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PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 1 AULA-1 ESTUDO DE GASES Na química, a compreensão de sistemas macroscópicos envolve o estudo da termodinâmica. O estado de um sistema, o qual delimita suas propriedades, é dado pelas condições em que são definidas as variáveis físicas e químicas necessárias para caracterizá-lo univocamente. Para tal é necessário o conhecimento de um conjunto de variáveis experimentais e parâmetros que coletivamente descrevam-no. Figura 1 – Representação de um sistema. Por definição, sistema é a parte do universo que está sendo estudada, vizinhança é tudo o que lhe é externo e fronteira é a separação que existe entre os dois. Esta pode ser rígida, flexível, móvel, imóvel, diatérmica, adiabática, etc. Já o sistema pode ser: aberto, quando a fronteira entre sistema e vizinhança permite a troca tanto de energia quanto de matéria; fechado, quando permite a troca de energia ou isolado, quando não permite a troca nem de energia nem de matéria. PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 2 Figura 2 – Classificação dos sistemas. As propriedades da matéria podem ser divididas em duas classes: propriedades intensivas e extensivas. As propriedades extensivas são aquelas que dependem da quantidade de matéria presente no sistema (exemplo: massa, área, volume...). As propriedades intensivas são aquelas que não dependem da quantidade de matéria (exemplo: temperatura, densidade, pressão...). Se o estado do sistema não apresenta uma tendência à mudança, dizemos que ele está em equilíbrio com as vizinhanças. Embora nem todos os sistemas estejam em equilíbrio, quase sempre usamos este estado como um ponto de referência para compreender suas propriedades termodinâmicas. Como a organização das partículas (átomos, moléculas, íons...) que constituem uma substância é dada por seu estado de agregação, temos que, em escala macroscópica, as substâncias no estado gasoso não possuem forma própria, PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 3 ocupando todo o volume disponível. Consequentemente, em geral apresentam elevado coeficiente de compressibilidade. Várias relações matemáticas podem ser usadas para relacionar as variáveis que caracterizam o estado de um gás. Experimentalmente verifica-se que se pressão, temperatura e volume forem especificados para uma determinada quantidade n desse sistema em equilíbrio, todas as propriedades macroscópicas mensuráveis daquela amostra terão seus valores determinados. Isto é, essas três variáveis de estado (p, V, T) determinam todo o estado de nossa amostra de gás (n = constante). Além disso, a experimentação também mostra que valores arbitrários para todas as quatros variáveis (p, V, n e T) não são possíveis simultaneamente. Ocorre que, para qualquer quantidade fixa de um gás, apenas duas das três variáveis de estado p, V e T são verdadeiramente independentes. Uma vez especificadas duas variáveis, a terceira terá seu valor determinado. Isto significa que existe uma equação matemática na qual podemos substituir duas das variáveis e calcular a variável restante. Essas equações são chamadas equações de estado, estas relacionam as variáveis do sistema, embora nem sempre se possa saber sua forma. Muitas equações de estado podem ser rearranjadas algebricamente para fornecer uma entre diversas variáveis de estado possíveis. PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 4 GÁS IDEAL: Um gás ideal pode ser visto como um conjunto de moléculas em movimento incessante e aleatório, as quais não possuem volume, nem interagem umas com as outras. A priori, o estado de um sistema pode ser descrito por uma equação de estado do tipo ( )TnVfp ,,= , onde p é a pressão, V o volume, n o número de moles e T a temperatura. No caso do gás ideal esta função é simples e igual a: V TRnp = . Esta equação foi estabelecida através das leis empíricas dos gases. A primeira das leis empíricas foi estabelecida por Robert Boyle, em 1661. Esta, apesar da falta de precisão experimental, mostrou que a pressão e o volume de uma quantidade fixa de gás, a temperatura constante, é dada por pV = constante. Para todo sistema gasoso, ideal ou real, a pressão e o volume são inversamente proporcionais, p V 1α . Figura 3 – Relação entre pressão e volume. PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 5 Cada curva de p contra V numa dada temperatura é chamada de isoterma, ou seja, em outras temperaturas obtemos isotermas diferentes. Figura 