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2 Economia, moral e política

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Licenciatura em Economia
Introdução ao Pensamento Económico
Notas Pedagógicas 2015-2016 
2. Economia, Moral e Política: da Grécia 
Antiga à construção do Estado moderno
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José Castro Caldas
Maria de Fátima Ferreiro
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Economia, Moral e Política: da Grécia 
Antiga à construção do Estado moderno
É no século XVIII que tem início o processo de constituição da Economia Política como um domínio do saber que reclama autonomia. Antes disso, a reflexão sobre questões que hoje em dia consideramos económicas existe, mas no quadro de preocupações mais abrangente de natureza ética, religiosa e política. Considera-se por isso muitas vezes que a reflexão económica anterior ao século XVIII é irrelevante por não ser “científica”.
Existem, no entanto, boas razões para os economistas de hoje e do futuro se interessarem pelas ideias económicas “antigas”. 
O interesse pelas ideias económicas anteriores ao século XVIII justifica-se, em primeiro lugar, porque a Economia Política em que se filia a corrente dominante do pensamento económico actual tem por referência ideias do passado, algumas vezes formuladas pela primeira vez em épocas muito remotas. Deste modo, para compreender a Economia Política é necessário o conhecimento das ideias a que ela se refere.
É certo que os primeiros Economistas Políticos foram inovadores, advogados da reforma e da mudança social, adversários de ideias económicas e de políticas económicas dominantes na sua época, e que a Economia Política se constituiu em oposição a estas ideias e políticas “velhas”. No entanto, é também certo que os Economistas Políticos foram continuadores de pensadores que os precederam. De facto, ao mesmo tempo que criticaram e rejeitaram muitos aspectos da herança recebida, eles seleccionaram e reinterpretaram outros, incorporando-os nos seus sistemas. 
A relação da Economia Política com as ideias económicas que a precederam envolve, portanto, quer ruptura, quer continuidade. A medida em que a ruptura prevalece à continuidade mantém-se como uma questão em aberto, mas, seja como for, o certo é que para compreender a Economia Política dos séculos XVIII e XIX, é necessário entender o modo como ela se relaciona com o passado e, portanto, também este passado.
Outra razão pela qual nos podemos interessar pelas ideias económicas “antigas” decorre do seu valor intrínseco. De facto, é muitas vezes possível encontrar em textos “antigos” ideias caídas em desuso, por terem sido subestimadas ou mesmo rejeitadas pelos economistas políticos, que hoje nos surpreendem pela sua relevância e actualidade. O que mais nos pode interessar nelas é exactamente o que muitas vezes é tomado como uma fraqueza: o enquadramento da reflexão económica no espaço mais amplo da Moral e da Política. 
Atribuindo, por estas razões, importância ao pensamento económico que precede a afirmação da Economia como domínio do saber autónomo, este capítulo evoca algumas das ideias económicas de autores clássicos gregos e de escolásticos medievais, assim como teorias e políticas económicas desenvolvidas entre os séculos XVI – XVIII, de que foram continuadores ou contra as quais se bateram os primeiros economistas políticos. 
Economia, Moral e Religião
A oikonomia de Xenenofonte e de Aristóteles
Na Grécia antiga a agricultura era a fonte primária da riqueza. Os gregos conheciam e recorriam a outras alternativas, como a guerra, a pilhagem e o comércio. A guerra (e a pilhagem), desde que “justa”, era mesmo considerada como uma fonte legítima de riqueza e uma actividade nobre, digna de elogio. Já o comércio era encarado com reserva e, em certas circunstâncias, condenado em termos morais. O ideal era o de uma sociedade auto-suficiente, baseada na agricultura familiar, em que a família incluía não só pais e os filhos como os escravos utilizados como força de trabalho agrícola e doméstica. 
Oikonomikus, título da obra legada por Xenofonte (427-355 a.c.), é um tratado de administração da propriedade rural. A questão central nesse livro é a da boa organização da produção doméstica. A boa organização pressupunha boa liderança das actividades dos membros da casa agrícola (incluindo os escravos) por parte do “senhor da casa”, nomeadamente uma boa distribuição das tarefas entre eles. Xenofonte acreditava que se o trabalho fosse dividido pelos membros da casa agrícola, a sua produtividade aumentaria. Recorria ao exemplo de uma grande cozinha em que várias pessoas trabalham, cada uma delas executando um tipo diferente de trabalho. Se esta cozinha fosse comparada com uma pequena unidade em que um só cozinheiro faz tudo, a maior eficiência� da primeira seria evidente. Generalizando este raciocínio, Xenofonte observava que um artesão numa pequena cidade, onde a procura de produtos artesanais é pequena, tem necessariamente de produzir diferentes objectos, como cadeiras, mesas e arados. Em contrapartida, numa grande cidade, onde a procura é grande, os artesãos poderiam especializar-se numa única actividade – só e sempre cadeiras, só e sempre arados. Comparando a eficiência dos dois artesãos, Xenofonte concluía que o artesão da pequena cidade, não sendo especialista em nenhuma das actividades, produziria necessariamente muito menos de cada uma das coisas por unidade de tempo dedicado a essa actividade do que o artesão da grande cidade�. 
Para Xenofonte a economia era a aquisição, através da produção na casa agrícola familiar, dos recursos necessários à vida e úteis à família. O que ele discutia no seu livro eram os princípios que deveriam nortear o “senhor da casa” na condução dessa actividade. 
A concepção de economia de Aristóteles (384-322 a.C.) era semelhante à de Xenofonte. Mas para Aristóteles havia uma distinção importante a traçar entre economia, por um lado, e crematística, isto é, a arte de adquirir bens, por outro. Havia, segundo ele, um tipo de crematística necessária à vida feliz da família e, como tal, natural. Esta crematística seria parte integrante da economia. Mas havia também um outro tipo de crematística que consistia em acumular riqueza e propriedades sem limites, que seria artificial e estranha à economia.
O esclarecimento da diferença entre crematística natural e crematística “artificial” proporcionou algumas das páginas de Aristóteles que mais influência tiveram na Economia Política. O primeiro passo do argumento envolvia a distinção entre dois usos que todos os objectos de propriedade podem ter, um adequado ao objecto, outro não. Uma sandália, escrevia Aristóteles, pode ser utilizada como calçado ou como objecto de troca. “Ambos são modos de utilização da sandália; aquele que troca uma sandália por dinheiro ou alimento com alguém que dela necessita, faz uso da sandália como sandália, mas não faz o uso próprio da coisa; é que esta não existe para ser trocada”�. E logo acrescenta: “O mesmo acontece com outros bens, porque a troca abrange tudo, e tem a sua origem no facto natural de os homens possuírem mais ou possuírem menos do que é suficiente.”� Certo tipo de comércio, o que resultava do facto natural da existência de excedentes, por um lado, e de carências, por outro, faria parte da cresmatística natural e, portanto, da economia: “Esta técnica de comércio não é contrária à natureza [...], serve para preencher lacunas na auto-suficiência natural”. Mas com o crescimento das trocas comerciais com o estrangeiro e a introdução da moeda esta crematística natural teria dado origem a uma crematística “artificial”, que Aristóteles refere como “crematística comercial”, cuja natureza era distinta da forma anterior: o fim deste novo tipo de crematística não seria assegurar a riqueza (limitada) necessária à vida feliz da família mas acumular riqueza (dinheiro) e propriedade (sem limites). 
Uma vez que a crematística se referiria originalmente simplesmente à aquisição de riqueza e que nem sempre era clara a distinçãodos fins da “crematística doméstica” (natural) e da “crematística comercial”, alguns, segundo Aristóteles, julgavam erradamente “que esta acumulação [de riqueza] é própria da tarefa da economia, acabando por concluir que é preciso manter e aumentar, ilimitadamente a riqueza”�. “A causa desta atitude”, acrescentava logo a seguir, “é a preocupação com o afã de viver, mas não com o bom viver; sendo este apetite ilimitado, também desejam meios sem limite para o satisfazer. Os que assim visam a vida feliz, procuram o que dá prazer ao corpo; e como os prazeres corporais parecem depender dos bens possuídos, centram toda a actividade em adquirir bens. [...] Alguns, transformam isto tudo [a função de um general, ou de um médico] numa questão de dinheiro, como se o dinheiro fosse o fim de tudo e tudo tivesse que se orientar para tal fim”.
