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QUEM SÃO OS IRMÃOS DE JESUS

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QUEM SÃO OS IRMÃOS DE JESUS? 
 
Em tom de menosprezo e zombaria, os judeus questionavam-
se a respeito de Cristo: “Não é este o filho do carpinteiro? O 
nome de sua mãe não é Maria, e não são seus irmãos Tiago, 
José, Simão e Judas? Não estão conosco todas as suas irmãs? 
De onde, pois, ele obteve todas essas coisas?” (cf. Mt 13:55; Mc 
6:3). Os Padres da Igreja, por sua vez, foram unânimes a 
respeito desta questão: estes ditos “irmãos” não provinham de 
Maria. Surgiram então duas teorias para explicar sua origem: a 
primeira (que teve Santo Epifânio como seu principal defensor) 
defendia que se tratavam de filhos de um primeiro casamento 
de José; a segunda (que foi propagada por São Jerônimo) 
defendia que se tratavam simplesmente de parentes próximos 
de Jesus, filhos de sua tia, Maria de Clopas. Podemos dizer, a 
partir de Helvídio (e de outros hereges como os 
antidicomarianitas), que existia também uma terceira visão, 
ainda que não admitida na teologia ortodoxa, que atribuía a 
maternidade destas pessoas à própria Virgem Maria. Esta 
última visão foi ressuscitada pelos movimentos protestantes 
posteriores (ainda que os reformadores originais como Lutero 
e Calvino a rejeitassem), ressuscitando também consigo o 
debate em torno de sua identidade. Esse texto terá por 
finalidade analisar justamente estes três posicionamentos (isto 
é, o helvidiano, o epifaniano e o hieronymiano). 
 
a) Teoria Helvidiana 
Por volta do ano 370, um escritor chamado Helvídio difunde em 
Roma a ideia de os ditos “irmãos de Jesus” eram, na realidade, 
frutos do casamento de José e Maria. Para sustentar sua 
heresia, Helvídio enfatizava a literalidade do termo “irmão” nas 
Sagradas Escrituras, além de se utilizar das famosas (e 
ambíguas) expressões “primogênito” (Lc 2:7) e “até que” (Mt 
1:25), presentes no Evangelho. Apesar da resistência dos 
reformadores originais, também o protestantismo apoderou-se 
desta visão, propagando-a para difamar a Igreja Católica. A 
estes pseudo-helvidianos, podemos incluir certos sacerdotes 
católicos, que, em nome de uma falsa “crítica histórica” e de um 
falso “movimento ecumênico”, negligenciaram aos dogmas da 
Igreja. Um deles (que talvez seja o principal defensor desta 
heresia na historiografia moderna) é o Padre John P. Meier, que 
em sua Magnum opus, argumentou que “a opinião mais 
provável é que os irmãos e irmãs de Jesus eram verdadeiros 
irmãos (sic)”[1]. 
Desenvolvendo o argumento de Helvídio, alguns críticos 
modernos adeptos desta visão (como Meier e seus 
correligionários) afirmam que ao enumerarem os ditos 
“irmãos” e “irmãs” de Jesus ao lado de seu pai e sua mãe, os 
Evangelistas os associaram a família de José, e, portanto, não 
podem ser resumidos a um mero status de “primos”, nem 
incluídos a outro núcleo familiar[2]. Meier, por exemplo, 
destaca que só uma vez em toda a LXX, o termo “irmão” 
(adelphós) significa “primo” (cf. 1 Crônicas 23,22), e que, no 
Novo Testamento, este termo “significa somente verdadeiro ou 
meio-irmão, e nada mais”[3]. Assim, por mais que ele admita 
que a teoria de Epifânio possa ser defendida criticamente (ao 
contrário da de Jerônimo)[4], a rejeita por considerá-la um 
recurso meramente apologético[5]. Um último argumento neo-
helvidiano se baseia na estranheza da Virgem sempre aparecer 
acompanhada por estes “irmãos” (cf. Mt 12:46-50; Jo 2:13; At 
1:13), sendo eles simplesmente seus sobrinhos (segundo a 
teoria de Jerônimo). 
Não obstante, a teoria helvidiana é, talvez, a teoria que mais 
contêm questionamentos que até hoje não foram dados 
soluções satisfatórias: 
1. O Evangelista João atribui a estes “irmãos” uma 
autoridade de correção que cabia apenas aos irmãos 
mais velhos, não aos mais novos. Seria muito estranho 
nas sociedades da Ásia Menor daquele período que 
irmãos mais novos instruíssem seus irmãos mais velhos, 
tal como ocorre em uma cena descrita no Evangelho de 
João (cf. Jo 7:3-4)[6]. “Tais ações segundo os costumes 
semitas seriam apropriados apenas para irmãos mais 
velhos ou parentes.”, comenta o mariologista Philip 
Donnelly[7]. 
2. Seria escandaloso entre os membros da comunidade 
judaica que irmãos mais novos se dirigissem ao filho 
primogênito de sua família através das frases descritas 
por Marcos: “Ele está fora de si” (Marcos 3:21). Ainda 
que se considerasse que eles não criam em Jesus, este 
desrespeito se opunha totalmente aos costumes dos 
próprios judeus: “Entre irmãos, presta-se honra ao mais 
velho” (Eclo 10, 21). 
3. Aos doze anos, José, Maria e Jesus sobem ao templo 
para a festa da Páscoa, mas nenhuma outra criança é 
mencionada com eles (cf. Lc 2:41-52). Ora, de acordo 
com Deuteronômio 16:15-16, Maria não possuía 
nenhuma obrigação jurídica de comparecer a essa festa, 
e, tendo pelo menos cinco crianças pequenas em casa, 
era muito pouco provável que ela escolhesse viajar 
“todos os anos” (cf. Lc 2:41) para celebrá-la. Afinal, caso 
ela decidisse participar da festa, ficaria cerca de 
quatorze dias longe de suas crianças[8]. É de se 
estranhar também que pessoas tão proeminentes da 
Igreja Primitiva como os irmãos de Jesus (em especial, 
Tiago) não tenham sido sequer citados por Lucas neste 
relato, caso eles tenham acompanhado seus pais. Além 
disso, é interessante notar que, de acordo com os 
versículos 45 e 46, ao saberem que Jesus havia 
desaparecido, tanto José quanto Maria voltaram sem 
hesitação para a Cidade Santa com o intuito de procura-
lo (algo que seria muito difícil caso estivessem 
acompanhados de crianças pequenas). 
4. A objeção mais grave à teoria helvidiana se encontra no 
Evangelho de João. Este autor nos diz que Cristo 
entregou sua mãe aos cuidados do discípulo amado, 
João, o filho de Salomé e Zebedeu (cf. Jo 19:25-27). Tal 
situação seria absurda caso Maria tivesse outros filhos, 
afinal, ela iria para o que era seu e não para o que lhe 
era alheio. Na tentativa de sustentar a posição 
helvidiana, no entanto, foi criado uma argumentação ad 
hoc na qual se supõe que a entrega de Maria a João se 
deu unicamente porque este era crédulo, enquanto que 
os irmãos de Jesus eram incrédulos (cf. Jo 7:5). Todavia, 
a resposta não pode ser considerada satisfatória pelas 
seguintes razões: I) Ainda que se considere que os ditos 
“irmãos do Senhor” eram incrédulos com relação a 
Jesus, isso não quer dizer que eles unanimemente 
permitiriam que sua mãe fosse morar na casa de um 
estranho; II) Nada no texto de João 7:1-5 sugere que 
todos os irmãos de Jesus eram incrédulos. Como será 
visto mais abaixo, é bem provável que Judas fosse 
crédulo com relação a Cristo (cf. Jo 14:22); III) Mesmo 
conjecturando que os supostos filhos de Maria 
abandonariam sua mãe, Sirac e Paulo lembram que, 
baseados no quarto mandamento, havia uma obrigação 
jurídica e social que unia as viúvas e os idosos a seus 
respectivos filhos (cf. Pv 23:22; Eclo 3:14; 1 Tm 5: 3-4). 
