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Prévia do material em texto

Introdução aos Livros do Novo Testamento 
Jeffery L. Fromholz 
© Geração Benjamim 
 
1ª. Edição no Brasil 
Abril de 2020 
 
Revisão: 
Jonas Pinheiro Barbosa 
(companheiro de todas essas horas de trabalho) 
 
Todos os direitos reservados pelo autor. 
Reprodução sob qualquer forma encorajada e liberada. 
 
 
 
 
 
 
 
Site: www.geracaobenjamim.com 
E-mail: gbfromholz@yahoo.com.br 
 
 
CONTEÚDO 
4 
PREFÁCIO ........................................................................................ 6 
INTRODUÇÃO ................................................................................... 
.................................................. 15 
3. O EVANGELHO SEGUNDO MATEUS ................................................ 34 
4. O EVANGELHO SEGUNDO MARCOS ............................................... 43 
5. O EVANGELHO SEGUNDO LUCAS .................................................. 55 
6. O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO ................................................... 69 
7. OS ATOS DOS APÓSTOLOS .......................................................... 83 
8 ROMANOS ................................................................................. 100 
9. 1 CORÍNTIOS ........................................................................... 114 
10. 2 CORÍNTIOS ......................................................................... 125 
11. GALÁTAS ............................................................................... 137 
12. EFÉSIOS ................................................................................ 153 
13. FILIPENSES ............................................................................ 166 
14. COLOSSENSES ....................................................................... 177 
15. 1 TESSALONICENSES .............................................................. 190 
16. 2 TESSALONICENSES .............................................................. 199 
17. 1 TIMÓTEO............................................................................. 210 
18. 2 TIMÓTEO............................................................................. 221 
19. TITO ...................................................................................... 230 
20. FILEMOM ............................................................................... 243 
21. HEBREUS ............................................................................... 252 
22. TIAGO ................................................................................... 264 
23. 1 PEDRO ................................................................................ 278 
24. 2 PEDRO ................................................................................ 286 
25. 1 JOÃO .................................................................................. 298 
26. 2 JOÃO .................................................................................. 313 
27. 3 JOÃO .................................................................................. 319 
28. JUDAS ................................................................................... 327 
29. APOCALIPSE ........................................................................... 338 
 
CONTEÚDO ...................................................................................... 
7 
1. A ORDEM DOS LIVROS DO NOVO TESTAMENTO ............................. 13 
2. INTRODUÇÃO AOS EVANGELHOS 
3 
APRESENTAÇÃO DE JONAS ................................................................ 
4 
 
APRESENTAÇÃO DE JONAS 
 
 
Não dá para expor o meu entusiasmo exacerbado em trabalhar mais uma 
obra de Jeff Fromholz, “Introdução aos Livros do Novo Testamento”. Este 
volume nasce a partir de um estudo que li da carta de Tiago em que Jeff 
surpreende-me ao revelar: 
 
“Geralmente, quem lê o Novo Testamento acha que tudo está em uma 
ordem cronológica, mas não é. Mateus, por exemplo, não foi o primeiro 
livro do Novo Testamento escrito, nem mesmo dentre dos quatro 
evangelhos. Então, qual foi o primeiro livro escrito no Novo Testamento? 
A resposta é: Tiago. Vamos começar por ele!” 
 
Se você é um estudante de teologia apaixonado como eu, deve saber que 
muitas curiosidades bíblicas não conseguimos memorizar, porque a Bíblia 
é uma fonte inesgotável, mas essa era primária! Não dava para acreditar 
naquilo que acabara de ler. Foi quando, tomado por curiosidade, tentei ler 
sobre os outros livros e pemmmm... 
 
Não havia mais estudos! Descobri que Jeff havia interrompido o estudo 
dos livros para fazer a tradução da Versão Palavra Viva (estamos nesse 
momento da edição desta obra começando os livros proféticos). Não dava 
para esperar terminar a tradução da VPV conhecedor dos desafios e do 
trabalho hercúleo que há por trás de uma tradução. 
 
Conhecedor de que a VPV nasceu a partir de um desafio de um jovem, 
propus o meu desafio: por que não terminar de escrever o estudo dos 
livros do NT, Jeff? 
 
5 
Logo que o desafio foi aceito, começou a nossa saga de estudos, escrita, 
revisão, reescrita, reedição, formatação, debate, discussões sobre a 
melhor forma de editar e lançar o livro, qual plataforma, custos, e... 
decidimos: e-book! 
 
A paixão como Jeff escreve sobre O Livro é evidente em sua piedade e o 
seu trabalho é fruto de sua própria adoração e devoção a Jesus e ao 
Evangelho. Portanto, ser revisor dos textos dele não constitui um trabalho 
para mim, mas uma nova oportunidade para aprender, ensaiar, celebrar e 
compartilhar esse conhecimento! 
 
Jonas P. Barbosa 
Pastor da Rede 180, Professor de Língua e Literatura e Revisor voluntário 
na VPV. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
6 
PREFÁCIO 
 
Ao percorrer a tradução da Bíblia, percebi a importância dos detalhes 
que estavam por trás de cada livro e como as fontes de informação que 
tenho são de valor inestimável para o meu trabalho. Eu também percebi 
que para muitos pastores, estudantes da Bíblia ou pessoas interessadas 
nas nuances e pano de fundo do Novo Testamento, R$100 ou mais para 
um panorama do Novo Testamento está um pouco fora de seu alcance. 
Então decidi elaborar um panorama que pudesse ser colocado em formato 
PDF ou e-book e acessível a todos de graça. 
Assim, depois de mais de 300 horas de trabalho, eu lhe dou o livro. 
Meu objetivo é fornecer uma visão abrangente dos livros do Novo 
Testamento numa maneira organizada, interessante e numa linguagem 
acessível. Eu não reivindico o pensamento original, e realmente, quem 
poderia, como livros contendo essas informações têm sido escritos e 
reescritos por quase 2.000 anos? Como tal, as minhas fontes são 
inumeráveis; desde os Pais da Igreja primitiva aos Reformadores e aos 
expositores modernos da Bíblia. 
A minha esperança é que por meio deste livro, você possa adquirir 
um entendimento mais profundo de cada livro do Novo Testamento. E que 
esse entendimento te faça aproximar mais do Deus por trás da Bíblia e 
levar o seu povo a uma apreciação maior por Ele e sua Palavra. 
Deus te abençoe. 
Jeff 
*Todas as referências das escrituras não 
retiradas da Versão Palavra Viva são citadas. 
7 
INTRODUÇÃO 
 
Este artigo apareceu pela primeira vez na Practical Hermeneutics 
coluna do Christian Research Journal, volume 26, número 2 (2003). 
CONTEXTO! CONTEXTO! CONTEXTO! 
“Se algum de vocês precisa de sabedoria para saber o que Deus quer 
que faça, peça a ele que dá a todos liberalmente, sem os repreender por 
terem pedido, e lhe será dado” (Tiago 1.5). 
Anos atrás, um menino confuso de 15 anos de idade interpretou este 
versículo como significando que ele deveria pedir a Deus para lhe mostrar 
qual denominação se unir e qual estava certo. Mais tarde, ele teve uma 
visão em que lhe foi dito para não se juntar a nenhuma delas, pois todas 
estavam erradas. Ele concluiu: “Eu descobri que o testemunho de Tiago 
era verdadeiro - que um homem que não possuía sabedoria poderiapedir 
a Deus e obter, e não ser repreendido”. Acreditando que ele havia 
recebido sabedoria de Deus, como prometido em Tiago, o menino, Joseph 
Smith Jr., fundou a Igreja Mórmon. Hoje, os missionários Mórmons 
apontam para este versículo e exortam as pessoas a orarem por 
sabedoria para saber se o Livro de Mórmon é verdadeiro. 
Esse versículo realmente significa que devemos pedir sabedoria a 
Deus para tomar decisões ou discernir a verdade ou erro de algum 
ensinamento, denominação ou livro? É disso que Tiago estava falando? 
Como podemos saber o que esse versículo realmente significa? 
Obtenha o Panorama Completo 
A regra mais importante para descobrir o que este ou qualquer outro 
versículo da Bíblia significa é interpretar o versículo em seu contexto. 
8 
Interpretar um versículo em seu contexto significa interpretar esse 
versículo à luz de todos os fatores que moldaram seu significado quando o 
autor o escreveu. O contexto é semelhante a um quebra-cabeça: ao 
observar apenas uma peça do quebra-cabeça, não podemos dizer qual 
parte da imagem do quebra-cabeça ela é. Somente vendo todas as peças 
juntas podemos saber com certeza como essa peça se encaixa. De 
maneira semelhante, apenas considerando como um versículo se encaixa 
dentro de seu contexto, podemos dizer o que ele realmente significa. 
O contexto de um versículo é, evidentemente, mais complexo do que 
um quebra-cabeça, mas em ambos os casos as partes são entendidas 
corretamente apenas dentro do todo. Isso vale para palavras, frases, 
parágrafos, seções e livros inteiros. A palavra “tronco”, por exemplo, tem 
vários significados possíveis. É preciso entender no contexto de uma frase 
se ela se refere ao nariz de um elefante, a parte principal de uma árvore, 
o corpo humano, excetuando-se a cabeça e os membros, ou a uma peça 
de bagagem. 
Às vezes, até uma frase não é contexto suficiente. A frase “Aposto 
que o tronco pode conter cinco galões de água” precisa de mais contexto 
para que possamos saber o que está sendo descrito. A razão para isto é 
que a comunicação tem continuidade, ou um fluxo de pensamento, e 
algum ponto ou propósito; não é uma confusão de palavras, frases ou 
pensamentos desconexos. 
O mesmo é verdade para a Bíblia: as palavras, frases e pensamentos 
estão conectados. Interpretar algo em seu contexto é uma questão de 
entender como essas palavras, frases e pensamentos estão conectados. 
Se isolarmos um versículo e ignorarmos seu contexto - sua conexão com 
o texto e o pensamento ao redor - podemos acabar com uma 
interpretação incorreta do que isso significa, assim como faríamos se 
isolássemos uma única peça de um quebra-cabeça e tentássemos 
descobrir que parte da imagem é. 
9 
Pergunte 
Muitos fatores compõem o contexto de um versículo: o histórico, o 
autor, o público e muito mais. Descobrir o contexto é um processo de 
fazer e responder perguntas sobre esses fatores. Existem várias 
abordagens para este processo, mas cada uma tem o mesmo propósito - 
compreender as partes dentro do todo. Uma abordagem é fazer 
perguntas sobre: (1) o contexto histórico geral (Quando e onde o livro foi 
escrito? Como era a cultura? O que estava acontecendo naquela parte do 
mundo naquela época?); (2) a situação histórica específica do autor e do 
público (Quem foi o autor e o público? Qual era o relacionamento deles? 
Quais problemas específicos ou situações eles estavam enfrentando?); (3) 
o propósito ou tema do livro (Qual é o tópico principal? O autor declara 
seu propósito ou faz uma declaração sumária? Quais são as diferentes 
seções? O autor examina o passado, o presente ou o futuro?); e (4) o 
contexto imediato do versículo (Qual é o tópico que está sendo discutido 
no parágrafo ou seção em que o versículo aparece? Que parte o versículo 
desempenha no fluxo do pensamento? É parte de um argumento? É uma 
ilustração? Ela prescreve alguma ação, ou descreve apenas algum evento 
histórico)? Responder a essas perguntas nos ajuda a entender como o 
versículo se encaixa na discussão geral. É como montar o quebra-cabeça 
- quanto mais peças juntarmos, mais fácil será saber como cada peça se 
encaixa. 
Tiago no Contexto 
Todas as perguntas que precisam ser feitas não podem ser 
respondidas nesta pequena coluna, mas vamos ver se podemos juntar um 
pouco do contexto de Tiago 1.5 e ver como isso se encaixa. 
O contexto histórico geral. A visão tradicional é que o autor era Tiago 
(v. 1.1), o irmão do Senhor, que era o líder da igreja em Jerusalém (Atos 
15.13; 21.18). Este foi possivelmente o primeiro livro do Novo 
10 
Testamento escrito, provavelmente em torno de 50 d.C., ou pelo menos 
antes da morte de Tiago em 62 d.C. 
A situação histórica específica do autor e do público. A data inicial do 
livro, e seu conteúdo, sugerem que os crentes judeus dispersos a quem 
Tiago estava escrevendo (1.1; 2.1) eram os que haviam fugido de 
Jerusalém após a morte de Estêvão (Atos 8.1). A igreja primitiva, 
composta em grande parte por crentes judeus, continuou a experimentar 
provações de fora e de dentro. 
O objetivo ou tema do livro. Tiago escreveu esta epístola (ou carta) 
como pastor para instruir os cristãos judeus a viver em retidão. Mesmo 
que tenha sido escrito para os crentes judeus, as muitas exortações éticas 
se aplicam a todos os crentes. Tiago está preocupado principalmente com 
assuntos práticos como praticar a Palavra (cap. 1); discriminação, obras 
de fé (cap. 2); controlar a língua, ambição egoísta (cap. 3); brigando, 
julgando, gabando-se (cap. 4); e práticas comerciais injustas, sofrimento, 
paciência e oração pelos enfermos, aqueles sem forças (cap. 5). Sua 
ênfase é a vida cristã, em vez de doutrina cristã, como Paulo enfatizou 
frequentemente (juntamente com a vida cristã) em suas cartas. 
 “Sabedoria” é discutida duas vezes em Tiago (1.5; 3.13–17), e o 
tema da justiça prática corre ao longo do livro. As instruções e exortações 
são semelhantes às encontradas em Provérbios. Por exemplo, busque a 
Deus por sabedoria (Tiago 1.5; Provérbios 2.6); seja tardio para falar 
(Tiago 1.19; Provérbios 29.20); os sábios semeiam sementes que dão 
fruto da justiça (Tiago 3.18; Provérbios 11.30); Deus se opõe aos 
soberbos, mas dá graça aos humildes (Tiago 4.6; Provérbios 3.34); não 
se gabe de seus planos porque você não conhece o futuro (Tiago 4.13-16; 
Provérbios 27.1); o amor cobre uma multidão de pecados (Tiago 5.20; 
Provérbios 10.12). Tiago não falou sobre sabedoria em termos de 
conhecimento filosófico ou teórico, mas em termos práticos, onde "o 
bicho pega". É a mesma sabedoria que o escritor de Provérbios falava: a 
11 
habilidade de viver em retidão. Tiago disse que a evidência da sabedoria é 
um bom comportamento (3.13) e descreveu-a como “primeiramente 
pura, e depois pacífica, gentil e disposta a ceder aos outros. Ela é cheia 
de misericórdia e de boas obras, não trata nenhuma pessoa melhor do 
que outra, e é sempre sincera” (3.17). 
O contexto imediato do versículo. O tópico da seção em que Tiago 
1.5 aparece é como responder adequadamente às provações. Os 
versículos 2–4 nos dizem para recebermos alegremente provações; os 
versículos 5–8 nos instruem a pedir sabedoria a Deus; os versículos 9–11 
falam sobre como os ricos e os pobres enfrentam provações; os versículos 
12–18 nos advertem a não acusar Deus de nos tentar em provações. 
Os versículos 2–3, enquanto isso, nos incentivam a nos alegrar 
quando enfrentamos provações porque sabemos que, quando nossa fé é 
provada, ela produz perseverança (perseverança e paciência) em nós. O 
versículo 4 nos exorta a deixar a perseverança fazer o seu trabalho em 
nós e nos levar à maturidade e perfeição. Se somos pacientes e as 
permitimos, as provações têm um modo de produzir virtudes em nós - 
como humildade e graciosidade - que de outra forma não teríamos. O 
verbo “falta” une os versículos 4 e 5. No versículo 4, refere-se àquelas 
coisas quea paciência produz. No versículo 5, refere-se especificamente à 
sabedoria. 
Sabedoria no Contexto 
Tendo em mente tudo o que consideramos, especialmente a visão de 
sabedoria de Tiago, sabendo como viver em retidão, podemos interpretar 
o versículo 5 em seu contexto. Está dizendo que, quando enfrentamos 
uma provação, se descobrimos que não sabemos como responder 
adequadamente e permitir que a paciência produza maturidade e virtudes 
em nós, então devemos pedir a Deus que nos dê a habilidade (a 
sabedoria) de responder corretamente e permitir o crescimento espiritual. 
Como o contexto do versículo 5 não é como tomar decisões ou como 
12 
confirmar a verdade de algum ensinamento ou livro, não há razão para 
interpretar “sabedoria” aqui para significar informação na forma de uma 
revelação, visão ou impressão, a fim de para nos ajudar a tomar o tipo de 
decisão que Joseph Smith tomou. O princípio de pedir sabedoria a Deus 
para tomar boas decisões é bíblico, e certamente precisamos distinguir 
entre a verdade e o erro, mas nenhuma dessas situações é sobre o que 
Tiago estava falando. 
O contexto de Tiago 1.5 sugere uma visão muito diferente da 
sabedoria pela qual devemos perguntar do que a visão que os Mórmons 
sugerem. Pense em como seria diferente a paisagem religiosa atual se 
Joseph Smith tivesse interpretado esse versículo em seu contexto. 
— Steve Bright 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
13 
 
CAPÍTULO 1 
 
A ORDEM DOS LIVROS DO 
NOVO TESTAMENTO 
 
Os livros que compõe o Novo Testamento não foram organizados em 
ordem cronológica, mas foram colocados em uma ordem lógica, ou seja, 
conforme o seu conteúdo temático. 
Desta forma temos primeiramente os quatro evangelhos, que 
registram a vida e ministério de Jesus, bem como sua morte, ressurreição 
e ascensão. O livro de Atos contém o registro da expansão do cristianismo 
a partir de Jerusalém até alcançar e se estabelecer em Roma, então a 
capital do Império Romano. A partir deste pano de fundo histórico temos 
as correspondências entre os apóstolos e suas comunidades tratando 
sobre as questões teológicas que geraram controvérsias, bem como, 
estabelecendo os parâmetros eclesiásticos e disciplinares na convivência 
comunitária das igrejas. As correspondência paulinas abrem essa divisão, 
tendo a carta aos Romanos como primeira pelo tamanho e não porque 
fosse sua primeira carta; Hebreus foi por muito tempo tida como paulina, 
mas hoje há um consenso de que sua autoria deve ser dada a outrem, 
por esta razão foi colocada entre as paulinas e as gerais; Tiago abre esta 
segunda sessão denominadas de cartas gerais, porque não tem um 
público definido, mas se dirigem a diversos grupos judeus-cristãos 
espalhados em diversos locais geográficos; fechando o cânon foi colocado 
o Apocalipse cujo conteúdo se refere à segunda vinda de Jesus Cristo e a 
conclusão da história da Igreja. (Fonte: Ivan Pereira Guedes) 
14 
Embora seja muito difícil uma conciliação entre os estudiosos na 
fixação das datas de cada um dos livros, pois em nenhum deles o escritor 
ou copista teve esta preocupação, optamos abaixo por mencionar uma 
ordem cronológica de perfil conservador como segue: 
Livro Data (d.C.) 
Tiago 
Gálatas 
1 e 2 Tessalonicenses 
1 Coríntios 
2 Coríntios 
Marcos 
Romanos 
Lucas 
Efésios 
Filipenses 
Filemom 
Colossenses 
Mateus 
Atos 
1 Timóteo 
Tito 
1Pedro 
Hebreus 
2 Pedro 
2 Timóteo 
Judas 
João [evangelho] 
1, 2, 3 João 
Apocalipse 
45-49 
48-49 
51-52 
53–55 
55-56 
55-60 
56-58 
59-61 
60-62 
60-62 
60-62 
60-62 
60-65 
62 
62-64 
62-64 
64-65 
64-68 
65-68 
66-67 
68-70 
80–90 
90-95 
94-96 
 
15 
 
CAPÍTULO 2 
 
INTRODUÇÃO AOS 
EVANGELHOS 
 
Os Evangelhos Sinóticos 
Quando os três primeiros evangelhos são comparados – Mateus, 
Marcos e Lucas – é bem fácil ver que as narrativas são bem semelhantes 
em conteúdo e expressão; eles incluem muitas das mesmas histórias, 
muitas vezes em uma sequência semelhante e em palavras semelhantes 
ou às vezes idênticas. Como resultado, Mateus, Marcos e Lucas são 
conhecidos como os “Evangelhos Sinóticos”. A palavra “sinótico” significa 
basicamente "ver juntos com uma visão comum". Eles contrastam com 
João, cujo conteúdo é comparativamente distinto. 
As muitas semelhanças entre os evangelhos sinóticos têm levado 
alguns a questionarem se os autores dos evangelhos tinham uma fonte 
em comum, um outro registro escrito do nascimento de Cristo, do Seu 
ministério, vida, morte e ressurreição, do qual poderiam ter obtido o 
material para os seus Evangelhos. Alguns argumentam que Mateus, 
Marcos e Lucas são tão semelhantes que provavelmente utilizaram os 
evangelhos uns dos outros ou uma outra fonte em comum. Essa suposta 
“fonte” tem sido chamada de “Q”, da palavra alemã quelle que significa 
“fonte”. 
Há evidência para um documento “Q”? Não, não há. Nenhuma porção 
ou fragmento de um documento “Q” jamais foi encontrado. Nenhum dos 
fundadores da igreja primitiva jamais mencionou uma “fonte” para o 
16 
Evangelho em seus manuscritos. “Q” é a invenção de “estudiosos” liberais 
que negam a inspiração da Bíblia. Eles acreditam que a Bíblia seja apenas 
um trabalho literário, sujeita ao mesmo tipo de crítica que outros 
trabalhos literários. Novamente devemos dizer que não há qualquer 
evidência para o documento “Q” – biblicamente, teologicamente ou 
historicamente. 
Se Mateus, Marcos e Lucas não usaram um documento “Q”, por que os 
Evangelhos são tão semelhantes? Há várias explicações possíveis. É 
possível que os outros escritores dos Evangelhos tenham tido acesso a 
qualquer dos Evangelhos que tinha sido escrito primeiro. Não há qualquer 
problema com a ideia de que Mateus e/ou Lucas copiaram algum texto do 
Evangelho de Marcos e usaram esse texto em seus Evangelhos. Talvez 
Lucas tenha tido acesso ao livro de Marcos e Mateus e usado textos de 
ambos os Evangelhos em seu próprio evangelho. Lucas 1.1-4 nos diz: 
“Muitas pessoas se dedicaram a colocar em ordem a história das coisas 
que foram feitas entre nós, 2 segundo o que foi contado para nós pelas 
testemunhas que desde o início viram essas coisas acontecerem e 
ministravam a palavra. 3 E eu também achei que seria bom escrever para 
você um relato em ordem, excelentíssimo Teófilo, pois tenho investigado 
tudo com muito cuidado desde o começo; 4 para que tenha certeza sobre 
as coisas que foram ensinadas a você”. 
(Fonte: www.gotquestions.org) 
A Prioridade de Marcos 
A chamada Prioridade de Marcos é a teoria de que o Evangelho de 
Marcos foi o primeiro dos três Evangelhos sinópticos a ser escrito, e que 
os outros dois evangelistas sinóticos, Mateus e Lucas, usaram Marcos 
como uma de suas fontes. Hoje essa teoria é aceita pela maioria dos 
estudiosos do Novo Testamento. 
 
17 
Assim: 
 Marcos foi usado como uma fonte para Lucas e Mateus escrever os 
seus evangelhos. Lucas também usava o evangelho de Mateus. Isso 
não é para dizer que eles não foram inspirados, pois foram, mas o 
livro de Marcos estava disponível para eles leram e usaram. 
 Somente 31 versículos do Marcos não estão achados nos outros 
evangelhos. 
 Quando lemos Mateus é fácil entender que foi escrito para os 
judeus, pois está cheio de referências ao Antigo Testamento e 
costumes judaicos, coisas que os judeus iam entender. 
 Marcos é evangelho que foi escrito em grego para os gentios, isto é, 
os que não são judeus, aqueles que não entenderam nada do 
Antigo Testamento, e isso é mostrado pela necessidade do autor de 
explicar tradições judaicas e traduzir termos aramaicos. 
 Por isso parece que Marcos é o evangelho mais fácil para um novo 
convertido entender. 
Agora, se Marcos foi escrito primeiro, porque então Mateus vem 
primeiro e não depois de Marcos? Primeiro, sabemos que o Novo 
Testamento não está numa ordem cronológica. Não havia nenhum 
mandato para que os evangelhos aparecessemna ordem em que foram 
escritos quando foram reunidos em uma coleção. Segundo, não podemos 
dizer que é por tamanho, como as cartas de Paulo, pois Lucas é maior 
que Mateus, aliás, Lucas é o maior livro do Novo Testamento; e Marcos, o 
menor dos quatro Evangelhos, ocupa o segundo lugar. Então, por que o 
Evangelho de Mateus vem primeiro? 
 
 
18 
A Hipótese Agostiniana 
Durante grande parte da história da Igreja, a teoria padrão de 
como os evangelhos foram compostos é que Mateus escreveu 
primeiro; Marcos então fez uma versão abreviada de Mateus, 
adicionando uma pequena quantidade de material próprio; e por 
último, Lucas escreveu. 
Esta visão leva o nome de Agostinho (354-430 d.C.), que diz: 
“Agora, aqueles quatro evangelistas cujos nomes obtiveram a 
circulação mais notável em todo o mundo, e cujo número foi 
fixado em quatro… acredita-se que tenham escrito na ordem 
que segue: primeiro Mateus, depois Marcos, em terceiro lugar 
Lucas, por último João". 
Agostinho, A Harmonia dos Evangelhos, 2. 
 Embora os estudos atuais indiquem que Marcos foi escrito 
antes, quando olhamos de perto para Mateus, não é de admirar que 
o seu Evangelho venha primeiro no Novo Testamento, pois de todos 
os Evangelhos, Mateus é o mais apegado a apontar o elo entre o 
Antigo e o Novo Testamento, entre as promessas e profecias que 
Deus deu ao seu povo no passado e o cumprimento delas através 
de Jesus. Ele cita mais de sessenta vezes das passagens proféticas 
do Antigo Testamento. O relato de Mateus sobre Jesus fornece uma 
ponte para o povo de Deus chegar à fé no Messias de Deus. Além 
disso, o Evangelho de Mateus contém um detalhe imensamente 
significativo que Marcos não fez: o nascimento profetizado do 
Messias, situando a pessoa e a missão de Jesus mais explicitamente 
em sua linhagem hebraica. Com a adição do nascimento, pode-se 
entender por que foi colocado na frente do Novo Testamento; 
verdadeiramente é um ponto de partida natural para o novo leitor. 
É a ponte perfeita entre o Antigo e o Novo Testamento. 
19 
João e os Sinóticos 
Há uma diferença marcante entre os três primeiros Evangelhos, 
Mateus, Marcos e Lucas, e o Evangelho de João. De fato, o Evangelho de 
João é tão único que 90% do material que ele contém sobre a vida de 
Jesus não é encontrado nos outros Evangelhos. 
Ainda que existem muitas diferenças, há também grandes 
semelhanças entre o Evangelho de João e os Evangelhos Sinópticos. 
Todos os quatro Evangelhos são complementares e todos os quatro 
contam a mesma história básica sobre Jesus Cristo. Mas não há como 
negar que o Evangelho de João é bem diferente dos outros três em tom e 
conteúdo. 
A grande pergunta é por que? Por que João teria escrito um registro 
da vida de Jesus que é tão diferente dos outros três Evangelhos? Há 
várias explicações legítimas para as grandes diferenças de conteúdo e 
estilo entre o Evangelho de João e os Evangelhos Sinóticos. 
A primeira explicação centra-se nas datas em que cada Evangelho foi 
registrado. 
A maioria dos eruditos bíblicos contemporâneos acredita que Marcos 
foi o primeiro a escrever seu Evangelho - provavelmente entre 55 e 60 
d.C. Por essa razão, o Evangelho de Marcos é um retrato relativamente 
rápido da vida e do ministério de Jesus. Escrito principalmente para um 
público gentio (provavelmente cristãos gentios vivendo em Roma), o livro 
oferece uma breve, mas poderosa introdução à história de Jesus e suas 
implicações surpreendentes. 
Estudiosos modernos não estão certos de que Marcos foi seguido por 
Mateus ou Lucas, o mais provável que seja, mas eles estão certos de que 
ambos os Evangelhos usaram o trabalho de Marcos como uma fonte 
fundamental. De fato, cerca de 95% do conteúdo do Evangelho de Marcos 
20 
é paralelo ao conteúdo combinado de Mateus e Lucas. 
Independentemente do que veio primeiro, é provável que tanto Mateus 
como Lucas tenham sido escritos em algum ponto entre o final dos anos 
50 e início dos anos 60 d.C. 
O que isso nos diz é que os Evangelhos Sinóticos provavelmente 
foram escritos dentro de um período de tempo similar durante o primeiro 
século d.C. Se você fizer as contas, notará que os Evangelhos Sinópticos 
foram escritos cerca de 20 a 30 anos após a morte e ressurreição de 
Jesus, que é uma geração. O que isso nos diz é que Marcos, Mateus e 
Lucas se sentiram pressionados a registrar os principais eventos da vida 
de Jesus porque uma geração inteira havia se passado desde que esses 
eventos ocorreram, o que significava que relatos de testemunhas oculares 
e fontes logo seriam escassos. 
Por essas razões, faz sentido que Mateus, Marcos e Lucas sigam um 
padrão, estilo e abordagem semelhantes. Todos foram escritos com a 
ideia de publicar intencionalmente a vida de Jesus para uma audiência 
específica, antes que fosse tarde demais. 
As circunstâncias em torno do quarto Evangelho eram diferentes, no 
entanto. João escreveu seu relato da vida de Jesus uma geração após os 
autores sinóticos terem escrito suas obras; talvez até mesmo no início 
dos anos 90. Portanto, João sentou-se para escrever seu Evangelho numa 
cultura em que relatos detalhados da vida de Jesus e seu ministério já 
existiam há décadas, tinham sido copiados por décadas e, durante esse 
tempo, haviam sido estudados e debatidos. 
Em outras palavras, como Mateus, Marcos e Lucas conseguiram 
codificar oficialmente a história de Jesus, João não sentiu a pressão para 
preservar um registro histórico completo da vida de Jesus, isso já havia 
sido realizado. Em vez disso, João estava livre para construir seu próprio 
21 
Evangelho de uma maneira que refletisse as diferentes necessidades de 
seu próprio tempo e cultura. 
A segunda explicação para a singularidade de João entre os 
Evangelhos Sinóticos tem a ver com os principais propósitos para os quais 
cada Evangelho foi escrito e com os principais temas explorados por cada 
escritor. 
Por exemplo, o Evangelho de Marcos foi escrito principalmente com o 
propósito de comunicar a história de Jesus a uma geração de cristãos 
gentios que não foram testemunhas oculares dos eventos da vida de 
Jesus. Por essa razão, um dos principais temas do Evangelho é a 
identificação de Jesus como o "Filho de Deus" (1.1; 15.39). Marcos queria 
mostrar uma nova geração de cristãos que Jesus realmente era o Senhor 
e Salvador de todos, apesar do fato de que Ele não estava mais 
fisicamente em cena. 
O Evangelho de Mateus foi escrito com um propósito diferente e um 
público diferente em mente. Especificamente, o Evangelho de Mateus foi 
dirigido principalmente a uma audiência judaica no primeiro século; um 
fato que faz todo o sentido, uma vez que uma grande porcentagem dos 
primeiros convertidos ao cristianismo era judia. Um dos principais temas 
do Evangelho de Mateus é a conexão entre Jesus e as profecias e 
predições do Antigo Testamento a respeito do Messias. Essencialmente, 
Mateus estava escrevendo para provar que Jesus era o Messias e que as 
autoridades judaicas dos dias de Jesus O haviam rejeitado. 
Como Marcos, o Evangelho de Lucas foi originalmente destinado 
principalmente a um público gentio - em grande parte, talvez, porque o 
próprio autor era gentio. Lucas escreveu seu evangelho com o propósito 
de fornecer um relato historicamente preciso e confiável do nascimento, 
vida, ministério, morte e ressurreição de Jesus (Lucas 1.1-4). De muitas 
maneiras, enquanto Marcos e Mateus procuravam codificar a história de 
22 
Jesus para uma audiência específica (gentios e judeus, respectivamente), 
os propósitos de Lucas eram mais apologéticos por natureza. Ele queria 
provar que a história de Jesus era verdadeira. 
Os escritores dos Evangelhos Sinópticos procuraram solidificar a 
história de Jesus num sentido histórico e apologético. A geração que havia 
testemunhado a história de Jesus estava morrendo, e os escritores 
queriam dar credibilidade e o poder de permanência paraa fundação da 
igreja nascente; especialmente desde que, antes da queda de Jerusalém 
em 70 d.C., a igreja ainda existia em grande parte na sombra de 
Jerusalém e a fé judaica. 
Os principais propósitos e temas do Evangelho de João eram 
diferentes, o que ajuda a explicar a singularidade do texto de João. 
Especificamente, João escreveu seu evangelho após a queda de 
Jerusalém. Isso significa que ele escreveu para uma cultura em que os 
cristãos sofriam severa perseguição, não apenas nas mãos das 
autoridades judaicas, mas também no poderio do Império Romano. 
A queda de Jerusalém e a dispersão da igreja foi provavelmente uma 
das coisas que fez com que João finalmente registrasse seu Evangelho. 
Como os judeus haviam se espalhado e se tornaram desiludidos após a 
destruição do templo, João viu uma oportunidade evangelística de ajudar 
muitos a verem que Jesus era o Messias, e, portanto, o cumprimento 
tanto do templo quanto do sistema sacrificial (João 2.18-22; 4.21-24). De 
maneira semelhante, a ascensão do gnosticismo e de outros 
ensinamentos falsos ligados ao cristianismo apresentou uma oportunidade 
para João esclarecer vários pontos teológicos e doutrinas usando a 
história da vida, morte e ressurreição de Jesus. 
Essas diferenças de propósito ajudam muito a explicar as diferenças 
de estilo e ênfase entre o Evangelho de João e os Sinóticos. 
23 
A terceira explicação para a singularidade do Evangelho de João diz 
respeito às diferentes maneiras pelas quais cada escritor do Evangelho se 
concentrava especificamente na pessoa e na obra de Jesus Cristo. 
No Evangelho de Marcos, por exemplo, Jesus é retratado 
primariamente como o Filho de Deus, com autoridade e fazendo milagres. 
Marcos queria estabelecer a identidade de Jesus no âmbito de uma nova 
geração de discípulos. 
No Evangelho de Mateus, Jesus é retratado como o cumprimento da 
Lei e das profecias do Antigo Testamento. Mateus se esforça muito para 
expressar Jesus não simplesmente como o Messias profetizado no Antigo 
Testamento (ver Mateus 1.21), mas também como o novo Moisés 
(capítulos 5–7), o novo Abraão (1.1-2) e o descendente da linhagem real 
de Davi (1. 1, 6). 
Enquanto Mateus se concentrava no papel de Jesus como a tão 
esperada salvação do povo judeu, o Evangelho de Lucas enfatizava o 
papel de Jesus como Salvador de todos os povos. Portanto, Lucas 
intencionalmente conecta Jesus com uma série de párias na sociedade de 
seus dias, incluindo mulheres, pobres, doentes, endemoninhados e muito 
mais. Lucas retrata Jesus não apenas como o poderoso Messias, mas 
também como um amigo divino dos pecadores que veio expressamente 
para "buscar e salvar os perdidos" (Lucas 19.10). 
Em resumo, os escritores sinópticos estavam geralmente 
preocupados com a demografia em suas representações de Jesus. Eles 
queriam mostrar que Jesus, o Messias, estava conectado com judeus, 
gentios, párias e outros grupos de pessoas. 
Em contraste, o retrato que João faz de Jesus está mais preocupado 
com a teologia do que com a demografia. João viveu numa época em que 
debates teológicos e heresias estavam se tornando desenfreados - 
incluindo o gnosticismo e outras ideologias que negavam a natureza 
24 
divina de Jesus ou a sua posição humana. Essas controvérsias foram a 
ponta da lança que levou aos grandes debates e conselhos dos séculos III 
e IV (o Concílio de Nicéia, o Concílio de Constantinopla e assim por 
diante); muitos dos quais giravam em torno do mistério da natureza de 
Jesus como ambos totalmente Deus e totalmente homem. 
Essencialmente, muitas pessoas do dia de João estavam se 
perguntando: "Quem exatamente era Jesus? Como Ele era?" Os primeiros 
equívocos de Jesus retrataram-no como um homem muito bom, mas não 
na verdade, Deus. 
Em meio a esses debates, o Evangelho de João é uma exploração 
completa do próprio Jesus. De fato, é interessante notar que enquanto o 
termo "reino" é falado por Jesus 47 vezes em Mateus, 18 vezes em 
Marcos e 37 vezes em Lucas, é mencionado apenas 5 vezes por Jesus no 
Evangelho de João. Ao mesmo tempo, enquanto Jesus pronuncia o 
pronome "eu" apenas 17 vezes em Mateus, 9 vezes em Marcos e 10 
vezes em Lucas, Ele diz "eu" 118 vezes em João. O livro de João é sobre 
Jesus explicando sua própria natureza e propósito no mundo. 
Um dos principais propósitos e temas de João era retratar 
corretamente Jesus como a Palavra divina (ou Logos), o filho preexistente 
que é Um com Deus (João 10.30) e, ainda assim, se tornou homem para 
viver entre nós (1.14). Em outras palavras, João fez um grande esforço 
para deixar claro que Jesus era de fato Deus em forma humana. 
Os quatro evangelhos do Novo Testamento funcionam perfeitamente 
como quatro seções da mesma história. E, embora seja verdade que os 
Evangelhos Sinóticos são semelhantes em muitos aspectos, a 
singularidade do Evangelho de João apenas beneficia a história maior, 
trazendo conteúdo adicional, novas ideias e uma explicação mais clara do 
próprio Jesus. 
 
25 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos 
Os eventos nos livros de Mateus, Marcos e Lucas ocorrem quase 
inteiramente nas vizinhanças da Palestina, uma área que se estende 
aproximadamente de Cesareia, de Filipe, no norte, até Berseba, no sul. 
Jesus nasceu durante o domínio do Império Romano. A Palestina está sob 
seu controle, governada publicamente por um nomeado romano 
(Herodes), mantido pelos militares romanos sob Pilatos, e liderado em 
seus assuntos cotidianos pelos ricos sacerdotes saduceus e seus principais 
mestres, os fariseus. O país é um foco de turbulências políticas e sociais 
querendo ser liberta de séculos de dominação estrangeira, e despertado 
pelas gloriosas expectativas de um messias militar/político que os 
libertará da escravidão e os restaurará à "era de ouro" do rei Salomão 
(quando eles eram um poder no mundo). 
26 
 
27 
Foram quatro os principais períodos históricos e políticos que 
moldaram o pensamento das pessoas quando Jesus chegou ao cenário da 
história humana, a cena que os autores dos Evangelhos Sinóticos 
registram em seus evangelhos. 
Período Persa, 536-336 a.C. 
Em 587 a.C. ocorreu um dos eventos mais traumáticos da história do 
povo judeu: sua capital, Jerusalém, e o magnífico templo ali situado 
foram destruídos, e a maioria do povo judeu foi morta ou levada em 
cativeiro pelo exército babilônico do rei Nabucodonosor. 
Surpreendentemente, em 539 a.C., enquanto os judeus ainda estavam 
em cativeiro, o próprio Império Babilônico foi derrotado pelo exército 
persa. 
No ano seguinte, 538 a.C., com a permissão do rei persa, Ciro, um 
pequeno remanescente de judeus exilados voltou para reconstruir a 
cidade de Jerusalém e o templo ali localizado. Outros seguiram para se 
estabeleçam na terra no próximo século. Mestres e profetas como Esdras, 
Neemias e Malaquias escreveram sobre esse período de tempo. 
O tempo entre o profeta Malaquias (433 a.C.) e o aparecimento de 
João Batista é chamado de Período Intertestamentário (Período de 
Silêncio). Neste período de quatrocentos anos, nenhum livro inspirado foi 
escrito, mas muitos estilos diversos, históricos e religiosos, foram 
produzidos. Por exemplo: 
1. Livros históricos: Registrou os movimentos sociais e políticos do 
povo judeu. 
 Josefo (historiador) 
 Macabeus 1 e 2 (história de uma revolta judaica um século 
antes de Cristo) 
28 
2. Apócrifos (ocultos): Estas foram histórias e relatos de eventos e 
pessoas na história judaica não registradas nos livros inspirados. 
Por exemplo: 
 História de Susanna 
 Sabedoria de Salomão 
 1 e 2 Esdras 
3. Pseudoepígrafa (falsos escritos): Estes livros foram escritos 
usando os nomes dos autores do Antigo Testamento muito depois 
de suas mortes (por exemplo, o Apocalipse de Moisés). 
Esses escritos, entre 400 a.C. e a chegada de Cristo, influenciaram o 
pensamento do povo, e uma grande parte do ensinamento de Jesus foi 
feitapara neutralizar essas ideias (as muitas restrições sobre o sábado 
não encontradas na Lei original dada por Moisés, mas praticado e 
ensinado por um grupo de escribas judeus conhecidos como fariseus). 
O povo judeu estava baseando muito do seu pensamento religioso 
nesses escritos intertestamentários. Como resultado, muitas de suas 
ideias sobre o Messias e o "fim dos tempos" foram moldadas por esses 
textos não inspirados, e não pelos profetas inspirados do Antigo 
Testamento. Isso se tornaria uma grande pedra de tropeço para sua 
crença em Jesus, já que Ele não se conformava com a imagem que eles 
tinham do Messias vindo dessas fontes. 
Período Grego, 333-167 a.C. 
Esta foi a época de Alexandre, o Grande, e seu legado. Após a morte de 
Alexandre, seu reino foi dividido entre seus quatro generais. A Judeia, 
onde o povo judeu vivia, estava sob controle diferente para os dois 
séculos de dominação grega do mundo: 
29 
1. 320-298 a.C.: O Egito dominou a área e estava em constante 
batalha com seu antagonista do norte, a Síria, que também queria 
controlar a região, a fim de ter uma área de preparação para 
ataques contra o Egito, ao sul. 
2. 198-167 a.C.: A Síria estava no controle da Judeia. Um rei sírio, 
Antíoco Epifânio, oprimiu os judeus ao tentar fechar o Templo em 
Jerusalém e proibir a circuncisão. Ele até sacrificou um porco no 
altar do templo. Essas ações levaram a uma revolta do povo judeu 
escrita nos livros históricos: 1 e 2 Macabeus. Foi também uma 
época em que os judeus foram muito influenciados pela cultura 
grega ao ponto em que muitos não falavam mais o hebraico. Para 
acomodar essas mudanças, uma versão grega da Bíblia hebraica 
chamada Septuaginta foi produzida. 
Período dos Macabeus, 167-63 a.C. 
Uma revolução popular contra o controle sírio e influência grega 
permitiu aos judeus desfrutar de um breve período de independência de 
167-135 a.C. Foi durante esse período que novos poderes surgiram na 
nação judaica: 
• Fariseus: Estes eram escribas (advogados) que lideravam a revolta 
e eram considerados protetores das Escrituras judaicas e uma força 
contrária à influência maligna e pagã da cultura grega. 
• Saduceus: Uma aristocrática classe alta de sacerdotes que 
começou a exercer o poder político (não havia rei em Israel, então 
preencheram o vácuo do poder). O papel do ensino passou dos 
sacerdotes aos fariseus; o papel da liderança passou do rei e agora 
estava exercido pelos sumos sacerdotes. 
• Essênios: Estes eram os habitantes do deserto que consideravam a 
liderança religiosa em Jerusalém corrupta e que viviam como uma 
30 
comunidade privada longe da civilização. Eles grafaram cópias do 
Antigo Testamento em hebraico e aramaico, selaram-nas em potes 
de barro e as esconderam nas cavernas próximas ao mar Morto. 
Eles fizeram isso para proteger as Escrituras da corrupção dos 
mestres religiosos da época e também porque acreditavam que o 
fim dos tempos estava próximo. Estas cópias foram descobertas 
mais tarde em 1947 d.C. e são agora referidas como os Manuscritos 
do Mar Morto. 
• Zelotes: Ativistas políticos e anarquistas que queriam continuar a 
revolução contra qualquer ocupação estrangeira do território judeu 
(Barrabás/Simão). 
• Herodianos: Um partido político simpático a Herodes; alguns entre 
eles pensaram que Herodes era o Messias. 
Israel era um foco de atividade política; foi alimentada por escritos não 
inspirados durante o período intertestamental que especulavam sobre a 
chegada fantástica do Messias, que os livraria da opressão estrangeira e 
inauguraria um período áureo de dominação judaica que se assemelhava 
ao período em que Salomão reinava. 
Período Romano, 63 a.C. (Novo Testamento) 
Os romanos destruíram a Síria completamente e dominaram os 
judeus e seu território. Eles estabeleceram governadores sobre o povo 
judeu. Os líderes romanos venderam os direitos de cobrar impostos aos 
indivíduos no país. Essas pessoas foram chamadas de Publicanos (por 
exemplo, Mateus). Herodes, chamado rei dos judeus, foi nomeado 
governante político pelos romanos e foi responsável pela reconstrução do 
templo em Jerusalém durante o seu reinado. 
Pôncio Pilatos foi um governador militar que forneceu uma garantia 
romana de força para cobrar impostos e acabar com qualquer rebelião. 
31 
O Calendário a.C./d.C. 
Durante a vida de Cristo, o tempo foi calculado de acordo com o 
calendário romano (as festas eram celebradas de acordo com o calendário 
judaico, mas os anos eram de acordo com o calendário romano). O 
calendário romano calculou o ano referindo-se à fundação da cidade de 
Roma como o ano 1, e assim o ano em que Cristo nasceu foi 753 (depois 
da fundação de Roma). 
Depois que o cristianismo se tornou a religião do mundo romano, o 
Imperador Justiniano solicitou que um novo sistema de datação fosse 
estabelecido usando o nascimento de Cristo como o primeiro ano. Quando 
esse ajuste foi feito, o ano romano era 1279. Como Jesus havia nascido 
em 753 (tempo romano), eles restabeleceram o novo ano civil em termos 
cristãos, em 526; 526 anos após o nascimento de Cristo - d.C. (depois de 
Cristo, se referindo ao nascimento de Cristo). 
Para complicar ainda mais as coisas, descobriu-se que o cálculo deles 
sobre o ano em que Jesus nasceu estava errado por 4 anos, mas desde 
que a mudança já havia sido feita no novo calendário, eles deixaram as 
coisas como estavam. Isso significa que, de acordo com o novo 
calendário, Jesus nasceu em 4 a.C.! 
Os romanos eram cruéis e desumanos, mas durante seu domínio eles 
forneceram elementos importantes que apoiavam a disseminação do 
evangelho: 
1. Pax Romana (12 a.C. - 93 d.C.): 100 anos de relativa paz no 
Império Romano. Isso significava que a maioria das pessoas tinham 
liberdade e segurança de movimento em toda a terra. 
2. Um excelente sistema rodoviário projetado para mover as tropas de 
maneira rápida e eficiente por todo o império também forneceu 
viagens fáceis para os missionários. 
32 
3. Eles mantiveram o sistema de comunicação e literário dessa idade. 
 A língua grega era a língua universal da literatura e 
comunicação entre as culturas e os romanos não tentaram 
mudar isso. 
 A língua latina foi usada como a linguagem de direito. 
O apóstolo Paulo pode usar esse sistema de estradas bem 
conservado para viajar e divulgar o evangelho de Jesus Cristo usando a 
língua grega universalmente compreendida para comunicar sua 
mensagem. 
Palestina nos Tempos do Novo Testamento 
Situação Social 
As pessoas eram pobres (a Judeia era mais pobre que a Galileia). A 
religião era o centro da vida e, juntamente com a especulação política, 
proporcionava a antecipação da liberdade. Era uma sociedade agrícola, e 
sua principal cidade, Jerusalém, tinha uma população de cerca de 
250.000 pessoas. Havia uma alta taxa de alfabetização entre os judeus, 
já que todos tinham que aprender a Lei de Moisés. Existiam certas 
divisões de classe: 
1. Aristocracia: Sacerdotes, com o Sumo Sacerdote como líder 
espiritual e social. Muitos aceitavam apenas o Pentateuco (os 
primeiros cinco livros do Antigo Testamento) como autoridade, não 
acreditavam na ressurreição e eram conservadores religiosamente, 
mas aceitavam o pensamento e os costumes gregos. 
2. Fariseus: Mestres zelosos da Lei. Eles acreditavam na ressurreição e 
na imortalidade da alma. Aceitaram toda a Bíblia hebraica. 
3. Pessoas comuns 
4. Publicanos: simpatizantes de Roma. 
5. Pecadores 
33 
6. Escravos (Por que a crucificação era tão humilhante? Era a punição 
para os escravos). 
Problemas Sociais 
30-40% da população romana era escrava. Não havia classe média. 
O divórcio era desenfreado nessa sociedade. Entre os gentios havia 
prostituição (prostituição religiosa nos templos pagãos), infanticídio 
(bebês indesejados deixados em campos abertos para morrer) e abuso 
infantil (órfãos criados como ladrões ou prostitutas). 
ReligiãoEntre os judeus, a adoração no templo era central. Um ciclo anual de 
festas era celebrado. O culto regular na sinagoga era a alma da 
comunidade judaica. A maior parte do mundo, no entanto, praticava a 
adoração do imperador junto com outras formas de paganismo. 
Neste mundo turbulento vem Jesus Cristo. Ele nasceu em Belém a 
um casal pobre e foi criado como um jovem judeu frequentando a 
sinagoga e a adoração no templo. Ele entra no ministério público aos 
trinta anos de idade confrontando fariseus, sacerdotes e o público em 
geral com a mensagem de que Ele é o Messias e a esperança de Israel. 
Ele é saudado como rei, executado como criminoso e ressuscitado para 
demonstrar Sua divindade e senhorio. 
(Fonte: Mike Mazzalongo) 
 
 
 
 
 
