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Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 1 QUÍMICA II AULA 9 Termodinâmica e o Equilíbrio Processamento de Combustíveis: Mudanças de Fase METAS: Apresentar as maneiras de processamento de combustíveis. Mostrar as lei naturais que guiam as mudanças de fase e o equilíbrio químico. OBJETIVOS: Espera-se que ao final dessa aula você seja capaz de: • Diferenciar o equilíbrio químico e o equilíbrio de fases; • diferenciar cinética e termodinâmica; • Reconhecer os parâmetros importantes em uma transição de fase Na última aula falamos sobre processos espontâneos, entropia, funções de Gibbs de Helmoltz. Esses são conceitos amplamente utilizados em ciência. Entretanto, vamos abordar alguns aspectos destas funções, aplicadas na produção de combustíveis. Um dos conceitos é o de equilíbrio. Vamos analisar uma experiência, que você pode tentar fazer em casa. Se você pegar uma batata cozida e quente PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 2 da água fervente, provavelmente ela estará a 100 ºC. Se deixarmos essa batata em cima de uma mesa, dentro de uma caixa de isopor, você vai ver que ela vai esfriando e o ar dentro da caixa esquentando. Se fizermos um gráfico da temperatura da batata em função do tempo, veremos um comportamento similar ao mostrado abaixo. Tinicial t=0 Tfinal tempo Temperatura A batata esfria até que chega a uma temperatura em que ela não esfria mais. Podemos dizer que este sistema está em equilibrio. Neste caso dizemos que o sistema (batata) está em equilíbrio térmico com o ambiente. Estar em equilíbrio significa que uma determinada propriedade não varia mais com o tempo. O sistema fica com essa determinada propriedade com um valor constante. Isso pode acontecer com a temperatura, ou mesmo com substâncias. Imagine que a molécula A transforma-se em na molécula B, que por sua vez pode se transformar em A de volta, tudo isso dentro de um recipiente fechado. Se medirmos quantas moléculas de A e de B temos em função do tempo (NA e NB), podemos construir um gráfico como o mostrado abaixo. PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 3 NA(t=0) t=0 tempo Número de moléculas (N) NP(t=0) NP(tequilíbrio) t=tequilíbrio NA(tequilíbrio) A P A partir de um determinado momento (tequilíbrio), as quantidades de A e de P atingem um determinado valor, que permanece constante, independente de quanto tempo esperarmos. Esse tempo pode ser maior ou menor. Dizemos que quando o sistema, composto por A e P, está em equilíbrio quando atinge esse estágio. A rapidez com que esse estágio é atingido não é conhecido, sabendo-se das quantidades iniciais e finais dos reagentes e produtos. Isso é feito medindo-se a taxa de reação, ou seja, quanto de A é consumido em um determinado tempo ou quanto de P é formado em um determinado tempo. Esse é domínio da química do estudo das taxas de reação é chamada de cinética química. Considerando que o recipiente é fechado, podemos medir essas quantidades como concentrações, visto que [A] = NA/V e [P] = NP/V, onde V é o volume do recipiente que contém A e P. Se o tempo for infinitesimal (dt), podemos calcular as taxas através de suas derivadas. PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 4 t=0 tempo Taxa de reação t=tequilíbrio A dt Pd dt Ad ][][ =− dt Pd ][ dt Ad ][ − É intessante notar que no equilíbrio, as taxas de consumo de A ( ) e de formação de P ( ) se igualam após o sistema atingir o equilíbrio. Essa é uma das características do equilíbrio químico. Essa é a chamada lei de ação das massas. Mas antes de continuarmos a discutir o equilíbrio químico, vamos analisar taxa de reação mais profundamente. Para uma reação química ocorrer é usualmente necessário que colisões ocorram. Assim, a taxa de transformação de determinados produtos em outros dependem da energia dessa colisão e da probabilidade dela acontecer. Isto se expressa pela dependência da reação Assim, PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 5 Como no equilíbrio as taxas são iguais, podemos escrever para o caso do equilíbrio entre A e P A � P taxa da reação de ida = k1[A] P � A taxa da reversão da reação = k-1[P] No equilíbrio taxa de ida = taxa de volta Logo, k1[A] = k-1[P] A relação é constante (Keq), visto que k1 e k-1 são constantes para uma dada temperatura constante. A esta razão constantes dá-se o nome de constante de equilíbrio, que também será constante a uma temperatura constante. Ela é uma quantidade usualmente facilmente obtida experimentalmente, pois basta medirmos as