4 – Representação de diferentes isotermas. A lei de Boyle é utilizada para prever a pressão de um gás quando seu volume é variado e vice-versa, '' aaaa VpVp = . Segue abaixo o esboço genérico de um gráfico p versus V, a temperatura constante (T1), para determinada quantidade de gás (n), que corresponde a todos os pontos representativos dos estados que podem estar em equilíbrio térmico com o sistema B. PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 6 Figura 5 – Representação esquemática da relação p versus V em uma dada temperatura. Podemos então definir temperatura da seguinte maneira: para que A esteja em equilíbrio térmico com B, os estados de A devem ter o mesmo valor da variável que denominamos temperatura. Temos então que se dois sistemas estão em equilíbrio térmico com um terceiro sistema, eles devem também estar em equilíbrio térmico entre si. Essa afirmação é geralmente conhecida como Lei Zero da Termodinâmica” A segunda lei dos gases foi estabelecida por Charles e Gay-Lussac. Eles mostraram que o volume de uma quantidade fixa de gás é proporcional a temperatura, TconstV .= , quando a pressão é mantida constante. Numa outra versão da lei, tem-se Tconstp .= , a volume constante. Essa lei permite-nos relacionar os valores de volume-temperatura e pressão-temperatura de um gás nos estados 1 e 2. PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 7 2 2 1 1 T V T V = (para n e p constantes) 2 2 1 1 T p T p = (para n e V constantes) A seguir será mostrado o esboço do gráfico TversusV de uma dada quantidade de gás em razão da temperatura, T, para diferentes pressões (A). Bem como o gráfico Tversusp para diferentes volumes (B). Figura 6 – Representação esquemática da relação p versus T. Do gráfico tiramos a seguinte informação, quando são extrapoladas todas as curvas convergem para um ponto correspondente a volume zero e temperatura – 273,15 °C. Acontece que das observações do cotidiano temos que todos os gases reais acabam por se condensar, se resfriados a baixas temperaturas. O que quer dizer que na prática haverá uma temperatura em que não haverá mais o estado gasoso. PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 8 A temperatura T = – 273,15 °C, conhecida como zero absoluto, é a mais baixa que se pode atingir. Originando uma escala de temperatura absoluta conhecida como escala de temperatura Kelvin, com o zero absoluto como ponto inicial. A escala de temperatura absoluta é a única escala adequada para as temperaturas termodinâmicas. A última lei é o princípio de Avogadro, que diz que volumes iguais de gases nas mesmas condições de temperatura e pressão possuem o mesmo número de moléculas, nconstV .= , a T e p constantes. Assim, as leis de Boyle-Mariotte, Charles, Gay-Lussac e Avogadro podem ser expressas pela equação de estado de Clapeyron, que reúne esses resultados e leva à equação dos gases ideais, TRnVp = , em que a constante de proporcionalidade R é a constante dos gases. A equação dos gases ideais é aquela para a qual tendem as equações de gases reais quando a pressão tendea zero. A equação do gás ideal é um exemplo de uma equação de estado que fornece as relações matemáticas entre as propriedades que definem o estado do sistema como p, T e V. A equação do gás ideal é válida somente para gases que têm as seguintes propriedades: (1) as moléculas do gás têm volumes desprezíveis, (2) não existem interações atrativas ou repulsivas. Em outras palavras, gases ideais não existem. Apesar disso a equação dos gases ideais é bastante útil para muitos gases em temperaturas altas e pressões moderadamente baixas. PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 9 Quando se trata de uma mistura gasosa há a questão de se determinar a contribuição de cada componente da mistura na pressão total do sistema. Esta é expressa pela lei de Dalton que diz que a pressão total, totalp , é igual à soma das pressões parciais dos constituintes da mistura. Onde a pressão parcial é igual àquela que o componente exerceria se ocupasse sozinho todo o volume da mistura (gases ideais). ∑=+++= i itotal ppppp ...321 (lei de Dalton das pressões parciais) A pressão parcial pode ser definida mais genericamente como o produto da pressão total pela fração molar do componente i, pxp ii = . A soma de todas as frações molares na mistura deve ser igual a um, ou seja, 1=∑i ix . Esta definição da pressão parcial tem a vantagem de servir tanto para gases reais, quanto para os ideais. GASES REAIS Os gases reais não obedecem