34 
 
CAPÍTULO 3 
 
O EVANGELHO SEGUNDO 
MATEUS 
 
Mateus, um dos três Evangelhos sinóticos, isto é, os relatos da vida e 
ministério de Jesus que frequentemente falam dos mesmos eventos em 
linguagem similar e às vezes idêntica, é o primeiro Evangelho que 
encontramos no Novo Testamento, embora não foi o primeiro escrito. 
Esse reconhecimento pertence a Marcos que foi escrito entre 55 e 60 d.C. 
Mateus foi escrito entre 60 e 65 d.C. 
Então, por que Mateus aparece primeiro? Pode ser porque o seu 
relato a respeito de Jesus funcione como uma pequena ponte, depois de 
400 anos de silêncio, entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento; a 
ponte entre o povo judeu e sua esperança do Messias, para o 
cumprimento da profecia messiânica. 
Mateus não faz divisão entre história e teologia. Sua história é a base 
da teologia, e a teologia dá seu significado próprio à história. 
Durante o tempo em que foi escrito, seria provável que o Evangelho 
fosse primeiro apresentado aos judeus e depois aos gentios. 
Autor: 
Como nenhum dos quatro Evangelhos inclui os nomes de seus 
autores nos manuscritos originais, todos são tecnicamente anônimos. Isso 
não é surpreendente, uma vez que os autores provavelmente compilaram 
seus relatos evangélicos para membros de suas próprias igrejas, aos 
35 
quais eles já eram bem conhecidos. No entanto, documentos históricos da 
história da igreja primitiva fornecem uma visão significativa da autoria 
dos Evangelhos. As primeiras tradições da igreja são unânimes em 
atribuir o primeiro Evangelho a Mateus, o antigo cobrador de impostos 
que seguiu Jesus e se tornou um dos seus 12 discípulos. 
Quem foi Mateus? 
Um dia, Jesus estava caminhando e viu um cobrador de impostos 
chamado Mateus sentado na cabine onde ele cobrava os impostos e disse-
lhe: "Siga-me", e Mateus levantou-se e seguiu-o, e tornou-se um dos 
seus doze apóstolos (Mateus 9.9). 
Os cobradores de impostos naqueles dias eram socialmente 
marginalizados. Os judeus devotos os evitavam porque eram geralmente 
desonestos (o emprego não tinha salário e era esperado que eles 
fizessem seus lucros fraudando as pessoas de quem cobravam impostos). 
Os judeus patriotas e nacionalistas os odiavam porque eram agentes do 
governo romano, os conquistadores e os odiavam com um duplo ódio se 
(como Mateus) fossem judeus, porque tinham ido ao lado do inimigo, 
haviam traído seu próprio povo por dinheiro. Assim, ao longo dos 
Evangelhos, encontramos cobradores de impostos (publicanos) 
mencionados como um tipo padrão do pecaminoso e desprezado 
marginalizado. Curiosamente, o único Evangelho que menciona a antiga 
ocupação de Mateus como cobrador de impostos é o próprio de Mateus. 
Depois do chamado de Mateus e o banquete que ele fez para Jesus, 
ele não é mencionado novamente nos Evangelhos, exceto na lista dos 
Apóstolos presentes na sala depois que Jesus subiu ao céu (Atos 1.13). 
Por aparências superficiais, foi escandaloso e ofensivo para Jesus 
escolher um cobrador de impostos como um de seus seguidores mais 
próximos, já que eles eram amplamente odiados pelos judeus. No 
entanto, dos quatro escritores do Evangelho, Mateus apresentou Jesus 
36 
aos judeus como o Messias esperado, adaptando seu relato para 
responder suas respectivas perguntas. 
Da vida de Mateus após Pentecostes, as Escrituras não nos dizem 
nada. Relatos posteriores de sua vida variam, alguns relatando que se 
tornou missionário ministrando na Pérsia e na Etiópia aonde, segundo O 
Livro dos Mártires de John Foxe, ele foi martirizado na cidade de Nadaba 
no ano 60 d.C., morto por uma lança, enquanto outros dizem que morreu 
de morte natural. Ainda assim, a comunidade cristã desde os primeiros 
tempos o comemora como um mártir. 
Data de Redação: 
A canonicidade e a autoria mateana desse evangelho não foram 
contestadas na igreja primitiva. Eusébio (265-339 d.C.) cita Orígenes 
(185–254 d.C.): “Entre os quatro Evangelhos, que são os únicos 
indiscutíveis na Igreja de Deus debaixo do céu, aprendi por tradição que o 
primeiro foi escrito por Mateus, que já foi um publicano, mas depois 
apóstolo de Jesus Cristo, e foi preparado para os convertidos do 
judaísmo”. 
É claro que esse evangelho foi escrito em uma data relativamente 
antiga, antes da destruição do templo em 70 d.C. 
Há uma série de evidências, tanto dentro quanto fora do texto, que 
apontam Mateus escrevendo seu Evangelho entre 60-65 d.C. Essa data 
faz uma conexão melhor entre Mateus e os outros Evangelhos 
(especialmente Marcos) e explica melhor as pessoas e os lugares-chave 
incluídos no texto. 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
Veja Introdução aos Evangelhos: Os Tempos e as Circunstâncias dos 
Escritos. 
37 
Público do Evangelho: 
Mateus foi escrito principalmente para um público judaico. Desde o 
início, Mateus pinta uma imagem de Jesus como um homem 
inegavelmente judeu, que desce diretamente de Abraão, patriarca dos 
judeus (1.1-16); algo que teria grande importância para um judeu, pois 
isso era uma prova de sua legitimidade. Também podemos ver que o seu 
público era judeu pelo fato de que Mateus não explica a cultura judaica 
como os outros evangelistas o faz e o livro está repleto de alusões ao 
Antigo Testamento e um público gentio não perceberia nem se importaria. 
A Estrutura: 
O gênero principal de Mateus é o Evangelho, e a estrutura 
organizacional dos quatro Evangelhos é narrativa ou história. No entanto, 
com a estrutura narrativa do Evangelho de Mateus, uma grande 
quantidade de espaço é dedicada aos discursos de Jesus. Além disso, o 
conjunto usual de subtipos são encontrados: histórias de nascimento, 
histórias de chamada ou vocação, histórias de milagres, parábolas, 
histórias de pronunciamentos, histórias de encontros, histórias da paixão 
e histórias de ressurreição. 
A característica literária mais notável do formato do livro é o padrão 
alternado ao redor do qual o livro é organizado. O material no Evangelho 
de Mateus é baseado num movimento rítmico de ida e volta entre blocos 
de material narrativo e blocos de material discursivo. As seções 
narrativas, em cada caso, conduzem adequadamente aos discursos. 
Mateus registra 5 grandes discursos: o Sermão do Monte (capítulos 
5–7); o envio dos apóstolos (capítulo 10); as parábolas sobre o reino 
(capítulo 13); um discurso sobre o crente sendo como uma criança 
(capítulo 18); e o discurso sobre Sua segunda vinda (capítulos 24-25). 
Cada discurso termina com uma variação dessa frase: “quando Jesus 
acabou de dizer estas coisas” (7.28; 11.1; 13.53; 19.1; 26.1). Isso se 
38 
torna uma característica distintiva que sinaliza uma nova porção 
narrativa. Uma longa seção de abertura (capítulos 1–4) e uma breve 
conclusão (28.16-20) colocam o restante do evangelho entre as cinco 
seções, cada uma com um discurso e uma seção narrativa. Alguns viram 
um paralelo entre estas 5 seções e os 5 livros de Moisés no Antigo 
Testamento. 
Embora Mateus agrupe seu material narrativo em torno de 5 grandes 
discursos. Ele não faz nenhuma tentativa de seguir uma cronologia 
estrita, e uma comparação dos evangelhos revela que Mateus livremente 
coloca as coisas forade ordem. Ele está lidando com temas e conceitos 
amplos, não definindo um cronograma. 
O conflito entre Cristo e o farisaísmo é outro tema comum no 
evangelho de Mateus. Mateus está ansioso para mostrar o erro dos 
fariseus para o benefício de seu público judeu, mas não por razões 
pessoais ou de auto-engrandecimento. Mateus omite, por exemplo, a 
parábola do fariseu e do cobrador de impostos, embora essa parábola o 
teria colocado sob uma luz favorável. 
As distintas características estilísticas de Mateus incluem citações 
recorrentes e citações do Antigo Testamento e uma ênfase em Jesus 
como sendo como um rei ou real (até mesmo a genealogia de abertura 
coloca o pai de Jesus, José, na linha davídica). Além disso, Mateus gosta 
do termo “Filho de Davi” como um título para Cristo, afirma que “Isso 
aconteceu para cumprir o que foi dito pelos profetas”, e a fórmula “o 
reino dos céus é como . . .”. 
Esboço simples de Mateus: (Bíblia de Estudo ESV) 
I. A Chegada de Jesus, o Messias (1.1-2: 23) 
II. João Batista Prepara-se para o Reino Messiânico (3.1-17) 
III. Jesus, o Messias, Começa a Avançar o Reino Messiânico (4.1-25) 
39 
IV. A Mensagem Autoritária do Messias: Vida no Reino para seus 
Discípulos (5.1-7.29) 
V. O Poder Autoritário do Messias: Poder do Reino Demonstrado 
(8.1-9.38) 
VI. A Missão Autoritária dos Mensageiros do Messias (10.1–42) 
VII. Oposição ao Messias Aumenta (11.1-12.50) 
VIII. O Reino Messiânico Revelado em Parábolas (13.1–53) 
IX. A Identidade do Messias Revelada (13.54–16.20) 
X. O Sofrimento do Messias Revelado (16.21–17.27) 
XI. A Comunidade do Messias Revelada (18.1-20.34) 
XII. O Messias Afirma sua Autoridade sobre Jerusalém (21.1-23.39) 
XIII. O Atraso, Retorno e Juízo do Messias (24.1-25.46) 
XIV. O Messias Crucificado (26.1-27.66) 
XV. A Ressurreição e a Comissão do Messias (28.1-20) 
O Objetivo da Escrita: 
Mateus pretende provar aos judeus que Jesus Cristo é o Messias 
prometido, e por isso, ele frequentemente mostra as conexões entre as 
ações de Jesus e a profecia judaica. Mais do que qualquer outro 
Evangelho, o Evangelho de Mateus cita o Antigo Testamento para mostrar 
como Jesus cumpriu as palavras dos profetas judeus. O livro contém mais 
de 130 citações e alusões do Antigo Testamento e a frase “para cumprir” 
é usado 9 vezes, enquanto não acha nenhuma vez nos outros 
Evangelhos. Enquanto Jesus fala, realiza milagres e toma decisões, o 
Evangelho de Mateus destaca como o ministério de Jesus foi profetizado 
no Antigo Testamento. Não há uma "lista de verificação de messias" na 
Torá, então os judeus formaram sua própria imagem de como seria o 
messias e como ele salvaria Israel. Essas alusões ajudaram o público 
judeu de Mateus ver que Jesus era aquele que estavam esperando. 
 
 
40 
Fatos Curiosos do Evangelho de Mateus: 
 Enquanto os outros evangelhos frequentemente usam a frase 
"Reino de Deus", Mateus usa "Reino dos Céus", uma distinção 
que teria importado muito aos judeus, que reverenciaram 
profundamente o nome de Deus. Assim, "Reino dos Céus" pode 
ser visto como uma "expressão judia reverente"; um termo 
apropriado para um público judeu. A frase é usada 32 vezes em 
toda a Bíblia, todas em Mateus. 
 O Evangelho de Mateus é o único livro para apontar que Jesus 
veio não "para acabar com a lei de Moisés ou com os escritos dos 
Profetas, mas para cumpri-los" e que "nem mesmo o menor 
detalhe da lei de Deus desaparecerá até que tudo seja cumprido" 
(Mateus 5.17-18). Esta citação de Jesus enraizou seus 
ensinamentos na tradição da lei judaica, que era muito 
importante para os judeus e muito menos relevante para os 
gentios. 
 Cinco mulheres estão incluídas na genealogia de Mateus. Na 
cultura que Mateus estava escrito, as genealogias costumavam 
incluir apenas homens. O Evangelho de Mateus, no entanto, lista 
cinco mulheres, cada uma das quais fez a genealogia de Jesus 
mais complicada. 
o Tamar fingiu ser uma prostituta para enganar seu sogro 
para impregná-la. 
o Raabe foi uma prostituta que ajudou os israelitas a 
capturar Jericó. 
o Rute era uma moabita viúva, e os moabitas foram 
proibidos de entrar na assembléia do Senhor 
(Deuteronômio 23.3). 
o A mãe de Salomão era Bate-Seba, a esposa de Urias com 
quem Davi se adulterou. 
o Maria engravidou antes de se casar. 
41 
o Para um público judeu, incluir essas mulheres é gerar 
perguntas e é assim, com esta genealogia, o Livro de 
Mateus começa contando uma história da redenção de 
Deus. 
 Mateus cita mais de 60 vezes das passagens proféticas do AT, 
enfatizando como Cristo é o cumprimento de todas essas 
promessas. 
 Mateus pinta um retrato mais vívido da rejeição de Cristo do que 
qualquer outro evangelho. 
 Mateus também menciona os saduceus mais do que qualquer 
outro evangelho. 
 Lucas traça a genealogia de Jesus através do filho de Davi, Natã; 
Mateus através do filho de Davi, Salomão. 
 Mateus foi o evangelho mais citado durante os primeiros 300 
anos da igreja. 
 Mateus é o único dos três evangelhos sinópticos que usa a 
palavra "igreja" (16.18; 18.17). 
 A palavra “reino” ocorre 50 vezes. 
A Importância do Evangelho de Mateus: 
Depois de suportar 400 anos de silêncio profético, o povo de Deus deve 
ter se perguntado se Deus os havia abandonado ou não. Depois de 
séculos de comunicação regular de Deus, o povo se viu sem um genuíno 
profeta ou porta-voz de Deus. Contudo, os ministérios de João e Jesus 
lembraram ao povo de Deus que Ele não os havia esquecido. O silêncio de 
Deus durante esse período foi meramente um precursor para puxar o eixo 
do seu plano redentor. Deus não tinha esquecido. Ele se lembrou do Seu 
povo. Mateus deixou isso claro. 
O Evangelho de Mateus é uma excelente introdução aos principais 
ensinamentos do cristianismo. O estilo de estrutura lógica facilita a 
localização de discussões de vários tópicos. Mateus é especialmente útil 
42 
para entender como a vida de Cristo foi o cumprimento das profecias do 
Antigo Testamento. Ele reúne mais profecias do Antigo Testamento do 
que qualquer outro livro. 
Mateus escreveu seu relato do ministério de Jesus para mostrar que Jesus 
era e é de fato o Rei, o tão esperado Messias de Israel. Ele refletiu essa 
preocupação em sua linha de abertura: “Esse é um registro dos 
antepassados de Jesus Cristo, o Messias, filho (descendente) de Davi, 
filho (descendente) de Abraão” (Mateus 1.1). A partir daí, Mateus 
consistentemente levou seus leitores de volta ao Antigo Testamento, 
fornecendo testemunho do Antigo Testamento sobre o nascimento de 
Jesus, Belém como a localização do nascimento de Jesus, a fuga para o 
Egito, o massacre de Herodes e o início do ministério de Jesus. Num 
mundo onde muitos na comunidade judaica reivindicaram o papel do 
Messias para si mesmos, o compromisso de Mateus de fundamentar a 
vida de Jesus no Antigo Testamento elevou Jesus acima da multidão 
desses falsos messias. O apóstolo pintou um retrato de nosso Senhor que 
destaca sua singularidade entre todos os outros que já andou e jamais 
andarão nesta terra. 
Para Pensar: 
Mateus apresentou uma das vidas mais radicalmente mudadas na Bíblia 
em resposta a um convite de Jesus. Ele não hesitou; ele não olhou para 
trás. Ele deixou uma vida de riqueza e segurança para a pobreza e a 
incerteza. Ele abandonou os prazeres deste mundo pela promessa da vida 
eterna. 
Jim Eliot: “Não é tolo aquele que abre mão do que não pode guardar para 
ganhar o que não pode perder”. 
 
 
43 
 
CAPÍTULO 4 
 
O EVANGELHO SEGUNDO 
MARCOS 
 
Marcos, um dos três Evangelhos sinóticos, é o segundo Evangelho 
que encontramos no Novo Testamento, embora fosse o primeiro escrito. 
Então, por que Marcos aparece depois de Mateus? Uma possível 
explicação, poderia ter sido que Mateus parece apresentar Jesus 
especificamente como o Rei dos judeus, enquanto Marcos apresenta Jesus 
como o Filho do Homem. A ideia de que o evangelhoera para o judeu 
primeiro e depois também para os gentios poderia ter sido a razão pela 
qual Mateus foi colocado primeiro, mas isso é apenas uma conjectura. 
Pode ser também que Mateus também serve melhor como uma ponte 
entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. 
O Evangelho de Marcos é uma narrativa histórica que dá uma 
descrição da vida, obra e ensino de Jesus, bem como sua morte e 
ressurreição, com pouca informação ou filosofando. É considerado o 
evangelho "urgente" exatamente por causa disso. Além de ser é o mais 
curto dos quatro evangelhos, Marcos não gasta tempo explicando o 
histórico familiar de Jesus e não fornece nenhum material fundamental 
antes de anunciar, no primeiro versículo do livro, que Jesus Cristo é o 
Filho de Deus. Marcos não está interessado em análise de personagens ou 
desenvolvimento doutrinário. Seu livro é sobre ação e reação. Um bom 
exemplo disso é que mais espaço é dado a milagres neste livro do que em 
qualquer outro evangelho. Além disso, as reações das pessoas a Jesus 
44 
são cuidadosamente anotadas em Marcos. Há mais de 23 referências a 
pessoas que ficaram surpresas, perplexas, atônitas, hostis, etc. 
Em resumo, o evangelho de Marcos é curto, direto ao ponto, colorido 
e poderoso. Ele conta a história simples de Jesus sem muita informação 
de coisas por trás da história e então termina tão abrupta quanto ele 
começou (no final mais curta). 
Autor: 
Ao contrário das epístolas, os evangelhos não nomeiam seus autores. 
Os pais da igreja primitiva, no entanto, afirmam unanimemente que 
Marcos escreveu este segundo evangelho. Papias, bispo de Hierópolis, 
escrevendo acerca de 140 d.C., observou: 
E o presbítero [o apóstolo João] disse isto: Marcos, tendo-se tornado 
o intérprete de Pedro, anotou com exatidão tudo o que ele se lembrava. 
Não foi, no entanto, na exata ordem que ele relatou os ditos ou ações de 
Cristo. Pois ele não ouviu o Senhor nem o acompanhou. Mas depois, 
como eu disse, ele acompanhou Pedro, que acomodou suas instruções às 
necessidades [de seus ouvintes], mas sem intenção de dar uma narrativa 
regular das declarações do Senhor. Portanto, Marcos não cometeu 
nenhum erro ao escrever algumas coisas, como ele se lembrava delas. De 
uma coisa ele tomou cuidado especial, não omitir qualquer coisa que 
tivesse ouvido, e não colocar qualquer coisa fictícia nas declarações. [Da 
Exposição dos Oráculos do Senhor (6)] 
Justino Mártir, escrevendo acerca de 150 d.C., referiu-se ao 
Evangelho de Marcos como “as memórias de Pedro” e sugeriu que Marcos 
entregasse seu evangelho à escrita enquanto estava na Itália. Isto 
concorda com a voz uniforme da tradição primitiva, que considerava este 
evangelho como tendo sido escrito em Roma, para o benefício dos 
cristãos romanos. Irineu, escrevendo acerca de 185 d.C., chamou Marcos 
45 
de “discípulo e intérprete de Pedro” e registrou que o segundo evangelho 
consistia no que Pedro pregou sobre Cristo. 
O evangelho de Marcos circulou amplamente na época e nenhum dos 
líderes da igreja contestou ou criticou seu conteúdo ou autor. 
Quem foi Marcos? 
É geralmente aceito que o Marcos associado a Pedro é também o 
João Marcos do Novo Testamento. A primeira menção dele é em conexão 
com sua mãe, Maria, que tinha uma casa em Jerusalém que servia como 
ponto de encontro para os crentes. Quando Herodes prendeu Pedro, a 
igreja se juntou na casa dela para orar. E quando Pedro foi liberto por um 
anjo, ele foi e bateu na porta dela; a casa onde Marcos morava (Atos 
12.12-16). Maria tinha um sobrinho que se chamava de Barnabé, o 
primeiro companheiro de Paulo. Quando Paulo e Barnabé retornaram a 
Antioquia de Jerusalém, após a visita da fome, Marcos os acompanhou 
(Atos 12.25). 
46 
Marcos aparece em seguida como um “ajudante” para Paulo e 
Barnabé na primeira viagem missionária de Paulo (Atos 13.5), mas ele os 
abandonou em Perge, na Panfília, para retornar a Jerusalém (Atos 13.13). 
Paulo deve ter ficado profundamente desapontado com as ações de 
Marcos nesta ocasião, porque quando Barnabé propôs levar Marcos na 
segunda viagem, Paulo recusou categoricamente, uma recusa que acabou 
com o relacionamento de trabalho deles (Atos 15.36-39). Paulo pegou 
Silas e eles foram a Ásia, enquanto Barnabé pegou Marcos, que era seu 
primo (Colossenses 4:10), e partiu para Chipre. Nenhuma outra menção é 
feita de Barnabé ou Marcos no livro de Atos. Marcos reaparece na carta 
de Paulo a Filemom (v. 24) e na carta Colossenses, escritas de Roma. Na 
carta aos colossenses, Paulo envia uma saudação de Marcos e acrescenta: 
“Vocês já receberam instruções a respeito dele. Se ele passar por aí, 
recebam-no bem” (Colossenses 4:10). Nesse momento, Marcos 
aparentemente estava começando a ganhar de volta a confiança de Paulo. 
No final da vida de Paulo, Marcos tinha recuperado totalmente o favor de 
Paulo, como visto em 2 Timóteo 4.11: "Busque Marcos e traga com você 
quando vier, porque ele pode me ajudar muito no ministério". 
Há uma parte que talvez é coisa de Marcos, algo que é particular ao 
seu evangelho. Quando Jesus foi preso no jardim de Getsêmani, Marcos 
nos fala de um rapaz que estava lá e fugiu; mas não era um dos 
discípulos. 
Mc 14.48-52: E Jesus falou para eles: “Eu sou um criminoso tão 
perigoso que vocês precisam vir armados com espadas e pedaços de pau 
para me prender? Por que vocês não me prenderam no templo? Eu estava 
lá com vocês todos os dias ensinando. Mas isso aconteceu para cumprir 
as Escrituras”. Enquanto isso, todos os seus discípulos o abandonaram e 
fugiram. Um jovem, coberto somente com um lençol, estava seguindo a 
Jesus. E quando a multidão tentou pegá-lo, ele escapou e fugiu nu, 
deixando o lençol para trás. 
47 
Muitos estudiosos da Bíblia especulam que o jovem era o próprio 
Marcos, que é uma história pessoal, e que ele estava lá na noite em que 
Jesus foi traído. O melhor palpite dos editores da Oxford Newnoted 
Revised Standard Version é que talvez [o jovem] estivesse dormindo na 
casa onde Jesus comeu a Última Ceia e levantou-se apressadamente da 
cama para seguir Jesus ao Getsêmani. Mas ninguém mesmo sabe. 
A tradição copta diz que Marcos foi martirizado em c. 68 d.C. quando 
foi atacado por uma multidão, amarrado com uma corda no pescoço e 
arrastado pela cidade até a morte. 
Data de Redação: 
Estudiosos evangélicos sugeriram datas para a escrita do evangelho 
de Marcos variando de 50 a 70 d.C. Uma data antes da destruição de 
Jerusalém e do templo em 70 d.C. é exigida pelo comentário de Jesus em 
Marcos 13.2. O evangelho de Lucas foi claramente escrito antes de Atos 
(Atos 1.1–3). A data da escrita de Atos provavelmente pode ser fixada 
por volta de 62-63 d.C., porque isso é logo após o término da narrativa. 
Portanto, é provável que Marcos tenha sido escrito numa data anterior, 
provavelmente em algum momento entre 55 e 60 d.C. 
Público do Evangelho: 
Como Mateus foi escrito para uma audiência judaica, Marcos parece 
ter mirado nos crentes romanos, particularmente os gentios. Ao empregar 
termos aramaicos, Marcos os traduziu para seus leitores (3.17; 5.41; 
7.11, 34; 10.46; 14.36; 15.22, 34). Por outro lado, em alguns lugares ele 
usou expressões latinas em vez de seus equivalentes gregos (5.9; 6.27; 
12.15, 42; 15.16, 39). Ele também calculou o tempo de acordo com o 
sistema romano (6.48; 13.35) e explicou cuidadosamente os costumes 
judaicos (7.3-4; 14.12; 15.42). Marcos omitiu elementos judaicos, como 
as genealogias encontradas em Mateus e Lucas. Esse evangelho também 
faz menos referências ao Antigo Testamento e inclui menos material que 
48 
seria de particular interesse para os leitores judeus - como o que critica 
os fariseus e os saduceus (os saduceus são mencionados apenas uma 
vez, em 12.18). Quando menciona Simão, o Cireneu (15.21), Marcos 
identifica-o como o pai de Rufo, um proeminente membro da igreja em 
Roma (Romanos 16.13). Tudo isso apóiaa visão tradicional de que 
Marcos foi escrito para um público gentio inicialmente em Roma. 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
Veja Introdução aos Evangelhos: Os Tempos e as Circunstâncias dos 
Escritos. 
A Estrutura: 
O Evangelho de Marcos é dado na forma de uma história. Desde que 
foi o primeiro dos Evangelhos a ser escrito, é o mais antigo de seu gênero 
específico. Relacionado ao gênero do Evangelho estão muitos outros 
exemplos canônicos e extra bíblicos pré-Marcosan usando uma técnica 
narrativa similar. 
O texto de Marcos em si é direto e livre de ideias abstratas (como o 
evangelho de João), que não apelaria para a mentalidade romana. O 
romano típico da era queria suas informações de forma sumária. Marcos 
obriga apresentando um registro de evangelho que é curto e direto ao 
ponto, fornecendo-os com um ponto de vista da sua totalidade. Marcos 
não tenta explicar tudo e muitas vezes deixa-nos tirar nossas próprias 
conclusões. Às vezes, ele tem uma pergunta não respondida, por 
exemplo, 4.41: “Quem é este homem? Até o vento e as ondas o 
obedecem!” Essa técnica deixa o leitor pensar. 
Marcos apresenta Jesus como o Servo sofredor do Senhor (10.45). Seu 
foco está nos feitos de Jesus mais do que em seu ensino, enfatizando 
particularmente o serviço e o sacrifício. Marcos omite os longos discursos 
encontrados nos outros evangelhos, muitas vezes relatando apenas 
49 
breves trechos para dar a essência do ensinamento de Jesus. Marcos 
também omite qualquer relato da genealogia e nascimento de Jesus, 
começando onde o ministério público de Jesus começou, com o seu 
batismo por João no deserto. Marcos também demonstrou a humanidade 
de Cristo mais claramente do que qualquer um dos outros evangelhos, 
enfatizando as emoções humanas de Cristo (1.41; 3.5; 6.34; 8.12; 
9.36;), suas limitações humanas (4.38; 11.12; 13.32) e outros pequenos 
detalhes que destacam o lado humano do Filho de Deus (por exemplo, 
7.33-34; 8.12; 9.36; 10.13-16). 
Enquanto o evangelho de Mateus retrata Jesus como o Rei, Marcos O 
revela como o Servo de Deus. O trabalho de Jesus sempre foi para um 
propósito maior, um ponto claramente resumido em Marcos 10.45: “Pois 
até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar 
sua vida em resgate de muitos”. Marcos encheu seu evangelho com os 
milagres de Jesus, ilustrando repetidamente o poder e a compaixão do 
Filho de Deus. Nessas passagens, Marcos revelou mais do que Jesus como 
o bom mestre que ofereceu renovação espiritual às pessoas; o livro 
também retrata Jesus como o verdadeiro Deus e o verdadeiro homem, 
alcançando a vida das pessoas e efetuando mudanças físicas e 
circunstanciais. 
Marcos é fácil esboçar. Se pensarmos em duas partes, pode ser: 
 Capítulos 1-8.26; O servo que reina. 
 Capítulos 8.27-16; O Rei que serve. 
O Evangelho de Marcos termina abruptamente no túmulo vazio. 
(Nossas Bíblias incluem um final escrito por outro escritor, resumindo os 
aparecimentos de Jesus ressuscitado. A maioria das versões o assinala 
com notas de rodapé dizendo que não está nos primeiros e melhores 
manuscritos.) A questão é a pergunta: aquilo é onde Marcos pretendia 
terminar, ou foi algo perdido, ou foi uma intenção de mostrar os 
aparecimentos de Jesus na Galileia, não escritas? A igreja primitiva 
50 
forneceu três finais que aparecem em vários manuscritos, então eles 
pareciam esperar mais. 
Embora pudéssemos especular sobre o que Marcos pretendia, e é 
possível que a última página de seu Evangelho estivesse perdida, parece 
mais provável que Marcos pretendesse terminar seu Evangelho dessa 
maneira. Em muitos aspectos, todo o Evangelho é um chamado à fé 
diante das provações e sofrimentos. Os leitores de Marcos, que 
provavelmente estavam sofrendo por sua fé, ouviram o anúncio da 
ressurreição, mas não veem Jesus fisicamente com eles. Desta forma, 
eles estão na mesma posição que as mulheres. Eles responderão com fé 
ou com medo? Todo o Evangelho de Marcos, incluindo a história do 
túmulo vazio, é um chamado à fé em vez de medo diante de um futuro 
incerto. 
Esboço simples de Marcos: 
I. A Introdução ao Evangelho (1.1-1.13) 
II. O Início do Ministério (1.14-3.6) 
III. A Expansão do Ministério (3.7-8.26) 
IV. O Ministério aos Doze (8.27-10.52) 
V. O Ministério em Jerusalém (11.1-13.37) 
VI. O Sofrimento do Servo (14.1-15.47) 
VII. A Ressurreição do servo (16.1-8) 
VIII. “O Final mais longo de Marcos” (16.9-20) 
O Objetivo da Escrita: 
O propósito de Marcos era apresentar Jesus como o divino Filho de 
Deus baseado em suas obras. Ele gasta pouco tempo em informações de 
coisas por trás ou especulação teológica, mas vai direto ao ponto que ele 
quer fazer em seu versículo de abertura, introduzindo Jesus como o Filho 
de Deus e, em seguida, descrevendo seus muitos milagres para provar 
seu ponto. Este método curto e direto de apresentar material apelou para 
51 
a mentalidade romana e, portanto, o evangelho de Marcos foi gentil, 
amigável e sem ser repleto com genealogias judaicas e referências aos 
profetas do Antigo Testamento que seriam perdidos para um gentio lendo 
este livro. Embora o evangelho de Marcos seja o mais curto, ele descreve 
o maior número de milagres (18 de um possível 35) num esforço de 
apresentar clara e concisamente Jesus como o Filho de Deus. 
Fatos Curiosos do Evangelho de Marcos: 
 A palavra-chave no Evangelho de Marcos é a palavra grega euthus, 
um advérbio que significa "agora" ou "imediatamente". Marcos usa 
o advérbio 47 vezes em seus 675 versículos; é mais usado em 
Marcos do que no resto dos versículos do Novo Testamento 
combinados, dando uma sensação de que o tempo de Jesus na 
Terra era curto e que havia muito a realizar em seus poucos anos 
de ministério. 
 Marcos usa o presente histórico mais de 150 vezes, tornando Jesus 
contemporâneo aos seus leitores (a narrativa conta o que acontece, 
não simplesmente o que aconteceu). 
 Marcos escreveu num estilo grego deselegante que mostra que ele 
não era um falante nativo grego, mas o uso de um grande número 
de palavras emprestadas em latim sugere um falante nativo de 
latim que está familiarizado com o mundo romano, sua língua e seu 
governo civil. 
 Marcos é o mais curto dos Evangelhos. 
 Marcos enfatiza a ação de Jesus mais do que seu ensinamento (18 
milagres contra 4 parábolas). 
 Marcos apresenta Jesus como o Filho de Deus (1.1, 11; 3.11; 5.7; 
9.7; 13.32; 14.36, 61-62). 
 Marcos deixa de fora uma série de histórias que são reiteradas ao 
longo de Mateus, Lucas e João, como o Sermão do Monte, o 
nascimento de Jesus e várias parábolas. 
52 
 Mateus e Lucas contêm mais de 90% do material encontrado em 
Marcos. 
 Entre os quatro Evangelhos, o de Marcos foi o mais negligenciado 
pela igreja primitiva. De fato, nenhum comentário foi escrito até o 
sexto século. 
 Quando os eruditos começaram a perceber que era o primeiro 
Evangelho, e o que Mateus e Lucas confiavam nele, o interesse pelo 
Evangelho de Marcos cresceu muito. Nos últimos 100 anos, ele tem 
sido mais frequentemente estudado que os outros Evangelhos. 
 Mais de um terço do livro cobre os últimos oito dias da vida de 
Jesus. 
 Este é o único Evangelho que nos diz que Jesus era um carpinteiro. 
 Marcos era um jovem de mais ou menos 12 anos quando Jesus 
morreu. 
 Marcos é o único dos quatro evangelistas que falou do futuro Reino 
de Deus como vindo com poder. 
 No texto original, o Evangelho termina em Marcos 16.8. Isso é 
conhecido porque os primeiros manuscritos não contêm os 
versículos 9 a 20. Também o estilo literário destes versículos parece 
indicar que esta seção do livro não foi da autoria do próprio Marcos. 
É possível que um ou alguns dos pais da igreja primitiva o tenham 
acrescentado a fim de dar ao Evangelho um final completo ou a fim 
de harmonizar Marcos com os outros Evangelhos no Novo 
Testamento. 
A Importância do Evangelho deMarcos: 
O Evangelho de Marcos apresenta muitos fatos importantes e lições 
significativas. Primeiro, estabelece claramente que Jesus Cristo é o 
Messias que foi profetizado em todo o Antigo Testamento. Segundo, isso 
prova que Jesus era o Filho de Deus, a quem alegava estar vivendo uma 
vida perfeita e sem pecado. Terceiro, o Evangelho registra os milagres de 
Jesus sobre a natureza: acalmando a tempestade (4.37-41); andando 
53 
sobre as águas (6.45-52); e murchando a figueira (11.12-14). Seus 
milagres também incluem a cura de muitas pessoas, incluindo a sogra de 
Pedro (1.30-31), o homem paralítico (2.3-12), a mulher com 
sangramento (5.25-29) e o mudo surdo (7.31-37). Jesus também 
mostrou poderes milagrosos sobre a morte, ressuscitando a filha de Jairo 
(5.37-39). O fato mais importante no Evangelho de Marcos é a evidência 
de que Jesus Cristo venceu o poder da morte por meio de sua 
ressurreição do túmulo. Ele provou que não há poder que possa dominá-
Lo, que Ele seja a autoridade para perdoar os pecados das pessoas e que 
Ele é o único Filho de Deus. Por último, Jesus dá às pessoas instruções 
perfeitas sobre como Deus deseja que as pessoas vivam, respondam 
através de circunstâncias desafiadoras e façam escolhas quanto ao seu 
futuro para a eternidade. Alguns exemplos disso incluem ter fé (2.5), 
substituir o medo pela confiança (4.40), crer no poder de Deus (5.36), 
seguir a Cristo (8.35), compreender a vontade de Deus (9.35) e 
sacrifícios (Marcos 10.21). Cada palavra falada e escrita neste Evangelho 
pode ser aplicada à vida de uma maneira prática. 
Cada livro da Bíblia tem um propósito e um público específico. O 
público de Marcos é o mundo. Sua atitude é: todos precisam saber, em 
termos inequívocos, que Jesus é o divino Filho de Deus e o Salvador do 
mundo, e o mundo precisa lidar com essa verdade. 
Para Pensar: 
O que você faz quando falha? João Marcos podia ter escondido de 
todo mundo depois de ter abandonado Paulo e assim rejeitado por Paulo 
de não trabalhar com ele. Mas ele não desistiu. Ele se levantou e 
recomeçou, continuou trabalhando com Barnabé e mais tarde Pedro. 
Escreveu o Evangelho de Marcos, e no fim foi martirizado em 68 d.C. 
quando os pagãos de Alexandria o amarraram ao rabo de um cavalo e o 
arrastou pelas ruas até que o seu corpo caiu em pedaços. 
54 
João Marcos teve o maravilhoso privilégio que pertencia apenas a 
quatro homens em toda a história da humanidade, de escrever um dos 
evangelhos - o evangelho de Marcos. Com isso podemos ver que há 
segundas chances e existe um futuro para falhas. Lembre-se disso a 
próxima vez que você errar. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
55 
 
CAPÍTULO 5 
 
O EVANGELHO SEGUNDO 
LUCAS 
 
Lucas é o terceiro Evangelho (um relato da vida e ministério de Jesus) 
no Novo Testamento. É considerado um dos três evangelhos "sinóticos", 
isto é, eles frequentemente falam dos mesmos eventos em linguagem 
similar e às vezes idêntica. A opinião da maioria entre os estudiosos é que 
Marcos foi o primeiro dos três a ser escrito (escrito entre 55 e 60 d.C.) e 
que Mateus e Lucas usaram Marcos como sua fonte básica. Diante disso, 
Lucas aumentou o Evangelho de Marcos e corrigiu sua gramática e 
sintaxe; o grego de Marcos não era tão bom. Algumas passagens de 
Marcos, Lucas eliminou inteiramente, notavelmente a maior parte dos 
capítulos seis e sete. Apesar disso, ele segue a trama de Marcos com mais 
fidelidade do que Mateus. Mas, mesmo de ser agrupado com Mateus e 
Marcos, o Evangelho de Lucas tem uma série de paralelos com o 
Evangelho de João. Por exemplo, Lucas usa os termos "judeus" e 
"israelitas" de uma maneira diferente de Marcos, mas como João; as 
figuras de Maria de Betânia e Marta, bem como uma pessoa chamada 
Lázaro (embora Lázaro de Betânia e Lázaro da parábola geralmente não 
sejam considerados a mesma pessoa) são encontrados apenas em Lucas 
e João; e quando Jesus foi preso, somente Lucas e João afirmam que a 
orelha direita do servo foi cortada (há vários pequenos detalhes 
encontrados apenas em Lucas e João). 
Lucas conta a história de Jesus em detalhes extensivos, mais do que 
qualquer outro Evangelho. Ele registra milagres, sermões, conversas e 
56 
sentimentos pessoais. O escritor é um historiador minucioso que 
investigou tudo, como ele falou no primeiro capítulo e versículo 3: “pois 
tenho investigado tudo com muito cuidado”. E a atenção de Lucas aos 
detalhes mostra isso. 
O Evangelho de Lucas não é apenas o mais longo dos quatro 
evangelhos, mas também é o livro mais longo do Novo Testamento, 
contendo 24 capítulos e 1.151 versículos. Apesar do Evangelho de Lucas 
conter 24 capítulos, quatro menos do que o de Mateus e também Atos, 
ele contém mais versículos e palavras. Cinquenta e nove por cento de 
Lucas é peculiar a si mesmo e 541 versículos não se acham nos outros 
evangelhos. 
Os editores finais do Novo Testamento separaram o Evangelho 
segundo Lucas e os Atos dos Apóstolos, que foram originalmente escritos 
pelo Lucas em uma única obra de dois volumes. Juntos eles representam 
27,5% do Novo Testamento, a maior contribuição de um único autor. 
Autor: 
O Evangelho de Lucas não identifica seu autor (como os outros 
Evangelhos). De Lucas 1.1-4 e Atos 1.1-3, é claro que o mesmo autor 
escreveu Lucas e Atos, os dois escritos para o "excelentíssimo Teófilo", 
possivelmente um dignitário romano. A tradição desde os primeiros dias 
da igreja foi que Lucas escreveu O Evangelho de Lucas e Atos. Isso faria 
de Lucas o único gentio a escrever qualquer livro da Escritura. 
Ao longo da história da Igreja e especialmente durante os anos 1800, 
foram muitos ataques direcionados à confiabilidade histórica dos escritos 
de Lucas. À medida que a ciência da arqueologia aumentava 
tecnologicamente e as descobertas arqueológicas do primeiro século 
estavam sendo descobertas, os escritos de Lucas surgiram como 
extremamente precisos. Lucas tem sido proclamado por muitos 
57 
estudiosos como um dos mais capazes e mais precisos historiadores do 
mundo antigo. 
Quem foi Lucas? 
Lucas era um gentio convertido que era membro da primeira 
congregação mista (judeus e gentios) em Antioquia. Ele foi convertido 
antes de Paulo ser recrutado por Barnabé para ir lá e ensinar em 43 d.C. 
(Atos 11:25). Isso significa que ele conheceu Paulo e recebeu mais 
ensinamentos dele por um ano inteiro enquanto o Apóstolo estava ali, e 
estava presente quando Paulo e Barnabé foram escolhidos e enviados em 
sua primeira viagem missionária (Atos 13.1-3). 
O primeiro vislumbre que temos do ministério de Lucas com Paulo 
ocorre em Atos 16.10, onde ele está com Paulo em Trôade, e o apóstolo 
recebe a visão de ir e pregar na Macedônia, enquanto estava na sua 
segunda viagem missionária (49 d.C.). Esta é uma passagem "nós" em 
que o nome de Lucas não é mencionado, mas, como autor, sua presença 
é assumida desde que ele está descrevendo os eventos testemunhados na 
primeira pessoa do plural. Lucas também está presente e ministrando a 
Paulo durante seu encarceramento inicial em Cesareia depois de retornar 
de sua terceira viagem missionária (53 d.C.). Foi nesse tempo, enquanto 
visitava o templo, que o Apóstolo é apanhado num distúrbio e preso (Atos 
24.23). Depois de vários anos de confinamento, Lucas acompanha Paulo 
em sua viagem perigosa para Roma e posterior julgamento antes de 
César em 62 d.C. (Atos 27.1). Aprendemos que Lucas permanece com 
Paulo durante seu primeiro encarceramento em Roma (Atos 28.30-31). 
Paulo menciona Lucas uma última vez em 2 Timóteo durante seu segundo 
encarceramento em Roma enquanto aguardava sua execução (acerca de 
66-67 d.C.). Lucas é o único trabalhador que restou para ministrar às 
necessidades de Paulo enquanto estava na prisão (2 Timóteo 4.11). 
O nome de Lucas é mencionado apenas três vezes no Novo 
Testamento. A partir dessas três ocorrências, é evidente que Lucas foium 
58 
médico (Colossenses 4.14: “Lucas, o amado médico, e Demas mandam 
abraços”) e um companheiro de Paulo (2 Timóteo 4.11: “Somente Lucas 
está aqui comigo); Filemom 1.24: “Marcos, Aristarco, Demas e Lucas, 
meus companheiros de trabalho, também mandam lembranças”). 
Curiosamente, Demas também é mencionado em duas dessas três 
vezes. Demas é mencionado somente uma outra vez em 2 Timóteo 4.10, 
um versículo antes de Paulo dizer que Lucas estava com ele, quando 
Paulo fala dele: “Pois Demas, porque ele amou este mundo, me 
abandonou e foi para a cidade de Tessalônica”. 
Lucas acompanhou Paulo em três de quatro viagens, conforme descrito 
em Atos (as "nós" passagens entre Atos 16.1 e Atos 28.16). 
Data de redação: 
Já que o Livro de Atos foi escrito enquanto Paulo estava em Roma, a 
data de Atos seria em torno de 62 d.C. e, como o Evangelho de Lucas foi 
mencionado como um "antigo" tratado, Lucas deve ter o escrito alguns 
anos antes, provavelmente entre 59 e 61 d.C. 
Público do Evangelho: 
O Evangelho de Lucas está escrito de maneiras que o povo judeu e 
não-judeu podem entender e apreciar. Em Lucas, Jesus é realmente o 
Messias há muito aguardado; Ele também é o Salvador das nações (Lucas 
2.30-32). E enquanto Mateus traça a descendência de Jesus para Abraão 
(Mateus 1.1), Lucas traça sua linhagem de volta até Adão (Lucas 3.38). 
Isso não é surpreendente; afinal, Lucas passou muito tempo com o 
apóstolo Paulo, que compartilhou as Boas Notícias com o público judeu e 
gentio. 
O público de Lucas parece ser um público literário muito mais culto. 
O grego de Lucas é a mais alta qualidade em estilo de qualquer coisa no 
Novo Testamento. Ele lê mais como uma novela na tradição grega, ao 
59 
invés do Evangelho de Marcos, que tem uma espécie de qualidade bruta, 
às vezes, a respeito da gramática grega. Então, qualquer pessoa na rua 
de uma cidade grega que pegasse o Evangelho de Lucas teria se sentido 
em casa com ele se pudesse ler o bom grego. Junto com a carta aos 
Hebreus, Lucas-Atos é do melhor grego no Novo Testamento. 
Um notável filósofo francês e crítico da Bíblia chamou o Evangelho de 
Lucas "o mais lindo livro já escrito". 
Como Lucas era um gentio, suas referências ao Antigo Testamento são 
relativamente poucas, comparadas às do Evangelho de Mateus, e a 
maioria das referências do Antigo Testamento estão nas palavras faladas 
por Jesus e não na narração de Lucas. 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
Ver Introdução aos Evangelhos: Os Tempos e as Circunstâncias dos 
Escritos. 
A Estrutura: 
Lucas escreve um relato passo a passo da vida de Jesus que apresenta 
os sinais e eventos que precederam Seu nascimento. Ele segue com um 
relato histórico preciso de Seu ministério que conduziu à Sua morte, 
ressurreição, vários relatos de Seus aparecimentos após Sua ressurreição, 
terminando com uma descrição de Sua ascensão ao céu e um breve 
epílogo sobre as ações dos Apóstolos depois. Tudo isso num estilo simples 
e direto que ajuda o leitor a imaginar o divino Filho de Deus vivendo entre 
os homens comuns num determinado momento da história humana. 
A palavra-chave em Lucas é "Filho do Homem", que é usada 80 vezes. 
Ele escreveu aos gregos para apresentar Jesus em Sua masculinidade 
perfeita como o "Filho do Homem", o Salvador de todos os homens. Filho 
do Homem, o título preferido de Jesus, é um título que foi usado 
exclusivamente por Ele; seus discípulos nunca se dirigiram a Ele como tal. 
60 
O termo aponta para a humanidade e servidão de Cristo, mas também 
reflete a visão de Daniel do filho do homem como uma figura vindoura de 
julgamento e autoridade. 
John Piper disse: 
Se você fizer um estudo do termo "Filho do Homem" nos 
Evangelhos, verá que ele não se referiu a si mesmo mais 
frequentemente como Filho de Deus, mas como Filho do Homem. 
Ele disse coisas como, em Marcos 10.45: "O Filho do Homem não 
veio para ser servido, mas para servir e dar sua vida em resgate de 
muitos". Então, ele se chama Filho do Homem com muita 
frequência. 
Eu acho que a razão pela qual ele fez isso é porque, na superfície, o 
Filho do Homem é uma frase comum para o "ser humano". Ele 
nasceu de um homem. E não há ofensa lá: quem não é um filho do 
homem? Mas aqueles com ouvidos para ouvir poderiam ouvir Daniel 
7, no qual ele estava reivindicando um papel muito exaltado na 
história da redenção. E ele queria fazê-lo. 
Jesus era muito sutil na medida em que ele sempre estava 
revelando a sua identidade a aqueles com olhos para ver, mas ele 
não estava o revelando tão descaradamente que todo mundo viria e 
o tornaria rei. Ele teve que navegar um percurso muito estreito ao 
divulgar sua identidade, não apenas dizendo abertamente: "Eu sou 
o Messias, eu sou o Rei do Mundo. Venha me reconhecer como Rei". 
Ele não falou assim. 
Ele era quieto. Ele era sutil. E ele faria reivindicações que fossem 
explícitas em certos cenários e implícitas em outros. E só quando o 
tempo estava certo - principalmente quando ele foi julgado por sua 
vida, e eles perguntaram: "Você é o Cristo, o Filho do Deus vivo?", 
ele disse: "Eu sou, e você verá o Filho do Homem vindo com grande 
61 
poder e glória". Então ele confessou sua deidade no momento 
quando ele sabia que seria crucificado por isso. 
“Filho do Homem" tem o duplo significado de “ser humano” e, 
segundo Daniel 7, aquele exaltado o celestial. E Jesus pretendia 
comunicar os dois. 
Lucas pode ser organizado em três partes: 
 Nos capítulos 1-4, Lucas escreve um relato muito detalhado do 
nascimento de Jesus; sua narrativa sobre a natividade é o mais 
completo de todos os evangelhos. Ele então explica a preparação de 
João Batista para o Messias vindouro e depois o batismo de Jesus 
no rio Jordão, que transita para o ministério inicial de Jesus na 
Galileia. 
 Os capítulos 5-21 consistem do ministério de Jesus. Enquanto Jesus 
viaja, Ele ensina, prega, cura os doentes e traz esperança aos 
desesperados e desencorajados. Ele também estava procurando 
aqueles que eram obedientes e fiéis, como o centurião romano que 
sinceramente implorou com Jesus para curar o seu servo a uma 
distância longe: "Mas basta você dizer uma palavra bem onde você 
está, e o meu servo será curado" (Lucas 7.7). Jesus conheceu 
muitos líderes religiosos que se opuseram implacavelmente a Ele e 
constantemente tentaram enganá-lo e matá-lo. 
 Nos capítulos 22-24, um dos seus discípulos (Judas) trai Jesus. Ele 
foi ilegalmente condenado por um tribunal desonesto e odioso, e 
condenado a uma morte excruciante. No entanto, a morte não pode 
segurá-lo e, após três dias, ressuscitou e saiu do túmulo, assim 
como ele havia milagrosamente ressuscitado outros durante seu 
ministério. 
 