concentrações das espécies envolvidas no equilíbrio químico em uma determinada temperatura T, o que permite diretamente o cálculo da constante de equilíbrio, Keq(T), visto que esta é uma razão dessas concentrações. A constante de equilíbrio é central em uma série de aspectos da química. Em uma reação química, quando os reagentes são misturados e aquecidos, se necessário, nem todo reagente converte-se em produtos. Após algum tempo, que pode durar frações de segundo ou milhões de anos, atinge-se um ponto na qual uma quantidade fixa de reagentes coexiste com uma quantidade fixa de produtos, com nenhum dos dois variando em quantidade. Este é o estado chamado de equilíbrio químico. PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 6 O conceito de equilíbrio químico foi proposto por Berthollet em 1803, após ter descoberto que algumas reações químicas são reversíveis. Um equilíbrio químico envolvendo as espécies A e B (reagentes) e C e D (produtos), por exemplo, é representada com duas setas indicando sentidos inversos. Os coeficientes a, b, c e d são os coeficientes estequiométricos. Isto indica que, no equilíbrio, a taxa da reação A + B � C + D é a mesma que na direção contrária, ou seja, C + D � A + B. A posição do equilíbrio refere-se à proporção relativa de A e B em relação a C e D. Por exemplo, se no equilíbrio há maior quantidade de produtos (C e D) do que reagentes (A e B), a posição do equilíbrio é dita estar deslocada no sentido dos produtos e vice-versa. É válido ressaltar que a lei de ação das massas é válida somente para reações concertadas de uma única etapa, passando por um único estado de transição – que é a estrutura no curso de reação de maior energia entre os reagentes e os produtos –, ou de forma abreviada, uma reação elementar. Um aspecto interessante é que a constante de equilíbrio para uma reação é sempre a mesma, a uma dada temperatura. A adição de um catalisador afetará as taxas de reação no sentido do produto e sua reação reversa, fazendo com que o equilíbrio seja atingido mais rapidamente, mas não influenciará na posição do equilíbrio, ou seja, na quantidade relativa de reagentes e produtos. Apesar das concentrações no equilíbrio sejam constantes no nível macroscópico, no nível microscópico as reações estão ocorrendo o tempo PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 7todo. Vejamos o caso da dissociação de um ácido, como o ácido acético, em água. CH3CO2H + H2O ⇌ CH3CO2 − + H3O + Neste equilíbrio um próton pula de uma molécula de ácido acético (CH3CO2H) para uma molécula de água (H2O), formando um íon acetato (CH3CO2 −) e um íon hidrônio (H3O +). Os dois últimos são considerados os produtos da reação de dissociação. Esta reação é reversível, e apesar das concentrações de reagentes e produtos permanecer constante após os sistema atingir o equilíbrio, as reações acontecem a toda hora. Este é o exemplo de um equilíbrio dinâmico. O equilíbrio químico, assim como todo o resto da termodinâmica, são fenômenos estatísticos, que resultam como comportamento microscópico médio das espécies moleculares individualmente, algo similar a uma “democracia molecular”. Esta é a base da chamada termodinâmica estatística. Outro aspecto interessante sobre as razões entre reagentes e produtos serem constantes é que podemos perturbar o sistema pela inclusão de interferência externa. Por exemplo, se perturbarmos o equilíbrio dinâmico de uma reação, pela mudança de alguma de suas condições, a posição do equilíbrio (a proporção relativa entre reagentes e produtos) muda de modo a reagir contra tal mudança. Por exemplo, se perturbarmos o equilíbrio A + B ⇌ C + D pela adição de C, a partir de uma fonte externa, o sistema irá reagir a esta mudança pelo crescimento da taxa da reação reversa, de modo a consumir C que está em excesso e reestabelecer as proporções entre reagentes e produtos de modo que a relação Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 8 permaneca a mesma. Este é o chamado princípio de Le Chatelier, proposto independentemente por Henry Louis Le Chatelier e Karl Ferdinand Braun em 1883. =====================VERBETE================== Princípio de Le Chatelier Se um sistema químico no equilíbrio experimenta uma mudança na concentração, temperatura, volume ou pressão total, então o equilíbrio químico desloca-se no sentido de reagir à mudança imposta. ===================== FIM DO VERBETE =============== O princípio de Le Chatelier é frequentemente utilizado para manipular os as reações reversíveis, frequentemente de modo a aumentar o rendimento das