estrutura 
química semelhante à da clorpromazina (antipsicótico de 
alta potência), e estava sendo testada em suas proprieda-
des antipsicóticas, que não existem, mas observaram-se 
propriedades antide-pressivas.
São classificados em tricíclicos devido à sua forma quí-
mica. A maioria das drogas dessa classe (com exceção da 
cloimipramina) tem pouca atuação na serotonina, atuando 
principalmente na noradrenalina, além de atuarem em ou-
tros receptores com histamínicos e na acetilcolina.
Os principais representantes desse tipo de droga 
são:
• imipramina (tofranil);
• cloimipramina (anafranil);
• nortriptilina (pamelor);
• amitriptilina (amitril);
• maprotilina (ludiomil - falso tetracíclico);
• mianserina (Tolvon);
Os principais efeitos colaterais são:
• efeitos colinérgicos (boca seca, constipação intesti-
nal, visão turva, retenção urinária);
• cardiovasculares (hipotensão ortostática, lentificação 
da condução cardíaca, hipertensão arterial);
• sistema nervoso central (tremor, sedação, excita-
ção);
• outros (transpiração, ganho de peso, impotência 
sexual e outras disfunções sexuais).
O grande problema dos tricíclicos é o risco de overdose. 
Em doses superiores a 1 g, podem vir a ser fatais, levando 
à morte por arritmia cardíaca, hipotensão e convulsões 
incontroláveis.
Inibidores seletivos da recaptação da serotonina: 
o primeiro inibidor da recaptação da serotonina, a fluoxe-
tina, foi liberada para uso em 1987, nos Estados Unidos, 
e representou uma revolução no tratamento dos quadros 
de depressão e ansiedade. O sucesso dessa classe de 
drogas se deu primeiro pelo melhor perfil de efeitos cola-
terais (não há efeitos anticolinérgicos, não provoca ganho 
de peso e não é cardiotóxica), e também por se tratar 
de uma droga relativamente segura quando ingerida em 
grandes doses.
Apesar de serem drogas bem toleradas pela maioria 
dos pacientes, não são totalmente livre de efeitos colaterais, 
sendo os principais:
• ansiedade a agitação inicial;
• náusea;
• cefaléia;
• disfunção sexual.
Apesar de todos os inibidores da recaptação da sero-
tonina agirem de forma muito semelhante, algumas vezes 
os pacientes não toleram bem uma droga e toleram muito 
bem outra.
Os principais representantes dessa classe de drogas 
são:
• fluoxetina (prozac, fluoxene, daforin);
• paroxetina (aropax);
• sertralina (zoloft);
• citalopran (cipramil);
• escitalopran (lexapro).
Inibidores da monoaminoxidase (IMAO): o primeiro 
Capítulo 8 – psicofármacos
55
fármaco no qual foi observado efeito antidepressivo foi um 
inibidor da monoaminoxidase (iproniazida). Inicialmente 
usado no tratamento da tuberculose, teve seu uso suspenso 
pela hepatoxicidade.
A monoaminoxidase é enzima responsável pela degrada-
ção das aminas (noradrenalina e serotonina). É encontrada 
no SNC e no sistema digestivo (onde degrada as aminas 
encontradas nos alimentos). O problema do uso dessa droga 
é que, como as aminas provocam aumento da pressão arterial 
e não são restritas ao sistema nervoso central, a inibição da 
monoaminoxidase tem que ser acompanhada de uma restri-
ção dietética, a fim de não promover crise hipertensiva.
Existem 2 tipos de inibidores da MAO, um irreversível 
(que possui problema de interações com medicações e 
alimentos), e o inibidor reversível (que não apresenta pro-
blema de interações com medicações e alimentos).
Alimentos a serem evitados quando se usa um IMAO:
• cerveja, vinho tinto;
• queijos curados (cottage e requeijão são permiti-
dos);
• salsicha seca;
• favas;
• levedura de cerveja;
• peixes defumados;
• fígado (bovino ou de galinha);
• álcool (em excesso);
• abacate maduro (em excesso);
• iogurte (em excesso);
• bananas maduras (em excesso);
• molho de soja (em excesso);
• chocolate (em excesso);
• figos (em excesso);
• amaciantes de carne (em excesso);
• bebidas contendo cafeína (em excesso);
• passas (em excesso).
Medicações a serem evitadas quando se faz uso de 
IMAO irreversível:
• descongestionante nasal;
• medicações para emagrecer;
• estimulantes;
• alguns analgésicos;
• alguns anti-alérgicos.
No Brasil temos 2 tipos de IMAO:
Tranilcipromina (parnate) – inibidor irreversível;
Moclobemida (aurorix) – inibidor reversível.
Os IMAO parecem ter, particularmente bom efeito em 
depressões resistentes, principalmente do tipo melancólica, 
e têm bom perfil de efeitos colaterais, sendo a náusea o 
principal deles.
OUTROS ANTIDEPRESSIvOS
Bupropiona (wellbutrin, zyban, zetron): trata-se de 
uma medicação que parece atuar no sistema noradrenér-
gico e dopaminérgico (inibindo a recaptação desses neuro-
transmissores). É interessante por algumas características 
clinicas: parece não estar associada à virada maníaca ou 
à indução de ciclagem rápida nos casos de depressão 
bipolar, outra situação em que essa droga é mais eficaz 
no tratamento do déficit de atenção e hiperatividade que 
os outros antidepressivos. Por outro lado, parece não ser 
eficaz no tratamento dos transtornos ansiosos. Tem perfil 
favorável aos efeitos colaterais, e os mais comuns são 
insônia (que pode ser controlada usando-se a droga no 
período da manhã), boca seca e tremor, não apresentando 
efeito sobre o apetite. Existem relatos de que pacientes com 
disfunções sexuais, quando em uso de outros antidepres-
sivos, evoluem melhor quando usam a bupropiona. O pior 
efeito colateral são as crises convulsivas, que parecem ter 
maior chance de acontecer quando o paciente tem história 
de crises convulsivas anteriores, lesões cranio-encefálicas, 
bulimia e anorexia.
Não é uma droga segura quando ingerida em altas 
doses, havendo relatos de morte e estados de mal epilé-
tico, portanto deve ser dada com cautela pacientes com 
risco de suicídio.
