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História do Pensamento Econômico

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HISTÓRIA DO 
PENSAMENTO 
ECONÔMICO
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
GRADUAÇÃO
Unicesumar
C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a 
Distância; IORI, Carla Fabiana de Andrade Gonçalves. 
História do Pensamento Econômico. Carla Fabiana de Andrade 
Gonçalves Iori. 
Maringá-Pr.: Unicesumar, 2018. Reimpresso em 2022.
198 p.
“Graduação - EaD”.
1. Pensamento. 2. História. 3. Economia. 4. EaD. I. Título.
ISBN 978-85-459-0584-4
CDD - 22 ed. 330.9
CIP - NBR 12899 - AACR/2
Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário 
João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828
Impresso por:
Reitor
Wilson de Matos Silva
Vice-Reitor
Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor Executivo de EAD
William Victor Kendrick de Matos Silva
Pró-Reitor de Ensino de EAD
Janes Fidélis Tomelin
Presidente da Mantenedora
Cláudio Ferdinandi
NEAD - Núcleo de Educação a Distância
Diretoria Executiva
Chrystiano Minco�
James Prestes
Tiago Stachon 
Diretoria de Graduação e Pós-graduação 
Kátia Coelho
Diretoria de Permanência 
Leonardo Spaine
Diretoria de Design Educacional
Débora Leite
Head de Produção de Conteúdos
Celso Luiz Braga de Souza Filho
Head de Curadoria e Inovação
Jorge Luiz Vargas Prudencio de Barros Pires
Gerência de Produção de Conteúdo
Diogo Ribeiro Garcia
Gerência de Projetos Especiais
Daniel Fuverki Hey
Gerência de Processos Acadêmicos
Taessa Penha Shiraishi Vieira
Gerência de Curadoria
Giovana Costa Alfredo
Supervisão do Núcleo de Produção 
de Materiais
Nádila Toledo
Supervisão Operacional de Ensino
Luiz Arthur Sanglard
Coordenador de Conteúdo
Silvio César de Castro
Qualidade Editorial e Textual
Daniel F. Hey, Hellyery Agda
Design Educacional
Amanda Peçanha dos Santos; Yasminn Talyta 
Tavares Zagonel
Iconografia
Ana Carolina Martins Prado
Projeto Gráfico
Jaime de Marchi Junior; José Jhonny Coelho
Arte Capa
Arthur Cantareli Silva
Editoração
Ellen Jeane da Silva
Revisão Textual
Kaio Vinicius Cardoso Gomes
Ilustração
Bruno Cesar Pardinho
Viver e trabalhar em uma sociedade global é um 
grande desafio para todos os cidadãos. A busca 
por tecnologia, informação, conhecimento de 
qualidade, novas habilidades para liderança e so-
lução de problemas com eficiência tornou-se uma 
questão de sobrevivência no mundo do trabalho.
Cada um de nós tem uma grande responsabilida-
de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos-
sos farão grande diferença no futuro.
Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar 
assume o compromisso de democratizar o conhe-
cimento por meio de alta tecnologia e contribuir 
para o futuro dos brasileiros.
No cumprimento de sua missão – “promover a 
educação de qualidade nas diferentes áreas do 
conhecimento, formando profissionais cidadãos 
que contribuam para o desenvolvimento de uma 
sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi-
tário Cesumar busca a integração do ensino-pes-
quisa-extensão com as demandas institucionais 
e sociais; a realização de uma prática acadêmica 
que contribua para o desenvolvimento da consci-
ência social e política e, por fim, a democratização 
do conhecimento acadêmico com a articulação e 
a integração com a sociedade.
Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al-
meja ser reconhecido como uma instituição uni-
versitária de referência regional e nacional pela 
qualidade e compromisso do corpo docente; 
aquisição de competências institucionais para 
o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con-
solidação da extensão universitária; qualidade 
da oferta dos ensinos presencial e a distância; 
bem-estar e satisfação da comunidade interna; 
qualidade da gestão acadêmica e administrati-
va; compromisso social de inclusão; processos de 
cooperação e parceria com o mundo do trabalho, 
como também pelo compromisso e relaciona-
mento permanente com os egressos, incentivan-
do a educação continuada.
Diretoria Operacional 
de Ensino
Diretoria de 
Planejamento de Ensino
Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está 
iniciando um processo de transformação, pois quando 
investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou 
profissional, nos transformamos e, consequentemente, 
transformamos também a sociedade na qual estamos 
inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu-
nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de 
alcançar um nível de desenvolvimento compatível com 
os desafios que surgem no mundo contemporâneo. 
O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de 
Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo 
este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens 
se educam juntos, na transformação do mundo”.
Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica 
e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con-
tribuindo no processo educacional, complementando 
sua formação profissional, desenvolvendo competên-
cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em 
situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado 
de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal 
objetivo “provocar uma aproximação entre você e o 
conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento 
da autonomia em busca dos conhecimentos necessá-
rios para a sua formação pessoal e profissional.
Portanto, nossa distância nesse processo de cresci-
mento e construção do conhecimento deve ser apenas 
geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos 
que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou 
seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de 
Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista 
às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis-
so, lembre-se que existe uma equipe de professores 
e tutores que se encontra disponível para sanar suas 
dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza-
gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e 
segurança sua trajetória acadêmica.
A
U
TO
R
A
Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori
Mestrado em Desenvolvimento Regional e Agronegócio - Universidade 
Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE), especialização em Gestão Financeira 
e Contábil, Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Paranavaí (FAFIPA) 
e graduada pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) em Ciências 
Econômicas. Atua como professora de Economia na Unicesumar desde 
2009. Foi instrutora de matemática financeira com utilização da calculadora 
financeira hp-12c no SENAC. De 2002 a 2011 atuou na instituição financeira 
HSBC Bank Brasil S/a Banco Múltiplo como gerente de negócios. Desenvolve 
pesquisas na área de Economia Política.
<http://lattes.cnpq.br/9999135590410897>
SEJA BEM-VINDO(A)!
Olá caro(a) aluno(a), seja bem vindo(a) ao livro de História do Pensamento Econômico. 
É uma imensa satisfação apresentar a você esse material. Ele é fruto do encontro viven-
ciado durante minha atividade estudantil e profissional. Isso porque é uma temática 
que me encanta desde a graduação em Ciências Econômicas na Universidade Estadual 
de Maringá, passando pela minha experiência em instituição financeira, quando pude 
perceber que o mercado obedece à “leis econômicas universais” e na carreira acadêmica, 
ao observar que a história é ferramenta explicativa de muitas realizações do presente. 
Trata-se de um trabalho de cunho exploratório e bibliográfico para atender a uma de-
manda de caráter didático informativo. Para isso fizemos uso de uma série de manuais 
de História do Pensamento Econômico que em muito contribuíram para que fosse pos-
sível essa compilação de assuntos. Obras como a de Stanley L. Brue, Hunt, Roberson 
de Oliveira e Adilson Gennari nos acompanharam durante todo o processo de desen-
volvimento da pesquisa. Ainda é importante expor que, pelo caráter interdisciplinar da 
economia, fizemos uso, por muitas vezes, da obra de Marilena Chaui: Convite à filosofia. 
Será uma viagem temporal entre a Antiguidade clássica e os dias atuais. Iremos nos re-
meter à Xenofonte (primeira metade do século IV a. C.) com o seu tratado de ética. Co-
nhecendo uma abordagem fundamental, possibilitando o resgate da noção ética em 
economia, comojá tratado por Sen (1999). De modo que a proposta é que a economia 
precisa ser reavaliada para um sentido que transcende as finanças, ou seja, a riqueza não 
é o fim em si mesma. E sim, a economia é um meio de ordenar a produção e a distribui-
ção. Reavaliar o propósito hedonístico ao maximizar o bem individual em prol de uma 
noção mais ampla com vistas à sociedade.
Você perceberá que a economia é uma disciplina dinâmica e, desse modo, novas ideias 
se desenvolvem a todo tempo nesse contexto. Assim, será possível, querido(a) leitor(a), 
perceber que um pensamento é estendido e ampliado mediante outro. Mesmo permea-
do por críticas, um está necessariamente ligado ao outro. Em termos teóricos, nem sem-
pre, mas um atrás do outro vai obedecendo à temporalidade, submetido aos contextos 
presentes em cada espaço temporal. 
Assim, conhecerá a Escola Clássica, Escola Marxista, Neoclássica e Keynesiana. Todas 
elas, impreterivelmente, estavam sujeitas à expansão e concorrência de ideias, que nem 
sempre produziram “verdades” no sentido científico da palavra, mas generalizaram um 
grupo de princípios básicos da economia quase que universalmente aceitos. Esses prin-
cípios estão sempre surgindo e se renovando, contudo, muitas vezes, com o pé no pas-
sado. E dessa maneira percebemos que novas ideias raramente levam ao abandono da 
herança já existente e, isso é muito bom!
APRESENTAÇÃO
HISTÓRIA DO PENSAMENTO ECONÔMICO
Por fim, é um trabalho introdutório e simplificado diante da proporção que é, de 
fato, o pensamento econômico nas suas mais diversas vertentes, que não podemos 
abordar por aqui por uma questão didática. É certamente um trabalho realizado 
com muita dedicação e seriedade por parte da Unicesumar, representada aqui pelo 
professor Silvio Castro, coordenador do curso de Ciências Econômicas, que confiou 
a mim esse trabalho, ao qual sou grata por ter a possibilidade de compartilhar meu 
conhecimento com vocês. Bons estudos!