62 
Esboço Simples de Lucas: 
I. O Prólogo (1.1–4) 
II. A Narrativa dos Nascimentos de João Batista e Jesus, e a 
Infância de Jesus (1.5–2.52) 
III. Preparação para o Ministério de Jesus (3.1-4.15) 
IV. O Ministério de Jesus na Galileia (4.16–9.50) 
V. A Viagem a Jerusalém (9.51-19.27) 
VI. O Ministério de Jesus em Jerusalém (19.28–21.38) 
VII. O Sofrimento e a Morte de Jesus (22.1–23.56) 
VIII. A Ressurreição de Jesus (24.1–53) 
Objetivo da escrita: 
Uma diferença entre Lucas e os outros evangelhos sinóticos é o 
prólogo. Nele, ele definiu seu propósito de escrever. 
Lucas 1.1-4: Muitas pessoas se dedicaram a colocar em ordem a 
história das coisas que foram feitas entre nós, 2 segundo o que foi 
contado para nós pelas testemunhas que desde o início viram essas 
coisas acontecerem e ministravam a palavra. 3 E eu também achei que 
seria bom escrever para você um relato em ordem, excelentíssimo 
Teófilo, pois tenho investigado tudo com muito cuidado desde o começo; 
4 para que tenha certeza sobre as coisas que foram ensinadas a você. 
O prólogo de Lucas também pode ser chamado de um exórdio, que é 
um dispositivo literário que também foi usado por outros escritores 
gregos.O prólogo não somente permite aos leitores compreender melhor 
o propósito do Evangelho, mas também torna o destino claro. 
Ele começa seu evangelho com um prefácio dirigido a "Teófilo" e diz 
que investigou tudo com muito cuidado desde o começo, o que o levou a 
escrever um tratado organizado para Teófilo para que ele pudesse 
conhecer a certeza do que ele foi ensinado. Ele não pretendia, no entanto, 
63 
fornecer a Teófilo uma justificativa histórica da fé cristã - "aconteceu?" - 
mas para encorajar a fé - "o que aconteceu e o que tudo isso significa?" 
É óbvio que Lucas escreveu a Teófilo, mas quem foi Teófilo? Houve 
muitas teorias tentando responder a esta pergunta. Em primeiro lugar, o 
nome de Teófilo significa "um que ama a Deus" ou "amigo de Deus". Não 
está claro se ele já era cristão ou se ele estava pensando em se tornar 
um. Lucas 1.3 refere-se a Teófilo usando as palavras "excelentíssimo". 
Uma vez que isso parece referir-se à nobreza, a maioria das teorias a 
respeito de Teófilo afirmam que ele era um funcionário do governo ou um 
cidadão influente. Uma teoria amplamente aceita é que Teófilo foi o 
patrono de Lucas e o ajudou a publicar Lucas-Atos. 
Mas essa teoria não vem sem debate. Alguns sugerem que Lucas se 
propôs a fazer um caso para o cristianismo como não sendo uma ameaça 
para o Império Romano. Outros fazem a proposição de que Lucas-Atos foi 
escrito para tranquilizar aqueles que questionam a segunda vinda de 
Jesus por causa de sua demora. Muitos acreditam que Lucas não estava 
escrevendo exclusivamente para Teófilo, mas que o trabalho de dois 
volumes pretendia ser distribuído para fins eclesiásticos. Há também a 
visão, que parece estar crescendo em popularidade, que Lucas-Atos foi 
projetado especificamente para ajudar Paulo em seu julgamento diante de 
César. 
Mas independentemente de sua verdadeira razão de escrever ao 
Teófilo, Lucas parece retratar Jesus como um homem ideal, muito 
atraente para a cultura grega que exaltou o raciocínio, a filosofia, a mente 
humana e a beleza. Os escritos de Lucas eram ordenados e tradicional 
relacionado à literatura do grego antigo. Ele menciona que Jesus passou 
toda a noite em oração antes de escolher seus apóstolos (6.12-16), ao 
contrário dos outros evangelhos. Há também declarações em Lucas que 
falam de sua pureza mais claramente, como quando o centurião disse: 
“Não há dúvida de que este homem era inocente!” (23.47). Os outros 
64 
evangelhos parecem ter um foco diferente em seu retrato de Cristo. Lucas 
também parece revelar o cristianismo como uma religião para toda a 
humanidade e não apenas para os judeus. Jesus é visto em Lucas como 
um amigo dos pecadores e um salvador de qualquer pessoa que acredite 
nEle. 
Agora, as preocupações do Evangelho de Lucas são um pouco 
diferentes, portanto; há preocupações políticas e sociais que vemos na 
forma como a história é contada precisamente porque está escrevendo 
para esse público muito mais culto. 
Jesus é menos instigador, e Paulo também, nesse caso, nessas 
histórias. E isso sugere algo sobre a situação do público, que eles também 
estão preocupados com a maneira como eles serão percebidos, a maneira 
como a igreja será percebida pelas autoridades romanas. Às vezes, 
sugere-se que o evangelho de Lucas deve ser visto como uma espécie de 
apologética pelos começos do movimento cristão, tentando estabelecer 
seu lugar no mundo romano, dizendo: "Somos pessoas boas. Não se 
preocupe conosco. Nós somos como o resto de vocês: nós mantemos a 
paz, somos cidadãos que respeitam a lei, temos altos valores morais e 
também somos bons romanos". E assim, o Evangelho de Lucas e Atos 
também refletem o desenvolvimento do movimento cristão mais afastado 
das raízes judaicas e de fato, se desenvolvendo mais na direção da arena 
política e social romana. Essa autoconsciência política e autoconsciência 
étnica que está sendo refletida pelo Evangelho de Lucas e Atos está 
querendo dizer que nós, os cristãos, os que estão contando essa história, 
não somos mais, de uma certa maneira, apenas judeus. 
Assim, Jesus no Evangelho de Lucas aparece diferente. Ele é muito 
mais um mestre filosófico, como Sócrates: ele é fundamentado, ele é 
desapaixonado, ele é um crítico, às vezes, da sociedade, mas ele 
certamente está preocupado com a maneira que seus ensinamentos 
influenciam a sociedade. E no final ele morre como Sócrates. A morte de 
65 
Jesus no Evangelho de Lucas é mais como a morte de um mártir; é muito 
mais calma, ele vai para a cruz de uma maneira que é impossível parar 
ou impedir, sabendo que é o que deve acontecer. Pilatos não tem culpa. 
Pilatos tenta se livrar do caso enviando Jesus para Herodes. Pilatos não é 
o inimigo de Jesus, ele não é o cara ruim. E mais uma vez isso pode 
refletir o tipo de preocupações políticas do Evangelho de Lucas. Jesus 
também não é uma fonte de preocupação, porque ele não é uma espécie 
de figura rebelde agora, antes é mestre, filósofo, crítico social, reformador 
social. Ele é um bom membro do mundo greco-romano. 
Lucas claramente tem uma ênfase universal, mostrando que o 
evangelho é para cada classe, raça e nação. Os anjos contam aos 
pastores que as notícias do Salvador que nasceu são "boas notícias de 
grande alegria que serão para todo o povo" (2.10). O velho Simeão 
profetiza que este Menino é a salvação de Deus que Ele preparou na 
presença de todos os povos, "a luz para revelação aos que não são 
judeus" (2.32). Enquanto João Batista prega, só Lucas (dos sinóticos) cita 
Isaías, que "toda humanidade verá a salvação de Deus" (3.6). Quando 
nosso Senhor começa Seu ministério em Nazaré, Ele cria animosidade ao 
apontar que Elias foi enviado a uma viúva gentia em Sidon e que o gentio 
Naamã, o leproso, foi curado (4.25-27). Lucas fecha com a comissão de 
Jesus que "o arrependimento para o perdão dos pecados seria 
proclamado em seu nome a todas as nações" (24.47). 
Fatos Curiosos do Evangelho de Lucas: 
• Lucas dedica mais espaço ao nascimento e à infância de Jesus do 
que qualquer outro evangelho. 
• Somente ele menciona o incidente da juventude de Jesus, quando 
foi deixado para trás no templo. 
• Não apenas os gentios, mas os pecadores de todo tipo são o foco do 
Evangelho de Lucas. Ele usa a palavra "pecadores" 16 vezes, mais 
do que Mateus (5), Marcos (5) e João (4) combinados. 
66 
• Lucas é o único evangelho sinótico de chamar Jesus de "Salvador" 
(2.11). 
• Somente ele usa a palavra salvação (6 vezes). 
• Dez vezes ele usa a palavra por pregar as Boas Notícias, que só é 
usada uma vez nos outros evangelhos. 
• Somente Lucas, dos três evangelhos, usa a palavra graça (8 vezes). 
• Lucas é o único escritor dos evangelhos a usar as palavras 
"redenção" e "resgatar”. 
• Começando com 9:51, Lucas dedicou 10 capítulos de sua narrativa 
a um diário de viagem da jornada final de Jesus para Jerusalém. 
• Lucas foi chamado o Evangelho da Oração por causa de sua ênfase, 
não só na necessidade de orar, mas também na vida de oração de 
Jesus. Nove vezes Lucas fala de orações que Jesus ofereceu nas 
crises de Sua vida, e sete delas são achadas somente no Evangelho 
de Lucas. 
• Lucas também foi chamado o Evangelho do Espírito Santo, que é 
citado mais em Lucas do que em Mateus e Marcos, e ainda mais do 
que em João. 
 Há seis milagres peculiares a Lucas: 
1. O milagre da pesca (5.4-11). 
2. A ressurreição do filho da viúva (7.11-18). 
3. A mulher com o espírito de enfermidade (13.11-17). 
4. O homem com a hidropisia (14.1-6). 
5. Os dez leprosos (17.11-19). 
6. A cura da orelha de Malco. (22.50-51). 
• Há onze parábolas peculiares a Lucas: 
1. Os dois devedores (7.41-43). 
2. O bom samaritano (10.25-37). 
3. O amigo importuno (11.5-8). 
67 
4. O rico insensato (12.16-19). 
5. A figueira que não produziu fruto (13.6-9). 
6. A moeda de prata [dracma] perdida (15.8-10). 
7. O filho pródigo (15.11-32). 
8. O administradordesonesto (16.1-13). 
9. O juiz injusto (18.1-8). 
10. O fariseu e o cobrador de impostos (18.9-14). 
11. O homem rico e Lázaro (18.19-31). 
• Algumas outras passagens peculiares a Lucas: 
1. Lucas 1.1-2.52 e 9.51-18.14 são principalmente peculiares a 
Lucas. 
2. A resposta de João Batista às pessoas sobre o que devem fazer 
(3.10-14). 
3. A conversa de Jesus com Moisés e Elias (9.30-31). 
4. A história de Zaqueu, que subiu uma árvore para ver Jesus 
(19.1-10). 
5. Jesus chorando sobre Jerusalém (19.41-44). 
6. O suor sangrento (22.44). 
7. O envio de Jesus para Herodes (23.7-12). 
8. O discurso às filhas de Jerusalém (23.27-31). 
9. "Pai, perdoa-lhes" (23:34). 
10. O ladrão penitente (23.40-43). 
11. Os discípulos no caminho de Emaús (24.13-31). 
A Importância do Evangelho de Lucas: 
O interesse de Lucas pelas pessoas é inegável. Grande parte do 
material exclusivo do Evangelho de Lucas envolve as interações de Jesus 
com os indivíduos, muitos deles à margem da sociedade "aceitável"; 
pecadores, mulheres e crianças entre eles. Como Mateus e Marcos, Lucas 
registrou o incidente de uma mulher que veio derramar perfume aos pés 
68 
de Jesus. Mas Lucas foi o único a apontar o fato conhecido de todos os 
presentes de que ela era uma mulher imoral, uma pecadora (7.37). Da 
mesma forma, encontramos somente em Lucas a conversa entre os 
ladrões crucificados com Jesus, um deles defendendo Jesus e recebendo a 
promessa do Paraíso. O retrato de Lucas de Jesus revela em nosso 
Senhor um homem que veio para ministrar e mostrar compaixão a todas 
as pessoas, independentemente de seu estado na vida. 
Jesus não sentiu aversão ou repugnância pelos pobres e pelos 
necessitados; na verdade, eles eram um foco primário de Seu ministério. 
Israel no tempo de Jesus era uma sociedade muito consciente de classe. 
Os fracos e oprimidos eram literalmente impotentes para melhorar seu 
lote na vida e estavam especialmente abertos à mensagem de que "o 
reino de Deus está próximo de vocês" (10.9). Esta é a mensagem que 
devemos levar para aqueles ao nosso redor, que precisam 
desesperadamente ouvir isso. Mesmo em países comparativamente ricos, 
a necessidade espiritual é extremamente grave e urgente. Os cristãos 
devem seguir o exemplo de Jesus e levar as Boas Notícias da salvação 
para os espiritualmente pobres e necessitados. O reino de Deus está 
próximo e o tempo que resta diminui a cada dia. 
Para Pensar: 
Da vida de Lucas está claro que não importa que curso traçamos para 
nós mesmos na vida, quando Deus tem outros planos, Ele muda nossa 
direção. Lucas é um exemplo de um homem de mente aberta, o que era 
incomum para um gentio instruído em seus dias, mas ele é uma lição para 
todos que estão tão focados em suas próprias agendas pessoais e posições, 
firmemente colados em suas zonas de conforto. Lucas provavelmente tinha 
status social em sua comunidade como médico, mas quando confrontado 
com a verdade, ele não apenas a reconheceu, mas percebeu que nada é 
mais importante do que persegui-la, não importa quais sejam as 
consequências. Lucas reconheceu que Jesus é a verdade e sua vida mudou 
para sempre. 
69 
 
CAPÍTULO 6 
 
O EVANGELHO SEGUNDO 
JOÃO 
 
João é o quarto Evangelho (um relato da vida e ministério de Jesus) 
no Novo Testamento. O Evangelho de João é uma perspectiva única da 
vida de Jesus Cristo. Ele difere dos outros três evangelhos de Mateus, 
Marcos e Lucas (também conhecidos como os evangelhos "sinóticos", pois 
eles frequentemente falam dos mesmos eventos em linguagem similar e 
às vezes idêntica), concentrando-se mais em temas espirituais em vez de 
eventos históricos. É também o único que afirma ser uma testemunha 
ocular. 
Enquanto Mateus se concentra em Jesus como o Messias judeu, 
Marcos se concentra em Jesus como aquele que introduz o Reino de Deus, 
e Lucas enfatiza Jesus como aquele que acolhe o estranho, João enfatiza 
Jesus como o eterno Filho de Deus. 
João foi escrito muito mais tarde que os outros evangelhos sinóticos 
e tem objetivos diferentes. João deixou de fora informações importantes 
sobre o ministério de Jesus que Mateus e Lucas registraram, e João 
incluiu eventos e ensinamentos não registrados pelos outros autores dos 
evangelhos. Isso levou à sugestão de que o evangelho de João pode ter 
sido escrito como um complemento aos outros evangelhos. 92% do 
material encontrado neste evangelho é único (ou seja, o casamento de 
Caná, Nicodemos, a mulher samaritana, a ressurreição de Lázaro, lavando 
os pés dos discípulos, etc.). Desde que os três primeiros evangelhos já 
70 
foram escritos, João também omitiu material encontrado nos evangelhos 
sinóticos (Monte da Transfiguração, as parábolas de Jesus, a cura dos 
demoníacos, a última Ceia, a agonia de Jesus no Getsêmani, etc.). Pode-
se dizer que esse evangelho completa o ministério terreno de Jesus ao 
complementar os outros evangelhos. 
É o relato mais teológico e filosoficamente profundo dos Evangelhos. 
João não narra o nascimento de Jesus. Em vez disso, ele começa seu 
Evangelho no princípio, afirmando em sua frase inicial que Jesus existiu 
eternamente e que “todas as coisas foram feitas por meio dele” (1.3). 
João enraíza a identidade de Jesus na eternidade passada, 
proporcionando uma visão sublime do Filho de Deus enviado à Terra como 
plenamente Deus e agora também plenamente homem. 
É o mais teológico e filosoficamente profundo dos Evangelhos, ele foi 
escrito com frases que são curtas e simples, usando palavras bem 
conhecidas. No entanto, os conceitos são ricos em significado. Leon Morris 
descreve o evangelho de João como “uma piscina na qual uma criança 
pode caminhar e um elefante pode nadar. É simples e profundo. É para o 
iniciante na fé e para o cristão maduro. Sua atração é imediata e nunca 
falha”. 
Autor: 
O autor desse evangelho foi o discípulo João, um dos doze discípulos 
que seguiu Jesus Cristo durante seu ministério terreno. O autor 
“identifica-se” no último capítulo do evangelho: "Este discípulo é aquele 
que dá testemunho dessas coisas e que as registrou. E nós sabemos que 
o seu testemunho é verdadeiro" (João 21.24). João também era 
conhecido como "o discípulo que Jesus amava" (veja João 13.23; 19.26; e 
21.7). Talvez isso explique a singularidade do registro de João da vida de 
Jesus. O livro está repleto de relatos de primeira mão de experiências 
com Jesus que ocorreram durante os trinta e três anos de vida de Cristo 
na Terra. 
71 
Quem foi João? 
Enquanto os outros evangelhos identificam o apóstolo João pelo 
nome aproximadamente 20 vezes (incluindo paralelos), ele não é 
mencionado diretamente pelo nome no Evangelho de João. Em vez disso, 
o autor prefere se identificar como o discípulo “a quem Jesus amava” 
(13.23; 19.26; 20.2; 21.7, 20). A ausência de qualquer menção ao nome 
de João é notável quando se considera o papel importante desempenhado 
por outros discípulos nomeados neste evangelho. No entanto, a 
designação recorrente de si mesmo como o discípulo “a quem Jesus 
amava”, uma deliberada evitação por parte de João do seu nome pessoal, 
reflete sua humildade e celebra seu relacionamento com seu Senhor 
Jesus. Nenhuma menção de seu nome era necessária, já que seus leitores 
originais entenderam claramente que ele era o autor do evangelho. 
João e Tiago, seu irmão mais velho (Atos 12.2), eram conhecidos 
como “os filhos de Zebedeu” (Mateus 10.2–4) e Jesus deu a eles o nome 
“Filhos do trovão” (Marcos 3.17). João era um apóstolo (Lucas 6.12-16) e 
um dos três associados mais íntimos de Jesus, junto com Pedro e Tiago 
(Mateus 17.1; 26.37), sendo testemunha ocular e participante do 
ministério terrestre de Jesus (1 João 1.1–4). Após a ascensão de Cristo, 
João se tornou uma “coluna” na igreja de Jerusalém (Gálatas 2.9). Ele 
ministrou com Pedro (Atos 3.1; 4.13; 8.14) até que ele foi para Éfeso (a 
tradição diz antes da destruição de Jerusalém), de ondeele escreveu esse 
evangelho e de onde os romanos o exilaram a Patmos (Apocalipse 1.9). 
Ele sobreviveu a todos os outros apóstolos. A teoria mais plausível da 
morte de João afirma que ele foi preso em Éfeso e enfrentou o martírio 
quando seus inimigos o lançaram numa enorme bacia de óleo fervente. 
No entanto, de acordo com a tradição, João foi milagrosamente liberto da 
morte. As autoridades então condenaram ele ao trabalho escravo nas 
minas de Patmos. Nesta ilha na parte sul do mar Egeu, João teve uma 
visão de Jesus Cristo e escreveu o livro profético de Apocalipse. O 
72 
apóstolo João foi solto mais tarde, possivelmente devido à velhice, e 
retornou à Éfeso. Ele morreu como um homem idoso algum tempo depois 
de 98 d.C.; o único apóstolo a morrer em paz. 
Além do evangelho que leva seu nome, João também escreveu 1, 2 e 
3 João e o livro do Apocalipse. 
Data de redação: 
João escreveu seu evangelho entre 80–90 d.C., cerca de 50 anos 
depois de ter testemunhado o ministério terreno de Jesus. 
Público do Evangelho: 
O Evangelho de João foi destinado a judeus e gentios vivendo em 
todo o mundo greco-romano. João frequentemente explica costumes 
judaicos e a geografia palestina para leitores não-judeus. João também 
apresenta Jesus como a Palavra eterna que agora se tornou carne, 
utilizando o pano de fundo do pensamento grego familiar ao seu público 
gentio. No entanto, João claramente também tem um público judeu em 
mente: ele revela que Jesus é o Messias judeu, o cumprimento de muitos 
temas do Antigo Testamento, e o eterno Filho de Deus enviado por Deus 
Pai para mediar um novo relacionamento entre Deus e o homem. 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
Estes são tão diferentes daqueles que influenciaram os outros 
evangelistas que dificilmente se pode escapar do sentimento de que o 
Evangelho de João é colorido de acordo. As Boas Notícias haviam sido 
pregadas em todo o império romano e o cristianismo não era mais 
considerado uma seita judaica, anexada à sinagoga. Jerusalém foi 
conquistada e o templo destruído. Os cristãos foram duramente 
perseguidos, mas alcançaram grandes triunfos em muitos países. Todo o 
restante do Novo Testamento, exceto o Apocalipse, havia sido escrito. 
Alguns surgiram disputando a divindade de Jesus e, embora o Evangelho 
73 
não seja uma mera polêmica contra esse falso ensinamento, ao 
estabelecer o verdadeiro ensinamento enfraquece completamente o falso. 
Ele talvez escreveu para os cristãos de todas as nacionalidades, cuja 
história já havia sido enriquecida pelo sangue dos mártires pela fé, em 
vez do Messias em quem os judeus encontrariam um Salvador ou o 
poderoso trabalhador em quem o romano o encontraria, ou o Homem 
Ideal em quem os gregos o encontrariam. João escreveu sobre a eterna 
Palavra Encarnada em cujo Reino Espiritual cada um, tendo perdido sua 
estreiteza e preconceito racial, poderia estar eternamente unido. 
Veja também Introdução aos Evangelhos: Os Tempos e as 
Circunstâncias dos Escritos. 
A Estrutura: 
O principal gênero é o evangelho, que combina três ingredientes - o 
que Jesus fez, o que Jesus disse (discurso e diálogo) e as respostas das 
pessoas a Jesus. Nesse formato, os subgêneros do evangelho são 
encontrados: histórias de chamadas, histórias de reconhecimento, 
histórias de testemunhas, histórias de conflito, histórias de encontros, 
histórias de milagres, discursos, provérbios ou ditados, histórias da 
paixão, histórias de ressurreição e aparecimentos pós-ressurreição. 
O Evangelho de João está organizado em 21 capítulos. O livro 
começa com uma verdade fundamental de Deus com um estilo poético de 
apresentação. "No princípio a Palavra já existia (Jesus Cristo), e a Palavra 
estava com Deus, e a Palavra era Deus. Aquele que é a Palavra estava 
com Deus no princípio" (1.1-2). Os relatos da vida de Cristo começam no 
primeiro capítulo com João Batista confirmando a profecia e identificando 
Jesus como "o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (1.29). 
Ainda no primeiro capítulo, Jesus também chama seus primeiros 
discípulos para segui-lo. 
74 
No segundo capítulo, Jesus realiza seu primeiro milagre, 
transformando a água em vinho. Em João 2.19, Ele também prediz sua 
ressurreição depois de três dias. O capítulo 3 contém dois dos versículos 
mais populares de toda a Bíblia, João 3.16 e 17, que resumem o 
significado de Jesus Cristo e Seu propósito para o mundo. "Pois Deus 
amou o mundo de tal maneira que deu o seu único Filho da mesma 
essência, para que todo aquele que nele crer não pereça, mas tenha a 
vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o 
mundo, mas para que o mundo pudesse ser salvo por meio dele". 
O restante do livro contém lições e instruções de Jesus Cristo sobre 
como viver de acordo com a vontade de Deus e quais prioridades são 
importantes na vida. 
O Evangelho de João distingue-se dos outros evangelhos, 
concentrando-se menos em eventos e mais em temas espirituais. A este 
ponto, João registra apenas sete milagres, consideravelmente menos do 
que o número relatado nos Evangelhos Sinóticos. Mas o uso que João faz 
das histórias de milagres é diferente de seus predecessores. João não 
considera os próprios elementos milagrosos das histórias como tendo 
grande significado, mas sim os significados espirituais que ele encontra 
implícitos neles. Os milagres são sinais não da iminência da vinda do 
reino de Deus como esse termo é usado nos Evangelhos Sinóticos, mas 
da presença da Palavra, o poder de Deus, que provoca uma 
transformação na vida das pessoas. 
Esboço Simples de João: (Bíblia de Estudo ESV) 
I. Prólogo: O Verbo Encarnado (1.1–18) 
II. Os Sinais do Messias (1.19–12.50) 
a. O testemunho de João Batista e a primeira semana do 
ministério de Jesus (1.19–2.11) 
b. O ministério de Jesus em Jerusalém, Judeia, Samaria e aos 
gentios (2.12–4.54) 
75 
c. Oposição judaica aumentando, sinais adicionais (5.1-10.42) 
d. A Páscoa final: o sinal final e os efeitos posteriores (11.1–
12.19) 
e. A aproximação dos gentios e a rejeição do Messias pelos 
judeus (12.20–50) 
III. O Discurso de Despedida e a Narrativa da Paixão (13.1-20.31) 
a. A purificação e instrução da nova comunidade messiânica e a 
oração final de Jesus (13.1–17.26) 
b. Apreensão, julgamentos, morte e sepultamento de Jesus 
(18.1–19.42) 
c. A ressurreição de Jesus, aparecimentos e envio de seus 
discípulos (20.1–29) 
d. Declaração de propósito: Jesus, o Messias, o Filho de Deus 
(20.30-31) 
IV. Epílogo: O Papel de Pedro e do Discípulo a quem Jesus Amava 
(21.1–25) 
O Objetivo da Escrita: 
O evangelho de João é o único dos quatro que contém uma 
declaração precisa sobre o propósito do autor (20.30-31). Ele começa 
com uma declaração revelando claramente a natureza divina de Jesus, 
enquanto os outros três autores de evangelhos permitem que o leitor 
conclua isso a partir das evidências que eles apresentam em seus 
evangelhos. Ele declara: "esses foram escritos para que vocês possam 
crer que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus. E para que, crendo nele, 
possam ter vida em seu nome" (20.31). Os propósitos principais, 
portanto, são duplos: evangelísticos e apologéticos. Reforçar o propósito 
evangelístico é o fato de que a palavra “crer” ocorre aproximadamente 
100 vezes no evangelho (os sinópticos usam o termo menos que a 
metade disso). João compôs seu evangelho para fornecer razões para a fé 
salvadora em seus leitores e, como resultado, para assegurar-lhes que 
receberiam o dom divino da vida eterna (1.12). 
76 
Enquanto os outros três evangelhos retratam Jesus como o Rei, o 
Servo e o Filho do Homem, João retrata Jesus como o Filho de Deus. João 
declarou seu tema com mais clareza do que qualquer outro escritor de 
evangelho. Ele escreveu para que seus leitores possam “crer que Jesus é 
o Cristo, o Filho de Deus”, para que eles possam ter vida em seu nome 
(20.31). Paraatingir esse objetivo, João apresentou uma fascinante e 
distinta imagem de Jesus Cristo em completa unidade com os retratos nos 
outros três evangelhos, mas que também aumenta significativamente a 
revelação da Bíblia de Jesus Cristo, o Deus-homem. 
O Evangelho de João desenvolve uma alta cristologia (o estudo da 
natureza, pessoa e obra de Jesus Cristo) que é única dos outros 
evangelhos. João não incluiu a história da natividade em seu evangelho; 
em vez disso, ele introduziu seu livro voltando ainda mais na história. 
Invocando a linguagem “no princípio” de Gênesis 1.1, João estabeleceu 
uma ligação direta entre a natureza de Deus e a natureza da Palavra, 
Jesus Cristo. Ele deixa claro que Jesus é Deus, declarando que “no 
princípio Jesus (a Palavra) estava com Deus e era Deus”. 
A ênfase na divindade de Cristo é uma qualidade impressionante do 
Evangelho de João. Nos sinóticos, Jesus fala frequentemente sobre o 
Reino de Deus enquanto seu próprio papel divino é obscurecido, mas em 
João, ao longo do Evangelho, muitas referências são feitas à divindade de 
Jesus e Jesus fala abertamente sobre seu papel divino, particularmente 
em João 8.57-58, em que Jesus declara: "Antes de Abraão nascer, EU 
SOU!", fazendo uma alusão a Êxodo 3.14, onde Deus se refere a si 
mesmo como "EU SOU". E isso levou uma multidão enfurecida de judeus 
a tentar matá-lo por blasfêmia. Outra indicação da divindade de Jesus 
pode ser encontrada em João 10.30-33. Neste caso, Jesus disse: "Eu e o 
Pai somos um". Depois disso, mais uma vez, os judeus pegaram pedras 
para que pudessem apedrejá-lo por motivo de blasfêmia porque ele dizia 
ser Deus. E no final do Evangelho (20.28), Tomé faz uma grande e crítica 
confissão de fé declarando que Jesus é o seu Deus. 
77 
João usou uma variedade de técnicas para comunicar aos seus leitores 
a natureza de Jesus. Estas incluem a citação das sete declarações do “eu 
sou” de Jesus: 
● "o pão da vida" (6.35) 
● "a luz do mundo" (8.12) 
● "o portão para as ovelhas" (10.7) 
● "o bom pastor" (10.11) 
● "a ressurreição e a vida" (11.25) 
● "o caminho, a verdade e a vida" (14.6) e 
● "a videira verdadeira" (15.1) 
 
Um dos temas predominantes em todo o Novo Testamento é que Jesus 
é o Messias, O Cristo. E assim podemos ver que o Evangelho de João é 
um Evangelho de Testemunho. João escreve para provar que Jesus é o 
Cristo. Ele assume a atitude de um advogado perante um júri e apresenta 
um testemunho até que ele percebe certeza de seu caso e fecha o 
testemunho com a garantia de que muito mais poderia ser oferecido se 
parecesse necessário. Nisso existem sete exemplos de testemunho. 
(1) O testemunho de João Batista. 
(2) O testemunho de alguns outros indivíduos. 
(3) O testemunho das obras de Jesus. 
(4) O testemunho do próprio Jesus. 
(5) O testemunho da Escritura. 
(6) O testemunho do Pai. 
(7) O testemunho do Espírito Santo. 
Fatos Curiosos do Evangelho de João: 
● Está escrito na forma mais simplista do grego, mas ensina uma 
profunda mensagem espiritual. 
78 
● Além da alimentação dos cinco mil, da unção em Betânia e da 
narrativa da paixão, João não compartilha grandes porções de 
ensino com os Evangelhos Sinóticos. 
● João registra apenas sete milagres: 
(1) a transformação de água em vinho no casamento em Caná 
(2.1-11); 
(2) a cura do filho de um oficial (4.43-54); 
(3) a cura de um paralítico no tanque de Betesda (5.1-9); 
(4) a alimentação dos 5.000 (6.1-5); 
(5) Jesus andando sobre as águas (6.16-25); 
(6) a cura do homem nascido cego (9.1-41); e 
(7) a ressurreição de Lázaro dos mortos (11.1-44). 
● Jesus não usa parábolas para ensinar. 
● No Evangelho de João não há genealogia, nem por meio de José, 
nem por meio de Maria. Não há qualquer relato de seu nascimento. 
o Os outros evangelhos registram os eventos mundiais que 
cercam o nascimento de Jesus, mas João compartilha sua 
origem divina e por que Ele veio. 
● Não há descrição do batismo de Jesus. 
● Não encontramos a palavra "Arrependimento". 
● Não encontramos a palavra "Perdoar". 
● Nenhuma menção é feita dos demônios. 
● Não há relato da Ascensão de Cristo. 
● Enquanto os outros evangelhos enfatizam o Reino de Deus e o 
Reino dos Céus, João enfatiza a nova vida encontrada em Jesus. A 
palavra "vida" aparece um total de 36 vezes em João. Isso é mais 
do que o dobro do que aparece em todos os outros evangelhos 
combinados, e mais do que qualquer outro livro no Novo 
Testamento. Mesmo se você somar todas as menções de "vida" em 
todas as cartas de Paulo, Paulo só usa a palavra 37 vezes. 
79 
● A palavra “Reino” aparece apenas 5 vezes em todo o livro de João, 
enquanto aparece 55 vezes em Mateus, 20 vezes em Marcos e 46 
vezes em Lucas. 
● Cada um dos evangelhos registra quando Jesus chama seus 
discípulos. Somente em João, alguns de seus discípulos trazem seus 
amigos e familiares para encontrá-lo, e eles também são chamados 
para serem discípulos. André traz seu irmão Simão Pedro (1.41), e 
Filipe introduz Jesus a Natanael (1.45). 
● A raiz grega para as palavras “crer” e “fé” aparece mais em João do 
que em todos os outros evangelhos combinados. Isso se alinha com 
o objetivo declarado de João de escrever uma conta para que 
aqueles que a ouvem possam crer. 
● João é o único evangelho que registra Jesus lavando os pés dos 
discípulos (13.4-16). 
● O evangelho de João é mais teologia que história. 
o Desde o início, o Livro de João se concentra nas implicações 
de quem Jesus era e o que ele fez mais do que os outros 
evangelhos. Mesmo quando João usa narrativas históricas, 
muitas vezes é para o propósito de revelar quem é Jesus. 
A Controvérsia a respeito de Arrependimento: 
Muito tem sido feito do fato de que o Evangelho de João, talvez o 
único livro nas Escrituras cujo propósito é mais explicitamente 
evangelístico (João 20.31), nunca menciona o arrependimento. Para 
aqueles do campo que acreditam que Jesus pode ser seu Salvador sem 
ser Senhor da sua vida, é "prova" que alguém não precisa se arrepender 
para ser salvo. No entanto, isso seria uma grave deturpação de João e 
seu evangelho. 
É verdade que João não usa a palavra arrependimento, mas nosso 
Senhor também não usou a palavra graça. Alguém suspeita que aqueles 
que acreditam que Jesus pode ser seu Salvador sem ser Senhor da sua 
80 
vida recuariam de qualquer sugestão de que a doutrina da graça estivesse 
faltando nos ensinamentos de Jesus. 
Para dizer que João sugeriu uma fé que exclui o arrependimento é 
grosseiramente interpretar erroneamente o conceito do apóstolo do que 
significa ser um crente. Embora João nunca use o arrependimento como 
um verbo, os verbos que ele emprega são ainda mais fortes. 
Para João, tornar-se um crente significava ressurreição da morte 
para a vida, uma saída das trevas para a luz, abandonando a mentira pela 
verdade, trocando ódio por amor e abandonando o mundo por Deus. 
O arrependimento é a base de todos os escritos de João. Entende-se, 
não necessariamente explícito. Seus leitores estavam tão familiarizados 
com a mensagem apostólica que ele não precisava insistir na questão do 
arrependimento. João estava enfatizando diferentes facetas da mensagem 
do evangelho do que aqueles destacados por Mateus, Marcos e Lucas. Nos 
outros Evangelhos, o pecador é considerado culpado e, portanto, precisa 
"arrepender-se". Mas em João, o pecador é visto como espiritualmente 
morto e, portanto, em grande necessidade daquilo que somente Deus 
pode transmitir - "vida"! É aqui que lemos sobre o homem que precisa ser 
"nascido de novo" (3.7), precisando ser "vivificado" (5.21) e precisando 
ser "atraído" (6.44). 
H. A. Ironside respondeu a essa questão há mais de sessenta anos. 
Ele escreveu: 
“O arranjo dos quatro Evangelhos está em perfeita harmonia. Nos 
Sinóticos [Mateus, Marcos e Lucas] o chamado é se arrepender. Em 
João, a ênfase é colocada em crer. Alguns pensaram que há 
inconsistênciaou contradição aqui. Mas precisamos lembrar que 
João escreveu anos depois dos evangelistas mais velhos, e com o 
objetivo definido de mostrar que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e 
que, crendo, podemos ter vida através de seu Nome. Ele não 
81 
simplesmente viaja por terra já bem pisada. Em vez disso, ele 
adiciona e complementa os registros anteriores, incitando a 
confiança no testemunho dado por Deus a respeito de seu Filho. Ele 
não ignora o ministério do arrependimento porque ele enfatiza a 
importância da fé. Pelo contrário, ele mostra às almas arrependidas 
a simplicidade da salvação, de receber a vida eterna, confiando 
n'Aquele que, como a verdadeira luz, lança luz sobre todo homem, 
tornando manifesta a condição caída da humanidade e a 
necessidade de uma mudança completa de atitude para com o ego 
e para com Deus”. 
A Importância do Evangelho de João: 
A importância do Evangelho de João dificilmente pode ser 
superestimada. Por toda a história cristã, ela foi lida e apreciada muito 
mais do que qualquer outro relato preservado da vida de Jesus. Quase 
todas as pesquisas de frequentadores de igreja revelam que seu livro 
favorito no Novo Testamento é o Evangelho de João. A cerne do 
evangelho está no modo como João concebe a relação entre o humano e 
o divino. Esse relacionamento sempre foi um problema que intrigou as 
pessoas. “Como Deus, que é concebido como um ser eterno, onisciente e 
onipotente, tem algum contato direto com o que é temporal, mutável e 
limitado pelas condições de espaço e tempo?” Em outras palavras, como a 
divindade pode estar unida com a humanidade a menos que se envolva 
dessa maneira em uma contradição de termos? A resposta de João a esta 
pergunta é a sua declaração: "E aquele que é a Palavra se tornou homem 
e viveu entre nós". 
A identidade de Jesus como o divino Filho de Deus o diferencia de 
qualquer outro homem que já viveu. Ele carrega consigo a transcendência 
que vem somente com o próprio Deus. Portanto, a obra dele em nosso 
favor torna a nossa salvação segura. Porque Ele é Deus, seu sacrifício na 
cruz tem implicações eternas, ao contrário do efeito limitado dos 
82 
sacrifícios de animais no Antigo Testamento. Jesus, o Deus-homem, 
pagou pelos nossos pecados. Podemos depositar nossa confiança nele por 
causa de sua natureza divina. 
Para Pensar: 
A vida de João serve para nos lembrar de várias lições que podemos 
aplicar às nossas próprias vidas. Primeiro, o zelo pela verdade deve 
sempre ser equilibrado por um amor pelas pessoas. Sem isso, o zelo pode 
se transformar em aspereza e criticismo. Por outro lado, o amor 
abundante que não tem a capacidade de discernir a verdade do erro pode 
tornar-se sentimentalismo excessivo. Como João aprendeu quando 
amadureceu, se falamos a verdade em amor, nós, e àqueles a quem 
tocamos, certamente cresceremos “em tudo para ser cada vez mais como 
Cristo, que é a cabeça do seu corpo, a igreja” (Efésios 4.15). 
Em segundo lugar, a confiança e a ousadia, não temperadas pela 
compaixão e pela graça, podem rapidamente transformar-se em orgulho 
e presunção. Confiança é uma virtude maravilhosa, mas sem humildade, 
pode se tornar autoconfiança, o que pode levar a ostentação e uma 
atitude de exclusividade. Quando isso acontece, nosso testemunho da 
graça de Deus é maculado, e os outros veem em nós exatamente o tipo 
de pessoa que não querem ser. Como João, se quisermos ser 
testemunhas eficazes de Cristo, nosso comportamento deve ser aquele 
que reflete uma paixão pela verdade, a compaixão pelas pessoas e um 
firme desejo de servir e representar nosso Senhor, refletindo sua 
humildade e graça. 
 
 
 
 
83 
 
CAPÍTULO 7 
 
OS ATOS DOS APÓSTOLOS 
 
Atos é o quinto livro do Novo Testamento. Nos primeiros dias foi 
chamado "Os Atos", "O Evangelho do Espírito Santo" e "O Evangelho da 
Ressurreição". O título "Atos dos Apóstolos" foi usado pela primeira vez 
por Ireneu no final do século II. Não se sabe se este era um título 
existente ou inventado por Irineu; parece claro, no entanto, que não foi 
dado pelo autor. "Os Atos dos Apóstolos" é realmente um nome impróprio 
porque Atos tem muito pouco a dizer a respeito da maioria dos Doze 
Apóstolos originais. As atividades de Pedro são descritas com certa 
extensão e João e Felipe são mencionados, sendo João mencionado 
apenas três vezes; e tudo o que está registrado de Tiago, filho de 
Zebedeu, é sua execução por Herodes. É propriamente, portanto, não a 
história dos "Atos dos Apóstolos", mas de "Atos de Apóstolos", ou mais 
corretamente, de "Alguns Atos de Determinados Apóstolos". Mais da 
metade do livro é sobre Paulo e seu papel com o movimento cristão. 
O livro de Atos e o Evangelho segundo Lucas eram originalmente um 
único livro e somente mais tarde, durante a canonização, foi separado em 
dois livros diferentes. Assim, Atos, a segunda parte do trabalho que 
começa com o Evangelho segundo Lucas, é a história dos primeiros trinta 
anos da igreja primitiva depois da morte e ressurreição de Jesus. 
 
 
84 
Autor: 
Pouco se sabe sobre Lucas, o autor dos livros de Lucas e Atos da 
Bíblia. O nome dele é mencionado apenas três vezes no Novo 
Testamento, mas sabemos que ele era um médico e o único gentio a 
escrever qualquer parte do Novo Testamento. 
Lucas era um amigo próximo de Paulo, que se referia a ele como "o 
amado médico" (Colossenses 4.14). Talvez o interesse de Lucas pela 
medicina seja a razão pela qual seu evangelho dá um perfil tão elevado 
aos atos de cura de Jesus. Paulo também se refere a Lucas como 
“companheiro de trabalho” (Filemom 1.24). 
Lucas acompanhou Paulo em três de quatro “viagens missionárias”, 
conforme descrito em Atos (os “nós” em passagens como em Atos 16.1 e 
Atos 28.16). Ele se juntou a Paulo em Trôade na Ásia Menor durante a 
segunda viagem missionária de Paulo (Atos 16.6–11), foi deixado em 
Filipos durante a segunda viagem missionária (Atos 17.1) e foi buscado 
novamente para viajar com Paulo na terceira viagem (Atos 20.5). Lucas 
também acompanhou Paulo em sua viagem para Jerusalém e Roma e 
ficou com ele durante sua prisão lá (2 Timóteo 4.11). 
 
Os estudiosos notaram que Lucas tinha um notável domínio da língua 
grega. Seu vocabulário é extenso e rico, e seu estilo às vezes se aproxima 
do grego clássico, como no prefácio de seu evangelho (Lucas 1.1–4), 
enquanto em outros momentos parece bastante semítico (Lucas 1.5–2. 
52). Ele estava familiarizado com navegação e tinha um amor especial 
por registrar detalhes geográficos. Tudo isso indicaria que Lucas era um 
escritor bem educado, observador e cuidadoso. 
 
 
85 
Data de redação: 
Há vários debates sobre quando o livro de Atos foi escrito. Os 
estudiosos modernos afirmam que foi depois de 70 d.C., mas parece que 
foi antes, porque a destruição do templo e de Jerusalém ocorreu naquela 
época e seria espantoso se isso não fosse mencionado em Atos, que deixa 
a impressão de que o templo ainda está de pé. Também não há nenhuma 
menção da perseguição de Nero em 64 d.C. Nero viveu de 37 a 68 d.C. 
Ele governou de 54 a 68 d.C. e perseguiu os cristãos excessivamente em 
torno de 64 d.C., quando Roma sofreu um imenso incêndio. Todavia não 
há menção disso em Atos, um livro que registra a história da igreja cristã 
primitiva. Sabemos também que o Apóstolo Paulo foi decapitado em 
Roma (cerca de 68 d.C.) antes da queda de Jerusalém, e o livro termina 
com Paulo estando em prisão domiciliar. Atos 28.30-31 nos diz que Paulo 
estava preso por dois anos, mas não mencionou sua execução. Se fosse 
escrito depois de sua execução, por que não incluir esse evento? E só 
para acrescentar, não há nenhuma menção da morte do Apóstolo Tiago, 
que foi uma figura muito importante na igreja primitiva e martirizada por 
volta de 62 d.C. Por que então não menciona sua morte se Atos foi escrito 
depois de 70 d.C., e foi o procedimento de Lucas registrar as mortes dosmártires (Atos 7.55-60 e 12.2)? Assim chegamos à conclusão que o livro 
foi escrito livro por volta de 62-63 d.C.; antes da perseguição de Nero e 
bem antes da destruição do templo e de Jerusalém. 
Público do Livro: 
Assim como o Evangelho de Lucas, Atos é dirigido ao desconhecido 
leitor Teófilo, e na introdução aos Atos, fica claro que é uma continuação 
de Lucas: “Teófilo, no meu primeiro livro, escrevi tudo sobre a vida de 
Jesus, o que ele fazia e como ele ensinava às pessoas até o dia em que 
foi levado para o céu, mas isso só depois de ter dado instruções por meio 
do Espírito Santo aos apóstolos que ele tinha escolhido” (Atos1.1–2). 
 