exatamente à lei dos gases ideais. Em relação ao comportamento ideal, eles exibem desvios devidos às interações interatômicas e/ ou intermoleculares. Os desvios são particularmente marcantes a altas pressões e baixas temperaturas. PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 10 Uma forma de indicar o desvio em relação à idealidade é definir o fator de compressibilidade, Z , como a razão entre o volume molar do gás e o volume molar ideal nas mesmas condições de temperatura e pressão, 0V VZ = . Como p RTV =0 , chegaremos a expressão RT VpZ = . Quanto mais afastado de 1 estiver Z , menos o gás se comporta de modo ideal. O gráfico do fator de compressibilidade, Z , contra a pressão, p , pode ser usado para visualizarmos o desvio em relação à idealidade. Figura 7 – Variação do fator de compressibilidade Z, em função da pressão p. Observamos pelo gráfico que quando p tende a zero, Z tende a 1, para todos os gases, indicando comportamento ideal. PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 11 Para valores intermediários de pressão o fator de compressibilidade pode ser menor ou maior que um. Quando o volume molar real é menor que o ideal ( 0VV < ), Z é menor que um, o que significa que estão predominando as forças atrativas. Quando 1>Z , 0VV > , o que nos indica a predominância de forças repulsivas. Isso acontece porque ao aumentarmos a pressão, diminuímos a distância média entre as moléculas. Assim, quando as moléculas estão muito afastadas não há interação entre elas. Nas distâncias intermediárias predominam as forças atrativas e, finalmente, a distâncias curtas predominam as forças repulsivas. Figura 8 – Efeito da distância entre as moléculas. PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 12 Uma forma comum para uma equação de estado é chamada de equação do Virial, que nada mais é que uma série de potências em termos de uma das variáveis de estado p ou V . Equações do Virial são uma maneira de ajustar o comportamento de um gás real a uma equação matemática. Em termos de volume molar, os desvios da idealidade sugerem que a equação dos gases reais seja uma expressão da forma: ++++= L321 V D V C V BRTVp . Nela o termo entre parênteses pode ser identificado como o fator de compressibilidade, Z . Ou seja: L++++= 321 V D V C V BZ Onde B, C, D são chamados de coeficientes viriais e são dependentes da natureza do gás e da temperatura. A correção relevante é devida ao segundo coeficiente de virial, termo B, que vem a ser a medida mais importante da não idealidade de um gás real. Equações de estado do Virial em termos de pressão, em vez de volume molar, são frequentemente escritas, não em termos de compressibilidade, mas em termos da própria lei dos gases ideais: ...3'2'' ++++= pDpCpBRTVp Onde os coeficientes Viriais 'B , 'C , 'D , etc. não têm os mesmos valores que os PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 13 coeficientes Viriais B , C , D etc. Contudo, no limite de pressões baixas, pode- se mostrar que BB =' . Se utilizarmos a equação ...3'2'' ++++= pDpCpBRTVp para reescrever o fator de compressibilidade Z obtemos: ...1 3'2'' ++++== RT pD RT pC RT pB RT VpZ Uma vez que o segundo coeficiente virial é o maior termo não ideal em uma equação virial temos: ' 0 B dp dZ p = → ; para o gás real ' 0 0= →pdp dZ ; para o gás ideal, pois 1=Z para qualquer que seja a pressão. Como 'B não é necessariamente igual a zero, as propriedades que dependem da derivada não tenderão necessariamente ao comportamento ideal. Pode haver, no entanto, uma temperatura em que ' 0 0= →pdp dZ PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 14 Esta temperatura é chamada temperatura de Boyle, nela o gás tem comportamento ideal numa faixa de pressão maior do que qualquer outra. A existência da temperatura de Boyle nos permite usar gases ideais para estudar as propriedades dos gases reais. Uma outra equação para os gases reais foi proposta por Van der Waals. O raciocínio para chegar a ela é o que se segue: As interações repulsivas são levadas em conta considerando-se que cada molécula do gás é uma esfera pequena, rígida e impenetrável. Então o volume disponível para cada molécula é menor do que o volume ocupado pelo gás, nbV − , onde nb é o volume ocupado pelas próprias moléculas, então devemos substituir V nRTp = por nbV nRTp − = . Além disso, devemos considerar que a pressão do gás depende da frequência das colisões das moléculas com as paredes do recipiente, bem como da força destas colisões. As forças atrativas, existentes