Ora, sendo os irmãos de Jesus judeus devotos (ainda que 
não fossem cristãos), é muito improvável que eles e o 
restante da comunidade judaica tenham consentido a 
uma aberração social tão grande como o abandono da 
própria mãe por seis ou sete filhos; IV) Este argumento 
parece implicar que Jesus não sabia que seus irmãos de 
fato se tornariam crentes em poucos dias após a 
crucificação[9]. 
5. Esta teoria contradiz o ideal de Maria de permanecer 
virgem (cf. Lc 1:34). 
6. Esta teoria contradiz a tradição unânime[10] dos Padres 
da Igreja de que a mãe de Jesus permaneceu virgem até 
o fim de sua vida. 
7. Esta teoria contradiz o Magistério da Igreja, que já se 
posicionou formalmente sobreo assunto. 
Por tudo isso, essa teoria foi formalmente condenada por 
diversos Concílios da Igreja (sejam regionais ou ecumênicos), 
que sempre prezaram pela honra da mãe de Nosso Senhor. Não 
pode, portanto, um católico lhe ser adepto (sob pena de 
excomunhão). 
 
b) Teoria Epifâniana 
No mesmo século em que Jerônimo escrevia no Ocidente, o 
bispo de Salamina, Epifânio, dedicou um capítulo inteiro de sua 
principal obra, a“Panarion”, na defesa da doutrina da 
virgindade perpétua de Maria contra uma seita herética a quem 
identificou com o nome de “antidicomarianitas” (em grego, 
“adversários de Maria”)[11]. Diferentemente do famoso 
presbítero de Estridão, no entanto, Epifânio adotou a teoria de 
que os “irmãos” e “irmãs” de Jesus eram filhos de um primeiro 
casamento de José[12]. A partir daí, esta teoria recebeu seu 
nome, sendo conhecida na crítica moderna como “teoria 
epifaniana”. Ela foi, sem dúvidas, a teoria preferida na Igreja 
Primitiva, sendo defendida não apenas por Epifânio mas 
também por Clemente de Alexandria[13], Orígenes[14], Hilário 
de Poiters[15], Eusébio de Cesaréia[16] e pela maioria dos 
Padres gregos posteriores. 
Como o Ocidente adotou a teoria hieronymiana, a teoria de 
Epifânio parece ter caído no esquecimento durante os debates 
entre católicos e protestantes (ainda que fosse conservada no 
Oriente através das igrejas ortodoxas), sendo ressuscitada 
apenas no século XIX pelo anglicano J. B. Lightfoot, e mais 
recentemente pelo ortodoxo Laurent A. Cleenewerck e pelo 
crítico também anglicano Richard Bauckham. Este último (que 
deixa claro não acreditar na doutrina da virgindade perpétua de 
Maria[17]) confrontou a tese de Meier sustentando que a visão 
epifaniana não somente era possível, como também era, entre 
as três, a mais provável[18]. Em seu apoio, Bauckham observou 
que em meados do século II foram escritas três obras sírias não 
relacionadas entre si (isto é, o “Protoevangelho de Tiago”, o 
“Evangelho de Pedro”e o “Evangelho da Infância de Tomé”), 
que, embora não possuam valor histórico nelas mesmas, 
sugerem uma tradição primitiva comum, que, por sua vez, 
possui um valor histórico. Ele escreve: “A ideia de que os irmãos 
e irmãs de Jesus eram filhos de José por um casamento anterior 
é tida como totalmente garantida nessas obras como algo que 
os leitores já sabiam. É a única parte da informação não bíblica 
comum a essas obras”, e prossegue: “As próprias obras não 
mostram sinais de uma relação literária e, portanto, a 
informação pode razoavelmente ser considerada uma tradição 
anterior a ambas as obras. Essas obras são, portanto, evidências 
de uma tradição bem estabelecida no cristianismo sírio do 
século II (provavelmente cedo) de que os irmãos e irmãs de 
Jesus eram filhos de José por um casamento anterior.” [19]. 
Por fim, Bauckham também observa que na passagem de 
Marcos 6:3, Jesus é identificado pelos judeus de Nazaré como 
“o filho de Maria” ao invés de “o filho de José”, como era de 
costume (cf. Mt 13:55; Lc 4:22; Jo 6:42). Ele então afirma que as 
teorias que foram propostas para este versículo (como a de que 
Marcos estivesse se referindo ao seu nascimento virginal) 
nunca deram uma explicação criticamente satisfatória para o 
texto[20]. Ora, sendo comum no Antigo Testamento e em 
vários textos rabínicos o uso do nome metronímico para a 
designação de filhos de mães diferentes[21], Bauckham sugere 
que aqui, “Jesus seria chamado de “filho de Maria” 
precisamente porque Tiago, José, Judas e Simão não eram filhos 
de Maria”[22]. Ele, no entanto, ressalta: “Esta compreensão de 
Marcos 6:3 não depende, evidentemente, da hipótese 
improvável de que Marcos preserve um relatório histórico 
exato do que o povo de Nazaré disse. Simplesmente assume 
que Marcos tenta retratar com verossimilhança o que eles 
teriam dito, assim como ele os representa como chamando 
Jesus de “o carpinteiro” porque isso é o que as pessoas na sua 
aldeia natal, embora não em outros lugares, provavelmente o 
chamariam.”[23]. 
Sobre a questão linguística, Bauckham observa que no 
Evangelho de Marcos, Felipe é chamado de “irmão” (adelphós) 
de Herodes (cf. Mc 6:17), quando na realidade era seu meio-
irmão. Assim, diferentemente do que acontece com a teoria 
hieronymiana, nem mesmo Meier ousa questionar o fato de 
que é possível que o termo irmão (adelphos), signifique um 
meio-irmão[24]. 
Contra a teoria epifaniana, todavia, surgem geralmente duas 
objeções tradicionais. A primeira diz respeito ao silêncio sobre 
estes supostos “irmãos” e “irmãs” nas narrativas da Infância, 
que falam apenas de José “tomando o menino e sua mãe” em 
suas viagens (cf. Mt 2:13-14). Por analogia, este argumento 
também inviabiliza a tese helvidiana, já que Lucas também 
narra que apenas três pessoas viajaram para Jerusalém para a 
Festa da Páscoa e que apenas “seu pai e eu (Maria)” 
procuravam por Jesus quando ele se perdeu (cf. Lc 2:48). Sobre 
isso, no entanto, Bauckham escreve: “Nenhum argumento 
pode ser construído sobre o silêncio das narrativas da infância 
de Mateus e Lucas quanto aos filhos de José que já viviam no 
momento do nascimento de Jesus. Os evangelistas não têm 
interesse em fornecer essas informações.” [25]. Isso significa 
que há a possibilidade do Evangelista ter simplesmente omitido 
os personagens secundários do texto com o intuito de destacar 
os personagens principais. Ainda podemos salientar que, entre 
os manuscritos falsamente atribuídos a Eusébio de Cesaréia, há 
um manuscrito sírio (datado entre os séculos V e VI) que cita um 
antigo documento “escrito durante o reinado do César Adriano 
e o consulado de Severo e Fulgus” (isto é, por volta de 119 d.C.) 
que dizia: “E, no começo do reinado do filho de Herodes, 
levantaram-se e subiram daquela terra para o país da Galiléia, 
José e Maria, e Nosso Senhor junto com eles, e os cinco filhos 
de Hannah (Ana), a primeira esposa de José.”[26]. 
O segundo argumento não é bem um argumento histórico, mas 
teológico. Ele considera que Jesus tinha que ser o primogênito 
de José para poder ter direito ao trono de David e cumprir as 
profecias messiânicas. Em resposta pode-se desenvolver uma 
argumentação surgida na obra do epifaniano Laurent 
Cleenewerck que parece indicar que era necessário que o 
Messias, sendo o último sucessor de David no trono real, fizesse 
uma analogia a Salomão, seu primeiro sucessor (que também 
herdou ao trono de David mesmo não sendo o primogênito de 
seu pai e tendo quatro meio-irmãos mais velhos - Amnon, 
Absalão, Quileabe e Adonias). Por isso, diz Cleenewerck, Jesus 
é comparado a Salomão (cf. Mt 12:42)[27]. Além disso, Jesus 
continua sendo o “primogênito de Maria” (cf. Lc 2:7) que é uma 
descendente de David de acordo com a carne (cf. Rm 1:3). 
