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HIDRÁULICA Escoamento Crítico e Energia Específica Prof. Roni Cleber Boni UNIVERSIDADE CEUMA CURSO DE ENGENHARIA CIVIL Observações sobre Projetos de Canais (com escoamento permanente e uniforme) O projeto de canais pode apresentar condições complexas que exigem a sensibilidade do projetista e o apoio em dados experimentais. O projeto de obras de grande importância deve contar com a colaboração de um especialista. Sabendo-se que os canais uniformes e o escoamento uniforme não existem na prática, as soluções são sempre aproximadas. Para os canais de grande declividade, recomenda-se a verificação das condições de escoamento crítico. Em canais ou canaletas de pequena extensão, não se justifica a aplicação de fórmulas práticas para a determinação da profundidade ou da vazão, sendo usual o cálculo das perdas de carga e o estabelecimento de um “perfil hidráulico” pela superfície da água em escoamento. Energia Específica Muitos fenômenos que ocorrem em canais podem ser analisados utilizando-se o princípio da energia. A energia total por unidade de peso, em uma certa seção de um canal onde a distribuição de pressão é hidrostática e pode ser calculada pela seguinte fórmula: H = Z + y + V² 2g Energia específica é a energia (carga) disponível em uma seção, tomando como plano de referência, um plano horizontal passando pelo fundo do canal, naquela seção. Ou seja, a energia específica é a distância vertical entre o fundo do canal e a linha de energia, o que corresponde a fazer z=0. : Coef. de Coriolis Energia Específica Então, a energia específica (E) para uma determinada seção de um canal, em escoamento retilíneo, é dada por: E = y + V² 2g Pode-se dizer que, a energia específica em uma seção do canal é a soma da altura d’água com a carga cinética. E = y + Q² 2g A² Assim, para uma dada seção do canal e para uma dada vazão, a energia específica (E) é função só da geometria e em particular da altura d’água (y). Energia Específica Curvas y x E para q = cte e y x q para E = cte Com a finalidade de tornar mais acessível a compreensão do conceito de energia específica (E), é conveniente iniciar o estudo pelo escoamento em um canal retangular e supondo que o coeficiente de Coriolis () seja considerado igual a 1. A hipótese do canal ser retangular permite o uso da aproximação bidimensional e a possiblidade da utilização da vazão unitária ou vazão específica (q), definida como a relação entre a vazão Q e a largura do canal b. q = 𝑸 𝒃 = v . y E = y + q² 2g y² Energia Específica Curvas y x E para q = cte e y x q para E = cte Considerando que E varia com y, para um dado valor constante de vazão unitária q, pode-se construir um gráfico no plano E - y Considerando y uma reta a 45° Para cada nível de energia (E) prefixado, existem duas possibilidades de veicular uma vazão unitária ou específica (q) no canal retangular. E = y + q² 2g y² Energia Específica Os escoamentos têm características diferentes, sendo: y1: escoamento rápido torrencial ou supercrítico y2: escoamento lento, fluvial ou subcrítico y1 e y2: são chamadas profundidades alternadas ou correspondentes Energia Específica Curvas y x E para q = cte e y x q para E = cte Considerando que a vazão unitária q varia com a altura d’água y para uma dada energia específica constante, E = Eo Se y tende a zero e q (vazão unitária) tende para zero, não há água; Se y tende para Eo e q tende para zero (há água em condição estática). Então deve haver um valor máximo de q para algum valor de y entre 0 e Eo. Esse valor corresponde a yc (altura ou profundidade crítica). q = 2g y Eo - y Energia Específica Análise das Curvas Estes pontos são correspondentes, já que ambos os gráficos são a representação da mesma equação. A profundidade associada a estes pontos é denominada profundidade crítica yc, a qual corresponde à fronteira entre os dois ramos da curva, e é um dos parâmetros utilizados para a identificação