APRESENTAÇÃO
SUMÁRIO
09
UNIDADE I
O PENSAMENTO ECONÔMICO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
15 Introdução 
16 O Papel da História na Ciência Social 
18 Os Primeiros Filósofos 
23 Os Romanos 
25 A Teologia e a Análise Econômica 
31 O Sistema Feudal e uma Análise Crítica 
45 Mercantilismo 
51 A Escola Fisiocrática 
56 Considerações Finais 
62 Referências 
63 Gabarito 
UNIDADE II
A ESCOLA CLÁSSICA
69 Introdução 
70 Visão Geral da Escola Clássica 
75 Adam Smith 
85 Thomas Malthus 
90 David Ricardo 
SUMÁRIO
10
98 Os Utilitaristas e a Utilidade 
106 Considerações Finais 
111 Referências 
112 Gabarito 
UNIDADE III
ESCOLA MARXISTA
115 Introdução 
116 A Teoria da História de Marx 
123 Teoria do Valor - Trabalho 
126 A Teoria da Exploração 
128 O Acúmulo de Capital 
131 O Conflito de Classes 
133 Considerações Finais 
138 Referências 
139 Gabarito 
SUMÁRIO
11
UNIDADE IV
A ESCOLA NEOCLÁSSICA
143 Introdução 
144 Os Marginalistas 
157 A Escola Neoclássica 
167 Considerações Finais 
172 Referências 
173 Gabarito 
UNIDADE V
A ESCOLA KEYNESIANA E OS DIAS ATUAIS
177 Introdução 
178 Contexto Histórico e Biografia de Keynes 
179 A Teoria de Keynes 
188 Neoliberalismo 
188 Escola de Chicago 
191 Considerações Finais 
196 Referências 
197 Gabarito 
198 CONCLUSÃO 
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Professora Me. Carla Fabiana de Andrade Gonçalves Iori 
O PENSAMENTO 
ECONÔMICO NA 
ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Objetivos de Aprendizagem
 ■ Compreender a importância da história para as ciências sociais.
 ■ Conhecer a origem da economia por meio do pensadores gregos.
 ■ Refletir o relevante papel da teologia na análise econômica.
 ■ Analisar as características do sistema feudal.
 ■ Verificar as característica do Mercantilismo.
 ■ Demonstrar a relevância da questão agrária
Plano de Estudo
A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:
 ■ O papel da história na ciência social
 ■ Os primeiros filósofos
 ■ Os romanos
 ■ A teologia e a análise econômica
 ■ O sistema feudal e uma análise crítica
 ■ Mercantilismo
 ■ A escola fisiocrática
INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a)! A Unidade I deste material é responsável por nos remeter à 
importância da análise histórica para o pensamento econômico. Você vai per-
ceber, por exemplo, a relação intrínseca entre economia e filosofia.
É fundamental para todos aqueles que buscam compreender, ainda que de 
forma geral, o mundo/sociedade em que vivemos ser apresentado ao seu pas-
sado, de maneira a preservar a memória, à medida que conhecemos a importância 
de cada pensador que se ocupa em contribuir para o pensamento econômico. 
Destarte, podemos desenvolver um processo de reflexão para assumirmos o 
papel de tomadores de decisão dentro de um ambiente econômico em que somos 
todos co-responsáveis.
Trata-se de um caminho pontuado pela dimensão temporal que nos levará 
a perceber que a economia nasceu de um tratado sobre ética, no qual procu-
rava orientar o proprietário rural em como utilizar corretamente sua riqueza, 
fornecia informações acerca de agronomia, identificava as virtudes e qualida-
des necessárias para conduzir a família. E finaliza, ainda, em um tempo com a 
questão rural como centro das atenções.
A você, caro(a) aluno(a), será revelado que até o século XVIII a economia 
(como a conhecemos hoje) ainda estava em processo “gestacional” sob a ótica de 
pensadores gregos e pela Igreja Medieval. A partir da civilização grego-romana, 
no ano 1000 a.C., passa-se a notar uma preocupação pelos assuntos econômi-
cos, surgindo estudos embrionários sobre riqueza, valor econômico e moeda. 
Aprenderemos ainda sobre as ideias de: Platão, Aristóteles, os romanos, Santo 
Tomás de Aquino, Santo Agostinho, Lutero e João Calvino. Pensadores funda-
mentais da história antiga da economia. 
E na evolução do pensamento, será relevante tratar do papel do Mercantilismo 
e da primeira Escola da Economia, a Escola Fisiocrática.
Neste entretempo, o problema agrário era relevante. O sistema feudal é o 
ponto de partida para o entendimento do nosso sistema atual de produção. 
Ótima leitura!
Introdução
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O PENSAMENTO ECONÔMICO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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O PAPEL DA HISTÓRIA NA CIÊNCIA SOCIAL
A história tem como objeto de estudo o “fato”, ou seja, tem um compromisso de 
trabalhar com aquilo que aconteceu (passado). Pode ter sido algo que ocorreu 
recentemente ou em tempos de escassos registros. Mais especificamente, trata-
-se de preservar a memória, apropriando-se do fator tempo, da cronologia dos 
fatos. A nossa aventura, caro(a) leitor(a), é adentrarmos no desenvolvimento do 
pensamento da economia. Para tanto, vamos conhecer datas, pensadores, enfim, 
vamos percorrer o pensamento econômico, para que o estudo possa contribuir 
com alternativas ao estado da atual ciência econômica. Portanto, é no campo 
da dimensão temporal do pensamento econômico; evolução das ideias econô-
micas, que você irá caminhar neste trabalho.
A partir do século XVIII, os filósofos estabeleceram que os humanos dife-
rem-se da natureza graças ao pensamento, à linguagem, ao trabalho e à ação 
voluntária livre, conforme Chauí (2014). Sob a perspectiva histórica, nos pauta-
mos na narrativa das “lutas reais dos seres humanos que produzem e reproduzem 
suas condições materiais de existência”. Em outras palavras, o trabalho é o que 
O Papel da História na Ciência Social
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caracteriza o ser social. A interação dos seres humanos se dá, por conta de sua 
especificidade de realizar transformações concretas na natureza para ter condições 
de existência. É por meio da atividadelaborativa que o homem se desenvolve de 
um estágio pré-hominídeo para a noção de humanidade (ENGELS, 2015, p. 215). 
A aplicação do esforço humano (trabalho), buscando obter, por meio de 
bens ou de serviços, a satisfação das necessidades, para Gastaldi (2006), é o que 
caracteriza a atividade econômica. Estamos tratando, portanto, do modo como, 
em condições determinadas e não escolhidas por eles, os homens produzem 
materialmente (pelo trabalho, pela organização econômica) sua existência e dão 
sentido a essa produção material.
Temos aqui um ponto de chegada e partida. A partir da contextualização 
da importância da dimensão histórica temporal dos fatos; da diferenciação entre 
humanos e natureza; da noção da categoria trabalho, para a humanidade; e da 
relação trabalho/atividade econômica, podemos buscar o significado da pala-
vra economia.
O termo vem do grego oikonomikos e resulta da composição da palavra oikos 
(que significa casa ou unidade doméstica) com o radical semântico nom (que 
significa regulamentar, administrar, organizar). O sentido que essa palavra teve 
até meados do século XVIII foi estabelecido pela obra de Xenofonte (pensador 
grego que viveu entre 431 a.C. -355 a.C.) Ho oikonomikos, escrita na primeira 
metade do século IV a.C. é basicamente um tratado de ética. Para os gregos era 
inconcebível a ética fora da comunidade política (GENNARI, 2009).
As considerações do autor não constituem uma análise econômica pro-
priamente dita, pois não há, por exemplo, preocupação com os problemas da 
eficiência da produção ou da comercialização, mas apresenta noções de ges-
tão dos bens, do domínio sobre o núcleo familiar e os escravos. Tem expressões 
objetivas de como se estruturava uma “unidade familiar” entre os gregos anti-
gos. Trata-se de uma espécie de cartilha registrando noções de como ter uma 
vida boa. Com caminhos para o proprietário rural saber o que seria uma vida 
boa, a maneira correta de se utilizar a riqueza. Também identifica as virtudes e 
qualidades necessárias ao “senhor” para dirigir bem a sua casa e fornece orien-
tações rudimentares de agronomia. Ainda aborda sobre a educação e as virtudes 
das mulheres e, além disso, como os escravos devem ser dominados e educados.
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O PENSAMENTO ECONÔMICO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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Esse conhecimento é relevante no entendimento da evolução do pensar eco-
nômico. Isso pois, estamos tratando do primeiro registro acerca de assuntos, 
considerados hoje, pertinentes à área econômica.
OS PRIMEIROS FILÓSOFOS
Momento relevante do nosso trabalho: podemos imaginar que a partir daqui 
nossa trilha vai se tornando mais nítida, em que os pensadores apresentam 
contribuições próprias para o pensamento econômico.
PLATÃO
A abordagem de Platão (428-27 a.C.- 348 - 47 a.C.), con-
temporâneo de Xenofonte, também trata da ética, mas sob 
o foco da pólis (é a cidade, não como conjunto de edifí-
cios, ruas e praças, e sim como “espaço cívico”). Deve-se 
à Platão a primeira análise que atribui a divisão social 
do trabalho o papel de promover a coesão da comuni-
dade. Chauí (2014) mostra que para o filósofo grego: “os 
sábios legisladores devem governar, os militares, subor-
dinados aos legisladores, devem defender a cidade e, os 
membros da classe econômica, subordinados aos legisladores, devem assegurar 
a sobrevivência da pólis”.
