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c a p í t u l o 8 transtorno de personalidade Capítulo 8 – psicofármacos 47 ppsiCofármaCos Capítulo 8 INTRODUÇÃO A maioria dos seres humanos sempre usou “trata- mentos” e/ou procedimentos que diminuem quadros de agitação psicomotora e ansiedade, alteram estados de consciência (comumente associados a rituais místicos religiosos) ou ainda aumentam a resistência física em situações ambientais adversas, tais como grandes altitu- des, catástrofes e guerras. Freqüentemente, essas drogas consistem em plantas naturais ou seus derivados (por exemplo, o ópio, cannabis, coca, cactus, cogumelos, Rauwolfia serpentina, etc.). Além disso, o etanol tem sido muito utilizado por praticamente todos os povos, assim como as substâncias inorgânicas, como os sais de lítio existentes em águas de algumas fontes que eram indicados para tratamentos de pessoas com transtornos psiquiátricos na época do Império Romano. Atualmente sabemos que todas essas substâncias interferem com o funcionamento do sistema nervoso central (SNC), embora muitos tratamentos biológicos existentes, até mesmo neste século, sejam isentos de efeitos farma- coló-gicos exceto pelo efeito placebo e algumas pos- síveis ações psicológicas. As terapias farmacoló-gicas constituem a modalidade terapêutica mais amplamente utilizada nas últimas quatro décadas. A importância da psicofarmacologia é enorme por ter revolucionado a psiquiatria, contribuindo para o seu reconhecimento como especialidade médica, aproximando-a do modelo médico vigente e criando condições para um desenvol- vimento rápido dos conhecimentos sobre a neuroquí- mica e neurofisiologia subjacentes ao funcionamento do SNC. Além disso, os benefícios diretos aos doentes mentais, antes segregados, são inegáveis, pois têm permitido sua reintegração na comunidade, através do auxílio de outras intervenções psicote-rápicas e de reabilitação social. CLASSIFICAÇÃO É importante lembrar que as drogas usadas para o tratamento dos transtornos psiquiátricos tratam somente os sintomas, nunca a causa, e que antes de prescrever uma medicação é importante levar alguns fatores em conta. Assim temos: 1) é importante ter uma hipótese diagnóstica bem estabelecida; 2) descartar problemas clínicos ou interações medica- mentosas que possam ser responsáveis pela sintomatolo- gia; a doença da tireóide, por exemplo, é freqüentemente relacionada à presença de sintomatologia psiquiátrica, o hipotireoidismo não raro cursa com sintomas depressivos, também é comum que drogas usadas para o tratamento de labirintopatias, como a cinazirina, provoquem sintomas depressivos, os psico-estimulantes, muito usado no ema- grecimento, podem levar a sintomas maníacos e psicóticos, portanto, uma boa história clínica é fundamental; 3) definir sintomas-alvo por ex., ataques de pânico, distúrbios do sono, alucinações, humor depressivo, para que se possa avaliar a eficácia da medicação instituída. A classificação tradicional das drogas usadas em psiquiatria (ansiolíticos; antipsicóticos; antima-níacos e antidepressivos), hoje é questionada por diversas razões: • uma droga de uma classe pode aliviar sintomas característicos de muitas doenças, assim, os antide- pressivos são usados no tratamento da depressão, da ansiedade, do transtorno obsessivo-compulsivo, na cefaléia, na dor crônica, na enurese noturna, na psicose esquizofrênica com sintomas depressivos. • a mesma patologia pode ser tratada com drogas dife- rentes, por ex., a doença do pânico é tratada com an- tidepressivos e ansiolíticos; quadros maníacos podem ser tratados com antimaníacos e antipsicóticos; • drogas usadas em medicina clínica são usadas para o tratamento de doenças mentais, por ex., beta-blo- queadores são úteis para o tratamento da fobia social, a clonidina (medicação anti-hipertensiva) pode ser usada no tratamento da dependência de opiáceo; • drogas psiquiátricas são usadas em medicina clínica por ex., a fluoxetina é usada em fórmulas de emagre- cimento, os antidepressivos no tratamento das cefa- léias e dor crônica, a clorpromazina (antipsicótico) é usado como anti-emético. Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce psiquiatria 48 Dessa forma a classificação que iremos usar tem fina- lidade apenas didática. ANTIPSICÓTICOS (NEUROLÉPTICOS) DEFINIÇÃO Os antipsicóticos são drogas usadas para o tratamento dos quadros psicóticos. Os sintomas psicóticos consistem principalmente em delírios, alucinações e distúrbios do pensamento (como o descarrilamento e a desagregação). Além disso elas agem em nível subcortical, combatendo a agitação de qualquer natureza. As drogas antipsicóticos são indicadas em grande variedade de transtornos, portanto a resposta a seu uso não é bom parâmetro para fazer diagnóstico, uma vez que, além de sua ação antipsicótica, ela tem ação sedativa inespecífica. INDICAÇõES Os antipsicóticos são indicados nas seguintes situa- ções: • esquizofrenia; • episódios maníacos; • depressão com sintomas psicóticos; • transtorno esquizoafetivo; • transtornos esquizofreniformes; • transtornos delirantes; • delirium e psicoses orgânicas; • demência; • sintomas psicóticos da doença de Parkinson; • síndrome de Tourette. ESqUIzOFRENIA A esquizofrenia é uma doença crônica e incapacitante, de natureza complexa, com manifestações múltiplas e quadros variados. Não há consenso sobre ser uma enti- dade nosológica única ou um conjunto de doenças com etiologias diferentes. Cerca de 1% da população desenvolve esquizofrenia ao longo da vida, sua incidência é a mesma em homens e mulheres, e também não há diferença de incidência em relação à classe social. Vinte e cinco por cento dos pacientes têm apenas 1 episódio agudo e evoluem com recuperação completa, 25% ficam permanentemente perturbados, e outros 50% evoluem com episódios agudos intercalados por períodos menos sintomáticos. Sua evolução acontece em surtos, ou seja, a cada episódio agudo o paciente não retorna ao nível de funcio- namento pré-mórbido. Os sintomas da esquizofrenia são divididos em sin- tomas positivos e negativos. Os sintomas positivos são os delírios (alteração do conteúdo do pensamento, onde o indivíduo perde o juízo da realidade, convicções absurdas, irrefutáveis pela lógica e experiência), e as alucinações (que na esquizofrenia são principalmente auditivas). Já os sintomas negativos consistem no empobrecimento do pen- samento, embotamento afetivo, prejuízo do desempenho social, abulia e hipopragmatismo. Com exceção da clozapina, os antipsicóticos são mais eficazes no tratamento dos sintomas positivos que dos negativos da doença. Para os pacientes que têm diagnóstico claro de esqui- zofrenia, é importante o tratamento a longo prazo, uma vez que os pacientes sem manutenção apresentam 50% de chance de recaída em 6 meses e 65% a 80% de chance de recaída em 1 ano; enquanto os pacientes que permanecem com manutenção medicamentosa apresentam 10 a 15% de chance de recair em 1 ano. EPISÓDIOS mANíACOS As medicações de primeira escolha no tratamento do transtorno bipolar do humor são os antimaníacos. As drogas antipsicóticas são de grande importância na abordagem do episódio maníaco agudo, quando podem surgir a agitação psicomotora, o pensamento delirante com conteúdo de grandeza; apesar da grande eficácia da ação dos anti- maníacos, o tempo de latência da ação dessas drogas faz com que tenhamos que lançar mão de drogas de início de ação mais rápido. DEPRESSÃO COm SINTOmAS PSICÓTICOS Alguns quadros depressivos cursam com sintomas psicóticos, como pensamentos delirantes com conteúdo depressivo e de ruína. Os estudos mostram que quando isso ocorre o tratamento de maior eficácia é o usocon- comitante de antidepressivos e antipsicóticos (70 a 80% de resposta contra 30 a 40% quando se usa cada droga separadamente). TRANSTORNO ESqUIzOAFETIvO O diagnóstico de transtorno esquizoafetivo é aplicado naqueles pacientes com períodos de sintomas maníacos e/ou depressivos, com proeminentes sintomas psicóticos, que estão presentes até mesmo na ausência dos sintomas do humor. Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Capítulo 8 – psicofármacos 49 Os sintomas na esfera do humor costumam responder bem aos antimaníacos e antidepressivos. E os sintomas psicóticos, especialmente aqueles que ocorrem entre os episódios de humor, geralmente requerem a instituição de medicação antipsicótica. TRANSTORNO ESqUIzOFRENIFORmE O transtorno esquizofreniforme é aquele onde os sinto- mas psicóticos têm curta duração, com retorno completo ao funcionamento pré-morbido, e sem futuras reincidências dos sintomas. TRANSTORNO DELIRANTE Esse transtorno consiste em alteração do pensamento, com conteúdo delirante, muitas vezes de cunho persecu- tório. Esses pacientes são particularmente difíceis de tratar, e geralmente não aceitam que têm algum tipo de doença ou necessidade de tratamento. Não é incomum que a equipe terapêutica seja rapidamente incorporada às suas crenças delirantes. As medicações antipsicóticas são indicadas e possuem maior eficácia no início da doença. Pacientes com longo tempo de doença, em que o delírio é mais sistematizado, apresentam maior refratariedade às medicações. Assim, o tratamento deve ser sempre iniciado com baixas doses, a fim de minimizar efeitos colaterais, aumentando a aderência ao tratamento. Delirium E PSICOSES ORgâNICAS O delirium é uma síndrome clínica que consiste em depressão global das funções cerebrais (rebaixamento do nível da consciência), geralmente acompanhada de quadro de confusão mental, delírios