em sistemas reais, atuam proporcionalmente ao quadrado da concentração, 2 V n , reduzindo tanto a frequência quanto à força das colisões das moléculas com as paredes do recipiente. Como PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 15consequência, a pressão será reduzida de 2 V n a , daí a equação de Van der Waals ser: 2 − − = V n a nbV nRTp ou 2 V a bV RTp − − = . Diferente de uma equação do Virial, que expressa o comportamento dos gases reais em uma equação matemática, a equação de Van Der Walls é um modelo matemático que tenta predizer o comportamento de um gás em termos de fenômenos físicos reais, isto é, a interação entre moléculas do gás e os tamanhos físicos dos átomos. As diferentes equações de estado nem sempre são usadas independentemente umas das outras. Podemos deduzir algumas relações úteis comparando a equação de Van Der Waals com a equação do Virial. Assim, substituindo a pressão dada pela equação de Van Der Waals, 2 V a bV RTp − − = , em Z temos: − − == 2 V a bV RT RT V RT VpZ Ou seja: VRT a V bZ − − = 1 1 Em pressões muito baixas o volume do sistema gasoso será grande. Isso significa que a fração V b serámuito pequena e, assim, usando uma PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 16 aproximação por séries de Taylor ( ) ( ) ...111 1 21 +++≈−= − − xxx x para 1<<x , podemos substituir V b −1 1 por ...1 ++ V b Logo: ...1 +−+= VRT a V bZ Ou: ... 11 + −+= VRT abZ Comparando com equação do Virial L++++= 321 V D V C V BZ obtemos o segundo coeficiente virial em termos das constantes a e b de Van Der Waals: −= RT abB Além disso, já que na temperatura de Boyle o segundo coeficiente Virial é zero, temos: BRT ab −=0 . Logo: bR aTB = Essa expressão mostra que todos os gases cujo comportamento pode ser descritos usando a equação de estado de Van Der Waals - e a maioria dos gases podem, pelo menos em certas regiões de pressão e temperatura - têm PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 17 uma TB finita e devem se comportar como um gás ideal nessa temperatura, se os termos superiores da equação do Virial forem desprezados. Finalmente é importante discutir o processo de condensação de um gás. No diagrama pressão versus volume para um gás real temos um comportamento como o visto a seguir. Figura 9 – Comportamento experimental das isotermas. Isotermas como A, a altas temperaturas, apresentam comportamento parecido com aquele previsto para os gases ideais. PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 18 Em isotermas como a B, para volumes menores que VB(N) e maiores que VB(M), temos uma boa descrição qualitativa do comportamento descrito pela equação de Van der Waals. Entretanto, no ponto M, ponto de orvalho, o gás começa a se condensar. Nessas condições, surge então na fase gasosa a primeira gota do líquido. Embora haja redução do volume de M até o ponto N, ponto de bolha, a pressão deixa de subir neste intervalo (M-N), tornando-se constante até atingir o ponto N. Essa pressão pB, constante entre os pontos N e M, é denominada pressão de vapor saturante em TB. A volumes menores que VB(N), todo gás passou a líquido e qualquer redução de volume só se dará as custas de uma enorme variação da pressão. Na isoterma C, não há formação de menisco separador de fases, os pontos referentes a NC e MC na isoterma C convergem para o ponto PC (VC, pC). A partir desta temperatura TC, denominada temperatura crítica, não é mais possível condensar um gás por simples compressão, isto é, a condensação do gás só pode ser feita a temperaturas inferiores à crítica. É importante lembrar que cada gás tem um ponto crítico definido, determinado somente pela natureza da substância, isto é, cada gás tem seus próprios valores críticos. O ponto P é chamado de ponto crítico (PC) e suas coordenadas correspondentes, são as coordenadas críticas pC (pressão crítica), VC (volume crítico) e TC (temperatura crítica). PRISCILA TAMIASSO MARTINHON 19 Além disso, cada temperatura Ti abaixo da crítica (Ti<TC) apresentará uma pressão de saturação associada a essa temperatura Ti. O que vamos visualizar experimentalmente a esta pressão é a presença dos dois estados, líquido e gasoso. A substância líquida estará no fundo do recipiente enquanto o gás na fase superior. Definiremos as coordenadas reduzidas por: C r p pp = ; C r V VV = e C r T TT = O princípio dos estados correspondentes afirma que gases diferentes que tenham os mesmos rV e rT , terão também o mesmo rp .
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