Para o filósofo, por meio da educação dos cidadãos (homens e mulheres) é 
que se poderia atingir a realização da “cidade justa”. Esta, sob a perspectiva platô-
nica é governada pelos filósofos, administrada pelos cientistas, protegidas pelos 
guerreiros e mantida pelos produtores. Para a situação de uma cidade governada 
pelos proprietários (que não pensam no bem comum da pólis e lutariam por 
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Os Primeiros Filósofos
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interesse próprios), ou na dos militares (que mergulharam a cidade em guerras 
para satisfazer seus desejos particulares de honra e glória) retrataria a situação de 
uma “cidade injusta”. Somente os filósofos apresentariam o interesse de cuidar do 
bem geral da pólis e somente eles podem governar com justiça (CHAUÍ, 2014).
Se para Platão a preocupação era a educação e formação do dirigente polí-
tico (o governante filósofo), para seu pupilo, Aristóteles (384 a.C. -322 a.C.) era 
a qualidade das instituições políticas (assembleias, tribunais, forma da coleta de 
impostos e tributos, distribuição da riqueza, organização do exército etc.) que 
assumia destaque, no que se referia à política de modo geral. 
ARISTÓTELES
Podemos elencar, caro(a) leitor(a), como sendo esse um ponto fundamental do 
nosso entendimento sobre a importância do legado do pensamento grego, como 
berço do pensamento ocidental das ideias econômicas. Aristóteles formulou con-
ceitos-chave que influenciaram todo o pensamento econômico produzido nos 
séculos seguintes. O filósofo se debruçou sobre as causas que levaram ao surgi-
mento da pólis, as relações entre o cidadão e a cidade, tratou dos tipos de governo 
e das condições de sua conservação e subversão. A abordagem dos temas econô-
micos aparece na obra quando ele trata das condições necessárias 
para a subsistência da família e da cidade (GENNARI, 2009).
As relações de troca com a natureza e com a comunidade, em 
geral, é, para Aristóteles a arte da aquisição. Haja vista que essa 
transação é determinante para a sobrevivência de cada família 
em particular e da cidade como um todo. Segundo sua análise, 
existem dois tipos de arte da aquisição: a aquisição natural ou eco-
nomia e a aquisição artificial.
A agricultura, pastoreio, caça, saque, troca, compreendem o 
que Aristóteles chama de aquisição natural. Para o filósofo, esse 
conjunto de atividades não fazem relação com comércio e troca. E 
sim, representam a dinâmica desenvolvida pelas famílias (econo-
mia doméstica) ou pela cidade (economia política) para obtenção 
O PENSAMENTO ECONÔMICO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
IU N I D A D E20
dos meios necessários à vida. Para Aristóteles, os produtos obtidos diretamente 
da natureza, sem os quais a vida não é possível, constituem a verdadeira riqueza, 
e apenas eles são objetos da ciência econômica.
A aquisição artificial ou especulativa é caracterizada como todo tipo de ativi-
dade que elege o aumento da riqueza como um fim em si mesmo. Sem estabelecer 
limites de acumulação. Nessa perspectiva não se adquire coisa para consumir, 
mas sim, para voltar a trocar, comercializar. Nesse contexto, Aristóteles investi-
gou a origem e desenvolvimento da troca (GENNARI, 2009).
Ainda em Gennari (2009), entendemos que a troca advém do aparecimento 
da propriedade e do excedente econômico. As transações caracterizam a ocor-
rência de sobra para uma família ou tribo, enquanto para outra havia a falta. 
Naturalmente, essas trocas envolviam o problema da proporção em que, os pro-
dutos eram transacionados, isto é, implicavam relações de valor.
As necessidades de consumo são caracterizadas como fundamento da natu-
reza humana. No entanto, o comércio é uma modalidade de troca que consiste 
em comprar para vender mais caro, tem como meta o enriquecimento por isso 
contraria os fins da natureza.
Ao mesmo passo da ampliação do intercâmbio, surgiu a necessidade de 
um meio para facilitar as trocas, a criação da moeda. A análise monetária de 
Aristóteles contempla o valor intrínseco da moeda, o valor de face (nominal).
Ele também percebeu que ela assumiu outras funções à medida em que seu uso 
se generalizou. Além do meio de troca, tornou-se reserva de valor (riqueza) e 
meio de enriquecimento (capital usurário) (GENNARI, 2009).
Essa análise associativa do dinheiro à dupla função (meio de troca e reserva 
de valor) podeser utilizada para se obter mais riqueza, particulariza uma “aqui-
sição inestimável no campo da análise econômica”, conforme Gennari (2009, 
p. 10), pois foi a primeira vez que se estabeleceu a diferença entre o dinheiro e 
o capital (dinheiro empregado para se obter mais dinheiro). Outra conclusão 
importante de seus estudos sobre a moeda, com decisiva influência no pensa-
mento econômico posterior, foi o reconhecimento de que o papel desempenhado 
pela moeda não está associado às características naturais e físicas, sendo muito 
mais resultado de uma convenção fixada pelo costume entre os agentes envol-
vidos na atividade de troca.
Os Primeiros Filósofos
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 Podemos perceber em Gennari (2009) que à medida em que o filósofo con-
sidera como “natural” obter a subsistência da família e da comunidade por meio 
da relação com a natureza, buscando obter os alimentos e os meios necessários 
à vida, subjetivamente, temos a noção de trabalho Aristóteles afirma que o “tra-
balho” deve ser mais valorizado quanto mais arte e a habilidade humana possam 
modificar o estado em que se encontra na natureza (ao acaso). Podemos susci-
tar, aqui, a ideia de que está posta a base de raciocínio para outros pensadores, 
que, na sequência, vão estudar a relação entre trabalho e valor das mercadorias.
Vale o destaque, dentro do contexto do trabalho para a ideia grega, que o 
labor estava relacionado com a miséria humana, portanto, desprezado. O trabalho 
estava ligado com o campo da necessidade. Tratava-se de uma nítida separa-
ção entre o mundo do “labor”, da “necessidade” e o mundo regido pela “razão”, 
tendo em vista que os sábios (como eram considerados os filósofos) tinham 
máxima importância para o pensamento grego. Assim, a única atividade digna 
dos homens livres era o “ócio”.
Sobre o problema da distribuição da riqueza, Aristóteles admitia que uma 
desigualdade excessiva entre os cidadãos colocava em risco a estabilidade polí-
tica e a coesão da comunidade, condições fundamentais para que ela pudesse 
atingir os seus fins mais elevados, isto é, a realização plena do cidadão. Para o 
pensador grego era de extrema importância evitar níveis extremos de desigual-
dade na distribuição da riqueza. A estabilidade da cidade dependia também da 
existência de uma numerosa “classe média”, que teria o papel de mediar as rela-
ções entre os ricos e os pobres, atenuando os conflitos e garantindo a coesão 
social (GENNARI, 2009).
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Figura 1 - Os filósofos gregos e a formação do conceito de comunidade cristã.
Fonte: adaptada de Gennari (2009).
É também merecedor de destaque o entendimento de que estamos tratando de 
satisfazer as necessidades humanas, como alimentação, vestuário, moradia etc. 
Os filósofos se ocuparam, também, em buscar a vida justa e feliz, dessa maneira, 
estamos tratando, prezado(a) aluno(a), propriamente da vida humana, digna 
de seres livres, então, é inseparável da ética. Você pode observar que Aristóteles 
desdobra a “economia”, tal como a entendemos, da política e da ética. Nesse sen-
tido, o filósofo analisa o problema da justiça/injustiça, especialmente no âmbito 
do que ele chama da “justiça particular” e, como elas se manifestam nas rela-
ções de troca. De acordo com sua abordagem, a “justiça particular” divide-se 
em distributiva e corretiva.
À medida em que o sistema escravocrata é exigência para que o cidadão 
possa exercer as funções políticas; a troca representa uma obrigatoriedade para 
o bem-estar do cidadão e da pólis; a equivalência nas trocas naturais (realizadas 
com outros homens), uma questão de justiça; a submissão à lógica da acumu-
lação, uma inversão entre meios e fins que se afasta da virtude; a distribuição 
equilibrada da riqueza e da propriedade, um requisito da coesão social da pólis. 
Apresenta-se um cenário em que a tradição passa a reconhecer as esferas de 
produção, troca ou comercialização, distribuição e consumo. Essas quatro áreas 
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representam a dinâmica da realização da participação política, da justiça, bem-
-estar e ética (GENNARI, 2009).
Analisada a questão para os filósofos, passamos para o momento em que se 
revela a importância de Roma, para a história mundial.
OS ROMANOS
Entre os romanos, os interesses estão relacionados, mais precisamente, com as 
questões de propriedades e riquezas dos cidadãos. Para tanto, vamos avançar na 
nossa investigação do pensamento econômico. É sobre a República aristocrática 
governada pelos grandes senhores de terras, os patrícios, e pelos representan-
tes eleitos pela plebe, os tribunos da plebe, que se desenvolve o nosso trabalho.
A contribuição de Chauí (2014) para nosso entendimento sobre a criação 
da República Romana (II a.C. a V d.C) é fundamental. Podemos caracterizá-la 
pelo poder atribuído ao “Senado” e ao “Povo Romano”. Essa instituição pode, 
em certas circunstâncias previstas na lei, receber “homens novos”, isto é, os ple-
beus que, por suas riquezas, casamentos ou feitos militares, passam a fazer parte 
do grupo governante.