86 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
 
 (Nota: esse mapa será reproduzido em todas as cartas de Paulo e 
algumas das Cartas Gerais para ajudá-lo a se localizar.) 
O cenário de Atos é único, porque abrange uma grande quantidade 
de tempo, bem como uma vasta área de geografia. Lucas escreve uma 
narrativa que inclui mais de trinta anos de história com histórias de 
Jerusalém a Roma. Portanto, é quase impossível refinar sucintamente o 
contexto cultural e o cenário do livro de Atos. Isso, no entanto, não deve 
nos impedir de entender o cenário básico que cerca Atos. O significado de 
Atos é que ele une duas visões de mundo ou perspectivas culturais. Lucas 
começa contando uma história distintamente judaica. Ele começa sua 
história sobre um messias judeu que veio para restaurar Israel. Essa 
história judaica, no entanto, rapidamente se transforma em uma história 
global. A história começa na capital judaica, Jerusalém, mas termina na 
capital do mundo conhecido, Roma. Portanto, Lucas está escrevendo uma 
87 
história que combina elementos judaicos e elementos greco-romanos. 
Certamente, durante esse tempo, a cultura predominante no mundo 
conhecido não era a cultura judaica, mas sim a greco-romana. Isso 
significava que o judaísmo não influenciava a cultura greco-romana, mas 
que a cultura greco-romana influenciava o judaísmo. 
Havia duas características centrais da vida na igreja do primeiro 
século: primeiro, o governo e o poder do Império Romano; e segundo, o 
novo relacionamento entre a igreja e os judeus. 
Império Romano 
Na época em que Lucas escreveu o livro de Atos, o Império Romano 
havia conquistado e controlado todo o mundo do Mediterrâneo e ampliado 
seu alcance até a atual Grã-Bretanha, a Norte da África e partes da Ásia. 
Nos dias da igreja primitiva, o império ainda estava crescendo, 
adicionando mais e mais povos e territórios ao seu domínio. Ao fazê-lo, o 
Império Romano influenciou profundamente todos os aspectos da 
sociedade com seus valores, objetivos e crenças distintamente romanos. 
Sem dúvida, as maiores influências de Roma sobre os territórios 
conquistados foram políticas e econômicas. Uma das principais 
preocupações políticas do Império Romano era garantir a paz e a lealdade 
dentro do império, exercendo controle vigoroso sobre as autoridades 
locais. Às nações conquistadas eram permitidos um certo grau de 
autonomia local, mas seus governos locais eram frequentemente 
reconfigurados e estavam sempre sujeitos à hierarquia romana. Por 
exemplo, o livro de Atos menciona dois governadores romanos de 
Cesareia, a saber Félix e Festo, que governaram toda a terra da Judeia, 
de Cesareia. Além de supervisionar a tributação, eles eram responsáveis 
por manter a paz e a ordem em sua parte do Império Romano. 
O império também exerceu influência cultural e política através da 
integração dos cidadãos romanos na população das nações conquistadas. 
88 
Muitas vezes, Roma oferecia terras aos militares que se aposentavam em 
territórios recém conquistados. Essa prática estabeleceu enclaves de 
cidadãos leais romanos em todo o império, e promoveu os valores e 
compromissos de Roma em ambientes oficiais e sociais. É por isso que o 
livro de Atos menciona pessoas de Roma de tempos em tempos. Já em 
Pentecostes, lemos no capítulo 2 de Atos, versículos 10 e 11, que havia 
"visitantes de Roma (judeus e convertidos ao judaísmo)". Mais uma vez, 
Cornélio, o centurião romano temente a Deus no capítulo 10 de Atos, 
desempenha um papel importante na propagação do evangelho em Atos. 
Além disso, as culturas locais foram influenciadas pelas obras 
públicas de Roma, como estradas, edifícios elaborados e locais públicos 
de reunião. Esse aspecto do governo romano explica como Paulo e outros 
viajaram tão livre e seguramente em seus esforços missionários. Os 
apóstolos também usaram esses locais públicos para proclamar o 
evangelho enquanto viajavam de um lugar para outro. 
Talvez a característica mais importante do Império Romano para a 
igreja primitiva fosse sua influência nas religiões das pessoas que 
conquistou. Na época da escrita de Lucas, um homem estava no centro 
de todo o Império Romano: César. O imperador ou César não era visto 
apenas como o senhor de seu povo e reino, mas também como o salvador 
do povo. Segundo a propaganda romana, os Césares libertariam seu povo 
do caos e das trevas. E a extensão do Império Romano foi apresentada 
como uma extensão de sua salvação, libertando as pessoas da tirania de 
seus reis locais e trazendo a todos sob o domínio benevolente de Roma. 
Na maioria dos lugares, as pessoas conquistadas eram autorizadas a 
continuar muitas das suas próprias práticas religiosas, mas eram 
obrigadas a confessar a superioridade do César e dos deuses romanos 
tradicionais. Agora, em muitos aspectos, a maioria dos judeus e cristãos 
no primeiro século eram súditos respeitáveis de Roma, mas judeus e 
cristãos fiéis se recusavam a reconhecer a supremacia da religião romana. 
O Império Romano designou a fé judaica como uma religião legal, e 
89 
tolerou a fé cristã tanto quanto possível, apesar de ainda reprimir ambos 
os grupos. 
Através do controle do governo, população, obras públicas e religião, 
Roma tentou espalhar sua influência em todos os lugares possíveis. 
Agora que temos examinado o contexto social de Atos em termos das 
influências do Império Romano, estamos prontos para examinar outra 
dimensão crucial da situação social na qual Lucas escreveu: a relação 
entre os judeus incrédulos e a igreja cristã primitiva. 
Judeus 
A igreja primitiva compartilhava uma herança comum com o povo 
judeu. Por mais óbvio que seja, no mundo moderno, muitas vezes temos 
que nos lembrar do fato de que Jesus era judeu, os apóstolos eram todos 
judeus e, a princípio, a própria igreja consistia quase inteiramente de 
judeus convertidos. Portanto, não deveria ser surpreendente que, na 
mente da igreja primitiva, a lealdade ao prometido Messias judaico 
implicasse certa fidelidade ao judaísmo. 
De acordo com o livro de Atos, muitas pessoas na igreja primitiva 
participaram da adoração no templo, reuniram-se em sinagogas para 
ouvir as Escrituras e mantiveram apreço por muitos costumes judaicos. 
Paulo e os que viajavam com ele se identificaram com os judeus na 
sinagoga, falando dos patriarcas como "nossos pais" e dos cristãos como 
nós, seus filhos. 
Além do mais, a igreja primitiva e a comunidade judaica em geral 
estavam comprometidas com as mesmas Escrituras. No livro de Atos, os 
cristãos recorrentemente apelavam para as Escrituras quando 
proclamavam o evangelho em contextos judaicos. Por exemplo, Atos 
17.1-3: “Depois que Paulo e Silas tinham passado pelas cidades de 
Anfípolis e Apolônia, chegaram a Tessalônica, onde havia uma sinagoga 
90 
dos judeus. E como já era o costume dele, Paulo entrou na sinagoga e por 
três sábados ele discutiu com eles as Escrituras, explicando e provando 
que o Cristo tinha que sofrer e ressuscitar dos mortos”. 
Além disso, a profunda conexão entre o cristianismo e o judaísmo 
resultou em interações significativas entre as autoridades judaicas e a 
igreja primitiva. De acordo com o livro de Atos, a ousadia da igreja 
primitiva em proclamar o evangelho de Cristo muitasvezes levava a 
conflitos com as autoridades judaicas. Mas, tanto quanto possível, os 
primeiros cristãos reconheceram os líderes judeus e só os resistiram 
quando eles ordenaram que desobedecessem aos mandamentos de Deus. 
Apesar da profunda conexão entre o povo judeu e a igreja primitiva, 
eles ainda eram distinguidos por diferenças fundamentais. 
Primeiro e mais fundamentalmente, os cristãos e os judeus 
incrédulos discordaram sobre a pessoa e obra de Jesus. A igreja 
proclamou que Jesus era o Messias que havia vencido a morte e estava 
restaurando toda a criação, começando com sua própria ressurreição 
dentre os mortos. Mas os judeus incrédulos consideravam impossível que 
um homem crucificado como criminoso fosse o Messias prometido. Essa 
diferença criou uma divisão entre cristãos e judeus não-cristãos que 
continua até os nossos dias. 
Segundo, enquanto a igreja primitiva e os líderes judeus 
concordavam da autoridade da Bíblia hebraica, eles discordavam 
vigorosamente sobre a interpretação correta das Escrituras hebraicas, 
particularmente em relação a Jesus. A igreja primitiva acreditava que as 
esperanças das Escrituras hebraicas para a vinda do Messias foram 
cumpridas em Jesus, mas os judeus incrédulos negaram esse 
entendimento. Havia muitas partidas dentro do judaísmo que mantinham 
uma ampla gama de pontos de vista, mas a maioria delas achava 
impossível aceitar que Jesus cumprisse as esperanças messiânicas do 
Antigo Testamento. 
91 
Em terceiro lugar, a igreja primitiva e o povo judeu do primeiro 
século diferiam quanto à maneira como viam os gentios. Na maior parte, 
os judeus observantes não compartilhavam companhia com os gentios. 
Mas, por outro lado, muitos gentios incircuncisos eram tão atraídos pelas 
crenças e ensinamentos éticos do judaísmo que se ligavam às sinagogas 
judaicas locais e eram conhecidos como tementes a Deus. Os que temiam 
a Deus eram respeitados acima de outros gentios, mas não eram 
membros plenos da comunidade judaica. Os prosélitos gentios 
converteram-se ao judaísmo, mas isso envolveu a realização de ritos de 
iniciação, incluindo o batismo e a circuncisão, e a observância das 
tradições judaicas. 
Enquanto os primeiros cristãos judeus começaram com esse mesmo 
entendimento dos gentios, eles gradualmente passaram a entender que 
os gentios que seguiam a Cristo deveriam receber um status pleno na 
igreja cristã. À luz da nova revelação do Espírito Santo, a igreja primitiva 
determinou que a fé em Cristo expressa em confissão e batismo era 
suficiente para ser membro da igreja cristã. Assim, os apóstolos fizeram a 
sua prática na proclamação do evangelho e do senhorio universal de 
Cristo tanto a judeus como a gentios, aceitando os dons e o ministério de 
ambos os povos à medida que a igreja crescia. Eles entenderam que Deus 
estava usando os gentios para realizar a esperança do reino que ele havia 
estendido ao seu povo no Antigo Testamento. Não surpreendentemente, 
isso levou a muitos conflitos entre judeus incrédulos e cristãos primitivos. 
A Estrutura 
Era um procedimento comum para um historiador começar um 
segundo volume resumindo o primeiro e indicando o conteúdo antecipado 
em seu segundo volume. Lucas resumiu seu primeiro volume em Lucas 
1.1–4: “Muitas pessoas se dedicaram a colocar em ordem a história das 
coisas que foram feitas entre nós, segundo o que foi contado para nós 
pelas testemunhas que desde o início viram essas coisas acontecerem e 
92 
ministravam a palavra. E eu também achei que seria bom escrever para 
você um relato em ordem, excelentíssimo Teófilo, pois tenho investigado 
tudo com muito cuidado desde o começo; para que tenha certeza sobre 
as coisas que foram ensinadas a você”. O tema de seu segundo volume é 
apresentado nas palavras de Jesus: “serão minhas testemunhas em 
Jerusalém, em toda Judeia, também em Samaria e até nos lugares mais 
distantes da terra” (Atos 1.8). Este é, com efeito, um esboço do livro de 
Atos. 
 em Jerusalém (Atos 1-12) 
 em toda Judeia, também em Samaria (Atos 8-12) 
 nos lugares mais distantes da terra (Atos 13-28) 
Atos aborda alguns dos eventos mais importantes que ocorrem na 
história da tradição cristã. Depois de se referir ao que havia sido 
registrado “no meu primeiro livro” dos ditos e feitos de Jesus Cristo antes 
de sua ascensão, Lucas passa a dar conta das circunstâncias relacionadas 
àquele evento, e então registra os fatos principais com referência a 
espalhar triunfos do cristianismo sobre o mundo durante um período de 
aproximadamente trinta anos. 
Seguir o enredo torna-se fácil ao perceber que o livro de Atos está 
estruturado num princípio cíclico no qual um padrão comum continua 
sendo repetido: 
1. Líderes cristãos surgem e pregam o evangelho; 
2. Ouvintes são convertidos e adicionados à igreja; 
3. Os oponentes (muitas vezes judeus, mas às vezes gentios) 
começam a perseguir os líderes cristãos; e 
4. Deus intervém para resgatar os líderes ou proteger a igreja. 
Embora esse padrão seja mais óbvio na primeira metade do livro, 
ele se estende de forma modificada às viagens de Paulo, cujos 
repetidas dificuldades são seguidas pela expansão da igreja. 
93 
O livro de Atos revela que o cristianismo primitivo era um movimento 
altamente dinâmico, cheio de diferenças doutrinárias e teológicas. Atos 
funciona como um texto histórico, permitindo-nos uma visão única sobre 
a transição do cristianismo de uma seita judaica em sua própria religião e 
descrevendo o início do processo pelo qual a fé de alguns seguidores 
cresceu em uma igreja que tem se espalhado pelo mundo. 
Lucas entrelaça diferentes interesses e ênfases ao relacionar o início e 
a expansão da igreja. O desenho de seu livro gira em torno de (1) 
pessoas chaves: Pedro e Paulo; (2) tópicos e eventos importantes: o 
papel do Espírito Santo, o desenvolvimento missionário pioneiro em novos 
campos, as conversões, o crescimento da igreja e a vida na comunidade 
cristã; (3) problemas significativos: conflito entre judeus e gentios, 
perseguição da igreja por alguns elementos judaicos, julgamentos diante 
dos judeus e dos romanos, confrontos com os gentios e outras 
dificuldades no ministério; (4) avanços geográficos: cinco etapas 
significativas. 
Embora haja alguma atividade missionária, ou a disseminação do 
evangelho, nas primeiras partes de Atos, a principal atividade missionária 
acontece após a conversão de Paulo, um judeu que encontra Jesus 
ressuscitado enquanto viaja para, ironicamente, perseguir os cristãos. 
Durante o tempo de Paulo, a igreja floresce e se expande. Paulo espalha o 
evangelho e começa igrejas em numerosas cidades pela Grécia, Itália e 
Ásia (como chamamos as áreas hoje), pregando e convertendo judeus, 
bem com gentios. Após suas três viagens missionárias, Paulo viaja para 
Roma, onde é colocado em prisão domiciliar. Lucas termina o livro de 
Atos aqui quando Paulo tem levado o evangelho com sucesso aos "confins 
da terra". 
O final de Atos em Roma antecipa a eventual transição da igreja para 
aquela cidade. Atos é a história da saída da igreja de Jerusalém para 
Antioquia, Éfeso e Roma. Atos é cheio de histórias e discursos, mas o arco 
94 
dramático que conecta todos os Atos dos Apóstolos é o movimento da 
igreja, impulsionado por Paulo, em direção a uma divisão com o judaísmo 
e uma ênfase na conversão dos gentios. É nesse movimento que o 
cristianismo se torna sua própria religião distinta. 
Esboço de Atos: 
I. O Ministério de Pedro (1.1-12.25) 
a. Primeiro Sermão de Pedro (1.1-2.47) 
b. O Ministério Pós-Pentecostes de Pedro (3.1-4.37) 
c. Perseguição de Pedro e dos Apóstolos (5.1-42) 
d. Perseguição da Igreja I (6.1-7.60) 
e. Perseguição da Igreja II (8.1-9.43) 
f. Pedro Prega aos Gentios (10.1-12.25) 
II. O Ministério de Paulo (13.1-28.31) 
a. Primeira Viagem Missionária de Paulo (13.1-15.35) 
b. A Segunda Viagem Missionária de Paulo (15.36-18.22) 
c. A TerceiraViagem Missionária de Paulo (18.23-21.14) 
d. Apreensão e Prisão de Paulo I (21.15-23.11) 
e. Apreensão e Prisão de Paulo II (23.12-25.22) 
f. Apreensão e Prisão de Paulo III (25.23-26.32) 
g. A Viagem de Paulo a Roma (27.1-28.31) 
O Objetivo da Escrita: 
Os principais objetivos do livro parecem ser: 
1. Apresentar uma história. O significado de Atos como relato 
histórico das origens cristãs não pode ser superestimado. Um dos 
aspectos únicos do cristianismo é seu firme fundamento histórico. A 
vida e os ensinamentos de Jesus Cristo estão estabelecidos nas 
quatro narrativas do Evangelho, e, o livro de Atos fornece um relato 
coordenado do início e expansão da igreja como resultado do 
95 
trabalho do Senhor ressuscitado e do Espírito Santo através dos 
apóstolos. 
2. Dar uma defesa. Encontra-se embutido em Atos um registro das 
defesas cristãs feitas a ambos: os judeus (por exemplo, 4.8-12) e 
os gentios (por exemplo, 25.8-11) com o propósito subjacente de 
conversão. Ele mostra como a igreja primitiva lidou com o 
pensamento judaico e pagão, o governo romano e a sociedade 
helenística. Lucas pode ter escrito este trabalho enquanto Paulo 
aguardava julgamento em Roma. Se o caso chegasse aos tribunais, 
que melhor defesa Paulo poderia ter tido do que uma vida de Jesus, 
uma história dos primeiros tempos da igreja (incluindo a atividade 
de Paulo) e uma coleção inicial das cartas de Paulo? 
3. Fornecer um guia. Lucas não tinha como saber quanto tempo a 
igreja continuaria nesta terra, mas enquanto seguir seu curso, o 
livro de Atos será um dos seus principais guias. Em Atos, vemos 
princípios básicos sendo aplicados a situações específicas no 
contexto de problemas e perseguições. Esses mesmos princípios 
continuam sendo aplicáveis até a volta de Cristo. 
4. Representar o triunfo do cristianismo em face de 
perseguição. O sucesso da igreja em levar o evangelho de 
Jerusalém a Roma e no começo de igrejas locais em todo o império 
romano demonstrou que o cristianismo não era um trabalho 
meramente humano. O cristianismo triunfou sob o governo do 
Cristo exaltado e através do poder do Espírito Santo. 
Fatos Curiosos do Livro de Atos: 
 O Evangelho de Lucas e Atos compõem uma obra de dois volumes, 
que os estudiosos chamam de Lucas-Atos. Juntos, eles representam 
27,5% do Novo Testamento, a maior contribuição atribuída a um 
único autor. 
96 
 Lucas é o único gentio a escrever qualquer parte do Novo 
Testamento. 
 Os seguidores de Jesus foram primeiramente chamados cristãos em 
Antioquia (11.26). 
 Começando com a perseguição de Saulo à Igreja, o cristianismo 
tornou-se conhecido como O Caminho (9.2, 19.9, 19.23, 22.4, 
24.14 e 24.22). 
 Os seguidores de Jesus também foram referidos como nazarenos 
(24.5). De fato, Jesus se identifica como um nazareno em Atos 
22.8. 
 Pedro, apóstolo dos judeus, é a figura central dos primeiros 12 
capítulos; Paulo, apóstolo dos gentios, é o principal do restante. 
 Estêvão foi o primeiro mártir cristão (Atos 6-7). 
 Nos primeiros dias da igreja, ela estava confinada em Jerusalém, 
mas depois do martírio de Estevão e da perseguição seguinte, o 
evangelho foi levado à Judeia e Samaria (8.1). 
 A primeira ocorrência registrada de conversão gentia é a 
experiência de Pedro com Cornélio (Atos 10). 
 Próximo ao tempo da conversão de Cornélio (cerca de 40 d.C.), o 
evangelho chegou a Antioquia. Antioquia, na Síria, então se tornou 
o centro da atividade no livro de Atos. 
 É o único livro na Bíblia que faz a pergunta: “O que devo fazer para 
ser salvo?” e fornece a resposta (16.30-31). 
A Importância do Livro de Atos: 
A importância desta segunda obra dos dois volumes de Lucas 
dificilmente pode ser superestimada, pois sem ela não teríamos registro 
do começo e do desenvolvimento da igreja primitiva. Portanto, como Atos 
nos fornece um registro seletivo de eventos que ocorreram durante os 
anos formativos da igreja, ela nos fornece os antecedentes históricos de 
nossa fé e como essa fé passou a ser adotada de Jerusalém até Roma. Ela 
também fornece informações úteis sobre os fatos que cercam muitas das 
97 
cartas dos apóstolos, o que, por sua vez, nos ajuda a entender melhor 
quando eles disseram, o que disseram e por que disseram. 
Aproximadamente a metade do livro de Atos fala das viagens 
missionárias de Paulo e sua última viagem a Roma como prisioneiro. 
Assim, Atos demonstra a importância do trabalho missionário na igreja 
primitiva. “Mas como eles poderão invocar aquele em quem não creram? 
E como eles poderão crer nele se nunca ouviram falar dele? E como eles 
poderão ouvir sobre ele sem que alguém pregue? E como vão pregar se 
não forem enviados?” (Romanos 10.14-15). É através de Paulo, o grande 
missionário da igreja primitiva, que Atos dramatiza o cumprimento do 
mandamento de Jesus: “Enquanto vocês estão indo, façam discípulos de 
todas as nações” (Mateus 28.19). Paulo domina a segunda metade de 
Atos e, mais do que qualquer outra figura, dita a trajetória da ascensão 
da igreja. Atos começa com Pedro e os apóstolos em Jerusalém e 
termina, anos depois, com Paulo em Roma. As palavras finais de Paulo 
são um resumo adequado da direção em que ele lidera a igreja 
missionária nas primeiras décadas vitais de sua existência: “Agora fiquem 
sabendo”, diz ele aos judeus de Roma, “que esta salvação de Deus foi 
enviada àqueles que não são judeus; e eles a ouvirão” (Atos 28.28). 
Para Pensar: 
Sempre os crentes de hoje comentam sobre a igreja primitiva, como 
eram melhores do que os de hoje e como devemos voltar (obviamente se 
esquecendo das duas cartas à igreja primitiva de Coríntios), pois tinha 
uma comunhão verdadeira e vemos os resultados; a cada dia o Senhor 
acrescentava ao seu grupo os que iam sendo salvos. Hoje passamos 
meses e até anos para ver pessoas convertendo de verdade. Não estou 
falando de uma mão levantada ou repetindo uma oração, mas vidas 
inegavalmente transformadas. Mas o que fez a igreja primitiva ser tão 
diferente? Eles entenderam o que Jesus quis dizer quando falou: 
“deixem brilhar a sua luz”. Eles eram crentes por onde foram e todos 
98 
sabiam. E esse brilhar naquele tempo acabou sendo literal. O Imperador 
Nero odiava os crentes e os queimava no seu jardim e nas estradas para 
iluminá-las à noite; outros foram queimados vivos nas arenas quando 
recusavam negar a sua fé. E assim um mundo incrédulo começou a crer. 
Eles viveram as suas vidas de uma maneira que não podiam ser acusados 
de nada e morreram de uma maneira tão inexplicável, orando e cantando, 
que muitos converteram, e assim o cristianismo cresceu. 
A verdade é que nós não queremos voltar à situação da igreja 
primitiva, mas somente ter os seus resultados. Mas, porque não temos os 
mesmos resultados hoje? Porque não somos luzes. Às vezes faíscas, mas 
quase nunca luzes. Não vivemos diferentes do mundo. Curtimos os 
mesmos pecados, namoramos como o mundo, pecamos diante dos 
mesmos programas de televisão, mentimos, roubamos, temos os mesmos 
desejos de adquirir coisas materiais e sermos ricos, e ninguém quer 
morrer. 
Na face da morte eles não amaram as suas próprias vidas 
(Apocalipse 12.11), mas nós, sem nenhuma ameaça O negamos com as 
nossas próprias vidas. Por que tão poucas pessoas estão convertendo 
hoje em dia? Por que a igreja parou de deixar a sua luz brilhar. Uma luz 
apagada não ajuda ninguém. “Vocês são a luz do mundo, deixem 
brilhar a sua luz.” 
Mateus 5.14-16: “Vocês são a luz do mundo. Uma cidade 
construída sobre um monte não pode ser escondida. E ninguém acende 
uma candeia para colocá-la debaixo de um cesto, mas é colocada em 
cima de uma estante, e ela dá luz a todos que estão na casa. Da mesma 
forma, deixem a luz de vocês brilhar diante dos outros, para que eles 
possam ver as suas boas obras e glorifiquem o Pai de vocês, que está no 
céu”. 
99 
Quando você ler o final do livro de Atos, notará que estáinacabado. 
É uma história que ainda está acontecendo hoje e, a partir de agora, 
ainda está inacabada. Você faz parte dela. Deixe brilhar a sua luz. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
100 
 
CAPÍTULO 8 
 
ROMANOS 
 
A Epístola aos Romanos ou Carta aos Romanos, frequentemente 
abreviada para Romanos é o sexto livro do Novo Testamento. 
Curiosamente, apesar de Romanos ser a primeira carta de Paulo em 
ordem no Novo Testamento, ela foi sua sexta carta escrita, seguindo 
Gálatas, 1 e 2 Tessalonicenses e 1 e 2 Coríntios. É a mais longa das 
cartas paulinas e é frequentemente considerada seu "legado teológico 
mais importante" e magnum opus. 
Dito isto, o Livro de Romanos é primariamente uma obra doutrinária. O 
tema principal desta carta é a justiça, ou mais precisamente, a “justiça de 
Deus”. É fundamental ao longo do livro e é encadeado através de cada 
seção. Paulo reitera isso para que o leitor perceba que a salvação não 
pode ser alcançada através das boas obras do homem, mas somente pela 
fé na justiça de Deus. 
Romanos 1.16-17: Pois eu não tenho vergonha das Boas Notícias de 
Cristo, pois elas são o poder de Deus para salvação de todo aquele que 
crê: primeiro do judeu, e também dos que não são judeus. 17 Pois nas 
Boas Notícias é revelado como Deus faz pessoas justas aos olhos dele por 
meio da justiça que vem dele. E isto é realizado do princípio ao fim pela 
fé. Como as Escrituras dizem: “O justo viverá pela fé”. 
Em outras palavras, você não pode reparar seu relacionamento com 
Deus através de suas boas obras; isso só é realizado através da fé na 
101 
obra perfeita e acabada de Jesus Cristo. Não há nada que possamos fazer 
para nos salvar. 
John MacArthur disse: “O tema dominante de Romanos é a justiça que 
vem de Deus; a gloriosa verdade que Deus justifica os pecadores, 
culpados e condenados, somente pela graça, pela fé somente em Cristo”. 
Este é o evangelho básico. O plano de Deus de salvação e justiça para 
toda a humanidade, judeus e gentios. O livro de Romanos nos fala sobre 
Deus, quem Ele é e o que Ele fez; nos fala de Jesus Cristo, o que a Sua 
morte realizou; e nos fala sobre nós mesmos, como éramos sem Cristo e 
quem somos depois de confiar em Cristo. E Paulo nos fala que Deus não 
exigiu que os homens tivessem suas vidas mudadas antes de virem a 
Cristo. Enquanto ainda éramos pecadores, Cristo morreu na cruz por nós, 
pelos nossos pecados (5.8). 
Tudo isso é bem resumido em Romanos 3.22-26: “A justiça de Deus 
vem por meio da fé em Jesus Cristo para todos os que creem. E não 
existe nenhuma diferença entre as pessoas, 23 pois todos pecaram e 
ninguém consegue viver de acordo com o glorioso e santo padrão de 
Deus, que é ele mesmo. 24 Mas eles são justificados gratuitamente pela 
sua graça, por meio do preço que Jesus Cristo pagou para libertá-los. 25 
Deus colocou Jesus diante dos olhos de todo o mundo como sacrifício, 
para que pelo seu sangue derramado, ele se tornasse o meio pelo qual a 
ira de Deus fosse desviada e sua justiça satisfeita, para ser recebido pela 
fé. Deus fez isso para mostrar sua justiça, porque, na sua tolerância, ele 
não castigou os pecados cometidos no passado. 26 Isso também era para 
mostrar sua justiça no tempo presente, para que ele mesmo fosse justo e 
justificador daquele que tem fé em Jesus”. 
Só para você saber: Como afirmado na primeira frase deste texto, 
Romanos tem sido chamado de "Epístola" ou "Carta". Mas qual é a 
diferença entre uma epístola e uma carta? Existe alguma diferença? Não 
são apenas duas palavras que significam a mesma coisa com uma sendo 
102 
usada por alguém que quer parecer mais inteligente do que um cristão 
mediano? Eu admito que uso os dois de forma bastante intercambiável e 
não porque eles são sinônimos e nem para me fazer soar mais 
inteligente, mas com uma compreensão mais profunda dos dois. Deixe-
me explicar: Nos últimos anos, alguns estudiosos da Bíblia procuraram 
fazer uma distinção entre cartas e epístolas. De acordo com essa 
distinção: 
• Uma carta representa uma correspondência real escrita em uma 
ocasião específica para tratar de assuntos do momento. A maioria 
das pessoas que escreve uma carta não imagina que a 
correspondência jamais será lida por alguém que não seja aqueles a 
quem é dirigida. 
• Uma epístola é um tratado público que usa o formato de carta 
para apresentar uma redação ou homilia destinada à leitura geral. 
Com relação aos escritos do Novo Testamento, a breve carta de 
Paulo a Filemom é considerada um exemplo clássico de uma carta, 
enquanto a exposição aos Hebreus é considerada uma epístola. 
Eles argumentam que enquanto "epístola" e "carta" são a mesma 
palavra grega (epistolē), as línguas modernas nos permitem apreciar uma 
nuance. “Todas as epístolas são cartas, mas nem todas as cartas são 
epístolas”. Acho interessante que o argumento é baseado na nuance de 
palavras num idioma traduzido e não no idioma original. E embora haja 
uma diferença entre os dois (na linguagem moderna), que podemos 
apreciar, a maioria dos estudiosos modernos não considera esse tipo de 
distinção muito útil. Todos os vinte e um dos livros do Novo Testamento, 
referidos como cartas ou epístolas, foram escritos para indivíduos ou 
grupos específicos com contextos específicos, mas nenhum deles tinha a 
intenção de ser mantido privado ou confidencial. Como tal, hoje, os 
termos carta e epístola frequentemente são usados como sinônimos, com 
103 
o reconhecimento de que todos os vinte e um livros são documentos 
públicos ligados a públicos particulares e ocasiões particulares. 
Autor: 
Paulo definitivamente era o autor. Esta autoria é desafiada por quase 
ninguém. Sua saudação típica é encontrada em Romanos 1.1: “Esta carta 
é de Paulo, um servo de Jesus Cristo, chamado por Deus para ser um 
apóstolo, separado para pregar as Boas Notícias...”. 
É geralmente aceito que o "espinho na carne" de Paulo era má visão, 
portanto, ele mesmo não escreveu fisicamente essa carta, mas usou um 
escriba, Tércio. 
Romanos 16.22: Eu, Tércio, aquele que está escrevendo esta carta 
que Paulo ditou para mim, mando meu abraço também. 
Data de redação: 
Romanos foi escrita em Corinto, Grécia, em 56-58 d.C., no final da 
terceira viagem missionária de Paulo e pouco antes da viagem dele a 
Jerusalém para entregar as doações que haviam sido dadas pelas 
congregações gentias para os pobres de Jerusalém. Ele pretendia ir a 
Roma e depois à Espanha (15:24), mas seus planos foram interrompidos 
quando ele foi preso em Jerusalém. Mais tarde ele acabaria indo para 
Roma como prisioneiro. 
Ele escreveu Romanos logo depois de escrever 2 Coríntios. 
Público da Carta: 
Romanos foi escrita para os cristãos que moravam na cidade de 
Roma, tanto judeus como gentios, com a maioria sendo gentios. 
Romanos 1.7: Eu escrevo a todos vocês em Roma que são amados 
por Deus e chamados para ser seu próprio povo santo. 
104 
Como a maioria dos cristãos do mundo antigo, os cristãos romanos 
não foram reunidos em uma única congregação. Em vez disso, pequenos 
grupos de seguidores de Cristo se reuniam regularmente em igrejas 
domésticas (nos lares); cinco dos quais Paulo cumprimenta na sua carta 
(16.5, 10, 11, 14, 15). 
Nós não sabemos quem fundou a igreja em Roma, embora, acredito 
ser seguro supor que não foi Pedro, independentemente do que a Igreja 
Católica alega. Pois se tivesse sido Pedro, é bem provável que Lucas o 
teria mencionado em viagem à Roma no Livro de Atos. Paulo também o 
teria mencionado entre os trinta e cinco outros que ele mencionou em sua 
carta aos romanos, que em si é o documento mais antigo que atesta a 
existência da comunidade cristã romana. A verdade é que não há 
evidência histórica de que Pedro tenha ido a Roma, embora a tradição 
diga que Pedro foi crucificado de cabeça para baixo em Roma. Mas isso é 
apenas uma tradição; a Bíblia não confirma nem nega a história.Sem 
saber com certeza quem começou a igreja em Roma, existem algumas 
possibilidades: 
1. Pode ter sido alguns do povo que estavam visitando Jerusalém no 
dia de Pentecostes e foram convertidas e voltaram para casa para 
iniciar uma igreja (Atos 2.10). 
2. Poderia ter sido discípulos que fugiram da perseguição em 
Jerusalém depois da morte de Estêvão (Atos 8.4). 
3. Poderia ter sido pessoas convertidas das viagens missionárias de 
Paulo que foram para Roma. 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
Roma era a capital e a cidade mais importante do Império Romano. 
Ela foi fundada em 753 d.C. Na época em que Paulo escreveu o Livro de 
Romanos, a população total daquela cidade era de cerca de 1 milhão de 
105 
pessoas. Isso fez de Roma uma das maiores cidades mediterrâneas do 
mundo antigo, juntamente com Alexandria no Egito, Antioquia na Síria e 
Corinto na Grécia. 
 
 Roma era uma cidade relativamente rica e incluía várias classes 
econômicas, incluindo escravos, indivíduos livres, cidadãos romanos 
oficiais e nobres de diferentes tipos (políticos e militares). Roma também 
foi casa para “pessoas de fora” de muitas culturas diferentes, incluindo 
cristãos e judeus. 
Roma do primeiro século era conhecida por ser cheia de todos os 
tipos de decadência e imoralidade, das práticas brutais da arena à 
imoralidade sexual de todos os tipos. 
Durante o primeiro século, Roma foi fortemente influenciada pela 
mitologia grega e pela prática da adoração do Imperador (também 
106 
conhecido como Culto Imperial). Assim, a maioria dos habitantes de 
Roma era politeísta, isto é, adoravam vários deuses e semideuses 
diferentes, dependendo de suas próprias situações e preferências. Por 
essa razão, Roma continha muitos templos, santuários e lugares de 
adoração, sem um centralizado ritual ou prática. A maioria das formas de 
adoração era tolerada e o povo de Roma era tolerante com a maioria das 
expressões religiosas. No entanto, essa tolerância limitou-se em grande 
parte às religiões que eram politeístas, isto é, as autoridades romanas 
não se importavam com quem você adorava, desde que você incluísse o 
imperador e não criasse problemas com outros sistemas religiosos. 
Esse foi um problema para os cristãos e judeus em meados do 
primeiro século, pois tanto os cristãos quanto os judeus eram ferozmente 
monoteístas. Eles proclamaram a doutrina impopular de que há apenas 
um Deus e, por extensão, eles se recusaram a adorar o imperador ou 
reconhecê-lo como qualquer tipo de divindade. Por estas razões, cristãos 
e judeus eventualmente começaram a experimentar intensa perseguição. 
Quando Paulo escreveu Romanos por volta de 57 d.C., apenas três 
anos depois que Nero, de 16 anos, subiu ao trono como imperador de 
Roma, a situação política na capital ainda não havia se deteriorado para 
os cristãos romanos. Portanto, Paulo escreveu para uma igreja que estava 
passando por um tempo de relativa paz; todavia, isso não quer dizer que 
não houvesse tensão dentro da igreja. Toda a paisagem dentro da igreja 
estava mudando. Aquilo que era uma vez considerado uma seita judaica 
estava começando a assumir sua própria identidade. 
As primeiras igrejas domésticas em Roma teriam sido primariamente 
judaicas e teriam culturalmente “um sabor” judaico, mas em 49 d.C. o 
imperador romano Cláudio expulsou os judeus de Roma. Os cristãos 
judeus, é claro, teriam sido expulsos junto com o restante dos judeus. 
Durante os cinco anos entre o decreto de Cláudio (49 d.C.) e sua morte 
(54 d.C.), quando o decreto caducou e os judeus começaram a retornar, a 
107 
composição e a autocompreensão das igrejas domésticas em Roma 
teriam mudado consideravelmente. O que provavelmente teria sido uma 
congregação majoritariamente judia teria se tornado apenas gentia. Os 
gentios que permaneceram teriam começado a se reunir sem a liderança 
e a contribuição dos judeus, e aqueles que alcançaram com as Boas 
Notícias de Cristo durante os cinco anos seguintes teriam sido gentios. A 
carta de Paulo teria chegado a Roma durante o período em que os judeus 
ainda estavam voltando para Roma. 
O decreto para expulsar os judeus também teria empurrado a 
comunidade judaica não-cristã que retornara e as igrejas domésticas já 
presentes a se autodefinirem em relação umas às outras. Antes do 
decreto, os romanos no poder consideravam os cristãos um subconjunto 
do judaísmo; afinal, as igrejas eram socializadas como grupos judaicos. 
Mas depois do decreto e da mudança da socialização dos grupos em 
comunidades basicamente gentias, o processo de ver judeus e cristãos 
como grupos separados teria acelerado (tanto como visto de dentro como 
visto de fora). Em 64 d.C., apenas sete anos depois da chegada da carta 
de Paulo, esse processo estaria completo. Pois, os cristãos foram 
identificados como um grupo separado dos judeus quando Nero começou 
sua perseguição a eles, depois de ter os culpados pelo grande incêndio 
romano em 64 d.C. 
A carta de Paulo chegou enquanto esse processo de mudança de 
autoidentificação estava ocorrendo. Os cristãos judeus que voltavam a 
Roma tinham que se debater com a questão de saber se eram 
primariamente judeus ou se eram primariamente cristãos (o que teria 
sido cada vez mais parecido com um gentio). Com isso em mente, acho 
que podemos ver uma das coisas que levou Paulo a escrever esta carta. 
Nos primeiros capítulos, vemos uma tensão entre os elementos judaicos e 
os elementos gentios da igreja. Já que os judeus eram a maioria, e então 
foram forçados a sair por decreto, como eles teriam se sentido em 
retornar à igreja em Roma como um grupo minoritário? 
108 
Ao passarmos pela carta, vemos os gentios sendo criticados por sua 
falta de respeito pela Lei e por condenarem seus irmãos judeus. Também 
vemos Paulo repreendendo os crentes judeus por sua atitude de 
superioridade, agindo como se fossem melhores que seus irmãos gentios 
por causa da sua tradição e história como “povo de Deus”. A maneira 
como Paulo tenta uni-los é através de uma apresentação do evangelho, 
para mostrar que todos, independentemente de sua origem, são culpados 
diante de Deus e precisam de um salvador. Jesus é esse salvador, e a 
obra da salvação operada por Ele era toda dele, e toda pela graça. Como 
resultado, não há razão para alguém se considerar melhor do que 
ninguém, e além disso, há toda razão para que Deus obtenha toda a 
glória, louvor e serviço que lhe é devido. 
A Estrutura: 
Romanos contém todas as características padrão de uma carta 
bíblica, incluindo a saudação, ação de graças, corpo, parênese (lista de 
exortações morais), saudações pessoais e bênçãos. O que distingue a 
carta é o seu corpo longo e cuidadosamente construído, que apresenta 
um argumento teológico sustentado. Romanos é talvez a mais bem 
organizada de todas as cartas do Novo Testamento, o que ajuda a 
explicar por que ela lê tanto como um tratado teológico quanto uma 
carta. A compreensão dos romanos exige, assim, cuidadosa atenção aos 
detalhes de sua doutrina. 
Como um tratado teológico, o livro de Romanos é um grande edifício. 
É preenchido com ideias teológicas elevadas e vocabulário. A retórica é 
muitas vezes grandiosa, assumindo formas como a construção elaborada 
de frases (sintaxe) e padrões de repetição verbal. O que é muitas vezes 
esquecido é que há uma presença contínua de um gênero que tende para 
o informal e que até empresta um vigor coloquial que equilibra sua 
grandeza. Esse gênero, conhecido como diatribe, era usado 
extensivamente por mestres e oradores romanos (também conhecidos 
109 
como pregadores). Os traços da forma incluíam o seguinte: diálogo com 
questionadores hipotéticos ou oponentes; como parte disso, construções 
de perguntas e respostas, às vezes como catecismo em efeito; uso de 
perguntas ou objeções hipotéticas como uma transição para o próximo 
tópico; perguntas retóricas; adicionando figuras famosase 
representativas do passado como exemplos; uso da analogia como 
dispositivo retórico; e estilo aforístico. 
O livro é unificado principalmente pela coerência de seu argumento 
central, que delineia e explica o plano eterno de Deus para a salvação dos 
pecadores. A declaração da tese do livro (veja 1.16-17) alerta o leitor 
para o lugar central que a justiça de Deus ocupa neste plano - a justiça 
que Deus tanto exige em obediência e oferece como um dom gratuito em 
Cristo, recebido por fé. 
O Livro de Romanos pode ser dividido em quatro seções: 
1. justiça necessária (1.18–3.20); 
2. justiça provida (3.21-8.39); 
3. justiça vindicada (9.1-11.36); 
4. justiça praticada (12.1-15.13). 
Esboço de Romanos: 
I. Saudações e Introdução (1.1-15) 
II. Tema (1.16,17) 
III. Condenação: A Necessidade da Justiça de Deus (1.18-3.20) 
a. Gentios Injustos (1.18-32) 
b. Judeus Injustos (2.1-3: 8) 
c. A Humanidade Injusta (3.9-20) 
IV. Justificação: A Provisão da Justiça de Deus (3.21-5.21) 
a. A Fonte da Justiça (3.21-31) 
b. O Exemplo da Justiça (4.1-25) 
c. A Bênção da Justiça (5.1-11) 
110 
d. A Imputação da Justiça (5.12-21) 
V. Santificação: A Demonstração da Justiça de Deus (6.1-8: 39) 
VI. Restauração: A Recepção de Israel da Justiça de Deus (9.1-11: 
36) 
VII. Aplicação: O Comportamento da Justiça de Deus (12.1-15: 13) 
VIII. Conclusão, Saudações e Bênção (15.14-16.27) 
O Objetivo da Escrita: 
Os propósitos de Paulo para escrever esta carta eram variados: 
1. O propósito primordial de Paulo ao escrever Romanos era 
ensinar as grandes verdades do evangelho da graça aos 
crentes que nunca haviam recebido instrução apostólica. 
2. Paulo parece ter ganho conhecimento de algumas disputas 
contínuas entre os crentes judeus e os crentes gentios, 
provavelmente como resultado da expulsão de todos os 
judeus de Roma e seu posterior retorno a uma igreja 
culturalmente diferente, com uma liderança diferente. Esta 
parece ter sido uma das suas principais preocupações, como 
escreveu, embora a carta seja multidimensional. Paulo 
escreveu uma mensagem unificada aos cristãos romanos, 
acreditando que Cristo havia chamado a igreja para ser um 
corpo unificado. Paulo usou este motivo para trazer a esses 
cristãos não apenas a mensagem de unidade, mas para 
transmitir-lhes uma mensagem do evangelho da graça que 
vem a todos os que estão em Cristo. 
3. Para apresentar-se à igreja romana como ele planejava visitar 
lá no futuro próximo. Houve muita oposição a Paulo por 
judeus convertidos sinceros em Jerusalém (o Conselho de 
Jerusalém de Atos 15), por judeus legalistas (judaizantes em 
Gálatas e 2 Coríntios 3.10-13), e por gentios (colossenses, 
111 
efésios) que tentaram fundir o evangelho com suas teorias ou 
filosofias (isto é, gnosticismo). 
4. Para criar um interesse na igreja em Roma por sua viagem 
missionária à Espanha. Paulo viu seu trabalho apostólico no 
Mediterrâneo oriental já concluído (15. 20-23, 28). 
5. Para apresentar uma declaração completa de sua posição 
doutrinária do Evangelho, tornando-a mais um tratado do que 
uma carta que surgiu de situações históricas. Paulo foi 
acusado de ser um inovador perigoso, acrescentando 
imprudentemente ao ensinamento de Jesus. O livro de 
Romanos era sua maneira de se defender sistematicamente 
mostrando como o seu evangelho era verdadeiro, usando o 
Antigo Testamento e os ensinamentos de Jesus (os 
Evangelhos). 
Fatos Curiosos da Carta aos Romanos: 
 O livro de Romanos é um tratado sistemático do cristianismo. 
Romanos lê mais como um ensaio teológico elaborado do que uma 
carta. 
 É a mais teológica / doutrinária de todas as cartas de Paulo. 
 É a mais longa das cartas de Paulo. 
 Paulo usa um grande número de citações do Antigo Testamento. 
 Foi escrito para uma igreja que Paulo não fundou. 
 Romanos contém mais saudações do que qualquer outro livro da 
Bíblia. Paulo menciona 35 pessoas no capítulo 16; 27 moravam em 
Roma no momento em que escreveu. 
 Romanos, Gálatas e Hebreus expõem Habacuque 2.4: “Olhe para os 
arrogantes, os perversos que em si mesmos confiam; o justo, 
porém, viverá pela sua fé”. 
 A frase “de Deus” ocorre 59 vezes em Romanos. 
112 
 Agostinho foi convertido em 386 d.C. lendo Romanos 13.13-14: 
“Vamos nos comportar com decência, como fazemos na luz do dia, 
não em farras e bebedeiras, não em imoralidade sexual e nas 
práticas sexuais sem limite, sem sentir vergonha e sem se importar 
com o que os outros pensam, não em discussões e inveja. Mas, se 
revistam com o Senhor Jesus Cristo, e não fiquem pensando e 
planejando como satisfazer os desejos da sua natureza 
pecaminosa”. 
 O entendimento de Martinho Lutero a respeito de salvação foi 
radicalmente mudado em 1513 d.C., quando ele comparou Salmos 
31.1 (Em ti, SENHOR, me refugio; não permitas que eu seja 
envergonhado. Salva-me por causa da tua justiça) com Romanos 
1.17 (Pois nas Boas Notícias é revelado como Deus faz pessoas 
justas aos olhos dele por meio da justiça que vem dele. E isto é 
realizado do princípio ao fim pela fé. Como as Escrituras dizem: "O 
justo viverá pela fé"). 
 João Wesley, passando por uma reunião menonita em Londres, em 
1738 d.C., foi convertido depois de ouvir o sermão de Lutero sobre 
a introdução de Romanos sendo lido porque o pregador designado a 
pregar não apareceu! 
 Romanos não lida com nenhum grande erro na igreja, como na 
maioria de suas outras cartas. 
 Até recentemente, Romanos foi estudado em faculdades de direito 
americanas para ensinar aos alunos a arte de apresentar um 
argumento. 
 Uma das estratégias de ensino de Paulo em Romanos é usar 
perguntas, mais ou menos 85, para acompanhar seu argumento e 
ajudar seus leitores a pensar bem sobre o que ele está escrevendo. 
 Uma carta antiga tinha na média apenas 87 palavras. O estadista 
romano Cícero tinha em média 295 palavras por carta e Sêneca 
tinha em média 995 palavras. Com isso em mente, a carta de Paulo 
aos Romanos é de 7.114 palavras. 
113 
A Importância da Carta aos Romanos: 
O livro de Romanos é a apresentação mais clara e sistemática da 
doutrina cristã em todas as Escrituras. Como tal, tem sido 
excepcionalmente importante no desenvolvimento da teologia cristã. 
Romanos estava no centro da Reforma Protestante e pode ser 
considerada uma das cartas mais importantes já escrita. 
Para Pensar: 
A estrutura de Romanos fornece uma sugestão sobre a importância 
do livro em nossas vidas diárias. Começando com onze capítulos de 
doutrina, o livro então transita em cinco capítulos de instrução prática. 
Essa união entre doutrina e vida ilustra para os cristãos a importância 
absoluta tanto do que cremos quanto de como vivemos essas crenças. 
Sua vida cotidiana reflete as crenças que você mantém, ou você se 
encontra em uma constante batalha contra a hipocrisia? 
Conhecer o livro de Romanos é conhecer o cristianismo! A carta 
molda a vida e os ensinamentos de Jesus em verdades fundamentais para 
a Igreja de todas as idades. Martinho Lutero chamou-o: "O principal livro 
do Novo Testamento e o mais puro evangelho!" 
 
 
 
 
 
 
 
114 
 
CAPÍTULO 9 
 
1 CORÍNTIOS 
 
A primeira coisa que vamos notar da primeira carta aos coríntios é 
que tem o nome da cidade de Corinto, em que a igreja a quem foi escrita 
estava localizada. Com exceção das epístolas pessoais endereçadas a 
Timóteo, Tito e Filemom, todas as cartas de Paulo levam o nome da 
cidade em que a igreja endereçada existia. 
A segunda é que, embora seja chamado 1 Coríntios, não foi a 
primeira carta de Paulo para aquela igreja, é apenas a primeira que foi 
encontrada. Antes de escrever esta carta, Paulo havia escrito à igreja 
outra correspondência (1 Coríntios 5.9), que também era corretiva por 
natureza. Como uma cópia dessa carta nunca foi descoberta, ela tem sido 
referida como "a epístola perdida". 
A igreja em Corinto foi fundada por Paulo em sua segundaviagem 
missionária (Atos 18.1-17). Ele visitou Corinto por volta de 50 d.C., 
durante a última fase desta segunda viagem, depois de iniciar igrejas na 
Macedônia: Filipos, Tessalônica e Bereia (Atos 16-17). Ele foi a Corinto 
depois de visitar Atenas e ficou com alguns fazedores de tendas judeus, 
Áquila e Priscila, que haviam sido forçados a deixar Roma recentemente 
devido a um decreto do imperador Cláudio (cerca de 49 d.C.; Atos 18.2-
3). Silas e Timóteo se juntaram a Paulo em Corinto, e sob o ministério 
deles, a igreja cresceu. Paulo parece ter estado em perigo durante esse 
tempo (Atos 18.9-10). Ele ficou em Corinto dezoito meses (Atos 18.11), e 
depois foi para Éfeso, onde permaneceu por cerca de três anos (53-55 
d.C.), e de onde ele escreveu esta carta aos coríntios. 
115 
Em algum momento, antes ou enquanto ele estava em Éfeso, Paulo 
escreveu sua primeira carta aos coríntios. Como já falamos, esta carta, 
que precedeu 1 Coríntios, infelizmente não existe mais. O conteúdo desta 
carta não é completamente conhecido, mas algumas ideias podem ser 
extraídas de 1 Coríntios. 1 Coríntios é a resposta a uma carta que Paulo 
recebeu da igreja de Corinto, que eles escreveram provavelmente como 
uma resposta a esta carta anterior. O apóstolo escreve em 1 Coríntios 
5.9: "Na carta que escrevi antes para vocês, falei para não se associarem 
com pessoas que praticam imoralidade sexual". Tudo o que pode ser 
concluído sobre a carta anterior são os três fatos a seguir: a carta foi 
escrita após a permanência de Paulo em Corinto, mas antes da 
composição de 1 Coríntios; a carta lidou (pelo menos em parte) com a 
questão da associação com o sexualmente imoral; e sua carta foi mal 
entendida ou não foi levada a sério. 
Depois que a primeira carta foi escrita, além da carta que Paulo 
recebeu dos Coríntios, na qual ele foi perguntado sobre vários tópicos, ele 
também recebeu relatórios sobre a igreja. Da casa de Cloe, ele recebeu 
relatos de divisão (1.11), outros relatos de imoralidade sexual (5.1) e 
mais relatos de divisão (11.18). E Estéfanas, Fortunato e Acaico fizeram 
uma visita refrescante a Paulo (16.17) com mais informações. Com todos 
esses relatórios e cartas em mente, Paulo escreveu sua segunda carta aos 
Coríntios, que detém o nome canônico de "1 Coríntios". 
Autor: 
Como indicado no primeiro versículo, a carta foi escrita pelo apóstolo 
Paulo, cuja autoria não pode ser seriamente questionada. A autoria 
paulina tem sido aceita universalmente pela igreja desde o primeiro 
século, quando 1 Coríntios foi escrito. 
No total, Paulo escreveu quatro cartas para esta igreja: (1) a carta 
anterior mencionada em 1 Coríntios 5.9; (2) 1 Coríntios; (3) a carta 
116 
severa e chorosa mencionada em 2 Coríntios 2.3–4; e (4) 2 Coríntios. 
Apenas 1 e 2 Coríntios sobreviveram. 
Data de redação: 
O apóstolo Paulo escreveu esta carta para a igreja de Corinto em 53–
55 d.C. enquanto Paulo estava em sua terceira viagem missionária e 
perto do final de seu ministério de três anos em Éfeso (Atos 19.21–22). 
Público da Carta: 
1 Coríntios foi escrito para a jovem igreja que residia em Corinto da 
Acaia e era composta principalmente de gentios. A população de Corinto 
era racialmente e culturalmente mista. Sabemos da arqueologia e da 
Escritura (Atos 18.4-8) que havia uma sinagoga em Corinto. 
A carta parece refletir vários grupos na igreja: 
 gregos intelectuais que ainda estavam muito orgulhosos de suas 
tradições filosóficas e estavam tentando combinar a revelação cristã 
com esses velhos costumes e tradições intelectuais; 
 patronos romanos e a elite social; 
 um contingente judeu crente formado principalmente por gentios 
"tementes a Deus", que frequentavam a sinagoga; e 
 um grande número de escravos convertidos. 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
Como já foi falado, Paulo escreveu 1 Coríntios durante sua terceira 
viagem missionária, perto do final de seu ministério de três anos em 
Éfeso. A estratégia missionária de Paulo era implantar uma igreja nas 
principais cidades de sua época, sabendo que os visitantes convertidos, os 
vendedores ambulantes e os marinheiros espalhariam o evangelho 
enquanto iam. Coube à igreja local assumir a responsabilidade pelo 
117 
evangelismo e discipulado de sua região. Tanto Corinto quanto Éfeso 
eram cidades portuárias cheias de idolatria e filosofia pagãs. 
 