 
c) Teoria Hieronymiana 
Em 383, sob o pontificado do Papa Dâmaso, Jerônimo escreveu 
seu tratado intitulado “Adversus Helvidium” (em português, 
“Contra Helvídio”), onde se propunha a refutar os escritos deste 
autor. Nele, Jerônimo sugeriu que não apenas Maria, mas 
também José, permaneceram virgens durante toda a sua 
vida[28]. De acordo com ele, os ditos “irmãos de Jesus” seriam 
simplesmente parentes próximosde Nosso Senhor, não sendo 
necessariamente filhos de sua mãe. Na atualidade, variações 
desta teoria foram defendidas por John McHugh[29] e Josef 
Blinzer[30]. Por questões didáticas, dividiremos a teoria 
hieronymiana em duas partes: a primeira, abordando a 
identidade dos irmãos de Jesus, e a segunda, abordando a 
questão linguística que cerca este problema. 
 
I. A identidade dos irmãos de Jesus 
Aanálise de Jerônimo se inicia na observação da lista de 
mulheres presentes na cena da crucificação. Enquanto que os 
sinóticos citam apenasduas Marias[31], o Evangelho de João 
adiciona a figura da mãe de Jesus, sendo, portanto, o único a 
totalizar três Marias[32]. Além de Maria Madalena, os 
evangelistas Marcos, Mateus e Lucas citam também uma 
segunda Maria, a quem chamam “Maria, mãe de Tiago e José” 
(cf. Mt 27:56; Lc 24:10) ou ainda “Maria, mãe de Tiago, o menor, 
e José” (cf. Mc 15:40). Assim, podemos conjecturar com certa 
razão (como bem o fez São Jerônimo), que esta “outra Maria” 
(Mt 28:1) é a mesma personagem identificada por João como 
“a irmã de sua mãe, Maria, mulher[33] de Clopas” (cf. Jo 19:25), 
já que é criticamente improvável que os evangelistas 
chamassem a mãe de Jesus desta maneira[34]. Como o nome 
dos seus filhos é idêntico ao dos dois primeiros irmãos de Jesus 
(cf. Mc 6:3; Mt 13:55), Jerônimo sugeriu que esta Maria, tia de 
Jesus, seria a mãe legítima dos ditos “irmãos do Senhor”. Soma-
se a isso uma identificação secundária feita por Jerônimo entre 
Tiago Menor e Tiago Apóstolo, que, sendo Tiago Apóstolo irmão 
de Judas Tadeu (cf. listas apostólicas e Jd 1:1), identificar-se-ia 
mais um dos seus ditos “irmãos”, compondo a lista dos filhos 
desta outra Maria, Tiago, José e Judas. 
Ainda que não tenha feito parte da argumentação original de 
Jerônimo, o testemunho de Hegésipo, historiador cristão do 
século II, é também de grande relevância neste debate. Este 
autor nos relata que José tinha um irmão chamado Clopas[35] 
e que, Maria, mulher de Clopas, foi também mãe de um homem 
chamado Simeão, o segundo bispo de Jerusalém[36]. Completa-
se, assim, a lista de filhos de Maria de Clopas, tia do Senhor: 
Tiago, José, Judas (?) e Simeão. Essa é a mesma lista de nomes 
presentes em Marcos 6:3 e Mateus 13:55! A respeito da 
validade do testemunho de Hegésipo, escreve o anglicano J. B. 
Lightfoot (que, como foi dito anteriormente, não é adepto da 
teoria hieronymiana): “Não vejo nenhuma razão para duvidar 
do testemunho de Hegésipo, que talvez tenha nascido durante 
a vida deste Simeão, e é provável que tenha estado bem 
informado.” [37]. 
A partir dos dados apresentados acima, tanto helvidianos 
quanto epifânianos são obrigados a sugerir a inusitada hipótese 
de que dois irmãos judeus (no caso, José e Clopas) repetiriam a 
mesma lista de nomes em todos os seus filhos. Ainda que os 
nomes fossem comuns, uma sugestão como essa requer um 
raciocínio forçado que violaria totalmente os costumes da 
época. Este é um, dentre outros pontos, na qual a teoria 
hieronymiana se sobressai sobre as demais, sendo por conta 
disso preferida pelos documentos oficiais da Igreja Católica (cf. 
CIC 500). 
Resta-nos, todavia, analisar as identificações reivindicadas pela 
teoria hieronymiana. A primeira delas diz respeito à 
identificação do “Tiago e José” de Marcos 15:40 com o “Tiago e 
José” de Marcos 6:3. Para tal, podemos contar com a brilhante 
argumentação feita por Josef Blinzer, crítico favorável à 
identificação dos quatro personagens[38]. Ele observa que 
Marcos coloca os dois nomes na mesma ordem e com a mesma 
numeração apresentada por ele para designar os ditos irmãos 
de Jesus em Marcos 6:3, o que é, segundo ele, um forte indício 
de que Marcos estivesse tentando se referir a estas 
personagens[39]. O mesmo ocorreria nas passagens análogas 
do Evangelho de Mateus (cf. Mt 13:55; 27:56)[40]. Além disso, 
ao verificar que o Novo Testamento apresenta um total de oito 
portadores diferentes do nome “José” e que todos são 
identificados pelo termo grego Iosef (Ἰωσὴφ), Blinzer percebeu 
que, ao se referir a José, irmão do Senhor, Marcos é o único que 
o chama pelo termo incomum Iósés (Ἰωσῆτος). Esta 
terminologia (que é provavelmente uma abreviação de Iosef), 
só é utilizada mais uma vez por Marcos para se referir a José, o 
filho de Clopas (cf. Mc 15:40; 15:47). Ora, como este Evangelista 
conhecia a forma comum do nome e a utilizou para designar a 
todos os demais personagens com este mesmo nome (Cf. Mc 
15:43; 45:45), podemos afirmar que a identificação entre os 
dois personagens é não somente possível, mas também muito 
provável[41]. 
Observe também que esta Maria só é chamada de “mãe de 
Tiago e José” pelos evangelistas que citam anteriormente a lista 
dos irmãos de Jesus (isto é, por Marcos e Mateus), onde o nome 
de José segue imediatamente o nome de Tiago (cf. Mc 6:3; Mt 
13:55). Lucas, por outro lado, uma vez não tendo citado a lista, 
a identifica somente como “Maria, mãe de Tiago” (cf. Lc 24:10). 
Ora, a partir dessa situação, é possível conjecturar que, ao citar 
o nome de seus dois filhos mais velhos, os evangelistas Marcos 
e Mateus tenham tido a intenção de identificar essa nova 
personagem a partir do nome de dois personagens já citados 
anteriormente (o que, pela lógica, não poderia ocorrer com 
Lucas já que o autor não havia os citado anteriormente), 
comprovando assim, a identificação entre os quatro 
personagens. Por fim, um quarto argumento foi proposto por 
John McHugh[42]: Este autor observa que nos escritos de Lucas, 
apenas Tiago, irmão de Jesus, pode ser identificado 
simplesmente como “Tiago” sem o risco de cair em 
ambiguidade (cf. Atos 12:17; 15:13; 21:18). Ao citar apenas o 
nome “Tiago”, Lucas, portanto, provavelmente deve ter feito 
referência a aquele que sempre identifica por este termo[43]. 
A partir de Richard Bauckham[44], no entanto, duas objeções 
começaram a ser levantadas por parte de alguns críticos contra 
esta identificação: 
• A primeira é uma objeção quanto ao título: Tiago, irmão 
de Jesus, era conhecido na Igreja Primitiva sob os 
epítetos de “o irmão do Senhor” e “o Justo”, não como 
“o pequeno” ou “o menor”. A partir disso, pode-se 
concluir que assim como os Evangelistas não chamariam 
uma pessoa tão proeminente na Igreja Primitiva como 
mãe de Jesus simplesmente de “Maria, mãe de Tiago e 
José”, eles não identificariam o líder da Igreja de 
Jerusalém simplesmente sob o epíteto de “o menor”. 