Esse novo momento apresenta 
um deslocamento no papel da cidade 
e no sentido de vida comunitária nos 
termos em que foram formulados 
por Aristóteles. Em Gennari (2009), 
entendemos que há um novo tipo 
de associação que passa a enfati-
zar a defesa de direitos e interesses 
comuns definidos em lei e garan-
tidos pela justiça. O sentido ético 
se desprende em benefício de uma ©shutterstock
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inovadora concepção de cidade. Os cidadãos estão unidos por um conjunto de 
leis fundadas numa nítida e rígida separação entre res pública (coisa pública) e res 
privada (latim PRIVATUS, “colocado à parte, pertencente à si mesmo, antônimo 
da coisa pública) e, as instituições desempenham funções precisas de controle, 
justiça e operacionalização da vida na urbe (cidade). A lei é o “fio condutor” da 
comunidade, regula a economia, garante a autonomia e a liberdade do cidadão 
na esfera privada.
Uma administração centralizada, deliberada a partir da conciliação entre 
as leis da cidade (o direito romano) e as tradições jurídicas dos territórios con-
quistados, formaram a organização de um corpo jurídico comum, o jus gentium. 
Esse conceito é fundamental tanto na constituição jurídica e política do Ocidente 
quanto na formação do pensamento econômico moderno. Os juristas romanos 
foram os que mais tiveram influência na composição do pensamento econô-
mico. Merecem destaque, dois elementos cruciais do jus gentium para a história 
econômica:
1. Um direito de propriedade quase sem limites (propriedade privada legal).
2. Liberdade contratual semelhante aos padrões que vigoram atualmente.
Em Roll (1971, apud GENNARI, 2009) torna-se perceptível que os romanos 
consideravam o comércio e indústria, ocupações inferiores, dignas apenas de 
escravos, estrangeiros e plebeus, esses traços do direito romano são uma evidên-
cia da importância do comércio e da expressão do interesse privado durante o 
período do Império.
Essa contextualização estabelecida pelo direito romano promoveu a soberania 
do proprietário sobre seus bens e, por consequência, uma condição de entidade 
independente e autônoma. Dessa forma, à medida em que se potencializou a supe-
rioridade do indivíduo, ficou estabelecida a base do individualismo moderno.
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Figura 2 - O individualismo moderno como fruto do Direito Romano 
Fonte: adaptada de Gennari (2009).
A TEOLOGIA E A ANÁLISE ECONÔMICA
O poderio da Igreja cresce ao passo da deterioração e desmoronamento do 
Império Romano. Esse crescimento deve-se, primeiramente, à expansão do 
cristianismo pela obra de evangelização dos povos, realizada pelos padres nos 
territórios pertencentes ao poder de Roma e para além deles. E, um segundo 
motivo é o esfacelamento de Roma, que resultou numa formação socioeconô-
mica que ficou conhecida como feudalismo. É aqui, estimado(a) leitor(a), que 
destacamos como início da Idade Média.
Esse panorama é representado pela concentração de uma “classe”:
[...] de camponeses ligada à terra e vinculada aos aristocratas pelas 
obrigações em espécie e em trabalho, como contrapartida pela prote-
ção, produziu uma ordem social rigidamente hierarquizada e diferen-
ciada. Ao mesmo tempo, as guerras, os saques frequentes e a violência 
indiscriminada aceleravam a desarticulação do poder central que até 
então ordenava a vida, a justiça, a produção e a troca, compondo um 
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quadro no qual o homem se via isolado, impotente e frágil, vítima fácil 
de circunstâncias sobre as quais não tinha o menor controle. GENNA-
RI (2009, p. 18).
No período medieval, a Igreja, encontra nos argumentos de Aristóteles a base 
para condenar a acumulação de riqueza pelo comércio e, principalmente, pela 
usura (aquisição artificial ou caráter especulativo). Com o crescimento de seu 
poder econômico, obtido com a aquisição de parcelas imensas de terras e com a 
proeminência que ela exercia no plano cultural e espiritual, a Igreja reuniu con-
dições para exercer ampla hegemonia política na Europa Ocidental. Um dos 
pontos de vista decisivos dessa particularidade foi a grande empreitada dos seus 
principais teólogos, que realizaram um imenso esforço para tornar a religiosi-
dade cristã uma referência que fosse além da vida espiritual e mostrasse uma 
nova visão de mundo integrando a filosofia, a conduta humana (a ética) e os fenô-
menos da natureza e, que, inclusive, regulasse os processos da vida econômica. 
É apresentado um momento caracterizado pela falência de um modelo de 
civilização, de insegurança e de pessimismo em relação às possibilidades terrenas 
de realização humana. Do ponto de vista econômico, a ruralização que induziu à 
retração da agricultura mercantil e estimulou a produção destinada ao consumo a 
ponto de ela tornar-se hegemônica. No tocante à política, houve uma fragmentação 
do poder e da autoridade em uma infinidade de domínios que deram aos senhores 
feudais, na Europa Ocidental. Na esfera 
social, surgiu uma ordem rigidamente 
hierarquizada e desigual, reconhecida e 
aceita como natural e justificada por uma 
determinação divina, por meio dos ensi-
namentos dos Evangelhos dos primeiros 
teólogos e da filosofia clássica, que era 
valorizada por oferecer um modelo sofis-
ticado de articulação entre moral, ética e 
“análise econômica”.
Nesse espaço temporal, Santo Agostinho 
elaborou sua teologia e formulou suas consi-
derações sobre a “vida econômica”.
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SANTO AGOSTINHO (354-430)
Possivelmente, o mais destacado pensador cristão de toda a pri-
meira fase da Idade Média foi Santo Agostinho. A história atribui 
a ele a primeira formulação teológica abrangente e orgânica refe-
rente à fase de transição entre o mundo antigo e o medieval. 
A perspectiva agostiniana expressa uma profunda descrença 
no poder da cidade de promover as potencialidades humanas 
(visão grega) e de garantir a justiça e os interesses dos cidadãos 
(visão dos romanos). Ao pessimismo antropológico, em relação 
às possibilidades de realização humana elevada num ambiente 
terreno caótico e violento, correspondeu a potencialização das 
esperanças de realização espiritual, traduzida na possibilidade 
de salvação da alma.
Para Santo Agostinho, a concepção de justiça verdadeira só se efetiva no 
âmbito do cristianismo, de modo que confere uma concepção teocrática de 
poder, em que a Igreja cristã tem toda a legitimidade sobre a Sociedade Política.
Santo Agostinho pouco acrescentou às formulações dos juristas romanos. 
O comércio e o lucro comercial continuaram a ser condenados pelo teólogo, 
pois afastavam o homem do desejo de encontrar Deus. A atividade econômica 
deveria ser realizada atendendo aos requisitos do preço justo, como na análise 
de inspiração aristotélica. 
SÃO TOMÁS DE AQUINO (1225 - 1274)
 Você e eu sabemos que o poderio da Igreja foi determinante, no período Medieval, 
para o pensamento econômico. Não somente pela ideia de que recriminava o 
acúmulo de riquezas (por meio de empréstimo e juros), mas também pela con-
tribuição inestimável da escolástica, e São Tomás de Aquino é responsável por 
um imenso empreendimento teológico.
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A corrente tomista com orientação aristotélica contempla os atos huma-
nos de acordo com uma lei natural que, segundo o filósofo, é a participação da 
criatura racional na lei eterna. Conclui-se daí que Tomás de Aquino relaciona o 
agir humano e a norma moral de maneira transcendental. A Suma Teológica do 
pensador apresenta a conjugação harmônica do natural e sobrenatural, a ordem 
social e a transcendência da pessoa, a lei natural e a liberdade humana, o bem 
comum e o bem privado.
 O pensamento econômico de Tomás de Aquino é inseparável da com-
preensão do Direito Natural. Uma ética derivada da observação das normas 
fundamentais da natureza humana. Considerava a sociedade econômica como 
um sistema que deveria seguir os princípios da justiça cumulativa e distributiva 
e operar baseado na cooperação. Os componentes dessa sociedade eram consi-
derados partes especializadas e interdependentes que, deveriam se submeter às 
regras, operar de maneira cooperativa e ser coordenados por associações ou grê-
mios. O princípio fundamental para a sociedade econômica era preservar seu 
equilíbrio e respeitar o preço justo definido por Santo Tomás, tanto do ponto de 
vista formal quanto prático, e o Estado só deveria intervir no sistema em casos 
de absoluta necessidade.
A influência da tradição aristotélica em Santo Tomás vai se manifestar em 
vários outros aspectos de seu “pensamento econômico”, em especial na maneira 
como via a riqueza, as relações entre indivíduo e coletividade, a propriedade, 
o comércio e a usura. As transações econômicas, de acordo com o pensador, 
deveriam ser consideradas dentro de seu contexto, desde que aconteçam como 
tentativas humanas de obter as matérias que a natureza proporciona para alcan-
çar certos fins. 
Para São Tomás, a riqueza e a propriedade poderiam trazer coisas boas 
mas também efeitos nocivos. Nessa perspectiva, o interesse individual deveria 
estar subordinado ao coletivo. Daí o repúdio à avareza, à cobiça, enfim, às prá-
ticas que conduzissem à exploração e a desigualdade no interior da comunidade 
(GENNARI, 2009).
A doutrina tomista avançou, à medida que expôs que a remuneração do 
comerciante pelo seu trabalho, numa proporção que garantisse a sua subsistência 
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e a da sua família, não violava a justiça, estabelecendo, pela primeira vez, que a 
“troca desigual” não é necessariamente injusta.