reações no sentido de produtos desejáveis. Atividade 1 Preveja qual o efeito da adição de ácido mineral, por exemplo, HCl aquoso, ao equilíbrio CH3CO2H + H2O ⇌ CH3CO2 − + H3O + ============= FIM DA RESPOSTA COMENTADA========== Em 1873, J. W. Gibbs, pai da termodinâmica moderna, sugeriu que o equilíbrio químico é obtido quando a energia livre de Gibbs atinge um valor mínimo (assumindo que a reação ocorra sob pressão constante). Do cálculo diferencial sabemos que a derivada da energia livre de Gibbs com relação à coordenada de reação (neste caso o grau de reação que ocorreu, variando de zero, para quando há somente os reagentes e um máximo para quando temos somente moléculas do produto), é zero quando G é PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 9 mínimo, sendo esta situação um ponto estacionário (onde a propriedade está “estacionada”, ou seja, não varia). Esta variação é usualmente chamada de mudança de energia livre de Gibbs. Este critério é usualmente suficiente para definir um sistema em equilíbrio. Se uma mistura não está na sua posição de equilíbrio, a liberação da energia em excesso (energia libre de Gibbs, para pressão constante e de Helmholtz, para sistemas ocorrendo em um sistema com volume constante) é a força motivadora para que o sistema mude de composição até que a condição de equilíbrio seja atingida. A energia livre de Gibbs pode ser relacionada com a constante de equilíbrio de uma reação pela sequinte equação. onde R é a constante universal dos gases, que vale 8,314472 J.K-1mol-1 ou 1,987 x 10-3 kcal.K-1mol-1 e T é a temperatura do sistema, em Kelvins. EQUILÍBRIO E TERMODI-ÂMICA A relação entre a energia livre de Gibbs e a constante de equilíbrio pode ser encontrada considerando os potenciais químicos. Mencionamos acima que a condição termodinâmica para um equilíbrio é dada por ∆G = 0 (pressão constante) ∆A = 0 (volume constante) Vamos olhar o caso da pressão constante, que é o mais comumente utilizado em química. Se consideramos novamente o equilíbrio químico PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 10 De modo a que a condição termodinâmica para o equilíbrio seja satisfeita, a energia livre deve ser estacionária, significando que ela fica constante, ou seja, que sua derivada com relação à coordenada de reação (posição do equilíbrio) seja zero. Pode-se demonstrar que ∆G é, na verdade, igual à diferença entre os potenciais químicos (µ=∆G/n, onde n é o número de moles) de reagentes e dos produtos. Assim, a soma das energias livres dos reagentes deve ser igual à soma das energias livres dos produtos, ou seja a µΑ + b µΒ = c µC + d µD onde µ é a energia de Gibbs parcial molar, ou o potencial químico. O potencial químico do reagente A é uma função da concentração [A] deste reagente, no caso de uma solução ideal. µΑ = µΑ ο + RT ln[A] Substituindo essa expressões como essas na equação da energia livre: que, a pressão constante (dP=0), torna-se: Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 11 O que resulta em Pela substituição dos potenciais químicos para a espécie X, µX = µX ο + RT ln[X], temos ∆G = (c µC ο + d µD ο) – (a µA ο + b µB ο) + (c RT ln[C] + d RT ln[D]) – – (a RT ln[A] + b RT ln[B]) ou, reescrevendo, Como no equilíbrio DG = 0, temos portanto: Como Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 12 Substituindo temos que ou é a energia livre molar padrão para a reação e Keq é a constante de equilíbrio. Efeito da temperatura no equilíbrio químico O efeito da mudança de temperatura em um equilíbrio químico é dado pela equação de van’t Hoff. No caso de reações exotérmicas ( é negativo), Keq cresce com o aumento da temperatura, ao passo que reações endotérmicas, onde é positivo, Keq decresce com o aumento da temperatura. Uma formulação alternativa é EQUILÍBRIO E MUDA-ÇAS DE FASE PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 13 Vamos observar o que acontece quando aquecemos um sólido. Estamos fornecendo calor continuamente para o sistema, que absorve esse calor pelo aumento do movimento dos seus átomos (vibrações, rotações, translações). Chega um ponto em que o sólido transforma-se em líquido. Essa temperatura é chamada ponto de fusão. Um fato curioso ocorre enquanto há coexistência de sólido com líquido. Não importa quanto a gente aqueça o sistema, a temperatura dele permanece constante, enquanto houver coexistência entre as duas formas da substância, nesse caso a fase sólida com a fase líquida. Conforme continuamos a fornecer calor ao sistema misto sólido-líquido, chega um ponto em que passamos a ter