Mirtazapina (remeron): a ação da mirtazapina é bem 
incomum em relação a outros antidepressivos. Ela parece 
ser um antagonista dos receptores alfa 2 adrenergéticos 
centrais e, através de mecanismos compensatórios, acaba 
resultando no aumento da noradrenalina e da serotonina.
Existe a hipótese de que ela promova uma reposta mais 
rápida que os demais antidepressivos, e parece ser útil na 
maioria dos quadros de ansiedade.
Os efeitos colaterais mais comuns associados à mir-
tazapina são boca seca, sonolência e ganho de peso, 
sendo a sonolência observada mais freqüentemente em 
doses mais baixas. E parece terefeitos sexuais com menor 
freqüência.
Venlafaxina (efexor): o efexor tem ação de inibir a 
recaptação da serotonina e noradrenalina. Parece ter bom 
efeito no tratamento da ansiedade generalizada. Além dis-
so, vários estudos sugerem sua eficácia no tratamento do 
déficit de atenção e hiperatividade, tanto em crianças como 
em adultos, tendo a vantagem de não apresentar potencial 
de abuso, como acontece com o metilfenidato.
Dentre os efeitos colaterais, o maior responsável pelo 
abandono do tratamento é a insônia. Além disso podem 
ocorrer náuseas e disfunções sexuais. Como é uma droga 
que pode provocar aumento da pressão arterial, ela deve 
ser monitorada com freqüência.
Não é comum a ocorrência de letalidade em altas doses 
da venlafaxina.
Reboxetina (prolift): trata-se de um inibidor seletivo 
da recaptação da noradrenalina, tendo como vantagem 
psiquiatria
56
a diferenciação do mecanismo de ação, uma vez que a 
etiologia da depressão não está definida. E aprovado pela 
FDA somente para o tratamento da depressão maior. 
Em relação ao perfil de efeitos colaterais é importante 
pensar que ele tem menor propensão em causar problemas 
sexuais que outros antidepressivos, como os inibidores 
seletivos da recaptação da serotonina; e é segura nos 
quadros de intoxicação.
Trazodone (domaren): inibidor fraco da recaptação de 
serotonina, bloqueia receptor de adrenérgico (hipotensor 
e sedativo). Indicado para depressão com insônia. Dose 
de 50 - 600 mg/dn. Há risco priapismo com o uso de altas 
doses.
Duloxetina (cymbalta - dose 60-120 mg-dia): blo-
queia a noradrenalina e a serotonina já em doses baixas, 
e parece não aumentar a pressão arterial. Não apresenta 
efeitos anticolinérgicos, antissustamínicos e hipotensores. 
Pode ser uma alternativa para o tratamento da dor crônica. 
Os efeitos colterais são náuseas, ansiedade, sudorese e 
disfunção sexual.
 A ESCOLHA DO ANTIDEPRESSIvO
Com tantos antidepressivos disponíveis, uma boa es-
colha requer alguns passos:
• boa história clínica e diagnóstico bem feito. Em de-
terminadas patologias se sabe da melhor resposta 
clínica a um determinado antidepressivo, assim o TOC 
costuma apresentar boa resposta aos inibidores sele-
tivos da recaptação da serotonina; para um paciente 
que deseja abandonar o tabagismo devemos optar 
pela bupropiona, o transtorno do pânico responde 
bem à imipramina; pacientes que apresentam insô-
nia podem fazer uso de medicações mais sedativas, 
como a mirtazapina;
• droga com perfil de efeitos colaterais adequados ao 
paciente em questão, por exemplo, em um paciente 
idoso ou cardiopata deve-se evitar os tricíclicos, em 
um paciente com história prévia de convulsões não 
se deve usar a bupropiona; pacientes com risco 
de suicídio não devem usar drogas com potencial 
letalidade, como os tricíclicos e a bupropiona, a não 
ser que estejam em intensa vigilância ou não tenham 
acesso à própria medicação;
• uso de dose adequada para que se possa garantir 
a eficácia de uma medicação e também o uso por 
tempo adequado, já que sabemos que os efeitos 
terapêuticos dos antidepressivos só aparecem após 
3 a 6 semanas de tratamento. A dose e o tempo 
inadequados ao tratamento a maior causa de sua 
falência.
 ESTABILIzADORES DO HUmOR
Definição: os estabilizadores do humor são drogas 
usadas no tratamento dos transtornos bipolares do humor, 
não sendo essa, no entanto, a sua única indicação. Em 
geral elas mais eficazes no tratamento da fase maníaca 
que na depressiva do transtorno bipolar do humor, e atuam 
também diminuindo a flutuação do humor, característica 
desse diagnóstico.
As drogas usadas como estabilizadores do humor são o 
lítio e alguns anticonvulsivantes, como a carbamazepina e 
o ácido valpróico. Novos anticonvulsivantes, como a lamo-
trigina e o topiramato, também têm se mostrado eficazes 
como estabilizadores do humor.
CARBONATO DE LíTIO 
O lítio foi a primeira droga a ser usada como estabiliza-
dor do humor, e é um medicamento chave no tratamento 
dos pacientes bipolares, sendo, ainda hoje, a primeira 
droga de escolha nesses casos.
O lítio é um sal, excretado quase completamente pela 
via renal, concorrendo a esse nível com o sódio, por isso 
situações que promovem a diminuição sérica do sódio 
(como o uso de alguns diuréticos) ou situações de compro-
metimento da função renal levam ao aumento da litemia. O 
médico, então, deve estar atento a essas situações.
Indicações: a principal indicação do uso do lítio é o 
tratamento do transtorno bipolar do humor e, como já foi 
dito, ele atua melhor nos quadros maníacos que nos epi-
sódios depressivos.
No tratamento da mania aguda observa-se o início do 
efeito terapêutico do lítio em 10 a 14 dias após o início do 
tratamento, e seu efeito completo ocorre em cerca de 4 se-
manas. Nos casos leves de mania, pode-se obter sucesso 
terapêutico utilizando o lítio como única droga, porém em 
casos leves de mania severa pode ser necessário o uso 
de outras medicações, como antipsicóticos e/ou benzo-
diazepínicos. Quando se opta pelo uso de antipsi-cóticos, 
devem-se usar doses terapêuticas completas e a droga 
deve ser suspensa gradualmente, quando o paciente 
apresentar remissão dos sintomas, uma vez que pacientes 
com transtorno do humor estão mais sujeitos à discinesia 
tardia que pacientes esquizofrênicos, quando se usa an-
tipsicóticos por muito tempo.