Conclui então Aristóteles: “A arte de adquirir bens (crematística), conforme dissemos, tem duas formas, uma mercantil e a outra doméstica. Esta última é necessária e recomendável, enquanto a primeira é censurável devido a não estar de acordo com a natureza, por ser praticada por uns a expensas de outros”.
Em suma, para Aristóteles a economia trataria apenas da produção que tem como finalidade o uso por parte da família (produção de valores de uso). Na medida em que, e apesar dessa finalidade, a produção pudesse dar origem a um excedente, a troca deste não era excluída por Aristóteles da economia. Esta englobava a crematística “doméstica”. A produção e troca de bens tendo em vista a acumulação ilimitada de riqueza (a produção de valores de troca ou crematística “comercial”) seria estranha à economia e censurável�
Mais censurável ainda do que a crematística comercial seria a prática da usura. O dinheiro havia sido instituído para facilitar as trocas, esse seria o seu fim. Gerar dinheiro a partir de dinheiro, obter um juro a partir de algo tão estéril como o dinheiro era, para Aristóteles, a actividade mais anti-natural e condenável que seria possível conceber.� 
Mas o contributo de Aristóteles enquanto economista não termina aqui, ele inclui também uma explicação para a origem da moeda (ver excerto 1) que muitos haviam de retomar, uma discussão sobre o monopólio (ver excerto 2) e, mais importante ainda, um enunciado de um problema que haveria de perseguir a Economia nos séculos XIX e XX – o problema do valor. 
Excerto 1 
Com efeito, quando o abastecimento do estrangeiro aumenta progressivamente, devido à importação de bens deficitários e à exportação dos excedentes, o uso da moeda foi adoptado sob a pressão da necessidade. Uma vez que as coisas necessárias às carências naturais não são facilmente transportáveis, os homens instituíram um contrato para cada parte dar e receber algo, tal que, mantendo uma utilidade ínsita, tivesse ainda a vantagem de se manusear facilmente tendo em vista as carências vitais. Escolheu-se o ferro, a prata, ou outro metal parecido, determinando-se, primeiramente o seu valor apenas pelo tamanho e peso; e finalmente, fez-se a cunhagem de modo a evitar o trabalho de medição, cunhando-se uma marca como sinal da quantidade de metal.�
O “problema do valor” consiste em saber o que determina, ou deve determinar, o valor relativo dos bens, ou o seu preço. No mercado, ou em transacções bilaterais, há bens tão distintos na sua natureza como sandálias e mesas que são correntemente trocados uns pelos outros, quer directamente, quer indirectamente quando as transacções são mediadas por dinheiro. Pode observar-se que uma mesa é trocada por 
 sandálias�, ou que uma mesa é trocada por uma quantidade de dinheiro que, por sua vez, pode comprar 
 sandálias. Este facto pode ser encarado de um ponto de vista ético – qual é a razão de troca justa? – e também de um ponto de vista causal – porque razão 1 mesa = 
 sandálias? Interessando-se pelo problema do ponto vista ético, Aristóteles� suscitou questões que também são relevantes do ponto de vista causal.
Começou por estabelecer que a troca para ser justa deve ser livre – ambas as partes devem estar de acordo com os termos da transacção. Isso significa que a razão de troca (ou preço relativo) se deve situar acima do mínimo que o vendedor está disposto a aceitar e abaixo do máximo que o comprador está disposto a pagar. Pode, portanto, existir uma zona de indeterminação entre eles onde se situam infinitas razões de troca que, sendo aceitáveis para ambas as partes, trazem maiores vantagens a uma das partes do que a outra. O problema da razão de troca justa mantém-se em aberto, obrigando Aristóteles a colocar novas perguntas. 
Por que razão bens que são distintos quanto à sua natureza, isto é, quanto à finalidade que servem, como um par de sandálias e uma mesa, podem ser tornados equivalentes quando a troca entre eles tem lugar? Note-se que, e para melhor compreender o problema com que Aristóteles se debatia, as comparações entre objectos físicos de natureza diferente são possíveis em muitas circunstâncias. Podemos dizer que uma pena é igual a um grão de chumbo quando o peso da pena é igual ao peso do grão de chumbo. Mas a comparação, assim como o estabelecimento da relação de equivalência são possíveis porque existe um atributo que é comum à pena e ao grão de chumbo – o peso. O peso faz com que a pena e o grão de chumbo sejam comensuráveis, isto é, susceptíveis de serem medidos com o mesmo padrão. Qual é o equivalente do peso no caso de bens de diferente natureza, finalidade, ou valor de uso? É o valor. Mas o que é o valor? O que determina o valor?
Aristóteles, numa linguagem sujeita a múltiplas interpretações, discutia várias possibilidades não se retendo em nenhuma delas. Referia primeiro o trabalho como determinante do valor: quando um construtor transacciona o seu produto com o do sapateiro “o construtor deve poder receber junto do sapateiro o trabalho que realiza”, devendo verificar-se a situação recíproca para o sapateiro. No entanto, o trabalho de um e de outro diferem na sua natureza, têm finalidades diferentes. O problema não está resolvido, tendo sido apenas transferido dos bens para o trabalho que os produziu. O trabalho incorporado em cada um dos produtos determina a razão de troca. Mas o que há de comum em trabalhos com natureza distinta, isto é, orientados para finalidades tão diversas como a produção de sandálias ou a produção de mesas? 
Considerava então o dinheiro. “Tudo o que pode ser trocado tem de algum modo de ser comparável. E foi em vista disso que o dinheiro foi inventado [...] o dinheiro surge de algum modo como o mediador porque é medida para todas as coisas”. Mas será que o problema fica resolvido? - Parece perguntar a si mesmo Aristóteles. Não, porque o dinheiro é afinal apenas um pedaço de prata ou ouro e continuamos sem saber o que há de comum entre os sapatos e a prata, ou o ouro. O dinheiro, escrevia Aristóteles, é apenas “o representante da necessidade”, uma medida do valor, não o seu determinante, sendo a necessidade (kreia, que alguns traduzem por utilidade) “o padrão que mantém tudo em conjugação”. Para haver troca é preciso que exista uma necessidade recíproca. Mas, talvez perguntasse Aristóteles a si mesmo, será possível conceber uma medida da necessidade que permita comparações? Parece que não, e nesse caso o problema do valor continua sem solução.
Esta parece ser a conclusão do próprio Aristóteles quando refere que: “é impossível, na verdade, que coisas tão diferentes possam tornar-se comensuráveis, mas em vista da necessidade, é possível que tal venha a acontecer de modo satisfatório”. 
Não se encontra, portanto, em Aristóteles uma solução para o problema do valor. No entanto, a questão ficou colocada e o problema do valor transformou-se deste então numa das questões mais controversas e centrais da Economia. 