A ÉTICA PROTESTANTE: MARTINHO LUTERO E JOÃO CALVINO
O desenvolvimento da economia de mercado tambéminfluenciou o pensamento 
dos teólogos reformadores. Sob essa ótica, tanto a teologia católica como as ideias 
de Martinho Lutero e João Calvino, considerados teólogos protestantes, tiveram 
que fazer um enfrentamento ao sistema econômico vigente face às formulações 
teológicas tradicionais (GENNARI, 2009).
Martinho Lutero (1483-1546), no que se refere aos juros, assumiu as formula-
ções dos mais tradicionais teóricos canônicos da Igreja, criticando as alterações 
e as inúmeras exceções que foram elaboradas para acomodar a doutrina aos 
novos tempos.
O francês João Calvino (1509-1564), teólogo, também reformador do referido 
espaço temporal, defendeu a valorização do trabalho e o apego aos valores da 
vida simples e sem ostentação em detrimento do ócio. 
Calvino também acreditava que era possível identificar os seletos de Deus. 
Para ele, os destinados à salvação eram, necessariamente, portadores de uma 
graça divina que os diferenciava dos demais mortais e, esse “toque” 
divino se expressava por meio de uma vocação. Conforme Gennari 
(2009), o teólogo francês avaliou que os ganhos nos negócios, os 
lucros sob risco e as boas obras praticadas pelo cristão, podiam ser 
considerados expressão da vocação e, por consequência, a mate-
rialização da graça divina. Mas Calvino fazia questão de ressaltar 
que os sinais da escolha deveriam ser desfrutados com discrição, 
sem ostentação, luxo ou consumo excessivo. 
Calvino aprovava a cobrança de juros desde que regula-
das pelas autoridades públicas, estabelecendo limites nas taxas. 
Reconheceu ainda, a legitimidade do empréstimo desde que regu-
lado pelos princípios da equidade (regras iguais para todos) e da 
caridade.
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Para finalizar essa breve abordagem da temática teológica, com sua pro-
funda importância na história do pensamento econômico, faz-se pertinente 
evidenciar que há vinculação entre as ideias calvinistas e o processo de forma-
ção do capitalismo. Sem fazer salto histórico, mas considerando a importância 
do entendimento desse movimento da Reforma da Igreja. O sociólogo ale-
mão Max Weber apresentou uma visão aprofundada e precisa dessas relações 
nos seus ensaios publicados em 1904 e 1905 e, depois reeditados numa versão 
ampliada, em 1920, com o título de A ética protestante e o espírito do capita-
lismo. Segundo o autor, a Reforma contribuiu decisivamente para a dissolução 
de uma série de valores religiosos, morais e éticos. Esse contexto foi fundamen-
tal para “desobstruir” o caminho para as transformações econômicas e políticas 
que se sucederam ao final da Era Medieval.
Figura 3 - Protestantes e a riqueza segundo Calvino
Fonte: Rosa (2013). 
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O SISTEMA FEUDAL E UMA ANÁLISE CRÍTICA
Finalmente podemos entender que o sistema que passa a vigorar a partir do 
declínio do Império Romano, estava emoldurado em 
uma hierarquia feudal na qual o servo ou camponês 
era protegido pelos senhores feudais, que, por sua vez, 
deviam fidelidade e eram protegidos por senhores mais 
poderosos. Essa estrutura se estendia, indo até o rei. 
“Os fortes protegiam os fracos” (HUNT, 1989, p. 29), 
mas o faziam a um alto preço. Em troca de pagamento 
em moeda, alimentos, trabalho ou fidelidade militar, 
os senhores garantiam o feudo a seus vassalos. Como 
escora desse sistema, estava o servo, que cultivava a 
terra. Nesse contexto, a Igreja era muito forte e, maior 
proprietária de terras.
A sociedade medieval era predominantemente 
agrária. A hierarquia social era baseada nos laços do indivíduo com a terra e a 
ordem social, na íntegra, era agrícola. No entanto, os aumentos da produtivi-
dade agrícola constituíram o rompante para um encadeamento de profundas 
mudanças ocorridas ao longo de vários séculos e que resultaram na decompo-
sição do feudalismo medieval e no início do capitalismo. 
O mais importante avanço tecnológico da Idade Média foi a substitui-
ção do sistema de plantio de dois campos para o sistema de três cam-
pos. Embora haja evidência de que o sistema de três campos tenha sido 
introduzido na Europa já no oitavo século, seu uso não se generalizou 
antes do século XI. O plantio anual da mesma área esgotava a terra e 
acabava por torná-la inútil. Assim, no sistema de dois campos, metade 
da terra era sempre deixada ociosa, de modo que se recuperasse do 
plantio do ano anterior. Com o sistema de três campos, a terra arável 
era dividida em três partes iguais. [...] dessa mudança aparentemente 
simples na tecnologia agrícola resultou um dramático aumento do pro-
duto agrícola (HUNT, 1989, p. 32).
O espaço temporal que estamos falando envolve melhoramentos na agricultura 
e, por consequência, crescimento do comércio. O avanço das vilas e cidades con-
duziu ao desenvolvimento da especialização rural urbana. Outro importante 
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elemento é a ampliação do comércio de longa distância. Iremos percorrer agora, 
um cenário de estabelecimento de cidades industriais e comerciais para ser-
vir à essas transações. O crescimento dessas cidades, bem como seu crescente 
controle por capitalistas comerciantes, provocou importantes mudanças, tanto 
na agricultura quanto na indústria. Cada uma dessas áreas, particularmente a 
agricultura, teve enfraquecidos e, por fim, rompidos seus laços com a estrutura 
econômica e social feudal. 
Nessa trajetória do conhecimento histórico, estimado(a) leitor(a), a busca 
por aprender sobre a construção do homem e seu tempo está nos levando para 
um momento de expansão do comércio de longa distância. A partir do século XI, 
as cruzadas deram força a uma marcante expansão do comércio. Provavelmente 
você já conhece esse termo, mas vale lembrar, em breves linhas, a relevância 
desse movimento na história. A expressão “Cruzada” não era conhecida por 
esse nome no período em que ocorria. Os termos usados eram “Guerra Santa” e 
“Peregrinação” e faziam referência ao movimento de tentativa de tomar a “Terra 
Santa” dos mulçumanos. Tratavam-se de tropas ocidentais enviadas à Palestina 
para recuperar a liberdade de acesso dos cristãos à Jerusalém. Dessa maneira, as 
Cruzadas não podem ser vistas como fator externo ou acidental no desenvolvi-
mento da Europa. Elas oportunizaram o renascimento do comércio na Europa. 
Muitos cavaleiros, ao retornarem do Oriente, surrupiaram cidades e organizaram 
pequenas feiras nas rotas comerciais. Houve, portanto, um significativo reaque-
cimento da economia no Ocidente.
Em Hunt (1989), vemos que as indústrias que apareciam nas novas cidades 
eram basicamente indústrias de exportação, nas quais o produtor estava distante 
do comprador final. No sistema artesanal feudal, o produtor (o mestre artesão) 
era também o vendedor, eles vendiam seus produtos aos comerciantes que, por 
sua vez, os transportavam e revendiam. Outra diferença importante é a de que 
o artesão feudal, de modo geral, eram também fazendeiros. O novo artesão das 
cidades desistiu da terra para dedicar-se inteiramente ao trabalho com o qual 
ele poderia obter uma renda monetária que poderia ser usada para satisfazer 
suas outras necessidades. 
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Conforme o comércio se desenvolvia e se expandia, aumentava a necessidade 
de manufaturados e mais confiança na oferta levava a um crescente controle do 
processo produtivo pelo capitalista comerciante. Aproximadamente no século 
XVI, o artesão que era proprietário de sua oficina, das suas ferramentase maté-
rias-primas e, funcionava como um pequeno produtor independente, teve seu 
papel modificado pelo sistema de trabalho doméstico. Nesse ponto, predomina-
vam as indústrias de exportação, em outras palavras, o trabalhador já não vendia 
um produto acabado ao comerciante, vendia somente seu próprio trabalho.
O trabalhador já não vendia um produto acabado ao comerciante. Ven-
dia somente seu próprio trabalho. As indústrias têxteis estavam entre 
as primeiras em que o sistema de trabalho doméstico se desenvolveu. 
Tecelões, fiandeiros, tintureiros se encontravam numa situação em que 
sua ocupação e, portanto, sua capacidade de sustentar a si mesmo e 
suas famílias, dependia dos capitalistas comerciantes, que tinham que 
vender o que os trabalhadores produziam a um preço suficientemente 
alto para pagar salários e outras contas e ainda obter lucro (HUNT, 
1989, p. 10). 
Dessa forma, o controle capitalista se apresentava à medida que foi estendido ao 
processo de produção. Simultaneamente, foi criada uma força de trabalho que 
possuía pouco ou nenhum capital e nada tinha a vender, a não ser sua força de 
trabalho. Para Hunt (1989), essas duas características marcam o surgimento do 
sistema econômico do capitalismo. Desse modo, o Capitalismo não era apenas 
um sistema de produção de mercadorias, mas um sistema de acordo com o qual 
a força de trabalho transformara a si própria em uma mercadoria e se vendia e 
comprava no mercado, como qualquer outro objeto de troca. É importante res-
saltar a particularidade especial da força de trabalho: é a única mercadoria que 
cria outra mercadoria (IORI, 2014).