somente líquido. A partir deste momento verificamos que a temperatura do líquido começa a aumentar conforme vamos dando mais calor. Seguimos isso até que o líquido entra em ebulição, ou seja, “ferve”. Neste ponto novamente acontece a coisa curiosa de que não importa quanto calortemos enquanto tivermos líquido e vapor coexistindo, a temperatura do líquido e do vapor serão constantes. A essa temperatura dá-se o nome de ponto de ebulição. Ao se evaporar a última gota do líquido, a temperatura do vapor, agora chamado de gás, começa então a aumentar. A figura a seguir mostra o gráfico entre calor absorvido pelo sistema e a temperatura deste processo, também chamada de curva de aquecimento. Figura 9.4: Curva de aquecimento. Tf é o ponto de fusão e Te é o ponto de ebulição. Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 14 === Box de Curiosidade === Gás e Vapor Vapor é o nome dado ao gás que está na presença do seu líquido. Uma substância é chamada de gás quando não está na presença do seu líquido. ======== FIM BOX CURIOSIDADE=========== Atividade Você pode até fazer uma experiência legal em casa. Você pode fazer um café com uma “panela de papel”. Pegue um pedaço de papel e dobre como mostrado, de modo a que fique parecido com uma caixa. Encha-o até a metade com água e o coloque sobre a boca do fogão (cuidado para não se queimar ao mexer com fogo). Observe que a água chega próximo aos 100 oC sem queimar o papel. Como você explica isso? Em um sólido há interações intermoleculares entre o seus componentes que fazem com que na média do tempo esses átomos fiquem em movimento apenas em torno de uma determinada posição no espaço. PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 15 Estrutura do cátion cumila. (crédito: Pierre Mothé Esteves) Figura 9.5: Estrutura do diamante com sua cela unitária. (crédito: Pierre Mothé Esteves) Ao aquecermos, esses átomos começam a vibrar e a se mexer cada vez mais até que há o deslocamento relativo das moléculas componentes do cristal, ou seja, há o aumento da energia cinética das moléculas componentes do sistema. Nas partes do gráfico em que a temperatura está subindo, o calor que é fornecido aumenta a energia cinética média das moléculas. Entretanto, o quê acontece nos pontos onde a temperatura média das moléculas não muda? Uma vez que a temperatura média é constante, isto significa que a energia cinética das moléculas do sistema também permanece constante. Considerando que a energia total é sempre constante, isto significa que nesse ponto o calor fornecido ao sistema deve estar aumentando a energia potencial das moléculas. Na verdade, ao Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 16 aquecermos o sistema, as moléculas começam a se distanciarem progressivamente uma das outras, diminuindo suas interações intermoleculares. Como as forças de atração tendem a manter as moléculas juntas, deve-se fornecer energia (sob a forma de energia cinética) para que as moléculas se “desgrudem” umas das outras. Se continuarmos aquecendo o gás até temperaturas elevadíssimas, as moléculas se despedaçarão formando uma “sopa” de íons, elétrons e átomos que não conseguem formar moléculas, em um estado físico da matéria chamado de plasma. É esse, por exemplo, o estado da matéria na superfície do sol, cuja temperatura é de 5.800°C. Outros estados da matéria menos conhecidos são os condensados de Bose-Einstein, obtidos em temperaturas próximas ao 0 K (-273 oC) previsto por Satyendra Bose e Albert Einstein em 1924 e somente verificado experimentalmente em 1995, e os condensados fermiônicos, verificados experimentalmente em 2003. Os condensados de Bose-Einstein e fermiônicos apresentam propriedades muito interessantes como superfluidez. Assim, temos pelo menos seis estados da matéria: sólido, líquido, gás, plasma, condensado de Bose-Einstein e condensado fermiônico. Uma curva de resfriamento é essencialmente o oposto de uma curva de aquecimento. Durante a condensação e o congelamento a temperatura permanece constante enquanto as energias potenciais das partículas diminuem à medida que elas se agrupam. TRA-SIÇÕES DE FASE E A TERMODI-ÂMICA A definição termodinâmica de mudança de fase ou transição de fase é a transformação de um sistema termodinâmico de uma fase em outra. Uma das características principais de uma transição de fase é a observação de uma mudança abrupta em algumas propriedades fisico- químicas do sistema, tal como a capacidade calorífica, mas mantendo a temperatura basicamente constante. Esse termo é bastante usado para PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 17 designar a transição entre os estados líquido, sólido e gasoso da matéria. A figura abaixo mostra como são chamados os vários processos de mudança de fase. Figura 9.6: Nome para as diferentes transições de fase A vaporização de um líquido, como a água presente no seu suor, ou do petróleo em uma coluna de destilação em uma refinaria, a fusão do gelo em copo de água gelada e refrescante, a conversão de grafite em diamantes, o desenrolar e separação de uma fita de DNA são exemplos de transições de fase, ou mudanças de fase sem mudança da composição química. Muitas transformações de fase são um evento comum no nosso dia a dia. Essas transições também ocorrem quando uma fase sólida transforma-se em outra, como no caso da conversão de grafite em diamante sob altíssimas pressões. A termodinâmica da mudança de fases nos prepara para o estudo das misturas. Por sua vez, o comportamento das misturas nos prepara para o estudo do equilíbrio químico. Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 18 A energia livre de uma substância é central para o conceito de transição das fases desta substância. É necessário conhecermos como seu valor depende da pressão e da temperatura. Mas antes disso, precisamos entender o conceito da energia livre molar, Gm = G/n, na discussão das transições de fase de uma substância pura. A energia livre de Gibbs molar, é uma propriedade intensiva, e depende da fase da substância. Por exemplo, a energia livre molar da água líquida é diferente da do vapor d’água na mesma temperatura e pressão. Você já deve estar suspeitando que isso tenha a ver com como as moléculas e seus movimentos de translação, rotação, vibração ocorrem em cada fase. Quando uma quantidade de moles n de uma substância muda de uma fase com Gm,1, por exemplo a líquida, para uma outra fase, digamos vapor, que tem energia libre Gm,2, a mudança na energia livre é dada por ∆G = nGm,2 - nGm,1 = n (Gm,2 - Gm,1) Sabemos que uma mudança espontânea em uma temperatura e pressão constantes é indicado quando o sinal de ∆G é negativo. A expressão acima indica portanto, que a transição da fase 1 para a fase 2 será espontânea se a energia livre molar da fase 2 for menor que a da fase 1, ou seja se Gm,2 < Gm,1. Assim, uma substância tem tendência a mudar de fase para formar a fase como menor Gm. Se a uma certa temperatura e pressão a fase sólida de uma substância tem um Gm menor que a sua fase líquida, então a fase sólida é termodinamicamente mais estável e o líquido terá tendência a congelar. Se seguirmos o raciocínio contrário, veremos que o sólido terá tendência a fundir, ou seja mudar para a fase líquida. Vamos ilustrar isso com um exemplo. Considere que a 1 atm, o gelo tenha menor energia livre molar de Gibbs que a água líquida quando a temperatura está abaixo de 0oC. Sob estas condições a água converte-se em gelo espontaneamente. Mas como Gm de uma substância pura varia se variarmos a pressão e a temperatura? A dependência coma pressão emum sistema Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 19 fechado pode ser obtido combinando-se a primeira e segunda leis da termodinâmica e a definição da energia libre de Gibbs (ver atividade 1): dG = -SdT + Vdp. Se mantivermos a temperatura constante (isto é, dT=0) e variamos um pouco a pressão, temos que a variação da energia livre varia com a pressão segundo dG = Vdp Após integração dá como resultado ou . A equação acima é bem geral e é aplicável a todas substâncias ditas isotrópicas (uma substância isotrópica é aquela que uma determinada propriedade medida tem o mesmo valor independente do eixo em que é medido). Ela pode ser aplicada a sólidos, líquidos e gases. Atividade XXX Demonstre que dG = -SdT + Vdp, considerando que G = H – TS pode sofrer um pequena variação dG = dH – TdS. Para isso lembre-se que H = U + pV e dU = dq + dw. Resposta comentada: Começamos com a definição da energia livre de Gibbs, G = H – TS, e mudamos a temperatura, a pressão e o volume podem ser variados de uma quantidade muito pequena (infinitesimal). Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 20 Como resultado, H agora muda para H + dH, T varia para T + dT, S torna-se S + dS e G varia G + dG. Após a mudança G + dG = H +dH – (T + dT)(S + dS) = = H + dH –TS –TdS +SdT +dTdS O G da esquerda cancela o termo H – TS à direita, e como dTdS é desprezível (imagine quão pequeno é o produto de duas variações infinitesimais), restando então dG = dH – TdS +SdT Devemos descobrir agora como H varia, ou seja, quem é dH. Da sua definição (aula XXX) H = U + dV. Utilizando o mesmo raciocínio que usamos anteriormente (U variando de U + dU, etc e negligenciando dpdV) chega-se que dH =dU +pdV + Vdp Lembrando da aula YYY que dU = dq + dw Se inicialmente considerarmos apenas mudanças reversíveis, podemos substituir dq por TdS (pois dS=dqrev/T) e dw por –pdV (pois dw – pexdV e pex = p para uma mudança reversível), levando a dU = TdS – pdV Substituindo dH e dU na expressão de dG, temos que dG = TdS - pdV +pdV +Vdp – TdS +SdT dG = –SdT + Vdp ================= FIM RESPOSTA COMENTADA========== Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 21 Sólidos e Líquidos Como nos sólidos e nos líquidos a distância média entre as moléculas é muito mais curta do que quando a mesma substância está na fase gás, isto significa que não há muito espaço livre entre as moléculas para que estas se acomodem quando o sólido ou o líquido é comprimido por uma força externa. Assim, dizemos que sua compressibilidade é muito pequena. Assim, podemos considerar seu volume molar praticamente constante, contanto que a pressão aplicada não seja muito grande. Assim, esse volume, aproximadamente constante, pode sair da integral, resultando em . No caso dos gases ideais, sabemos que o volume varia, visto que gases são bastante compressíveis. Entretanto, sabemos pela equação dos gases ideais (pV = nRT) como o volume varia com a pressão, dado por . Substituindo essa expressão na equação leva a Resolvendo a integral, lembrando-se que , tem-se que PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 22 . Se dividirmos toda a equação por n, teremos Ou seja, G/n é a energia livre molar em uma dada pressão. A energia livre molar, Gm=G/n, é uma quantidade tão importante para a ciência que as pessoas terminaram de dar um nome próprio para ela, chamado-a de potencial químico, que ganha novo símbolo, µ. Mas não se confunda com as mudanças de símbolos. Ela nada mais é que a energia livre por mol de uma dada substância. Então é comum encontrar nos livros a equação acima reescrita como O µo e o po referem-se a uma pressão padrão, que é de 1 atmosfera. A figura a seguir mostra como a energia livre molar de Gibbs (ou potencial químico) varia para um gás, um líquido e para um sólido. Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 23 Figura 9.7. Variação do potencial químico de um gás, de um líquido e de um sólido. Sabemos agora como a energia livre molar, ou o potencial químico variam quando variamos a pressão. Precisamos saber como ela varia com a temperatura. A Variação da Energia Livre com a Temperatura Para pequenas mudanças de temperatura e pressão, a mudança na energia molar de Gibbs é dada por dGm = Vmdp - SmdT. Para uma mudança de temperatura com a pressão permanecendo constante, de modo que dp= p2 – p1 = 0, temos que dG = -SmdT Como a entropia absoluta é sempre uma quantidade positiva, um aumento da temperatura (dT > 0) sempre levará a uma diminuição do potencial químico, Gm (dGm < 0). A equação anterior diz que em uma dada mudança na temperatura, a mudança de energliva livre molar de Gibbs é proporcional à entropia molar (Sm). A energia e matéria é mais dispersa na fase gás do que nas fases condensadas, de modo que a entropia molar da fase gás é maior do que as respectivas nas fases Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 24 condensadas. Assim, a energia molar de Gibbs cai mais abruptamente com a temperatura para um gás do que para as fases condensadas. Como a entropia molar de um líquido é maior do que a da sua respectiva fase sólida, a diminuição para este último é menor do que para o líquido. A figura a seguir ilustra estas características. Figura 9.8. Variação da energia molar de Gibbs em função da temperatura para uma substância na fase gás, líquida e sólida. A figura acima mostra também a força motriz termodinâmica por trás da fusão e vaporização de uma substância quando ela é aquecida. Em temperaturas mais baixas a fase sólida tem a menor energia molar de Gibbs, sendo portanto a fase mais estável e preferencial do sistema. Entretanto, conforme a temperatura aumenta, a energila livre de Gibbs da fase líquida cai abaixo a da respectiva fase sólida, fazendo com que seja preferencial para a substância fundir. Em temperaturas ainda mais elevadas, a energia molar de Gibbs da fase gás usualmente cai abaixo a da fase líquida, o que faz com que a evaporação desse líquido ocorra, visto que agora a fase mais estável é a gasosa. A temperatura de transição entre duas fases é a temperatura em que as energias livres molares de Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 25 Gibbs das duas fases são iguais, ou seja, é a temperatura onde ocorre o cruzamento das curvas mostradas na figura acima. Acima da temperatura transição líquido-gás, como ocorre em uma destilação da água, que ocorre a 100ºC a 1 atm por exemplo, a fase mais estável é a fase gás, ao passo que abaixo a fase mais estável é a fase líquida. Na temperatura de transição, as energias livres molares de Gibbs são idênticas e não existe preferência por uma fase ou outra. Assim, o número de moléculas na fase líquida e na fase gás mantém-se constante e dizemos que as duas fases estão em equilíbrio. Lembre-se sempre que dizer que uma determinada fase é a favorecida termodinamicamente, ou seja, tem menor Gm, não diz nada sobre o quão rápido a mudança para essa fase pode acontecer. O grafite, por exemplo, é 3 kJ/mol mais estável que o diamante, de modo que seria esperado termodinamicamente que diamantes virassem grafite. Entretanto sabemos que diamantes podem durar milhares de anos. Para esta transição de fase ocorrer, os átomos de carbono no diamante têm que mudar de posição dentro do sólido. Entretanto, para que isso ocorra, várias ligações químicasrelativamente fortes devem ser simultaneamente quebradas, de modo que isto não ocorre facilmente em temperaturas cotidianas. Assim a cinética do processo é lenta. Dizemos então que o sistema está em um estado metaestável, ou seja, é desfavorecido termodinamicamente, mas cinéticamente favorecido. No caso de uma sublimação, entrentato, não há cruzamento da curva do líquido com o sólido em uma determinada pressão, como mostrado a seguir. Assim, a transição costuma ocorrer diretamente entre a fase sólida e a gasosa. Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 26 Figura 9.9 Diagramas de Fase Se fizermos um mapa de como Gm varia simultaneamente com a pressão e a temperatura, teremos curvas tridimensionais. Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 27 Gm p T Figura 9.10 O diagrama de fase de uma substância é o equivalente ao “mapa cartográfico” destas superfícies, mostrando em que condições de temperatura e pressão as várias possíveis fases desta substância são termodinamicamente mais estáveis, como mostrado na figura a seguir. Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 28 Figura 9.11 No ponto A, por exemplo, a fase vapor da substância é a fase termodinamicamente mais estável. Entretanto, na temperatura e pressão originando o ponto C a fase líquida é a mais estável do ponto de vista termodinâmico. As linhas no diagrama de fase indicam os cruzamentos entre as superfícies e são os pontos de p e T em que duas fases estão em equilíbrio. Por exemplo, se o sistema é colocado em T e p indicado pelo ponto B, então o líquido e o seu vapor estão em equilíbrio, tal como água em equilíbrio com seu vapor a 100ºC e 1 atm. Se a temperatura é reduzida mantendo-se a pressão constante, o sistema move-se para o ponto C, onde a fase líquida é a fase mais estável. Se a temperatura é ainda mais diminuída, indo para o ponto D, então as fases sólida e líquida estão em equilíbrio (como água e gelo a 1 atm e 0oC). Se o sistema for ainda mais resfriado, indo para o ponto E, o sistema evolui para a região onde a fase mais estável é a sólida (como no freezer, cujas temperaturas são usualmente em torno de -20oC). Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 29 Destilação A destilação é o método de separação baseado no fenômeno de equilíbrio líquido-vapor de misturas. Em termos práticos, quando temos duas ou mais substâncias formando uma mistura líquida, a destilação pode ser um método adequado para purificá-las: basta que tenham volatilidades razoavelmente diferentes entre si. Um exemplo de destilação que tem sido feito desde a antiguidade é a destilação de bebidas alcoólicas. A bebida é feita pela condensação dos vapores de álcool que escapam mediante o aquecimento de um mosto fermentado. Como o teor alcoólico na bebida destilada é maior do que aquele no mosto, caracteriza-se aí um processo de purificação. O petróleo é um exemplo moderno de mistura que deve passar por várias etapas de destilação antes de resultar em produtos realmente úteis ao homem: gases (um exemplo é o gás liquefeito de petróleo ou GLP), gasolina, óleo diesel, querosene e outros. O uso da destilação como método de separação disseminou-se pela indústria química moderna. Pode-se encontrá-la em quase todos os processos químicos industriais em fase líquida onde for necessária uma purificação. Em teoria, não se pode purificar