Excerto 2
Além do mais, importaria coligir toda a tradição oral dispersa, sobre os meios de que alguns se serviram para conseguir grandes fortunas, visto que todos esses meios são úteis aos que apreciam a crematística. Tomemos como exemploo que conta acerca de Tales de Mileto: o estratagema que usou para adquirir riqueza, ainda que atribuído à sua sabedoria, não passa da aplicação de um princípio geral. Consta que o censuravam por ser pobre, atribuindo isso à inutilidade da filosofia. O facto é que, devido aos seus conhecimentos de astronomia, previu a proximidade de uma boa colheita de azeite; quando ainda era Inverno, alugou com o pouco dinheiro que tinha todos os lagares de Mileto e Quios, gastando apenas uma pequena soma, já que não havia outras ofertas mais avultadas. Quando chegou o tempo da colheita, e porque muita gente acudiu ao mesmo tempo e com urgência à busca de lagares, arrendou-os ao preço que bem entendeu, não só obtendo uma soma elevada de dinheiro como provando que era fácil, para os filósofos, tornarem-se ricos se assim o desejassem, embora não fosse essa, de facto, a meta das suas aspirações. Tales terá dado, assim, ao que consta, prova inequívoca da sua sabedoria. Todavia, como dissemos, tal expediente para obter dinheiro decorre de um princípio geral da crematística, a saber, a posse de um monopólio na medida do possível.�
A propriedade privada, o comércio e a usura à luz da moral cristã
Designa-se por Idade Média o milénio de história do ocidente que medeia entre o século V e o séc. XV. A Idade Média é, portanto, um período longo e conturbado em que o traço de continuidade é dado pela influência do Cristianismo e da Igreja. Esta influência permeia todos os domínios da vida social, das ideias às práticas, da política à economia, passando pela jurisprudência. É evidente portanto que as ideias económicas ao longo deste período são profundamente marcadas pela teologia e moral cristãs e que é para o cristianismo que nos devemos voltar se as queremos compreender. 
Por razões de tempo e espaço nas páginas que se sequem serão abordados apenas três tópicos – a atitude face à riqueza e à propriedade privada, a questão do comércio e do valor (ou do preço justo), e a atitude face à usura. 
A atitude face à riqueza e à propriedade privada
Os cristãos primitivos acreditavam que o fim dos tempos estava eminente. Jesus Cristo havia pregado o despojamento das coisas materiais, prevenido os ricos de uma iminente condenação e prometendo aos pobres a salvação, mas não nesta vida terrena. Os primeiros cristãos procuraram portanto viver no despojamento e na partilha comunitária compatíveis com esta crença.
No entanto, mesmo entre os cristãos primitivos é já possível encontrar indícios de uma modificação desta atitude radical face à riqueza. Agostinho, Bispo de Hipona (354-430), uma figura central do pensamento cristão medieval, via na riqueza uma dádiva de Deus, acrescentando, contudo, que este bem devia ser encarado como um meio e não como um fim em si mesmo. O despojamento de todos os bens e de toda a propriedade seria decerto o caminho mais curto para a santidade. Mas a santidade não estava ao alcance de todos os seres humanos, nem era uma condição para a salvação. A propriedade privada, de resto, era para Agostinho inteiramente legítima. O pecado não estaria na propriedade, mas antes no amor à propriedade.
No século XIII surgiram as primeiras universidades e com elas os professores, clérigos na sua maioria. Estes professores das universidades medievais foram os grandes pensadores da época, os filósofos, alguns deles santificados pela Igreja, os “doutores da Igreja”, ou, em geral, “os escolásticos”. Entre eles destacam-se duas figuras: Alberto Magno (1200-1280) e o seu aluno Tomás de Aquino (1225-1274).
Os comentários de Tomás de Aquino sobre a propriedade tiveram uma enorme influência. Tomás de Aquino está longe do elogio do despojamento dos primeiros cristãos e procurou tornar a instituição da propriedade compatível com a moral cristã, tendo formulado argumentos a favor do direito de propriedade (e dos seus limites) que continuamos a encontrar nos nossos dias: (a) a propriedade deve ser necessariamente privada porque as pessoas têm mais cuidado com o que é seu do que com o que é de todos; a sociedade fica a ganhar se cada um cuidar bem da sua parte�; (b) a propriedade privada é essencial à ordem social - uma sociedade em que “tudo é de todos” e não há distinção entre o “meu” e o “teu”, é uma sociedade em que o conflito surge logo que a escassez se manifesta.�
Embora a propriedade tivesse de ser privada pelas razões acima expostas, Tomás de Aquino defende, no entanto, que os frutos da propriedade eram comuns e deviam ser partilhados. O excedente devia ser posto à disposição dos que dele necessitam. Isto tanto poderia ser feito através dádiva beneficente como através do comércio.
Em suma, para os medievais a riqueza era uma dádiva de Deus à humanidade, podia ser objecto de apropriação privada, sendo conveniente que o fosse, mas devia ser utilizada de forma caritativa e justa. 
A consideração das condições em que o uso da riqueza pode ser justo remete para a questão do comércio, do valor e do preço justo. 
O comércio, o valor e o “preço justo”
A atitude da Igreja primitiva face ao comércio era de clara condenação moral: o ganho no comércio envolvia necessariamente a mentira e a fraude por parte do vendedor e, como tal, a actividade era necessariamente pecaminosa; a motivação para a actividade comercial, a ganância, não podia deixar de afastar de Deus os que sucumbiam a esta tentação. É certo que Agostinho havia defendido a necessidade de comércio e distinguido entre a actividade em si e o bom ou mau uso que podia ser feito das oportunidades de ganho por parte de cada comerciante, mas a sua opinião era marginal na época.
A partir do século XII verifica-se, no entanto, o início de uma viragem no sentido da reabilitação moral do comércio. A obra de Rufinus, um filósofo e jurista desta época�, é uma referência nesta viragem. Rufinus foi dos primeiros a considerar a possibilidade de uma justificação para o comércio e para ganhos de comércio que decorrem do facto de se comprar barato e vender caro. À semelhança de Aristóteles, considerava que o comércio era claramente legítimo quando envolvia a transacção de excedentes da produção familiar e que mesmo noutros casos o poderia ser se os ganhos de comércio decorressem do facto de ter sido acrescentado valor aos bens pelo trabalho do vendedor. Outros ganhos do comércio eram moralmente dúbios. No caso de bens comprados baratos com a intenção de serem vendidos mais caros, sem qualquer transformação, no futuro ou noutro lugar, podiam ter lugar duas situações: se os bens tivessem sido comprados em circunstâncias de abundância para serem vendidos em contexto de fome, a actividade era claramente imoral; mas, se não fosse esse o caso, e se o comerciante tivesse que experimentar grande fadiga para conservar ou transportar os bens, o lucro comercial seria legítimo. 
Apresentada nestes termos, a questão não é a de uma condenação ou absolvição do comércio mas a dos critérios que permitam distinguir as práticas comerciais legítimas das ilegítimas. A procura destes critérios leva à discussão das questões do valor (o que deve determinar o valor relativo dos bens?). 
Alberto Magno, comentador de Aristóteles, interpretava o filósofo como tendo estabelecido que o valor de um bem em termos de outro bem devia ser proporcional quer à necessidade relativa dos dois bens, quer ao trabalho neles incorporado. Afirmava primeiro: “Assim como o agricultor está para o sapateiro em trabalho e despesas, assim o produto do sapateiro está para o produto do agricultor (...)”. Mas acrescentava logo depois: “A troca deve ser feita (...) de acordo com a proporção entre o valor de uma coisa e o valor de outra coisa, sendo esta proporção tomada a respeito da necessidade que é a causa da troca”�.
A perspectiva de Tomás de Aquino sobre o valor difere da do seu mestre Alberto Magno num aspecto importante – não pressupõe a existência de um valor relativo natural e, portanto, justo, dado pela relação entre o trabalho envolvido na produção de cada um dos bens ou pela necessidade relativa. O“preço justo” de Tomás de Aquino é o preço convencional, o preço normalmente praticado para bens com determinadas características. O preço pode ser injusto quando o vendedor abusa do diferencial de informação que normalmente tem relativamente ao comprador. O vendedor conhece sempre melhor que o comprador as verdadeiras características, a verdadeira qualidade do produto que está a vender, assim como conhece melhor o preço que normalmente é praticado para bens com estas características�. Quando o vendedor abusa da sua situação de vantagem quanto à informação em detrimento do comprador, o preço não é justo. Mesmo assim, e para alguns casos, Tomás de Aquino, dispensava o vendedor de revelar toda a informação de que dispunha, como seria o caso de antecipação de uma descida futura do preço do bem ou no caso deste ter um defeito óbvio para todos. 