do tipo de escoamento no canal. Existe um ponto em comum que se destaca em ambos os gráficos, referente à energia mínima (Emin) ou o seu correspondente referente à vazão máxima (qmáx). C o n c lu s ã o Se y > yc → v < vc : escoamento subcrítico (fluvial) Se y < yc → v > vc : escoamento supercrítico (torrencial) Se y = yc → v = vc : escoamento crítico Uma diminuição no nível de energia específica (E) disponível provoca um abaixamento na linha d’água (y), no escoamento fluvial e uma elevação no escoamento torrencial. Energia Específica Escoamento crítico: É definido como o estágio em que a energia específica (E) é mínima para uma dada vazão ou o estágio em que a vazão é máxima para uma dada energia específica. Equações do regime crítico E = y + q² 2g y² Em um canal retangular a profundidade crítica depende somente da vazão por unidade de largura. Energia Específica Equações do regime crítico ic = g n² yc 1/3 Declividade crítica (ic) para canal retangular Rh = y Este parâmetro também pode ser usado como indicador do tipo do escoamento que está se processando, pela comparação com a declividade de fundo io do canal. Então: Se i0 < ic, o escoamento uniforme é subcrítico, o canal é de fraca declividade; Se i0 > ic, o escoamento uniforme é supercrítico, o canal é de forte declividade; Energia Específica Velocidade crítica e Celeridade: Em escoamentos livres, outro parâmetro importante para caracterizar o comportamento da corrente é a celeridade de uma onda gravitacional de pequena altura ou amplitude. A celeridade é definida como a velocidade da onda (perturbação) que se propaga em um canal em relação ao meio. Ou seja, medida em relação à corrente e não às margens. C = gy vc= gyc y = c² g Energia Específica Velocidade crítica e Celeridade: Provocando-se uma pequena perturbação num escoamento em um canal, as ondas se propagam da seguinte forma: Exemplo do lançamento de uma pedra em uma superfície líquida Energia Específica Velocidade crítica e Celeridade Fr = número de Froude O número de Froude (Fr) é utilizado para classificar os escoamentos livres v < C v > C v = C Energia Específica Fr = número de Froude Profundidade média (Hm) Hm = A/B O número de Froude é utilizado para classificar os escoamentos livres Para canais de qualquer seção Energia Específica Para canais de qualquer seção Equação característica do regime crítico para qualquer canal: Q² = A³ g B Energia Específica Para canais de qualquer seção Energia Específica Para canais de qualquer seção Energia Específica Transição em Canais É importante em hidráulica dos canais o conhecimento das seções nas quais alguma característica determina uma relação entre altura d’água (y) e vazão (Q(. Muitas vezes, o canal precisará passar sob uma estrada ou será suspenso em algum trecho, outras vezes, o mesmo sofrerá redução ou alargamento de sua seção. Para estas situações, são necessárias estruturas hidráulicas, a fim de causar o mínimo de perda de carga e não modificar as condições de escoamento à sua montante (evitar transbordamentos e represamentos). Essas seções são chamadas seções de controle, porque controlam as profundidades do escoamento em trechos do canal a sua montante ou a sua jusante, dependendo do tipo de escoamento que está ocorrendo. Energia Específica Aplicação da Energia Específica em Transições de Canais Os conceitos de energia específica e escoamento crítico são utilizados para analisar o comportamento da linha d’água, devido à presença de uma transição curta como redução da largura, elevaçãodo nível de fundo ou combinação dos dois efeitos. O efeito da transição pode alterar o escoamento de várias maneiras, alterando até o regime de subcrítico para supercrítico ou o contrário. Lembrando que: Se y > yc → v < vc : escoamento subcrítico Se y < yc → v > vc : escoamento supercrítico Se y = yc → v = vc : escoamento crítico Uma diminuição no nível de energia específica disponível provoca um abaixamento na linha d’água, no