Por mais que defendida por críticos famosos como Bauckham, 
essa argumentação encontra sérios problemas exegéticos: I) É 
totalmente inadequado comparar a situação da Virgem Maria 
com a de Tiago, pois enquanto que os sinóticos sempre 
identificaram a Virgem sob os títulos de “a mãe do Senhor” ou 
“sua mãe” (cf. Mt 1:18, 2:11, 2:13, 2:14, 2:20, 2:21; Lc 1:43, 2: 
33-34, 2:51, 8:19; Mc 3:31; 6:3), Tiago nunca é mencionado 
como “o Justo” ou “o irmão do Senhor”. Lucas não o identifica 
com estes títulos nem mesmo quando lhe cita com 
proeminência em seus Atos dos Apóstolos (Cf. Atos 12:17; 
15:13; 21:18). II) Blinzer, por sua vez, propõe que o epíteto de 
Marcos relacionado a estatura de Tiago tenha sido um de seus 
primeiros títulos identificativos[45]. Ora, a partir disso é 
totalmente possível conjecturar que durante o tempo em que 
Marcos escrevia seu Evangelho os vários epítetos atribuídos ao 
líder da Igreja de Jerusalém tenham coexistido e que, devido à 
piedade popular, apenas os mais nobres deles (isto é, “o irmão 
do Senhor” e “o Justo”) tenham chegado ao tempo de 
Hegésipo. Esta visão explicaria o porquê dos evangelistas 
subsequentes (Mateus e Lucas) terem excluído essa forma de 
identificação dos seus relatos já que percebaram que ela, 
provavelmente, já havia entrado em desuso. III) O próprio 
Bauckham admite que o epíteto de “O Justo” é um título 
posterior[46]. O fato de Tiago ser identificado por Paulo como 
“o irmão do Senhor” em Gálatas 1:19, ainda que possa indicar 
o uso desta terminologia na Igreja Primitiva,não indica sua 
exclusividade, afinal, em todas as demais ocasiões, ele o 
identifica simplesmente como Tiago (cf. 1 Cor 15:7; Gl 2:9; Gl 
2:12). 
• A segunda é uma objeção quanto à influência: Como 
Tiago, irmão de Jesus, era muito mais influente na Igreja 
Primitiva que seu irmão José, caso nesta passagem ele 
realmente quisesse se referir ao irmão do Senhor, não 
alternaria a identificação de suas mães às vezes como 
“mãe de José” (Mc 15:47) e às vezes como “mãe de 
Tiago” (Mc 16:1), mas sempre daria proeminência a 
Tiago, preferindo-o ao invés de seu irmão José. 
Novamente, a argumentação nos parece induzir a um raciocínio 
forçado. A isto, responde-se: I) Nestas passagens (Mc 15:47; 
16:1), Marcos pode muito bem ter se utilizado da alternância 
de nomes como um mero dispositivo retórico com o intuito de 
evitar repetições. II) Não há nenhuma marca da proeminência 
de Tiago no Evangelho de Marcos. Pelo contrário, a única vez 
que seu nome é citado, o é ao lado de seu irmão José (cf. Mc 
6:3). Ora, uma vez considerando que o interesse de Marcos era 
simplesmente apresentar esta Maria como a mãe dos ditos 
“irmãos de Jesus” e considerando que ambos os personagens 
(Tiago e José) são tratados como personagens secundários em 
toda a obra, a questão da forma como sua mãe seria 
identificada torna-se também, uma questão secundária. III) 
Nenhum dos Evangelistas posteriores identificaram esta Maria 
alternando o nome de seus filhos. Lucas, por exemplo, já tendo 
escrito em uma época mais tardia e sendo diretamente 
influenciado por Paulo, responde ao questionamento de 
Bauckham, favorecendo completamente Tiago em sua 
narrativa ao excluir o nome de seu irmão José e identificar 
Maria de Clopas somente como “Maria, mãe de Tiago” (cf. 
Lucas 24:10). Vale ressaltar que este último autor parece ter 
sido o único a atribuir uma importância maior a Tiago, não em 
seu Evangelho, mas principalmente em sua obra “Atos dos 
Apóstolos”, onde lhe descreve com uma especial atuação no 
Concílio de Jerusalém (cf. Atos 12:17; 15:13; 21:18). 
Uma segunda objeção diz respeito à identificação de “Maria de 
Clopas” com “a irmã de sua mãe” em João 19:25. Muitos críticos 
modernos adotam versões alternativas desta passagem (como 
a apresentada pela Bíblia siríaca Peshitta) na qual as duas 
personagens são diferenciadas por conjunções. O motivo disso 
é que seria muito estranho que um pai judeu colocasse o 
mesmo nome em duas de suas filhas. No entanto, o texto grego 
parece bem claro: “τοῦ Ἰησοῦ ἡ μήτηρ αὐτοῦ καὶ ἡ ἀδελφὴ τῆς 
μητρὸς αὐτοῦ, Μαρία ἡ τοῦ Κλωπᾶ καὶ Μαρία ἡ Μαγδαληνή.” 
(tradução: “sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria mulher de 
Clopas, e Maria Madalena.”). Perceba que ao introduzir um 
novo personagem, João o diferencia do que o precedeu através 
de uma conjunção aditiva. Se ele quisesse expressar 
personagens diferentes, portanto, era de se esperar que ele 
também se utilizasse aqui de uma conjunção textual (o que 
certamente não é o caso). Todos os demais evangelistas de sua 
época assim o fazem ao introduzir uma lista de pessoas (cf. Mc 
3:16-19; 6:3; 15:40; Lc 6:13-16; 24:10; At 1:13; Mt 10:2-4; 13:55; 
27:56). Todavia, nem mesmo os católicos (que conservam o 
número original de três Marias no relato de João) concordam 
com a ideia de que esta personagem fosse literalmente uma 
“irmã” da mãe de Jesus. É muito mais provável que aqui, João 
estivesse utilizando-se da plurissignificância do termo adelphos, 
e o aplicando para designar simplesmente que as duas Marias 
tinham uma relação de parentesco. Esta relação, por sua vez, é 
explicada melhor alguns anos depois pelo historiador 
eclesiástico Hegésipo, que mostra que, na realidade, Maria e 
Maria de Clopas eram concunhadas[47]. 
A identificação entre Tiago, filho de Clopas, e Tiago, filho de 
Alfeu, é secundária para a teoria hieronimyana, mas como faz 
parte da argumentação original de São Jerônimo, merece nossa 
atenção. Jerônimo apresentou dois argumentos para ela: I) Em 
Gálatas 1:19, Tiago, irmão do Senhor, é chamado de “apóstolo” 
por Paulo. A isto, objeta-se que a passagem também pode ser 
interpretada da seguinte maneira: “Além dos apóstolos, não vi 
ninguém, exceto Tiago, irmão do Senhor”. Como se pode 
observar, esta tradução anularia a identificação de Tiago como 
“apóstolo”. Todavia, o protestante Thomas R. Schreiner 
observa: “É mais provável, no entanto, que o termo “exceto” (εἰ 
μὴ) modifique o termo “outro” (ἕτερον)[48]. Se este for o caso, 
Tiago está incluído entre os apóstolos. Uma construção paralela 
em 1 Coríntios 1:14 apóia a idéia de que Tiago é contado como 
um dos apóstolos (cf. Lucas 8:51; Filipenses 4:15): “Agradeço a 
Deus por eu não ter batizado nenhum de vós, exceto Crispus e 
Gaius” (ESV, εὐχαριστῶ τῷ θεῷ ὅτι οὐδένα ὑμῶν ἐβάπτισα εἰμὴ 
Κρίσπον καὶ Γάϊον). É claro que Crispus e Gaius estão incluídos 
entre os batizados aqui e, de alguma forma, Tiago é 
considerado um dos apóstolos.” [49]; ainda assim, no entanto, 
não podemos ter certeza que aqui o termo “apóstolo” se refira 
aos doze. Mesmo não fazendo parte do núcleo original dos 
doze, Paulo chama a si próprio e a Andrônico e Júnias de 
“apóstolos” (cf. Gl 1:1; Rm 16:7) enquanto que, seu discípulo 
Lucas, chama Paulo, Barnabé e Matias por este mesmo título 
(cf. Atos 1:26; 14:14). Com o intuito de sustentar a identificação, 
alguns recorrem ao fato de Tiago ser apresentado por Paulo 
como um apóstolo igual a Cefas (cf. Gl 1:18). Além disso, 
afirmam que por ele ter ficado quinze em Jerusalém, era natural 
ter visto outros apóstolos em sentido geral (em especial os ditos 
“apóstolos das igrejas” como Andrônico e Júnias), mas, do 
núcleo dos doze, só viu a Tiago, filho de Alfeu. Por mais que tal 
interpretação seja possível, o termo de Paulo é ambíguo. Ele 
pode simplesmente estar designando pessoas proeminentes na 
Igreja Primitiva, já que alguns versículos antes, ele próprio se 
identifica por este termo (cf. Gl 1:1; 1:17). Assim, não se pode 
sustentar essa identificação baseado em um único versículo. II) 
Jerônimo observa que Tiago é designado como “o Menor” (ho 
mikros). Segundo ele, esta passagem implica a existência de 
apenas dois Tiagos: um, “o Maior”, filho de Zebedeu, e outro, 
“o Menor”, filho de Alfeu. Por mais que do ponto de vista 
linguístico, haja essa possibilidade (cf. Atos 8:10; Hebreus 8:11), 
como Tiago, filho de Zebedeu, nunca é identificado pelo título 
“o Maior” nas Escrituras, não podemos tê-la por certo. É muito 
mais provável que o epíteto seja simplesmente uma referência 
à estatura de Tiago[50]. 