A atitude face à usura
Ao longo de toda a idade média e parte da modernidade a usura – o que hoje consideramos como inocentes práticas financeiras – representava a pior das abominações morais. Além de condenada em termos morais, esta prática foi tornada ilegal. Em 1311 o Concílio de Viena declarou nula toda a legislação secular a favor da usura. As leis anti-usura, mais ou menos modificadas, existiram na Europa durante 500 anos até que o Código Napoleónico as aboliu�. Só em 1830 a Igreja Católica abandonou, sem nunca a revogar, a doutrina anti-usura. 
A doutrina católica anti-usura deriva no fundamental da posição de Tomás de Aquino. Este, seguindo Aristóteles, argumentava que algo estéril como o dinheiro não deve gerar dinheiro. Ou, dito de forma mais sofisticada, o dinheiro é consumido no uso e não tem nenhum uso para além do que decorra da sua substância – o dinheiro não tem valor de uso e como tal não pode ser vendido. Outros afirmavam que vender dinheiro é vender tempo; uma vez que o tempo só pertence a Deus, o usurário está vender algo que não lhe pertence. Outros ainda argumentavam que a usura é uma falha à obrigação da caridade. Mas havia argumentos mais sérios: a usura encerra um potencial de abuso da situação de alguém que é forçado a aceitar um contrato em posição de necessidade extrema. Um autor comparava a situação de uma pessoa forçada a contrair uma dívida com a de outrem obrigado a pagar um resgate para não ser enforcado.
O tempo foi no entanto criando espaço para excepções à interdição total e para interpretações engenhosas da lei e da doutrina da Igreja. Se o credor pudesse provar que sofrera perdas pelo facto de ter emprestado dinheiro, então haveria lugar para compensação. Mais, se o credor provasse que perdera oportunidades de ganho�, haveria também lugar para a compensação. É evidente que à medida que os teólogos iam admitindo cada vez mais excepções a doutrina da usura ia perdendo relevância prática e mais ataques contra ela iam surgindo. Já durante a Reforma, Calvino ironizava com a ideia de esterilidade do dinheiro escrevendo que: “o dinheiro só é estéril enquanto permanece fechado numa caixa”. 
Mas a crítica à doutrina católica não implicava a aceitação da usura sem qualificações por parte dos protestantes. O próprio Calvino identificava situações em que a usura seria pecaminosa: por exemplo, empréstimo à taxa corrente a pessoas em necessidade extrema em consequência de uma calamidade. O debate deslocara-se simplesmente da interdição total para a identificação de tipos de usura, uma legítima e outra ilegítima, e para a necessidade de impor limites legais ao preço do dinheiro.
À medida que foi sendo compreendido que o crédito não financia apenas o consumo e que pode financiar uma actividade com um enorme potencial produtivo – o investimento – os efeitos nefastos da doutrina da usura foram-se tornando patentes. Quando aplicado de forma produtiva, o dinheiro nada tem de estéril. Impedir que passe das mãos de quem o tem, mas não sabe ou não quer fazer uso dele, para as de quem o não tem, mas conhece modos de o investir produtivamente, surge então não só como um absurdo mas como um enorme desperdício.
O que resta então da doutrina da usura para o nosso tempo? Nada. Ou talvez alguma coisa: a compreensão de que para um contracto ser legítimo não basta que seja livre. Se uma das partes do contrato está em situação de necessidade extrema a outra parte está em condições de obter benefícios que seriam inalcançáveis noutras circunstâncias. O acordo pode existir mas os benefícios da transacção não são repartidos de forma equitativa. Isto pode justificar a protecção pelo Estado da parte fraca do contrato – uma ideia que continua a ter implicações importantes para a teoria e a política económicas – não só no domínio financeiro mas noutros como o das relações de trabalho. 
Características e relevância actual do pensamento Grego e Medieval
A discussão de temas económicos na Antiguidade Clássica e na Idade Média ocorre no quadro da reflexão moral. A noção de uma sociedade regida por leis objectivas, independentes da vontade humana, era estranha à concepção antiga e medieval do mundo. A sociedade era regida por leis sim, mas leis transcendentais contidas em textos sagrados ou instituídas pelos homens (o Direito e o Costume). 
A reflexão económica da Antiguidade Clássica e da Idade Média é normativa – orientada para a determinação do que deve ser –, e não positiva – referente ao que é. Por exemplo, não se perguntava como são determinados os preços nos mercados, mas em que circunstâncias os preços são ou não justos. 
Acima são sugeridas algumas das razões que podem fundamentar o interesse por ideias tão antigas como as da Antiguidade Clássica e da Idade Média. Viu-se que estas ideias podem ajudar a compreender conceitos centrais da teoria económica. Viu-se também que elas podem conter intuições que, embora tenham passado despercebidas aos que as receberam directamente, ressurgiram como descobertas muitos séculos depois. O conhecimento das ideias antigas pode ser, portanto, tanto um auxiliar para a compreensão de conceitos e teorias contemporâneas, como um manancial de intuições susceptíveis de originar novos conceitos e teorias.
Apesar disso, as ideias económicas antigas contidas na filosofia clássica grega e no pensamento escolástico medieval são ainda hoje desvalorizadas e ignoradas por muitos economistas contemporâneos. Considera-se que o facto de estarem embutidas na reflexão moral as torna não-científicas. Presume-se que a Economia só se tornou ciência a partir do momento em que se separou da Moral. 
No entanto, Economia e Moral nunca se separaram. Apesar de todas as pretensões em contrário, elas são mesmo inseparáveis�. 
Actualmente, depois de um longo período dominado por uma concepção moralmente neutra quer da Economia quer do comportamento económico, assiste-se a um renovado interesse pela análise da relação entre a Moral e a Economia e a Moral e os Negócios. Escândalos financeiros de enormes proporções e consequências gigantescas, são acontecimentos reveladores de um facto evidente: na medida em que as acções individuais, incluindo as decisões de investimento, de produção e de consumo, têm geralmente consequências não só para quem as pratica como para terceiros, há uma inevitável dimensão moral no comportamento económico. 
Considerando que o comportamento dos agentes económicos é influenciado pela sua (i)moralidade, a Economia, ao pretender compreender esse comportamento, deve ter em conta aquela influência�. Além disso, enquanto ciência, a Economia confronta-se permanentemente com dilemas morais. Por exemplo, se assumirmos que pode haver um conflito entre maximizar o produto e distribuir o rendimento equitativamente, temos de decidir o que é mais importante, ou em que medida os dois valores devem ser “equilibrados”; se constatarmos que a taxa a que consumimos alguns recursos vitais, nomeadamente a água, tem como consequência dramática a sua escassez futura, temos de decidir em que medida o nosso interesse e o das gerações vindouras deve ser tido em consideração. A vida das gerações vindouras deveser considerada ou ignorada? A resposta depende de valores - da moral - sendo para todos nós certamente afirmativa. Podemos então interrogar-nos: a que preço deveríamos pagar a água se fosse tomada em conta a necessidade de satisfazer a procura futura? Ou, de outro modo: qual o “preço justo” da água?
Além de inevitável, a relação da Economia com a Moral pode ser desejável. Só reconhecendo os dilemas morais, isto é, tomando consciência deles, e não iludindo-os sob formulações “técnicas” aparentemente neutras, podemos reflectir racionalmente acerca das escolhas, procurando justificá-las. Além disso, só assim é possível discuti-las colectivamente. 
Em suma, a separação entre Economia e Moral é no mínimo problemática. Se admitirmos a inevitabilidade e a desejabilidade desta relação, o contributo de filósofos antigos, como Aristóteles, e de escolásticos medievais pode ser relevante mesmo em relação aos problemas da economia do presente.