escoamento fluvial e uma elevação no escoamento torrencial. Considerando um canal retangular com largura b1 na seção 1 e largura b2<b1 na seção 2 (ver figura abaixo), sem variação de cota de fundo (fundo horizontal) entre as seções. A vazão unitária q2 na seção 2 é maior que a vazão unitária q1 na seção 1. As curvas de energia específica se deslocam para a direita quando q aumenta. Transposição de Nível (eclusa) Energia Específica Redução na Largura do Canal q = 𝑸 𝒃 = v . y Energia Específica Considerando o escoamento na seção 1 fluvial, a altura d’água compatível com a energia disponível E1=cte vale y1 (ponto A). A altura d’água na seção 2 é menor que y1 e maior que yc e corresponde ao ponto B, pois E1=cte. Considerando o escoamento na seção 1 torrencial, a altura d’água compatível com a energia disponível E1=cte vale y1 * (ponto A*). A altura d’água na seção 2 é maior que y1 * e menor que yc e corresponde ao ponto B *. Portanto, a altura d’água decresce se o escoamento a montante for fluvial e cresce se for torrencial, sem haver, em cada caso mudança de regime. Redução na Largura do Canal Energia Específica Calhas Medidoras de Vazão Se o escoamento é fluvial em toda a calha do canal, se diz que ela está operando afogada e muitas vezes esta situação é inevitável, por condicionamento de jusante ou vazão alta. Esta condição de funcionamento necessita, para cálculo da vazão, de duas medidas de alturas d’água y1 e y2, de valores próximos e com o inconveniente que a superfície d’água na garganta tende a ser instável. Para que a calha se constitua em uma estrutura de medição conveniente e mais eficaz, é necessário estabelecer uma seção de controle, isto é uma relação direta entre a vazão e uma única altura d’água. A relação entre a vazão veiculada e a altura d’água no regime fluvial y1, que se pode medir com boa precisão, é determinada pela aplicação da equação de energia. Se a redução de largura em um canal retangular produzir uma seção na qual o escoamento é crítico (seção controle), desde que a largura contraída seja menor ou igual a largura limite, pode-se implantar nesses canais medidores de vazão chamados medidores de regime crítico. Entre estes medidores destacam a calha Parshall e o medidorVenturi. Energia Específica Calhas Medidoras de Vazão Energia Específica Calhas Medidoras de Vazão Tais estruturas de medição têm uma entrada suavemente afunilada, uma seção contraída (garganta) de paredes paralelas, um trecho divergente e em geral fundo plano. A contração lateral produz uma variação de velocidade e da profundidade ao longo da calha que podem ser relacionadas para a determinação da vazão. Estas estruturas são robustas e permitem a passagem da vazão de modo fácil, dificultando a sedimentação dos materiais flutuantes ou em suspensão, exigindo proteção contra erosão. Energia Específica Calhas Medidoras de Vazão Nesta condição, a vazão (Q) pode ser determinada pela aplicação da equação da energia específica entre as seções 1 a montante e a seção 2 na garganta, na forma de: Energia Específica Calhas Medidoras de Vazão Q: vazão b: largura do canal y: altura da lâmina de água Energia Específica Elevação no Nível de Fundo A equação de conservação de energia entre duas seções de um canal retangular de largura constante, com vazão unitária (q) constante, no qual em uma determinada seção, há uma elevação no fundo de altura Z, desprezando-se as perdas de carga, pode ser descrita como: E1 = E2 + Z A energia específica (E) é sempre medida na seção em relação ao fundo do canal. Como no caso da transição devido a redução na largura, deve-se analisar duas condições iniciais na seção de montante: Energia Específica Elevação no Nível de Fundo Considerando o escoamento na seção 1 fluvial, a altura d’água y2 na seção 2 é menor que y1 e maior que yc e corresponde ao ponto B, pois E2 = E1 - Z. Considerando o escoamento na seção 1 torrencial, na altura d’água compatível com a energia