Antes de entrarmos no pano de fundo da carta aos coríntios, deixe-
me dar uma breve história da cidade de Corinto, que antecedeu a época 
em que Paulo escreveu esta carta. Em 146 d.C. Corinto estava envolvido 
numa revolta contra Roma, foi destruído pelo general romano Lúcio 
Múmio e a população grega que não foi morta se dispersou em 
escravidão. Devido a sua importância econômica e militar, foi 
reconstruída em 44 d.C. por Júlio César e restabelecido como colônia 
romana. A nova Corinto floresceu e se tornou a capital administrativa da 
província romana de Acaia por volta de 27 d.C. Foi uma imitação de Roma 
em arquitetura e cultura. Desde que os romanos, em 146 d.C., 
destruíram a cidade e mataram ou escravizaram todos os seus cidadãos, 
o sabor grego da cidade foi substituído por seu status colonial romano. 
118 
Este contexto cultural romano, em vez da cultura grega, faz uma 
diferença significativa na interpretação de 1 Coríntios. 
Quando o apóstolo Paulo chegou, Corinto tinha a maior população da 
Grécia, com gregos, judeus e romanos. Enquanto a maioria de Corinto era 
grega, os nomes latinos mencionados na carta de Paulo atestam sua 
influência romana. Por exemplo, os judeus tinham nomes romanos: 
Áquila (1 Coríntios 16.19) e Crispo (1 Coríntios 1.14). Caio (1 Coríntios 
1.14) e Fortunato (1 Coríntios 16.17) parecem ser romanos. Apenas 
Acaico (1 Coríntios 16.17) é um nome grego. Havia também um grande 
número de veteranos militares romanos que se retiraram para lá. E havia 
muitos escravos (ao algum tempo, diz-se que Corinto tinha 200.000 
homens livres e 500.000 escravos). 
A cidade de Corinto estava localizada no sul da Grécia, no que era a 
província romana de Acaia, mais ou menos 72 km ao oeste de Atenas. Na 
época de Paulo, Corinto era a cidade mais importante da Grécia. Sentado 
sobre o istmo que une a Península do Peloponeso à Grécia continental, 
Corinto controlava tanto o Golfo Sarônico, a leste, quanto o Golfo de 
Corinto, ao norte. Como as viagens pelo mar ao redor do Peloponeso 
envolviam uma viagem de 400 quilômetros, que era perigosa e 
obviamente demorada, a maioria dos capitães carregava seus navios em 
derrapagens ou rolos pelo istmo passando diretamente por Corinto. 
Corinto compreensivelmente prosperou como uma grande cidade 
comercial, não apenas para a maior parte da Grécia, mas para grande 
parte da área do Mediterrâneo, incluindo o norte da África, a Itália e a 
Ásia Menor. Um canal através do istmo foi iniciado pelo imperador Nero 
durante o primeiro século d.C., mas não foi concluído até o final do século 
XIX. 
Os bianuais Jogos Ístmicos que começaram em 581 d.C. (no Templo 
de Poseidon) foi um dos dois eventos atléticos mais famosos daquele 
tempo (perdendo apenas para os Jogos Olímpicos realizados em Atenas, a 
119 
cada quatro anos), e foi organizado por Corinto, causando mais tráfego 
de pessoas. Mesmo pelos padrões pagãos de sua própria cultura, Corinto 
tornou-se tão moralmente corrupto que seu próprio nome se tornou 
sinônimo de devassidão e depravação moral. “Corintianizar” passou a 
representar imoralidade grosseira (praticar a imoralidade sexual) e 
devassidão bêbada, e a expressão “garota coríntia” designou uma 
prostituta. Em 1 Coríntios 6.9-10, Paulo lista alguns dos pecados 
específicos pelos quais a cidade foi notada e que anteriormente 
caracterizaram muitos crentes na igreja de lá. Tragicamente, alguns dos 
piores pecados ainda foram encontrados entre alguns membros da igreja. 
Um desses pecados, o incesto, foi condenadoaté pela maioria dos gentios 
pagãos (5.1). 
Como a maioria das antigas cidades gregas, Corinto tinha uma 
acrópole (literalmente "cidade alta"), que se elevava a 600 metros e era 
usada tanto para defesa quanto para adoração. O edifício mais 
proeminente da acrópole era o templo de Afrodite, a deusa grega do 
amor. Cerca de mil sacerdotisas, que eram prostitutas "religiosas", viviam 
e trabalhavam lá e desciam à noite para oferecer seus serviços a cidadãos 
do sexo masculino e visitantes estrangeiros. Em Corinto, além de 
Afrodite, você podia encontrar seitas para os deuses do Egito, Roma e 
Grécia. Em um cenário como este, não é de admirar que a igreja de 
Corinto sofresse com numerosos problemas. 
 A Estrutura: 
1 Coríntios seguem a forma de uma carta típica do primeiro século, 
embora seu conteúdo seja regido pela situação específica da igreja de 
Corinto. Por exemplo, os elementos usuais de saudação, agradecimento e 
parênese (conjunto de exortações morais) recebem tratamento escasso. 
O corpo da carta é tomado por situações e perguntas da igreja de Corinto 
que Paulo aborda, e o fechamento (cap. 16) é extenso por causa dos 
negócios que Paulo tem com a igreja. Os modos retóricos de exortação e 
120 
instrução dominam a carta. O capítulo 13 é um encômio (um tributo 
escrito) em louvor do amor. 
A carta faz uso extensivo de técnicas retóricas como contraste, 
repetição e analogia. Traça fortes contrastes entre a verdade e o erro e 
entre o bem moral e o mal. Porque Paulo considera os cristãos de Corinto 
como estando além do que é considerado comportamento aceitável em 
várias áreas, a carta exibe um forte tom corretivo. 
Assim, a primeira carta do apóstolo Paulo à igreja em Corinto é um 
tesouro de teologia prática para os cristãos que enfrentam desafios 
cotidianos. Ela fornece instruções de Paulo para os cristãos que lutam 
com questões da vida real, incluindo conflitos de lealdade, diferenças de 
classe, conflitos entre a liberdade pessoal e o bem comum, e a dificuldade 
de liderar um grupo diversificado de pessoas para realizar uma missão 
compartilhada. 
Embora o principal impulso desta carta seja o corretivo de 
comportamento e não de doutrina, Paulo dá ensinamento seminal sobre 
muitas doutrinas que se relacionam diretamente com as questões do 
pecado e da justiça. 
Esboço de 1 Coríntios: (John MacArthur) 
I. Introdução: O Chamado e os Benefícios de Ser o Povo Santo de 
Deus (1.1-9) 
II. Desunião na Igreja (1.10–4.21) 
a. A Necessidade da Unidade (1.10–3.23) 
b. A Necessidade da Servidão (4.1-21) 
III. Imoralidade na Igreja (5.1–6.20) 
IV. Casamento na Igreja (7.1-40) 
V. Liberdade na Igreja (8.1–11.1) 
VI. Adoração na Igreja (11.2–14.40) 
a. Papéis de Homens e Mulheres na Igreja (11.2-16) 
121 
b. A Ceia do Senhor (11.17-34) 
c. Dons Espirituais (12.1–14.40) 
VII. A Esperança da Igreja: Ressurreição (15.1-58) 
VIII. Uma Carga para a Igreja (16.1-24) 
a. Mordomia (16.1-4) 
b. Planos Pessoais e Saudações (16.5-24) 
O Objetivo da Escrita: 
Os propósitos de Paulo para escrever esta carta eram vários. Seu 
primeiro objetivo era lidar com os problemas morais e as divisões que se 
formaram quando as pessoas se dividiram em fã-clubes e se 
proclamavam seguidores de Paulo, Apolo, Pedro ou Cristo (1.10). Seu 
segundo motivo foi lidar com várias perguntas feitas em uma carta que os 
coríntios haviam enviado a ele (7.1). Um terceiro propósito que aparece 
ao longo do livro é a defesa de Paulo de sua autoridade apostólica. Assim, 
a teologia desta carta é diretamente afetada por seu propósito. Ele não 
estava expondo as grandes doutrinas da soteriologia como em Romanos, 
ao contrário, ele aborda muitos problemas que não têm um vínculo 
estreito entre si, mas todos eles tinham em comum o fato de que os 
coríntios estavam experimentando-os. 
Paulo recebeu informações de várias fontes sobre as condições 
existentes na igreja em Corinto e, com base nessas fontes, escreveu a 
carta. 
1. relatório oral dos membros da casa de Cloe, resultando em Paulo 
escrevendo os capítulos 1-4 
2. relatório oral de representantes da igreja (isto é, Estéfanas, 
Fortunato e Acaico), resultando nos capítulos 5-6 
3. perguntas escritas da igreja, resultando nos capítulos 7-16 
Fatos Curiosos da Carta de 1 Coríntios: 
 Escrito antes dos quatro evangelhos. 
122 
 As declarações de Paulo sobre a ressurreição de Jesus constituem o 
mais antigo registro preservado desse evento. 
 O mesmo se aplica à sua descrição da instituição da Ceia do 
Senhor. 
 É chamado de "uma obra-prima da teologia pastoral". 
 É citado mais frequentemente e mais cedo pelos pais da igreja 
primitiva do que qualquer outro escrito de Paulo, que mostra sua 
importância e utilidade. 
 Ambas as cartas coríntias somam pouco mais de um terço do total 
do corpus paulino. 
 Tito levou 1 Coríntios para Corinto. 
 1 e 2 Coríntios são, por conteúdo, as epístolas mais práticas de 
Paulo. 
 Paulo usa o título “O Senhor Jesus Cristo” 6 vezes apenas nos 
primeiros 10 versículos, enfatizando o senhorio de Jesus. 
 1 Coríntios aborda praticamente todos os problemas existentes na 
igreja. 
 2/3 da população de Corinto eram escravos. 
 Corinto continha pelo menos 26 lugares sagrados. 
 De acordo com 1 Coríntios 5.9-11, Paulo havia escrito uma carta 
anterior para a igreja em Corinto, que já foi perdida. Além disso, 2 
Coríntios 2.4 aponta para outra carta ainda não encontrada hoje. 
Portanto, 1 e 2 Coríntios são, na verdade, a segunda e quarta 
cartas de Paulo para aquela igreja. Consequentemente, isso torna a 
igreja em Corinto a única igreja conhecida para a qual Paulo enviou 
4 cartas. 
A Importância da Carta de 1 Coríntios: 
A primeira carta de Paulo à igreja de Corinto nos dá uma visão mais 
completa da vida de uma comunidade cristã primitiva da primeira geração 
do que qualquer outro livro do Novo Testamento, e nenhuma outra carta 
123 
no Novo Testamento nos dá um quadro mais prático e a aplicação da fé 
cristã às questões cotidianas da vida. 
Aqui, vemos Paulo, um pastor, lidando com uma igreja problemática. 
Nesta carta e em Gálatas, vemos que ele aplica a verdade universal do 
evangelho de maneiras diferentes, com base na necessidade da igreja: 
liberdade para as igrejas da Galácia / limites para a igreja de Corinto. 
A carta ilustra bem a mente e o caráter de Paulo. Embora ele seja 
impelido a insistir em seu ofício como fundador da comunidade, ele 
reconhece que é apenas um servo de Deus entre muitos e generosamente 
reconhece os trabalhos de Apolo (3.5-8). Ele nos fornece nesta carta 
muitos exemplos valiosos de seu método de reflexão e exposição 
teológica. Ele sempre trata as perguntas com que está lidando no nível da 
pureza do ensino e da conduta cristã. 
Embora Paulo tenha escrito especificamente para a igreja que ele 
havia estabelecido em Corinto, a carta é relevante para todos os 
seguidores de Cristo, tanto para instruir quanto para inspirar. 
Para Pensar: 
Uma igreja inevitavelmente refletirá até certo ponto a sociedade em 
que ela existe. Essa reflexão não precisa necessariamente estar em 
proporção direta; na verdade, não se atreve a ser. A comunhão redentora 
conhecida como igreja do Novo Testamento possui uma dimensão 
desconhecida para o mundo; consequentemente, a igreja não deve ser 
conformada ao seu ambiente. Mas aqueles redimidos que compõem a 
igreja são tirados do mundo cuja influência é tantas vezes má, e essa 
influência continua a ser sentida após a conversão. 
Incrivelmente, quase 2.000 anos depois, a maioria das questões e 
problemas que confrontavam a igreja em Corinto ainda está conosco: 
problemas como imaturidade, instabilidade, divisões, ciúme e inveja, 
124 
processos judiciais, dificuldades conjugais, imoralidade sexual e uso 
indevido de dons espirituais. Mas lembre-se da garantia graciosa de 
Paulo: “E alguns de vocês eram assim. Mas vocês foram lavados, foramsantificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e pelo 
Espírito de nosso Deus” (6.11). 
Sejamos aqueles que “eram assim” e não aqueles que “ainda são”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
125 
 
CAPÍTULO 10 
 
2 CORÍNTIOS 
 
Assim como a carta de 1 Coríntios, a primeira coisa que vamos notar 
de 2 Coríntios é que tem o nome da cidade de Corinto, em que a igreja a 
quem foi escrita estava localizada. Com exceção das epístolas pessoais 
endereçadas a Timóteo, Tito e Filemom, todas as cartas de Paulo levam o 
nome da cidade em que a igreja endereçada existia. 
A segunda é que, embora seja chamado 2 Coríntios, não foi a 
segunda carta de Paulo para aquela igreja, é apenas a segunda que foi 
encontrada. Na verdade foi a sua quarta carta aos Coríntios. As quatro 
cartas foram: (1) a primeira que nunca foi descoberta, mencionada em 1 
Coríntios 5.9; (2) 1 Coríntios; (3) a carta severa e chorosa que também 
nunca foi descoberta, mencionada em 2 Coríntios 2.3–4; e (4) 2 
Coríntios. 
Paulo escreveu essa carta da Macedônia. A tradição antiga favorece a 
visão de que Filipos era o lugar de onde esta carta foi enviada pelas mãos 
de Tito. Embora existem alguns que se sentem que poderia ter sido 
enviada de Tessalônica. 
O estilo é mais variado e passa rapidamente de uma fase de 
sentimento para outra; agora alegre e consolador, novamente severo e 
cheio de repreensão; uma vez gentil e afetuosa, em outro, severamente 
repreendendo os oponentes e defendendo sua dignidade como um 
apóstolo. Esta variedade de estilo está de acordo com o caráter caloroso e 
sincero do apóstolo, que em nenhum lugar se manifesta de modo mais 
126 
belo do que nesta epístola. O tom amplamente diferente em diferentes 
partes da carta é devido à diversidade que existia em Corinto entre a 
maioria penitente e a minoria insubmissa e teimosa. O primeiro ele 
aborda com o carinho mais caloroso; o último com ameaça e advertência. 
As duas cartas a igreja de Corinto encontradas na Bíblia são bem 
diferentes, com tons e focos diferentes. 
1 Coríntios 2 Coríntios 
Prático Pessoal 
Concentra-se no caráter da igreja. Concentra-se em Paulo enquanto 
ele descobre sua alma e fala de 
seu amor por eles. 
Lida com questões a respeito de 
casamento, liberdade, dons 
espirituais e ordem na igreja. 
Lida com os problemas dos falsos 
mestres, por meio dos quais Paulo 
defende a sua autoridade e a 
verdade de sua mensagem. 
Paulo instrui em questões 
relacionadas ao bem-estar da 
igreja. 
Paulo dá seu testemunho porque 
sabe que a aceitação de seu 
conselho é vital para o bem-estar 
da igreja. 
Contém conselhos para ajudar a 
igreja a combater as influências 
pagãs da cidade perversa de 
Corinto. 
Contém testemunho para ajudar a 
igreja a combater o caos causado 
pelos falsos mestres. 
127 
 O tema central de 2 Coríntios é o relacionamento entre o 
sofrimento e o poder do Espírito no ministério, na mensagem e na vida 
apostólica de Paulo. Os oponentes de Paulo haviam questionado seus 
motivos e sua coragem pessoal. Eles argumentaram que ele havia sofrido 
demais para ser um apóstolo cheio do Espírito do Cristo ressuscitado. Mas 
Paulo argumenta que seu sofrimento é o meio usado por Deus para 
revelar a Sua glória (1.3–4, 11, 20). 
Autor: 
Paulo é o autor desta carta (vs. 1.1: “Esta carta é de Paulo” e 10.1: 
“Agora, eu mesmo, Paulo, quero fazer um apelo a vocês”). Está 
estampado com seu estilo e contém mais material autobiográfico do que 
qualquer um de seus outros escritos. 
Data de redação: 
O apóstolo Paulo escreveu 2 Coríntios da Macedônia durante sua 
terceira viagem missionária em torno de 55-56 d.C. Isso aconteceu 
aproximadamente um ano depois de ele escrever 1 Coríntios e um ano 
antes de escrever sua carta aos romanos. 
Público da Carta: 
A saudação inicial da carta declara que foi dirigida à igreja em 
Corinto e aos cristãos em toda a Acaia (a província romana 
compreendendo toda a Grécia ao sul da Macedônia). 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
2 Coríntios é uma resposta a uma história complicada entre Paulo e a 
igreja de Corinto. Originalmente, Paulo havia planejado viajar de Éfeso 
através da Macedônia para Corinto, em seu caminho de volta a 
Jerusalém, para entregar o dinheiro que ele havia coletado para os 
crentes na Judeia (1 Coríntios 16.5–9). Nesse meio tempo, ele enviou 
128 
Timóteo para visitar os coríntios em seu nome (Atos 19.22; 1 Coríntios 
16.10-11). 
 
Quando Timóteo chegou a Corinto, ele descobriu que a igreja estava 
em tumulto, provavelmente em resposta à chegada dos oponentes de 
Paulo do oriente; um grupo de homens que se apresentaram como 
apóstolos. Eles eram falsos mestres que desafiavam, entre outras coisas, 
a integridade pessoal de Paulo e sua autoridade como apóstolo. Quando 
Paulo ficou sabendo disso, ele decidiu ir imediatamente a Corinto para 
resolver esses problemas primeiro, e depois viajar para a Macedônia 
antes de retornar a Corinto para uma segunda visita a caminho de 
Jerusalém. 
A visita de Paulo, no entanto, acabou sendo muito “dolorosa” como 
resultado da rebelião aberta da igreja contra ele (2.1, 5-8; 7.8–13; 11.4). 
Naquela época, Paulo decidiu que era melhor sofrer humilhação e sair, 
129 
sem retaliar, para estender a misericórdia aos coríntios (1.23–24). Uma 
vez de volta a Éfeso, Paulo enviou Tito de volta a Corinto com uma carta 
chorosa e severa (agora perdida), advertindo a igreja do julgamento de 
Deus se eles não se arrependessem (2.3-4; 7.8-16). 
Depois de escrever a carta severa, Paulo pensou duas vezes. Ele 
estava profundamente preocupado sobre como os coríntios poderiam 
reagir a isso. Assim, depois do tumulto causado por Demétrio e seus 
colegas (Atos 19.23-41), ele deixou Éfeso e partiu para a Macedônia por 
meio de Trôade. Ele esperava encontrar Tito em Trôade para obter 
notícias do efeito de sua carta severa na igreja de Corinto, mas Tito não 
estava lá (2.12–13). Ainda profundamente preocupado e apesar do fato 
de que o Senhor abriu uma oportunidade para pregar o evangelho em 
Trôade, Paulo disse adeus aos crentes e foi para a Macedônia, onde 
encontrou Tito. Para seu alívio, as notícias da igreja de Corinto eram 
basicamente boas. A carta severa trouxe os resultados pretendidos (7.5-
16). A maioria dos coríntios se arrependeu, mas ainda havia uma minoria 
rebelde que, sob a influência dos oponentes de Paulo (11.12-21), 
continuava a rejeitar Paulo e seu evangelho. Em resposta, e como ainda 
outro ato de misericórdia, Paulo escreveu 2 Coríntios da Macedônia em 
antecipação de sua terceira visita iminente a Corinto antes de ir a 
Jerusalém (12.14; 13.1). 
A Estrutura: 
2 Coríntios é uma carta ocasional informal, com uma organização 
desarticulada e numerosos “apartes” que são introduzidos sem vínculos 
suaves ao material anterior. A carta é também um manual missionário, 
baseado nas experiências missionárias da vida real do autor. As 
convenções usuais da epístola aparecem cedo e tarde com a saudação, 
agradecimento e encerramento. A parênese convencional (lista de 
exortações morais) está ausente. Ocupando lugares proeminentes no 
corpo da carta, há uma defesa estendida da vida e do ministério do Paulo 
130 
e uma ostentação formal numa versão espiritualizada dela. A carta é 
muito ocasional, o que significa que está repleta de referências a eventos 
específicos da vida e do ministério de Paulo. No fundo pode ser visto o 
gênero familiar da autobiografia. 2 Coríntios é também uma carta de 
apelo missionário que pede apoio espiritual e financeiro. 
2 Coríntios mistura uma série de características estilísticas ou 
ingredientes, incluindo autorretrato, explosões líricas de emoção, 
denúncia de oponentes, sarcasmo, ameaças e expressões de afeto 
pessoal. Além disso, o estilo é muito pessoal e autobiográfico, repleto de 
referências à vida de Paulo. O estilo exaltado frequentementeaparece, 
com vocabulário impressionante, catálogos ou listas, construções 
paralelas e embelezamentos retóricos, como contraste e paradoxo. 
A estrutura da carta refere-se principalmente a iminente terceira 
visita de Paulo à Corinto, e cai naturalmente em três seções: 
1. Paulo explica o motivo das mudanças em seu itinerário (capítulos 
1-7). 
2. Paulo incentiva os coríntios a completar a sua coleta em 
preparação para a sua chegada (capítulos 8-9). 
3. Paulo enfatiza a certeza de sua vinda, sua autenticidade como 
apóstolo e sua prontidão para exercer disciplina, se necessário 
(capítulos 10-13). 
O Objetivo da Escrita: 
Por causa da ocasião que motivou esta carta, Paulo tinha vários 
propósitos em mente: 
1. Expressar o consolo e a alegria que sentia porque os coríntios 
haviam respondido favoravelmente à sua dolorosa carta (1.3-4; 
7.8-9, 12-13). 
131 
2. Para que eles saibam sobre as dificuldades que ele passou na 
província da Ásia (1.8-11). 
3. Para explicar por que ele havia mudado seus planos de viagem 
(1.12-2.4). 
4. Pedir-lhes que perdoem a pessoa que ofendeu (2.5-11). 
5. Para avisá-los para que “não se juntem com aqueles que são 
incrédulos” (6.14—7.1). 
6. Explicar a eles a verdadeira natureza (suas alegrias, sofrimentos e 
recompensas) e o alto chamado do ministério cristão. Esta é a 
chamada grande digressão, mas, de certa forma, é a seção mais 
importante da carta (2.14—7.4). 
7. Ensinar aos coríntios sobre a graça de dar e certificar-se de que 
eles completem a coleção da oferta para os cristãos pobres em 
Jerusalém (capítulos 8–9). 
8. Lidar com a oposição minoritária na igreja (capítulos 10–13). 
9. Preparar os coríntios para a sua próxima visita (12.14; 13.1-3, 
10). 
Esboço de 2 Coríntios: 
I. Apologético: Explicação de Paulo sobre sua Conduta e Ministério 
Apostólico (capítulos 1–7) 
a. Saudações (1.1-2) 
b. Gratidão pelo consolo divino na aflição (1.3-11) 
c. A integridade dos motivos e conduta de Paulo (1.12—2.4) 
d. Perdoar o ofensor em Corinto (2.5-11) 
e. Direção de Deus no ministério (2.12-17) 
f. Os crentes coríntios - uma carta de Cristo (3.1-11) 
g. Ver a glória de Deus com as faces desveladas (3.12—4.6) 
h. Tesouro em vasos de barro (4.7-16a) 
i. A perspectiva da morte e o que significa para o cristão 
(4.16b—5.10) 
j. Ministério da reconciliação (5.11—6.10) 
132 
k. Apelo do pai espiritual a seus filhos (6.11—7.4) 
l. O encontro com Tito (7.5-16) 
II. Exortação: A coleta para os cristãos em Jerusalém (capítulos 8–
9) 
a. Generosidade incentivada (8.1-15) 
b. Tito e seus companheiros enviados a Corinto (8.16—9.5) 
c. Resultados da generosidade (9.6-15) 
III. Polêmico: A Reivindicação de Paulo de sua Autoridade Apostólica 
(capítulos 10–13) 
a. Paulo defende sua autoridade apostólica e a área de sua 
missão (capítulo 10) 
b. Paulo forçado em loucura tola (capítulos 11–12) 
c. Advertências finais (13.1-10) 
d. Conclusão, saudações finais e bênção (13.11-14) 
Fatos Curiosos da Carta de 2 Coríntios: 
 Esta é uma das cartas mais intensas e pessoais de Paulo. Não é 
muito sistemática, lendo mais como um diário do que uma carta 
oficial. 
 Esta é a mais autobiográfica das cartas de Paulo e tem sido 
chamada Apologia Pro Vita Sua (Uma Defesa da Própria Vida). 
 Tito e outro irmão levaram 2 Coríntios à igreja em Corinto. 
 Os únicos exemplos da omissão do nome de um “irmão” específico 
nas cartas de Paulo são os três em 2 Coríntios 8.18, 22 e 12.18. Em 
cada um desses casos, o irmão está sendo elogiado, por isso Paulo 
não tinha motivos para guardar seus nomes e todas as razões para 
nomeá-los. 
 Quando Paulo fez sua terceira viagem a Corinto, escreveu a carta 
romana aos irmãos em Roma. 
 2 Coríntios 8-9 é a discussão mais longa dos princípios e práticas de 
ofertar encontrados no Novo Testamento. 
133 
 A congregação coríntia aparentemente superou suas brigas, 
eventualmente. Nas últimas décadas do primeiro século cristão, o 
líder da igreja romana Clemente cumprimentou-os em uma carta. 
Ele escreveu que eles “não tinham malícia um com o outro. Toda 
sedição e todo cisma foi abominável para vocês”. 
 Em 2 Coríntios, diferentes formas da palavra “ministério” são 
usadas cerca de 18 vezes. 
 Em 2 Coríntios, o companheiro e ajudante de Paulo, Tito, é 
mencionado pelo nome não menos que 9 vezes, muito mais do que 
qualquer outra pessoa. 
A Importância da Carta de 2 Coríntios: 
Se 1 Coríntios nos dá uma visão inigualável da vida cotidiana de uma 
igreja do Novo Testamento, 2 Coríntios nos oferece um vislumbre único 
do coração e da alma do apóstolo, cujo trabalho fundou e construiu 
aquela igreja. Vemos Paulo trabalhando, ensinando e exemplificando 
transparência, alegria, bons relacionamentos, sinceridade, reputação, 
serviço, humildade, liderança, desempenho e responsabilidade, 
reconciliação, trabalho com não-crentes, encorajamento, generosidade, 
cumprimento oportuno de obrigações e o uso adequado da riqueza. 
Esses assuntos do local de trabalho surgiram por causa das lutas e 
oportunidades diárias que Paulo encontrou em seu próprio trabalho como 
apóstolo. Durante o período que antecedeu a composição de 2 Coríntios, 
Paulo enfrentou qualquer número de “batalhas no exterior e medo no 
interior”, como ele as descreve (7.5). Isso claramente deixou sua marca 
nele, e o resultado é uma carta como nenhum outro no Novo Testamento 
- intensamente pessoal, exibindo uma gama completa de emoções, de 
angústia e agitação a exuberância e confiança. Como resultado dessa 
adversidade, Paulo tornou-se um líder e trabalhador mais efetivo. Todos 
aqueles que querem aprender a ser mais eficazes em seu trabalho, e que 
estão dispostos a confiar em Deus para a capacidade de fazê-lo, 
134 
encontrarão um modelo prático em Paulo e seus ensinamentos em 2 
Coríntios. 
As palavras de Paulo são extremamente desafiadoras porque ele diz 
que servir os outros, até mesmo ao ponto de sofrer, é o caminho para ser 
efetivo na economia de Deus, assim como o próprio Jesus efetuou nossa 
salvação por meio do seu sofrimento na cruz. Paulo, embora esteja muito 
longe da perfeição divina de Jesus, está disposto a viver sua vida como 
um livro aberto, um exemplo de como a força de Deus supera a 
fragilidade humana. Por causa de sua franqueza, Paulo é digno de 
confiança quando afirma que trabalhar de acordo com os caminhos, 
propósitos e valores de Deus é verdadeiramente o caminho para uma vida 
mais plena. Ele nos transmite as palavras do próprio Senhor Jesus: “A 
minha graça é tudo que você precisa, pois o meu poder tem sua perfeita 
manifestação na sua fraqueza” (12.9). Esta admoestação é tão 
importante para o nosso trabalho hoje como foi para os coríntios quando 
Paulo escreveu esta carta. 
Para Pensar: 
Segundo o comentarista Timothy Strange, a cultura coríntia 
glorificava a autoapreciação (eu gosto de mim) e a gratificação própria 
(se é bom, faça). Soa familiar? O impulso para a riqueza e o progresso 
social através de sua reputação, seu trabalho, onde você mora, em quem 
você vota e especialmente através de seu esporte, completamente 
encheu as suas mentes e a atenção, e tomava todo o seu tempo e 
energia; era obsessivo. 
As filosofias predominantes mantinham as pessoas focadas nessa 
vida, ao invés da vida após a morte, esforçando-se para maximizar o 
prazer e minimizar a dor por todos os meios possíveis. Essas filosofias 
afetaram a abordagem das pessoas às religiões do dia. Mas o evangelho 
que Paulo pregou e sobre o qual a igreja em Corinto havia sido fundada, 
era um evangelho do sofrimento. Alguns comentaristas o chamaram de 
135 
um evangelho "para baixo é para cima". Em sua primeira carta aos 
Coríntios, Paulo havia lembrado a eles que: "Mas, Deus escolheu as coisas 
que o mundo considera loucas para envergonhar os sábios. E ele escolheu 
as coisas que o mundo considera fracas para envergonhar os fortes. Deus 
escolheu coisasdesprezadas pelo mundo, coisas consideradas como 
absolutamente nada, e as usou para reduzir a nada o que o mundo 
considera importante, para que ninguém possa se gloriar na presença de 
Deus” (1 Coríntios 1.27-29). Crentes mergulhados na cultura coríntia 
lutavam para ver além do visto, para o invisível. Para eles, havia uma 
grande tensão entre a experiência humana visível e o poder 
aparentemente invisível de Deus. 
Os crentes judeus e gentios em Corinto foram afrontados pelo 
sofrimento de Paulo como um apóstolo do Cristo crucificado. Os crentes 
judeus se lembravam da antiga aliança que prometia bênçãos materiais 
como recompensa pela obediência. Novos crentes gentios lutaram com 
noções culturais de "prazer máximo e dor mínima". Assim, em toda a sua 
carta, Paulo extrai das profundezas de sua experiência pessoal e 
apostólica, procurando explicar a relação entre o sofrimento e o glorioso 
evangelho de Cristo. Ele ensina aos coríntios que o evangelho é sobre a 
experiência humana e o poder de Deus. Teologia e biografia entrelaçadas. 
E ele introduz esse equilíbrio em 2 Coríntios 4.8-9 quando ele fala sobre 
ser… 
 Pressionados por problemas - a experiência humana de Paulo ... 
mas não somos esmagados - o poder de Deus 
 Não sabemos o que fazer - a experiência humana de Paulo ... mas 
não ficamos desesperados - o poder de Deus 
 Perseguidos - a experiência humana de Paulo ... mas nunca 
abandonados - o poder de Deus 
 Derrubados - a experiência humana de Paulo ... mas não destruídos 
- o poder de Deus 
136 
Isto não é apenas teoria para o apóstolo. Paulo sabe que o povo de 
Deus pode ser duramente pressionado, perplexo, perseguido e derrubado. 
Mas Paulo também sabe que é em nossa experiência humana que o poder 
do evangelho é revelado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
137 
 
CAPÍTULO 11 
 
GALÁTAS 
 
Gálatas é a carta mais velha de Paulo no Novo Testamento, embora 
sendo a quarta a ser encontrada. Ela deriva seu título da região da Ásia 
Menor (moderna Turquia), em que as igrejas abordadas estavam 
localizadas. É a única epístola de Paulo especificamente dirigida a igrejas 
em mais de uma cidade. 
As cartas aos Gálatas e Romanos são, respectivamente, as 
expressões mais claras da nova aliança da salvação somente pela graça, 
através da fé somente em Cristo! Gálatas tem sido chamado de "A Magna 
Carta da Liberdade Cristã". 
Há muito em comum entre esta carta e a dos romanos a respeito do 
tema da justificação pela fé somente, e não pela lei. Mas a carta aos 
romanos trata do assunto de modo didático e lógico, sem qualquer 
referência especial; a carta aos gálatas de uma maneira controversa, e 
com especial referência aos judaizantes na Galácia. 
O maior problema da igreja antes de 70 d.C. era a questão do que 
constitui uma pessoa justa diante de Deus. É justificação pela fé ou é pela 
fé mais uma adesão legalista à Lei de Moisés? A justiça é baseada no 
cumprimento da lei que exigia a circuncisão? Este é o problema que Paulo 
enfrentou quando foi chamado para se tornar o apóstolo dos gentios. 
É em torno desta questão crucial que a carta aos gálatas foi escrita. 
Em uma linguagem repleta de emoção e bem objetiva, o apóstolo ataca 
os judaizantes que foram aos lugares em que ele já tinha ido, afastando 
138 
os novos crentes do verdadeiro evangelho, que tinha como tema 
“salvação pela fé em Jesus somente”, a um falso “evangelho” que 
reivindicava salvação pela fé mais a circuncisão. Os judaizantes eram 
cristãos nominais que aceitavam o fato de que Jesus era o Messias 
prometido, mas exigiam que todos os gentios convertidos se tornassem 
judeus pela circuncisão, a fim de se tornarem verdadeiramente justos 
diante de Deus. Ao final das contas, eles estavam tentando fazer judeus 
dos gentios convertidos. 
Se os judaizantes não foram confrontados, o cristianismo teria se 
tornado nada mais que um novo ramo do judaísmo. No entanto, o 
coração das Boas Notícias era o fato de que, em Jesus Cristo, a justiça 
estava disponível tanto para os judeus quanto para os gentios, em 
igualdade de condições. A mensagem de Gálatas ecoa essa mensagem 
em linguagem ressonante. 
Não é de admirar, então, que Martinho Lutero tenha dito da carta: “A 
epístola aos Gálatas é minha epístola. A ela eu sou como se fosse no 
casamento. É a minha Catarina”. Esta carta acendeu os fogos da Reforma 
Protestante. Sua mensagem era uma mensagem de liberdade (não 
licença) em Cristo, liberdade (não irresponsabilidade) sob a direção do 
Espírito de Deus, não sob a tirania do legalismo. Sua mensagem tão 
crucial para a igreja do Novo Testamento, tão vital na reforma sob Lutero, 
é igualmente essencial em nossos dias. 
O estilo combina os dois extremos, a severidade, (1.1-24; 3.1-5) e 
ternura (4.19 e 20); as características de um homem de emoções fortes, 
e ambos igualmente adequados para lidar com um povo impressionável 
como os gálatas. O começo é abrupto, como era adequado à urgência da 
questão e à grandeza do perigo. Um tom de tristeza também é aparente, 
como seria de esperar na carta de um mestre caloroso que acabou de 
descobrir que aqueles a quem ele amava estavam abandonando seus 
139 
ensinamentos para aqueles que pervertem a verdade, além de dar 
ouvidos a calúnias contra si mesmo. 
Gálatas é muito autobiográfico e pessoal. É altamente emocional, 
mas claramente apresenta a verdade do evangelho. 
Autor: 
Das treze cartas tradicionalmente aceitas de ser de Paulo, quatro 
foram mais ou menos universalmente aceitas como autenticamente 
vindas do apóstolo. Estes quatro foram consequentemente conhecidos por 
muitos estudiosos como "o quarteto inexpugnável". Elas são Gálatas, 
Romanos, 1 e 2 Coríntios. 
A evidência para a autoria paulina é grande tanto com base nas 
evidências internas da epístola quanto nas evidências externas derivadas 
de testemunhos e investigações acadêmicas. Do ponto de vista da 
evidência interna, há dois fatores esclarecedores: Primeiro, Gálatas 1.1 e 
5.2 mencionam o nome do escritor como sendo Paulo. Em segundo lugar, 
a seção autobiográfica da carta em 1.11-2.14 não aponta para ninguém 
além de Paulo. 
Data de redação e Público da Carta: 
Para aqueles que estão com pressa e apenas dando uma olhada 
rápida no tema, deixe-me manter a objetividade: Paulo escreveu Gálatas, 
de Antioquia, às igrejas na Galácia em 48-49 d.C., depois da sua primeira 
viagem missionária e antes do Concílio de Jerusalém em 49 d.C. 
Para aqueles que estão realmente lendo tudo, a questão da data está 
intimamente ligada à questão do destino, e é por isso que eu combinei as 
seções da Data de Redação e do Público da Carta. Esses dois aspectos do 
material de referência devem ser tratados em conjunto porque duas 
140 
teorias opostas das identidades dos destinatários afetam a datação da 
carta. 
As duas teorias são a "Teoria do Norte da Galácia" e a "Teoria do Sul 
da Galácia". 
A "Teoria do Norte da Galácia" é a teoria tradicional que foi unânime 
até o décimo oitavo século. Assume-se que "Galácia" refere-se aos 
gálatas étnicos do planalto central do norte da Turquia (1 Pedro 1.1). 
Esses gálatas étnicos eram celtas (grego Keltoi ou latim Gall) que 
invadiram essa área no terceiro século a.C. Eles foram chamados de 
"Gallo-Graecians" para distingui-los de seus irmãos da Europa Ocidental. 
Eles foram derrotados em 230 a.C. por Átalo I, rei de Pérgamo. Sua 
influência geográfica era limitada ao norte da Ásia Central, à Turquia 
moderna. Se esse grupo étnico for assumido, então a data seria no meio 
dos anos 50 d.C. durante a segunda ou terceira jornada missionária de 
Paulo, escrita de Corinto, e antes de escrever sua carta aos romanos. Os 
companheiros de viagem de Paulo seriam Silas e Timóteo. Alguns 
acharam que a doença de Paulo em Gálatas 4.13 fosse malária. Eles 
afirmam que Paulo foi para o norte, para as terras altas, para fugir das 
planícies costeiras pantanosas infestadasde malária. 
Alguns dos argumentos a favor da "Teoria do Norte da Galácia" e 
uma data posterior para a carta são: 
1. O termo original para a Galácia estava restrito ao território do 
norte. 
2. Gálatas tem uma forte afinidade com Romanos, parecendo ser 
uma primeira tentativa de formular uma justificativa para a 
justificação pela fé que é apresentada em Romanos, e Romanos 
foi escrito numa data posterior (56-58 d.C.). 
3. Gálatas registra uma segunda visita a Jerusalém com Tito (2.1) 
catorze anos depois do primeiro, que aqueles que argumentam 
141 
em favor de uma data mais tarde, equivale à visita do Concílio de 
Jerusalém em 49 d.C., tornando assim a escrita de Gálatas mais 
tarde do que 49 d.C. 
4. Paulo não teria tido tempo para evangelizar a Galácia étnica até 
pelo menos depois de sua segunda viagem missionária (49-50 
d.C.). 
5. A frase "eu preguei as Boas Notícias a vocês pela primeira vez" 
(4.13) sugere duas viagens evangelísticas na Galácia, a segunda 
sendo sua segunda viagem missionária ou mais tarde. 
A "Teoria do Sul da Galácia" define o termo "Galácia" como 
administrativo (político), enquanto a teoria tradicional o define como 
étnico. Parece que Paulo frequentemente usava nomes provinciais 
romanos (1 Coríntios 16.19; 2 Coríntios 1.1; 8.1, etc.) A província 
romana da "Galácia" incluía uma área maior do que a "Galácia" étnica. 
Estes celtas étnicos apoiaram muito cedo a Roma e foram recompensados 
com mais autonomia local e maior autoridade territorial. Se essa grande 
área era conhecida como "Galácia", então é possível que a primeira 
viagem missionária de Paulo para essas cidades do sul de Antioquia na 
Pisídia, Listra, Derbe e Icônio, registrada em Atos 13-14, seja a 
localização dessas igrejas. Se alguém assumir essa "Teoria do Sul da 
Galácia", a data seria muito cedo, perto, mas antes, do "Concílio de 
Jerusalém" de Atos 15, que aborda o mesmo assunto que o livro de 
Gálatas. O Concílio ocorreu em 49 d.C. e a carta foi provavelmente escrita 
durante o mesmo período. Se isso for verdade, Gálatas é a carta mais 
velha de Paulo no Novo Testamento. 
Alguns argumentos a favor da "Teoria do Sul da Galácia" e uma data 
anterior para a carta são: 
1. Embora haja certamente uma afinidade entre os argumentos em 
Gálatas e aqueles em Romanos, não há necessidade deles serem 
escritos próximos uns dos outros no tempo. A compreensão de 
142 
Paulo da justificação pela fé provavelmente se formou antes de 
ele ir a Antioquia, muitos anos antes de Romanos ser escrito. 
2. Se o Concílio de Jerusalém (49 d.C.) tivesse ocorrido antes de 
escrever Gálatas, Paulo certamente teria mencionado os Decretos 
Apostólicos nesta carta como um forte argumento contra a 
exigência dos judaizantes de que os gentios gálatas fossem 
circuncidados, mas ele não o fez. 
3. A segunda visita de Paulo a Jerusalém é mais provável de ser a 
Visita da Fome (Atos 11.27-30; 12.25; Gálatas 2.1-10) em talvez 
46 d.C., permitindo que Gálatas seja escrito antes do Concílio de 
Jerusalém que ocorreu cerca de 49 d.C. 
4. A frase "eu preguei as Boas Notícias a vocês pela primeira vez" 
(4.13) não requer duas jornadas missionárias separadas. 
Sabemos que Paulo e Barnabé voltaram atrás e visitaram a 
Antioquia da Pisídia, Icônio e Listra uma segunda vez 
"fortalecendo os discípulos" (Atos 14.21-24). 
5. O versículo 1.6: "Eu estou maravilhado que vocês estão 
abandonando tão rapidamente aquele que os chamou por meio da 
graça de Cristo para seguirem outro caminho que finge ser as 
Boas Notícias" sugere que o tempo após a fundação das igrejas da 
Galácia e desta epístola foi relativamente curto. 
6. Não há menção dos companheiros de viagem de Paulo pelo nome, 
mas Barnabé é mencionado três vezes (2.1, 9, 13). Isso se 
encaixa na primeira viagem missionária de Paulo. 
7. É mencionado que Tito não foi circuncidado (2.1-5). Isso se 
encaixa melhor antes do Concílio de Jerusalém de Atos 15. 
Ambas as teorias têm pontos válidos, mas a evidência aponta para a 
"Teoria do Sul da Galácia" como a mais provável, ela parece encaixar-se 
melhor em todos os fatos. Essa teoria responde à pergunta crucial sobre a 
falha de Paulo mencionar os resultados do Concílio de Jerusalém aos 
gálatas se a carta viesse após o Concílio. Também suaviza o golpe do 
143 
encontro de Paulo com Pedro em Antioquia, registrado em Gálatas 2.11-
17. De acordo com essa teoria, Pedro foi apanhado na controvérsia 
judaizante em Antioquia, que ocasionou o Concílio em Jerusalém. 
Certamente, Pedro não teria defendido Paulo em Jerusalém e voltado 
após o Concílio e se teria tornado hipócrita em Antioquia. 
Felizmente, nem a localização exata das igrejas da Galácia nem a 
data da escrita têm algo a ver com nossa aplicação moderna dos 
ensinamentos da carta. 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
 
Subentendido de sua carta, Paulo havia fundado as igrejas da Galácia 
um pouco por acaso, quando ficou doente durante as viagens pela Ásia 
Menor, e os gálatas o receberam e cuidaram de volta à saúde (4.13-16). 
Eles também receberam com entusiasmo sua mensagem de que na cruz 
144 
de Cristo eles foram libertados dos poderes espirituais deste mundo e se 
tornaram filhos adotivos de Deus. Algum tempo depois da partida de 
Paulo, outros pregadores aparentemente chegaram com uma mensagem 
diferente. Eles argumentaram que a versão de Paulo do evangelho era 
deficiente, afirmando que, de acordo com as Escrituras judaicas, as 
promessas de Deus pertencem aos filhos de Abraão e que a pessoa se 
torna filha de Abraão através da circuncisão. O aviso desta controvérsia 
dentro das igrejas da Galácia chegou a Paulo, e ele foi obrigado a 
escrever com alguma urgência e paixão (1.6; 4.20; 5.12) para reafirmar 
a integridade de sua comissão como apóstolo e do evangelho que ele 
pregou. 
É fácil perceber que Paulo estava muito chateado com essas novas 
congregações de novos cristãos na província romana da Galácia. As 
outras cartas de Paulo para as congregações expressavam gratidão ou 
continham uma seção de elogios e encorajamento imediatamente após a 
saudação da carta. Em Gálatas, seguindo a saudação, não há expressão 
de gratidão ou palavra alguma de encorajamento. A mensagem da carta 
começou afirmando a confusão e preocupação de Paulo. 
Mas por que Paulo estava tão preocupado? Porque um influente 
grupo de cristãos judeus se opunha à conversão de pessoas que não 
eram judeus se essas pessoas não tivessem sido convertidas ao judaísmo 
primeiramente. O livro de Atos revela como esse influente grupo evoluiu 
na igreja em Jerusalém. 
Atos 10.9-34 documenta como foi difícil até mesmo para o apóstolo 
Pedro entender que pessoas que não eram judeus pudessem ser 
ensinadas sobre Cristo, batizadas e se tornarem cristãs. O Senhor tomou 
passos incomuns para convencer Pedro a ir se encontrar com Cornélio. 
Somente depois que Cornélio explicou por que ele enviou para Pedro, 
Pedro finalmente percebeu que pessoas que não eram judeus poderiam 
ser cristãs (v. 34). 
145 
Atos 11.1-18 documenta a forte reação na igreja de Jerusalém contra 
Pedro visitando Cornélio e outros que não eram judeus. Aqueles que se 
opunham à visita de Pedro ficaram quietos apenas quando ouviram que o 
Espírito Santo veio sobre aquelas pessoas. Mas isso não acabou com o 
assunto. 
Atos 15 documenta a visita de alguns cristãos judeus da Judeia (a 
área de Jerusalém) à grande congregação na Antioquia da Síria de 
cristãos que não eram judeus. Os versículos 1-5 afirmam que os cristãos 
judeus disseram aos cristãos não-judeus que, a menos que fossem 
circuncidados (uma ordenança religiosa judaica) e vivessem segundo os 
costumes judaicos, "vocês não podem ser salvos". Essa declaração 
poderosa foi feita à primeira geração de cristãos não judeus que tinham 
pouca ou nenhuma experiência no Deus de Israel, na história judaica ou 
nas escrituras que chamamos de Antigo Testamento. Versículos6-21: 
quando Paulo e Barnabé foram incapazes de acabar com a confusão 
criada por esses cristãos judeus visitantes, essa questão foi encaminhada 
à liderança da igreja de Jerusalém (os apóstolos e anciãos). Os líderes da 
igreja realizaram uma conferência aberta e consideraram todas as 
evidências sobre essa questão. A decisão foi de não exigir as pessoas que 
não eram judias a serem circuncidadas ou a seguirem costumes judaicos. 
Esses cristãos foram solicitados a abster-se de comer a carne de animais 
que foram oferecidos em sacrifício aos ídolos, praticar imoralidade sexual, 
comer a carne de animais que tenham sido estrangulados e comer 
sangue. Versículos 22-29: uma carta que confirmou essa decisão foi 
enviada à igreja de Antioquia (entregue em mãos), e a carta foi, sem 
dúvida, compartilhada com outras congregações que não eram judias. 
No entanto, isso também não trouxe o desentendimento e sua 
questão ao fim. Havia fariseus que haviam se tornado cristãos que 
insistiam (no Concílio) que era necessário que os cristãos que não eram 
judeus fossem circuncidados e obedecessem à lei de Moisés (Atos 15.5). 
146 
A partir das informações em Atos 21, as evidências indicam que esses 
cristãos se tornaram o maior e mais influente grupo na igreja de 
Jerusalém, e assim, eventualmente dominaram as opiniões e sentimentos 
da igreja de Jerusalém. Anos depois, Paulo e Barnabé visitaram a 
liderança da igreja de Jerusalém para relatar as maneiras pelas quais 
Deus estava trabalhando para salvar pessoas que não eram judeus. Os 
líderes ficaram encantados em ouvir essa notícia (21.18-20). Mas os 
líderes também temiam a reação da congregação a Paulo e ao seu 
trabalho (21.20-21). "Milhares" de cristãos naquela congregação eram 
"zelosos pela lei" ou estavam comprometidos com a lei de Moisés. Eles 
também ouviram um relato falso de que Paulo estava ensinando judeus 
fora da Palestina a não mais praticar costumes judaicos. Na tentativa de 
tirar a emoção da situação e corrigir a desinformação sobre Paulo, 
pediram a Paulo que ajudasse quatro cristãos judeus a fazerem votos no 
templo. Judeus (que não eram cristãos) da Ásia (onde Paulo fez grande 
parte de seu trabalho missionário) reconheceram Paulo e o acusaram de 
pregar contra o judaísmo, a lei e o templo. Eles quase conseguiram matar 
Paulo. A emoção hostil e a fúria gerada quando pessoas que não eram 
judeus se tornaram cristãs sem serem circuncidadas são evidentes. 
Os cristãos judeus dedicados ao judaísmo e a lei que acreditavam 
que os cristãos que não eram judeus deveriam ser circuncidados para 
serem salvos tinham uma estratégia. Quando Paulo estabeleceu 
congregações em uma nova área, convertendo pessoas que não eram 
judeus, esses cristãos judeus visitaram essas congregações assim que 
Paulo deixou a área e lhes disseram que eles não foram salvos porque 
não haviam sido circuncidados. Disseram a eles que, para serem salvos, 
deveriam ser circuncidados, aprender a lei judaica e manter os costumes 
judaicos. Eles criaram uma grande confusão entre os novos cristãos que 
não eram judeus e tinham pouco ou nenhum histórico nas escrituras 
judaicas ou na lei judaica. Foi o que ocorreu na província da Galácia. O 
resultado: esses novos cristãos abandonaram a Cristo como o Salvador 
147 
completo. Eles se voltaram para a lei judaica e costumes judaicos para a 
salvação. Como tal, Paulo ficou perplexo por eles terem deixado a Cristo e 
acreditarem que Paulo lhes havia ensinado uma mensagem incompleta do 
evangelho. A carta de Paulo aos gálatas abordou essa situação. 
A Estrutura: 
Como o resto das cartas paulinas, Gálatas segue as convenções da 
escrita de cartas nos tempos do Novo Testamento. Há uma saudação, um 
corpo, uma parênese (conjunto de exortações morais), saudações e uma 
bênção. Não há uma ação de graças inicial, no entanto, que indique a 
agitação e o alarme de Paulo sobre a situação teológica na Galácia. Paulo 
vai direto ao ponto, que é que os gálatas estão em perigo de se voltar 
para um evangelho diferente, arriscando assim a ruína eterna de suas 
almas. O argumento principal da carta é avançado pelo uso de 
autobiografia, exemplo, alegoria, repreensão satírica e exortação. 
O impulso doutrinário de Gálatas lhe confere uma forte unidade 
interna. De uma forma ou de outra, tudo na epístola está relacionado à 
defesa de justificação de Paulo somente pela fé. A carta também é 
unificada pela intensidade do tom do apóstolo, que aparece tão 
fortemente aqui quanto em qualquer de seus escritos - especialmente em 
sua intolerância a falsas doutrinas e sua indignação com as pessoas que a 
promovem. Estilisticamente, Gálatas encontra coerência literária em seus 
contrastes temáticos: o verdadeiro evangelho versus um falso evangelho, 
fé versus obras, lei versus graça, liberdade versus legalismo, filiação 
versus escravidão, e o fruto do Espírito versus os desejos da carne. 
Como já dissemos, Gálatas foi ocasionado pelas notícias recebidas 
por Paulo de que os judaizantes estavam minando a mensagem do 
evangelho e questionando a autoridade do ministério de Paulo. De um 
exame do texto de sua carta, parece que os judaizantes estavam fazendo 
três acusações contra Paulo e sua doutrina. 
148 
Primeiro, eles estavam alegando que Paulo não era de fato um 
verdadeiro apóstolo. Ele não deveria ser ouvido como se fosse do mesmo 
nível de homens como Pedro e João. Portanto, nos dois primeiros 
capítulos, Paulo defende seu apostolado como sendo de Deus por 
revelação direta e não por homens ou baseado na autoridade do homem. 
Em segundo lugar, eles alegavam que o evangelho de Paulo não era 
o verdadeiro evangelho. Não seguiu fielmente os antecedentes da fé 
cristã. Portanto, nos capítulos três e quatro, Paulo expõe seus 
argumentos a respeito de por que seu evangelho era de fato fiel aos 
princípios da aliança do Antigo Testamento, conforme cumprida na morte 
e ressurreição de Jesus Cristo. 
Finalmente, é evidente que os judaizantes estavam alegando que a 
doutrina de liberdade de Paulo da escravidão da lei resultaria em 
frouxidão moral. Remover o legalismo da lei equivaleria a remover toda 
restrição moral do homem. O resultado seria devastador moralmente. 
Assim, nos capítulos cinco e seis, Paulo retrata a liberdade da vida guiada 
pelo Espírito como sendo uma liberdade sem licença, uma liberdade sem 
irresponsabilidade. Ele aponta que somos muito mais obrigados a uma 
vida de retidão real sob a liberdade do Espírito do que poderíamos 
alcançar sob a tirania da lei. 
A carta conclui com a atenção dos leitores sendo focada na base real 
da ostentação de Paulo, a cruz de Jesus Cristo. E ele relata seu próprio 
testemunho de sofrimento para Cristo como evidência da veracidade de 
sua vida e mensagem. 
O Objetivo da Escrita: 
O propósito de Gálatas era refutar o falso evangelho dos judaizantes 
- um evangelho em que esses cristãos judeus achavam que a circuncisão 
era essencial para a salvação - e lembrar os gálatas da verdadeira base 
de sua salvação. Foi a urgência da situação que levou Paulo a escrever 
149 
antes mesmo da reunião do Concílio de Jerusalém, pois as igrejas da 
Galácia estavam em jogo. 
Na carta, Paulo também procura restabelecer sua autoridade 
apostólica, mas o objetivo principal de Paulo é mostrar da Escritura que a 
promessa de Deus a Abraão era justiça pela fé, não pela lei (que não foi 
dada por mais 450 anos). Sua bênção foi prometida ao seu descendente, 
o Messias, e aos gentios. 
Em seu argumento ele lembra aos gálatas que eles receberam o 
Espírito Santo sem circuncisão e sem observância da lei. Além disso, ele 
mostra que a essência da lei é cumprida pelo Espírito Santo trabalhando 
no crente, não pela obediência a um código escrito obsoleto. Ele contrasta 
a inadequação da natureza pecaminosa corrupta para cumprir a lei com o 
poder do Espírito para superar a fraqueza da carne. 
Finalmente, é importanteobservar que as igrejas da Galácia estavam 
em tumulto. Eles foram lançados em confusão (1.7) e agora são 
caracterizados por fofocas, orgulho e ambição egoísta (5.15, 26). Paulo 
procura os ensinar mais uma vez o ministério gentil e humilde de Cristo 
(6.1-5) para substituir a desordem atual que eles estão experimentando. 
Esboço de Gálatas: (International Bible Society) 
I. Introdução (1.1–10) 
a. Saudações (1.1–5) 
b. Denúncia (1.6–10) 
II. Pessoal: Autenticação do Apóstolo da Liberdade e da Fé (1.11—
2: 21) 
a. O Evangelho de Paulo foi recebido por revelação especial 
(1.11-12) 
b. O Evangelho de Paulo era independente dos apóstolos de 
Jerusalém e das igrejas da Judeia (1.13—2.21) 
150 
c. Evidenciado por suas primeiras atividades como cristão (1.13-
17) 
d. Evidenciado por sua primeira visita a Jerusalém depois a sua 
conversão (1.18–24) 
e. Evidenciado por sua segunda visita a Jerusalém depois a sua 
conversão (2.1-10) 
f. Evidenciado por sua repreensão de Pedro em Antioquia (2.11-
21) 
III. Doutrina: Justificação da Doutrina da Liberdade e da Fé 
(capítulos 3–4) 
a. A experiência do Evangelho dos Gálatas (3.1–5) 
b. A experiência de Abraão (3.6–9) 
c. A maldição da lei (3.10-14) 
d. A prioridade da promessa (3.15-18) 
e. O propósito da lei (3.19-25) 
f. Filhos, não os escravos (3.26-4.7) 
g. O perigo de voltar atrás (4.8–11) 
h. Apelo para abraçar a liberdade dos filhos de Deus (4.12-20) 
i. Os filhos de Deus são filhos da mulher livre (4.21-31) 
IV. Prática: Prática da Vida da Liberdade e da Fé (5.1-6.10) 
a. Exortação à liberdade (5.1–12) 
b. Vida pelo Espírito, não pela Carne (5.13-26) 
c. O pedido de ajuda mútua (6.1-10) 
V. Conclusão e Bênção (6.11–18) 
Fatos Curiosos da Carta aos Gálatas: 
 Gálatas foi o grito de guerra da Reforma - o manifesto da liberdade 
em Cristo. 
 É chamado de "pedra angular" da Reforma. 
 Um favorito de Lutero: "O seixo do riacho com o qual os 
reformadores feriram o gigante papal da Idade Média". 
 É altamente doutrinal e extremamente pessoal. 
151 
o Quase um terço da carta é autobiografia (a maior 
autobiografia das epístolas de Paulo). 
 É apologético por natureza. 
 Não há nenhum elogio na introdução. 
 Nem uma palavra de elogio em toda a carta. 
 Não há nenhuma saudação aos indivíduos. 
 É a única carta escrita completamente pela própria mão de Paulo. 
 É a mais sarcástica, crítica e amarga de todas as suas cartas (1.6, 
8; 2.6, 11; 3.1; 4.11; 5.4, 10, 12). 
 Similar a carta de Romanos: 
o Gálatas = negativo: o que a verdade não é 
o Romanos = positivo: o que a verdade é 
o Gálatas = não calmo e ordenado 
o Romanos = calma e ordenada 
o Gálatas = Evangelho defendido 
o Romanos = Evangelho definido 
 A única carta do Novo Testamento escrita para um grupo de igrejas 
(1.2). 
A Importância da Carta aos Gálatas: 
Em seu Study Guide Commentary, Curtis Vaughan escreveu a 
respeita da carta de Gálatas: "Poucos livros influenciaram mais 
profundamente as mentes dos homens, moldaram de maneira tão 
significativa o curso da história humana, ou continuaram a falar com tal 
relevância para as necessidades mais profundas da vida moderna". 
Gálatas permanece como uma apologética eloquente e vigorosa da 
verdade essencial do Novo Testamento de que as pessoas são justificadas 
pela fé em Jesus Cristo - nada mais e nada menos - e que são 
santificadas não pelas obras legalistas, mas pela obediência que vem da 
fé na obra de Deus por eles, neles e através deles pela graça e poder de 
Cristo e do Espírito Santo. Foi a redescoberta da mensagem básica de 
152 
Gálatas (e Romanos) que provocou a Reforma Protestante. Gálatas é 
muitas vezes referido como "livro de Lutero", porque Martinho Lutero se 
baseou tão fortemente nesta carta em toda a sua pregação, ensinando e 
escrevendo contra a teologia predominante de seus dias. 
Gálatas também é conhecida como a “Magna Carta da Liberdade 
Cristã”. 
Essa salvação radicalmente livre, somente pela graça, somente por 
meio da fé, e somente em Cristo, é desesperadamente necessária em 
nossos dias por causa da atração sutil e recorrente de nossa consciência 
religiosa auto-orientada e orientada para as obras. Em todas as épocas, a 
simples verdade do amor constante e inabalável de Deus, o amor 
incondicional iniciado por Ele que se sacrifica, mediada pelo 
arrependimento humano e pela fé é desafiada! Não é que os falsos 
mestres estivessem rejeitando o lugar central de Cristo na redenção, mas 
estavam acrescentando pré-requisitos por Ele. Não é o que adicionamos, 
mas que acrescentamos qualquer coisa! 
Para Pensar: 
O legalismo, em várias formas, sempre procura infiltrar-se para 
cristalizar uma vida em crescimento, ou uma igreja em crescimento, ou 
uma denominação ou instituição em crescimento, reduzindo um 
relacionamento vivo com Deus a uma casca vazia de rituais ou hábitos 
religiosos. Os homens estão sempre em perigo de substituir a prática de 
certas ações ou atividades pelo relacionamento pessoal mais real com 
Deus. Religião não é o mesmo que relacionamento. 
 