e alucinações pouco sistematizadas. O delirium pode ser resultado de uma grande variedade de problemas clínicos, o tratamento principal é o suporte clínico e o tratamento da causa base. Muitas vezes esses pacientes precisam ser contidos para evitar que se ma- chuquem, tirem tubos, etc. Até que o tratamento da causa base seja instituído, e tenha resultado, pode ser necessário o uso dos antipsicóticos. Existem algumas causas de delirium nas quais não são indicados o uso dos antipsicóticos, como é o caso do delirium tremens. Quando se opta pelo uso dos antipsicóticos deve-se dar preferência àqueles de alta potência, que possuem menos efeitos cardiorrespiratórios. DEmêNCIA Na abordagem de pacientes dementes os antipsicóticos têm 2 funções principais: o tratamento das complicações psicóticas, que podem acontecer no decorrer da doença, e o tratamento da agitação psicomotora. SINTOmAS PSICÓTICOS NA DOENÇA DE PARkINSON Alguns pacientes com Parkinson podem apresentar sintomas psicóticos secundários ao uso das medicações anti-parkinsonianas ou pela demência, que pode ocorrer no decorrer da patologia. SíNDROmE DE TOURETTE A síndrome de Tourette é caracterizada por múltiplos tics fônicos e motores que se desenvolvem desde a infância e têm curso crônico. A natureza e a gravidade dos sintomas variam muito de indivíduo para indivíduo, e podem ser agravados com impulsividade, obsessões e compulsões. POTêNCIA X EFICÁCIA Para compreensão dos antipsicóticos é necessário ter em mente os conceitos de potência e eficácia. A eficácia se refere à ação terapêutica de uma droga, ou seja, aos efeitos sobre as doenças e sintomas que se deseja combater. A potência se refere à quantidade da droga para se obter os efeitos terapêuticos. Assim, as drogas de baixa potência são aquelas que necessitam altas doses para se obter os efeitos terapêuticos, enquanto as drogas de alta potência necessitam de baixas doses para se obter os mesmos efeitos. CLASSIFICAÇÃO Existem 2 classes principais de antipsicóticos: típicos ou de primeira geração; atípicos ou de segunda geração. Os antipsicóticos típicos são divididos em drogas de alta potência e de baixa potência. Os antipsicóticos de alta potência (por ex., Haldol) necessitam de uma dose menor, em miligramas, para obter seu efeito terapêutico. São drogas pouco sedativas, alteram a pressão arterial, têm pouco efeito anticolinérgico e grande efeito extrapiramidal. As drogas de baixa potência (por ex., amplictil) neces- sitam de doses maiores, em miligramas, para seu efeito. São substâncias sedativas, hipotensoras, anticolinérgicas e têm pouco efeito extrapiramidal. Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce psiquiatria 50 ANTIPSICÓTICOS TíPICOS OU DE PRImEIRA gERAÇÃO São medicações eficazes para o tratamento de episó- dios psicóticos agudos ou crônicos. São predominante- mente eficazes para os sintomas positivos e não têm ação importante em sintomas negativos. Apresentam muitos efeitos colaterais (parkinsonismo) e maior chance de de- senvolver descinesia tardia. Mecanismos de ação dos antipsicóticos típicos: os antipsicóticos típicos não diferem quanto à eficácia. Eles di- ferem quanto à potência e ao perfil de efeitos colaterais. A melhora inicial do paciente se devem por ação seda- tiva inespecífica e os efeitos antipsicóticos propriamente dito só são observados 4 a 6 semanas após a instituição das medicações antipsicóticas. Embora úteis para tratar os sintomas positivos, são pouco eficazes no tratamento dos sintomas negativos da esquizofrenia, onde os antipsicóticos atípicos “prometem” ter maior eficácia. O principal mecanismo de ação dessas drogas se dá pe- los efeitos de bloqueio dos receptores da dopamina (D2). As principais vias dopaminérgicas do SNC são: • a via mesolímbica: vai do tegumento mesencefálico para as áreas límbicas, onde se supõe que o aumento da atividade da dopamina é responsável pelos sintomas positivos da esquizo-frenia; • a via mesocortical: vai da área tegumental para o córtex pré-frontal, onde se supõe que a diminuição da atividade dopaminérgica leva aos sintomas ne- gativos; • a via meso-estriatal: projeção da substância negra para os núcleos da base, onde o bloqueio dopami- nérgico é responsável pelos efeitos motores; • o hipotálamo: nesta área a dopamina bloqueia a liberação de prolactina. Além do bloqueio dos receptores D2, os antipsicóticos típicos atuam sobre vários outros receptores o que lhe atribui um perfil de efeitos colaterais. Efeitos colaterais dos antipsicóticos típicos: além do efeito terapêutico, o bloqueio dos receptores dopaminérgi- cos também é responsável por muitos efeitos colaterais. O bloqueio de dopamina no hipotálamo eleva a secre- ção de prolactina, levando à amenorréia, ao aumento da mama, a disfunções sexuais e à galactorréia. Efeitos motores que se devem à ação do bloqueio na região meso-estriatal: • síndrome Parkinsonóide: caracterizada por lentidão dos movimentos, tremor de extremidade, imobilidade da expressão facial, marcha de pequenos passos; • distonia aguda: contratura muscular aguda e in- termitente, usualmente envolvendo os músculos do pescoço, da língua, da face e das costas; • acatisia: estado de desconforto intenso nos membros inferiores com incapacidade do paciente de perma- necer com as pernas paradas; • discinesia tardia: ocorre com o uso prolongado dos antipsicóticos típicos e consiste em movimentos invo- luntários, principalmente da face, como movimentos laterais da mandíbula e movimentos anormais da língua, e ocorreem 10 a 20% dos pacientes. A in- cidência desses efeitos colaterais é alta no uso dos antipsicóticos típicos. Eles são minimi-zados com o uso concomitante de drogas anticolinérgicas, como o fenergam (prometazina) e o akineton (biperideno); • diminuição do limiar de convulsão: principalmente nos antipsicóticos de baixa potência; • síndrome neuroléptica maligna: trata-se de reação idiosincrásica, onde o principal sintoma é a febre alta, podendo chegar a 41°C; seguida de rigidez, instabilidade autonômica e delirium. Efeitos cardiovasculares: • hipotensão postural – consiste na queda de pressão que ocorre na mudança de decúbito, sendo observada principalmente nas drogas de baixa potência; • toxicidade cardíaca – pode ocorrer diminuição da velocidade de condução cardíaca. É encontrada principalmente no pimozide. Peso: ganho de peso é observado na maioria dos antipsicóticos, tanto típicos quanto atípicos. Efeitos oculares: • visão borrada – é encontrada principalmente com o uso de antipsicóticos de baixa po- tência, devido a seus efeitos anticolinérgicos que provocam dificuldade de acomodação visual levando à dificuldade de leitura. Outros efeitos anticolinérgicos: • Boca seca; • Retenção urinária; • Constipação intestinal; • Piora de alguns tipos de glaucoma. De forma geral, os antipsicóticos de baixa potência, como o amplicitil, têm maior efeito sedativo, hipotensor e anticolinérgico, enquanto as drogas de alta potência têm maior efeito motor. Alguns desses efeitos colaterais podem ser confundi- dos, como piora dos sintomas psicóticos, por exemplo, a acatisia. Apesar dos efeitos colaterais intensos dessas drogas, esses medicamentos são bastante seguros. Apresentação: as drogas antipsicóticas estão disponí- veis para uso oral, comprimido ou líquido. Dessa forma tem boa absorção, apesar da interferência quando administra- das com antiácidos, e do forte efeito de primeira passagem. A forma líquida tem absorção mais rápida. Existem também as formas injetáveis, administrados IM, que têm início de ação em cerca de 15 a 20 minutos. Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Capítulo 8 – psicofármacos 51 Existem preparações de depósito, muito úteis para pacien- tes com baixa aderência ao tratamento. Elas são preparações em veículo oleoso, que podem ser dadas quinzenalmente (anatensol depot), ou mensalmente (haldol decanoato). OS ANTIPSICÓTICOS ATíPICOS O grande problema no tratamento da esquizo-frenia, é que os antipsicóticos típicos tratam com sucesso os sintomas positivos, mas não tratam os sintomas negativos da esquizofrenia. Com isso se desenvolveu um grupo de medicamentos com perfil de ação nos neurotransmissores um pouco diferente, que prometem ser mais eficazes. A percussora destas drogas foi a clozapina, lançada nos EUA em 1960, mas foi proibida devido ao grave e potencialmente fatal efeito hematológico, agranulocitose, que ocorre em 1% dos pacientes. Hoje seu uso é permitido somente com rígido acompanhamento da contagem das células brancas, que nos primeiros 6 meses de tratamento deve ser semanal. Além disso ela provoca muita sedação, ganho de peso, diminuição do limiar de convulsão. A risperidona é uma medicação que, pelo seu perfil de ação sobre os receptores, tem a vantagem de ter menos efeitos extrapiramidais. A olanzapina é, dos atípicos, o que tem maior seme- lhança com a clozapina, sem apresentar o efeito colateral hematológico grave, e parece ter importante eficácia nos sintomas negativos. Também apresenta importantes efeitos sedativos. A escolha do antipsicótico: como já foi dito, todos os antipsicóticos com exceção da clozapina e possivelmente da olanzapina, têm eficácia semelhante. Assim alguns critérios de escolha são utilizados: • resposta prévia favorável com determinada medi- cação; • perfil de efeitos colaterais: por ex., usar drogas mais sedativas em pacientes mais agitados ou, no caso de in- tolerância aos efeitos extrapiramidais, usar um atípico; • pacientes com convulsões devem usar drogas de alta potência, que interferem