Existem algumas características que predispõem o 
paciente a uma má resposta ao lítio: ciclagem rápida, co-
morbidades psiquiátricas, sintomas mistos de depressão 
e mania, mania disfórica. Nesses casos pode ser neces-
sário o uso de outro estabilizador do humor sozinho ou em 
associação com o lítio.
Capítulo 8 – psicofármacos
57
Na abordagem dos episódios depressivos do paciente 
com transtorno bipolar do humor, quando se trata de episó-
dio grave, pode ser necessário o uso de antidepressivos, 
o que deve ser feito com cautela, e pelo menor tempo 
possível (ao contrário do que é indicado no tratamento 
da depressão unipolar) já que essas medicações podem 
predispor à virada maníaca e à ciclagem rápida.
O tratamento do transtorno bipolar deve ser feito a lon-
go prazo, com estabilizadores do humor, uma vez que os 
pacientes podem sofrer recorrências. Estudos mostram que 
a terapia com o lítio vai diminuir a freqüência e a gravidade 
dessas recorrências.
O grande problema no tratamento com o lítio é a 
aderência ao tratamento, já que se trata de uma droga 
de baixo índice terapêutico, ou seja, a dose terapêutica é 
muito próxima à dose letal. No início do tratamento deve-se 
verificar a litemia semanalmente, até que se atinja a dose 
terapêutica (a coleta do sangue deve ser feita 12 horas 
após a última tomada). A partir daí, deve-se ter a litemia a 
cada 3/6 meses. A dose sérica do lítio deve estar entre 0,6 
e 1,2 semanas da manutenção, sendo que a partir de 1,5 
já se pode observar toxicidade. É importante observar que, 
quando não se toma o lítio, o nível sérico esperado é zero, 
não existindo patologia pela falta de lítio no organismo.
OUTRAS INDICAÇõES PARA O USO DO 
LíTIO
Na potencialização do uso de antidepressivos: 
alguns pacientes com diagnóstico de depressão unipolar 
não respondem ou respondem apenas parcialmente ao 
uso de antidepressivos, e estudos mostram que cerca 
de 50% dos pacientes apresentam melhora com o uso 
concomitante do lítio.
TRANSTORNO ESqUIzOAFETIvO
O transtorno esquizoafetivo compreende quadros em 
que há presença de alterações do humor (como mania e 
depressão) e sintomas psicóticos, e episódios de sintomas 
psicóticos na ausência de sintomatologia do humor. Nesses 
casos algumas características são prognóstico de melhor 
resposta ao lítio, volta ao nível de funcionamento pré-mórbi-
do após a crise, história familiar de transtorno do humor. 
CICLOTImIA
A ciclotimia ocorrequando um paciente apresenta sin-
tomas de mania, alternados com sintomas de depressão 
sem, no entanto, preencher critérios suficientes para fechar 
o diagnóstico de mania e depressão, respectivamente.
Efeitos colaterais: • efeitos gastrintestinais (náuseas, 
vômito, anorexia, diarréia, dor abdominal);
• efeitos renais: a poliúria é o efeito colateral mais 
comum secundário ao uso do lítio; o problema é 
minimizado quando se dá uma única dose noturna 
de medicação. Pode ocorrer também o aumento dos 
níveis séricos de creatinina, e quando isso ocorre 
deve-se suspender o lítio;
• edema: raramente os pacientes apresentam edema 
em faces e extremidades, o que, em geral, remite 
espontaneamente;
• efeitos neurológicos: letargia, fadiga, tremor (fino) 
que aumentam com ansiedade e com execução de 
movimentos finos, que podem ser agravados com 
o uso concomitante de antidepressivos. Esse efeito 
colateral pode representar problema importante quan-
do a profissão do paciente exige a execução desses 
movimentos finos, como ocorre com manicures. E 
pode ser resolvido com beta-bloqueadores.
Sintomas extrapiramidais (em uma minoria de pa-
cientes): 
• efeitos cognitivos e psicológicos: os pacientes podem 
se queixar de perda da criatividade, iniciativa e distúr-
bios de memória. Essas queixas, no entanto, podem 
refletir o fato do paciente estar saindo de um quadro 
de hipomania ou o início de um quadro depressivo;
• efeitos tireoidianos: o lítio pode interferir no funciona-
mento dessa glândula com freqüência;
• toxicidade cardíaca: o lítio deve ser dado com cautela 
a pacientes com doenças cardíacas.
Efeitos dermatológicos: acne, erupções, dermatite.
Ganho de peso.
Toxicidade: como já foi dito, o lítio é uma medicação 
cuja dose terapêutica é próxima à dose letal. A intoxica-
ção pelo lítio representa urgência médica, os sintomas de 
intoxicação incluem náuseas, vômito, diarréia, falência 
renal, ataxia, disartria, tremor grosseiro, confusão, delirium, 
alucinações, convulsões e coma. O tratamento consiste em 
suporte clínico e diálise.