 
 
153 
 
CAPÍTULO 12 
 
EFÉSIOS 
 
Entre as grandes cartas de Paulo, poucos discutiriam que somente 
Romanos poderia ser considerado maior que Efésios. Muitos estudiosos se 
referiram a Efésios como uma espécie de forma condensada de Romanos, 
porque, assim como a carta de Romanos, ela apresenta o epítome da 
teologia paulina. 
Efésios é a grande carta paulina sobre a igreja. Trata, no entanto, 
não tanto com uma congregação na cidade de Éfeso na Ásia Menor como 
com a igreja mundial, cuja cabeça é Cristo (4.15), cujo propósito é ser o 
instrumento para fazer o plano de salvação de Deus conhecido em todo o 
universo (3.9-10) e essa eclesiologia está ancorada no amor salvador de 
Deus, mostrado em Jesus Cristo (2.4–10), pela qual toda a redenção está 
enraizada no plano e na realização do Deus trino (1.3–14). A linguagem é 
frequentemente aquela de doxologia (1.3–14) e oração (1.15–23; 3.14–
19), em suma, de liturgia e hinos (3.20–21; 5.14). 
Os capítulos de Efésios enfatizam a unidade na igreja de Cristo que 
surgiu tanto para os judeus quanto para os gentios dentro da casa de 
Deus (1.15-2.22, especialmente 2.11-22) e de fato as “sete unidades” de 
igreja, Espírito, esperança; um só Senhor, fé e batismo; e o único Deus e 
Pai (4.4–6). Todavia, a preocupação não é com a igreja por si mesma, 
mas sim como o meio para missão no mundo (3.1–4.24). Os dons que 
Cristo dá a seus membros devem levar ao crescimento e renovação (4.7–
24). A admoestação ética também não falta; todos os aspectos da vida e 
relacionamentos humanos são iluminados pela luz de Cristo (4.25-6.20). 
154 
É interessante notar o relacionamento entre a carta aos Efésios com 
a carta aos Colossenses, sendo os dois escritos em torno do mesmo 
tempo. 
Epafras, que era de Colossos, converteu em Éfeso e levou o 
evangelho de volta ao vale do rio Lico (Hierápolis, Laodiceia e Colossos). 
Ao transcorrer do tempo, falsos mestres tentaram sincronizar o evangelho 
com a ontologia grega do gnosticismo incipiente que ensinava, por 
exemplo, que a matéria era má, que existia uma série de níveis angélicos 
entre o Deus superior e o deus menor que formava a matéria, que a 
salvação estava baseada no conhecimento das senhas secretas que 
permitiam as pessoas passarem através dos níveis angélicos em direção a 
Deus, e coisas além. Então Epafras procurou o conselho de Paulo sobre 
esse assunto para a igreja em Colossos. Assim, Paulo escreveu 
Colossenses dirigidos a falsos mestres demonstrando o senhorio cósmico 
de Cristo. Pouco depois, Paulo escreveu a Efésios, extraindo as 
implicações da carta aos colossenses. Nisto podemos ver várias 
semelhanças entre as duas: 
 A estrutura básica é a mesma. 
 Aberturas semelhantes. 
 Tratam das mesmas áreas doutrinárias. 
 Há as mesmas aplicações práticas. 
 Elas compartilham ideias teológicas sinônimas. Ambas foram entregues por Tíquico. 
 Ambas foram entregues à Ásia Menor. 
 Ambas abordam a mesma Cristologia. 
 Ambas enfatizam Cristo como cabeça da igreja. 
 Ambas têm uma aplicação à doutrina semelhante. 
155 
 Ambas têm palavras e frases semelhantes e exatas. 
 Das 1.750 palavras em Colossenses, 34% são paralelas em 
Efésios, enquanto 26,5% das 2.411 palavras em Efésios têm 
paralelo em Colossenses. A maioria dos estudiosos modernos 
acredita, portanto, que Colossenses foi escrito primeiro e que 
Efésios é dependente dela. 
E ainda que há muitas similaridades, tem algumas diferenças: 
 A igreja era local em Colossenses, mas universal em Efésios. 
 A heresia foi mencionada especificamente em Colossenses, 
mas não diretamente referenciada em Efésios. 
Na avaliação de muitos, Efésios é a obra prima de Paulo, "a 
quintessência do Paulinismo" ou como alguém falou: “É tanto uma joia 
literária quanto um tesouro de pepitas espirituais. Aqueles que a estudam 
podem não aprofundar totalmente suas profundezas, mas extrairão 
compreensão importante de Cristo e de sua Igreja, bem como lições para 
a vida”. 
Autor: 
A autoria paulina de Efésios raramente era questionada na igreja 
primitiva. Não foi até o final do século XVIII e início do século XIX que a 
opinião acadêmica começou a mudar. Pode ser uma surpresa saber que a 
maioria dos eruditos do Novo Testamento hoje, incluindo alguns teólogos 
conservadores, não acreditam que Paulo escreveu o livro, apesar do fato 
de que o autor se identifica duas vezes explicitamente com o famoso 
apóstolo (1.1; 3.1). 
Antes de continuar, note-se que alguns dos que rejeitam a autoria 
paulina ainda acreditam na inspiração e autoridade de Efésios e sua 
relevância para a igreja hoje. 
156 
O caso da autoria paulina, a meu ver, é substancial e convincente, 
enquanto a acusação contra ela é especulativa e as provas bastante 
obscuras sobre a quais derrubar a autoria paulina de Efésios. 
Data de redação: 
Paulo escreveu a carta de Efésios em 60 e 62 d.C. enquanto estava 
preso em Roma (Atos 28). Durante esse tempo ele também escreveu 
Colossenses, Filipenses e Filemom, conhecidas como “As Cartas da 
Prisão”. 
Público da Carta: 
Após um ano e meio de ministério em Corinto, provavelmente na 
primavera de 52 d.C., Paulo foi com Priscila e Áquila para a cidade de 
Éfeso. Enquanto esteve lá, ele ministrou na sinagoga, conforme descrito 
em Atos 18.18-22. Depois de uma breve estada, ele deixou Priscila e 
Áquila e partiu para Jerusalém. De lá, ele foi para Antioquia, 
eventualmente retornando a Éfeso, onde permaneceu pelos próximos dois 
anos e meio. Foi durante este período de ministério em Éfeso que a 
correspondência coríntia foi composta. Foi também o tempo e o lugar em 
que ele enfrentou uma das piores oposições ao evangelho que ele já havia 
encontrado. Ele se refere a isso em 2 Coríntios 1.8-10. No final de 55 
d.C., ele deixou Éfeso e foi para Trôade na esperança de encontrar Tito. 
Um ano depois, ele visitou os líderes da igreja de Éfeso, em Mileto, a 
caminho de Jerusalém, de Corinto (Atos 20.16-38). 
Depois de sua partida de Éfeso, ele enviou Timóteo para continuar 
seu trabalho (1 Timóteo 1.3). 
Enquanto na prisão em Roma, Paulo escreveu a carta para a igreja 
em Éfeso para ser distribuída entre as várias igrejas na região de Éfeso. 
 
157 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
 
Éfeso foi fundado por colonos jônios por volta de 1100 a.C. e no 
decorrer do próximo milênio foi governado sucessivamente pelos persas, 
gregos, macedônios e outros. A cidade floresceu depois que ficou sob o 
controle da República Romana em 129 a.C. E embora não fosse a capital 
titular da província romana da Ásia Menor (Pérgamo manteve essa 
honra), Éfeso se tornou a cidade mais importante de toda a região. Foi a 
quarta maior cidade do Império Romano (atrás de Roma, Alexandria e 
Antioquia), com uma população de cerca de 250.000 habitantes. 
Localizado perto da costa, tinha uma enseada e um porto no rio Cayster, 
que fluiu ao mar Egeu. Como tal, Éfeso foi a interseção de três grandes 
rotas comerciais e se tornou a maior cidade comercial da província 
romana da Ásia Menor. 
158 
Éfeso foi conhecido por todo o mundo antigo como não só o centro 
de numerosos cultos e religiões místicas, mas principalmente como o lar 
do templo impressionante de Ártemis - ou, como talvez seja mais 
conhecido, "Diana" (Ártemis é o termo mais correto. Na verdade, Diana 
era a divindade romana que se assemelhava muito a Ártemis. Como as 
divindades romana e grega se fundiram com o tempo, Diana foi 
identificada com Ártemis.) O Templo de Ártemis (ou Diana) era o maior 
edifício do mundo grego; foi quatro vezes maior que o Partenon grego em 
Atenas. Ele foi originalmente construído em 550 a.C. e foi feito 
inteiramente de mármore. Foi destruído num grande incêndio em 356 
a.C. (a mesma noite em que Alexandre, o Grande nasceu) e a construção 
começou de novo (com as mesmas dimensões) na primeira metade do 
terceiro século. Toda a Grécia contribuiu para a sua restauração e 
demorou séculos para ser reconstruída. O templo tinha 137 metros de 
comprimento e 69 metros de largura. As 127 colunas de mármore, de 18 
metros de altura, que sustentavam o templo estavam cobertas de ouro e 
joias. Foi considerado como uma das sete maravilhas do mundo antigo (o 
templo foi chamado de Artemisão). 
O culto imperial também estava presente, como os templos de 
Cláudio, Adriano, Júlio César, Augusto e Severo dão amplo testemunho. 
Religião e magia estavam irremediavelmente interligadas e as artes 
mágicas eram amplamente prevalentes (Atos 19.19). Éfeso era um foco 
de todo tipo de culto e superstição. 
Provavelmente havia no tempo de Paulo numerosas igrejas 
domésticas em Éfeso. Estimativas mais baixas para a população da cidade 
no primeiro século começam em 250.000. Igrejas provavelmente existiam 
também nas aldeias ao redor de Éfeso. Quando se acrescenta a isso as 
cidades da Ásia Menor, onde se sabia que existiam grandes igrejas (por 
exemplo, Laodiceia, Pérgamo, Sardes – veja a mapa na introdução de 
159 
Apocalipse: Público da Carta), o círculo de cristãos para quem Paulo 
escreveu esta carta se torna bastante expansivo. 
A Estrutura: 
Efésios exemplifica o gênero da carta do Novo Testamento, com sua 
saudação (incluindo remetente, destinatários e saudação), ação de 
graças, exposição, exortação e encerramento (incluindo cumprimentos 
finais e bênção). O argumento principal da carta é pontuado por várias 
orações e uma bênção interior (20-21) que marca a transição de 
afirmações doutrinárias para exortações práticas. O capítulo 2 toma a 
forma de uma biografia espiritual, na qual Paulo relata a obra salvadora 
de Cristo na vida de todo cristão, e especialmente na vida dos gentios que 
agora estão incluídos no único novo povo de Deus. No capítulo 3, o 
apóstolo toma uma atitude autobiográfica ao testemunhar sobre seu 
chamado aos gentios e suas orações pela igreja de Éfeso. A parêneses 
(série de exortações morais) consiste principalmente em instruções para 
a conduta doméstica, tanto para a igreja como a casa da fé quanto para 
os crentes individuais em suas relações domésticas. A famosa descrição 
da armadura completa no último capítulo é uma metáfora extensa. Paulo 
também cataloga as bênçãos da salvação num estilo lírico elevado e 
estimulante. 
Efésios encontra sua unidade central na obra de Jesus Cristo e na 
comunidade de pessoas (tanto judeus como gentios) que estão 
corporativamente unidos nele. A forte declaração de louvor e a ausência 
de qualquer polêmica teológica fazem de Efésios um tom pervasivamente 
positivo. A divisão clara da epístola em duas metades de comprimento 
quase igual (a saber, a seção doutrinária nos capítulos 1–3 e a seção 
prática nos capítulos 4–6) também fornece um forte senso de unidade 
estrutural. 
Existem três temas principaisde Efésios: (1) Cristo reconciliou toda a 
criação para si e para Deus; (2) Cristo uniu pessoas de todas as nações 
160 
para si e um para o outro em sua igreja; e (3) os cristãos devem viver 
como novas pessoas. 
Esboço de Efésios: (Bíblia de Estudo ESV) 
I. Introdução (1.1–14) 
a. Saudações (1.1-2) 
b. Bênçãos espirituais em Cristo (1.3–14) 
II. A Oração de Gratidão de Paulo (1.15–23) 
III. Salvação pela Graça através da Fé (2.1-10) 
a. Desesperança e desamparo sem Cristo (2.1-3) 
b. Esperança em Cristo (2.4-10) 
IV. Unidade e a Paz de Cristo (2.11–22) 
a. Unidade do povo de Cristo (2.11-15) 
b. Paz com Deus (2.16-18) 
c. Implicações da paz de Cristo (2.19-22) 
V. Revelação do Mistério do Evangelho (3.1–13) 
a. O ministério apostólico de Paulo (3.1-7) 
b. O mistério e a sabedoria (3.8–13) 
VI. A Oração de Paulo por Força e Discernimento (3.14–21) 
VII. Unidade do Corpo de Cristo (4.1–16) 
a. Exortação à unidade (4.1-6) 
b. Os diferentes dons (4.7-10) 
c. Os dons para a edificação da igreja (4.11–16) 
VIII. Testemunho de Paulo (4.17–24) 
IX. Exortação a um Estilo de Vida edificante (4.25-32) 
X. Nova Vida no Amor (5.1-20) 
a. Exortação ao amor autossacrificial (5.1-2) 
b. Instrução para viver em santidade (5.3–20) 
XI. Submissão a Um ao Outro (5.21-6.9) 
a. Submissão em geral (5:21) 
b. Esposas e maridos (5.22-33) 
c. Filhos e pais (6.1-4) 
161 
d. Escravos, servos e mestres (6.5-9) 
XII. Toda a Armadura de Deus (6.10-20) 
a. A força do Senhor (6.10-13) 
b. Permanecendo firme (6.14-17) 
c. Sendo constante em oração (6.18-20) 
XIII. Conclusão (6.21-24) 
O Objetivo da Escrita: 
Diferente de várias outras cartas que Paulo escreveu, Efésios não 
aborda nenhum erro ou heresia em particular e não tem resposta a uma 
crise. Efésios é a menos situacional das suas cartas. Como tal, a ocasião e 
propósito para escrever Efésios são mais difíceis de discernir do que para 
quaisquer das outras cartas paulinas. Se alguma versão de uma carta 
circular é assumida, uma grande parte do problema é aliviada. A estreita 
relação entre Efésios e Colossenses sugere que Paulo escreveu Efésios e o 
dirigiu a um público mais amplo como uma salvaguarda contra a heresia 
colossense. Existe amplo consenso de que a heresia colossense era uma 
forma incipiente de gnosticismo. No entanto, apesar da intenção de 
refutar as ideias gnósticas, sem dúvida havia um propósito muito mais 
amplo. O propósito de Efésios é encorajar os crentes a primeiro chegarem 
a uma compreensão clara e honrada de Deus e Sua salvação em Cristo, e 
então alcançar a vida refletindo essa compreensão. 
Nas palavras de C. Hodge, o apóstolo se dirige principalmente aos 
cristãos gentios. Seu objetivo era (1) levá-los a uma verdadeira 
apreciação do plano de redenção, como uma coisa concebida desde a 
eternidade por Deus, para a manifestação da glória de Sua graça; (2) 
para torná-los conscientes da grandeza das bênçãos conferidas a eles em 
Cristo; (3) assegurar-lhes a igualdade de status que gozam agora com os 
irmãos dentre os judeus como membros da casa de Deus; e (4) exortá-
los a viver de acordo com sua nova identidade como filhos da luz, em 
oposição a continuar no estilo de vida moralmente depravado do qual 
162 
Cristo os redimiu. Ao longo dos capítulos desta epístola, o apóstolo Paulo 
conduz o cristão de uma compreensão da origem de sua salvação no 
pensamento e ação do Deus trino para a aplicação prática dessa salvação 
na vida cotidiana. 
Fatos Curiosos da Carta de Efésios: 
• A palavra graça é usada 12 vezes. 
• A palavra glória é usada 8 vezes. 
• A palavra herança é usada 4 vezes. 
• A palavra riqueza é usada 5 vezes. 
• As palavras plenitude e preenchido são usadas 7 vezes. 
• A chave para tudo é a frase "em Cristo", que é usada 27 vezes. 
• João Calvino a chamou de sua epístola favorita. 
• Lutero incluiu-a no seleto grupo de escritos que ele designou “o 
verdadeiro núcleo e medula” dos livros do Novo Testamento. 
• Efésios contém apenas uma referência pessoal, a Tíquico (6.21). 
• Inclui 42 palavras gregas que não são encontradas em nenhum 
outro livro do Novo Testamento. 
 Ela usa algumas frases muito longas. No grego, elas são 
encontradas como frases contínuas e não divididas em várias frases 
(1.3-14; 1.15-23; 3.1-7; 3.8-12; 4.11-16). 
 Duas orações significativas de Paulo são encontradas nesta carta 
(1.15-25; 3.14-21). 
 Não há nenhuma exortação nos primeiros três capítulos. 
 Efésios e Colossenses têm vários paralelos e provavelmente foram 
compostos na mesma época em Roma. 
 Nenhum grande problema na igreja é indicado. 
 Efésios era uma carta circular destinada a várias igrejas. 
 Efésios é uma das quatro cartas de prisão de Paulo (além de 
Colossenses, Filemom e Filipenses). 
 “Éfeso” e “Efésios” são mencionados mais de 20 vezes no Novo 
Testamento. 
163 
 Paulo passou mais tempo em Éfeso do que qualquer outro local. 
A Importância da Carta aos Efésios: 
Por que estudar Efésios? 
Primeiro, Efésios aprofunda nossa compreensão do evangelho. 
Infelizmente, o cristianismo superficial é comum em nossos dias. Efésios 
nos ajuda a entender “as riquezas de Cristo que vai além de tudo que 
podemos compreender” (3.8). 
Em segundo lugar, Efésios magnifica a importância da igreja, talvez 
mais do que qualquer outra carta do Novo Testamento. Nós também 
vivemos em um dia em que as pessoas realmente não valorizam a igreja. 
Elas estão inclinadas a pensar: “Se nada mais está acontecendo neste fim 
de semana, então acho que irei à igreja”. No entanto, quando olhamos 
para Efésios, lemos como a igreja é central para o supremo propósito de 
Deus; a igreja é colocada em perspectiva eterna. É através da igreja que 
Deus escolheu tornar conhecida sua “sabedoria, em todas as suas formas 
diferentes” (3.10). 
Terceiro, Efésios tem mudado vidas para sempre. John Mackay, 
teólogo presbiteriano, missionário e educador, lembrou como, aos 14 
anos, ele levou sua Bíblia para as colinas da Escócia e estudou a carta de 
Paulo aos Efésios. Ele escreveu estas palavras: “Eu vi um novo mundo… 
tudo era novo… Eu tinha uma nova perspectiva, novas experiências, 
novas atitudes para com outras pessoas. Eu amei a Deus. Jesus Cristo se 
tornou o centro de tudo. Eu tinha sido ‘despertado’. Eu estava realmente 
vivo”. Efésios pode fazer isso também hoje. 
Quarto, Efésios também pode ser a carta “mais contemporânea” do 
Novo Testamento. Além da menção da escravidão, essa carta “poderia ter 
sido escrita para uma igreja moderna”. Isso é porque Paulo não escreveu 
para corrigir um problema em Éfeso. Sua carta é mais reflexiva e menos 
164 
corretiva. Paulo não nomeou falsos mestres, não mencionou problemas 
específicos na igreja em Éfeso, e não incluiu seus planos de viagem como 
fez em outras cartas. Como resultado, Efésios ressoa com os cristãos 
contemporâneos porque parece que Paulo poderia ter escrito a carta para 
qualquer igreja do século XXI. 
Quinto, Efésios fornece encorajamento cheio de graça. Se você se 
sentir cansado, desanimado, surrado, solitário ou confuso, então seja 
bem-vindo a Efésios! Nossas almas precisam ver essa descrição da 
gloriosa graça de Deus. Nós precisamos do evangelho todos os dias. Sim, 
os cristãos precisam do evangelho todos os dias. Lembre-se, Paulo 
escreveu esta carta para uma igreja cristã, mas dedicou três capítulos a 
dizer-lhes o que é o evangelho. Paulo escreveu para pessoas comuns 
como nós. Alguns eram ricos. Alguns eram funcionários. Alguns 
trabalhavam no porto. Alguns eram escravos. Alguns trabalhavam em 
pequenas aldeias. Eles eram cristãos que viviam no mundo. Eles 
precisaram entender quem eram em Cristo e como viver naquela 
realidade, assim como nós. 
E sexto, Efésios oferece respostas práticas a questões básicas sobre 
a vida cristã. É um “mini tratado de teologia” que todo cristão se 
beneficiaria com o estudo. Não-cristãos, particularmente aqueles 
interessadoso suficiente para aprender o que os cristãos acreditam, 
também se beneficiariam de um estudo da carta de Paulo aos Efésios, 
pois Paulo cobriu tópicos como Deus, Jesus, o Espírito Santo, a igreja, os 
meios de salvação, nossa posição em Cristo, nossa prática como cristãos, 
casamento, família e guerra espiritual. 
Para Pensar: 
Efésios apresenta uma das apresentações mais claras sobre a relação 
entre a verdade posicional e a experiência da verdade posicional na vida 
de alguém. 
165 
Nesta carta, Paulo quer que os “santos” saibam sua posição em 
Cristo. Os cristãos são ricos e poderosos além de qualquer coisa oferecida 
neste mundo; muitos de nós simplesmente não sabemos disso. Os que 
creem em Cristo, os santos, têm dificuldade e lutam quando sua 
identidade vem do mundo, e não através de Jesus Cristo e Seu Reino. 
Paulo escreve esta carta aos santos de Éfeso para que eles saibam 
quem são. Paulo queria que os crentes efésios entendessem a origem de 
sua dificuldade, a sua luta. Ele queria que eles fizessem guerra nos reinos 
espirituais, de acessar o poder e posição que temos em Jesus Cristo. 
Nós, como cristãos, lutamos porque realmente não entendemos o 
quadro completo. O mundo mexe com a nossa carne, nos atraindo pelos 
nossos desejos naturais, fazendo as coisas de Deus parecerem 
inconvenientes. O objetivo de Paulo nesta carta é revelar aos cristãos a 
realidade do mundo espiritual em que vivemos, como podemos ter vitória 
e como podemos avançar no Reino de Deus. Satanás está em guerra com 
os santos, seu objetivo é nos manter longe de nossa posição e poder para 
que não sejamos eficazes na guerra, mas nós temos a vitória através de 
Jesus Cristo. Paulo quer que saibamos como podemos ser eficazes. 
 
 
 
 
 
166 
 
CAPÍTULO 13 
 
FILIPENSES 
 
Filipenses é conhecido como uma das "Cartas da Prisão" de Paulo, 
junto com Efésios, Colossenses e Filemom. Também é conhecido como “a 
carta da alegria”, o que é bastante irônico quando você considera que 
Paulo escreveu da prisão e não sabia como as coisas iam acabar. 
Filipenses é a carta mais incomum e informal de Paulo. Em vez de 
escrever para corrigir assuntos doutrinários, ele escreve uma carta de 
agradecimento à igreja em Filipos que foi tão generosa em apoiá-lo ao 
longo dos anos. Com esta igreja ele não sentiu a necessidade de afirmar 
sua autoridade apostólica e seu grande amor por eles é óbvio. 
Paulo havia estabelecido a igreja em Filipos aproximadamente dez 
anos antes, durante sua segunda viagem missionária, recordada em Atos 
16. 
A igreja de Filipos havia enviado presentes para Paulo enquanto ele 
estava na prisão. Esses presentes foram entregues por Epafrodito, um 
líder da igreja filipense que acabou ajudando Paulo com o ministério em 
Roma. Em algum momento enquanto servia com Paulo, Epafrodito ficou 
perigosamente doente e quase morreu. Após a sua recuperação, Paulo 
enviou Epafrodito de volta a Filipos levando consigo a carta para a igreja 
filipense. 
A igreja em Filipos foi a única igreja a apoiar financeiramente Paulo. 
Como tal, hoje, Filipenses seria chamado de carta de apoio missionário. 
Paulo está escrevendo para pessoas que forneceram o apoio de oração e 
167 
assistência financeira necessária para o seu ministério como apóstolo dos 
gentios. Para cumprir a sua parte da parceria, Paulo assegura aos 
filipenses que está orando por eles, atualiza-os em suas circunstâncias 
pessoais, relata a eficácia do ministério em que ele está, oferece 
encorajamento espiritual e manifesta sincera gratidão pelas muitas 
maneiras pelas quais eles apoiam o seu ministério. 
O estilo é abrupto e descontínuo, seu fervor de afeição leva-o a passar 
rapidamente de um tema para outro. Filipenses 4.1 é suficiente para 
mostrar o ardor de sua afeição pelos filipenses: “Portanto, meus irmãos, a 
quem amo e de quem tenho saudade, vocês são a minha alegria e coroa, 
então, meus queridos amigos, permaneçam firmes no Senhor”. 
Autor: 
A igreja primitiva foi unânime em seu testemunho de que Filipenses foi 
escrito pelo apóstolo Paulo. Os pronomes na primeira pessoa, "eu" e 
"meu", aparecem 51 vezes. 
Data de redação: 
É evidente que Paulo escreveu a carta da prisão (1.13–14). Alguns 
argumentaram que esse encarceramento ocorreu em Éfeso, talvez em 53 
a 55 d.C.; outros o colocam em Cesareia em 57 a 59 d.C. Mas a melhor 
evidência favorece Roma como o local de origem e a data em 60-62 d.C. 
Público da Carta: 
Como o primeiro versículo deixa bem claro, esta carta foi escrita para 
a igreja que Paulo fundou em Filipos; a primeira igreja (paulina) da 
Europa. Embora houvesse um elemento judaico, era muito minoritário, a 
maior parte da congregação era gentia. 
168 
Sob prisão domiciliar como prisioneiro em Roma, Paulo, ainda cheio 
de alegria e gratidão, escreveu para encorajar os filipenses em sua fé e 
sua prisão significava que ele só poderia fazer isso através de uma carta. 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
 
Na segunda viagem missionária de Paulo, ele queria virar para o 
norte para entrar no norte da Ásia Central (Bitínia, a moderna Turquia). 
Mas numa visão, ele viu um homem da Macedônia chamando-o para vir e 
ajudá-los (Atos 16.6-10). Por essa visão, o Espírito dirigiu Paulo para a 
Europa. E assim Paulo chegou a Filipos (50-51 d.C.), acompanhado por 
Silas, Timóteo e Lucas. Essa foi a sua primeira viagem missionária desde 
que se separou de Barnabé e a primeira com Timóteo. 
Filipos, uma cidade importante do Império Romano, se localizava no 
leste da província romana da Macedônia, 13 km do mar Egeu, no topo de 
169 
uma colina. Abaixo dela estavam o rio Gangites e a via Egnácia, a estrada 
que ligava a Europa e a Ásia. A via Egnácia atravessava as províncias 
romanas do Ilírico, Macedônia e Trácia, territórios que hoje fazem parte 
dos estados contemporâneos da Albânia, Macedônia, Grécia e Turquia 
europeia. Essa estrada corria da costa do mar Adriático a Bizâncio, se 
estendendo pelo meio das montanhas que dividiram o leste do oeste e em 
meio a ricas planícies agrícolas perto dos depósitos de ouro do monte 
Pangeo. Essa estrada foi usada pelo apóstolo Paulo para ir de Filipos a 
Salonica (Atos 16-17). 
A cidade mais antiga que ocupou o local de Filipos foi chamada 
Datos. Em 360 a.C., os gregos da ilha de Tasos colonizaram-na. Eles 
mudaram o nome para Krenides, significando “com muitas fontes” por 
causa da abundância de nascentes na área. Também era famosa pela 
planície fértil que se estendia antes dela, assim como o monte Pangeo 
para o sudoeste. Ao leste de Filipos, ficava a cordilheira de Orbelos. Nas 
montanhas daquela área havia minas de ouro e prata. Foram essas minas 
que causaram atrito entre as tribos trácias e os colonos de Tasos. Em 356 
a.C., os colonos pediram Filipe II, o rei da Macedônia e pai de Alexandre, 
o Grande, para ajudar a defendê-los das tribos trácias. Vendo a 
importância estratégica desta cidade, bem como as minas de ouro e 
prata, Felipe II ficou mais do que feliz em ajudá-los. No processo de 
ajudar, ele assumiu a cidade, ampliou e reforçou suas muralhas e 
renomeou a cidade de Filipos (Cidade de Felipe) em sua homenagem. 
Os romanos conquistaram a Macedônia na batalha de Pidna em 168 
a.C. e dividiram o reino macedônico em quatro distritos administrativos, 
terminando, assim, com a independência da Macedônia. Filipos tornou-se 
a principal cidade de um dos distritos. Foi nessa época também que os 
romanos construíram a via Egnácia. 
Em outubro, 42 a.C., nas planícies próximas a Filipos, Antônio e 
Otaviano derrotaram decisivamente as forças de Brutus e Cássio, os 
170 
assassinos de Júlio César. Estes julgaram mal o clima do povo de Roma e 
tiveram que fugir para a Ásia Menor quando o povo não apoiou o 
assassinato. Lá, eles começaram a erguer um exército para reconquistar 
Roma e restabelecê-la como República. Marco Antônio e Otaviano (mais 
tardeconhecido como Augusto) liderou um exército de Roma a Filipos a 
fim de enfrentar Brutus e Cássio. O exército republicano de Brutus e 
Cassius tinha a clara vantagem quanto a sua posição defensiva, acesso a 
suprimentos, finanças e táticas militares. No entanto, o exército cansado 
e mal suprido de Marco Antônio e Otaviano derrotou-os. Ao reconhecer 
sua derrota, Brutus e Cassius cometeram suicídio. Otaviano mais tarde 
fez de Filipos uma colônia romana e estabeleceu muitos veteranos dos 
exércitos romanos lá. Muitos dos filipenses eram militares aposentados 
que receberam terras nas vizinhanças e que por sua vez serviram como 
uma presença militar nesta cidade fronteiriça. 
Em 31 a.C. Filipos tornou-se uma colônia romana, o que significava 
que os cidadãos de Filipos eram declarados cidadãos de Roma. Assim, 
eles não tinham que pagar impostos, tinham o direito de comprar e 
vender propriedades, tinham toda a proteção e direitos da lei romana e 
tinham líderes governamentais locais especiais. Eles se orgulhavam de ser 
romanos, vestiam-se como romanos e muitas vezes falavam latim. Foi 
uma próspera colônia romana. Porém, a igreja filipense, como um todo, 
não era rica. 
Filipos nunca foi grande. No tempo de Paulo, era uma cidade cercada 
por uma muralha com 3,4 km de extensão, que fechava uma área de 68 
hectares, dentro de qual vivia uma população de cinco a dez mil pessoas 
constituída por trácios, gregos, macedônios e romanos. 
A Estrutura de Filipenses: 
É difícil definir a estrutura de Filipenses porque é tão pessoal e 
informal. Paulo estava conversando com amigos e cooperadores de 
171 
confiança em Cristo. Seu coração transbordou antes que sua mente 
pudesse organizar os pensamentos. De maneiras maravilhosamente 
transparentes, este livro revela o coração do grande apóstolo dos gentios. 
Paulo escreveu a carta aos filipenses de uma forma que espelha as 
“cartas de família” helenísticas. Ele usa esse formato de carta familiar 
como a estrutura básica para sua mensagem, aproveitando a jornada de 
Epafrodito para Filipos e escrevendo para a “família” para tranquilizá-los 
de seu bem estar e pedir notícias de como eles estavam. No entanto, 
embora a carta geralmente tenha a forma de uma carta familiar, seus 
objetivos são mais complexos do que a carta familiar típica e assim Paulo 
ajusta a forma conforme necessário para atender às suas necessidades. 
Esboço de Filipenses: (Bíblia de Estudo ESV) 
I. Saudação e Oração (1.1-11) 
a. Saudação de Paulo e Timóteo (1.1-2) 
b. Ação de Graças e oração de Paulo pelos filipenses (1.3-11) 
II. Reflexões de Paulo a Respeito do seu Encarceramento (1.12-30) 
a. O encarceramento de Paulo significou progresso para o 
evangelho (1.12-18) 
b. Viver é Cristo (1.19-26) 
c. Encorajamento para andar digno do evangelho (1.27-30) 
III. Exortação ao Serviço Humilde (2.1-30) 
a. Encorajamento à unidade na fé e serviço mútuo (2.1–4) 
b. O exemplo de Cristo de serviço humilde (2.5-11) 
c. Vivendo como luzes no mundo (2.12-18) 
d. Timóteo como exemplo de vida centrada no serviço (2.19-24) 
e. Epafrodito como outro exemplo de serviço (2.25-30) 
IV. Adversários do Evangelho: De Onde Vem a Justiça? (3.1-21) 
a. Chamado inicial para se alegrar no Senhor (3.1) 
b. Contraste entre os oponentes do evangelho e o verdadeiro 
povo de Deus (3.2-3) 
172 
c. A renúncia de Paulo aos privilégios espirituais e étnicos por 
uma questão de conhecer a Cristo (3.4-11) 
d. O progresso de Paulo no evangelho: por meio de Cristo, não 
da lei (3.12-16) 
e. Um chamado para seguir o exemplo de Paulo de compromisso 
a Jesus como Senhor (3.17–21) 
V. Exortações Finais e Agradecimento (4.1-23) 
a. Permanecendo juntos pelo evangelho (4.1-3) 
b. Alegre-se na fé (4.4-9) 
c. Agradecimentos pelo presente dos filipenses; O 
contentamento de Paulo em Deus (4.10-20) 
d. Saudações Finais (4.21-22) 
e. Bênção (4.23) 
O Objetivo da Escrita: 
O propósito principal de Paulo ao escrever esta carta foi agradecer os 
filipenses pelo apoio contínuo e pelo donativo que haviam lhe enviado ao 
saber de sua detenção em Roma. No entanto, ele faz uso desta ocasião 
para outros fins: 
(1) para relatar suas próprias circunstâncias (1.12-26; 4.10-19); 
(2) para encorajar os filipenses a se manterem firmes diante da 
perseguição e alegrarem-se a despeito das circunstâncias (1.27-
30; 4.4); 
(3) para exortá-los à humildade e unidade (2.1-11; 4.2-5); 
(4) para recomendar Timóteo e Epafrodito, que se recuperou de uma 
doença grave, à igreja de Filipos (2.19-30); 
(5) para advertir os filipenses contra os judaizantes (legalistas) e 
antinomianos (libertinos) entre eles (cap. 3). 
 
 
173 
Fatos Curiosos da Carta aos Filipenses: 
● Foi dividida em 104 versículos e o nome ou título de Jesus ocorre 
51 vezes. É óbvio que é central no coração, mente e teologia de 
Paulo. 
● Paulo desenhou metáforas de várias áreas da vida para comunicar 
a tensão da vida cristã: 
1. atlético (3.12,14; 4.3); 
2. militar (1.7,12,15,16,17,22,28,30); 
3. comercial (3.7,8; 4.15,17,18). 
● Paulo não cita o Antigo Testamento na carta. 
● Ela manifesta um tipo particularmente vigoroso de vida cristã: 
1. se humilhando (2.1-4); 
2. se esforçando para o alvo (3.13-14); 
3. preocupando com nada (4.6); 
4. e a capacidade de encarar, aguentar e fazer todas as coisas 
(4.12-13). 
● É notável que a palavra “alegria” nas suas várias formas ocorre 
cerca de 16 vezes. 
● Contém uma das mais profundas passagens cristológicas do Novo 
Testamento (2.5–11). No entanto, por mais profundo que seja, 
Paulo o inclui principalmente para fins ilustrativos. 
A Importância da Carta aos Filipenses: 
Esta bela carta é rica em introspecções a respeito da teologia de 
Paulo, seu amor apostólico e preocupação com o evangelho e seus 
convertidos. Em Filipenses, Paulo revela sua sensibilidade humana e 
ternura, seu entusiasmo por Cristo como a chave para a vida e a morte 
(1.21) e seu profundo sentimento por aqueles em Cristo que moram em 
Filipos. Com eles, ele compartilha suas esperanças e convicções, suas 
ansiedades e medos, revelando a total confiança em Cristo que constitui a 
fé (3.8-10). A carta incorpora um hino sobre a salvação que Deus trouxe 
174 
através de Cristo (2.6–11), aplicado por Paulo às relações dos cristãos 
uns com os outros (2.1–5). Filipenses foi denominado "a carta da alegria" 
(4.4, 10). É a alegria da fé, baseada na verdadeira compreensão do papel 
único de Cristo na salvação de todos os que professam o seu senhorio 
(2.11; 3.8-12, 14, 20-21). 
Paulo escreveu para encorajar os crentes filipenses a se alegrarem 
mesmo em meio à perseguição interna e externa. A alegria de Paulo não 
dependia das circunstâncias, mas de sua fé em Cristo. Nas páginas de 
Filipenses, Paulo transmite uma mensagem poderosa sobre o segredo do 
contentamento. Embora tivesse enfrentado graves dificuldades, pobreza, 
espancamentos, doenças e até mesmo sua prisão atual, em todas as 
circunstâncias, Paulo aprendeu a se contentar. A fonte de seu 
contentamento alegre estava enraizada em conhecer a Jesus Cristo: 
“Antes eu pensava que essas coisas eram lucro, mas agora eu 
considero elas como perda, sem valor, por causa de Cristo. Mais do que 
isso, eu agora considero tudo como perda, comparado com aquilo que 
tem muito mais valor, isto é, conhecer Cristo Jesus, meu Senhor. Por 
causa dele eu perdi todas as coisas e as considero como fezes, para que 
eu possa ganhar a Cristo e ser achado nele” (3:7-9a). 
Para Pensar: 
Talvez uma das frases mais curiosas na carta se acha em versículo 
21 do primeiro capítulo: “Porque, para mim, vivendo é Cristo e morrendo 
seria lucro”. 
Isso foi o lema da vida de Paulo. Entenda isso e entenderá como 
Paulo virou o mundo cabeça para baixo por onde foi. 
Mas, o que a frase “vivendo é Cristo” quer dizer? 
Paulo está simplesmente dizendo, “Eu estou cheio de Cristo, ocupado 
com Cristo, confio em Cristo, amoCristo, espero em Cristo, obedeço a 
175 
Cristo, prego Cristo, sigo a Cristo, e tenho comunhão com Cristo. Ele é o 
centro da minha vida, tudo é Cristo. Cristo e somente Ele é a minha 
inspiração, minha direção, meu sentido, meu propósito - consumido e 
dominado por Cristo. Ele é o começo, meio e fim da minha vida”. 
E “morrendo seria lucro”? 
De todos os medos, não há um maior no coração do homem do que a 
morte. Mas Paulo não tinha medo de morrer. Ele não somente não tinha 
medo de morrer, como fala que seria lucro. 
Essa frase talvez seja uma das mais difíceis de entrar em nossas 
cabeças. São poucos que se sintam assim e mais ainda que acham que 
Paulo era louco, desejando morrer. Mas não era o caso, ainda que Paulo 
estivesse nem aí para viver ou morrer. Para ele não fazia diferença. A 
única coisa que importava para ele era se Cristo estava sendo pregado, 
honrado, glorificado, e o seu reino avançando. O resto não era 
importante, era trivial. 
Assim, para ele, vivendo ou morrendo não era uma escolha entre 
dois maus. Paulo não viu a vida como uma tarefa difícil para ser 
enfrentada, e a morte, por mais que seria difícil, pelo menos como um 
escape. Ele viu a vida como uma alegria, cada dia melhor com Cristo, e a 
morte como uma alegria maior ainda, porque ele veria Cristo face a face e 
estaria com Ele para eternidade. Por isso ele fala “morrendo seria lucro”. 
Se Jesus é a essência das nossas vidas e não somente um 
suplemento, algo que as faz melhores, morrendo é lucro porque 
ganhamos Ele, ganhamos a vida eterna. Se vivermos por algo menos que 
Ele, será uma perda irreparável. 
Se você gastar sua vida vivendo por dinheiro ou coisas, diplomas ou 
sucesso, reconhecimento ou poder, felicidade ou prazer, a morte será 
176 
uma terrível perda, pois tudo pelo que você viveu, você perderá, pois 
ficará aqui. 
Quando James Montgomery Boice chegou a esse versículo pregando 
Filipenses, comentou que esse é a definição de um crente. Um crente 
verdadeiro entende que Cristo é a sua vida e morrendo é lucro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
177 
 
CAPÍTULO 14 
 
COLOSSENSES 
 
A carta aos Colossenses, apesar de ter sido escrita há quase 2.000 
anos é incrivelmente relevante hoje em dia, com suas advertências contra 
seguir falsas filosofias, adorar anjos e ficar enredado no legalismo. 
Cristãos modernos são bombardeados com falsos ensinamentos, 
como o relativismo cultural, o universalismo, o gnosticismo e o Evangelho 
da Prosperidade. Muitos livros e sites promovem a atenção imerecida aos 
anjos, ignorando Jesus Cristo como Salvador do mundo. E apesar da clara 
pregação do apóstolo Paulo sobre a graça, algumas igrejas ainda pregam 
e ordenam boas obras para ganhar mérito com Deus. 
Os humanos não podem alcançar a salvação através de suas próprias 
obras, ideias ou realizações; nós não podemos "melhorar" o cristianismo 
adicionando ideias ou filosofias de outras fontes, não importa quão bem 
intencionadas elas sejam. A carta de Paulo aos colossenses nos lembra 
que há verdade absoluta no cristianismo. Não há necessidade de procurar 
a salvação num outro lugar. Um tema recorrente em Colossenses é a 
completa adequação de Cristo em contraste com o vazio da mera filosofia 
humana. 
É uma das “Cartas da Prisão” de Paulo junto com Efésios, Filipenses e 
Filemom. A igreja em Colossos provavelmente foi estabelecida durante a 
terceira viagem missionária de Paulo, quando ele ministrou por três anos 
em Éfeso. Parece que Paulo não plantou pessoalmente a igreja ali, mas 
em vez disso, um colossense chamado Epafras viajou para Éfeso, 
178 
respondeu à mensagem do evangelho de Paulo e voltou para compartilhar 
as Boas Notícias em Colossos. A jovem igreja que resultou, então, tornou-
se alvo de ataques heréticos, o que levou a visita de Epafras a Paulo, em 
Roma, e, finalmente, a escrita da carta aos colossenses. 
 