menos no limiar de convulsão; • pacientes idosos e cardiopatas devem usar drogas de alta potência; Tabela 1. Nome/marca Apresentação/preço Dose terapêutica / dose máxima Nome convencional / Laboratório Clorpromazina 25 (20cp) / R$ 2,52 100 (20cp) / R$ 3,71 Gotas (4%) / R$ 2,97 300-800/800-1.200 mg/dia Amplicitil, Longanctil, Rhodia farma, Cristália Flufenazina 5 (20cp) / R$ 19,77 5-10/30 mg/dia Fufenazina, Cristália Haloperidol 1 (20cp) / R$ 2,20 5 (20cp) / R$ 4,15 Gotas (2%)/ R$3,57 5-15/30 mg/dia Haldol, Haloperidol, Janssen- Cilag, Cristália Levomeprazina 25 (20cp)/ R$3,86 100 (20cp) / R$ 8,38 Gotas (4%) / R$ 5,17 100-300/600 mg/dia Neozine, Levozine Periciazina 10 (20cp) / R$ 3,66 Gotas (4%) / R$ 7,25 10-20/90 mg/dia Neuleptil, Rhodia farma Penfluridol 20 (6cp) / R$ 4,58 20-40/60 mg/dia Senap-Depot, Janssen-Cilag Pimozide 1 (20cp) / R$ 5,00 4 (20cp) / R$ 8,10 2-4/8 mg/dia Orap, Janssen-Cilag Popotiazina 10 (20cp) / R$35,45 20-50/100 mg/dia Piportil Rhodia Sulpiride 50 (20cp) / R$7,2 - 5,0* 200 (20cp) / R$ 10,7 - 9,5* 600 - 1.000 / 1.600 mg/dia Dogmatil, Equilid*, Synthelabo, HMR Tiodazina 10 (20cp) / R$ 3,45 25 (20cp) / R$ 6,16 50 (20cp) / R$ 7,41 100 (20cp) / R$ 13,51 200 (20cp) / R$ 24,83 Gotas (3%) R$ 11,43 200 - 300/600 mg/dia Melleril, Novartis Trifluoperazina Stelazine 2 (20cp) / R4 3,76 5 (20cp) / R$ 4,86 15-20/40 mg/dia Smithkline, Enila Zuclopentixol 10 (20cp) / R$ 14,65 25 (20cp) / R$ 31,92 20-40/75 mg/dia Clopixol, Shering Plough Paola Realce Paola Realce psiquiatria 52 • uso de medicação de depósito em pacientes com baixa aderência ao tratamento. Antipsicóticos atípicos ou de segunda geração: devem ser utilizados como primeira escolha no tratamento do primeiro episódio psicótico, quando há intolerância pelos neurolépticos típicos ou predominância de sintomas negativos. Os mais indicados para o primeiro uso são a risperidona e a olanzapina. ANTIDEPRESSIvOS DEFINIÇÃO Os antidepressivos são um grupo heterogêneo de drogas que consistem na pedra angular do tratamento da depressão e de outros transtornos psiquiátricos. Os antidepressivos clássicos foram descobertos por acaso. No início da década de 1950 os investigadores observaram que pacientes tuberculosos apresentavam elevação prolongada do humor quando tratados com a iproniazida, uma droga (IMAO) considerada um antituber- culose. A iproniazida não se mostrou eficaz no tratamento da depressão. Essa droga foi posteriormente retirada do mercado devido ao temor que provocava necrose hepá- tica. INDICAÇõES Depressão maior: a depressão é um transtorno psiqui- átrico que tem como sintoma principal o humor deprimido, sendo os demais sintomas conseqüentes da alteração do humor, como a falta de interesse e prazer, a energia redu- zida, os pensamentos pessimistas. Ela tem prevalência de 5% na população geral, e aco- mete duas vezes mais mulheres que homens. Dez a 15% dos pacientes deprimidos tentam suicídio. Existem várias formas de apresentação da depressão. Na depressão típica ocorre, além do humor deprimido, a diminuição da psicomotricidade, insônia, e diminuição do apetite. Na depressão atípica observamos agitação, ansiedade, hipersonia e aumento do apetite. Em alguns casos o sintoma que predomina é a irritação e a ansie- dade. Além disso, alguns pacientes deprimidos podem cursar com sintomas psicóticos quando se observa que a melhor resposta se dá com a combinação de medicações antidepressivas aos antipsicóticos. Estudos controlados mostram que 20 a 40% dos pa- cientes apresentam melhora, não pelo efeitoterapêutico da droga, mas pelo seu efeito placebo. Em geral quando isso acontece, a melhora se dá ao longo das 2 primeiras semanas de tratamento, com recaída em seguida. Esse efeito ocorre com menos freqüência nas depressões mais graves. Cinqüenta por cento dos pacientes deprimidos res- pondem ao tratamento medicamentoso, com o uso de apenas uma droga. Do restante, alguns vão apresentar melhora sem remissão completa dos sintomas, e 10 a 15% não vão apresentar melhora. Para aqueles que não apresentam remissão completa dos sintomas, podem-se associar outras drogas, a fim de potencializar o efeito dos antidepressivos. As razões mais comuns para a falência do tratamento são dose inadequada e uso da medicação por tempo insu- ficiente, já que os antidepressivos levam de 3 a 6 semanas para apresentarem efeitos terapêuticos. Luto patológico: após perda, de uma pessoa querida ou de um emprego, ocorre o comprometimento da auto- estima e sintomas depressivos. Na maioria dos casos o tratamento principal é a psicoterapia, mas algumas vezes esses sintomas são muito intensos e têm durabilidade muito grande, necessitando de introdução de medicação antidepressiva. A dose de antidepressivo recomendada é a mesma usada para o tratamento da depressão, mas o que se observa é que a medicação pode ser retirada precoce- mente, após remissão completa dos sintomas depressivos de acordo com a rapidez da resposta. Estudos recentes sugerem que algumas formas de psi- coterapia podem ser tão eficazes quanto à farmacoterapia em quadros depressivos moderados, e que a combinação das duas modalidades de tratamento é mais eficaz que ambas isoladamente. Depressão do transtorno bipolar: qualquer droga antidepressiva é eficaz no tratamento da depressão, que ocorre no curso da doença bipolar, mas há algumas com- plicações que podem ser observadas: • 30 a 50% dos pacientes desenvolvem episódio maní- aco durante o tratamento com antidepressivos; • em alguns pacientes a instituição do antidepressivo pode desencadear e manter a ciclagem rápida (mais de 3 episódios maníacos por ano), apresentando também diminuição à resposta com lítio. Nesses casos, pode ser útil fazer um gráfico com o curso da doença, com tempo e gravidade dos sintomas, bem como com a resposta às medicações usadas. Distimia: a distimia consiste em sintomas leves/mode- rados de depressão de curso crônico. Já se acreditou que esses pacientes não apresentavam melhora com a medicação antidepressiva, e isso aconte- ceu pois os sintomas não apresentam muita gravidade e pouca intensidade, então eram utilizadas doses baixas dos antidepressivos, o que levava à ausência de resposta. O que observamos, no entanto, é que os pacientes podem se beneficiar com o uso da medicação de forma apropriada e associada à psicoterapia. Transtorno do humor secundário a condições clínicas: os transtornos do humor devem ser sempre considerados um diagnóstico de exclusão, ou seja, após Paola Realce Paola Realce Paola Realce Paola Realce Capítulo 8 – psicofármacos 53 descartada qualquer patologia clínica que possa cursar com quadro depressivo, uma vez que existem muitas do- enças não-psiquiátricas (neurológicas, endocrinológicas) e medicações que podem cursar com sintomas depressivos. Podemos listar algumas patologias para as quais devemos estar atentos: • medicações: anti-hipertensivos, corticóides, medi- cações usadas no tratamento das labirintopatias, benzodiazepínicos; • abuso de drogas: ansiolíticos, álcool, abstinência a psico-estimulantes; • endócrinas: hiper e hipotireoidismo, diabetes; • neurológicas: AVC, demência, Parkinson; • outras: carcinoma pancreático, infecções virais, de- ficiência de B12; Nos casos em que a condição de base foi tratada sem remissão completa dos sintomas depressivos, pode-se instituir a medicação antidepressiva. Transtorno do pânico: consiste na ocorrência de sin- tomas agudos de ansiedade, físicos (taquicardia, dor pre- cordial, falta de ar, cefaléia, tremor, sudorese e alterações gastrintestinais) e psíquicos (medo de perder o controle, medo de enlouquecer, desrealização, despersonalização e medo de morrer). Ela pode cursar com ansiedade ante- cipatória e comportamento fóbico, como a agorafobia, em que o indivíduo pára de sair, pelo receio de ter uma crise de pânico em local que não pode ser socorrido. Os antidepressivos são bastante eficazes no tratamento do pânico. No início do tratamento, muitas vezes é neces- sário o uso concomitante de benzodiazepínicos. Transtorno obsessivo-compulsivo: o transtorno obsessivo-compulsivo consiste em pensamentos intrusos (obsessões), que o indivíduo reconhece como absurdos e que são muitas vezes seguidos de uma atitude para neutralizar o pensamento (compulsões). O tratamento é feito com medicação antidepressiva, muitas vezes necessitando doses maiores que as usadas no tratamento dos quadros depressivos. Além disso, observa-se que os pensamentos obsessivos respondem melhor ao trata- mento farmacológico que o comportamento compulsivo. Transtorno dismórfico corporal: consiste na preocu- pação excessiva com um defeito físico imaginado. Parece responder bem à medicação antidepressiva. Transtorno de estresse pós-traumático: seguido de uma experiência traumática; o indivíduo pode desenvolver a sensação de reviver a experiência traumática (flashback), podendo ser complicado com sintomas de depressão e comportamento fóbico. Fobia social: é definida como medo persistente de situações sociais em que o indivíduo se sente vulnerável a humilhações. Esse transtorno pode ser tratado com anti- depressivos, beta-bloqueadores e costuma apresentar boa resposta à terapia cognitivo-comportamental. Transtornos alimentares: os transtornos alimentares se caracterizam pela preocupação patológica com o peso, forma física e desejo intenso de emagrecer. Eles são a anorexia (onde o indivíduo, em geral mulheres jovens, se submetem a regimes alimentares radicais, acreditando-se obesas apesar de muito abaixo do peso; cursa com com- plicações clínicas