psiquiatria
58
Tabela 3. Antidepressivos (classificação)
Nome químico Nome comercial Apresentação Dose terapêutica
Imipramina Trofanil
Trofanil pamoato
Imipra
10 e 25 mg
75 mg
25 mg
10 - 300 mg/dia
Amitriptilina Tryptanol
Amytril
Protanol
Tripsol
25 e 75 mg
25 mg
25 mg
25 mg
25 - 300 mg/dia
Clomipramina Anafranil
Anafranil SR
Anafranil Injetável
10 e 25 mg
75 mg
Ampola (2 ml = 25 mg)
10 - 300 mg/dia
Nortriptilina Pamelor 10, 25, 50 e 75 mg 10 - 150 mg/dia
Tranilcipromina Parnate 10mg 10 - 080 mg/dia
Moclobemida Aurorix
Moclobemida-mocloxin
100, 150 e 300mg
100 e 150 mg
300 - 600mg/dia
Fluoxetina Prozac
Daforin
Deprax
Eufor 20
Fluxene
Nortec
Psiquial
Verotina
20 mg e gotas
20 mg e gotas
20 mg
20 mg
20 mg
20 mg
20 mg
20 mg e gotas
10 - 080 mg/dia
Setralina Zoloft
Sercerin
Tolrest
Novativ
50 mg
50 mg
25, 50 e 100 mg
50 mg
25 - 200 mg/dia
Paroxetina Aropax
Pondera
Cebrilin
20 mg
20 e 30 mg
20 mg
10 - 050 mg/dia
Citalopram Cipramil 20 mg 10 - 060 mg/dia
Fluvoxamina Luvox 100 mg 50 - 300 mg/dia
Trazodona Donaren 50 mg 50 - 600 mg/dia
Nefazodona Serzone 100 e 150 mg 300 - 500 mg/dia
Bupropina Zyban 150 mg 100 - 450 mg/dia
Venlafaxina Efexor
Efexor XR
37,5, 75 e 150 mg
75 e 150 mg
75-375 mg/dia
Mirtazapina Remeron 30 e 45 mg 15 - 45 mg/dia
Reboxetina Prolift 4 mg 04 - 010 mg/dia
Escitalopran Lexapro 10 mg 10 - 030 mg/dia
Duloxetina Cymbalta 60 mg 60 - 120 mg/dia
 O USO PSIqUIÁTRICO DOS 
 ANTICONvULSIvANTES
Alguns anticonvulsivantes se mostraram particularmen-
te eficazes no tratamento do transtorno bipolar do humor. 
CARBAmAzEPINA
Foi o primeiro anticonvulsivante usado no tratamento do 
transtorno bipolar do humor, mas ainda se questiona se é 
tão eficaz quanto o lítio para esses pacientes. Além de ser 
útil no transtorno do humor, se observa melhora da agres-
sividade e do impulso com o uso da carbamazepina.
Efeitos colaterais: alguns efeitos colaterais de carba-
mazepina são extremamente perigosos e felizmente muito 
raros, mas para os quais devemos permanecer atentos: 
hepatite, dermatite esfoliativa e discrasias sangüíneas 
(anemia aplástica, leucopenia, trombocitopenia).
Outros efeitos colaterais incluem: tonteira, vertigem, 
ataxia, diplopia e visão borrada. 
Capítulo 8 – psicofármacos
59
ÁCIDO vALPRÓICO
Um grande número de estudos mostram que o ácido 
valpróico é tão eficaz no tratamento do transtorno bipolar 
do humor quanto o lítio, e parece ser superior ao lítio no 
tratamento dos cicladores rápidos e da mania disfórica.
Além disso também é eficaz no tratamento do transtor-
no esquizoafetivo, e se observa importante no impulso e 
agressividade.
Efeitos colaterais: náuseas, vômitos, seda-ção, tremor, 
ataxia e ganho de peso.
LAmOTRIgINA (LAmICTAL) 
Parece ser também eficaz no tratamento do transtorno 
bipolar do humor, principalmente nos cicladores rápidos 
e na fase depressiva da doença.
Efeitos colaterais: cefaléia, visão borrada, ataxia, 
náuseas, vômitos e rashes cutâneos.
TOPIRAmATO (TOPAmAX)
Outra droga com indicação recente para o tratamento 
do transtorno bipolar do humor. Tem a particularidade de 
estar mais associada à perda de peso que ao ganho, sendo 
seu principal efeito colateral a sonolência.
 BENzODIAzEPíNICOS E OUTRAS 
 DROgAS ANSIOLíTICAS
DEFINIÇÃO
Os benzodiazepínicos são drogas que têm proprieda-
des ansiolíticas, sedativas, anticonvulsivantes e relaxantes 
musculares. Todas essas ações são muito úteis na prática 
clínica.
Antes do surgimento dos benzodiazepínicos, os bar-
bitúricos eram amplamente utilizados no tratamento dos 
pacientes ditos neuróticos e com sintomas de ansiedade. 
Os benzodiazepínicos apresentam muitas vantagens em 
relação aos barbitúricos: (a) a dose que tem efeito ansio-
lítico é bastante diferente daquela que provoca sedação; 
(b) apresentam menor tendência à produzir sedação e 
dependência; (c) apresentam menor potencial de provocar 
abuso; (d) a dose eficaz é muito diferente da dose letal. Os 
barbitúricos são drogas muito potentes e de grande toxi-
cidade na overdose, provocando coma, depressão respi-
ratória e morte, enquanto os benzodiazepínicos raramente 
estão associados a complicações mais sérias na overdose. 
A eficácia e a segurança dos benzodizepínicos associadas 
à grande freqüência de queixa de insônia e sintomas de 
ansiedade, levaram a um amplo uso dessas drogas, apesar 
de se saber que causam dependência mesmo em doses 
terapêuticas (parece que os riscos de uma dependência 
severa têm sido exagerados); muitos pacientes continuam 
apresentando efeito terapêutico com uso dos benzodiaze-
pínicos a longo prazo, mas o potencial de dependência 
deve ser sempre levado em consideração.
mECANISmO DE AÇÃO
Os benzodiazepínicos, assim como o álcool e os barbitú-
ricos, são drogas que atuam no complexo gaba, o mais po-
tente inibidor do SNC. Dessa forma essas drogas promovem 
a ação de aumentar a inibição. E, além disso, funcionam de 
maneira sinérgica, ou seja, um potencializa a ação do outro, 
não devendo ser associados. Como o sítio de ação das dro-
gas é o mesmo, verifica-se que pacientes que apresentam 
dependência ao álcool, apresentam grande possibilidade de 
também apresentar dependência aos benzodiazepínicos.
INDICAÇÃO DO USO DOS 
BENzODIAzEPíNICOS
Ansiedade: a ansiedade é uma emoção humana 
normal, que na maioria das vezes não requer tratamento 
médico. No entanto, algumas vezes ela pode se tornar 
severa, a ponto de interferir na performance do indivíduo; 
nessas circunstâncias o tratamento deve ser instituído. A 
ansiedade pode ser: (a) uma resposta normal a um evento 
estressante; (b) sintoma de um transtorno de ansiedade; (c) 
sintomade uma outra doença psiquiátrica como depressão; 
(d) sintoma de uma doença médica como, tireotoxicose.