É verdade que muitos Padres da Igreja identificaram os dois 
personagens (entre eles, Clemente de Alexandria[51], São 
Jerônimo, Santo Agostinho, Teodoreto, etc), no entanto, muitos 
problemas circundam esta teoria. O primeiro deles é a falta de 
uma explicação satisfatória para os nomes de Alfeu e Clopas. 
Richard Bauckham observou convincentemente que esses dois 
nomes não são a versão grega e hebraica do mesmo nome 
aramaico Halphai, como havia sido proposto por alguns 
hieronymianos, mas Clopas o é uma versão grega do nome 
aramaico Qlofò (ופולק) [52]. O segundo, o fato de Paulo 
aparentemente distinguir Tiago dos doze em 1 Cor 15:7[53]. 
Todavia, a existência de três Tiagos de forma alguma abala a 
teoria de Jerônimo. Adotemos aqui, portanto, o testemunho de 
Hegésipo, de que simplesmente “eram muitos os que se 
chamavam Tiago”[54]. 
Se a identificação entre os dois Tiagos pode ser dita improvável, 
a identificação entre Judas Tadeu e Judas, irmão do Senhor, não 
o pode. No capítulo 7 de seu Evangelho, João narra uma 
situação privada entre Cristoe seus irmãos, onde estes o 
instruíam da seguinte maneira: “Sai daqui, e vai para a Judéia, 
para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes. 
Porque não há ninguém que procure ser conhecido que faça 
coisa alguma em oculto. Se fazes estas coisas, manifesta-te ao 
mundo” (João 7:3-4). Esta mesma reinvindicação, no entanto, 
será feita novamente por Judas Tadeu alguns capítulos depois: 
“Pergunta-lhe Judas, não o Iscariotes: Senhor, por que razão 
hás de manifestar-te a nós e não ao mundo?” (João 14:22). 
Ora, perceba que Judas conhecia aquela reivindicação que em 
privado foi feita a Jesus por seus irmãos. Como foi dito 
anteriormente, o fato dos irmãos serem chamados “incrédulos” 
(João 7:5), não implica na necessidade de todos terem sido 
incrédulos, sendo possível, portanto, conjecturar que Judas, o 
irmão mais jovem de Nosso Senhor (cf. Mt 13:55), tenha 
integrado o núcleo dos doze. 
Alguns, no entanto, questionarão o fato de Judas Tadeu ser 
chamado de “Judas de Tiago” por Lucas (cf. Lc 6:13-16; Atos 
1:13). Ora, este Tiago é geralmente identificado com o Tiago, 
filho de Alfeu, que precede o nome deste Judas na lista de 
Marcos e Mateus (cf. Mc 3:16-19; Mt 10:2-4), e que, como 
vimos, provavelmente é uma pessoa distinta de Tiago, filho de 
Clopas. Observem que, no entanto, apenas Tiago é chamado de 
“filho de Alfeu”, não Judas. Observe também que, ao identificar 
Tadeu como “Judas de Tiago”, Lucas (que é o único autor que o 
identifica desta forma) se preocupa em separar seu nome do 
nome do Apóstolo filho de Alfeu, colocando um outro 
personagem cruzado entre eles. Tudo isso indica que 
provavelmente o evangelista estivesse tentando não identificar 
os dois Tiagos como sendo a mesma pessoa. Quem seria então 
este Judas de Tiago? Ora, sabemos pela própria Epístola de 
Judas, atribuída tradicionalmente ao irmão do Senhor[55], que 
este personagem não se identificava pelo nome de seu “irmão” 
Jesus, mas sim pelo nome de seu irmão Tiago (cf. Jd 1:1). 
Baseado nisso e em todos os argumentos precedentes, 
podemos identificar com certa razão, portanto, que este “Judas 
de Tiago” é ninguém menos que Judas, irmão do Senhor. Ainda 
que não se possa relacionar o Apóstolo Judas diretamente a 
Maria de Clopas, podemos incluí-lo por conjectura. Afinal, sabe-
se que esta identificação é problemática para a teoria 
helvidiana já que derruba a contra-argumentação feita por eles 
a respeito da entrega de Maria para João em Jo 19:26-27. 
Concluída esta análise, ficam expostas as árvores genealógicas 
de cada posição: 
 
 
 
 
II. A questão idiomática 
Uma vez que Clopas, tio de Jesus, é o verdadeiro pai de Tiago, 
José, Simão e Judas, resta ao hieronymiano provar o porquê 
deles serem chamados de “irmãos do Senhor”. É verdade que 
várias explicações diferentes foram propostas ao longo do 
tempo, mas nos limitaremos aqui às duas principais. Segue a 
explicação tradicional: É sabido que o hebraico e o aramaico 
utilizavam-se do termo hebreu חא (‘ah - “irmão”) para designar 
todas as relações de parentesco próximo[56]. Assim, é 
totalmente possível conjecturar que em sua terra natal, os 
filhos de Clopas fossem conhecidos como “irmãos de Jesus”, e 
não como seus “primos” (expressão essa inexistente no 
vocabulário semita). Como a primeira comunidade cristã falava 
aramaico, esta terminologia continuou em uso para designar as 
famosas personagens que mais tarde ocupariam cargos 
importantes na Igreja de Jerusalém. Por sua vez, os autores 
sagrados, ao escreverem seus Evangelhos em grego, 
mantiveram a forma usual pela qual os ditos irmãos de Jesus 
eram conhecidos pela comunidade cristã, atribuindo a eles o 
termo “irmão” (adelphos) ao invés de “primo” ou “parente” 
(mesmo com essas expressões existindo em grego). Tal 
fenômeno é conhecido na hermenêutica como hebraísmo, e 
está presente principalmente nos escritos de São Lucas[57]. 
Várias situações análogas a esta poderiam ser contabilizadas na 
Septuaginta, onde os autores sagrados conservaram em grego 
o semitismo do termo “irmão”: Os sobrinhos de Eleázar são 
chamados de “irmãos” (adelphoi) de suas filhas, quando, na 
realidade, eram seus primos (cf. 1 Cro 23:22; LXX); Raguel é 
chamado tanto de “irmão” (adelphos) de Tobit em Tobias 7:4 
quanto de seu “primo” (anepsios) em Tobias 7:2; Tobias chama 
Sara de sua “irmã” (adelphi) em Tobias 8:4-9, quando na 
realidade eles eram apenas parentes; Abraão chama Ló de seu 
“irmão” (adelphos) em Gênesis 13:8, quando na realidade era 
seu sobrinho. Várias outras situações poderiam ainda ser 
citadas, mas aqui nos limitaremos apenas nessas (cf. Gn 14:14; 
29:15; 29:11-12; etc). J. J. Collins também encontrou esse tipo 
de hebraísmo em dois manuscritos egípicios datados entre 89 e 
134 a.C.[58] e Blinzer mostra que o historiador judeu Flávio 
Josefo também a utilizou algumas vezes[59]. O Novo 
Testamento, por sua vez, utiliza o termo grego adelphoi 343 
vezes, sendo 268 para designar irmãos metafóricos[60]. Apenas 
75 citações são encontradas para designar relações familiares 
literais que em algumas passagens designam também um meio-
irmão (cf. Mc 6:17), uma cunhada (cf. Jo 19:25) e até mesmo 
parentes em geral (cf. Mt 1:11)[61]. 