A economia ao serviço do poder político: o “mercantilismo”
Entre o século XV e o século XVIII a Europa sofre um conjunto de transformações que preparam a transição de uma sociedade feudal e teocrática para uma sociedade capitalista e laica�. Essa transformação envolve aspectos sociais, económicos, políticos e culturais, cuja consideração é essencial quando está em causa a interpretação das ideias e das políticas económicas da época. 
No plano político a maior transformação foi a emergência dos Estados Nação. Ao longo da Idade Média os reis partilhavam o poder político com os numerosos senhores feudais. A sua soberania sobre o conjunto do território nacional era limitada. Os monarcas raramente dispunham de exércitos próprios e tinham de recorrer ao apoio da nobreza em caso de guerra. Não podiam sequer contar com um aparelho administrativo de âmbito nacional e a sua capacidade de cobrança de impostos era restrita. A partir do século XV assistiu-se a um reforço do poder real e a um enfraquecimento da aristocracia. A nação enquanto entidade colectiva unida por um destino comum e representada pelo rei começou a afirmar-se em detrimento das diferentes identidades regionais.
No plano cultural os desenvolvimentos mais marcantes são a emergência do espírito científico e a Reforma. O florescimento artístico e científico centrado na Itália do século XV, a Renascença, assinala o advento de novas perspectivas acerca do conhecimento – a autoridade dos filósofos clássicos é questionada e as verdades reveladas da religião postas em causa; em alternativa, o “livro da natureza”, a observação directa dos fenómenos naturais, é recomendado como fonte de verdade científica. A Reforma, isto é a separação entre as Igrejas Protestantes e a Igreja Católica, quebrou a unidade espiritual da Europa e enfraqueceu o poder moral e jurídico do Papa como autoridade suprema de último recurso. 
No plano económico, assistiu-se a uma intensificação do comércio, incluindo o comércio de longo curso decorrente da expansão marítima de Portugal e Espanha. Metais preciosos vindos do Novo Mundo em quantidade antes não imaginada desembarcavam todos os dias nos portos peninsulares disseminando-se depois por toda a Europa. As actividades financeiras expandiram-se. Novas manufacturas – a base da indústria transformadora – foram estabelecidas sobretudo no norte da Europa. A rede de comunicações terrestres, fluviais e marítimas cresceu e as barreiras ao comércio ( taxas e portagens de todos os tipos) no interior dos espaços económicos nacionais foram sendo derrubadas. A nação constituía-se progressivamente como um espaço de unidade não só politica como económica. 
No plano social a classe dos mercadores e financeiros, a burguesia mercantil e financeira, adquire poder em detrimento quer da aristocracia, quer dos artesãos auto-organizados em corporações assim como dos camponeses.
Estas mudanças articulam-se com alterações ao nível das ideias económicas. Com a perda de autoridade moral da Igreja e a progressiva legitimação moral e religiosa das actividades comerciais, a reflexão sobre temas económicos desloca-se da Ética para a Política. A questão económica no quadro da afirmação do poder real e do Estado Nação é a do enriquecimento do Estado – um objectivo fundado em argumentos de necessidade. A ordem social e a soberania nacional só poderiam ser defendidas das dissenções internas e dos ímpetos de conquista das nações rivais se o soberano dispusesse dos recursos económicos necessários para financiar forças de segurança interna, um exército e uma armada poderosos.
No contexto da afirmação das soberanias nacionais e da rivalidade entre os diferentes estados soberanos, a economia, ou o comércio, passa a ser encarado na óptica do poder e da rivalidade política. A economia é posta ao serviço da política. “Facilmente se concordará”, escrevia Colbert em 1664, “que só a abundância de dinheiro num Estado constituirá a diferença da sua grandeza e do seu poder”. Anos mais tarde, acrescentava: “Apenas uma determinada quantidade de dinheiro circula em toda a Europa [...] não é possível aumentar o dinheiro num reino sem o retirar simultaneamente, em quantidade idêntica, nos Estados vizinhos.”� Estas são ideias características do “mercantilismo”: a ênfase na grandeza nacional e a visão do dinheiro como instrumento dessa grandeza e a concepção do comércio internacional como um palco de guerra ou, como diríamos hoje, um jogo de soma nula, isto é, um jogo em que o que uns ganham é idêntico ao que os outros perdem. 
A expressão “sistema mercantil”, de que deriva o termo “mercantilismo”, foi introduzida por filósofos do século XVIII, nomeadamente o Marquês de Mirabeau e Adam Smith, para designar ideias económicas e políticas económicas dos séculos XV-XVIII, por eles consideradas erradas. O sistema de “liberdade natural” de Mirabeau e Smith era defendido em oposição ao princípio “mercantilista” de comando da economia pela autoridade central. Esta perspectiva hostil acerca das ideias e políticas económicas “mercantilistas” dificulta a sua compreensão. 
Na realidade, as ideias e concepções de política económica dispersas a que convencionalmente se deu o nome de “mercantilismo” são melhor entendidas se forem consideradas como ideias e políticas de transição. Elas representam uma profunda ruptura com a visão da Idade Média acerca do papel do Estado e da atitude relativa ao comércio e à aquisição de riqueza. Sem esta mudança de mentalidade, não teria sido possível conceber no século XVIII o “sistema de liberdade natural” de que falavam os fisiocratas� e Adam Smith. Ao mesmo tempo, sem a tão criticada intervenção do Estado, não teria sido possível estabelecer as bases de duas instituições fundamentais do capitalismo (ou “sistema de liberdade natural”) – o mercado e o trabalho assalariado. A afirmação destas instituições pressupunha a destruição da economia camponesa de subsistência, das corporações de artífices e das relações feudais, e essa destruição tinha de ser feita com violência, a partir de um centro de poder – o Estado. Pressupunha também o estabelecimento de uma ordem jurídica clara e uniforme em todo o espaço nacional capaz de enquadrar as relações mercantis e de produção. 
Nas páginas que se seguem irá centrar-se a atenção, sucessivamente, na mudança de concepção do papel do Estado e de atitudes relativas ao comércio, nas políticas “mercantilistas” em três das principais nações europeias e nas ideias económicas da época. 
Da razão de Estado à nobilitação do comércio 
Nos três séculos da história europeia aqui referidas, as ideias acerca do papel do Estado e as atitudes relativamente às actividades económicas transformaram-se profundamente. 
Em consequência da Reforma e da Contra-reforma, as principais nações europeias tornaram-se palcos de sangrentas guerras civis opondo católicos e protestantes. Tornou-se assim manifesto que a religião deixara de proporcionar o “cimento” que mantinha a sociedade unida. É nesse contexto que os espíritos se voltam da religião para o poder políticocomo garante alternativo da ordem social: a religião tornara-se um factor de divisão e não de unidade e as questões religiosas deveriam passar a segundo plano; o fundamental era assegurar a unidade da nação. À falta da Igreja, quem melhor que o Rei poderia desempenhar este papel unificador? Tudo, incluindo um poder tirânico, seria preferível à guerra civil. Acima dos indivíduos e do seu bem particular, proclamava-se agora, existe um interesse geral que deve ser garantido. Uma razão, um interesse, deveria sobrepor-se a todos os outros – a razão de Estado – e o depositário da razão de Estado, o intérprete do interesse geral tinha de ser o Rei. 
Em muitos países europeus, nomeadamente em França, acreditava-se mesmo que a concentração de todos os poderes no Rei era a condição para que o papel unificador fosse exercido sem falha. A soberania devia ser absoluta. No entanto, soberania absoluta não era claramente sinónimo de tirania, já que o rei, se bem que detentor absoluto do poder, deveria respeitar a liberdade dos súbditos, fazendo-se amar por eles. Para Jean Bodin (1529-1596), advogado e procurador do rei de França, o rei deveria governar de forma moderada “deixando a liberdade natural [e] a propriedade dos bens a cada um”.� A monarquia absoluta, como é sugerido por esta passagem de Jean Bodin, pode, portanto, ser vista como uma espécie de contrato entre o soberano e os cidadãos detentores de propriedade, em que ao Rei competia assegurar a paz social e aos cidadãos competia providenciar os recursos, nomeadamente financeiros, para o exercício desta actividade.