Estresse situacional: usualmente é auto-limitado e ra-
ramente requer intervenção médica. Quando o paciente se 
queixa de ansiedade relacionada a um evento estressante, 
devemos levar em consideração os seguintes aspectos: a 
ansiedade é grave? algumas vezes a ansiedade é útil e leva 
a mudanças importantes e adaptativas necessárias? outras 
vezes leva a comportamento mal adaptado, quando então a 
medicação pode ser útil? Os aspectos seguintes são: quais 
os riscos do uso de benzodiazepínicos para esse paciente? 
deve-se levar em consideração efeitos colaterais à possível 
dependência e interações medicamentosas?
Muitas vezes os benzodiazepínicos são usados como 
coadjuvantes no tratamento, são drogas que devem ser 
retiradas logo que possível, devido ao potencial de abuso 
e dependência. Seguem os transtornos em que é indicado 
o uso dessas drogas:
• fobia social e ansiedade de performance: a fobia 
social é definida como medo persistente de uma ou 
mais situações sociais nas quais o indivíduo é exposto 
a possível humilhação. A mais conhecida é aquela em 
que o paciente tem medo de falar em público, outras 
formas de fobia social incluem medo de comer em 
público ou de usar um banheiro público.
psiquiatria
60
No tratamento da fobia social sabemos que o tratamento 
medicamentoso mais eficaz é feito com IMAO e beta-
bloqueadores, mas algumas vezes os benzodiazepínicos 
podem ser úteis.
• transtorno de ansiedade generalizada: o transtorno 
de ansiedade generalizada é caracterizado por preo-
cupação excessiva e não correspondente à realidade. 
É uma ansiedade constante e relacionada com sinto-
mas físicos, como taquicardia, sudorese, tremor.
Nessa patologia, também os benzodiazepínicos são 
drogas usadas apenas como coadjuvantes, já que ela é 
melhor tratada com antidepressivos.
• transtorno do pânico: o transtorno do pânico é 
tratado com antidepressivos, os benzodiazepínicos 
são indicados no início do tratamento, principalmen-
te para o controle do episódio agudo, devendo ser 
retirado logo que o paciente apresente melhora do 
quadro clínico.
• transtorno obsessivo-compulsivo: como o transtor-
no do pânico, os benzodiazepínicos são indicados 
no início do tratamento de forma a complementar o 
tratamento com antidepressivos.
• depressão com ansiedade: nesse caso, os benzo-
diazepínicos também são indicados como comple-
mentação do tratamento com antidepressivos, no 
início do tratamento.
• mania aguda: o tratamento da mania aguda deve ser 
feito com antimaníacos (estabilizadores do humor-
carbonato de lítio, carbamazepina, ácido valpróico) 
sendo que no início do tratamento pode ser útil o uso 
de antipsicóticos e/ou benzodiazepínicos.
• quadros psicóticos: os quadros psicóticos, muitas 
vezes são acompanhados de agitação e insônia. Pode-
se fazer uso de antipsicóticos de baixa potência, que são 
drogas mais sedativas, e benzodiazepínicos, que além 
disso podem ser úteis no tratamento da acatisia provocada 
pelos antipsicóticos de alta potência.
• insônia: a insônia é um sintoma comum que pode 
resultar de um número variado de causas: 
– causas médicas – dor, problemas respiratórios, hiper-
tireoidismo, refluxo; 
– substâncias – álcool, cafeína e outros psico-estimu-
lantes, antidepressivos, por ocasião da retirada dos ben-
zodiazepínicos, acatisia induzida por neurolépticos;
– transtornos psiquiátricos: ansiedade, mania, depres-
são;
– problemas específicos do sono: apnéia do sono, sín-
drome das pernas inquietas, mioclonia noturna;
– muitas vezes a causa da insônia é idiopática.
A insônia pode ser inicial, quando o paciente tem 
dificuldade de conciliar o sono, ou terminal, quando o 
paciente apresenta despertar precoce, e não consegue 
voltar a dormir.
Alguns comportamentos são importantes para deter-
minar a qualidade do sono, e se denominam higiene do 
sono:
– o lugar de dormir deve ser adequado e confortável;
– o indivíduo deve desenvolver uma rotina na hora de 
dormir;
– dormir sempre no mesmo horário;
– usar a cama só para dormir (não ver televisão, ler ou 
estudar na cama);
– anotar todos os compromissos do dia seguinte, evi-
tando assim se preocupar;
– acordar sempre no mesmo horário;
– evitar álcool;
– evitar café e outros psico-estimulantes, principalmente 
no período da tarde e ao anoitecer.
Quando se decide pelo uso dos benzodiazepínicos para 
o tratamento da insônia, não se deve usá-lo por mais de 2 
semanas. Em casos em que se precise usar benzodiaze-
pínicos por mais tempo, deve-se levar em consideração os 
efeitos colaterais e o processo de dependência.
• abstinência ao álcool: devido à eficácia, segurança 
e perfil farmacológico, os benzodiazepínicos são os 
agentes de escolha para o tratamento da abstinência 
ao álcool.
O álcool, assim como os benzodiazepínicos e os bar-
bitúricos, atuam ativando o complexo gaba, que é o mais 
importante inibidor do SNC. A suspensão súbita do uso 
crônico do álcool resulta em ansiedade, insônia, agitação, 
crise convulsiva, rebaixamento do nível de consciência 
(delirium tremens). Quando se introduz o benzodiazepínico, 
se recupera o estado de equilíbrio anterior e, com controle, 
pode-se seguir a retirada gradual da droga. 
EFEITOS COLATERAIS
A fadiga e o cansaço são os efeitos colaterais mais 
comuns. Pode haver comprometimento da atenção e me-
mória, diminuição da coordenação motora; outro efeito que 
pode ocorrer é a piora dos sintomas depressivos e, menos 
comumente, a desinibição, agressividade.
A dependência é um efeito colateral para o qual se deve 
estar atento. Quanto maior a dose e menor a meia vida, 
maior o risco de dependência. Os sintomas de abstinência 
são insônia, ansiedade, agitação, anorexia, irritabilidade, 
tremores, náuseas, delirium, convulsões.
Overdose: por serem drogas seguras, raramente os 
benzodiazepínicos levam à morte. Porém, quando usadas 
concomitante com outras drogas, como álcool e barbitúri-
cos, podem constituir em intoxicação grave.