Para os que não leram a introdução da carta de Efésios, vale a pena 
repetir a próxima parte. 
É interessante notar o relacionamento entre a carta aos Efésios com 
a carta aos Colossenses, sendo os dois escritos em torno do mesmo 
tempo. 
Epafras, que era de Colossos, converteu em Éfeso e levou o 
evangelho de volta ao vale do rio Lico (Hierápolis, Laodiceia e Colossos). 
Ao transcorrer do tempo, falsos mestres tentaram sincronizar o evangelho 
com a ontologia grega do gnosticismo incipiente que ensinava, por 
179 
exemplo, que a matéria era má, que existia uma série de níveis angélicos 
entre o Deus superior e o deus menor que formava a matéria, que a 
salvação estava baseada no conhecimento das senhas secretas que 
permitiam as pessoas passarem através dos níveis angélicos em direção a 
Deus, e coisas além. Então Epafras procurou o conselho de Paulo sobre 
esse assunto para a igreja em Colossos. Assim, Paulo escreveu 
Colossenses dirigida a falsos mestres demonstrando o senhorio cósmico 
de Cristo. Pouco depois, Paulo escreveu a Efésios, extraindo as 
implicações da carta aos colossenses. Nisto podemos ver várias 
semelhanças entre as duas: 
• A estrutura básica é a mesma. 
• Aberturas semelhantes. 
• Tratam das mesmas áreas doutrinárias. 
• Há as mesmas aplicações práticas. 
• Elas compartilham ideias teológicas sinônimas. 
• Ambas foram entregues por Tíquico. 
• Ambas foram entregues à Ásia Menor. 
• Ambas abordam a mesma Cristologia. 
• Ambas enfatizam Cristo como o cabeça da igreja. 
• Ambas têm uma aplicação à doutrina semelhante. 
• Ambas têm palavras e frases semelhantes e exatas. 
• Das 1.750 palavras em Colossenses, 34% são paralelas em Efésios, 
enquanto 26,5% das 2.411 palavras em Efésios têm paralelo em 
Colossenses. A maioria dos estudiosos modernos acredita, portanto, 
que Colossenses foi escrito primeiro e que Efésios é dependente 
dela. 
180 
E ainda que há muitas similaridades, tem algumas diferenças: 
• A igreja era local em Colossenses, mas universal em Efésios. 
• A heresia foi mencionada especificamente em Colossenses, mas não 
diretamente referenciada em Efésios. 
O senhorio cósmico de Jesus (ou, dito de outra forma, Jesus como 
criador, redentor e Senhor de toda a criação e suas implicações para a 
vida cristã) é o tema central de Colossenses (1.15-17). A cristologia deste 
livro é insuperável! Colossenses forma o esboço básico para Efésios. Paulo 
sabia que a heresia se espalharia na Ásia menor. Colossenses ataca os 
falsos ensinamentos enquanto Efésios desenvolve seus temas centrais 
para preparar outras igrejas para a heresia vindoura. A ênfase de 
Colossenses é cristológica, enquanto a ênfase de Efésios é a unidade de 
todas as coisas em Cristo, que é o Senhor de todas as coisas. 
Autor: 
Que Colossenses é uma carta genuína de Paulo (1.1) geralmente não 
é contestada. Na igreja primitiva, todos os que falam sobre o assunto da 
autoria atribuem ela a Paulo. No século XIX, no entanto, alguns pensaram 
que a heresia refutada no capítulo dois foi o gnosticismo do segundo 
século. Mas uma análise cuidadosa do capítulo 2 mostra que a heresia 
referida é perceptivelmente menos desenvolvida do que o gnosticismo 
dos principais mestres gnósticos do segundo e terceiro séculos. Além 
disso, as sementes do que mais tarde se tornou o gnosticismo completo 
do segundo século estavam presentes no primeiro século e já faziam 
incursões nas igrejas. Consequentemente, não é necessário datar 
Colossenses no segundo século, que seria muito tarde para que Paulo 
tenha escrito a carta. 
No primeiro versículo, Paulo se apresenta. E isso seria suficiente para 
nós e provavelmente o suficiente para as pessoas em Colossos; algumas 
181 
delas de qualquer maneira certamente o conheciam. E ele acrescenta 
isso: "um apóstolo de Jesus Cristo". A razão pela qual ele acrescenta isso 
é porque afirma a sua autoridade. Ele não está prestes a escrever uma 
carta que dê sua opinião. Ele não é simplesmente um mensageiro. Ele é 
alguém vestidocom a autoridade e dotado do poder do remetente. Ele 
não está apenas levando uma mensagem. Ele representa autoridade e 
poder. E ele afirma aquela autoridade apostólica quando ele escreve para 
as igrejas onde ele sente que é necessário. 
Em Filipenses, por exemplo, onde não é necessário que ele 
estabeleça a sua autoridade, porque já está estabelecido, ele não se 
incomoda em dizê-lo. Em 1 e 2 Tessalonicenses, onde também não é 
necessário, ele não se dá ao trabalho de dizê-lo lá também. E em 
Filemom, onde ele não está usando autoridade, mas pedindo um favor, 
ele não diz nada sobre a sua autoridade. Em contraste, em Gálatas, ele 
gasta dois capítulos afirmando a sua autoridade porque estava em 
questão. E agora, ao escrever os Colossenses, ele simplesmente declara 
isso para que eles possam saber que isso não é opinião de algum 
missionário, mas é a declaração oficial do porta-voz divinamente 
designado de Jesus Cristo; esta é a Palavra de Deus. 
Data de Redação: 
Colossenses foi escrito em 60-62 d.C., enquanto Paulo estava na 
prisão em Roma (Atos 27-28). Isso foi mais ou menos na mesma época 
em que ele escreveu Efésios e Filemom. Alguns argumentaram que Paulo 
escreveu Colossenses de Éfeso ou Cesareia, mas a maioria das evidências 
favorece Roma como o lugar onde Paulo escreveu todas as “Cartas da 
Prisão” (Efésios, Colossenses, Filipenses e Filemom). 
 
 
182 
Público da Carta: 
O apóstolo Paulo escreveu esta carta aos cristãos que moravam na 
pequena cidade de Colossos. Era para também ser lido na igreja vizinha 
em Laodiceia (4.16). 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
Nós não sabemos quando Colossos foi fundada, mas já existia nos 
dias de Xerxes, também conhecido como Assuero, que era o rei da Pérsia 
de 486 a 465 a.C. durante o tempo de Ester. Então, cerca de 500 anos 
antes de Cristo, Colossos já existia e ainda estava lá nos dias de Paulo. 
Assim, era uma cidade antiga. Hoje seria localizada no que é conhecido 
como Turquia e o que nos dias de Paulo era conhecido como Ásia Menor, 
do outro lado da Macedônia. Ela estava localizada a cerca de 160 
quilômetros de Éfeso, onde o rio Lico se juntou a outro rio chamado 
Meandro. E bem naquele pequeno vale - o vale do rio Lico, cresceram três 
cidades importantes: uma chamava-se Hierápolis, a outra Laodiceia e a 
terceira chamava-se Colossos. Aquela pequena tríade de cidades ocupava 
aquela pequena área; foi na área da Frígia na província romana da Ásia 
Menor. 
Aquela área era conhecida por duas coisas: terremotos e cal. 
Terremotos destruíram Laodiceia muitas vezes e o rio Lico deixava 
depósitos de cal. Alguns historiadores disseram que o rio Lico deixou 
configurações surpreendentes de cal, que pareciam monumentos, em 
toda a área onde a água transbordava no tempo de inundação. Mas na 
terra onde não havia cal, a terra era muito fértil e ali cresciam pastos e 
tinham excelente pasto para ovelhas e se tornou o maior produtor 
mundial de lã, especialmente lã preta e lã tingida, púrpura e vermelho 
forte. Eles usaram a cal, também, para fazer corantes. Eles criavam as 
ovelhas, cortavam a lã e depois tingia-a ali mesmo. Curiosamente, 
Colossos, Laodiceia e Hierápolis foram alvo de um terremoto devastador 
183 
por volta de 60-62 d.C., provavelmente logo depois que Paulo escreveu 
suas cartas aos cristãos daquela área. E, diferente das vizinhas de 
Laodiceia e Hierápolis, Colossos jamais foi reconstruída. Foi dito que 
algumas pessoas formaram uma pequena aldeia a partir das ruínas de 
Colossos, mas o local havia sido completamente abandonado em torno do 
século oitavo d.C., e até hoje nenhuma obra arqueológica foi realizada em 
suas ruínas. 
A cidade era composta principalmente de gentios (frígios e colonos 
gregos), mas havia numerosos judeus também. Josefo nos diz que 
Antíoco III (223-187 a.C.) transportou 2.000 judeus da Babilônia para 
Colossos. E registros mostram que até 76 d.C., 11.000 homens judeus 
viviam no distrito do qual Colossos era a capital. 
Porém, no dia de Paulo, Colossos não era uma cidade famosa, na 
verdade era muito insignificante; a caminho de extinção. Colossos foi 
reduzido a uma cidade mercantil de segunda categoria, que havia sido 
superada muito antes em poder e importância pelas cidades vizinhas de 
Laodiceia e Hierápolis. 
A Estrutura: 
Colossenses segue de perto a mesma ordem das outras cartas de 
Paulo às congregações da igreja primitiva. A carta começa com os 
cumprimentos costumeiros, incluindo ação de graças e oração. O corpo 
principal da carta é dividido igualmente entre exposição teológica (uma 
das apresentações mais profundas da cristologia no Novo Testamento) e 
aplicação prática (abordando todas as áreas da vida cristã, incluindo 
instruções domésticas), seguido de saudações pessoais que reforçam o 
relacionamento entre o escritor e seus correspondentes. Por causa de seu 
impulso polêmico (persuasivo e argumentativo), Colossenses também 
assume a forma de uma disputa na qual o apóstolo argumenta o lado do 
evangelho de um debate entre a suficiência de Cristo e as afirmações 
espúrias da religião feita pelo homem. 
184 
Esboço de Colossenses: 
I. Introdução (1.1–14) 
1. Saudações (1.1–2) 
2. Ação de graças (1.3–8) 
3. Oração em favor dos colossenses (1.9–14) 
II. A Supremacia de Cristo (1.15–23) 
III. O Trabalho de Paulo pela Igreja (1.24—2.7) 
1. Seu ministério para o bem da Igreja (1.24-29) 
2. Sua preocupação com o bem estar espiritual de seus leitores 
(2.1-7) 
IV. Liberdade dos Regulamentos Humanos através da Vida com 
Cristo (2.8–23) 
1. Advertência para se guardar contra os falsos mestres (2.8-15) 
2. Imploração para rejeitar os falsos mestres (2.16-19) 
3. Uma análise da heresia (2.20-23) 
V. Instruções para uma Vida de Santidade (3.1—4: 6) 
1. O velho homem e o novo homem “Eu” (3.1-17) 
2. Regras para lares cristãos (3.18—4.1) 
3. Outras instruções (4.2–6) 
VI. Saudações Finais e Bênção (4.7–18) 
O Objetivo da Escrita: 
A carta de Paulo aos colossenses foi escrita como uma resposta 
direta aos problemas que surgiram na igreja. Os ensinamentos heréticos 
haviam começado a se infiltrar, o que levou o fundador Epafras a visitar 
Paulo em Roma, solicitando ajuda. Claramente, Paulo teria conhecimento 
dos detalhes sobre esses falsos ensinos de Epafras, mas infelizmente em 
sua carta ele nunca diz explicitamente o que eles são. Embora Paulo 
nunca descreva explicitamente o falso ensino a que se opõe na carta, a 
natureza da heresia pode ser inferida a partir das declarações que ele fez 
em oposição aos falsos mestres. Uma análise de sua refutação sugere que 
185 
a heresia era de natureza diversa. Alguns dos elementos de seus 
ensinamentos foram: 
1. Cerimonialismo. Mantinha regras estritas sobre os tipos de 
comida e bebida permissíveis, festas religiosas (2.16-17) e 
circuncisão (2.11; 3.11). 
2. Ascetismo. “Não pegue isto, não prove aquilo, nem toque 
naquilo” (2.21; 2.23). 
3. Adoração a anjos (2.18). 
4. Depreciação de Cristo. Isto está implícito na ênfase de Paulo na 
supremacia de Cristo (1.15-20; 2.2-3.9). 
5. Conhecimento secreto. Os gnósticos se gabavam disso (ver 2.18 
e a ênfase de Paulo em 2.2–3 em Cristo, “dentro dele estão 
escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento”). 
6. Confiança nos argumentos que parecem ser válidos e nas 
tradições dos homens (2.4, 8). 
Esses elementos parecem se dividir em duas categorias, judaica e 
gnóstica. É provável, portanto, que a heresia colossense fosse uma 
mistura de uma forma extrema de judaísmo (legalismo) e um estágio 
inicial do gnosticismo. 
O propósito de Paulo era refutar a heresia colossense. Para alcançar 
este objetivo, ele exaltou a Cristo como: 
1. a própria imagem de Deus (1.15), o Criador (1.16); 
2. o sustentador preexistente de todas as coisas (1.17); 
3. a cabeça da igreja (1.18); 
4. o mais importante de todos que já ressuscitaram ou 
ressuscitarão(1.18); 
5. a plenitude da divindade na forma corporal (1.19, 2.9); 
6. o reconciliador entre Deus e a humanidade (1.20-22). 
186 
Assim, Cristo é completamente adequado. Nós somos "completos 
nele" (2.10). Por outro lado, a heresia colossense era completamente 
inadequada para fornecer salvação espiritual. Era uma filosofia vazia e 
enganosa (2.8), sem capacidade de controlar os pensamentos e desejos 
da velha natureza pecaminosa (2.23). 
Paulo também aproveita a oportunidade para encorajar esses crentes 
a avançar para a maturidade em Cristo, continuando em sua batalha 
contra o pecado, buscando a santidade em Cristo e aprendendo a viver 
como famílias distintamente cristãs. 
Fatos Curiosos da Carta aos Colossenses: 
● Colossenses é uma das Cartas que possui maior centralidade na 
pessoa de Cristo em toda a Bíblia. 
● Paulo usa o título "Cristo" 28 vezes nesta pequena carta! 
● Ele usa “ele” e “dele” 30 vezes. 
● Enquanto a carta aos Efésios se concentra no Corpo (a Igreja), 
Colossenses se concentra na Cabeça (Cristo). 
● Estima-se que 60% de Colossenses estejam refletidos em Efésios. 
● Na Carta aos Colossenses, são usadas 55 palavras gregas que não 
aparecem em nenhuma das outras cartas de Paulo. 
● A igreja colossense tem sido descrita como "a menos importante de 
todas as quais foram escritas uma carta de Paulo". 
● Além desta carta e a carta que a acompanhou para Filemom, 
Colossos exerceu quase nenhuma influência sobre a história da 
igreja primitiva. Não há relatos sobre Colossos contidos no livro de 
Atos. 
A Importância da Carta aos Colossenses: 
No momento em que esta carta foi escrita, Epafras estava com Paulo 
em Roma e provavelmente compartilhou a má notícia de que havia um 
perigoso ensino ameaçando a igreja em Colossos. Assim, Paulo escreveu 
187 
esta carta para responder a essa situação e encorajar esses crentes em 
seu crescimento em direção à maturidade cristã. 
Estudiosos há muito tempo se intrigam com a natureza precisa do 
ensino destrutivo que os colossenses enfrentaram. Essa incerteza, no 
entanto, não impede a interpretação precisa do rico ensino teológico da 
carta. 
Como um dos livros mais profundamente centrados em Cristo na 
Bíblia, o apóstolo Paulo descreveu Jesus com algumas das linguagens 
mais sublimes de todo o Novo Testamento, concentrando-se na 
preeminência e suficiência de Cristo em todas as coisas. Paulo apresentou 
Cristo como o centro do universo, não apenas como o Criador ativo, mas 
também como o recipiente da criação em sua tomada de carne humana. 
Cristo foi e é a imagem visível do Deus invisível, contendo em si mesmo a 
totalidade dos poderes e atributos divinos. Por causa de sua natureza 
divina, Jesus é soberano, acima de todas as coisas com uma autoridade 
dada pelo Pai. Como tal, Jesus também é o cabeça da igreja. Ele 
reconciliou todas as coisas com Ele mesmo através de sua morte na cruz, 
tornando os crentes vivos para Deus e colocando-os no caminho para a 
vida correta. Essa visão adequada de Cristo serviu como antídoto para a 
heresia colossense, bem como um elemento fundamental para a vida e a 
doutrina cristã, tanto naquela época como agora. 
Para Pensar: 
Aparentemente, logo depois de escrever Colossenses, com tempo 
“livre” na prisão, Paulo desenvolveu os temas na carta que conhecemos 
como Efésios. Ele sabia que essa tentativa de mesclar o pensamento 
grego e o evangelho com o propósito de tornar o cristianismo "relevante" 
para a cultura grega se espalharia para todas as novas igrejas na Ásia 
Menor. 
188 
John MacArthur falou: “Esta é também uma era do ecumenismo. Esta 
é uma época em que as pessoas estão trabalhando para uma igreja 
mundial, a super igreja. Muitas vezes eu me pergunto se não será um 
corpo sem cabeça. Haverá verdadeira unidade sem doutrina verdadeira? 
Podemos realmente fundir a todos religiosamente com base na filantropia, 
cultura e empreendimento comum socialmente? Esforços não estão sendo 
feitos apenas para casar com aqueles que já são próximos, 
Protestantismo e Catolicismo Romano, em uma união eclesiástica 
suprema, mas até mesmo grupos religiosos não-cristãos foram 
convidados a fazer parte dessa amalgamação - Rama, Krishna, Zoroastro, 
Buda, Confúcio, Moisés e Maomé foram agrupados todos juntos. ‘Todos 
eles deram sua contribuição junto com Jesus, e todos nós devemos nos 
unir’. Esta é a igreja que Deus pretende? Quem é o cabeça de tal igreja? 
Qual é a base da sua unidade?” 
Tentar tornar a igreja relevante para a cultura circunvizinha era um 
dos erros da igreja emergente, atualmente em grande parte extinta. Eles 
ofereceram algo que era “relevante”, mas não libertaram os homens de 
seus pecados. Relevância foi enfatizada mais do que arrependimento. Eles 
disseram aos indivíduos perdidos: “Independentemente do que você crê, 
você é amado e bem-vindo aqui. Nós vamos amar o nosso próximo como 
a nós mesmos e você é o nosso próximo”. O evangelho deles fez com que 
os indivíduos se sentissem bem e aceitos, mas não confrontaram o seu 
pecado ou falaram da realidade do inferno. Como tal, seu tempo era 
limitado. De que serve um evangelho que não salva nem transforma? 
Tentar tornar o cristianismo relevante para uma cultura desonra o Deus 
que está acima e além de qualquer cultura. Jesus é o único caminho para 
o Pai e o único que oferece perdão pelos pecados através de sua morte 
sacrificial na cruz. Ele é o único caminho, verdade e vida. Nós não 
precisamos tentar tornar Jesus relevante para um mundo perdido, porque 
Ele já é. Ele é o que eles precisam, sem a diversão, luzes e fumaça, 
pastores modernos e shows de adoração. 
189 
Não é Cristo mais conhecimento, nem alguma experiência super 
visionária, sobrenatural e extática, nem alguma filosofia, nem alguma 
cerimônia, algum ritual, algumas regras, algumas obras, mas estamos 
completos nEle. Jesus Cristo é tudo, e nada mais é necessário. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
190 
 
CAPÍTULO 15 
 
1 TESSALONICENSES 
 
Ao ser libertado da prisão em Filipos, Paulo continuou sua segunda 
viagem missionária a Tessalônica, acompanhado por Silas e Timóteo 
(Atos 17.1-5). Ele passou três sábados em Tessalônica e teve muito 
sucesso, mas por causa da perseguição dos judeus, foi de lá para Bereia, 
depois para Atenas e então seguiu para Corinto, onde passou 18 meses. 
 
191 
Depois de pouco tempo em Atenas, Paulo sentiu a necessidade de 
saber como estava a igreja recém-nascida em Tessalônica, por isso 
enviou Timóteo de volta para servir e ministrar aos novos crentes de lá. 
Paulo queria verificar o estado da fé dos tessalonicenses, por medo de 
que os falsos mestres se infiltrassem no meio deles. No entanto, Timóteo 
logo retornou com um bom relato: Apesar da intensa perseguição, os 
cristãos em Tessalônica permaneciam firmes na fé. E isso levou Paulo a 
escrever 1 Tessalonicenses como uma carta de encorajamento e instrução 
aos novos crentes. 
O tema mais proeminente em 1 Tessalonicenses é a segunda vinda 
de Jesus. É mencionado em todos os capítulos do livro (1.10; 2.19–20; 
3.13; 4.13–18; 5.1–11, 23–24). Na vinda futura de Jesus, os mortos em 
Cristo ressuscitarão e serão arrebatados juntamente com os vivos para 
encontrar o Senhor no ar (4.15-17). Os incrédulos estarão sujeitos à sua 
ira, mas os cristãos serão libertos disso, herdando a salvação (1.10; 5.2–
4, 9–10). Aqueles que estão destinados a participar como o povo santo na 
segunda vinda devem ser santos e irrepreensíveis (3.11–4.8; 5.23), e 
Deus, que é fiel, produzirá santidade nas vidas daqueles a quem ele 
chama (5.24). 
O estilo é calmo, de acordo com o assunto, que trata apenas dos 
deveres cristãos em geral, tomando por certo as grandes verdades 
doutrinárias que ainda não foram contestadas. Não houve ainda nenhum 
erro mortal para provocar suas explosões mais veementes e argumentos 
apaixonados. As primeiras cartas de Paulo, como devemosesperar, são 
morais e práticas. Não foi até que os erros legalistas dos judaizantes 
surgiram num período posterior que ele escreveu aquelas cartas (por 
exemplo, Romanos e Gálatas) que desdobraram as doutrinas da graça e 
justificação pela fé. Ainda assim, as cartas de sua prisão romana 
confirmam as mesmas verdades. 
 
192 
Autor: 
O apóstolo Paulo identificou-se duas vezes como o autor desta carta 
(1.1; 2.18). A menção de Silas (“Silvano”) e Timóteo como co-remetentes 
(1.1) pode indicar o cuidado de Paulo de apresentar os missionários como 
um grupo unido para compensar qualquer desapontamento dos 
tessalonicenses que Paulo não tivesse vindo visitá-los, mas em vez disso 
enviou Timóteo. 
A autoria de Paulo não foi questionada até recentemente por críticos 
radicais. Suas tentativas de minar a autoria paulina fracassaram à luz do 
peso combinado de evidências favoráveis a Paulo tais como: 
1. as asserções diretas da autoria de Paulo (1.1; 2.18); 
2. a correlação perfeita da carta com as viagens de Paulo em 
Atos 16–18; 
3. a multiplicidade de detalhes íntimos em relação a Paulo; e 
4. a confirmação por múltiplas verificações históricas, 
começando com o cânon de Marcião em 140 d.C. 
Data de Redação: 
A maioria dos estudiosos de hoje data 1 Tessalonicenses em 51-52 
d.C., durante sua segunda viagem missionária (Atos 18.1-18), no início 
dos 18 meses de Paulo em Corinto. Apenas uma pequena minoria de 
eruditos, que não considera Atos como historicamente confiável, coloca-a 
no início dos anos 40 d.C. Porém, a inscrição de Delfos - uma carta do 
imperador Cláudio à cidade de Delfos - data o tempo quando Gálio era 
procônsul da Acaia em 51-52 d.C., e Atos 18.12–17 menciona Gálio no 
final da estada coríntia de Paulo. 
 
 
193 
Público da Carta: 
O apóstolo Paulo escreveu à carta para a igreja de Tessalônica. 
Parece que a liderança principal da igreja era judia, embora a maioria dos 
membros fosse de origem gentia. 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
Em 315 a.C., Cassandro, o genro de Filipe da Macedônia (pai de 
Alexandre, o Grande) reuniu e organizou as aldeias da área numa nova 
metrópole, Tessalônica. Ele deu à cidade seu nome em homenagem a sua 
esposa, a meia-irmã de Alexandre. 
Tessalônica permaneceu em mãos gregas até 168 a.C., quando os 
romanos tomaram posse após vencerem a batalha de Pidna. Naquela 
época, os romanos dividiram o território conquistado em quatro distritos, 
sendo Tessalônica a capital do segundo distrito. Em 146 a.C. a Macedônia 
foi unida numa província romana com Tessalônica como a escolha natural 
de sua capital. Em 42 a.C. Tessalônica foi feita uma “cidade livre” por 
Antônio e Otaviano, o futuro Augusto, significando que seria governada 
por seus próprios cidadãos sob o Império Romano, como recompensa pela 
ajuda dada na luta contra Bruto e Cássio. 
O procônsul romano, governador da Macedônia, tinha sua residência 
em Tessalônica, mas porque era uma "cidade livre", ele não controlava 
seus assuntos internos. Nenhuma guarnição romana estava estacionada 
lá, e em espírito e atmosfera era uma cidade grega em vez de romana. 
Tessalônica tinha uma população de mais de 200.000 habitantes e 
assim era a maior cidade da Macedônia. Devido ao seu porto natural no 
golfo Termaico, no extremo norte do Mar Egeu, (onde Xerxes estabeleceu 
sua base naval quando invadiu a Europa), e sua localização na estrada 
leste-oeste, a via Egnácio, bem como as principais rotas de comércio 
norte-sul, significou que serviu como o centro da atividade política, 
194 
filosófica e comercial na Macedônia. Religiosamente, a cidade estava 
comprometida com o panteão greco-romano e o culto imperial; os cultos 
egípcios também eram proeminentes. 
Ao contrário de Filipos, havia judeus suficientes em Tessalônica para 
justificar uma sinagoga. Como rabino visitante, treinado sob o renomado 
Gamaliel, Paulo teve permissão para falar, o que ele fez por três sábados 
consecutivos (Atos 17.3), “explicando e provando que o Cristo tinha que 
sofrer e ressuscitar dos mortos”, e dizendo: “Este Jesus que eu estou 
proclamando a vocês é o Cristo”. Como resultado, alguns dos judeus 
foram persuadidos, juntamente com muitos gregos tementes a Deus e 
várias mulheres importantes (Atos 17.4). 
A Estrutura: 
1 Tessalonicenses é uma carta informal que contém todos os 
ingredientes usuais das cartas do Novo Testamento. É uma carta pública 
no sentido de ser escrita a um grupo inteiro, mas em muitos pontos ela 
se parece mais com uma carta pessoal para um indivíduo, pois destaca o 
relacionamento entre o autor e seus destinatários. O objetivo das cartas é 
geralmente informar, e esta carta informa a igreja de Tessalônica sobre 
os sentimentos de Paulo em relação a eles, eventos em sua própria vida, 
doutrina cristã e sua prática. 
A carta começa com um breve trato (1.1) e termina com uma 
saudação (5.26-28). O corpo da carta consiste em duas partes principais. 
O primeiro (1.2–3.13) é um conjunto de três seções de ação de graças 
conectadas por duas apologias (defesas) que tratam, respectivamente, da 
conduta anterior dos missionários e suas preocupações atuais. O grato 
otimismo de Paulo em relação ao bem-estar espiritual dos tessalonicenses 
é atenuado por sua insistência no reconhecimento do amor abnegado 
demonstrado pelos missionários. Numa época de vendedores itinerantes 
de novas religiões, Paulo achou necessário enfatizar não apenas o 
conteúdo de seu evangelho, mas também sua maneira de apresentá-lo, 
195 
pois ambos atestavam à graça de Deus como livremente concedida e 
poderosamente eficaz. 
A segunda parte da carta (4.1–5.25) é especificamente exortativa. O 
amor superabundante pelo qual Paulo acaba de orar (3.12-13) deve ser 
mostrado na prática, vivendo as normas de conduta que ele lhes 
comunicou. “Imperativos” específicos da vida cristã, princípios para agir 
moralmente, derivam do “indicativo” do relacionamento de alguém com 
Deus por meio de Cristo pelo envio do Espírito Santo. Assim, a conduta 
moral é a expressão prática e pessoal da fé, amor e esperança cristã da 
pessoa. 
Esboço de 1 Tessalonicenses: 
I. Abertura (1.1) 
II. Ação de Graças e Encorajamento (1.2-3.13) 
a. Ação de Graças pela fé, amor e esperança dos 
tessalonicenses (1.2-3) 
b. A confiança de Paulo na eleição dos tessalonicenses (1.4-
2.16) 
c. A defesa de Paulo dos missionários durante sua ausência 
(2.17–3.10) 
d. Uma oração pastoral pelos tessalonicenses (3.11–13) 
III. Instrução e Exortação (4.1–5: 28) 
a. Agradando a Deus (4.1-12) 
b. A segunda vinda de Jesus (4.13–5: 11) 
c. Sobre conduta comunitária (5.12-22) 
d. Oração, certeza e conclusão (5.23-28) 
O Objetivo da Escrita: 
Impressionado pela fidelidade dos tessalonicenses em face da 
perseguição, Paulo escreveu para encorajar os cristãos naquela 
comunidade com o objetivo de que eles continuassem a crescer em 
196 
devoção e temor a Deus. Paulo sabia que o povo havia sido exposto a 
ensinamentos errôneos daqueles que se opunham ao caminho de Jesus 
Cristo e à graça de Deus. E Paulo também entendeu que, a menos que a 
jovem igreja continuasse a amadurecer em sua fé, o perigo só 
aumentaria com o tempo. 
Com isso em mente, Paulo ensinou ao povo que qualquer 
crescimento espiritual seria motivado por sua esperança no retorno final 
de Jesus Cristo. Paulo nunca se interessou em simplesmente dizer às 
pessoas para melhorar sua situação ou ter sucesso por meio de seus 
próprios esforços, sem ajuda externa, pois ele sabia que o que finalmente 
inspirou a mudança foi uma vida de andar consistentemente no poder do 
Espírito de Deus. E assim, para um grupo de novos cristãos com dúvidas 
e incertezas, Paulo ofereceu a esperança do retorno de Cristo, 
proporcionando tanto conforto em meio a perguntas quanto motivação 
para viver em devoção e temor a Deus. 
Em geral a situação da igreja estava em bom estado, especialmenteem vista do fato de que a maioria era novos cristãos, mas havia questões 
a serem abordadas: 
1. Alguns procuravam minar Paulo, acusando-o de falso ensino, 
ensino imoral e hipocrisia. 
2. Alguns indicaram que ele estava com medo de voltar (2.17-18). 
3. Eles acusaram Paulo de ganância e uso de lisonja (2.5,6). 
4. Panelinhas na igreja (5.13,20, 26-27). 
5. Confusão a respeito do fim dos tempos (4.11-18; 5.1-6). 
6. Autoridade desprezado (5.12-14). 
7. Recaída em imoralidade (4.3-8) 
Como tal, o propósito de Paulo em sua carta era: 
1. Fortalecer os novos crentes na doutrina básica. 
2. Encorajá-los de viver em santidade. 
197 
3. Consolá-los com a vinda de Cristo. 
4. Corrigir falsas doutrinas. 
5. Instar respeito pela liderança. 
6. Remover suspeitas que minariam a sua fé. 
7. Encorajá-los no meio da sua perseguição. 
8. Expressar gratidão a eles. 
9. Instruí-los na vida da igreja. 
10. Combater erros de conduta em vez de erros de crença. 
Fatos Curiosos da Carta de 1 Tessalonicenses: 
 1 Tessalonicenses é a segunda carta que Paulo escreveu. 
 É mais antiga que Mateus, Marcos, Lucas, João, Atos, Romanos e 
todos os outros livros do Novo Testamento, exceto Gálatas e Tiago. 
 Não contém nenhuma citação do Antigo Testamento. 
 A palavra “Senhor” é aplicada a Jesus 25 vezes. 
 Foi uma igreja cheia de novos crentes. 
 A igreja de Tessalônica é a única igreja que não é censurada por 
nada. 
 Ambas as cartas a Tessalônica têm sido referidas como “as epístolas 
escatológicas”. No entanto, à luz de seu enfoque mais amplo sobre 
a igreja, elas seriam melhores classificadas como as epístolas da 
igreja. 
 Não é doutrinal, não tem elemento de controvérsia e é uma das 
cartas mais gentis e afetivas de Paulo. 
 O trabalho de Paulo em Tessalônica foi notável porque seus 
inimigos o acusaram de ter "virado o mundo de cabeça para baixo" 
(Atos 17.6). Este trabalho foi anunciado em toda a Grécia (1 
Tessalonicenses 1.8-9). 
 1 Tessalonicenses fornece aos cristãos a passagem bíblica mais 
clara sobre o arrebatamento vindouro dos crentes. 
 
198 
A Importância da Carta de 1 Tessalonicenses: 
Você já se sentiu como se sua fé cristã tivesse ficado estagnada, que 
você está murchando na videira quando você preferiria estar florescendo 
no serviço d’Ele? A primeira carta de Paulo aos tessalonicenses é o 
remédio perfeito para esse sentimento. Seu foco no retorno de Cristo 
fornece água para a alma sedenta hoje, estimulando crescimento em 
maturidade por dar esperança em meio a sofrimento, perseguição ou 
incerteza. 
Ao apegarmo-nos à nossa esperança em Cristo, podemos ver vários 
resultados claros em nossas vidas: evitando a imoralidade sexual, se 
recusando a defraudar os outros, apreciando os cristãos que servem em 
seu favor, se recusando a retribuir o mal, se regozijando sempre, orando 
sem cessar, e dando graças em todas as coisas - para citar alguns (4.3-7; 
5.12-23). Essa lista, é claro, não é exaustiva, mas a primeira carta aos 
tessalonicenses deixa claro que todo cristão deve esperar crescer em 
santidade ao longo de sua vida. 
As instruções e exortações práticas de Paulo são universalmente 
aplicáveis em toda a história da igreja até os dias de hoje. 
Para Pensar: 
Uma equipe de escavação arqueológica, trabalhando nesta mesma 
cidade de Tessalônica, descobriu um cemitério antigo do primeiro século. 
E lá, entre as lápides pagãs, encontraram uma inscrição em grego com 
estas palavras: "Sem esperança". Mas aqui, numa igreja no meio daquela 
cidade, havia aqueles que haviam encontrado a perseverança baseada na 
esperança; eles estavam esperando a vinda do Filho de Deus. É isso que 
mantém o coração calmo no meio de perigos e perseguições. É isso que 
torna possível observar o mundo aparentemente se despedaçando e 
manter a tranquilidade. Deus está no controle e Ele sabe o que está 
fazendo. Nós temos uma esperança. Seu nome é Jesus, e Ele está voltando. 
199 
 
CAPÍTULO 16 
 
2 TESSALONICENSES 
 
 
Só porque Paulo visitou uma cidade, pregou o evangelho e fundou 
uma igreja guiando convertidos à fé, isso não protegeu a nova igreja de 
hereges intrigantes. De fato, a imaturidade de qualquer nova igreja 
apresentava um alvo perfeito para aqueles que pretendiam enganar e 
distorcer a verdade. Paulo, preocupado com seus amigos e os problemas 
deles com os falsos mestres, escreveu esta segunda carta aos crentes em 
Tessalônica, na esperança de encorajar sua fé jovem, mas florescente. 
A primeira carta aos tessalonicenses havia sido escrita em resposta 
às notícias trazidas por Timóteo, que havia feito uma viagem rápida para 
lá enquanto Paulo estava em Atenas (1 Tessalonicenses 3.1-3,6). 
Encorajado pela sua firmeza na face de perseguição, Paulo exortou-os à 
santidade em vista da vinda do Senhor (1 Tessalonicenses 3.12-13; 
5.23). Mas, a partir da segunda carta, embora pareça que eles 
permaneceram fortes no Senhor apesar da perseguição (2 
Tessalonicenses 1.3-4), é evidente que a incompreensão sobre a vinda do 
Senhor estava presente na igreja. 
Paulo presumiu que a igreja de Tessalônica sabia que a segunda 
vinda de Jesus Cristo ocorreria ao mesmo tempo que a vinda do “dia do 
Senhor”. Contudo, os tessalonicenses aparentemente foram vítimas da 
crença de que o dia do Senhor já havia chegado. “O dia do Senhor” foi 
uma frase dos profetas hebreus para descrever a vitória de Deus sobre 
todos os oponentes, quando seus fiéis seriam recompensados. A 
preocupação dos tessalonicenses parece não ter sido a de que o dia havia 
200 
chegado e terminado e que eles o haviam perdido, mas que agora estava 
presente. Isso significaria que nada mais deveria ser esperado de Deus 
em termos de acertar as coisas. Vendo que eles continuaram sofrendo 
perseguições, essa era uma perspectiva deprimente. 
Ao corrigir sua incompreensão sobre o retorno de Cristo, Paulo 
explica que o Senhor não virá imediatamente (2.1-3). Portanto, eles 
precisam continuar com firmeza e paciência pelas quais foram elogiados. 
Um tema sugerido desta epístola poderia ser: 
"Perseverança, enquanto aguarda a vinda de Cristo". 
Uma vez que o assunto da segunda carta tem um número de 
semelhanças temáticas com a primeira, Paulo provavelmente recebeu um 
segundo relatório da cidade detalhando questões ou problemas contínuos 
relacionados ao fim dos tempos. 
Várias referências de Paulo indicam que alguns em Tessalônica 
estavam deliberadamente enganando esses novos crentes, até mesmo ao 
ponto dos falsos mestres falsificarem cartas para parecerem que tinham 
vindo de Paulo (2.2). O apóstolo, portanto, tomou um cuidado especial 
nesta carta para fazer questão que os tessalonicenses entendessem não 
apenas seu ponto de vista a respeito do fim dos tempos, mas também 
1 Tessalonicenses 2 Tessalonicenses 
Vindo para os Santos Vindo com os Santos 
Vinda de Cristo Vinda do Anticristo 
Dia de Cristo Dia do Senhor 
Fala de Conforto Fala de Correção 
201 
como era sua caligrafia, para que pudessem identificar as cartas como 
autenticamente dele (3.17). 
Em contraste com o caloroso tom emocional de 1 Tessalonicenses, 2 
Tessalonicenses inclui algumas ordens bruscas enquanto Paulo aborda o 
mau comportamento e a má maneira de pensar. Além disso, esta carta é 
digna de nota pela intolerância de Paulo ao predizer o julgamento sobre 
os ímpios e repreender os membros da igreja que se comportam e 
pensam incorretamente. Ainda assim, há um balanço regular de ida e 
volta entre a repreensão e o encorajamento caloroso. 
Autor: 
Paulo, como em 1 Tessalonicenses, identificou-se duas vezes como o 
autor desta carta (1.1; 3.17). Silvano (Silas) e Timóteo, colaboradores de 
Paulo na fundação da igreja, estavam presentes com ele quando 
escreveu. 
A autoria de Paulo de 2 Tessalonicenses tem sido questionada com 
mais frequência do que a de 1 Tessalonicenses, apesar de ter mais apoio 
dos primeiros escritores cristãos. As objeçõessão baseadas em fatores 
internos, e não na adequação das declarações dos pais da igreja. 
Acreditam-se que existem diferenças no vocabulário (dez palavras não 
usadas em outro lugar), no estilo (dizem-se que é inesperadamente 
formal) e na escatologia (a doutrina do "homem do pecado" não é 
ensinada em outros lugares). No entanto, tais argumentos não 
convenceram intérpretes atuais. A maioria ainda detém a autoria de Paulo 
de 2 Tessalonicenses. 
Data de Redação: 
Por causa de sua semelhança com 1 Tessalonicenses, é quase certo que 
ela foi escrita não muito depois da primeira carta; talvez cerca de seis 
202 
meses. Paulo provavelmente a escreveu em 51-52 d.C. de Corinto, depois 
que Silas e Timóteo voltaram de entregar 1 Tessalonicenses. 
Público da Carta: 
O estabelecimento da igreja está registrado em Atos 17.1-9. Em sua 
segunda viagem missionária, Paulo e seus companheiros, Silas e Timóteo, 
tinham acabado de deixar Filipos e passaram por Anfípolis e Apolônia para 
chegar a Tessalônica. Como era seu costume, Paulo imediatamente 
localizou a sinagoga e argumentou com os judeus por três sábados a 
respeito de Jesus Cristo. Enquanto alguns deles foram persuadidos, 
incluindo um grande número de gregos tementes a Deus e várias 
mulheres importantes, os judeus incrédulos ficaram com ciúmes e criaram 
um alvoroço na cidade. Portanto, tornou-se necessário enviar Paulo e 
Silas secretamente à noite para Bereia. 
 
203 
Apesar de um começo tão sinistro, uma igreja forte foi estabelecida 
em Tessalônica (2 Tessalonicenses 1.2-10). Principalmente gentios (1.9), 
seus membros incluíam Jasom (Atos 17.9), Aristarco e Secundo (Atos 
20.4). A igreja já havia recebida a carta anterior de 1 Tessalonicenses. 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
Para a história de Tessalônica, veja a Introdução a 1 
Tessalonicenses: Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos. Alguns 
sugeriram que Paulo escreveu esta carta de Éfeso (Atos 18.18-21), mas 
sua estada de 18 meses em Corinto proporcionou tempo suficiente para 
que as duas epístolas de Tessalônica fossem escritas (Atos 18.11). 
Aparentemente, Paulo ficou sabendo dos acontecimentos em 
Tessalônica. Ela recebeu uma atualização sobre a condição da igreja, que 
havia amadurecido e expandido (1.3); mas a pressão e a perseguição 
também aumentaram. As sementes da falsa doutrina sobre o Senhor 
haviam sido semeadas, e as pessoas estavam se comportando 
desordenadamente. Então Paulo escreveu aos membros da igreja 
Tessalônica que eram: 1) desencorajados pela perseguição e precisavam 
de incentivo para perseverar; 2) enganados por falsos mestres que os 
confundiram a respeito do retorno do Senhor; e 3) desobediente aos 
mandamentos divinos, particularmente recusando-se a trabalhar. 
Havia aqueles na igreja de Tessalônica que acreditavam que a nova 
maneira de viver oferecida por Jesus era motivo para abandonar o antigo 
modo de viver que envolvia trabalho duro, e assim eles se tornaram 
ociosos. É difícil saber exatamente por que alguns deles não estavam 
trabalhando, já que Paulo não declara isso. Talvez tenham pensado 
erroneamente que a promessa da vida eterna significava que essa vida 
não mais importava. Esses ociosos estavam vivendo da generosidade dos 
membros mais responsáveis da igreja. Eles estavam consumindo os 
recursos destinados a atender às necessidades daqueles que realmente 
não conseguiam se sustentar, tornando-se problemáticos. 
204 
Paulo não teria nada disso. Ele deixou claro que os cristãos precisam 
manter seu trabalho, pois o caminho de Cristo não é a ociosidade, mas o 
serviço e a excelência no trabalho. 
A Estrutura: 
2 Tessalonicenses segue a ordem usual de uma carta do Novo 
Testamento. Ela começa com uma saudação e termina com uma oração e 
uma bênção. Entre esses começo e fim, encontra-se o tipo de carta 
informal que meandra através de uma série de tópicos da maneira que as 
cartas informais atuais costumam fazer. Há a mistura usual de pessoal 
(referências ao relacionamento do escritor da carta com seus 
destinatários) e informações públicas, doutrina cristã e aplicação prática. 
Apesar dos capítulos 1 e 2 conterem muito material profético porque 
a questão principal foi um sério mal entendimento gerado por falsos 
mestres sobre o vindouro Dia do Senhor (Paulo revela que o Dia não 
havia chegado e não aconteceria até que outros eventos ocorressem), 
ainda é melhor classificá-la como “uma carta pastoral”. A ênfase está em 
como manter uma igreja saudável com um testemunho eficaz em 
resposta adequada à escatologia sadia e a obediência à verdade. 
Como é o caso de todos os livros do Novo Testamento, 2 
Tessalonicenses reflete sobre quem é Cristo e como sua vinda afetou a 
história humana (1.5-7; 2.1–2, 13). Paulo direciona seus leitores para o 
futuro e para o passado, lembrando-os de como esses dois horizontes de 
tempo afetam o presente. 
O futuro: Como era verdade em 1 Tessalonicenses, a segunda vinda 
de Cristo é de particular importância em 2 Tessalonicenses. Novamente, 
Paulo está levantando os olhos de seus leitores para o horizonte futuro, 
quando o sofrimento atual chegará ao fim. Deus “dará descanso a vocês 
que são afligidos, e para nós também. Isso vai acontecer quando Jesus 
for revelado do céu” (1.7). Jesus será adorado e louvado naquele dia e 
205 
seus inimigos sofrerão o terrível destino da justa condenação diante de 
Deus (1.5-12). 
O passado: No entanto, como em 1 Tessalonicenses, não é apenas o 
futuro que está em vista. Paulo direciona seus leitores também para a 
eternidade passada. Ele lembra-lhes que "desde o início Deus os escolheu 
para serem salvos" (2.13). O amor constante de Deus por seu povo se 
estende até mesmo antes do alvorecer dos tempos (ver também Efésios 
1.4-5, 11). Temos, portanto, “conforto eterno e boa esperança por meio 
da sua graça” (2.16). 
O presente: Tudo isso afeta o modo como os crentes vivem no 
presente. Se fomos escolhidos por graça imerecida, e se estamos 
destinados a ser justificados gloriosamente quando Jesus vem 
novamente, então somos fortalecidos para suportar a adversidade (1.4). 
Nós permanecemos firmes contra o Maligno (2.15; 3.3). Nós persistimos 
em fazer bem (1.11; 3.13). 
Esboço de 2 Tessalonicenses: 
I. Introdução (capítulo 1) 
a. Saudações (1.1–2) 
b. Ação de graças por sua fé, amor e perseverança (1.3–10) 
c. Intercessão pelo seu progresso espiritual (1.11-12) 
II. Instrução (capítulo 2) 
a. Profecia a respeito do Dia do Senhor (2.1–12) 
b. Ação de graças por sua eleição e chamado (sua posição) 
(2.13-15) 
c. Oração pelo seu serviço e testemunho (sua prática) (2.16-17) 
III. Injunções (capítulo 3) 
a. Chamada à oração (3.1-5) 
b. Ordem para disciplinar os desordenados e preguiçosos (3.6–15) 
c. Conclusão, saudações finais e bênção (3.16-18) 
206 
O Objetivo da Escrita: 
Visto que a situação na igreja de Tessalônica não mudou 
substancialmente, o propósito de Paulo, por escrito, é o mesmo que em 
sua primeira carta a eles. Ele escreve (1) para encorajar os crentes 
perseguidos (1.4–10), (2) para corrigir um mal entendimento referente 
ao retorno do Senhor (2.1–12) e (3) para exortar os tessalonicenses a 
serem firmes e trabalharem para ganhar o seu pão diário (2.13-3.15). 
O tema principal da carta é a segunda vinda de Jesus. O retorno de 
Jesus será precedido por uma “apostasia” (ou rebelião) e pelo 
aparecimento do “homem do pecado”, o Anticristo (2. 3). Quando Jesus 
vier, ele derrotará esse rebelde governante do mundo (2.8). Ele trará 
justiça aos cristãos oprimidos e ira aos incrédulos (1.5–10; 2.9–15). 
Fatos Curiosos da Carta de 2 Tessalonicenses: 
 Como 1 Tessalonicenses, esta carta trata extensivamente da 
escatologia. De fato, em 2 Tessalonicenses, 18 dos 47 versículos 
tratam desse assunto. 
 Seu estilo de escrever é apocalíptico (2.1-12). 
 Há uma ênfase no Dia do Senhor. 
 Ela adiciona às verdades proféticasde 1 Tessalonicenses. 
 Contrastes à 1 Tessalonicenses: 
o 1 Tessalonicenses lida com a vinda de Cristo para os santos 
no ar, enquanto 2 Tessalonicenses lida com a vinda de Cristo 
à terra com os santos. 
o 1 Tessalonicenses apresenta a vinda de Cristo enquanto 2 
Tessalonicenses se prepara para a vinda do Anticristo. 
o 1 Tessalonicenses enfatiza o Dia de Cristo (arrebatamento) 
enquanto 2 Tessalonicenses enfatiza o Dia do Senhor. 
o 1 Tessalonicenses se preocupa com os mortos, enquanto 2 
Tessalonicenses se preocupa com os vivos. 
 É a carta mais curta que Paulo escreveu para qualquer igreja. 
207 
 Além de sua carta a Filemom, 2 Tessalonicenses é a mais curta de 
todas as cartas de Paulo. 
 O tom é mais formal e rígido do que o de 1 Tessalonicenses. 
 Houve uma mudança na igreja: de uma igreja dinâmica (1 
Tessalonicenses) para uma igreja voltada para dentro (2 
Tessalonicenses). 
 Como em sua carta anterior aos tessalonicenses, Paulo fala ao 
longo desta carta da segunda vinda de Jesus. Em 2 
Tessalonicenses, no entanto, o foco é especificamente no 
julgamento dos inimigos de Deus que acontecerão naquele dia. 
Importância da Carta de 2 Tessalonicenses: 
A segunda carta de Paulo aos tessalonicenses fornece um remédio 
forte para a igreja global hoje. Nunca antes na história mundial a igreja 
foi tão amplamente perseguida por sua fé em Cristo. 
Num artigo recente, Justin D. Long enfatizou o surpreendente fato de 
que mais pessoas morreram por sua fé no século XX do que em todos os 
séculos anteriores combinados. “Durante este século, documentamos 
casos de mais de 26 milhões de mártires. Entre 33 e 1900 d.C., 
documentamos 14 milhões de mártires”. 
Porém, ele acrescentou que felizmente o martírio esteve em declínio 
na última década. "A taxa atual é de 159.000 mártires por ano - abaixo 
dos 330.000 por ano no auge da guerra fria”. No entanto, isso ainda é 
435 crentes mortos cada dia por sua fé. 
Recentemente na China, após a detenção de seu pastor e cerca de 
100 membros, uma igreja cristã em Chengdu está agradecendo a Deus e 
se preparando para ainda mais dificuldades. Durante as noites de 9 e 10 
de dezembro, 2018, autoridades do governo prenderam líderes e 
membros da Early Rain Covenant Church, uma das igrejas mais 
proeminentes não registradas do país. Desde então, algumas pessoas 
208 
foram libertadas, enquanto outras estão sendo observadas de perto. 
Alguns membros relatam um tratamento difícil enquanto estão sob 
custódia. 
Pouco antes de sua prisão, um líder da igreja, Li Yingqiang, escreveu 
uma carta para sua igreja de um esconderijo. Descrevendo a 
“perseguição em grande escala” como uma “recompensa”, Li expressa 
confiança de que os detentos estão dentro da “providência soberana” de 
Deus durante suas provações. 
Citando 1 Pedro 4.12-14, Li pergunta a seus companheiros cristãos: 
“Você está se regozijando com o fato de estar sofrendo com Cristo por 
causa dessa igreja? Você sabe que somos abençoados?” 
Ele então agradece a Deus por estar presente durante a provação, 
“por nos treinar nestes dias de dificuldades” e “por nos esculpir por meio 
da perseguição de hoje”. Embora o futuro seja incerto, Li diz, ele espera 
que a repressão aos cristãos “se torne o status quo para nós no futuro”. 
Quando Paulo fala aos tessalonicenses das “perseguições e aflições 
que vocês estão suportando” (1.4), ele está descrevendo uma experiência 
familiar a muitos cristãos em todo o mundo hoje. Mesmo onde a 
perseguição não é realizada pública ou sistemicamente, é a experiência 
universal dos crentes fiéis, como Jesus disse, “vocês serão odiados por 
todos por causa do meu nome” (Mateus 10.22). 
No entanto, seja qual for o tipo de hostilidade que os cristãos 
suportam, as grandes promessas do evangelho da graça são verdadeiras 
e fornecem bases sólidas. Deus nos escolheu por meio de um ato 
definitivo de purificação pelo Espírito Santo (2.13). Ele nos chamou para 
si mesmo por meio das Boas Notícias, e finalmente nos levará para 
participar na glória do nosso Senhor Jesus Cristo (2.14). Deus “nos amou 
e, por meio da sua graça, nos deu conforto eterno e uma boa esperança” 
(2.16). 
209 
À medida que os crentes em todo o mundo se veem envolvidos em 
conflitos devido à sua fé, seja local ou nacional, podemos ter fé nas 
grandes promessas do evangelho. Pois embora que “o poder secreto da 
iniquidade já está agindo” e “a obra de Satanás” pareça esmagadora, 
“Jesus o matará com o sopro de sua boca” e reduzirá a nada as forças 
hostis do inferno que incitam os males terrestres que vemos ao nosso 
redor (2.7-9). 
Para Pensar: 
Disciplina e controle de si mesmo são duas qualidades que 
rapidamente desaparecem numa sociedade tão focada no material que 
seu povo se esquece das realidades espirituais que devem ditar as suas 
vidas. Gordas com sucesso financeiro e material, muitas pessoas hoje 
descendem a uma existência indisciplinada e preguiçosa que possui pouco 
cuidado para com os outros, especialmente do tipo que pode conflitar com 
nossos desejos pessoais e carnais. Agora, a sua vida diária entra em 
conflito com o desejo de Deus para você de viver bem e servir os outros? 
Paulo sabia que a esperança em Cristo encorajaria a perseverança na 
vida devota e temente a Deus. E a esperança é exatamente o que nos 
falta hoje, uma das grandes razões desse deslize gradual para o aumento 
do egocentrismo. Ao ler as palavras de 2 Tessalonicenses, permita-as 
reacenderem a sua esperança e estimularem o seu desejo de viver de 
maneiras diligentes que honram a Deus. 
 
