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6 Universidade Federal do Pampa Economia Rural PRODUTIVIDADE, EXPORTAÇÃO E CONSUMO DO SETOR BRASILEIRO DE CARNE SUÍNA. Vitoria Avila Este artigo busca através de uma análise econométrica, analisar o comportamento do setor produtivo/exportador de carne suína no Brasil no período entre 2009 e 2013. Tendo em vista que tanto a competitividade no cenário mundial quanto o consumo interno apresentaram um aumento no período analisado, o objetivo deste artigo é analisar a influência desses dois elementos sobre o nível de produtividade do setor. A suinocultura brasileira, assim como outras cadeias produtivas, cresceu significativamente no período analisado. Esse crescimento é notado ao analisar alguns indicadores econômicos e sociais, como o volume de exportações do setor, sua participação no mercado mundial, o desenvolvimento socioeconômico de algumas regiões, entre outros. Segundo o relatório da Abipecs (2012), o Brasil aumentou sua produção de aproximadamente 3,2 para 3,5 milhões de toneladas, no período entre 2009 e 2012, qualificando o setor de carne suína como um dos grandes responsáveis pela sustentação do desenvolvimento de muitos municípios brasileiros, contando com cerca de 40 mil fornecedores e tendo gerado cerca de 600 mil empregos diretos e indiretos nos últimos anos. A criação de suínos evoluiu tanto na sua técnica como no modelo de coordenação das atividades entre fornecedores, produtores rurais, agroindústrias e consumidores. Passando de uma produção agrícola para uma cadeia produtiva, explorando a atividade de forma econômica e competitiva. O Brasil vem aumentando sua participação no mercado internacional, porém, encontram-se diversos desafios na exportação do setor, que comprometem sua competitividade no cenário mundial, fatores como a valorização da taxa de câmbio interna, mudança de procedimentos em alguns mercados, como a imposição de barreiras sanitárias, por exemplo. E principalmente pela alta concentração do mercado importador, reduzem a dinâmica do setor, tendo em vista que apenas cinco países são responsáveis por cerca de 90% de toda a importação mundial de carne suína, tornando o setor extremamente sensível a variações externas dos países. O presente artigo se limitará a analisar a influência da exportação e consumo interno sobre o nível de produção brasileira do setor, buscando analisar se o fortalecimento do mercado interno realmente pode ser uma opção para impulsionar sua produtividade, e qual o viés tomado pela indústria produtora de carne suína, exportador ou consumidor. A produção brasileira de carne suína vem crescendo no decorrer dos anos, assim como sua inserção no mercado internacional. Esse crescimento se deve principalmente as vantagens produtivas encontradas no território nacional, tais como, a grande disponibilidade de terras, o baixo custo na produção de insumos, os avanços tecnológicos, como o aperfeiçoamento genético, o que qualifica a carne suína brasileira, abrindo mercados externos, principalmente com a UE (União Europeia). No que diz respeito à distribuição geográfica do setor produtivo, segundo o relatório da Abipecs (2012), a produção encontra-se distribuída de acordo com os valores expostos na tabela a seguir: Tabela 1 - Distribuição da Produção ESTADO PRODUÇÃO TOTAL (2012) RS 19,3 % SC 25,1 % PR 17,0 % SP 5,0 % MS 3,3 % MT 6,0 % GO 5,0 % MG 13,7 % OUTROS 5,6 % Fonte: Relatório da Abipecs (2012); Como se pode observar a partir da análise dos dados, quanto à distribuição geográfica, o setor produtivo de carne suína encontra-se altamente concentrado na região sul, a qual é responsável por 61,4% de toda a produção nacional do setor. O consumo interno de carne suína apresenta um perfil contrário quando comparado ao consumo da mesma a nível mundial, sendo inferior ao das carnes de frango e bovina. Segundo o relatório da Abipecs (2011), o mercado interno passa por um processo de fortalecimento, em decorrência de barreiras não tarifárias impostas por alguns países importadores, o que tem tornado as vendas domésticas atrativas. Apesar do aumento no consumo per capita, a demanda por cortes in natura é extremamente baixa, representando um total de 1,5% do consumo total de carne suína, o que indica uma preferência dos consumidores brasileiros pelos produtos processados. O mercado internacional de carne suína movimenta US$ 11,9 bilhões e 5,4 milhões de toneladas e se concentra basicamente em cinco importadores, com aproximadamente dois terços das importações mundiais (Japão, Rússia, México, Coréia do Sul e Hong Kong) e cinco exportadores com 96% das exportações mundiais (USDA, 2014). De acordo com o relatório da Abipecs (2012) o Brasil permanece firme como o quarto maior produtor e exportador de carne suína, com 3% da produção mundial e 11% do total das exportações mundiais. A fim de atingir o objetivo principal deste artigo, o qual consiste em analisar o comportamento da produtividade do setor brasileiro de suínos, verificando se o mesmo é influenciado pelo nível de exportações e pela demanda interna do produto, isto é, a partir de um modelo econométrico, verificar-se-á o viés da produtividade do setor brasileiro de carne suína. Foram utilizados dados da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (ABIPECS), relativos às quantidades agregadas da produção brasileira