disponível E1 vale y1* (ponto A*). A altura d’água na seção 2 é maior que y1* e menor que yc e corresponde ao ponto B*. Portanto, a altura d’água decresce se o escoamento for fluvial e cresce se for torrencial, sem haver, em cada caso, mudança de regime. Energia Específica Vertedor Retangular de Parede Espessa Do mesmo modo que a redução na largura de um canal retangular pode ser usada como um medidor de vazão tipo calha Venturi, uma elevação do fundo em trecho curto pode ser utilizada com a mesma finalidade. A figura mostra um medidor de vazão denominado vertedor retangular de parede espessa, que consiste basicamente em uma elevação do fundo do canal, suficientemente grande para que as condições de escoamento a montante sejam alteradas com a elevação do nível d’água (Z >Zc). Esse degrau produz o escoamento crítico e permite, pela equação da energia, determinar a vazão. h é chamada de carga sobre a soleira Energia Específica Aplicando a equação de energia entre a seção 1, na qual a distribuição de pressão é hidrostática e a seção 2 de um canal retangular de largura b, para um referencial passando em cima da soleira do vertedor e desprezando a carga cinética de aproximação, tem-se: Vertedor Retangular de Parede Espessa Nesta equação h é chamada de carga sobre soleira, as perdas de carga foram desprezadas e a vazão é dita vazão teórica. Q: vazão teórica b: largura do canal h: carga Energia Específica Determinação das Alturas Alternadas em Canais Retangulares Exercício 1) Em um canal retangular de 3,0 m de largura, com declividade de fundo Io = 0,0005 m/m, e coeficiente de rugosidade n=0,024, escoa, em regime uniforme, uma vazão de 3,0 m³/s. Determine a energia específica (E) e o tipo de escoamento, fluvial ou torrencial, e para a vazão dada, a altura crítica (yc), a energia específica crítica (Ec) e a velocidade crítica (Vc). Resposta: E = 1,38 m Tipo de escoamento: fluvial ou subcrítico yc = 0,47 m Ec = 0,7 m Vc = 2,15 m/s Exercício 2) Um canal retangular com 3,0 m de largura, com rugosidade n= 0,014 e com declividade de fundo Io = 0,0008 m/m transporta em regime permanente e uniforme uma vazão de 6,0 m³/s. Determine a energia específica (E) e o tipo de escoamento. Calcule também a altura crítica (yc), a energia específica crítica (Ec) e a velocidade crítica (Vc). Resposta: E = 1,4 m Tipo de escoamento: fluvial ou subcrítico yc = 0,74 m Ec = 1,11 m Vc = 2,7 m/s 3) Um canal retangular transporta 6,0 m³/s. Determine a profundidade crítica e a velocidade crítica para: a) Largura de 3,0 m b) Largura de 2,0 m c) Que declividade deverá produzir a velocidade crítica da letra “a”, se o coeficiente de rugosidade (n) for igual a 0,020. Exercício Resposta: Item a) yc = 0,741 m vc = 2,7 m/s Item b) yc = 3,0 m vc = 3,08 m/s Item c) i = 0,0073 m/m 4) A vazão de um canal retangular (n=0,012) e com 4,59 m de largura e declividade de fundo i = 0,01 m/m é de 11,2 m³/s. Qual o regime de escoamento no canal? Calcular a velocidade de escoamento, a velocidade crítica e o número de Froude. Exercício Resposta: E = 1,68 m Fr = 2,14, logo o regime de escoamento é torrencial ou supercritico yc = 0,85 m Ec = 1,275 m Vc= 4,79 m/s 5) Em um canal retangular de 5 m de largura escoa em regime permanente e uniforme uma vazão de 16 m³/s, com uma declividade de fundo Io = 1m/km e coeficiente de rugosidade n = 0,021. Em uma determinada seção, um degrau de 0,2m de altura é construído no fundo do canal e nesta mesma seção a largura é reduzida para 4 m. Determine: a) Altura d’água no escoamento uniforme à montante da transição (yo) b) Energia disponível antes da transição (E1) c) Altura crítica antes da transição (yc1) e o tipo de escoamento d) Energia especifica mínima para veicular a vazão (Emin2) e) Altura de água na transição (y2) f) Verificar a condição limite para não alterar as condições a montante Exercício Informações necessários para o Exercício 5
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