graves, como desnutrição, amenorréia, Tabela 2. Antipsicóticos atípicos Nome/marca Apresentação Dose terapêutica/ Dose máxima Indicações Amisulprida Socian 50 (20cp) 200 (20cp) 200 - 500 mg/dia 800 mg/dia Sintomas negativos até 300 mg/dia Sintomas positivos de 400 a 800 mg/dia Olanzapina 2,5 (14cp) 2,5 (28cp) 5 (14cp) 5 (28cp) 10 (14cp) 10 (28cp) 10-20 mg/dia 20 mg/dia Predominância de sintomas negati- vos e depressivos. Primeiro episódio psicótico, intolerância e neurolépticos típicos. Risperidona 1 (20cp) 1-4 mg/dia Sintomas positivos e negativos Risperdal** Zargus 1 (20cp) 3 (20cp) 16 mg/dia Primeiro episódio psicótico, intolerância a neurolépticos típicos Clozapina 25 (20cp) 100 (30 cp) 300-450 mg/dia 900 mg/dia Em casos de discenia tardia e esquizofrenia refratária Quetiapina 25 (14cp) 100 (28cp) 300-400 mg/dia 750 mg/dia Sintomas negativos e depressivos Ziprasidona 40 (14cp) 40 (30cp) 80 (30cp) 40-160 mg/dia 160 mg/dia Sintomas positivos e negativos. Na depressão associada com ganho de peso Aripiprazol 10, 15 15 mg/dia Sintomas negativos e positivos psiquiatria 54 distúrbios metabólicos e morte), e a bulimia (onde o pa- ciente apresenta episódios de compulsão alimentar, com ingesta de grande quantidade de alimentos, seguida de comportamento purgativo, como vômitos e uso de laxan- tes). Os antidepressivos são muito eficazes no tratamento da bulimia. Transtorno de ansiedade generalizada: consiste na presença de sintomas de ansiedade de forma crônica, com grande comprometimento da vida do indivíduo. Os sintomas duram mais que 6 meses. Déficit de atenção e hiperatividade: trata-se de um transtorno que tem iníciona infância e cursa com dificulda- de de manter a atenção, a impulsividade e a hiperatividade. É mais freqüentemente tratado com psico-estimulantes, mas parece ter boa resposta à bupropiona. Dor crônica: os antidepressivos têm se mostrado úteis no tratamento da dor crônica, mesmo na ausência da de- pressão. Nesses casos são usados doses menores que aquelas usadas no tratamento da depressão. A melhor res- posta é com os tricíclicos (principalmente a amitriptilina). mECANISmO DE AÇÃO O mecanismo de ação preciso pelo qual os antidepres- sivos exercem seu efeito terapêutico ainda é desconhecido, mas sabemos qual é a sua ação aguda no SNC. Sua principal interação se dá com os sistemas noradre- nergéticos e serotoninérgicos (noradrenalina e serotonina), onde regulam muitas funções psíquicas, como a vigilância, a atenção e os estados de humor. Após a liberação na fenda sináptica, a serotonina e a noradrenalina podem ser destruídas pela enzima monoami- xodase, podem ser recaptadas, quando estarão novamente dentro de vesículas do neurônio pré-sináptico para serem novamente liberadas. Dessa forma os antidepressivos atu- am na inibição da recaptação, na inibição da recaptação ou na inibição da monoaminoxidase. CLASSIFICAÇÃO Os antidepressivos podem ser classificados conforme a seguir. Tricíclicos e tetracíclicos: os tricíclicos foram des- cobertos em 1950, por acaso, uma vez que têm estrutura química semelhante à da clorpromazina (antipsicótico de alta potência), e estava sendo testada em suas proprieda- des antipsicóticas, que não existem, mas observaram-se propriedades antide-pressivas. São classificados em tricíclicos devido à sua forma quí- mica. A maioria das drogas dessa classe (com exceção da cloimipramina) tem pouca atuação na serotonina, atuando principalmente na noradrenalina, além de atuarem em ou- tros receptores com histamínicos e na acetilcolina. Os principais representantes desse tipo de droga são: • imipramina (tofranil); • cloimipramina (anafranil); • nortriptilina (pamelor); • amitriptilina (amitril); • maprotilina (ludiomil - falso tetracíclico); • mianserina (Tolvon); Os principais efeitos colaterais são: • efeitos colinérgicos (boca seca, constipação intesti- nal, visão turva, retenção urinária); • cardiovasculares (hipotensão ortostática, lentificação da condução cardíaca, hipertensão arterial); • sistema nervoso central (tremor, sedação, excita- ção); • outros (transpiração, ganho de peso, impotência sexual e outras disfunções sexuais). O grande problema dos tricíclicos é o risco de overdose. Em doses superiores a 1 g, podem vir a ser fatais, levando à morte por arritmia cardíaca, hipotensão e convulsões incontroláveis. Inibidores seletivos da recaptação da serotonina: o primeiro inibidor da recaptação da serotonina, a fluoxe- tina, foi liberada para uso em 1987, nos Estados Unidos, e representou uma revolução no tratamento dos quadros de depressão e ansiedade. O sucesso dessa classe de drogas se deu primeiro pelo melhor perfil de efeitos cola- terais (não há efeitos anticolinérgicos, não provoca ganho de peso e não é cardiotóxica), e também por se tratar de uma droga relativamente segura quando ingerida em grandes doses. Apesar de serem drogas bem toleradas pela maioria dos pacientes, não são totalmente livre de efeitos colaterais, sendo os principais: • ansiedade a agitação inicial; • náusea; • cefaléia; • disfunção sexual. Apesar de todos os inibidores da recaptação da sero- tonina agirem de forma muito semelhante, algumas vezes os pacientes não toleram bem uma droga e toleram muito bem outra. Os principais representantes dessa classe de drogas são: • fluoxetina (prozac, fluoxene, daforin); • paroxetina (aropax); • sertralina (zoloft); • citalopran (cipramil); • escitalopran (lexapro). Inibidores da monoaminoxidase (IMAO): o primeiro Capítulo 8 – psicofármacos 55 fármaco no qual foi observado efeito antidepressivo foi um inibidor da monoaminoxidase (iproniazida). Inicialmente usado no tratamento da tuberculose, teve seu uso suspenso pela hepatoxicidade. A monoaminoxidase é enzima responsável pela degrada- ção das aminas (noradrenalina e serotonina). É encontrada no SNC e no sistema digestivo (onde degrada as aminas encontradas nos alimentos). O problema do uso dessa droga é que, como as aminas provocam aumento da pressão arterial e não são restritas ao sistema nervoso central, a inibição da monoaminoxidase tem que ser acompanhada de uma restri- ção dietética, a fim de não promover crise hipertensiva. Existem 2 tipos de inibidores da MAO, um irreversível (que possui problema de interações com medicações e alimentos), e o inibidor reversível (que não apresenta pro- blema de interações com medicações e alimentos). Alimentos a serem evitados quando se usa um IMAO: • cerveja, vinho tinto; • queijos curados (cottage e requeijão são permiti- dos); • salsicha seca; • favas; • levedura de cerveja; • peixes defumados; • fígado (bovino ou de galinha); • álcool (em excesso); • abacate maduro (em excesso); • iogurte (em excesso); • bananas maduras (em excesso); • molho de soja (em excesso); • chocolate (em excesso); • figos (em excesso); • amaciantes de carne (em excesso); • bebidas contendo cafeína (em excesso); • passas (em excesso). Medicações a serem evitadas quando se faz uso de IMAO irreversível: • descongestionante nasal; • medicações para emagrecer; • estimulantes; • alguns analgésicos; • alguns anti-alérgicos. No Brasil temos 2 tipos de IMAO: Tranilcipromina (parnate) – inibidor irreversível; Moclobemida (aurorix) – inibidor reversível. Os IMAO parecem ter, particularmente bom efeito em depressões resistentes, principalmente do tipo melancólica, e têm bom perfil de efeitos colaterais, sendo a náusea o principal deles. OUTROS ANTIDEPRESSIvOS Bupropiona (wellbutrin, zyban, zetron): trata-se de uma medicação que parece atuar no sistema noradrenér- gico e dopaminérgico (inibindo a recaptação desses neuro- transmissores). É interessante por algumas características clinicas: parece não estar associada à virada maníaca ou à indução de ciclagem rápida nos casos de depressão bipolar, outra situação em que essa droga é mais eficaz no tratamento do déficit de atenção e hiperatividade que os outros antidepressivos. Por outro lado, parece não ser eficaz no tratamento dos transtornos ansiosos. Tem perfil favorável aos efeitos colaterais, e os mais comuns são insônia (que pode ser controlada usando-se a droga no período da manhã), boca seca e tremor, não apresentando efeito sobre o apetite. Existem relatos de que pacientes com disfunções sexuais, quando em uso de outros antidepres- sivos, evoluem melhor quando usam a bupropiona. O pior efeito colateral são as crises convulsivas, que parecem ter maior chance de acontecer quando o paciente tem história de crises convulsivas anteriores, lesões cranio-encefálicas, bulimia e anorexia. Não é uma droga segura quando ingerida em altas doses, havendo relatos de morte e estados de mal epilé- tico, portanto deve ser dada com cautela pacientes com risco de suicídio. Mirtazapina (remeron): a ação da mirtazapina é bem incomum em relação a outros antidepressivos. Ela parece ser um antagonista dos receptores alfa 2 adrenergéticos centrais e, através de mecanismos compensatórios, acaba resultando no aumento da noradrenalina e da serotonina. Existe a hipótese de que ela promova uma reposta mais rápida que os demais antidepressivos, e parece ser útil na maioria dos quadros de ansiedade. Os efeitos colaterais mais comuns associados à mir- tazapina são boca seca, sonolência e ganho de peso, sendo a sonolência observada mais freqüentemente em doses mais baixas. E parece terefeitos sexuais com menor freqüência. Venlafaxina (efexor): o efexor tem ação de inibir a recaptação da serotonina e noradrenalina. Parece ter bom efeito no tratamento da ansiedade generalizada. Além dis- so, vários estudos sugerem sua eficácia no