de carne suína, do consumo interno do produto e do nível de exportações do setor, todos os dados são apresentados na mesma medida (Mil Toneladas), de acordo com a tabela a seguir: Tabela 2 – Dados. Ano Produção Consumo Interno Exportação 2005 2.710 1.949 625,308 2006 2.830 2.191 528,195 2007 2.990 2.260 606,513 2008 3.015 2.390 529,418 2009 3.130 2.423 607,489 2010 3.195 2.577 540,417 2011 3.227 2.644 516,419 2012 3.330 2.670 581,477 2013 3.370 2.771 517,333 Fonte: Abipecs (2014); A seguir, apresenta-se um gráfico com os dados da tabela acima (Tabela 2), onde se analisa a linha de tendência dos dados do período analisado, bem como, apresenta-se as equações lineares de cada variável separadamente. Gráfico 1 – Equação Linear dos Dados Fonte: Abipecs (2014); Gráfico de autoria própria. Através dos dados propostos, nota-se uma mudança nos dados a partir do ano de 2012, onde, primeiramente notamos uma queda no nível de exportações, porém, um acréscimo no nível de produção e de consumo interno no mercado de carne suína. Para realizar a análise dos dados, se utilizou o modelo de regressão linear múltipla, o qual, de acordo com Hoffmann (2006) caracteriza-se quando o valor da variável dependente é função linear de duas ou mais variáveis explanatórias. O modelo estatístico de uma regressão linear múltipla com k variáveis explanatórias é dado por: , onde é a variável dependente, as variáveis explanatórias e α e β são os parâmetros. (HOFFMANN, 2006). Com base no modelo dos mínimos quadrados, obteve-se: Yj = α + β1X1 + β2X2 + uj Substituindo pelas variáveis utilizadas no modelo, obteve-se: Produção = α + β1Consumo + β2Exportação + uj Onde , a variável dependente, corresponde ao nível de produção do setor brasileiro de carne suína, X1 corresponde ao consumo interno de carne suína e X2 ao nível de exportação do setor. Para estimar o modelo, foi utilizado o software estatístico Gretl, e, a partir do método dos mínimos quadrados ordinários, obtiveram-se os seguintes resultados: Modelo 1: MQO, usando as observações 2005-2013 (T = 9) Variável dependente: Produção Coeficiente Erro Padrão Razão-t p-valor Const. 201,198 73,5686 2,7348 0,03397 ** Consumo 0,92993 0,0141549 65,6967 <0,00001 *** Exportação 1,11705 0,0860045 12,9883 0,00001 *** * Significativo 10% ** Significativo5% *** Significativo 1% Média var. dependente 3088,556 D.P. var. dependente 222,2049 Soma resíd. quadrados 455,8178 E.P. da regressão 8,716057 R-quadrado 0,998846 R-quadrado ajustado 0,998461 F(2, 6) 2596,724 P-valor(F) 1,54e-09 Log da verossimilhança −30,43236 Critério de Akaike 66,86471 Critério de Schwarz 67,45639 Critério Hannan-Quinn 65,58788 Rô 0,287876 Durbin-Watson 1,229828 Nota-se que o valor encontrado do r-quadrado foi de 0,9988, isto é, significa que as variáveis explanatórias explicam 99,88% das oscilações da variável dependente, o que é favorável ao modelo, o teste F também apresentou um valor positivo, rejeitando a hipótese nula, favorecendo o modelo. Portanto, conclui-se que o modelo utilizado é adequado para estimar as variáveis propostas pelo presente artigo, logo, fazendo a análise das variáveis e identificando seus coeficientes, é possível substituir os valores encontrados na equação desse modelo, resultando na seguinte equação: Yj = 201 + 0,929930(X1) + 1,11705(X2) + uj Ao analisar o modelo, evidencia-se que ambos os parâmetros possuem valores positivos, isto é, influenciam positivamente sobre a variável dependente. O efeito do aumento de uma unidade (Mil T) no volume do consumo interno de carne suína resulta em um aumento de 0,93 unidades na produção total do setor, já o incremento de uma unidade no total de exportações resulta em um aumento de 1,12 unidades no nível total de produção do setor. Conclui-se, portanto, que o nível de exportações possui uma influência maior sobre o nível de produção do setor brasileiro de carne suína. O presente artigo tinha por objetivo analisar o nível de produtividade nacional do setor de carne suína, utilizando como variáveis explanatórias o nível de consumo interno e o nível de exportações do setor. Após realizar a análise, constatou-se que o setor produtivo de carne suína possui um viés para o mercado externo, o que justifica a competitividade do Brasil no mercado mundial, tendo em vista que o mesmo, segundo o relatório da Abipecs (2012) é responsável por 11% do total de exportações de suínos do mundo. Porém, vale ressaltar que a demanda interna de carne suína também representa um grande impulso ao setor, o que é favorável economicamente, pois o mercado mundial é extremamente concentrado, o que torna o Brasil dependente dos grandes importadores, logo, com uma demanda interna forte, é possível que o setor mantenha seu nível de produtividade e ganhos, mesmo se houver restrições do mercado externo. Atingiu-se, portanto, o objetivo central do artigo, o qual consistia em analisar o viés do setor produtivo nacional de suínos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Disponível em: <http://www.ipea.gov.br> Acesso: 14/11/2017. Abipecs – Associação Brasileira da Indústria Produtora de Carne Suína. Disponível em <http://www.abipecs.org.br> Acesso em: 15/11/2017. HOFFMANN, R. (2006) Análise de Regressão: Uma introdução à econometria.4 ed. São Paulo: Economia & Planejamento. GUJARATI, D (2000). Econometria Básica. 3ed. São Paulo: Pearson Makron Books;