Ao examinar a história do capitalismo, Dobb (1983) situa a fase inicial 
deste sistema no período da segunda metade do século XI e início do século 
XII, na Inglaterra. Apresenta-se, nesse momento, uma generalização do grande 
comércio. Sua penetração combinou-se com o crescimento da produção local, 
destinada ao mercado com a progressiva substituição das oficinas confiadas aos 
servos na reserva senhorial, para a fabricação de objetos de uso corrente pelas 
oficinas urbanas. 
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Falar de “capitalismo” antigo ou medieval, porque haviam financistas 
em Roma e mercadores em Veneza, é um abuso de linguagem. Esses 
personagens jamais dominaram a produção social de sua época, asse-
gurada em Roma pelos escravos e na Idade Média pelos camponeses, 
sob diversos estatutos da servidão (VILAR, 1975, p. 40).
O capital começou a penetrar na produção em escala considerável, seja na forma 
de uma relação bem amadurecida entre capitalista e assalariados, em que pese, 
uma forma menos desenvolvida da subordinação dos artesãos domésticos, que 
trabalhavam em seus próprios lares, a um capitalista, própria do assim chamado 
“sistemas de encomendas domiciliar” (IORI, 2014).
Com efeito, a crise geral do feudalismo, nos séculos XIV e XV, deixa que 
flutuam algumas ilustres prosperidades urbanas, algumas brilhantes fortunas 
mercantis, essa visão é mais uma aparência que uma realidade. É o tempo do 
luxo, das grandes construções, dos mecenas das artes. Mas não é o auge produ-
tivo. As grandes burguesias enriquecidas vivem, daí em diante, de rendas, ou 
compram terras feudais, imitam os grandes senhores. Pode-se observar que são 
elas que sustentam sempre os senhores quando se produzem as guerras campo-
nesas. No interior das comunidades, as lutas de classe agravam-se e os sistemas 
representativos, que sempre foram oligárquicos, transformam-se. Por último, as 
cidades que haviam realizado as mais importantes “repúblicas mercantis”, as do 
Mediterrâneo, caem em decadência, pelo menos relativa, devido ao fato da con-
quista do Oriente pelos turcos e diante do próximo triunfo das rotas comerciais 
do Atlântico. Será agora em Flandres, na Inglaterra, em Portugal e Espanha onde 
aparecerão as novidades decisivas para a transformação do Ocidente europeu.
De fato, a primeira etapa da formação do capitalismo, depois da crise dos 
séculos XIV e XV, não poderia fundar-se senão por um avanço das forças pro-
dutivas: o que ocorreu entre meados do século XV e XVI. Foi precisamente ao 
longo da crise geral do feudalismo, que numerosas invenções vieram modificar 
o nível das forças de produção. O uso da artilharia obrigou a impulsionar a pro-
dução de metal. A difusão do pensamento humano com a invenção da imprensa, 
os progressos da ciência e da navegação desempenharam um papel não menos 
importante. Observa-se que, pela primeira vez, técnicas industriais e técnicas de 
comunicação ultrapassam a técnica agrícola. É o começo de um processo que 
colocará a indústria no primeiro plano do progresso. Apresenta-se um impulso 
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econômico para o momento que será interrompido pela injeção de riqueza externa 
oriunda da expansão marítima e colonial. A circunavegação da África, o desco-
brimento da rota das Índias por Vasco da Gama, o da América por Colombo e 
a volta ao mundo por Magalhães elevaram o nível científico e ampliaram a con-
cepção do mundo na Europa.
O grande comércio de produtos exóticos, de escravos e metais preciosos, vol-
tava a ser aberto e extraordinariamente ampliado. Uma nova era abria-se para 
o capital mercantil, mais fecunda que a das repúblicas mediterrâneas da Idade 
Média, porque dessa vez constituía-se um mercado mundial e seu impulso afe-
tava todo o sistema produtivo europeu e, porque grandes Estados (e não mais 
simples cidades) iriam aproveitar-se daí, para se constituírem (VILAR, 1975).
Ernest Mandel (1982) afirma que o modo de produção capitalista não se 
desenvolveu “em meio a um vácuo, mas no âmbito de uma estrutura sócio-e-
conômica específica, caracterizada por diferenças de grande importância”, por 
exemplo, na Europa ocidental, Europa oriental, Ásia continental, América do 
Norte, América Latina e Japão. O sistema mundial capitalista é, em grau conside-
rável, precisamente uma função da validade universal da lei de desenvolvimento 
desigual e combinado.
Caro(a) leitor(a), um requisito histórico era a concentração da propriedade 
dos meios de produção em mãos de uma classe, consistindo de apenas uma parte 
pequena da sociedade e o aparecimento consequente de uma classe destituída 
de propriedade, para a qual a venda de sua força de trabalho era a única fonte 
de subsistência. Mandel (1982, p. 29) descreve que: “O movimento efetivo do 
capital manifestamente começa a partir de relações não capitalistas e prossegue 
dentro do quadro de referência de uma troca constante, exploradora, metabó-
lica, com esse meio não capitalista.” A atividade produtiva era por isso suprida 
por ela, não em virtude de compulsão ou obrigação legal, mas na base de um 
contrato salarial. 
Torna-se claro que tal definição exclui o sistema de produção artesanal inde-
pendente, no qual o artesão possuía seus próprios e modestos implementos 
de produção e empreendia a venda de seus próprios artigos. Não existia qual-
quer divórcio entre a propriedade e o trabalho, a não ser nos o artesão recorria 
em qualquer medida ao emprego de diaristas, era a venda e compra de artigos 
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inanimados, e não da mão de obra humana, no que constituía sua preocupação 
primária. O que diferencia o uso dessa definição quanto às demais é que a exis-
tência do comércio e do empréstimo de dinheiro, bem como a presença de uma 
classe especializada de comerciantes ou financistas, ainda que fossem homens 
de posses, não bastava para constituir uma sociedade capitalista. Os homens de 
capital, por mais aquisitivos, não bastam. É fundamental apreender que o capi-tal tem de ser usado na sujeição da força de trabalho à criação da mais-valia na 
produção (DOBB, 1983).
Busca-se a definição de um sistema econômico na intenção de perceber 
que cada período histórico é modelado sob a influência preponderante de uma 
forma econômica única, mais ou menos homogênea e deve ser caracterizado 
de acordo com a natureza desse tipo predominante de relação socioeconômica. 
Cada etapa apresenta uma característica nas situações históricas que, simulta-
neamente, propicia a homogeneidade de configuração a qualquer tempo dado, 
e torna os períodos de transição, quando existe um equilíbrio de elementos dis-
cretos, inerentemente instáveis. Isto, pois, a sociedade se acha constituída de 
maneira que o conflito e interação de seus elementos principais, ao invés do 
crescimento simples de algum único elemento, formam o fator principal de 
movimento e mudança, pelo menos no que diz respeito às transformações prin-
cipais. Se esse for o caso, uma vez que o desenvolvimento tenha atingido certo 
nível e os diversos elementos que constituem aquela sociedade estejam dispos-
tos, de certo modo, os acontecimentos deverão marchar com rapidez incomum, 
não apenas no sentido de crescimento quantitativo, mas no de uma alteração de 
equilíbrio dos elementos constituintes, resultando no aparecimento de compo-
sições novas e alterações ou mudanças mais ou menos abruptas na tessitura da 
sociedade. É como se em certos níveis de desenvolvimento, fosse acionado algo 
como reação em cadeia.
A transformação da forma medieval de exploração do trabalho excedente para 
a moderna não foi processo simples que possa ser apresentado como uma tabela 
genealógica de descendência direta, mas ainda assim, entre os redemoinhos desse 
movimento a vista pode distinguir certas linhas de direção do fluxo. Tais linhas 
incluem não apenas modificações na técnica e o aparecimento de novos instru-
mentos de produção, que aumentaram grandemente a produtividade do trabalho, 
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mas uma crescente divisão do trabalho e, por consequência, o desenvolvimento 
das trocas, bem como uma crescente separação do produtor quanto à terra e aos 
meios de produção e seu aparecimento como um proletário. Dessas tendências 
orientadoras na história dos cinco séculos passados, Dobb (1983), assevera que 
uma importância especial se prende à última, não só porque foi tradicional-
mente atenuada e decentemente encoberta por fórmulas acerca da passagem de 
status para contrato, mas porque no centro do palco histórico trouxe consigo 
uma forma de compulsão ao trabalho para outrem, que se mostra puramente 
econômica e “objetiva”, lançando assim uma base para aquela forma peculiar e 
mistificadora pela qual uma classe ociosa pode explorar o trabalho excedente dos 
outros e que é a essência do sistema moderno ao qual chamamos capitalismo. 
Na Inglaterra, a pequena propriedade e o gozo dos direitos contribuíram para 
desenvolver, a partir do século XIV, uma classe rural precocemente comprome-
tida na produção artesanal e na comercialização dos produtos. Por essa mesma 
razão, a diferenciação entre aldeões ricos e pobres e o incentivo de grandes lucros 
conseguidos sobre os campos de pastagem, devido à extensão da indústria de 
lã, trouxeram, como consequência, uma expulsão em massa dos pequenos agri-
cultores durante os séculos XV e XVI e uma apropriação sistemática de suas 
parcelas, concomitantemente a das terras comunais, pelos grandes proprietá-
rios. A legislação foi impotente contra esse movimento, e foi contra os pobres, 
desocupados e vagabundos que a lei acabou voltando suas armas. A primeira 
“lei dos pobres”, no reinado de Elizabeth, preparou, sob o pretexto de ajuda obri-
gatória, essas futuras “casas de trabalho” nas quais o pobre “que não tinha onde 
cair morto” seria colocado à disposição do produtor industrial (VILAR, 1975).