Capítulo 8 – psicofármacos
61
CLASSIFICAÇÃO
Agentes de ação curta (meia vida curta): 
• Midazolan (dormonid): 1 a 2 horas
• Triazolan (halcion): 2 a 4 horas
Agentes de meia vida intermediária:
• Alprazolan (frontal): 6 a 10 horas
• Oxazepan (oxazepol): 5 a 10 horas
• Lorzapen (lorax): 10 a 20 horas
Agentes de meia vida longa:
• Clonazepan (rivotril): 18 a 50 horas
• Diazepan (valium): 50 a 100 horas
Os benzodiazepínicos, agentes de meia-vida curta e in-
termediária, têm a vantagem de não acumular no organismo 
e não provocam sedação diurna. Suas desvantagens são 
provocarem maior dependência e maior efeito rebote.
Os benzodiazepínicos de meia vida longa têm como 
desvantagen provocar sedação diurna e acúmulo no or-
ganismo. Provocam, também, menos dependência e têm 
menor efeito rebote.
RACIONAIS DE USO DOS 
BENzODIAzEPíNICOS
Na escolha dos benzodiazepínicos alguns fatores devem 
ser levados em consideração. Nos baseamos principalmente 
na meia-vida de ação dessas drogas. Assim temos:
• presença de síndrome responsiva e benzodi-azepí-
nicos;
• uso de terapias não-farmacológicas, quando indi-
cadas;
• planejamento do tempo aproximado de tratamento;
• consideração do risco/benefício do uso da droga (por 
ex., nos casos de paciente alcoólatra deve-se evitar 
o uso de benzodiazepínicos, a não ser na síndrome 
de abstinência, quando eles são indicados por tempo 
curto);
• ajuste da droga a fim de otimizar os efeitos terapêu-
ticos e minimizar os efeitos colaterais;
• monitorização do abuso;
• retirada lenta;
• algumas situações indicam a melhor escolha de um 
tipo de benzodiazepínicos:
– em pacientes idosos deve-se dar preferência a ben-
zodiazepínicos de meia-vida curta, pois evita o acúmulono organismo;
– quando o paciente tem tendência a apresentar de-
pendência, deve-se dar preferência a benzo-diazepínicos 
de meia-vida longa;
– na abstinência ao álcool deve-se usar drogas de 
meia-vida longa;
– no transtorno do pânico o alprazolan e o clonazepan 
se mostram mais eficazes;
– em casos de insônia inicial, deve-se usar drogas de 
meia-vida curta;
– em casos de insônia terminal deve-se dar preferência 
a drogas de meia-vida longa;
– pacientes bipolares apresentam maior resposta ao 
clonazepan.
Buspirona: a buspirona é um ansiolítico não-benzodia-
zepínico aprovado pela FDA, inicialmente para o tratamento 
do transtorno da ansiedade generalizada.
Não é eficaz no tratamento do pânico, não é anticon-
vulsivante, não interage com o álcool.
Diferente dos benzodiazepínicos, ela necessita cerca 
de 2 semanas de latência para fazer efeito terapêutico, 
portanto não age na crise.
Ela não causa sedação e não altera a perfor-mance 
motora.
Pode, se associada com antidepressivos, potencializar 
seus efeitos
Seus principais efeitos colaterais são cefaléia, altera-
ções gastrintestinais, tontura e parestesias.
 DEPENDêNCIA qUímICA
INTRODUÇÃO
Tão antigo quanto a própria sociedade, o homem tem 
lançado mão de drogas que alteram o humor, o pensamento 
e o sentimento.
Em um estudo da Organização Mundial de Saúde veri-
ficou-se que 8,9% da carga global das doenças resultam 
do consumo de substâncias psicoativas, sendo o tabaco 
responsável por 4,1%, o álcool por 4,0% e as drogas ilícitas 
por 0,8%.
A ORIgEm DA DEPENDêNCIA qUímICA
O processo pelo qual o comportamento de consumo 
de substâncias psicoativas em certas pessoas evolui 
para padrões de comportamento compulsivo de busca 
e consumo (que provoca incapacidade de parar com tal 
consumo, mesmo às custas de muito prejuízo), parece ser 
conseqüente à combinação de muitos fatores. O uso da 
droga psicoativa não leva necessariamente à dependência. 
A maioria das pessoas consegue controlar o uso dessas 
substâncias. O exemplo mais claro é o do álcool, embora 
um grande número de pessoas faça uso, “apenas” 5% 
se tornam dependentes. É necessária uma combinação 
de variáveis. Estas variáveis podem ser organizadas em 
3 categorias distintas: (a) as características da droga; (b) 
psiquiatria
62
as características do indivíduo; (c) as características do 
meio.
Características da droga: as drogas variam em sua 
capacidade de produzir bem-estar, euforia e sensações 
agradáveis em seus usuários. Quanto maior o prazer ge-
rado pela droga, maior a probabilidade de um indivíduo 
se tornar dependente. Essa capacidade está relacionada 
a alterações neuroquí-micas provocadas pela introdução 
da droga no organismo.
As diferentes substâncias psicoativas têm maneiras 
diferentes de agir no cérebro, ligam-se a tipos diferentes 
de receptores e podem aumentar ou diminuir a atividade 
dos neurônios, graças a vários mecanismos distintos. 
Como conseqüência elas têm diferentes efeitos sobre o 
comportamento, diferentes taxas de desenvolvimento de 
tolerância, diferentes sintomas de abstinência e diferentes 
efeitos a curto e longo prazo. Contudo, as substâncias 
psicoativas têm similaridades na maneira em que afetam 
regiões importantes do cérebro, ligadas à motivação, e isto 
é um aspecto importante na teoria do desenvolvimento da 
dependência.
O psiquiatra James Olds, por volta da década de 50, 
durante experimentos com eletrodos posicio-nados em cé-
rebros de ratos, descobriu, acidentalmente, que os animais 
se sentiam atraídos por choques elétricos que estimulavam 
determinada região cerebral. Chegavam a se desinteressar 
por outras atividades prazerosas, como a alimentação, para 
se dedicar exclusivamente à busca daquele estímulo. Olds 
havia situado os eletrodos em um sistema de neurotransmis-
são de dopamina nos sistemas mesolímbico, mesocortical 
e límbico (relacionado às emoções e à memória), ele então 
batizou de sistema de recompensa.
O sistema de recompensa, quando estimulado pela 
dopamina, produz sensação de euforia, bem-estar que 
promove o desejo de repetir tais emoções.