Uma segunda hipótese foi proposta pelo sacerdote católico 
John McHugh[62]. McHugh afirmava categoricamente: “No 
Novo Testamento, o termo “irmão” não significa “primos”. Ele 
significa “irmãos”. Mas isso não quer dizer que ele denote 
irmãos de sangue.”[63]. De acordo com o autor, a melhor 
maneira de se explicar porque os primos de Jesus são chamados 
de seus “irmãos”, não é através da suposição de que todas essas 
passagens recorressem a uma espécie de hebraísmo antigo, 
mas sim a um fenômeno conhecido no meio judeu: a 
transferência de familiares[64]. Quando morria um pai de 
família, sua viúva e filhos eram transferidos para a casa de seus 
parentes mais próximos. Ora, considerando que José e Clopas 
eram irmãos, pode-se conjecturar que, após a morte de um 
deles, um tomou para si a família do outro, e, uma vez que em 
seu dialeto os primos de Jesus já eram chamados de “irmãos”, 
a comunidade de judeus os teve como verdadeiros irmãos de 
Nosso Senhor. Como é José quem encabeça a lista de Mateus 
13:55, podemos conjecturar que foi ele quem tomou para si a 
família de seu irmão Clopas[65]. Com esta teoria, vários pontos 
confusos seriam esclarecidos: 
8. A tradição epifâniana dos séculos II e III: Sabe-se através 
da literatura apócrifa do século II, que os primeiros 
cristãos eram provavelmente adeptos da teoria 
epifaniana[66]. Se a teoria de McHugh estiver certa, é 
possível conjecturar que toda essa tradição 
subsequente tenha se originado a partir de uma má 
interpretação de duas informações primitivas: I) A 
atribuição da família de Clopas à pessoa de José; II) A 
informação de que alguns dos ditos irmãos de Jesus 
(como Tiago) eram mais velhos que ele (informação esta 
que é unânime entre todos os apócrifos mais antigos).- 
Tal suposição, explicaria, por exemplo, o fato de porque 
essa suposta “primeira esposa de José”, nunca tenha 
sido mencionado em lugar algum[67]. 
9. As passagens onde o termo “primo” não se encaixa: Em 
sua análise, Meier ridicularizou a teoria hieronymiana 
por ela sugerir a seguintes possibilidade de tradução: 
“Porquanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse 
é meu primo, e minha prima, e minha mãe.” (Marcos 
3:34-35)[68]. Todavia, se a teoria de McHugh estiver 
certa, a tradução de “irmão” deverá ser mantida já que 
eles eram realmente considerados seus irmãos pela 
comunidade, e não meramente enquantoseus primos. 
Na realidade, o próprio McHugh questiona: “Quem se 
referiria ao seu irmão adotivo com qualquer outra coisa 
senão ‘irmão’?”[69]. 
10. A ausência de qualquer irmão de Jesus nos relatos da 
Infância: Basta folhear os primeiros capítulos de Mateus 
e Lucas para se perceber que até os doze anos, os 
Evangelistas não nomeiam nenhuma outra pessoa 
integrando a Sagrada Família senão José, Maria e Jesus. 
Ora, sendo os irmãos de Jesus pessoas de destaque na 
comunidade cristã primitiva (cf. Gl 2:9; 1 Cor 9:5), é 
difícil se supor que, caso eles realmente estivessem 
presentes em cenas como a fuga para o Egito ou na 
celebração da Páscoa aos doze anos, não fossem sequer 
nomeados. Dezoito anos depois, no entanto, surgem 
cerca de seis novos familiares na família de José. A teoria 
de McHugh é a que melhor explica esse surgimento 
abrupto de “irmãos” já que pode presumir que a 
transferência de familiares ocorreu entre este período de 
dezoito anos, não prejudicando assim a narrativa bíblica 
(como ocorre nas demais teorias). 
Todavia, para que se possa admitir essa teoria como viável, 
deve-se primeiramente responder a alguns questionamentos. 
O primeiro deles é quanto à identificação feita por algumas 
igrejas entre o Cléofas (Κλεοπᾶς) de Emaús e Clopas (Κλωπᾶ), 
tio de Jesus. Ainda que seus nomes tenham uma escrita 
parecida, não há nada que ligue um personagem ao outro. O 
fato de uma tradição posterior (seguida principalmente por 
Tertuliano e Orígenes) ter identificado o personagem não-
nomeado de Emaús pelo nome de “Simão” (que segundo alguns 
seria supostamente Simeão de Jerusalém, filho de Clopas) se 
deve principalmente devido à uma má tradução de Lucas 24:34, 
que colocava na boca dos dois personagens as falas atribuídas 
aos apóstolos[70]. Esse erro de tradução foi mantido em alguns 
manuscritos posteriores, como por exemplo, no Codex 
Bezae[71] e justifica o fato de Orígenes e Tertuliano terem 
reconhecido sem a mínima dúvida Simão Pedro como o 
discípulo não nomeado de Emaús[72]. Além disso, caso o outro 
discípulo de Emaús fosse realmente Simeão, como bem 
observou Richard Bauckham: “É bastante improvável que 
alguém tão importante no momento em que Lucas ouviu a 
tradição e escreveu seu Evangelho não deveria ter sido 
nomeado.”[73]. Podemos então identificar dois personagens 
distintos: um é Clopas, tio de Jesus, falecido antes do início de 
sua vida pública; o outro é Cléofas, discípulo de Jesus, cujo 
martírio é celebrado em 25 de setembro. 
Os demais questionamentos que podem se levantados contra a 
excelente teoria proposta por McHugh são muito simples de se 
resolver: I)Para onde iria Maria de Clopas após Maria ir morar 
na casa de João (cf. Jo 19:25)? Na época em que Jesus morreu, 
provavelmente Maria de Clopas já não morava mais na casa de 
José. Paulo afirma que seus filhos eram casados (cf. 1 Cor 9:5) e 
Hegésipo lembra que alguns inclusive tinham filhos[74]. Isso 
significa que após a morte do seu pai de criação, Tiago, José, 
Simão e Judas, formaram novos lares para si. Sendo o cuidado 
aos pais, uma obrigação jurídica e social (cf. Pv 23:22), é muito 
provável que Maria de Clopas tenha ido morar com algum dos 
seus filhos, deixando assim, o lar de Maria. II) Se eles já não 
moravam mais com Maria, por que ela sempre aparece 
acompanhada por eles (cf. cf. Mc 6:31-35; Jo 2:12) ou por Maria 
de Clopas (cf. Jo 19:25)? Com o início da vida pública de Jesus, 
era necessário que Maria, já viúva e idosa, ficasse 
temporariamente na casa de alguém. Devido à proximidade 
criada entre ela e a família de Maria de Clopas, o mais natural é 
que ela procurasse abrigo na casa daqueles a quem abrigou (e 
ajudou a criar). Como na época de Jesus não era costume que 
as mulheres andassem desacompanhadas na rua[75], ao ir ver 
seu filho, era necessário que ela fosse acompanhada por 
alguém. E uma vez que ela estava residindo na casa de Maria de 
Clopas, por conveniência, este “alguém” seriam seus sobrinhos 
ou sua cunhada. III) Por que Jesus entregaria Maria a João se ela 
podia muito bem viver com seus parentes? Por mais que seus 
parentes gostassem de Maria e lhe dessem abrigo temporário, 
eles não eram seus filhos, e, portanto, não possuíam qualquer 
obrigação jurídica e social para com ela. Assim, fazia-se 
necessário que Jesus, seu filho primogênito, a confiasse a 
alguém. É verdade que Ele poderia tê-la confiado a qualquer 
outro discípulo (e até mesmo a um de seus primos), mas 
escolheu confiá-la a João, filho de Zebedeu. 