substâncias até 100% de pureza através da destilação. Para conseguir uma pureza bastante alta, é necessário fazer uma separação química do destilado posteriormente. A destilação tem suas limitações. Não se pode separar misturas azeotrópicas por destilação comum. A destilação é um método de separação extensamente estudado - os primeiros estudos científicos documentados surgiram ainda antes da PAULA Realce Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 30 Idade Média, por volta do ano 800, com o alquimista Jabir ibn Hayyan (Geber). Foi ele, inclusive, quem inventou o alambique, que é um aparato usado até hoje para fazer destilações de bebidas alcoólicas, como a cachaça. A destilação simples Montagem de laboratório para destilação simples (http://www.ff.ul.pt/paginas/constant/tl/tecnicas/Image9.gif) Este tipo de destilação consiste em apenas uma etapa de vaporização e condensação. Utiliza-se quatro equipamentos aqui: um alambique (balão de destilação, quando em laboratório; refervedor, quando em indústria), um condensador, um receptor (ou balão de recolhimento) e um termômetro. A vaporização se dá pelo aumento rápido da temperatura ou pela redução de pressão no alambique, onde a mistura a ser purificada está inicialmente. O vapor gerado no alambique é imediatamente Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 31 resfriado no condensador. O líquido condensado, também chamado de destilado, é armazenado por fim no receptor. Observa-se atentamente o termômetro durante todo o processo. A temperatura tem a tendência de estacionar inicialmente no ponto de ebulição da substância mais volátil. Quando a temperatura voltar a aumentar, deve-se pausar o aquecimento e recolher o conteúdo do receptor: o líquido obtido é a tal substância mais volátil, que se separou da mistura original. Repete-se o processo para a obtenção da segunda substância mais volátil, a terceira, etc., até conseguir separar cada um dos componentes da mistura. Cada um dos destilados pode ser chamado de corte, porque o processo é como se se "cortasse" partes da mistura a cada temperatura. Os destilados obtidos desta forma não estão 100% puros, apenas mais concentrados do que a mistura original. Para obter graus de pureza cada vez maiores, pode-se fazer sucessivas destilações do destilado. Como este processo é demorado e trabalhoso, utiliza-se em seu lugar a destilação fracionada. Destilação fracionada Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 32 (http://www.ff.ul.pt/paginas/constant/tl/te cnicas/Image10.gif) (http://www.revisaovirtual.com/site/Img_Art/Petroleo.jpg) Esquema de destilação fracionada de uma mistura Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 33 Neste método de destilação, usa-se um balão de destilação (ou alambique, ou refervedor, dependendo da escala de produção), uma coluna de Vigreux (ou coluna de destilação, quando em indústria), um condensador e um receptor. Aqui, a coluna é peça-chave. Como na destilação simples, a mistura a ser purificada é colocada no balão de destilação, que é aquecido. Surge então um vapor quente. Ele sobe pela coluna, mas vai se resfriando ao longo dela e acaba por condensar-se. Com a condensação, forma-se um líquido, que escorre para baixo pela coluna, em direção à fonte de calor. Vapores sobem continuamente pela coluna e acabam por encontrar-se com o líquido que escorria; parte desse líquido rouba o calor do vapor ascendente e torna a vaporizar-se. A uma certa altura um pouco acima da condensação anterior, o vapor torna a condensar-se e escorrer para baixo. Este ciclo de vaporização e condensação ocorre repetidas vezes ao longo de todo o comprimento da coluna. Os vários obstáculos instalados na coluna forçam o contato entre o vapor quente ascendente e o líquido condensado descendente. A intenção desses obstáculos é promover várias etapas de vaporização e condensação da matéria. Isto nada mais é do que uma simulação de sucessivas destilações simples. Quanto maior a quantidade de estágios de vaporização-condensação e quanto maior aárea de contato entre o líquido e o vapor no interior da coluna, mais completa é a separação e mais purificada é a matéria final. Atividade 1: PULAR 15 LINHAS Resposta comentada: translacional. ======= FIM RESPOSTA COME-TADA==== Curso de Química - Disciplina: Química II - Módulo II 34 Atividade Final: Resposta comentada: Informações sobre a próxima aula Na próxima aula estudaremos o equilíbrio químico de ácidos e bases e sua relação com a termodinâmica. Resumo
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