Além dessa alteração neuroquímica, há também carac-
terísticas farmacocinéticas da droga, que contribuem para 
seu potencial de abuso. Assim, quanto mais rápido é o 
início de ação da droga, maior é o seu potencial de abuso. 
A história da cocaína ilustra a importância dessa caracte-
rística: a coca pode ser mascada e lentamente absorvida 
pela mucosa oral, esta forma produz baixos níveis séricos 
da cocaína, o que significa baixos níveis também no SNC. 
Os efeitos estimulantes moderados produzidos pela coca 
mascada têm início de ação gradual e sua prática produz 
pouco, se é que produz, abuso ou dependência, a despeito 
do uso por milhares de anos pelos povos andinos. No início 
do século passado os cientistas isolaram a cocaína da planta 
e ela, então, pode ser administrada em altas doses pelas 
vias inalatória e parenteral, produzindo altos níveis séricos 
de cocaína, levando a um início de ação mais rápido, o 
que levou à sua capacidade de produzir adição. Em 1960 
surgiu o crack, a forma fumada da cocaína, através de um 
preparado com amônia. Essa forma tem início de ação muito 
rápido tendo, portanto, um enorme potencial aditivo.
Apesar dos perfis farmacodinâmico e farmacocinético 
da droga serem de vital importância para a compreensão 
do potencial aditivo de uma droga, ela não é suficiente para 
explicar o desenvolvimento da dependência.
As características do indivíduo: em geral os efeitos 
das drogas variam de indivíduo para indivíduo. O polimor-
fismo dos genes, responsáveis pelo nível de funcionamento 
das enzimas relacionadas à absorção, metabolismo e 
excreção, e as diferentes respostas mediadas pelos recep-
tores, podem contribuir para os diferentes níveis de reforço 
e/ou euforia observados entre os indivíduos.
Assim temos que filhos de alcoolistas apresentam maior 
probabilidade de se tornarem alcoolistas, mesmo quando 
adotados por famílias que não apresentam consumo de 
álcool. Os estudos das influências genéticas mostram, 
no entanto, que há apenas um aumento do risco, mesmo 
em gêmeos idênticos não há 100% de concordância em 
relação ao alcoolismo, por exemplo.
A tolerância inata ao álcool pode representar um traço 
biológico que contribui para o desenvolvimento do alco-
olismo.
Outro fator individual que parece influenciar de maneira 
importante no desenvolvimento da dependência química é 
a presença de comorbidade psiquiátrica. Indivíduos com 
ansiedade, depressão, insônia, apresentam maior risco 
de desenvolver o uso incontrolável de drogas, bem como 
indivíduos com transtorno de personalidade.
Fatores ambientais: existem vários fatores ambientais 
que influenciam o padrão de uso de drogas, como questões 
culturais. Assim, na década de 60, a maconha foi eleita 
símbolo dos valores hippies, que enfatizavam a liberdade 
e rejeitavam a competição agressiva. Já na era seguinte, 
exacerbou-se o individualismo e a busca do sucesso indi-
vidual a qualquer preço. A preferência passou, então, aos 
psicoestimulantes, cujos efeitos sintonizam melhor com 
tais valores.
Entre meninos de rua é comum o uso de solventes, 
sendo também comum o uso de diversos tipos de drogas 
nos meios artísticos.
Apresentam influência sobre o comportamento aditivo: 
a cultura, o grau de aceitação ou não uso de drogas, a 
disponibilidade delas. Observa-se maior chance de de-
senvolvimento de dependência em indivíduos excluídos, 
que sofreram maus tratos na infância e que têm poucas 
oportunidades.
É possível caracterizar alguns fatores de risco para o 
comportamento aditivo:
• leis favoráveis ao uso de drogas;
• noemas sociais favoráveis ao uso de drogas;
• disponibilidade a drogas;
• privações econômicas extremas;
• desorganização dos arredores;
• uso dedrogas pelos pais e familiares;
Capítulo 8 – psicofármacos
63
• atitudes familiares positivas em relação ao uso de 
drogas;
• associação com parceiros usuários de drogas;
• falha nos estudos;
• alienação;
• rebeldia;
• comorbidades psiquiátricas (como transtornos de 
personalidade).
FENômENO DE ADAPTAÇÃO DO SNC, 
TOLERâNCIA E ABSTINêNCIA
O uso prolongado de substâncias psicoativas provoca 
modificações anatômicas e fisiológicas no cérebro. Tais 
modificações tornam a droga cada vez mais importante 
para o indivíduo, uma vez que o novo equilíbrio conta agora 
com a presença da substância.
A tolerância é definida pela redução de resposta à 
droga após administrações repetidas, necessitando doses 
cada vez maiores para a obtenção de mesmo efeito.
A abstinência é feita de sinais e sintomas que ocorrem 
na cessação ou redução do uso de uma substância psico-
ativa que vinha sendo usada repetidamente.
CRITÉRIOS DIAgNÓSTICOS DE 
DEPENDêNCIA qUímICA (CID-10)
Presença de 3 ou mais dos seguintes sintomas em 
qualquer momento, no ano anterior:
• desejo forte e compulsivo para consumir a substância;
• dificuldade para controlar o comportamento de con-
sumo de substâncias em termos do início, fim ou 
níveis de consumo;
• estado de abstinência fisiológica quando o consumo 
é suspenso ou reduzido, evidenciado por síndrome 
de abstinência característica ou consumo da mesma 
substância (ou outra muito semelhante), com intenção 
de aliviar ou evitar sintomas de abstinência;
• evidência de tolerância, segundo a qual há necessi-
dade de doses crescentes da substância psicoativa 
para obtenção dos efeitos anteriormente conseguidos 
com doses inferiores;
• abandono progressivo de outros prazeres ou interes-
ses devido ao consumo de substâncias psicoativas, 
aumento do tempo empregado em conseguir ou 
consumir a substância ou recuperar-se de outros 
efeitos;
• persistência do consumo de substâncias, apesar de 
provas evidentes de conseqüências prejudiciais, tais 
como lesões hepáticas causadas por consumo ex-
cessivo de álcool, humor deprimido decorrente de um 
grande consumo de substâncias ou perturbações das 
funções cognitivas. Devem ser feitos esforços para 
determinar se o consumidor poderia estar consciente 
da natureza e da gravidade do dano.