tratamento do déficit de atenção e hiperatividade, tanto em crianças como em adultos, tendo a vantagem de não apresentar potencial de abuso, como acontece com o metilfenidato. Dentre os efeitos colaterais, o maior responsável pelo abandono do tratamento é a insônia. Além disso podem ocorrer náuseas e disfunções sexuais. Como é uma droga que pode provocar aumento da pressão arterial, ela deve ser monitorada com freqüência. Não é comum a ocorrência de letalidade em altas doses da venlafaxina. Reboxetina (prolift): trata-se de um inibidor seletivo da recaptação da noradrenalina, tendo como vantagem psiquiatria 56 a diferenciação do mecanismo de ação, uma vez que a etiologia da depressão não está definida. E aprovado pela FDA somente para o tratamento da depressão maior. Em relação ao perfil de efeitos colaterais é importante pensar que ele tem menor propensão em causar problemas sexuais que outros antidepressivos, como os inibidores seletivos da recaptação da serotonina; e é segura nos quadros de intoxicação. Trazodone (domaren): inibidor fraco da recaptação de serotonina, bloqueia receptor de adrenérgico (hipotensor e sedativo). Indicado para depressão com insônia. Dose de 50 - 600 mg/dn. Há risco priapismo com o uso de altas doses. Duloxetina (cymbalta - dose 60-120 mg-dia): blo- queia a noradrenalina e a serotonina já em doses baixas, e parece não aumentar a pressão arterial. Não apresenta efeitos anticolinérgicos, antissustamínicos e hipotensores. Pode ser uma alternativa para o tratamento da dor crônica. Os efeitos colterais são náuseas, ansiedade, sudorese e disfunção sexual. A ESCOLHA DO ANTIDEPRESSIvO Com tantos antidepressivos disponíveis, uma boa es- colha requer alguns passos: • boa história clínica e diagnóstico bem feito. Em de- terminadas patologias se sabe da melhor resposta clínica a um determinado antidepressivo, assim o TOC costuma apresentar boa resposta aos inibidores sele- tivos da recaptação da serotonina; para um paciente que deseja abandonar o tabagismo devemos optar pela bupropiona, o transtorno do pânico responde bem à imipramina; pacientes que apresentam insô- nia podem fazer uso de medicações mais sedativas, como a mirtazapina; • droga com perfil de efeitos colaterais adequados ao paciente em questão, por exemplo, em um paciente idoso ou cardiopata deve-se evitar os tricíclicos, em um paciente com história prévia de convulsões não se deve usar a bupropiona; pacientes com risco de suicídio não devem usar drogas com potencial letalidade, como os tricíclicos e a bupropiona, a não ser que estejam em intensa vigilância ou não tenham acesso à própria medicação; • uso de dose adequada para que se possa garantir a eficácia de uma medicação e também o uso por tempo adequado, já que sabemos que os efeitos terapêuticos dos antidepressivos só aparecem após 3 a 6 semanas de tratamento. A dose e o tempo inadequados ao tratamento a maior causa de sua falência. ESTABILIzADORES DO HUmOR Definição: os estabilizadores do humor são drogas usadas no tratamento dos transtornos bipolares do humor, não sendo essa, no entanto, a sua única indicação. Em geral elas mais eficazes no tratamento da fase maníaca que na depressiva do transtorno bipolar do humor, e atuam também diminuindo a flutuação do humor, característica desse diagnóstico. As drogas usadas como estabilizadores do humor são o lítio e alguns anticonvulsivantes, como a carbamazepina e o ácido valpróico. Novos anticonvulsivantes, como a lamo- trigina e o topiramato, também têm se mostrado eficazes como estabilizadores do humor. CARBONATO DE LíTIO O lítio foi a primeira droga a ser usada como estabiliza- dor do humor, e é um medicamento chave no tratamento dos pacientes bipolares, sendo, ainda hoje, a primeira droga de escolha nesses casos. O lítio é um sal, excretado quase completamente pela via renal, concorrendo a esse nível com o sódio, por isso situações que promovem a diminuição sérica do sódio (como o uso de alguns diuréticos) ou situações de compro- metimento da função renal levam ao aumento da litemia. O médico, então, deve estar atento a essas situações. Indicações: a principal indicação do uso do lítio é o tratamento do transtorno bipolar do humor e, como já foi dito, ele atua melhor nos quadros maníacos que nos epi- sódios depressivos. No tratamento da mania aguda observa-se o início do efeito terapêutico do lítio em 10 a 14 dias após o início do tratamento, e seu efeito completo ocorre em cerca de 4 se- manas. Nos casos leves de mania, pode-se obter sucesso terapêutico utilizando o lítio como única droga, porém em casos leves de mania severa pode ser necessário o uso de outras medicações, como antipsicóticos e/ou benzo- diazepínicos. Quando se opta pelo uso de antipsi-cóticos, devem-se usar doses terapêuticas completas e a droga deve ser suspensa gradualmente, quando o paciente apresentar remissão dos sintomas, uma vez que pacientes com transtorno do humor estão mais sujeitos à discinesia tardia que pacientes esquizofrênicos, quando se usa an- tipsicóticos por muito tempo. Existem algumas características que predispõem o paciente a uma má resposta ao lítio: ciclagem rápida, co- morbidades psiquiátricas, sintomas mistos de depressão e mania, mania disfórica. Nesses casos pode ser neces- sário o uso de outro estabilizador do humor sozinho ou em associação com o lítio. Capítulo 8 – psicofármacos 57 Na abordagem dos episódios depressivos do paciente com transtorno bipolar do humor, quando se trata de episó- dio grave, pode ser necessário o uso de antidepressivos, o que deve ser feito com cautela, e pelo menor tempo possível (ao contrário do que é indicado no tratamento da depressão unipolar) já que essas medicações podem predispor à virada maníaca e à ciclagem rápida. O tratamento do transtorno bipolar deve ser feito a lon- go prazo, com estabilizadores do humor, uma vez que os pacientes podem sofrer recorrências. Estudos mostram que a terapia com o lítio vai diminuir a freqüência e a gravidade dessas recorrências. O grande problema no tratamento com o lítio é a aderência ao tratamento, já que se trata de uma droga de baixo índice terapêutico, ou seja, a dose terapêutica é muito próxima à dose letal. No início do tratamento deve-se verificar a litemia semanalmente, até que se atinja a dose terapêutica (a coleta do sangue deve ser feita 12 horas após a última tomada). A partir daí, deve-se ter a litemia a cada 3/6 meses. A dose sérica do lítio deve estar entre 0,6 e 1,2 semanas da manutenção, sendo que a partir de 1,5 já se pode observar toxicidade. É importante observar que, quando não se toma o lítio, o nível sérico esperado é zero, não existindo patologia pela falta de lítio no organismo. OUTRAS INDICAÇõES PARA O USO DO LíTIO Na potencialização do uso de antidepressivos: alguns pacientes com diagnóstico de depressão unipolar não respondem ou respondem apenas parcialmente ao uso de antidepressivos, e estudos mostram que cerca de 50% dos pacientes apresentam melhora com o uso concomitante do lítio. TRANSTORNO ESqUIzOAFETIvO O transtorno esquizoafetivo compreende quadros em que há presença de alterações do humor (como mania e depressão) e sintomas psicóticos, e episódios de sintomas psicóticos na ausência de sintomatologia do humor. Nesses casos algumas características são prognóstico de melhor resposta ao lítio, volta ao nível de funcionamento pré-mórbi- do após a crise, história familiar de transtorno do humor. CICLOTImIA A ciclotimia ocorrequando um paciente apresenta sin- tomas de mania, alternados com sintomas de depressão sem, no entanto, preencher critérios suficientes para fechar o diagnóstico de mania e depressão, respectivamente. Efeitos colaterais: • efeitos gastrintestinais (náuseas, vômito, anorexia, diarréia, dor abdominal); • efeitos renais: a poliúria é o efeito colateral mais comum secundário ao uso do lítio; o problema é minimizado quando se dá uma única dose noturna de medicação. Pode ocorrer também o aumento dos níveis séricos de creatinina, e quando isso ocorre deve-se suspender o lítio; • edema: raramente os pacientes apresentam edema em faces e extremidades, o que, em geral, remite espontaneamente; • efeitos neurológicos: letargia, fadiga, tremor (fino) que aumentam com ansiedade e com execução de movimentos finos, que podem ser agravados com o uso concomitante de antidepressivos. Esse efeito colateral pode representar problema importante quan- do a profissão do paciente exige a execução desses movimentos finos, como ocorre com manicures. E pode ser resolvido com beta-bloqueadores. Sintomas extrapiramidais (em uma minoria de pa- cientes): • efeitos cognitivos e psicológicos: os pacientes podem se queixar de perda da criatividade, iniciativa e distúr- bios de memória. Essas queixas, no entanto, podem refletir o fato do paciente estar saindo de um quadro de hipomania ou o início de um quadro depressivo; • efeitos tireoidianos: o lítio pode interferir no funciona- mento dessa glândula com freqüência; • toxicidade cardíaca: o lítio deve ser dado com cautela a pacientes com doenças cardíacas. Efeitos dermatológicos: acne, erupções, dermatite. Ganho de peso. Toxicidade: como já foi dito, o lítio é uma medicação cuja dose terapêutica é próxima à dose letal. A intoxica- ção pelo lítio representa urgência médica, os sintomas de intoxicação incluem náuseas, vômito, diarréia, falência renal, ataxia, disartria, tremor grosseiro, confusão, delirium, alucinações, convulsões e coma. O tratamento consiste em suporte clínico e diálise. psiquiatria 58 Tabela 3. Antidepressivos (classificação) Nome químico Nome comercial Apresentação Dose terapêutica Imipramina Trofanil Trofanil pamoato Imipra 10 e 25 mg 75 mg 25 mg 10 - 300 mg/dia Amitriptilina Tryptanol Amytril Protanol Tripsol 25 e 75 mg 25 mg 25 mg 25 mg 25 - 300 mg/dia Clomipramina Anafranil Anafranil SR Anafranil Injetável 10 e 25 mg 75 mg Ampola (2 ml = 25 mg) 10 - 300 mg/dia Nortriptilina Pamelor 10, 25, 50 e 75 mg 10 - 150 mg/dia Tranilcipromina Parnate 10mg 10 - 080 mg/dia Moclobemida Aurorix Moclobemida-mocloxin 100, 150 e 300mg 100 e 150 mg 300 - 600mg/dia Fluoxetina Prozac Daforin Deprax Eufor 20 Fluxene Nortec Psiquial Verotina 20 mg e gotas 20 mg e gotas 20 mg 20 mg 20 mg 20 mg 20 mg 20 mg e gotas 10 - 080 mg/dia Setralina Zoloft Sercerin Tolrest Novativ 50 mg 50 mg 25, 50 e 100 mg 50 mg 25 - 200 mg/dia Paroxetina Aropax Pondera Cebrilin 20 mg 20 e 30 mg 20 mg 10 - 050 mg/dia Citalopram Cipramil 20 mg 10 - 060 mg/dia Fluvoxamina Luvox 100 mg 50 - 300 mg/dia Trazodona Donaren 50 mg 50 - 600 mg/dia Nefazodona Serzone 100 e 150 mg 300 - 500 mg/dia Bupropina Zyban 150 mg 100 - 450 mg/dia Venlafaxina Efexor Efexor XR 37,5, 75 e 150 mg 75 e 150 mg 75-375 mg/dia Mirtazapina Remeron 30 e 45 mg 15 - 45 mg/dia Reboxetina Prolift 4 mg 04 - 010 mg/dia Escitalopran Lexapro 10 mg 10 - 030 mg/dia Duloxetina Cymbalta 60 mg 60 - 120 mg/dia O USO PSIqUIÁTRICO DOS ANTICONvULSIvANTES Alguns anticonvulsivantes se mostraram particularmen- te eficazes no tratamento do transtorno bipolar do humor. CARBAmAzEPINA Foi o primeiro anticonvulsivante usado no tratamento do transtorno bipolar do humor, mas ainda se questiona se é tão eficaz quanto o lítio para esses pacientes. Além de ser útil no transtorno do humor, se observa melhora da agres- sividade e do impulso com o uso da carbamazepina. Efeitos colaterais: alguns efeitos colaterais de carba- mazepina são extremamente perigosos e felizmente muito raros, mas para os quais devemos permanecer atentos: hepatite, dermatite esfoliativa e discrasias sangüíneas (anemia aplástica, leucopenia, trombocitopenia). Outros efeitos colaterais incluem: tonteira, vertigem, ataxia, diplopia e visão borrada. Capítulo 8 – psicofármacos 59 ÁCIDO vALPRÓICO Um grande número de estudos mostram que o ácido valpróico é tão eficaz no tratamento do transtorno bipolar do humor quanto o lítio, e parece ser superior ao lítio no tratamento dos cicladores rápidos e da mania disfórica. Além disso também é eficaz no tratamento do transtor- no esquizoafetivo, e se observa importante no impulso e agressividade. Efeitos colaterais: náuseas, vômitos, seda-ção, tremor, ataxia e ganho de peso. LAmOTRIgINA (LAmICTAL) Parece ser também eficaz no tratamento do transtorno bipolar do humor, principalmente nos cicladores rápidos e na fase depressiva da doença. Efeitos colaterais: cefaléia, visão borrada, ataxia, náuseas, vômitos e rashes cutâneos. TOPIRAmATO (TOPAmAX) Outra droga com indicação recente para o tratamento do transtorno bipolar do humor. Tem a particularidade de estar mais associada à perda de peso que ao ganho, sendo seu principal efeito colateral a sonolência. BENzODIAzEPíNICOS E OUTRAS DROgAS ANSIOLíTICAS DEFINIÇÃO Os benzodiazepínicos são drogas que têm proprieda- des ansiolíticas, sedativas, anticonvulsivantes e relaxantes musculares. Todas essas ações são muito úteis na prática clínica. Antes do surgimento dos benzodiazepínicos, os bar- bitúricos eram amplamente utilizados no tratamento dos pacientes ditos neuróticos e com sintomas de ansiedade. Os benzodiazepínicos apresentam muitas vantagens em relação aos barbitúricos: (a) a dose que tem efeito ansio- lítico é bastante diferente daquela que provoca sedação; (b) apresentam menor tendência à produzir sedação e dependência; (c) apresentam menor potencial de provocar abuso; (d) a dose eficaz é muito diferente da dose letal. Os barbitúricos são drogas muito potentes e de grande toxi- cidade na overdose, provocando coma, depressão respi- ratória e morte, enquanto os benzodiazepínicos raramente estão associados a complicações mais sérias na overdose. A eficácia e a segurança dos benzodizepínicos associadas à grande freqüência de queixa de insônia e sintomas de ansiedade, levaram a um amplo uso dessas drogas, apesar de se saber que causam dependência mesmo em doses terapêuticas (parece que os riscos de uma dependência severa têm sido exagerados); muitos pacientes continuam apresentando efeito terapêutico com uso dos benzodiaze- pínicos a longo prazo, mas o potencial de dependência deve ser sempre levado em consideração. mECANISmO DE AÇÃO Os benzodiazepínicos, assim como o álcool e os barbitú- ricos, são drogas que atuam no complexo gaba, o mais po- tente inibidor do SNC. Dessa forma essas drogas promovem a ação de aumentar a inibição. E, além disso, funcionam de maneira sinérgica, ou seja, um potencializa a ação do outro, não devendo ser associados. Como o sítio de ação das dro- gas é o mesmo, verifica-se que pacientes que apresentam dependência ao álcool, apresentam grande possibilidade de também apresentar dependência aos benzodiazepínicos. INDICAÇÃO DO USO DOS BENzODIAzEPíNICOS Ansiedade: a ansiedade é uma emoção humana normal, que na maioria das vezes não requer tratamento médico. No entanto, algumas vezes ela pode se tornar severa, a ponto de interferir na performance do indivíduo; nessas circunstâncias o tratamento deve ser instituído. A ansiedade pode ser: (a) uma resposta normal a um evento estressante; (b) sintoma de um transtorno de ansiedade; (c) sintomade uma outra doença psiquiátrica como depressão; (d) sintoma de uma doença médica como, tireotoxicose. Estresse situacional: usualmente é auto-limitado e ra- ramente requer intervenção médica. Quando o paciente se queixa de ansiedade relacionada a um evento estressante, devemos levar em consideração os seguintes aspectos: a ansiedade é grave? algumas vezes a ansiedade é útil e leva a mudanças importantes e adaptativas necessárias? outras vezes leva a comportamento mal adaptado, quando então a medicação pode ser útil? Os aspectos seguintes são: quais os riscos do uso de benzodiazepínicos para esse paciente? deve-se levar em consideração efeitos colaterais à possível dependência e interações medicamentosas? Muitas vezes os benzodiazepínicos são usados como coadjuvantes no tratamento, são drogas que devem ser retiradas logo que possível, devido ao potencial de abuso e dependência. Seguem os transtornos em que é indicado o uso dessas drogas: • fobia social e ansiedade de performance: a fobia social é definida como medo persistente de uma ou mais situações sociais nas quais o indivíduo é exposto a possível humilhação. A mais conhecida é aquela em que o paciente tem medo de falar em público, outras formas de fobia social incluem medo de comer em público ou de usar um banheiro público. psiquiatria 60 No tratamento da fobia social sabemos que o tratamento medicamentoso mais eficaz é feito com IMAO e beta- bloqueadores, mas algumas vezes os benzodiazepínicos podem ser úteis. • transtorno de ansiedade generalizada: o transtorno de ansiedade generalizada é caracterizado por preo- cupação excessiva e não correspondente à realidade. É uma ansiedade constante e relacionada com sinto- mas físicos, como taquicardia, sudorese, tremor. Nessa patologia, também os benzodiazepínicos são drogas usadas apenas como coadjuvantes, já que ela é melhor tratada com antidepressivos. • transtorno do pânico: o transtorno do pânico é tratado com antidepressivos, os benzodiazepínicos são indicados no início do tratamento, principalmen- te para o controle do episódio agudo, devendo ser retirado logo que o paciente apresente melhora do quadro clínico. • transtorno obsessivo-compulsivo: como o transtor- no do pânico, os benzodiazepínicos são indicados no início do tratamento de forma a complementar o tratamento com antidepressivos. • depressão com ansiedade: nesse caso, os benzo- diazepínicos também são indicados como comple- mentação do tratamento com antidepressivos, no início do tratamento. • mania aguda: o tratamento da mania aguda deve ser feito com antimaníacos (estabilizadores do humor- carbonato de lítio, carbamazepina, ácido valpróico) sendo que no início do tratamento pode ser útil o uso de antipsicóticos e/ou benzodiazepínicos. • quadros psicóticos: os quadros psicóticos, muitas vezes são acompanhados de agitação e insônia. Pode- se fazer uso de antipsicóticos de baixa potência, que são drogas mais sedativas, e benzodiazepínicos, que além disso podem ser úteis no tratamento da acatisia provocada pelos antipsicóticos de alta potência. • insônia: a insônia é um sintoma comum que pode resultar de um número variado de causas: – causas médicas – dor, problemas respiratórios, hiper- tireoidismo, refluxo; – substâncias – álcool, cafeína e outros psico-estimu- lantes, antidepressivos, por ocasião da retirada dos ben- zodiazepínicos, acatisia induzida por neurolépticos; – transtornos psiquiátricos: ansiedade, mania, depres- são; – problemas específicos do sono: apnéia do sono, sín- drome das pernas inquietas, mioclonia noturna; – muitas vezes a causa da insônia é idiopática. A insônia pode ser inicial, quando o paciente tem dificuldade de conciliar o sono, ou terminal, quando o paciente apresenta despertar precoce, e não consegue voltar a dormir. Alguns comportamentos são importantes para deter- minar a qualidade do sono, e se denominam higiene do sono: – o lugar de dormir deve ser adequado e confortável; – o indivíduo deve desenvolver uma rotina na hora de dormir; – dormir sempre no mesmo