Como aparentemente Mateus (13:55) e Marcos (6:3) inserem 
os ditos “irmãos de Jesus” em seu mesmo núcleo familiar 
(citando-os após o nome de seu pai e sua mãe), e por se 
enquadrar melhor nas demais narrativas bíblicas que citam 
essas personagens, é dever da crítica católica insistir na posição 
de John McHugh, que, até então, tem se mostrado a única que 
consegue conciliar todos os fatos narrados pelos Evangelistas. 
Conclusão 
Após a análise das três teorias, concluímos com todas as demais 
comunidades que compõem a Santa Igreja Católica, que não 
apenas a teoria de Helvídio é herética como também o é 
criticamente indefensável. Entre as demais teorias (epifaniana e 
hieronymiana), a teoria de São Jerônimo, desenvolvida 
posteriormente por McHugh e Blinzer, mostra-se como a mais 
provável já que, entre outras coisas, não cria duas listas de 
primos com o mesmo nome. 
 
NOTAS 
[1] MEIER, John P., “A Marginal Jew: Rethinking the Historical 
Jesus, Volume One: The Roots of the Problem and the Person” 
(New York: Doubleday, 1991) 331. 
[2] MCKENZIE, “The Mother of Jesus in the New Testament”, in 
“Mary in the Church”, 6. 
[3] MEIER, John P., “The Brothers and Sisters of Jesus in 
Ecumenical Perspective”, in “The Catholic Biblical Quarterly”, 
1992, página 21. 
[4] Cf. CLEENEWERCK, Laurent A., “Aeipathernos? Ever Virgin?”, 
p. 106. 
[5] Cf. CLEENEWERCK, Laurent A., “Aeipathernos? Ever Virgin?”, 
p. 106. 
[6] Cf. BLINZER, Josef, "Die Brüder und Schwestern Jesu", SBS 21, 
Stuttgart 21967. Para uma análise sintetizada dos principais 
argumentos de Blinzer, acesse: «http://www.kath-
info.de/herrenbr%FCder.html». 
[7] DONNELLY, Philip, in Juniper, “Mariology”, 248-249. 
[8] Cf. BLINZER, Josef, "Die Brüder und Schwestern Jesu", SBS 21, 
Stuttgart 21967. Para uma análise sintetizada dos principais 
argumentos de Blinzer, acesse: «http://www.kath-
info.de/herrenbr%FCder.html». 
[9] A este último ponto pode-se objetar com a suposição de que 
a entrega de Maria a João foi meramente temporária. O texto e 
a analogia de Jesus, no entanto, não contribuem para isso. 
Perceba que o discípulo amado é elevado ao status de “filho” 
jurídico de Maria (cf. Jo 19:26), e, sendo a filiação um laço 
permanente, Jesus usa uma analogia para incumbir a João uma 
obrigação também permanente. Nada no texto supõe uma 
mera condição temporária, mas, pelo contrário, o próprio 
termo “a partir daquela hora” (em grego ἀπ’ ἐκείνης τῆς ὥρας) 
parece indicar uma continuidade. Como nenhum poder 
humano posterior poderia se sobrepor à palavra de Jesus e 
“desfiliar” João de Maria, podemos entender a partir deste 
Evangelho que João tomou Maria para consigo até a sua 
gloriosa assunção narrada no Apocalipse (12:14). 
[10] Para uma análise mais aprofundada sobre a doutrina da 
virgindade de Maria nos Santos Padres, ler: SARMENTO, Nelson, 
“A virgindade perpétua de Maria nos cinco primeiros séculos 
(parte 2)”, Disponível em 
<http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologeti
ca/virgem-maria/952-a-virgindade-perpetua-de-maria-nos-cinco-primeiros-seculos-parte-2> Desde 08/03/2017. 
[11] EPIFANIO DE SALAMIA, “Panarion”, capítulo 78. 
[12] Cf. EPIFANIO DE SALAMIA, “Panarion”, capítulo 78. 
[13] Clemente era provavelmente defensor da virgindade 
tríplice de Maria. Tendo feito uma apologia à virgindade de 
Maria no parto (cf.“Stromata” 7,16,93 (GCS 3,66)), Clemente 
defende a ideia de que os “irmãos de Jesus” são “irmãos pela 
parte de José”, não de Maria: “Judas, que era um irmão dos 
filhos de José, é muito temente a Deus, mesmo conhecendo seu 
parentesco com o Senhor, não disse, todavia, que era seu 
irmão. Que disse em troca! ‘Judas, servo de Jesus Cristo, isso 
quer dizer do Senhor, Irmão de Tiago’. Isto é certamente exato; 
era seu irmão pela parte de José.“ (São Clemente de Alexandria, 
“Comentário em Judas”, Fragmento, GCS 10,21). 
[14] Segundo Orígenes, Maria “conservou sua virgindade até o 
fim para que o corpo que estava destinado a servir à Palavra 
não conhecesse uma relação sexual com um homem, desde o 
momento que sobre ela havia descido o Espírito Santo e a força 
do Altíssimo como sombra. Creio que está bem fundamentado 
dizer que Jesus se fez para os homens primícia da pureza que 
consiste na castidade e Maria por sua vez para as mulheres. Não 
seria bom atribuir a outra a primícia da virgindade.” (Orígenes 
de Alexandria, “Comentário em Mateus” 10,17; GCS 10,21) e 
também, ao definir os “irmãos” do Senhor como filhos de José 
(baseado nos dois apócrifos orientais), afirma: “os filhos 
atribuídos a José não nasceram de Maria e não existe nenhuma 
Escritura que o prove.” (Origines de Alexandria, “Comentário 
em Lucas”, 7; GCS 9,45). 
[15] “Foi-nos transmitido que nosso Senhor teve muitos irmãos. 
Se eles fossem filhos de Maria e não apenas de José, tidos de 
um outro casamento, nunca durante a paixão ela teria sido 
entregue ao Apóstolo João como mãe.” (Santo Hilário de 
Poiters, “In Evangelium Matthei Commentarius”, I, 4; PL 9,921-
922). 
[16] cf. Eusébio de Cesaréia, “Comment. in Psalmos”, 68, 9; PG 
23, 737-740; “História Eclesiástica”, Livro III, Capítulo 1, 
versículo 2. 
[17] BAUCKHAM, Richard, “The brothers and sisters of Jesus: An 
Epiphanian response to John P. Meier”. 
[18] BAUCKHAM, Richard, “Jude and the Relatives of Jesus in the 
Early Church”, p. 24-25. 
[19] BAUCKHAM, Richard, “Brothers and Sisters of Jesus”, p. 
696-697. 
[20] BAUCKHAM, Richard, “Brothers and Sisters of Jesus”, p. 
700. 
[21] Cf. Gen 4:19-22; 22:20-24; 36:0-14; 46:10; Ex 6:15; I Cr 2:2-
4,18-19,21,24,25-26,46,48-49; 3:1-9. 
[22] BAUCKHAM, Richard, “Brothers and Sisters of Jesus”, p. 
700. 
[23] BAUCKHAM, Richard, “Brothers and Sisters of Jesus”, p. 
700. 
[24] MEIER, John P., “The Brothers and Sisters of Jesus in 
Ecumenical Perspective”, in “The Catholic Biblical Quarterly”, 
1992, página 21. 
[25] BAUCKHAM, Richard, “Jude and the Relatives of Jesus in the 
Early Church”, p. 25. 
[26] PSEUDO-EUSÉBIO DE CESARÉIA, “Sobre a Estrela”. 
[27] CLEENEWERCK, Laurent A., “Aeipathernos? Ever Virgin?”, 
p. 78. 
[28] Cf. JERÔNIMO DE ESTRIDÃO, “Contra Helvidium”, 1-20. 
[29] MCHUGH, John, “The Mother of Jesus in the New 
Testament”. 
[30] BLINZER, Josef, “Die Bruder und Schwestern Jesu”, 
Stuttgart, 1967. 