Neste sentido, o “mercantilismo” pode ser interpretado como uma plataforma de compromisso entre o poder real e a burguesia mercantil ascendente. 
Não é portanto de estranhar que se tenha assistido nesta mesma época a uma profunda mudança das atitudes face às actividades comerciais. Por referência à Idade Média, o comércio deixa de ser uma actividade de legitimidade duvidosa, própria de párias e marginais, para ser “uma profissão honrosa que não obriga a nada que não possa razoavelmente ser conciliado com a nobreza” (ver excerto 3).
A nobilitação do comércio é fundada no argumento de interesse de Estado: na medida em que a prosperidade do Estado depende da riqueza proporcionada pelo comércio, os interesses dos comerciantes coincidem com os interesses da nação e por essa razão não podem deixar de ser legítimos. 
Excerto 3
O Estado tira vantagem da aplicação daqueles que, entre os nossos súbditos, se entregam honradamente aos negócios. Temos sempre olhado o comércio por grosso como uma profissão honrosa que não obriga a nada que não possa razoavelmente ser conciliada com a nobreza, o que frequentemente nos levou a conceder cartas de nobilitação a alguns dos principais negociantes, para lhes testemunhar a consideração que temos pelos que se distinguem nesta profissão. �
Se bem que motivados pela aquisição de riqueza, os comerciantes servem o bem comum. Em consequência, argumenta-se, nada pode haver de errado na motivação do lucro, se ela faz com que a nação seja melhor servida (ver excerto 4). 
Excerto 4
Os mercadores são mais do que úteis ao Estado e a sua preocupação do lucro, que se exerce no trabalho e na indústria, faz e determina uma boa parte do bem público. Por isso lhes deve ser permitido o amor e a procura do lucro.� 
As políticas “mercantilistas”
O recurso de que os soberanos mais necessitavam era dinheiro, isto é ouro e prata, amoedado ou não. O dinheiro era necessário para manter os exércitos, construir navios, financiar a administração pública. Não é portanto de estranhar que as políticas “mercantilistas” tivessem como preocupação fundamental os fluxos de moeda e metais preciosos. Para que o Rei pudesse colectar impostos para financiar as suas despesas, a nação devia dispor de dinheiro.
As políticas “mercantilistas” assumiram formas muito diversas, consoante o contexto nacional. O mesmo objectivo – garantir os recursos financeiros à disposição da coroa – podia ser alcançado de diferentes formas. 
A partir dos casos espanhol, inglês e francês é possível identificar três tipos distintos de política mercantilista: o “bulionismo” (Espanha), o mercantilismo comercial (Inglaterra), e o mercantilismo manufactureiro (França).
O bulionismo�
Relativamente aos outros grandes estados europeus, a Espanha gozou a partir do século XV de uma situação particular de grande vantagem – acesso aos metais preciosos provenientes das minas do Novo Mundo. Este tesouro entrava em Sevilha regularmente, sendo uma parte cunhada e outra parte usada em barra como meio de pagamento pela coroa.� Aparentemente, o soberano espanhol gozava de melhores condições do que todos os outros para realizar os sonhos de grandeza nacional. E, de facto, o “ouro das Américas” conferiu durante algum tempo, ao rei e aos grandes de Espanha, um enorme poder aquisitivo.
No entanto, a par do afluxo de metais preciosos, observavam-se dois fenómenos: (a) os metais preciosos chegados a Sevilha, pareciam evaporar-se ao mesmo ritmo a que entravam; (b) o preço de todas as coisas aumentava à medida que o ouro e a prata eram transformados em moeda. Em consequência, apesar da entrada massiva de ouro e prata, os meios de pagamento continuavam a escassear.
O que se passava é que, em consequência da debilidade das suas manufacturas, a Espanha importava todos os artigos transformados, exportando apenas produtos primários como a lã. Se o ouro e a prata desapareciam era porque existia um défice crónico da balança comercial, agravado ainda pelas despesas da guerra no estrangeiro e o repatriamento dos lucros dos comerciantes estrangeiros instalados em Espanha.
Para conter a hemorragia de ouro e prata, os conselheiros da coroa começaram por propor a proibição pura e simples da sua saída para o estrangeiro. Face ao insucesso desta medida – os metais preciosos continuavam a sair apesar das pesadas penas para os incumpridores - tentou-se impedir a saída de moeda espanhola do território obrigando os comerciantes estrangeiros a aplicar os proveitos das suas vendas de mercadorias em Espanha na compra de produtos espanhóis, e os exportadores espanhóis a regressar com o valor das suas exportações em numerário. No entanto, estas medidas mais flexíveis tendiam a ser tão mal sucedidas como as anteriores. A causa da hemorragia mantinha-se: a Espanha carecia de uma base manufactureira para as exportações. 
O mercantilismo comercial
A Inglaterra libertou-se cedo das regulamentações bulionistas adoptando políticas de fomento do comércio externo (ver excerto 5). Estas políticas envolviam: (a) a protecção das indústrias exportadoras (b) a protecção da agricultura; e (c) o fomento da marinha e do comércio de longo curso. 
Excerto 5
O modo normal de fazer aumentar a nossa riqueza e as nossas espécies é o comércio externo, relativamente ao qual será necessário observar sempre a seguinte regra: vender aos estrangeiros mais do que lhes compramos para nosso consumo.� 
No século XVII a principal indústria exportadora inglesa era a indústria têxtil. Para proteger e fomentar esta indústria são proibidas as exportações de lã, garantindo-se deste modo às manufacturas uma fonte de matérias-primas abundantes, baratas e de boa qualidade; são aumentados os direitos alfandegários sobre as importações de tecidos de lã franceses e holandeses e proibidas as importações de tecidos de algodão indianos.
Ao mesmo tempo são encorajadas as exportações de cereais, quando os preços internos não ultrapassassem um determinado limiar, e as importações limitadas por taxas alfandegárias. Estas políticas agrícolas, em contraste com as francesas, permitiram a manutenção de condições de vida razoáveis para os agricultores rendeiros, favorecendo a modernização da agricultura e a expansão do mercado interno. 
Mas o principal pilar do “mercantilismo” inglês corresponde às políticas de fomento da marinha e do comércio de longo curso. Os Actos de Navegação, instituídos em 1651e 1660, estabelecem que as mercadorias europeias só poderiam ser transportadas para Inglaterra ou por navios ingleses ou por navios do país de origem e que os produtos coloniais só o podiam ser pela marinha inglesa ou colonial. O alvo destas medidas é a Holanda, a principal concorrente comercial da Inglaterra.
Em complemento aos Actos de Navegação, são instituídas, como medidas de fomento ao comércio de longo curso, as Companhias de Comércio privilegiadas, entre as quais a famosa Companhia das Índias Orientais. Estas companhias eram cartéis, ou sociedades por acções, a quem a coroa concedia um monopólio seja do comércio de um determinado produto seja do comércio numa zona geográfica. Além disso, o Estado concedia ainda muitas vezes protecção militar e cobertura diplomática. Esta protecção monopolista, militar e diplomática era justificada pela necessidade de compensar o elevado risco das empresas comerciais em regiões remotas do globo. 
O mercantilismo manufactureiro 
O “mercantilismo” francês, de que o ministro de Luís XIV, Colbert, foi protagonista, caracterizou-se sobretudo, por referência à modalidade espanhola e inglesa, pela ênfase no fomento industrial. O “mercantilismo” francês procurou explorar ao limite uma das formas possíveis de garantir o excedente da balança comercial e o afluxo de meios de pagamento: aumentar as exportações e substituir as importações por produção nacional. Esta estratégia dependia do sucesso no desenvolvimento das manufacturas. 
O desenvolvimento das manufacturas, segundo Colbert, exigia medidas de política em diferentes direcções�: (a) protecção aduaneira; (b) fomento à criação de empresas; (c) regulamentação da fabricação; (d) controlo dos custos de produção.