horário; – usar a cama só para dormir (não ver televisão, ler ou estudar na cama); – anotar todos os compromissos do dia seguinte, evi- tando assim se preocupar; – acordar sempre no mesmo horário; – evitar álcool; – evitar café e outros psico-estimulantes, principalmente no período da tarde e ao anoitecer. Quando se decide pelo uso dos benzodiazepínicos para o tratamento da insônia, não se deve usá-lo por mais de 2 semanas. Em casos em que se precise usar benzodiaze- pínicos por mais tempo, deve-se levar em consideração os efeitos colaterais e o processo de dependência. • abstinência ao álcool: devido à eficácia, segurança e perfil farmacológico, os benzodiazepínicos são os agentes de escolha para o tratamento da abstinência ao álcool. O álcool, assim como os benzodiazepínicos e os bar- bitúricos, atuam ativando o complexo gaba, que é o mais importante inibidor do SNC. A suspensão súbita do uso crônico do álcool resulta em ansiedade, insônia, agitação, crise convulsiva, rebaixamento do nível de consciência (delirium tremens). Quando se introduz o benzodiazepínico, se recupera o estado de equilíbrio anterior e, com controle, pode-se seguir a retirada gradual da droga. EFEITOS COLATERAIS A fadiga e o cansaço são os efeitos colaterais mais comuns. Pode haver comprometimento da atenção e me- mória, diminuição da coordenação motora; outro efeito que pode ocorrer é a piora dos sintomas depressivos e, menos comumente, a desinibição, agressividade. A dependência é um efeito colateral para o qual se deve estar atento. Quanto maior a dose e menor a meia vida, maior o risco de dependência. Os sintomas de abstinência são insônia, ansiedade, agitação, anorexia, irritabilidade, tremores, náuseas, delirium, convulsões. Overdose: por serem drogas seguras, raramente os benzodiazepínicos levam à morte. Porém, quando usadas concomitante com outras drogas, como álcool e barbitúri- cos, podem constituir em intoxicação grave. Capítulo 8 – psicofármacos 61 CLASSIFICAÇÃO Agentes de ação curta (meia vida curta): • Midazolan (dormonid): 1 a 2 horas • Triazolan (halcion): 2 a 4 horas Agentes de meia vida intermediária: • Alprazolan (frontal): 6 a 10 horas • Oxazepan (oxazepol): 5 a 10 horas • Lorzapen (lorax): 10 a 20 horas Agentes de meia vida longa: • Clonazepan (rivotril): 18 a 50 horas • Diazepan (valium): 50 a 100 horas Os benzodiazepínicos, agentes de meia-vida curta e in- termediária, têm a vantagem de não acumular no organismo e não provocam sedação diurna. Suas desvantagens são provocarem maior dependência e maior efeito rebote. Os benzodiazepínicos de meia vida longa têm como desvantagen provocar sedação diurna e acúmulo no or- ganismo. Provocam, também, menos dependência e têm menor efeito rebote. RACIONAIS DE USO DOS BENzODIAzEPíNICOS Na escolha dos benzodiazepínicos alguns fatores devem ser levados em consideração. Nos baseamos principalmente na meia-vida de ação dessas drogas. Assim temos: • presença de síndrome responsiva e benzodi-azepí- nicos; • uso de terapias não-farmacológicas, quando indi- cadas; • planejamento do tempo aproximado de tratamento; • consideração do risco/benefício do uso da droga (por ex., nos casos de paciente alcoólatra deve-se evitar o uso de benzodiazepínicos, a não ser na síndrome de abstinência, quando eles são indicados por tempo curto); • ajuste da droga a fim de otimizar os efeitos terapêu- ticos e minimizar os efeitos colaterais; • monitorização do abuso; • retirada lenta; • algumas situações indicam a melhor escolha de um tipo de benzodiazepínicos: – em pacientes idosos deve-se dar preferência a ben- zodiazepínicos de meia-vida curta, pois evita o acúmulono organismo; – quando o paciente tem tendência a apresentar de- pendência, deve-se dar preferência a benzo-diazepínicos de meia-vida longa; – na abstinência ao álcool deve-se usar drogas de meia-vida longa; – no transtorno do pânico o alprazolan e o clonazepan se mostram mais eficazes; – em casos de insônia inicial, deve-se usar drogas de meia-vida curta; – em casos de insônia terminal deve-se dar preferência a drogas de meia-vida longa; – pacientes bipolares apresentam maior resposta ao clonazepan. Buspirona: a buspirona é um ansiolítico não-benzodia- zepínico aprovado pela FDA, inicialmente para o tratamento do transtorno da ansiedade generalizada. Não é eficaz no tratamento do pânico, não é anticon- vulsivante, não interage com o álcool. Diferente dos benzodiazepínicos, ela necessita cerca de 2 semanas de latência para fazer efeito terapêutico, portanto não age na crise. Ela não causa sedação e não altera a perfor-mance motora. Pode, se associada com antidepressivos, potencializar seus efeitos Seus principais efeitos colaterais são cefaléia, altera- ções gastrintestinais, tontura e parestesias. DEPENDêNCIA qUímICA INTRODUÇÃO Tão antigo quanto a própria sociedade, o homem tem lançado mão de drogas que alteram o humor, o pensamento e o sentimento. Em um estudo da Organização Mundial de Saúde veri- ficou-se que 8,9% da carga global das doenças resultam do consumo de substâncias psicoativas, sendo o tabaco responsável por 4,1%, o álcool por 4,0% e as drogas ilícitas por 0,8%. A ORIgEm DA DEPENDêNCIA qUímICA O processo pelo qual o comportamento de consumo de substâncias psicoativas em certas pessoas evolui para padrões de comportamento compulsivo de busca e consumo (que provoca incapacidade de parar com tal consumo, mesmo às custas de muito prejuízo), parece ser conseqüente à combinação de muitos fatores. O uso da droga psicoativa não leva necessariamente à dependência. A maioria das pessoas consegue controlar o uso dessas substâncias. O exemplo mais claro é o do álcool, embora um grande número de pessoas faça uso, “apenas” 5% se tornam dependentes. É necessária uma combinação de variáveis. Estas variáveis podem ser organizadas em 3 categorias distintas: (a) as características da droga; (b) psiquiatria 62 as características do indivíduo; (c) as características do meio. Características da droga: as drogas variam em sua capacidade de produzir bem-estar, euforia e sensações agradáveis em seus usuários. Quanto maior o prazer ge- rado pela droga, maior a probabilidade de um indivíduo se tornar dependente. Essa capacidade está relacionada a alterações neuroquí-micas provocadas pela introdução da droga no organismo. As diferentes substâncias psicoativas têm maneiras diferentes de agir no cérebro, ligam-se a tipos diferentes de receptores e podem aumentar ou diminuir a atividade dos neurônios, graças a vários mecanismos distintos. Como conseqüência elas têm diferentes efeitos sobre o comportamento, diferentes taxas de desenvolvimento de tolerância, diferentes sintomas de abstinência e diferentes efeitos a curto e longo prazo. Contudo, as substâncias psicoativas têm similaridades na maneira em que afetam regiões importantes do cérebro, ligadas à motivação, e isto é um aspecto importante na teoria do desenvolvimento da dependência. O psiquiatra James Olds, por volta da década de 50, durante experimentos com eletrodos posicio-nados em cé- rebros de ratos, descobriu, acidentalmente, que os animais se sentiam atraídos por choques elétricos que estimulavam determinada região cerebral. Chegavam a se desinteressar por outras atividades prazerosas, como a alimentação, para se dedicar exclusivamente à busca daquele estímulo. Olds havia situado os eletrodos em um sistema de neurotransmis- são de dopamina nos sistemas mesolímbico, mesocortical e límbico (relacionado às emoções e à memória), ele então batizou de sistema de recompensa. O sistema de recompensa, quando estimulado pela dopamina, produz sensação de euforia, bem-estar que promove o desejo de repetir tais emoções. Além dessa alteração neuroquímica, há também carac- terísticas farmacocinéticas da droga, que contribuem para seu potencial de abuso. Assim, quanto mais rápido é o início de ação da droga, maior é o seu potencial de abuso. A história da cocaína ilustra a importância dessa caracte- rística: a coca pode ser mascada e lentamente absorvida pela mucosa oral, esta forma produz baixos níveis séricos da cocaína, o que significa baixos níveis também no SNC. Os efeitos estimulantes moderados produzidos pela coca mascada têm início de ação gradual e sua prática produz pouco, se é que produz, abuso ou dependência, a despeito do uso por milhares de anos pelos povos andinos. No início do século passado os cientistas isolaram a cocaína da planta e ela, então, pode ser administrada em altas doses pelas vias inalatória e parenteral, produzindo altos níveis séricos de cocaína, levando a um início de ação mais rápido, o que levou à sua capacidade de produzir adição. Em 1960 surgiu o crack, a forma fumada da cocaína, através de um preparado com amônia. Essa forma tem início de ação muito rápido tendo, portanto, um enorme potencial aditivo. Apesar dos perfis farmacodinâmico e farmacocinético da droga serem de vital importância para a compreensão do potencial aditivo de uma droga, ela não é suficiente para explicar o desenvolvimento da dependência. As características do indivíduo: em geral os efeitos das drogas variam de indivíduo para indivíduo. O polimor- fismo dos genes, responsáveis pelo nível de funcionamento das enzimas relacionadas à absorção, metabolismo e excreção, e as diferentes respostas mediadas pelos recep- tores, podem contribuir para os diferentes níveis de reforço e/ou euforia observados entre os indivíduos. Assim temos que filhos de alcoolistas apresentam maior probabilidade de se tornarem alcoolistas, mesmo quando adotados por famílias