CLASSIFICAÇÃO DAS DROgAS
Depressores do SNC: álcool, os benzodiazepínicos, 
os opiáceos (morfina, heroína, cadeína), os barbitúricos 
(fenobarbital), os inalantes (cola).
Estimulantes do SNC: anfetaminas, tabaco, cafeína, 
cocaína.
Perturbadores do SNC: maconha, alucinógenos natu-
rais (cactos e cogumelo), alucinógenos sintéticos (LSD).
Club drugs - ecstasy: MDMA, ketamina, GHB.
 DEPRESSORES DO SNC
INTRODUÇÃO
Os depressores do SNC são o álcool, benzodizapíni-
cos, opiáceos (morfina, heroína, cadeína); barbitúricos e 
inalantes.
Álcool: o alcoolismo, pelas importantes conseqüências 
nas esferas psíquicas e somáticas do indivíduo, bem como 
pelas profundas repercussões na sociedade, deve ser con-
siderado uma das mais graves questões de saúde pública 
no Brasil. As conseqüências do uso complicado do álcool 
são observáveis na esfera física, psíquica e social, com 
inexorável desmantelamento da estrutura familiar, freqüen-
temente ligada a atos de violência, aumento no número de 
acidentes de trânsito, absen-teísmo ao trabalho e etc.
Segundo dados do Ministério da Saúde, o alcoolismo 
ocupa o quarto lugar no grupo das doenças mais inca-
pacitantes, o que se deve à presença de comorbidades 
psiquiátricas.
• a intoxicação aguda pelo álcool leva a alteração do 
comportamento, sinais de comprometimento neuro-
lógico, lentificação psicomotora, prejuízo da coorde-
nação e labilidade do humor. Podemos identificar 3 
etapas da evolução da intoxicação:
– um período inicial de excitação e euforia com vivaci-
dade mental e loquacidade;
– um segundo período, chamado médico-legal, com 
turbulência e agressividade;
– e um período de sonolência.
• o transtorno psicótico, antigamente denominado alu-
cinose alcoólica, é caracterizado principalmente por 
alucinações auditivas, na terceira pessoa, de cunho 
persecutório e sensório claro, que tem início com 
poucos dias de abstinência ou redução do consumo 
do álcool. Pode durar alguns dias, semanas ou meses, 
sendo algumas vezes difícil o diagnóstico diferencial 
psiquiatria
64
com a esquizofrenia. Quando dura mais de 6 meses é 
importante pensar na mudança do diagnóstico.
O tratamento é feito com hidratação, uso de benzo-
diazepínicos de meia-vida longa, reposição vitamínica. 
Algumas vezes faz-se necessário o uso de antipsicóticos 
de alta potência. Deve-se evitar antipsicóticos de baixa 
potência, uma vez que estas drogas diminuem o limiar de 
convulsão, aumentando seu risco. 
• trantorno amnéstico pelo álcool (síndrome de 
Korsakoff) e encefalopatia alcoólica (síndrome de 
Wernick): esses transtornos ocorrem após longo 
uso do álcool, e são decorrentes da deficiência de 
tiamina. A encefalopatia alcoólica consiste em uma 
doença neurológica que se manifesta pela presença 
de ataxia, oftalmoplegia, nistagmo, parestesias em 
luvas e botas. Pode desaparecer espontaneamente 
em alguns dias ou semanas e também pode progredir 
com gravidade, e para a síndrome de Korsakoff, onde 
o paciente apresenta déficits de memória de fixação, 
com criação de conseqüentes lacunas de memória 
e confabulação. Não necessariamente a síndrome 
amnéstica ocorre após o episódio de encefalopatia, 
podendo surgir sem o advento desta.
O tratamento deve ser feito com doses altas de tiamina.
• a síndrome de abstinência ocorre após a abstinência 
ou a diminuição da ingestão habitual de álcool. O 
paciente apresenta tremores grosseiros nas mãos, 
ansiedade, irritabilidade, náuseas, aumento da 
pressão arterial, taquicardia, aumento da freqüência 
respiratória e da temperatura corporal. Algumas vezes 
pode evoluir com convulsões e com progressão para 
um quadro mais grave, denominado delirium tremens. 
No delirium tremens o paciente apresenta rebaixa-
mento do nível de consciência, com alucinações 
auditivas (mais raramente) e principalmente visuais, 
do tipo zoopsias ou liliputianas. É muito comum que o 
paciente veja pequenos insetos, homens de tamanho 
minúsculos e se encontre em estágio de importante 
agitação psicomotora. Nessa gravidade do quadro 
é comum que o indivíduo apresente importante des-
nutrição e desidratação. O tratamento consiste em 
suporte clínico, hidratação, reposição vitamínica e 
uso de benzodiazepínicos de meia-vida longa, como o 
diazepan e o clordiazepóxido. Apesar da presença de 
alucinações, deve-se evitar o uso de antipsicó-ticos, 
uma vez que essas drogas diminuem o limiar de con-
vulsão, às quais o paciente está bastante sujeito.
• demência associada ao alcoolismo: é comum o 
alcoolismo crônico estar associado a alterações 
cognitivas, com diminuição global do funcionamento 
intelectivo e dificuldades de memória.
COmPLICAÇõES CLíNICAS DO 
ALCOOLISmO
Sistema gastrintestinal: o sistema gastrintestinal é tão 
afetado com o uso do álcool quanto o SNC. A esofagite e a 
gastrite se manifestam por irritação, dor e sangramento.
O álcool dificulta a absorção de vitaminas importantes: 
tiamina (B1); B6; B12; ácido fólico e ferro, levando à desnu-
trição, com conseqüências neurológicas importantes.
No fígado ocorre esteatose hepática, hepatite alcoólica 
e cirrose, que se manifestam por náuseas, dor em hipocôn-
drio direito, icterícia e elevação das enzimas hepáticas. A 
cirrose pode levar ao desenvolvimento de varizes esofagia-
nas, o que pode cursar com violenta hemorragia.
No pâncreas pode ocorrer a pancreatite crônica.
Coração: ocorre um efeito tóxico discreto sobre as 
células cardíacas, levando à miocardiopatia alcoólica.
TRATAmENTO
Após o tratamento da fase aguda da abstinência,

Continue navegando