Expropriação e proletarização são os dois termos da “acumulação primitiva” 
no estado puro, a perfeita separação, mediante a violência legalizada, do pro-
dutor com seus meios de produção. Por isso, Marx elegeu o exemplo inglês dos 
séculos XV e XVI como símbolo. É no século XVIII que o processo é concluído 
e somente na Inglaterra apresenta-se de uma maneira radical. Vilar (1975) des-
creve que a colonização europeia, em escala mundial, determina outro aspecto da 
acumulação primitiva. Ela se realiza por mecanismos bastante variados, a saber:
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Os saques - delicadas joias arrebatadas dos índios das ilhas, imensos tesouros 
dos príncipes mexicanos e incas; tudo foi diretamente transferido para a Europa. 
É correto que os “conquistadores” espanhóis e o imperador Carlos V dedicaram, 
essencialmente, esses primeiros lucros a suas empresas militares ou suntuárias, 
mas o ouro passou às mãos dos mercadores, dos banqueiros que, converteram-
-se nos intermediários da aventura colonial.
É imaginável, conforme Dobb (1983), que uma economia não pode basear-
-se durante muito tempo no simples e puro saque, tampouco deve-se crer que 
se tratou de um breve episódio. Os holandeses, que difundiram uma versão das 
crueldades espanholas na América, não foram menos cruéis nas ilhas do Extremo 
Oriente, as quais ocuparam no século XVII e nem os ingleses na Índia (século 
XVIII). Além do que, desde o tempo de Elizabeth, uma das grandes fontes de 
enriquecimento da corte real inglesa foi a pirataria, a pilhagem direta dos car-
regamentos espanhóis. A essa economia de pilhagem, a colonização acrescenta 
uma exploração contínua e sistemática.
Historiadores constataram, na Europa do século XVI, uma chegada em massa 
de ouro e de prata, isto vai desencadear uma “revolução nos preços”; o preço dos 
produtos europeus sobe, Dobb (1983) estima que o aumento seja na proporção 
de 1 para 4. Como os salários sobem muito menos, produz-se uma “inflação de 
lucros”, é o primeiro grande episódio de criação capitalista. 
No século XVI, a quantidade de ouro e prata em circulação na Europa 
aumentou por consequência do descobrimento das minas americanas, 
mas ricas e fáceis de explorar. O resultado foi que o valor do ouro e da 
prata diminui em relação ao de outros artigos de consumo. Continu-
ava-se a pagar aos trabalhadores os mesmos salários por sua força de 
trabalho. Seu salário-dinheiro manteve-se estável, mas seu salário di-
minuiu, porque em troca da mesma quantidade de dinheiro recebiam 
uma quantidade menor de bens. Este foi um dos fatores que favore-
ceu o crescimento do capital e o Ascenso da burguesia no século XVI 
(DOBB, 1983, p. 80).
 Essa situação representa apenas um dos fatores que favoreceu o avanço produ-
tivo no século XVI. Marx considera ainda que, nesse período, primeiramente, 
a quase totalidade da produção não é obtida sob o regime de assalariamento (a 
economia é feudal ou artesanal); é a alta dos preços que vai favorecer a instalação 
do assalariamento (fase preparatória do capitalismo, na acumulação “primitiva”). 
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Uma segunda consideração é que o lucro capitalista é apenas facilitado, não é 
medido pela distância que se estabelece entre preços e salários; depende, com 
efeito, do tempo de trabalho incorporado numa determinada mercadoria, com-
parado com o tempo de trabalho incorporado no salário do trabalhador que o 
produziu, mas esse tempo de trabalho depende de condições muito complexas 
(intensidade, organização, aparelhagem técnica) e não somente de variações 
monetárias; por último, os preços europeus não sobem no século XVI porque 
o ouro e a prata são “mais abundantes”, sobemporque o preço de custo do ouro 
e da prata diminuem; portanto, os lucros são extraídos mais do trabalho dos 
mineiros americanos que da exploração crescente dos trabalhadores europeus.
Vilar (1975) descreve que o trabalho na América, em suas diferentes formas 
(escravismo, encomienda, mitas, compromisso entre esse trabalho forçado e um 
salário), foi extenuante; os índios das ilhas (São Domingos, Cuba) pereceram 
em massa; a população do México, por sua vez, também caiu; por isso, a partir 
de 1600, o preço de custo do metal precioso aumentou e, portanto, o preço das 
demais mercadorias começou a baixar na Europa. Os lucros eram então obti-
dos com menos facilidades e, no século XVII a acumulação primitiva de capital 
foi menos intensa que no século XVI; voltou a subir no século XVIII, quando 
o Ascenso demográfico e a exploração colonial reorganizada permitiram nova-
mente que fossem diminuídos os preços de custo da extração mineira (ouro do 
Brasil, minas mexicanas): desse modo, vemos que a intensidade da acumula-
ção monetária na Europa, condição para a instalação do capitalismo, dependeu 
do grau de exploração do trabalhador americano. Isso não vale somente para as 
minas. O ouro e a prata são mercadorias. O açúcar, o cacau, o café, as madei-
ras tintoriais podem provocar fenômenos análogos. A acumulação primitiva 
do capital europeu dependeu tanto do escravo cubano quanto do mineiro dos 
Andes. “O escravismo velado dos assalariados europeus, não podia instalar-
-se senão sobre o escravismo sem disfarce dos trabalhadores do Novo Mundo” 
(KARL MARX, 1989, p. 91).
Diante desse panorama, contextualiza-se o capital usurário e o capital mercan-
til em que a acumulação monetária é obtida, a princípio por meio do empréstimo 
usuário para o consumo: no nível mais baixo, em cada aldeia, o homem que tem 
disponibilidades monetárias, pode emprestar, com juros muito elevados, ao 
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camponês que não tem do que viver, o necessário para comprar a semente ou uma 
ferramenta, ou para pagar o imposto; no nível mais alto, os grandes mercadores 
ou banqueiros emprestam aos grandes senhores ou aos príncipes; é mais peri-
goso; pode haver falências, confiscos, mas ao mesmo tempo é remunerador. A 
especulação sobre a escassez é outro modo de acumulação: as carestias são peri-
ódicas, e aqueles que podem acumular grão, o vendem, no momento oportuno, 
a quem oferece mais. Esses “açambarcadores” são detestados, mas enriquecem. 
Uma terceira situação é a especulação comercial a partir dos produtos valiosos, 
que alimenta o capital mercantil propriamente dito, relacionando pontos do globo 
nos quais as condições de produção são completamente distintas e monopoli-
zando pequenas quantidades de produtos de grande valor, o mercador da Idade 
Média realizava operações aventureiras, mas lucrativas. Os primeiros mercado-
res portugueses e espanhóis, que colocaram Lisboa e Sevilha em relação com o 
Extremo Oriente e com a América, não fizeram outra coisa. Os conquistadores 
e colonos dos primeiros tempos estavam dispostos a dar muito ouro (lhes cus-
tava pouco) em troca de azeite, vinho ou tecidos chegados da Europa. Foi esse 
primeiro contato entre condições coloniais e condições europeias o que, em pri-
meiro lugar, causou a alta de preços. Todos os mercadores do continente afluíram 
às feiras da Península Ibérica. Foi o maior boom histórico do capital mercantil 
(VILAR, 1975).
Mas um movimento de tal envergadura levava em si sua própria contradi-
ção: em primeiro lugar, aqueles países onde os preços subiram demasiado foram 
eliminados pela concorrência; foi o caso da Espanha, onde o afluxo de dinheiro 
traduziu-se numa pirâmide de dívidas, rendas e censos tão perfeitamente para-
sitários, que a economia espanhola atingiu seu auge e foi eliminada do processo 
capitalista, do qual fora o ponto de partida. Por outra parte, quanto mais dinheiro 
circula, mais difícil é exigir lucros usurários. Dobb (1983) é incisivo ao afirmar 
que a usura não morreu pelas inúteis condenações lançadas pela igreja; mor-
reu devido à circulação de dinheiro. Por último, na medida em que a navegação 
progredia, o “mercado mundial” passava a ser uma realidade cotidiana e, con-
sequentemente, desapareceram cada vez mais as oportunidades para a grande 
especulação comercial. Os preços tendem a igualarem-se.
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Apresenta-se um aspecto dialético do fenômeno: a acumulação primitiva de 
capital engendra sua própria destruição. Numa primeira fase, a alta dos preços, o 
aumento dos impostos reais, os empréstimos grandiosos estimulam os usurários 
e os especuladores, mas, no final, em graus diferentes, segundo os países, as taxas 
médias de juros e dos lucros tendem a igualar-se e a diminuir. Então, é necessá-
rio que o capital acumulado busque outro meio de reproduzir-se. É preciso que 
os homens de dinheiro – que se haviam mantido relativamente à margem da 
sociedade feudal – invadam todo o corpo social e tomem o controle da produção.
É no curso do século XVII, menos favorável aos lucros extraídos das colô-
nias, que os mercadores, aproveitando as dificuldades do artesanato corporativo 
e o excesso de mão de obra existente no campo, põem-se a distribuir primeiro 
a matéria-prima e logo após instrumentos de produção (matérias têxteis), tanto 
a domicílio entre os camponeses, quanto às grandes oficinas (em geral privi-
legiadas pelo Estado). Dobb (1983), considera a época da “manufatura”, uma 
importante etapa em direção ao capitalismo. E classifica em três dimensões, a 
saber, primeiramente, porque realiza na indústria, a separação entre produtor e 
meio de produção; concorre a duras penas com o artesanato corporativo e, por 
último, organiza a divisão do trabalho, que aumenta de modo considerável a 
produtividade do trabalho individual.