que não apresentam consumo de álcool. Os estudos das influências genéticas mostram, no entanto, que há apenas um aumento do risco, mesmo em gêmeos idênticos não há 100% de concordância em relação ao alcoolismo, por exemplo. A tolerância inata ao álcool pode representar um traço biológico que contribui para o desenvolvimento do alco- olismo. Outro fator individual que parece influenciar de maneira importante no desenvolvimento da dependência química é a presença de comorbidade psiquiátrica. Indivíduos com ansiedade, depressão, insônia, apresentam maior risco de desenvolver o uso incontrolável de drogas, bem como indivíduos com transtorno de personalidade. Fatores ambientais: existem vários fatores ambientais que influenciam o padrão de uso de drogas, como questões culturais. Assim, na década de 60, a maconha foi eleita símbolo dos valores hippies, que enfatizavam a liberdade e rejeitavam a competição agressiva. Já na era seguinte, exacerbou-se o individualismo e a busca do sucesso indi- vidual a qualquer preço. A preferência passou, então, aos psicoestimulantes, cujos efeitos sintonizam melhor com tais valores. Entre meninos de rua é comum o uso de solventes, sendo também comum o uso de diversos tipos de drogas nos meios artísticos. Apresentam influência sobre o comportamento aditivo: a cultura, o grau de aceitação ou não uso de drogas, a disponibilidade delas. Observa-se maior chance de de- senvolvimento de dependência em indivíduos excluídos, que sofreram maus tratos na infância e que têm poucas oportunidades. É possível caracterizar alguns fatores de risco para o comportamento aditivo: • leis favoráveis ao uso de drogas; • noemas sociais favoráveis ao uso de drogas; • disponibilidade a drogas; • privações econômicas extremas; • desorganização dos arredores; • uso dedrogas pelos pais e familiares; Capítulo 8 – psicofármacos 63 • atitudes familiares positivas em relação ao uso de drogas; • associação com parceiros usuários de drogas; • falha nos estudos; • alienação; • rebeldia; • comorbidades psiquiátricas (como transtornos de personalidade). FENômENO DE ADAPTAÇÃO DO SNC, TOLERâNCIA E ABSTINêNCIA O uso prolongado de substâncias psicoativas provoca modificações anatômicas e fisiológicas no cérebro. Tais modificações tornam a droga cada vez mais importante para o indivíduo, uma vez que o novo equilíbrio conta agora com a presença da substância. A tolerância é definida pela redução de resposta à droga após administrações repetidas, necessitando doses cada vez maiores para a obtenção de mesmo efeito. A abstinência é feita de sinais e sintomas que ocorrem na cessação ou redução do uso de uma substância psico- ativa que vinha sendo usada repetidamente. CRITÉRIOS DIAgNÓSTICOS DE DEPENDêNCIA qUímICA (CID-10) Presença de 3 ou mais dos seguintes sintomas em qualquer momento, no ano anterior: • desejo forte e compulsivo para consumir a substância; • dificuldade para controlar o comportamento de con- sumo de substâncias em termos do início, fim ou níveis de consumo; • estado de abstinência fisiológica quando o consumo é suspenso ou reduzido, evidenciado por síndrome de abstinência característica ou consumo da mesma substância (ou outra muito semelhante), com intenção de aliviar ou evitar sintomas de abstinência; • evidência de tolerância, segundo a qual há necessi- dade de doses crescentes da substância psicoativa para obtenção dos efeitos anteriormente conseguidos com doses inferiores; • abandono progressivo de outros prazeres ou interes- ses devido ao consumo de substâncias psicoativas, aumento do tempo empregado em conseguir ou consumir a substância ou recuperar-se de outros efeitos; • persistência do consumo de substâncias, apesar de provas evidentes de conseqüências prejudiciais, tais como lesões hepáticas causadas por consumo ex- cessivo de álcool, humor deprimido decorrente de um grande consumo de substâncias ou perturbações das funções cognitivas. Devem ser feitos esforços para determinar se o consumidor poderia estar consciente da natureza e da gravidade do dano. CLASSIFICAÇÃO DAS DROgAS Depressores do SNC: álcool, os benzodiazepínicos, os opiáceos (morfina, heroína, cadeína), os barbitúricos (fenobarbital), os inalantes (cola). Estimulantes do SNC: anfetaminas, tabaco, cafeína, cocaína. Perturbadores do SNC: maconha, alucinógenos natu- rais (cactos e cogumelo), alucinógenos sintéticos (LSD). Club drugs - ecstasy: MDMA, ketamina, GHB. DEPRESSORES DO SNC INTRODUÇÃO Os depressores do SNC são o álcool, benzodizapíni- cos, opiáceos (morfina, heroína, cadeína); barbitúricos e inalantes. Álcool: o alcoolismo, pelas importantes conseqüências nas esferas psíquicas e somáticas do indivíduo, bem como pelas profundas repercussões na sociedade, deve ser con- siderado uma das mais graves questões de saúde pública no Brasil. As conseqüências do uso complicado do álcool são observáveis na esfera física, psíquica e social, com inexorável desmantelamento da estrutura familiar, freqüen- temente ligada a atos de violência, aumento no número de acidentes de trânsito, absen-teísmo ao trabalho e etc. Segundo dados do Ministério da Saúde, o alcoolismo ocupa o quarto lugar no grupo das doenças mais inca- pacitantes, o que se deve à presença de comorbidades psiquiátricas. • a intoxicação aguda pelo álcool leva a alteração do comportamento, sinais de comprometimento neuro- lógico, lentificação psicomotora, prejuízo da coorde- nação e labilidade do humor. Podemos identificar 3 etapas da evolução da intoxicação: – um período inicial de excitação e euforia com vivaci- dade mental e loquacidade; – um segundo período, chamado médico-legal, com turbulência e agressividade; – e um período de sonolência. • o transtorno psicótico, antigamente denominado alu- cinose alcoólica, é caracterizado principalmente por alucinações auditivas, na terceira pessoa, de cunho persecutório e sensório claro, que tem início com poucos dias de abstinência ou redução do consumo do álcool. Pode durar alguns dias, semanas ou meses, sendo algumas vezes difícil o diagnóstico diferencial psiquiatria 64 com a esquizofrenia. Quando dura mais de 6 meses é importante pensar na mudança do diagnóstico. O tratamento é feito com hidratação, uso de benzo- diazepínicos de meia-vida longa, reposição vitamínica. Algumas vezes faz-se necessário o uso de antipsicóticos de alta potência. Deve-se evitar antipsicóticos de baixa potência, uma vez que estas drogas diminuem o limiar de convulsão, aumentando seu risco. • trantorno amnéstico pelo álcool (síndrome de Korsakoff) e encefalopatia alcoólica (síndrome de Wernick): esses transtornos ocorrem após longo uso do álcool, e são decorrentes da deficiência de tiamina. A encefalopatia alcoólica consiste em uma doença neurológica que se manifesta pela presença de ataxia, oftalmoplegia, nistagmo, parestesias em luvas e botas. Pode desaparecer espontaneamente em alguns dias ou semanas e também pode progredir com gravidade, e para a síndrome de Korsakoff, onde o paciente apresenta déficits de memória de fixação, com criação de conseqüentes lacunas de memória e confabulação. Não necessariamente a síndrome amnéstica ocorre após o episódio de encefalopatia, podendo surgir sem o advento desta. O tratamento deve ser feito com doses altas de tiamina. • a síndrome de abstinência ocorre após a abstinência ou a diminuição da ingestão habitual de álcool. O paciente apresenta tremores grosseiros nas mãos, ansiedade, irritabilidade, náuseas, aumento da pressão arterial, taquicardia, aumento da freqüência respiratória e da temperatura corporal. Algumas vezes pode evoluir com convulsões e com progressão para um quadro mais grave, denominado delirium tremens. No delirium tremens o paciente apresenta rebaixa- mento do nível de consciência, com alucinações auditivas (mais raramente) e principalmente visuais, do tipo zoopsias ou liliputianas. É muito comum que o paciente veja pequenos insetos, homens de tamanho minúsculos e se encontre em estágio de importante agitação psicomotora. Nessa gravidade do quadro é comum que o indivíduo apresente importante des- nutrição e desidratação. O tratamento consiste em suporte clínico, hidratação, reposição vitamínica e uso de benzodiazepínicos de meia-vida longa, como o diazepan e o clordiazepóxido. Apesar da presença de alucinações, deve-se evitar o uso de antipsicó-ticos, uma vez que essas drogas diminuem o limiar de con- vulsão, às quais o paciente está bastante sujeito. • demência associada ao alcoolismo: é comum o alcoolismo crônico estar associado a alterações cognitivas, com diminuição global do funcionamento intelectivo e dificuldades de memória. COmPLICAÇõES CLíNICAS DO ALCOOLISmO Sistema gastrintestinal: o sistema gastrintestinal é tão afetado com o uso do álcool quanto o SNC. A esofagite e a gastrite se manifestam por irritação, dor e sangramento. O álcool dificulta a absorção de vitaminas importantes: tiamina (B1); B6; B12; ácido fólico e ferro, levando à desnu- trição, com conseqüências neurológicas importantes. No fígado ocorre esteatose hepática, hepatite alcoólica e cirrose, que se manifestam por náuseas, dor em hipocôn- drio direito, icterícia e elevação das enzimas hepáticas. A cirrose pode levar ao desenvolvimento de varizes esofagia- nas, o que pode cursar com violenta hemorragia. No pâncreas pode ocorrer a pancreatite crônica. Coração: ocorre um efeito tóxico discreto sobre as células cardíacas, levando à miocardiopatia alcoólica. TRATAmENTO Após o tratamento da fase aguda da abstinência,
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