As medidas e protecção aduaneira de Colbert são simples. Trata-se, segundo ele próprio escreveu, de “isentar as entradas de mercadorias que servem para as manufacturas do reino” e “sobrecarregar as que entram manufacturadas”.� 
O fomento à criação de empresas envolvia o incentivo a empresários nacionais e estrangeiros a quem eram concedidos privilégios especiais, por vezes monopólios, isenções fiscais, honras e subsídios. À falta de iniciativas empresariais, o próprio Estado fundava manufacturas, dirigindo-as, o que ocorreu com muito sucesso no ramo do mobiliário, das tapeçarias e da indústria de guerra. 
Para garantir a reputação dos produtos manufacturados franceses, o fabrico era detalhadamente regulamentado, do processo às características, e as infracções pesadamente punidas. É assim criado um aparelho de controlo, uma administração económica tendo em vista o cumprimento destas funções reguladoras. 
A conquista de mercados internacionais dependia também do preço dos produtos manufacturados. Para garantir a competitividade e os lucros das manufacturas, Colbert preocupou-se então com o controlo dos custos de produção, particularmente os custos do trabalho e do capital. O custo do capital era controlado, com maior ou menor sucesso, com a fixação legal da taxa de juro em 5%. Já o custo do trabalho exigia medidas de maior alcance. A preocupação era evitar o aumento dos salários. Na medida em que o nível dos salários parecia depender da existência de mão-de-obra operária em quantidade abundante, Colbert procurou estimular a natalidade, combater a emigração, reprimir a ociosidade e a vagabundagem, contornar os regulamentos corporativos que limitavam o número de oficiais e aprendizes nas oficinas. Na medida em que o nível dos salários parecia depender também do preço dos bens de subsistência, Colbert procurou controlar esse preço, incentivando o aumento da produção de trigo (base da alimentação das famílias operárias), proibindo a substituição de terras de cultivo de trigo por outras produções mais rentáveis, nomeadamente a vinha, e proibindo a sua exportação. A política agrícola de Colbert, que contrasta com a seguida em Inglaterra no mesmo período, haveria de se tornar no alvo privilegiado da crítica às suas políticas.
As ideias económicas “mercantilistas”
Subjacente às políticas mercantilistas estava uma reflexão sistemática sobre questões económicas. Os fenómenos monetários em Espanha, nomeadamente a carestia generalizada, despoletaram uma análise por parte dos escritores eclesiásticos da Escola de Salamanca, nomeadamente Navarrus (m. 1586) que embora ainda enquadrada por preocupações características da escolástica medieval, tendia já a abordar os fenómenos numa óptica positiva. Escrevia Navarrus que, como todas as mercadorias, o valor do dinheiro tende a variar conforme é escasso ou abundante. Isso explicava a razão pela qual o preço de todas as coisas se tornava mais caro quando o ouro e a prata começaram a afluir a Espanha em abundância. Na realidade, era o valor do dinheiro que havia diminuído. Isso explicava também, segundo Tomas de Mercado, um outro autor da Escola de Salamanca, a razão pela qual o ouro e a prata desapareciam de Espanha. Sendo abundantes em Espanha e escassos noutros pontos da Europa, os metais preciosos tendiam a deslocar-se para onde o seu valor era superior. 
Jean Bodin (1530-96), em França e Thomas Gresham, em Inglaterra, iriam adiantar uma explicação idêntica à de Navarrus para a inflação, estabelecendo deste modo a relação entre a quantidade de moeda e o nível geral de preços – a base da moderna teoria quantitativa da moeda.� 
Gresham explicava também a razão pela qual num sistema monetário bi-metalista (prata e ouro, por exemplo) um dos tipos de moeda pode desaparecer de circulação – a razão pela qual “a má moeda expulsa a boa moeda” (lei de Gresham). Se a moeda de ouro se tornar abundante relativamente à moeda de prata, as pessoas tenderam a guardar (entesourar) a moeda de prata, fazendo os seus pagamentos na de ouro. 
Os debates em torno da doutrina da balança de comércio proporcionam também alguns elementos importantes de análise económica. A escassez de moeda experimentada pela Espanha fazia-se sentir igualmente em Inglaterra. Gerald Malynes, mercador e funcionário da coroa, atribuía a escassez de moeda às actividades especulativas dos cambistas. A especulação cambial levaria à desvalorização da moeda inglesa e por esta razão os produtos ingleses eram vendidos baratos no estrangeiro e os produtos estrangeiros importados caros. Como consequência, a balança de comércio inglesa tendia a ser deficitária. O remédio seria substituir os cambistas por um Cambio Real.
Thomas Mun, invertendo o argumento, contrapunha que o que determina as taxas de câmbio são as trocas comerciais. Se as importações são superiores às exportações, há mais moeda inglesa a sair do país do que moeda estrangeira a entrar. A consequência é a desvalorização relativa da moeda inglesa nos mercados cambiais. 
A implicação política é que para impedir a saída do reino de moeda inglesa e a sua desvalorização seria preciso reequilibrar a balança de comércio e não tentar substituir os cambistas pelo Estado. Os argumentos de Mun foram fundamentais para afastar as políticas inglesas do bulionismo deslocando-as para o fomento do comércio. Na óptica de Mun, um administrador da Companhia das Índias Orientais, a moeda era apenas um instrumento do comércio e não um fim em si. Qualquer limitação ao livre fluxo internacional de moeda constituiria um entrave ao comércio.
Síntese
A economia para filósofos da Grécia Antiga, como Xenofonte e Aristóteles, era a aquisição, através da produção na casa agrícola familiar, dos recursos necessários à vida e úteis à família. 
Estes filósofos contribuíram para o pensamento económico com ideias e conceitos importantes, nomeadamente os de divisão do trabalho, valor de uso e valor de troca, economia (produção de valores de uso), crematística (produção de valores de troca), excedente, valor, moeda e monopólio.
Os escolásticos medievais contribuíram com uma argumentação que ainda é actual a favor da propriedade privada que inclui a identificação de limites para o direito de propriedade. A propósito do “preço justo” contribuíram para a discussãoda questão do valor e anteciparam os problemas decorrentes das “assimetrias de informação”. A discussão sobre a usura, parecendo obsoleta, encerra o problema da legitimidade dos contractos em situação de desequilíbrio de poder.
A reflexão económica da Antiguidade Clássica e da Idade Média é normativa – orientada para a determinação do que deve ser –, e não positiva – referente ao que é.
As ideias económicas antigas contidas na filosofia clássica grega e no pensamento escolástico medieval são ainda hoje desvalorizadas e ignoradas por muitos economistas contemporâneos. Considera-se que o facto de estarem embutidas na reflexão moral as torna não-cientificas.
Mas a separação entre Economia e Ética é no mínimo problemática. Se admitirmos a inevitabilidade e a desejabilidade desta relação, o contributo de filósofos antigos, como Aristóteles, e de escolásticos medievais pode ser relevante mesmo em relação aos problemas éticos da economia do presente.
Entre o século XV e o século XVIII a Europa sofre um conjunto de transformações sociais que preparam a transição de uma sociedade feudal e teocrática para uma sociedade capitalista e laica.
A expressão “sistema mercantil”, de que deriva o termo “mercantilismo”, foi introduzida por filósofos do século XVIII, nomeadamente o Marquês de Mirabeau e Adam Smith, para designar ideias económicas e políticas económicas dos séculos XV-XVIII, por eles consideradas erradas.
São ideias características do “mercantilismo”: a ênfase na grandeza nacional e a visão do dinheiro como instrumento dessa grandeza e a visão do comércio internacional como um palco de guerra ou um jogo em que o que uns ganham é idêntico aos que os outros perdem.
Ao longo desta fase de transição, as concepções do papel do Estado e da sua relação com a economia modificam-se: a economia é posta ao serviço do poder político e o poder político é posto ao serviço das actividades comerciais e manufactureiras. O comércio é legitimado e nobilitado como actividade que contribui para o interesse geral.