O domínio do capital mercantil corresponde, na Europa Ocidental, a uma 
nova estrutura do Estado. Às vezes, como na França, esse Estado favorece dire-
tamente à manufatura. Os impostos, cuja importância aumenta, são cobrados 
geralmente mediante o sistema de fermes, ou seja, por companhias de financistas 
privados, que guardam para si grande parte dessas cobranças feitas a partir do 
produto nacional, é uma importante fonte de acumulação monetária. A organi-
zação do crédito e o aparecimento dos primeiros bancos estatais se fazem baixar 
as taxas de juros usurários, em contrapartida, mobilizam o dinheiro dos “capi-
talistas” nas mãos de grupos restritos e poderosos. Por último, o Estado protege 
a produção nacional por intermédio das aduanas e da marinha nacional, pelos 
“atos de navegação” (que lhe reservam os transportes).
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A finalidade de todas estas medidas é bastante consciente; é expresso amiúde 
pelos economistas “mercantilistas”, que representavam, como mostrou perfei-
tamente Marx, a forma primitiva e ingênua, do capitalismo: a finalidade de 
qualquer atividade é “fazer dinheiro”, a nação é rica se tem um saldo positivo 
de metais preciosos; pouco importa como é distribuído esse saldo, confundem-
-se “lucro nacional” e lucro dos comerciantes (que, por sua vez, se confundem 
com os industriais).
O país mais característico dessa fase é a Inglaterra do final do século XVII. 
A evolução que sofreu desde o século XV – concentração da propriedade agrá-
ria, proletarização da mão de obra, atividade marítima e colonial – permitiu-lhe 
superar definitivamente os países dos primeiros descobrimentos – Espanha e 
Portugal, paralisados pelo excessivo afluxo de dinheiro e o parasitismo das ren-
das – e evoluir mais depressa quea Holanda (privada de recursos industriais) e a 
França (onde a estrutura agrária resistiu ao movimento de concentração das pro-
priedades e de “cercamento” das terras comunais). Marx expressou esse avanço 
da Inglaterra com a seguinte frase:
os diferentes métodos de acumulação primitiva, que a era capitalista faz 
aparecer, dividem-se, primeiro, por ordem mais ou menos cronológica, 
entre Portugal, Espanha, Holanda, França e Inglaterra, até que esta úl-
tima combina-os todos, no último terço do século XVII, num conjunto 
sistemático que inclui por sua vez o regime colonial, o crédito público, 
as finanças modernas e o sistema protecionista (MARX, 1989, p. 71).
Será também na Inglaterra que aparecerão, no curso do século XVIII, as novidades 
que caracterizam de forma decisiva a nova era, a era capitalista. O aparecimento 
do maquinismo: a partir de 1730, e, sobretudo a partir de 1760, ocorre uma série 
de invenções que irão substituir a
[...] “manufatura” pela “maquinofatura”, ou seja, que permitirão por sua 
vez multiplicar a produtividade do trabalho humano, reduzir este mes-
mo trabalho a um mecanismo cada vez mais abstrato, cada vez menos 
unido ao objeto produtivo (de forma contrária ao trabalho artesanal), 
e, por último, utilizar uma mão de obra de força reduzida: é a mobili-
zação maciça do trabalho de mulheres e crianças. Estas invenções são 
as que concernem à metalurgia (fundição do carvão) e, por último, à 
máquina a vapor. Este avanço das forças produtivas é necessário para 
subverter as estruturas econômicas e sociais. Daí em diante, a produ-
ção industrial em massa será a fonte essencial do capital, pela distância 
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estabelecida entre o valor produzido pelo operário e o valor que lhe é 
restituído sob a forma de salário por aqueles que dispõem dos novos 
meios de produção (máquinas, fábricas). A era da “acumulação primi-
tiva” terminou. Tudo irá tornar-se “mercadoria” e as relações sociais se 
estabelecerão exclusivamente em termos de dinheiro. Já não há mais 
“feudalismo” (VILAR, 1975, p. 47-48).
As etapas finais da transformação desse período, portanto, abrangem o controle 
do capital mercantil sobre a produção industrial, o papel dos primeiros Estados 
nacionais e a acumulação primitiva e por último o novo avanço das forças de 
produção: produção industrial em massa e “nova agricultura” no século XVIII.
A exploração cada vez mais acentuada do trabalho humano é sua consequ-
ência e seu preço. Por uma parte, o século XVIII é um século de alta geral dos 
preços e, já falamos da fonte colonial desse fenômeno; é, ainda, o século das gran-
des fortunas edificadas sobre o ouro do Brasil, da prata mexicana, do açúcar e do 
rum das ilhas, do algodão da América e da Índia, tudo isso extraído do trabalho 
dos povos colonizados. Na Europa, a alta dos preços tem como consequência 
uma diminuição do salário individual diário real, da qual o capital aproveita-se. 
Constata-se, contudo, que o século XVIII, especialmente nos países mais avan-
çados como a Inglaterra, vê desaparecer senão a carestia e a falta de pão, pelo 
menos as fomes mortais. Como se explica isso? Deve-se em primeiro lugar, a 
que os operários trabalham mais (mais dias ao ano) e as mulheres e crianças são 
postas a trabalhar também. O salário familiar aumenta até o mínimo de subsis-
tência, mas por uma quantidade de trabalho extraordinariamente aumentada.
A revolução agrícola e a liberdade do comércio de grão, permitem que sejam 
alimentados um maior número de homens e com maior regularidade, nos paí-
ses mais adiantados, suprime-se o pousio (descanso destinado à terra cultivada, 
interrompendo uma cultura até outra) e planta-se mais leguminosas e tubérculos. 
Isso faz com que diminuam os antigos lucros da especulação, quando se tirava 
proveito das crises de alimentação. O capital mercantil de tipo antigo ressente-
-se, mas o capital industrial, cada vez que pode diminuir o conteúdo-valor da 
alimentação mínima do operário, assegura um lucro sempre maior. Vemos com 
clareza de que maneira, daí por diante, o capitalismo industrial, que nesse caso 
merece simplesmente o nome de capitalismo, substitui as modalidades primiti-
vas de formação do capital. Mas ainda, nos países avançados como a Inglaterra, 
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a agricultura, nas mãos dos capitalistas, adapta-se à produção em massa para a 
venda, ou seja, ao capitalismo.
Deve-se esclarecer que nem todos os países entram desde o século XVIII 
nessa fase decisiva. Por diversas características, a França se encontra bastante atra-
sada em relação à Inglaterra. A Europa oriental e meridional ainda irão demorar 
muito para criar as aglomerações urbanas dedicadas completamente à indús-
tria, como Manchester, que durante bastante tempo será um símbolo. Somente 
no século XIX, o capitalismo industrial se propagará tal como havia nascido na 
Inglaterra a partir de 1760.
Resta considerar que um regime social não está constituído, exclusivamente, 
por seus fundamentos econômicos. A cada modo de produção corresponde, 
não somente um sistema de relações de produção, como também um sistema 
de direito, de instituições e de formas de pensamento.
Um regime social em decadência serve-se precisamente desse direito, dessas 
instituições e desses pensamentos já adquiridos, para opor-se com todas as suas 
forças às inovações que ameaçam sua existência. Isso provoca a luta das novas 
classes, das classes ascendentes, contra as classes dirigentes que ainda acham-se 
no poder e, determina o caráter revolucionário da ação e do pensamento que 
animam essas lutas.
O regime feudal, conforme Vilar (1975), não morreu sem defender-se. E o 
ataque que ele sofreu não começou somente com as formas mais desenvolvidas 
dos novos modos de produção. Essas formas, com efeito, só puderam triunfar 
quando já tinham se liberado dos inconvenientes, dos entraves que as instituições 
de tipo feudal necessariamente lhes opunham. Isto é, a história das revoluções 
burguesas.
É muito importante se atentar, caro(a) leitor(a), para a relevância do século 
XVI para a História Européia. Esse espaço cronológico representa a tênue linha 
divisória entre a ordem feudal decadente e o sistema capitalista que surgia.
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MERCANTILISMO
 Após 1500, importantes mudanças econômicas e sociais começaram a ocorrer:
1. A Classe Trabalhadora, sistematicamente privada do controle sobre o pro-
cesso de produção, vendia força de trabalho para sobreviver.
2. A população da Europa Ocidental aumentou quase um terço, chegando 
a 70 milhões em 1600.
3. Movimento do cercamento.
4. O despertar intelectual que promoveu o progresso científico.
5. Entrada de ouro, extraída pelos portugueses da Costa do Ouro, na África.
6. Aumento dos preços entre 150 e 400%, dependendo do país ou região.
Percebemos, aqui, uma série de modificações de ordem econômica e social que, 
juntas conduziram ao capitalismo. Hunt (1989) indica que a questão do aumento 
populacional foi acompanhado pelo movimento do cercamento, que começou 
na Inglaterra, já no século XIII. A nobreza feudal, cada vez mais necessitada de 
dinheiro, cercava ou fechava terras que antes eram usadas como pasto comum, 
utilizando-a, então, como pasto de ovelhas, para satisfazer à explosiva procura de 
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O PENSAMENTO ECONÔMICO NA ANTIGUIDADE CLÁSSICA
Reprodução proibida. A
rt. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.
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lã pela indústria têxtil lanífera inglesa. As ovelhas davam bons lucros e exigiam 
um mínimo de trabalho nas pastagens.

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