[31] Cf. Mc 15:40; Mt 27:56; Lc 24:10 
[32] Cf. Jo 19:25. 
[33] É verdade que o nome “Maria de Clopas” (Μαρία του 
Κλεόπας) pode ser interpretado tanto como “Maria, esposa de 
Clopas” quanto por “Maria, filha de Clopas” ou “Maria, mãe de 
Clopas” (como o fizeram alguns apócrifos), mas o testemunho 
de Hegésipo, historiador cristão do século II, favorece a 
primeira interpretação (Cf. Hegésipo, citado em Eusébio, 
“História Eclesiática”, Livro III, XI,1.). 
[34] Esta Maria que aparece no texto dos sinóticos, é uma 
personagem menor, menos importante até do que a figura de 
Maria Madalena (que é sempre referida primeiro). No caso do 
Evangelho de Mateus, ela chega a ser reduzida simplesmente à 
“a outra Maria” (28:1). Ao tratar da Virgem, no entanto, tanto 
o Evangelho de Mateus (1:18, 2:11, 2:13, 2:14, 2:20 e 2:21), 
quanto o de Lucas (1:43, 2: 33-34, 2:51, 8:19), quanto o de 
Marcos (3:21; 6:3) sempre a identificam como “sua mãe” ou “a 
mãe do Senhor”. Seria muito improvável, portanto, supor que 
em uma única passagem eles abandonariam a forma usual pela 
qual identificam esta personagem (em especial Lucas, que em 
Atos 1:14 voltará a chamá-la pelo termo “sua mãe”). 
[35] Cf. Hegésipo, citado em Eusébio, “História Eclesiática”, 
Livro III, XI,1. 
[36] Hegésipo coloca Simeão como filho de Maria de Clopas e 
Clopas, induzindo-nos a entender que eles eram casados (cf. 
Hegésipo sendo citado por Eusébio de Cesaréia, “História 
Eclesiástica”, Livro III, XXXII, 4). 
[37] LIGHTFOOT, J.B., “Commentary on the Epistles of St. Paul” 
(1865), “The Brethren of the Lord”. 
[38] BLINZER, Josef, "Die Brüder und Schwestern Jesu", SBS 21, 
Stuttgart 21967. Para uma análise sintetizada dos principais 
argumentos de Blinzer, acesse: «http://www.kath-
info.de/herrenbr%FCder.html». 
[39] Ibid. 
[40] Ibid. 
[41] Ibid. 
[42] McHugh (1975) 205, 210, 453-454. 
[43] Ibid. 
[44] BAUCKHAM, Richard, “Jude and the Relatives of Jesus in the 
Early Church”, p. 15-16. 
[45] Blinzer (1967) 76 n.6. 
[46] BAUCKHAM, Richard, “Jude and the Relatives of Jesus in the 
Early Church”, p. 15. 
[47] Cf. Hegésipo, citado em Eusébio, “História Eclesiática”, 
Livro III, XI,1. 
[48] “George Howard, “Was James and Apostle? A Reflection on 
a New Proposal for Gal 1:19”, NovT 19 (1977): 63-64; Bruce, 
Galatians, 100-101; Martyn, Galatians, 174.” (Cf. SCHREINER, 
Thomas R., “Galatians”, in “Zondervan Exegetical Commentary 
on the New Testament”, p. 110, nota nº 16). 
[49] SCHREINER, Thomas R., “Galatians”, in “Zondervan 
Exegetical Commentary on the New Testament”, p. 110. 
[50] BROWN, Reymond (& outros),“Mary in the New 
Testament”, p. 71. 
[51] Clemente, que provavelmente era um epifaniano, defende 
a ideia de que Tiago, o Justo, fazia parte do grupo dos doze: "O 
Senhor, depois de sua ascensão, fez entrega do conhecimento 
a Tiago o Justo, a João e a Pedro, e estes o transmitiram aos 
demais apóstolos, e os apóstolos aos setenta, um dos quais era 
Barnabé. Houve dois Tiagos: um, o Justo, que foi lançado do 
pináculo do templo e morto a golpes com um bastão; e o outro, 
o que foi decapitado." (São Clemente de Alexandria, 
“Hypotyposeis”, VI, citado em Eusébio de Cesaréia,“História 
Eclesiástica”, II, 1). 
[52] BAUCKHAM, Richard, “Jude and the Relatives of Jesus in the 
Early Church”, p. 17. 
[53] “E que foi visto por Cefas, e depois pelos doze. (...) Depois 
foi visto por Tiago, depois por todos os apóstolos.” (1 Coríntios 
15:5-7). 
[54] Cf. Hegésipo, citado por Eusébio, “História Eclesiástica”, 
Livro II, XXIII, 4. 
[55] Clemente de Alexandria é um exemplo disso (cf. Clemente 
Alexandrino, “Hypotyposis”, Fragm. In Jud. Ep.: GCS 10,21). 
[56] SOKOLOFF , Michael, “A Dictionary of Jewish Palestinian 
Aramaic”, Bar Ilan University Press, Ramat-Gan, Israel, 1990, 
p.45. 
[57] BRUCE, Frederick Fyvie, “The Acts of the Apostles: The 
Greek Text with Introduction and Commentary”, p. 68. 
[58] COLLINS, J. J., “The Brethren of the Lord and Two Recently 
Published Papyri”, TS 5(1944), 484-494 
[59] Cf. Entre as quais, podemos citar JOSEFO, “Antiguidades 
Judaicas”, 1, 207; “As Guerras dos Judeus”, 6:356-357. 
[60] Cf. Richard Bauckham, citado por CLEENEWERCK, Laurent 
A., “Aeipathernos? Ever Virgin?”, p. 76. 
[61] Em nota, Laurent Cleenewerck,afirma ao criticar Meier: 
“Meier talvez não esteja consciente de que adelphoi pode 
significar parentes em Mateus 1:11. Isto não é inteiramente 
certo, mas é muito provável. Veja por exemplo John Nolland, 
Jechoniah and His Brothers (Matthew 1:11), Bulletin for Biblical 
Research 7 (1997): 169-178” (CLEENEWERCK, Laurent A., 
“Aeipathernos? Ever Virgin?”, p. 170, nota 150). 
[62] MCHUGH, John, “The Mother of Jesus in the New 
Testament”, (Doubleday & Company, Inc. Garden City, New 
York), 1975, p. 246. 
[63] MCHUGH, John, “The Mother of Jesus in the New 
Testament”, (Doubleday & Company, Inc. Garden City, New 
York), 1975, p. 254. 
[64] Ibid. 
[65] Essa hipótese foi admitida como a mais viável dentre as 
duas teorias hieronymianas pelo epifaniano Laurent 
Cleenewerck em“Aeipathernos? Ever Virgin?”, p. 106. 
[66] Cf. BAUCKHAM, Richard, “Jude and the Relatives of Jesus in 
the Early Church”, p. 25-26. 
[67] Em vista disto, a tradição posterior atribuiu literalmente 
uma vastidão de nomes diferentes a essa personagem. Hannah, 
Melcha, Escha e Salomé são apenas alguns deles. 
[68] MEIER, J. P., “A Marginal Jew” (Doubleday, 1991, pp.325-
326), p. 323. 
[69] MCHUGH, John, “The Mother of Jesus in the New 
Testament”, (Doubleday & Company, Inc. Garden City, New 
York), 1975, p. 254. 
[70]William Thomas Kessler, “Peter as the First Witness of the 
Risen Lord: An Historical and Theological Investigation”, p. 82-
84; James Romaine & Linda Stratford, “ReVisioning: Critical 
Methods of Seeing Christianity in the History of Art”, p. 64-68. 
[71] Ibid. 
[72] Ibid. 
[73] BAUCKHAM, Richard, “Jude and the Relatives of Jesus in the 
Early Church”, p. 18. 
[74] Cf. Hegésipo, citado por Eusébio, “História Eclesiástica”, III, 
20, 1. 
[75] Cf. BLINZER, Josef, “Die Brüder und Schwestern Jesu”, SBS 
21, Stuttgart 21967. Para uma análise sintetizada dos principais 
argumentos de Blinzer, acesse: «http://www.kath-
info.de/herrenbr%FCder.html».

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