As políticas “mercantilistas” assumiram formas muito diversas consoante o contexto nacional. O mesmo objectivo – garantir os recursos financeiros à disposição da coroa – podia ser alcançado de diferentes formas. 
A partir dos casos espanhol, inglês e francês é possível identificar três tipos distintos de política mercantilista: o “bulionismo” (Espanha), o mercantilismo comercial (Inglaterra), e o mercantilismo manufactureiro (França).
O bulionismo consistia num conjunto de medidas de política destinadas a impedir a saída de metais preciosos para o estrangeiro.
O mercantilismo comercial enfatizava a importância de controlar as principais rotas comerciais para garantir uma balança comercial excedentária.
O mercantilismo manufactureiro enfatizava a importância da indústria transformadora para aumentar as exportações e substituir as importações.
Subjacente às políticas mercantilistas estava uma reflexão sistemática sobre questões económicas envolvendo:
A relação entre a quantidade de moeda e o nível de preços;
A relação entre a balança comercial e a taxa de câmbio.
Bibliografia
Sobre o pensamento económico da Grécia antiga deve consultar-se a seguinte obra de Aristóteles:
Aristóteles, Política (Caps. 1 e 2), Lisboa: Vega, 1998. 
Como referência complementar indica-se o seguinte livro:
Backhouse, Roger (2002), The Penguin History of Economics, Londres: Peguin Books, Cap. 1.
Sobre o pensamento escolástico medieval, consultar:
Backhouse, Op cit., Cap. 2;
Walsh, Adrian (2004), The morality of the market and the medieval schoolman, Politics, Philosophy & Economics, N. 3, pp. 241 – 259.
Sobre o “mercantilismo” pode ler-se em complemento:
Backhouse (2002), Cap. 3.
Bibliografia em português: 
Sedas Nunes, Adérito (1992), História dos Factos e das Doutrinas Económicas, Lisboa: Editorial Presença, pp. 25-40.
Deyon, Pierre (1969), O Mercantilismo, Lisboa: Gradiva.
� Quantidade de comida preparada por cozinheiro e por unidade de tempo.
� Vinte e dois séculos depois, Adam Smith iria transformar a divisão do trabalho na mais importante das causas da riqueza das nações.
� Aristóteles, Política, Lisboa: Vega, 1998, pág. 77. A sandália de Aristóteles e os seus dois usos transformaram-se na Economia Política, de Adam Smith a Karl Marx, numa distinção fundamental entre o “valor de uso” e o “valor de troca” dos bens. 
� Aristóteles, Op. cit, pág. 77. É assim introduzido mais um conceito central na Economia de todos os tempos – a noção de excedente, isto é aquilo que se possuiu acima das necessidades ou dos desejos. 
� Aristóteles, Op. Cit., pág. 77
� A distinção entre produção de valores de uso e produção de valores de troca é central na obra de Karl Marx.
� Em grego antigo tokos era utilizado simultaneamente para “filho”, “símbolo” e “moeda”. O juro seria um “filho” da moeda. O debate em torno da legitimidade, ou utilidade social, da usura, ou como hoje dizemos do crédito, prolongou-se por séculos. A ideia de esterilidade associada à moeda manteve-se até aos nossos dias em debates de política económica tendo adquirido novos significados (por exemplo, as discussão sobre se as variações da quantidade de moeda têm ou não efeitos duradouros no nível de produção).
� Aristóteles, Op. cit., pág. 79.
� Em que � EMBED Equation.3 ��� é a razão de troca de mesas por sandálias.
� Aristóteles, Ética a Nicomano, Lisboa: Quetzal, Livro V, págs 117-119.
� Aristóteles, Op. cit, pág. 89.
� O argumento é Aristotélico (Aristóteles, Política, Lisboa: Vega, 1998, pág. 109): “Quanto mais uma coisa é comum a um maior número, menos cuidado recebe. Cada um preocupa-se sobretudo com o que é seu; quanto ao que é comum preocupa-se menos, ou apenas na medida do seu interesse particular. Aliás, desleixa-se ainda mais ao pensar que outros cuidam dessas coisas.” A sabedoria popular portuguesa incorporou-o com o ditado “olho de dono engorda o gado”; a Economia contemporânea, ignorando a precedência de Aristóteles, no chamado “problema da boleia” (free-riding) que os estudantes de Economia encontram nas disciplinas de Economia Pública.
� Veja-se de novo Aristóteles (Op. cit. pág. 109): “Por muito belo que pareça, que todos chamem ‘meu’ ao mesmo objecto, é impossível, e não conduz, de modo algum à concórdia.” 
� Vd. Walsh, Adrian (2004), “The morality of the market and the medieval schoolman”, in Politics, Philosophy & Economics, Nº. 3, pp. 241 – 259.
� Estas duas afirmações apresentadas como compatíveis correspondem a teorias do valor que, como mais tarde veremos, surgem na teoria económica como contraditórias – uma teoria do valor-trabalho e uma teoria do valor-utilidade. A referência a Alberto Magno e as citações remetem para Backhouse, Roger (2002), The Penguin History of Economics, Londres: Peguin Books, pág. 43. 
� Imagine-se o caso de um vendedor de automóveis de segunda mão quando o comprador não é um mecânico experiente. Esta “assimetria de informação” é hoje um conceito central de um ramo da microeconomia. Os economistas contemporâneos que a “descobriram”, ou desconheciam Tomás de Aquino, ou evitam referi-lo como inspirador.
� Ver Walsh, Adrian (2004), The morality of the market and the medieval schoolman, Politics, Philosophy & Economics, N. 3, pp. 241 – 259.
� Note-se esta noção de “perda de oportunidade de ganho” (lucrum cessans) tem correspondência na noção económica contemporânea de custo de oportunidade.
� As relações entre Economia e Moral são tratadas em profundidade na obra de Amartya Sen, prémio Nobel da Economia em 1998. Ver nomeadamente o seu On Ethics and Economics, Oxford: Basil Blackwell, 1987. 
� Pode-se contra-argumentar que, na medida em que comportamento económico é enquadrado pela lei, à Economia basta assumir que os agentes cumprem a lei, competindo ao Direito determinar o que pode e não pode, ou o que deve e não deve, ser feito. Deste modo seria o Direito, e não a Economia, o domínio do saberrelacionado com a Moral. No entanto, na medida em que a Economia não só tem pretensões de participar na concepção das leis como participa efectivamente, o problema regressa na sua forma original. 
� Uma sociedade laica não é necessariamente uma sociedade não religiosa. A laicidade refere-se à separação das autoridades política e religiosas e à afirmação de um domínio do conhecimento assente na razão e na observação da natureza, independente da religião. 
� Citado por Deyon, Pierre (1989), O Mercantilismo, Lisboa: Gradiva, pág. 33.
� Escola de pensamento económico francesa que será referida adiante.
� Citado em Bailly, J.-L. et al. (2000), Histoire de la Pensée Économique, Rosny: Bréal
� Édito de 1701 de Colbert citado por Pierre Deyon, Op. Cit., pág. 67.
� Antoine de Montchrétien, Traité de l’Économie Politique, citado por Deyon, Pierre (1989), O Mercantilismo, Lisboa: Gradiva, pág. 67.
� Designação derivada de “bulion”, metal precioso.
� Ver, Sedas Nunes, História dos Factos e das Doutrinas Económicas, Lisboa: Editorial Presença, 1992, pág. 30.
� Thomas Mun, 1664, England’s Treasure by Foreign Trade, citado por Deyon, Pierre (1989), O Mercantilismo, Lisboa: Gradiva pág. 41
� Vd. Sedas Nunes, Op. Cit, pág. 33-36.
� Colbert, citado por Sedas Nunes, Op Cit., pág. 34.
� A teoria que explica a dinâmica dos preços (inflação e deflação) a partir da relação entre o produto e a quantidade de moeda em circulação.
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