 
 
 
210 
 
CAPÍTULO 17 
 
1 TIMÓTEO 
 
Esta é a primeira das duas cartas que Paulo escreveu ao seu amado 
filho na fé. Timóteo, um dos companheiros de longa data de Paulo, que se 
juntou ao apóstolo em sua segunda viagem missionária (Atos 16.2), 
esteve com Paulo no final do primeiro encarceramento romano do 
apóstolo (Filipenses 2.19-24). Quando Paulo foi libertado, ele levou 
Timóteo e Tito com ele de volta à Ásia Menor, depois que eles deixaram 
Tito em Creta. Eles seguiram por Éfeso a caminho da Macedônia. Lá, eles 
encontraram falsos mestres que virtualmente tomaram a igreja - 
exatamente como Paulo havia previsto (Atos 20.29-30). Dois deles, 
Himeneu e Alexandre, foram excomungados por Paulo (1 Timóteo 1.19-
20). Paulo teve que continuar na Macedônia (Filipenses 2.24), mas a 
situação em Éfeso precisava de ajuda. Assim, ele deixou Timóteo no 
comando da igreja, dando-lhe instruções para lidar com os hereges que 
haviam se tornado líderes na igreja (1 Timóteo 1.3-4). 
Quem foi Timóteo? 
Timóteo recebeu seu nome, que significa “aquele que honra a Deus”, 
de sua mãe Eunice e sua avó Lóide, judias devotas que se tornaram 
crentes no Senhor Jesus Cristo (2 Timóteo 1.5) e ensinaram a Timóteo as 
Escrituras do Antigo Testamento desde a sua infância (2 Timóteo 3.15). 
Seu pai era grego (Atos 16.1), que pode ter morrido antes de Timóteo 
conhecer Paulo. 
211 
Timóteo era de Listra (Atos 16.1-3), uma cidade na província romana 
da Galácia (parte da Turquia moderna). Paulo levou Timóteo a Cristo (1.2, 
18; 1Coríntios 4.17; 2 Timóteo 1.2), indubitavelmente durante seu 
ministério em Listra em sua primeira viagem missionária (Atos 14.6-23). 
Quando ele revisitou Listra em sua segunda viagem missionária, Paulo 
escolheu Timóteo para acompanhá-lo (Atos 16.1-3). Embora Timóteo 
fosse muito jovem (provavelmente no final da adolescência ou início dos 
20 anos, uma vez que cerca de 15 anos depois Paulo se referiu a ele 
como um jovem, 4.12), ele tinha uma reputação de ser devoto e temente 
a Deus (Atos 16.2). Timóteo foi um discípulo, amigo e cooperador de 
Paulo pelo resto da vida do apóstolo, ministrando com ele em Bereia 
(Atos 17.14), Atenas (Atos 17.15), Corinto (Atos 18.5; 2 Coríntios 1.19) e 
acompanhando ele em sua viagem a Jerusalém (Atos 20.4). Ele estava 
com Paulo em seu primeiro encarceramento romanoe foi para Filipos 
(Filipenses 2.19-23) depois da libertação de Paulo. 
212 
Além disso, Paulo frequentemente menciona Timóteo em suas 
epístolas (Romanos 16.21; 2 Coríntios 1.1; Filipenses 1.1; Colossenses. 
1.1; 1 Tessalonicenses 1.1; 2 Tessalonicenses 1.1; Filemom 1). Paulo 
frequentemente enviou Timóteo às igrejas como seu representante (1 
Coríntios 4.17; 16.10; Filipenses 2.19; 1 Tessalonicenses 3.2), e 1 
Timóteo o encontra em outra designação, servindo como representante 
do Paulo na igreja em Éfeso (1.3). 
Se Timóteo teve uma falha, foi que ele foi sobrecarregado pelo que 
Paulo caracterizou como um "espírito de covardia" (2 Timóteo 1.7). Paulo 
achou necessário pedir à igreja em Corinto que recebesse Timóteo de 
uma maneira que o deixasse à vontade (1 Coríntios 16.10-11). Em suas 
cartas a Timóteo, Paulo exortou-o a não deixar ninguém desprezá-lo por 
causa de sua juventude (1 Timóteo 4.12), a não negligenciar o dom 
espiritual que ele havia recebido (1 Timóteo 4.14), e a não se 
envergonhar falar corajosamente pelo evangelho (2 Timóteo 1.8). 
Em 1 Timóteo 1:2, Paulo chama Timóteo: “Meu verdadeiro filho na 
fé”. Paulo não tinha filho natural, mas aqui ele descreve seu filho 
espiritual. Foi através da instrumentalidade de Paulo que Timóteo ouviu e 
recebeu as Boas Notícias e nasceu de novo como filho de Deus. Paulo via 
Timóteo como um pai vê seu filho natural, tão íntima era sua amizade e 
ligação. Paulo foi o mestre e Timóteo foi seu discípulo e, finalmente, foi 
um discípulo de Cristo Jesus. Ao longo de suas cartas, Paulo refere-se a 
Timóteo como seu filho: "meu filho" (1 Timóteo 1.18; 2 Timóteo 2.1); 
"meu amado filho" (2 Timóteo 1.2), "meu verdadeiro filho na fé comum" 
(não o ato de crer, mas a verdade que se acredita) (Tito 1.4) e "meu 
amado e fiel filho no Senhor" (1 Coríntios 4.17). Paulo também lembra ao 
povo santo em Filipos que eles sabiam do valor provado de Timóteo: 
Como um filho com seu pai, ele tem servido comigo pregando as Boas 
Notícias” (Filipenses 2.22). 
213 
Além da afirmação enigmática em Hebreus 13.23 de que Timóteo 
havia sido "libertado" (presumivelmente da prisão), pouco se sabe sobre 
o que aconteceu com Timóteo depois da escrita de 2 Timóteo. De acordo 
com o primeiro capítulo do Livro dos Mártires de John Foxe, ele morreu 
em 97 d.C. defendendo a verdade da Bíblia. Durante uma celebração 
pagã de uma festa chamada “Catagogion”, Timóteo repreendeu 
severamente as pessoas na procissão por sua ridícula idolatria. Isso 
antagonizou os participantes da festa que o espancaram com tacos “de 
uma maneira tão terrível que ele expirou das contusões dois dias depois”. 
Autor: 
Tanto a tradição primitiva como as saudações das Cartas Pastorais (1 
e 2 Timóteo; Tito) afirmam Paulo como seu autor (1 Timóteo 1.1; 2 
Timóteo 1.1; Tito 1.1). Algumas objeções foram levantadas nos últimos 
anos com base num suposto vocabulário e estilo não característico, mas 
outras evidências ainda apóiam convincentemente a autoria de Paulo. 
Data de Redação: 
O apóstolo Paulo provavelmente escreveu esta carta a Timóteo em 
meados dos anos 60 d.C. durante uma viagem missionária não registrada 
nas Escrituras. Esta viagem aconteceu após os eventos descritos em Atos, 
entre os primeiros e últimos encarceramentos romanos de Paulo. A 
posição tradicional tem sido que Paulo foi libertado de seu primeiro 
encarceramento romano (o mencionado no final de Atos; ver Atos 28.16, 
30-31), fez mais trabalho missionário e foi preso pela segunda vez, 
levando à sua execução. 
A evidência parece clara de que Paulo escreveu 1 Timóteo e a carta à 
Tito logo após sua libertação de seu primeiro encarceramento romano 
(62-64 d.C.) e 2 Timóteo da prisão durante seu segundo encarceramento 
romano (66-67 d.C.), pouco antes de sua morte. 
214 
Público da Carta: 
O apóstolo Paulo escreveu esta carta a Timóteo (1.2). 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
Depois de ser libertado de sua primeira prisão romana (Atos 28.30), 
Paulo revisitou várias cidades nas quais ele havia ministrado, incluindo 
Éfeso. Deixando Timóteo para trás, para lidar com os problemas que 
surgiram na igreja de Éfeso, como a falsa doutrina (1.3–7; 4.1–3; 6.3–5), 
desordem na adoração (2.1–15), a necessidade de líderes qualificados 
(3.1 –14) e materialismo (6.6-19), Paulo foi para a Macedônia, de onde 
escreveu a Timóteo esta carta para ajudá-lo a cumprir sua tarefa na 
igreja (3.14-15). 
A Estrutura: 
A forma geral de 1 Timóteo é o usual de uma carta do Novo 
Testamento. Paulo escreveu muitas de suas cartas enquanto estava na 
prisão e estas eram conhecidas como “Cartas da Prisão”, mas suas cartas 
para Timóteo e Tito são chamadas de “Cartas Pastorais”, embora Timóteo 
e Tito não fossem realmente pastores de uma igreja, mas sim 
representantes de Paulo, que não poderia estar lá com eles. Timóteo e 
Tito atuaram como delegados oficiais de Paulo para ajudar as igrejas 
locais. As cartas deram instruções a Timóteo e Tito sobre como dirigir a 
igreja em relação ao cuidado do rebanho, conduta dos membros e 
ministros, a administração da igreja e a ordem na qual a igreja deveria 
ser conduzida. Ele teve que escrever cartas para as igrejas porque ele 
frequentemente estava na prisão. O que a maioria pensaria que era um 
castigo de Deus ou uma circunstância muito infeliz acabou por ser as 
maiores bênçãos que a igreja tem hoje. Por causa do encarceramento de 
Paulo, temos quase 2/3 do Novo Testamento. O que parecia ser um 
impedimento para Paulo e a igreja se tornou uma das maiores bênçãos de 
todos os tempos para as igrejas e crentes, incluindo igrejas e cristãos 
215 
hoje. Nós podemos não ter estes livros na Bíblia se Paulo não tivesse sido 
preso e então o que os homens determinaram fazer como o mal, Deus 
determinou para o bem, assim como Ele fez com as muitas provações de 
José (Gênesis 50.20). 
A carta resultante é ocasional, o que significa que o autor da carta 
aborda as situações específicas na igreja do destinatário que precisam de 
atenção. As Cartas Pastorais não são tratadas teológicos em que Paulo 
sistematicamente explora temas de sua escolha. Paulo retoma os tópicos 
nesta carta porque são os tópicos que foram levantados. Finalmente, 
perto do final do capítulo de abertura, Paulo rotula suas observações até 
aquele ponto como “as minhas instruções” que ele comprometeu a 
Timóteo. É útil considerar a carta inteira como uma lista de deveres que 
Paulo está desafiando e orientando Timóteo a realizar. 
Assim, 1 Timóteo é uma carta prática contendo instruções pastorais 
de Paulo a Timóteo (3.14-15). Visto que Timóteo era bem versado na 
teologia de Paulo, o apóstolo não tinha necessidade de dar-lhe extensa 
instrução doutrinária. Esta carta, no entanto, expressa muitas verdades 
teológicas importantes, tais como a função apropriada da lei (1.5-11), 
salvação (1.14-16; 2.4-6); os atributos de Deus (1.17); a queda (2.13-
14); a pessoa de Cristo (3.16; 6.15-16); eleição (6.12); e a segunda 
vinda de Cristo (6.14-15). 
A postura do autor é a de um amigo e pai na fé expressando 
preocupação pessoal com o bem-estar de um líder mais jovem da igreja e 
da igreja na qual ele ministra. A preocupação geral da carta é combater o 
falso ensino e os falsos mestres. Por conseguinte, existem contrastes 
detalhados entre a boa e a má liderança espiritual na igreja. 
Esboço de 1 Timóteo: (Bíblia de Estudo ESV) 
I. Saudação (1.1, 2) 
II. Instruções a Respeito de Falsa Doutrina (1.3-20) 
216 
a. A falsa doutrina em Éfeso (1.3–11) 
b. A verdadeira doutrina de Paulo (1.12–17) 
c. A Exortação a Timóteo (1.18-20) 
III. Instruções a Respeito da Igreja (2.1–3.16) 
a. A importância da oração (2.1–8) 
b. O papel das mulheres (2.9–15) 
c. As qualificações para líderes (3.1–13) 
d. A razão da carta de Paulo (3.14–16) 
IV. Instruções a Respeito dos Falsos Mestres (4.1–16) 
a. A descrição dos falsos mestres (4.1–5)b. A descrição dos verdadeiros mestres (4.6–16) 
V. Instruções Relativas às Responsabilidades da Pastoral (5.1–6.2) 
a. A responsabilidade para com os mais velhos (5.1-2) 
b. A Responsabilidade para com as viúvas (5.3–16) 
c. A Responsabilidade para com os pastores pecando (5.19-25) 
d. A Responsabilidade para com os escravos (6.1,-2) 
VI. Instruções a Respeito do Homem de Deus (6.3–21) 
a. O perigo do falso ensinamento (6.3-5) 
b. O perigo do amor ao dinheiro (6.6–10) 
c. O caráter apropriado e a motivação de um homem de Deus 
(6.11–16) 
d. O manejo adequado das riquezas (6.17-19) 
e. O manejo adequado da verdade (6.20-21) 
O Objetivo da Escrita: 
Paulo havia deixado Timóteo em Éfeso para cuidar da Igreja como 
seu representante (1 Timóteo 1: 3), enquanto ele seguia para a 
Macedônia. Quando ele percebeu que talvez não voltasse a Éfeso num 
futuro próximo (3.14-15), escreveu esta primeira carta para ajudar 
Timóteo a lidar com uma variedade de questões doutrinárias que foram 
levantadas por falsos mestres. Paulo havia estabelecido a Igreja de Éfeso 
no início de sua terceira viagem missionária, passando cerca de três anos 
217 
lá (Atos 19; 20.31). Ao final dessa jornada, ele advertiu os líderes efésios 
que os falsos mestres, alguns vindos da própria liderança, atormentariam 
a Igreja (Atos 20.29-30). Esta carta indica que sua previsão se realizou (1 
Timóteo 1.6, 19; 4.1-2; 6.3-5, 10, 21). 
Um grande problema na igreja de Éfeso foi uma heresia que 
combinava o gnosticismo, o judaísmo decadente (1.3-7) e o falso 
ascetismo (4.1-5). 
Quatro propósitos que Deus teve em inspirar Paulo a escrever essa 
carta: 
1. Incentivar Timóteo a se opor ao falso ensino (1.3–7; 4.1–8; 6.3–
5.20–21). 
2. Fornecer a Timóteo credenciais escritas, conforme autorizado por 
Paulo, e assim o próprio Deus (1.3, 18). 
3. Dar instrução a respeito dos assuntos da igreja e como os 
conduzir (culto da igreja, cap. 2; a nomeação de líderes 
qualificados da igreja, 3.1–13; 5.17–25). 
4. Exortar Timóteo a ser diligente no desempenho de seus deveres. 
Fatos Curiosos da Carta de 1 Timóteo: 
 Ela fornece a descrição mais longa no Novo Testamento sobre as 
qualificações para ser um líder (3.2-7). 
 Inclui a única descrição explícita no Novo Testamento das 
qualificações para os diáconos (3.8-13). 
 No Novo Testamento, Timóteo é referenciado 28 vezes. 
 1 Timóteo foi a primeira das três cartas pastorais (duas para 
Timóteo e uma para Tito). Em contraste, a maioria das cartas de 
Paulo foi escrita para congregações inteiras. 
 O tom de 1 Timóteo é notavelmente diferente do tom de Efésios. 
Por exemplo, enquanto as instruções de Paulo em Efésios lidam 
218 
mais com o alto nível “Por que?” e “O quê?”, suas instruções para 
Timóteo são detalhados e se concentram mais no “como”. 
 Três vezes Paulo diz: “Esta é uma verdade em que você pode 
confiar e todo mundo deve aceitar” (1.15; 3.1; 4.9). 
Os desafios do jovem Timóteo: 
1. Ele não veio do tipo certo de família: 
Ele era de raça mista. Ele não era totalmente judeu nem 
totalmente grego. 
2. Seu pai não era seu líder espiritual: 
Parece que o pai de Timóteo era um gentio incrédulo, deixando a 
mãe e a avó a responsabilidade de criar Timóteo nos caminhos 
de Deus. 
3. Ele não era Paulo: 
Timóteo era o secundário, o “jogador reserva”. Ele estava lá só 
porque Paulo não podia. Ele era o representante de Paulo. 
4. Ele precisava evitar a tentação: 
Timóteo poderia ser tentado; ele não era infalível. 
5. Ele teve problemas de saúde: 
1 Timóteo 5.23: "Não beba somente água. Você deve beber um 
pouco de vinho por causa do seu estômago e pelo fato que você 
está frequentemente doente”. 
6. Ele era jovem por seu papel: 
A idade exata de Timóteo não é determinada, mas sabemos que 
Paulo teve que encorajá-lo a não permitir que outros o 
desprezassem ao trazer a reforma para a igreja em Éfeso. Paulo 
escreve: “Não deixe que ninguém o despreze por ser jovem, mas 
seja um exemplo para os que creem, na maneira que fala, na 
maneira que vive, no amor, na fé e na pureza” (1 Timóteo 4.12). 
7. Ele não entendeu tudo: 
Timóteo ainda precisava de instruções até mesmo depois de um 
219 
bom tempo no ministério. Este ponto é evidente no simples fato 
de que Paulo teve que enviar a carta de 1 Timóteo. 
A Importância da Carta de 1 Timóteo: 
1 Timóteo apresenta as instruções mais explícitas e completas para a 
liderança e organização da igreja em toda a Bíblia. Isso inclui seções 
sobre conduta apropriada em reuniões de culto, as qualificações de 
presbíteros e diáconos e a ordem apropriada de disciplina da igreja. Paulo 
aconselhou Timóteo sobre esses assuntos práticos de uma maneira que 
teria ajudado o jovem pastor a enfatizar a pureza que deveria caracterizar 
os líderes cristãos e as reuniões que eles supervisionaram. 
O tema de 1 Timóteo é que o evangelho leva a mudanças práticas e 
visíveis na vida daqueles que creem em Jesus. Muitas vezes se pensa que 
o tema é a ordem da igreja, mas a discussão dos ofícios da igreja é 
simplesmente uma parte do argumento maior de que o verdadeiro 
evangelho, em contraste com o falso ensino, sempre levará à devoção e 
temor a Deus em seus adeptos. 
As instruções de Paulo em 1 Timóteo são especialmente relevantes 
para as igrejas de hoje, nas quais o número de membros é 
frequentemente um dos fatores usados para determinar o sucesso de 
uma igreja. Paulo advertiu todos os pastores e líderes da igreja a se 
comportarem com humildade, alta moral e indiferença às riquezas. 
Este livro nos dá uma boa visão dos desafios em que os pastores 
enfrentam, mas mais importante, como Paulo instrui Timóteo a lidar com 
eles. 
Para Pensar: 
Paulo estava escrevendo para Timóteo porque Timóteo estava 
passando por um momento difícil. Parte da razão era que muitos dos 
crentes desprezavam Timóteo porque ele era jovem (4.12). 
220 
Na cultura do tempo de Timóteo a idade geralmente representava a 
maturidade. Ó, como os tempos mudaram. Em nossos dias, a maturidade 
tem caído em tempos difíceis. Os sociólogos de hoje estão escrevendo 
sobre o fenômeno do homem adolescente, o “manolescente”, (termo em 
inglês), os homens que fogem das responsabilidades adultas, os 
perpétuos Peter Pan’s. Parece haver um desejo em nossos dias de atrasar 
a responsabilidade, atrasar a maturidade e alongar o tempo nas estações 
de brincadeira. No entanto, as Escrituras nos trazem outra visão. Na 
Palavra de Deus, encontramos um mundo em que Deus deseja que os 
mais velhos invistam nos mais jovens, a fim de ajudá-los a assumir um 
manto de liderança na missão e no Reino de Jesus. 
Vamos nos tornar cristãos maduros. E aqueles de nós que somos 
maduros, não apenas velhos, vamos investir na próxima geração, 
garantindo que aqui estarão mais cristãos maduros depois de nós. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
221 
 
CAPÍTULO 18 
 
2 TIMÓTEO 
 
Quando Paulo escreveu sua segunda carta a Timóteo, o jovem já 
estava ministrando à igreja em Éfeso por quatro anos, e fazia quase tanto 
tempo desde que recebeu sua primeira carta de Paulo. Timóteo havia sido 
um servo fiel de Paulo desde que saiu de casa com o apóstolo, mais de 
uma década antes. 
O tema desta epístola curta está ligado ao fato de que esta é a 
última carta de Paulo e é escrito para o seu companheiro mais próximo. 
Embora o apóstolo pudesse ter pensado em suas próprias realizações, ele 
está mais interessado em fazer questão que Timóteo esteja preparado 
para continuar o trabalho. A ênfase dupla vista ao longo da carta é a 
perseverança e a fidelidade à verdade. O tema pode ser resumido assim: 
“perseverar na proclamação do evangelho”. 
Paulo escreve para encorajar e admoestar Timóteo em suas próprias 
lutas. E assim, a carta é dominada por sua atenção completa a Timóteo. 
Tudo o que é dito sobre os outros é mais cedo ou mais tarde voltado para 
Timóteo: “mas você...”. A forma verbal mais frequente na cartaé o 
imperativo do singular na segunda pessoa. Nenhuma novidade está sendo 
comunicado a Timóteo, apenas lembranças do que ele já sabe, junto com 
a exortação a se apegar a isso. 
Em contraste com o primeiro encarceramento de Paulo, quando ele 
vivia numa casa alugada e podia receber todos os que vinham, guardado 
apenas por um único soldado (Atos 28.30), ele agora sofria num 
222 
calabouço frio (4.13), acorrentado como um criminoso comum (1.16; 
2.9). Seus amigos até tiveram dificuldade em descobrir onde ele estava 
sendo mantido (1.17). Fígelo e Hermógenes, “todos na província da Ásia” 
(1.15), e Demas (4.10) o abandonaram. Crescente, Tito e Tíquico 
estavam fora (4.10-12), e somente Lucas estava com ele (4.11). Paulo 
queria muito que Timóteo se juntasse a ele também. Timóteo era seu 
“parceiro de trabalho” (Romanos 16.21), que “como um filho com seu 
pai” (Filipenses 2.22) tinha servido bem de perto com Paulo (1 Coríntios 
4.17). Dele Paulo poderia dizer: "Não tenho ninguém como ele" 
(Filipenses 2.20). Paulo ansiava por Timóteo (1.4) e duas vezes pediu-lhe 
para vir em breve (4.9, 21). Paulo sabia que seu trabalho estava 
terminado e que sua vida estava quase no fim (4.6-8). Se Timóteo 
chegou a Roma antes da execução de Paulo, não é conhecido. Segundo a 
tradição, Paulo não foi libertado deste segundo encarceramento romano, 
mas sofreu o martírio que havia previsto (4.6). 
Acredita-se que a data da morte de Paulo tenha ocorrido após o 
Grande Incêndio de Roma em julho de 64 d.C., mas antes do último ano 
do reinado de Nero, em 68 d.C., quando o próprio Nero se suicidou. Da 
maneira real de sua morte, sabemos apenas o que pode ser dito em 
poucas palavras. A tradição diz que ele foi decapitado; e todas as 
circunstâncias do caso tornam isso provável. O fato de ele ser um cidadão 
romano o isentaria, sob as leis romanas, da morte por tortura 
prolongada, nas formas em que foi infligida a muitos de seus irmãos 
cristãos. Isso o salvaria da ignomínia da crucificação, e assim distinguiria 
sua morte da de Pedro, que não tinha direito à cidadania romana e que, 
onde quer que ele morresse, provavelmente fosse morto, como seu 
Mestre, numa cruz. 
O homem que começou perseguindo a fé cristã, no final, acabou 
morrendo por ela. 
 
223 
Autor: 
Os dois primeiros versículos de 2 Timóteo apresentam claramente o 
autor como Paulo e o destinatário como Timóteo. Assim como com 1 
Timóteo e Tito (as outras duas “Cartas Pastorais”), a autoria de 2 Timóteo 
foi desafiada nos últimos 200 anos. Os desafios para a autoria paulina são 
os mesmos contra os de 1 Timóteo: um suposto vocabulário e estilo não 
característico. No entanto, vários estudiosos que negam a autoria paulina 
de 1 Timóteo e Tito ainda afirmam a autoria paulina de 2 Timóteo. Os 
argumentos para a autenticidade de 1 Timóteo também se aplicam a 2 
Timóteo, fornecendo uma boa base para afirmar as afirmações diretas de 
2 Timóteo (e de 1 Timóteo e Tito) como autênticas cartas escritas por 
Paulo. 
Data de Redação: 
Paulo escreveu esta segunda carta a Timóteo durante seu segundo 
encarceramento em Roma depois de uma quarta viagem missionária que 
não está registrada em Atos e pouco antes de sua morte. Este 
encarceramento foi depois do registrado em Atos 28. Paulo 
provavelmente a escreveu em 66-67 d.C. 
Público da Carta: 
O apóstolo Paulo escreveu esta carta a Timóteo (1.2), e à igreja em 
Éfeso (4.22). 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
Paulo foi libertado de sua primeira prisão romana por um curto 
período de ministério, durante o qual ele escreveu 1 Timóteo e Tito. 2 
Timóteo, porém, encontra Paulo mais uma vez numa prisão romana 
(1.16; 2.9), aparentemente preso novamente como parte da perseguição 
de Nero dos cristãos. Ao contrário da confiante esperança de libertação de 
224 
Paulo durante seu primeiro encarceramento (Filipenses 1.19, 25, 26; 
2.24; Filemom 22), desta vez ele não tinha tais esperanças (4.6-8). 
A Estrutura: 
O gênero de 2 Timóteo é semelhante ao discurso de despedida, e 
muitos a classificariam como tal. Há famosos discursos de despedida na 
Bíblia; por exemplo, por Moisés (o livro de Deuteronômio), Josué (Josué 
23–24), Davi (1 Crônicas 28–29) e Jesus (o Discurso do Cenáculo, João 
14–16). Assuntos convencionais incluem o anúncio do orador de sua 
partida iminente, diretivas para guardar os mandamentos de Deus, 
previsões do que acontecerá depois da partida do falante, palavras de 
conforto e instrução para o benefício daqueles que sobreviverão ao 
falante, e apelos aos destinatários para lembrar o que o orador ensinou. 
Se 2 Timóteo, a última carta de Paulo, for lida com essas características 
em mente, o livro cairá perfeitamente no seu lugar. As instruções de 
Paulo a Timóteo nesta carta não se limitam a uma situação específica 
(como de 1 Timóteo), mas são o que Paulo mais deseja que Timóteo 
presta atenção pelo resto de sua vida e ministério. É a última palavra de 
um pai espiritual. O leitor é levado a compartilhar o humor reflexivo de 
Paulo enquanto relembra experiências passadas. 
Assim, a segunda carta a Timóteo oferece uma imagem de Paulo no 
final de seu ministério, pouco antes de sua morte. Certos detalhes 
pessoais na carta revelam um homem acertando suas contas e se 
preparando para o inevitável. No final da carta, Paulo mencionou um 
número significativo de pessoas - algumas que haviam ofendido a ele e a 
outras pessoas que haviam servido fielmente ao lado dele (4.9–21). É 
como se Paulo estivesse dando a Timóteo um discurso “estado da igreja”, 
para que o jovem pudesse continuar após a partida de Paulo. 
Depois de uma breve saudação a Timóteo (1.1-2), Paulo começa o 
corpo desta última carta. O corpo da carta (1.3-4.8) começa com 
encorajamento pessoal (1.3-18), continua com exortações para a 
225 
fidelidade no ministério (2.1-26), e conclui com uma comissão muito 
sombria na luz do vindouro evento final do plano divino (3.1-4.8). 
Esboço de 2 Timóteo: 
I. Introdução (1.1–4) 
II. Preocupação de Paulo por Timóteo (1.5–14) 
III. A situação de Paulo (1.15–18) 
IV. Instruções Especiais para Timóteo (capítulo 2) 
a. Apelo à perseverança (2.1-13) 
b. Advertências a respeito de controvérsias tolas (2.14-26) 
V. Advertências sobre os Últimos Dias (capítulo 3) 
a. Tempos terríveis (3.1-9) 
b. Meio de combatê-los (3.10-17) 
VI. Comentários de Partida de Paulo (4.1–8) 
a. Encarregado para pregar a palavra (4.1-5) 
b. Prospecto vitorioso de Paulo (4.6–8) 
VII. Solicitações Finais, Saudações e Bênçãos (4.9–22) 
O Objetivo da Escrita: 
Paulo estava preocupado com o bem-estar das igrejas e também 
com Timóteo durante esse tempo de perseguição sob Nero. Parece que 
Paulo pode ter razão para temer que Timóteo estivesse em perigo de 
enfraquecer espiritualmente. Isso teria sido uma grande preocupação 
para Paulo, uma vez que Timóteo precisava levar adiante a obra de Paulo 
(2.2). Embora não haja indicações históricas em outras partes do Novo 
Testamento sobre o porquê de Paulo estar tão preocupado, há evidência 
na própria carta do que ele escreveu. Essa preocupação é evidente, por 
exemplo, na exortação de Paulo de “manter vivo” seu dom (1.6), de 
substituir o medo pelo poder, amor e um autocontrole em meio ao pânico 
ou paixão (1.7), de não se envergonhar de Paulo e do Senhor, mas de 
boa vontade sofrer pelo evangelho (1.8) e apegue-se à verdade (1.13, 
14). Resumindo o problema potencial de Timóteo, que pode estar 
226 
enfraquecendo sob a pressão da igreja e da perseguição do mundo, Paulo 
o chama para 1) “seja forte” (2.1), a exortação-chave da primeira parte 
de a carta, e 2) continuar a “pregar a palavra” (4.2), a principal 
admoestação da última parte. Estas palavras finais para Timóteo incluem 
poucas recomendações, mas muitas admoestações, incluindo cerca de 25 
imperativos. 
2 Timóteo é um clamor claro e ousado de perseverança no 
evangelho, apesar do sofrimento.Paulo chama seu jovem colaborador 
para continuar a luta da fé, mesmo quando Paulo se aproxima do fim de 
sua própria vida. 
Fatos Curiosos da Carta de 2 Timóteo: 
 É a última carta que Paulo escreveu. 
 Porque esta era sua última carta, Paulo foi muito pessoal. Nestes 
quatro capítulos curtos, existem aproximadamente 25 referências 
aos indivíduos. 
 Não há grandes desafios nesta carta envolvendo questões 
teológicas. 
 Por causa da ameaça de apostasia, Paulo enfatiza a Palavra de Deus 
aqui mais do que em qualquer outra carta. 
 2 Timóteo é uma das quatro únicas cartas do Novo Testamento 
escritas por Paulo para indivíduos específicos. Os outros são 1 
Timóteo, Tito e Filemom. 
A Importância da Carta de 2 Timóteo: 
A segunda carta de Paulo para Timóteo é uma carta comovente de 
despedida do jovem pastor em Éfeso. Nele encontramos uma mensagem 
de tremendo significado para a igreja global: os cristãos e especialmente 
os líderes cristãos são chamados a compartilhar o sofrimento enquanto se 
apegam às Escrituras e à verdade, vivem em devoção e temor a Deus e 
encorajam outros a fazer o mesmo. Esses três temas - sofrimento, 
227 
verdade e devoção e temor a Deus - são os temas para os quais Paulo 
retorna ao longo desta carta. 
Os dois versículos que estabelecem o tema e soam o tom desta 
segunda carta são estes: “Faça seu melhor para se apresentar a Deus 
como alguém aprovado, um trabalhador que não tem do que se 
envergonhar, ensinando corretamente a palavra da verdade” (2.15). E, 
“Pregue a palavra. Esteja sempre pronto, com um sentimento de 
urgência, para anunciá-la, seja em tempo fácil, quando as pessoas 
quiserem ouvir, ou em tempo difícil, quando elas não quiserem ouvir. 
Com muita paciência e bons ensinos, convença a respeito do erro, 
repreenda e encoraje” (4.2). 
A principal aplicação de 2 Timóteo 2.15 é para pastores e outros 
líderes da igreja, mas o texto também se aplica a todo cristão em todo 
relacionamento com outros cristãos. Isto é, conhecer a Palavra de Deus é 
uma necessidade para todos, especialmente para aqueles que ministram 
aos outros diariamente ou semanalmente. 
Tantos cristãos são desleixados e preguiçosos em vez de diligentes 
em sua abordagem à Palavra de Deus. Eles não leem, estudam ou 
memorizam sistematicamente. E quando leem, geralmente pulam de 
passagem em passagem, tirando os versículos fora do contexto. Eles não 
estão procurando conhecer Deus e como Ele quer que eles pensem, 
creem e se relacionem com os outros. Suas vidas e relacionamentos estão 
desmoronando, mas eles não procuram diligentemente para descobrir o 
que a Palavra de Deus lhes diz. O que é assustador é que muitos 
pregadores são culpados das mesmas coisas. 
Certa vez, um membro de uma igreja me disse com orgulho: “Nosso 
pastor é um guerreiro de oração!” E meu primeiro pensamento foi: “E? E 
daí? Esse é o trabalho dele”. Os pastores são pagos para fazer duas 
coisas principais: orar e pregar. A oração requer um relacionamento com 
Deus e a pregação requer tempo em Sua palavra e estudo. Se um pastor 
228 
não está se dedicando a essas duas coisas, algo está errado e ele 
certamente não será "aprovado" por Deus. E apenas uma nota: O estudo 
da Bíblia é muito importante, mas 2 Timóteo 2.15 não é apenas uma 
ordem para estudar a Bíblia. Ser um trabalhador aprovado envolve muito 
mais. Nos versículos imediatamente anteriores a versículo 15, Paulo 
enfatizou a importância de viver fielmente diante de Deus, até mesmo ao 
ponto de sofrer. 
Infelizmente hoje, é fácil para os pregadores se tornarem 
vagabundos pagos e parasitas sociais, desperdiçando seus dias em 
prazer, recreação e mendigando com palmas abertas e um olhar 
expectante. Infelizmente, os religiosos vendedores ambulantes e 
mercenários ganharam sua reputação. Que nenhum pregador do 
evangelho faça isso! O pastor não tem patrão à vista. Ele não é obrigado 
a manter o horário de expediente. E ninguém verifica, para ter certeza de 
que ele está trabalhando. Isso é como deveria ser. No entanto, o próprio 
fato de que uma igreja trata seu pastor como deveria, torna possível ao 
pastor abusar de seu ofício, negligenciar seu trabalho, entregar-se à 
ociosidade ou prover luxos para si e sua família; quando ele deveria se 
dedicar implacavelmente ao estudo, oração e pregação. Um “trabalhador 
aprovado” faz essas coisas sem ninguém o cobrar, porque ele faz por 
amor a Deus e a Sua noiva. Ele entende a seriedade do trabalho para que 
foi chamado. E se ele mesmo se dedicasse a esse trabalho, haverá pouco 
tempo ou energia para outras coisas. 
Houve uma vez um jovem que estudou violino com um mestre de 
renome mundial. Quando seu primeiro grande recital chegou, a multidão 
aplaudiu após cada música, mas o jovem músico pareceu insatisfeito. 
Mesmo após a música final, apesar dos aplausos, o músico parecia infeliz. 
Enquanto ele se curvava, ele observava um homem idoso na varanda do 
teatro. Finalmente, o idoso sorriu e abaixou a sua cabeça em aprovação. 
Imediatamente, o jovem sorriu com alegria. Ele não estava procurando a 
229 
aprovação da multidão. Ele estava esperando a aprovação de seu mestre. 
Os cristãos devem estar vivendo para a aprovação de Deus. 
Para Pensar: 
2 Timóteo nos leva à beira da morte, forçando-nos a considerar sua 
realidade e como possivelmente reagirmos quando temos que encarar o 
fim. A resposta de Paulo nos instrui ainda hoje. Seus pensamentos não 
estavam em si mesmo, pensando na injustiça que havia acontecido com 
ele. Em vez disso, confiando que Deus o tinha exatamente onde queria, o 
velho apóstolo voltou sua atenção para os outros, especificamente para a 
igreja e seu jovem protegido, Timóteo. 
Onde os seus pensamentos se prolongam quando você pensa no fim 
da sua vida? 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
230 
 
CAPÍTULO 19 
 
TITO 
 
 
Tito faz parte da coleção de cartas de Paulo conhecidas como as 
"Cartas Pastorais". Escrito durante uma quarta viagem missionária não 
registrada no livro de Atos, Paulo instruiu Tito sobre como liderar as 
igrejas na ilha de Creta. A carta de Tito lida com os mesmos assuntos que 
1 Timóteo. 
Paulo escreve de maneira brusco e eficiente, sem perder tempo. A 
posição autoritária e diretiva do autor para seu destinatário é evidente em 
todo. Assim, a maioria dos conselhos de Paulo é expressa no imperativo, 
produzindo um tom de urgência. 
Quem foi Tito? 
Nós lemos muito sobre Tito, seus títulos, caráter e utilidade ativa em 
muitos lugares. Embora ele não seja mencionado em Atos, ele é 
mencionado 13 vezes no restante do Novo Testamento. Ele era grego, 
(Gálatas 2.3). Paulo o chamou de seu filho (Tito 1.4), seu irmão (2 
Coríntios 2.13), seu parceiro e companheiro de trabalho (2 Coríntios 
8.23). Quando Paulo deixou Antioquia para discutir as Boas Notícias com 
os líderes de Jerusalém, ele levou consigo Tito (Gálatas 2.1–3); a 
aceitação de Tito (um gentio) como cristão sem a circuncisão vindicou a 
posição de Paulo ali (Gálatas 2.3–5). Tito representou todos os outros 
povos não-judeus que se tornaram cristãos e foram completamente 
aceitos por Deus através de sua fé em Jesus Cristo. 
231 
Tito também trabalhou com Paulo em Éfeso durante sua terceira 
viagem missionária e ele levou a severa carta de Paulo à igreja de 
Corinto. Paulo estava preocupado com a possível reação negativa da 
igreja de Corinto a sua carta, então ele marcou para se encontrar com 
Tito em Trôade (2 Coríntios 2.12-13). Quando Tito não apareceu, Paulo 
viajou para a Macedônia. Lá ele encontrou Tito e, com grande alívio, 
ouviu a boa notícia de que o pior dos problemas havia passado em 
Corinto (2 Coríntios 7.6–7, 13–14). Tito, acompanhado por dois irmãos 
cristãos, foi o portador de 2 Coríntios (2 Coríntios 8.23) e foi dada a 
responsabilidade de fazer os preparativos finais para a oferta, iniciada um 
ano antes, em Corinto (2 Coríntios 8.6, 16–17). 
 
Após a libertaçãode Paulo de seu primeiro encarceramento romano 
(Atos 28), ele e Tito trabalharam brevemente em Creta (1.5), após o qual 
ele ordenou que Tito permanecesse como seu representante e 
232 
completasse algum trabalho necessário (1.5; 2.15; 3.12-13). Depois que 
Ártemas ou Tíquico chegaram para dirigir o ministério lá, Paulo queria que 
Tito se juntasse a ele na cidade de Nicópolis, na província de Acaia, na 
Grécia, e permanecesse durante o inverno (3.12). Mais tarde, Tito partiu 
em missão à Dalmácia (2 Timóteo 4.10). E isso foi a última palavra que 
ouvimos sobre ele no Novo Testamento. Considerando as tarefas dadas, 
ele obviamente era um líder capaz e tinha a habilidade de encontrar 
maneiras rápidas e inteligentes para superar as dificuldades. 
Autor: 
Como o primeiro versículo declara, esta carta foi escrita pelo apóstolo 
Paulo ao seu colega de trabalho, Tito. Nos últimos dois séculos, a autoria 
paulina de Tito (assim como 1 e 2 Timóteo) tem sido questionada com 
base num suposto vocabulário e estilo não característicos. No entanto, as 
críticas no final das contas não podem refutar a autoria paulina, e os 
argumentos para a autenticidade de 1 e 2 Timóteo também se aplicam a 
Tito, fornecendo uma boa base para afirmar que o livro de Tito foi escrito 
por Paulo. O texto claramente afirma ser de Paulo, sua teologia se alinha 
com outras cartas de Paulo, e a diferença de estilo é certamente 
concebível dada a diferença de situação. 
Data de Redação: 
Paulo escreveu a Tito em meados dos anos 60 d.C. de Corinto ou 
Nicópolis (3.12) entre o primeiro encarceramento de Paulo (Atos 28) e 
seu segundo encarceramento, que não é mencionado em Atos. Tito foi 
escrito depois de 1 Timóteo, mas antes de 2 Timóteo. 
Público da Carta: 
A carta é endereçada a Tito, um dos convertidos de Paulo (1.4) e 
uma ajuda considerável a Paulo em seu ministério. 
 
233 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
Creta é a quinta maior ilha do mar Mediterrâneo, medindo 260 
quilômetros de comprimento por 60 quilômetros em sua largura maior. 
Situada ao sul do mar Egeu, com a ilha Citera ao norte e ilhas de 
Cárpatos e Rodes no nordeste, ela forma uma ponte contínua entre a 
Grécia e a Ásia Menor. O centro da ilha é formado por uma cordilheira de 
montanhas que se eleva a uma altitude de 2.456 metros no monte Ida, e 
cercada de vales baixos ao lado da costa. Não há rios consideráveis; o 
maior, o Metropole, no sul, é um pequeno riacho. Uma ilha de extensão 
considerável com vários distritos muito férteis e possuindo um ou dois 
bons portos, parece ideal para um papel importante na história do 
Mediterrâneo oriental. Mas nunca desde uma época que já era lendária 
quando a história grega começou, Creta ocupou uma posição dominante 
entre os poderes dos continentes circunvizinhos. Isso foi por causa das 
dissensões internas devidas à diversidade de raças que moravam lá. 
Monte Ida em Creta era famosa na lenda grega como o berço de 
Zeus. Dizia-se que o meio-lendário e semi-histórico rei Minos era filho de 
Zeus e derivara de seu pai a sabedoria à qual, por um tipo de mito 
comum em terras gregas, era atribuída a constituição das cidades 
cretenses. Minos foi aceito como uma personagem histórica por Tucídides 
e Aristóteles, que dizem que ele foi a primeira dinastia na Grécia a 
estabelecer domínio sobre o mar. Uma de suas façanhas foi a supressão 
da pirataria nas águas cretenses, um feito repetido pelo romano Pompeu 
num período posterior. Aristóteles compara as instituições cretenses com 
as de Esparta; diz-se que a ilha foi colonizada pelos dórios do Peloponeso. 
Em 141 a.C., os judeus cretenses foram suficientemente influentes 
para garantir o patrocínio de Roma. Eles estavam sendo oprimidos pelo 
povo de Gortina e apelaram a Roma, que lhes concedeu proteção. Ao 
fortalecer a posição dos judeus, os romanos estavam copiando a política 
selêucida na Ásia Menor; tanto os selêucidas quanto os romanos 
234 
encontraram os judeus entre seus apoiadores mais dedicados em suas 
cidades-Estado. Essa interferência de Roma no interesse de seus futuros 
partidários abriu o caminho para sua anexação da ilha no século seguinte. 
A partir desta data, houve um grupo forte e próspero de judeus em Creta, 
e cretenses são mencionados entre os estrangeiros presentes na Festa de 
Pentecostes em Atos 2.11. Sua aliança com Mithradates, o Grande, e a 
ajuda que deu aos piratas cilicianos deram a Roma o pretexto que ela 
desejava para fazer guerra em Creta, e a ilha foi anexada por Metelo em 
67 a.C. (com Cirene na costa norte da África, foi formado numa província 
romana). Quando Augusto dividiu o Império entre o Senado e ele próprio, 
Creta e Cirene eram suficientemente pacíficos para serem dados ao 
Senado. 
Creta deve sua conexão com a história paulina ao acidente de um 
vendaval que obrigou o navio levando Paulo a Roma se abrigar na costa 
sul da ilha (Atos 27.7–9, 12, 13, 21). Ele retornou para lá mais tarde e 
deixou Tito para continuar o trabalho, assim como ele deixou Timóteo em 
Éfeso (1 Timóteo 1.3), enquanto ele foi para a Macedônia. Ele 
provavelmente escreveu a Tito em resposta a uma carta de Tito ou a um 
relatório de Creta. 
Nos tempos do Novo Testamento, a vida em Creta havia afundado 
num nível moral deplorável. As pessoas eram um grupo tão mentiroso, 
auto-indulgente e sexualmente promíscuo que Creta se tornou proverbial 
para a imoralidade no mundo antigo. Ser um "kretizo", um cretense, era 
ser um mentiroso. 
Tito 1.12-13: Foi justamente um deles, um profeta de Creta, que 
disse: "Os cretenses são sempre mentirosos, feras malignas, glutões 
preguiçosos". E isso é verdade. 
Além disso, seus homens, conhecidos pela violência, muitas vezes 
serviam como soldados mercenários ao quem pagava mais, enquanto 
suas mulheres simbolizavam algo chamado “a nova mulher romana”. 
235 
Essas mulheres ricas “emancipadas” desfrutavam de mais privilégios do 
que suas contrapartes gregas. Desfrutando de maiores liberdades na 
sociedade, elas exploravam suas liberdades para fugir do casamento e 
das responsabilidades domésticas na procura de sexo casual e 
satisfazendo seus apetites mundanos. 
A mitologia estava tão arraigada na cultura cretense que as igrejas 
nos dias de Paulo estavam integrando sua compreensão do Deus cristão 
com as visões predominantes sobre os deuses gregos, principalmente 
Zeus. Esta foi uma má notícia, especialmente à luz do tipo de “homem 
que se tornou deus” que Zeus era. Está registrado que ele adorava 
seduzir as mulheres por qualquer meio necessário, mesmo assumindo 
características divinas para conseguir o que queria. Uma vez, ele assumiu 
a forma de um marido para levar uma mulher para a cama e depois 
recorreu a mentir quando a sedução não funcionava. Em poucas palavras, 
Zeus era um mentiroso e um mulherengo, e os cretenses o imortalizaram 
por isso. Eles se orgulhavam de seu caráter sombrio e maneiras 
dissimuladas. 
Consciente do contexto, Paulo se propôs a refutar a ideia de que o 
Deus cristão foi moldado à imagem de Zeus, ou quaisquer deuses. Ele 
queria deixar bem claro que o Deus revelado em Jesus é totalmente 
diferente de Zeus, e ele transmitiu isso contrastando o caráter do Deus 
três-em-um a Zeus, o mentiroso. Há dois exemplos disso. 
Primeiro, logo no início da carta, Paulo aborta a ideia de que um 
Deus verdadeiro poderia ser um Deus mentiroso. Em Tito 1.4, ele anuncia 
a esperança da vida eterna prometida por um Deus que não mente. Zeus 
pode ser um mentiroso, mas Deus não pode e não irá mentir porque a 
sua natureza essencial é a de um Deus que não mente. Ao contrário de 
Zeus, este Deus pode ser confiado para realizar suas promessas 
redentoras para o bem de seu povo. 
236 
Segundo, Paulo subverte a teologia cretense do “homem que se 
torna deus”, oferecendo uma profunda “Deus se torna homem” 
cristologia. Ele intencionalmente se afronta o mito cultural aoinsistir que 
Jesus apareceu entre os seres humanos de cima para baixo. É uma 
cristologia de cima para baixo insistindo na divindade de Jesus. E, ao 
contrário de Zeus, ele não assume a divindade para seu próprio ganho. 
Antes, embora ele seja Deus, ele deixa de lado seus privilégios divinos e 
condescende para a humanidade para nosso ganho. 
Ser um seguidor de Jesus significa transformar-se progressivamente 
na imagem dele, não a imagem da “divindade do dia”. Mas Paulo recebe 
um relato de que os cristãos cretenses se pareciam mais com Zeus do 
que com Jesus. Para piorar as coisas, as jovens igrejas ficaram sob o 
ensinamento destrutivo de alguns dos chamados líderes cristãos. Eles 
eram cretenses etnicamente judeus que diziam que seguiam Jesus, mas 
exigiam que os cristãos não judeus fossem circuncidados e seguissem a 
Torá, e eles mesmos estavam imersos na cultura cretense, endossando 
assim os valores éticos de Creta. 
O evangelho estava parecendo pouco atraente neste ponto. Foi 
dando ao mundo a oportunidade de insultar a Deus, fazer más acusações 
sobre a fé e rejeitar as Boas Notícias sobre Jesus. A crença em Jesus 
estava totalmente divorciada do comportamento tanto na vida privada 
quanto na vida pública, de modo que os incrédulos se sentiram 
repugnância e uma aversão intensa ao evangelho, e com razão. Por que 
as pessoas rejeitariam Zeus em favor de Jesus se não houvesse evidência 
convincente de transformação na vida dos seguidores de Jesus? 
A Estrutura: 
Considerando a natureza da heresia cretense, são especialmente 
significativas as repetidas ênfases em amar, fazer e ensinar “o que é 
bom” (1.8, 16; 2.3, 7, 14; 3.1, 8, 14) e os sumários clássicos da doutrina 
cristã (2.11-14; 3.4-7). 
237 
Embora cada capítulo tenha grande importância, o capítulo 2 
provavelmente se destaca como o capítulo principal por duas razões. 
Primeiro, Tito 2 tem uma das mais fortes e mais claras declarações da 
divindade de Cristo (2.13). Em segundo lugar, é um capítulo fundamental 
por causa de sua ênfase nos relacionamentos dentro do corpo de Cristo, a 
igreja (2.1-10), e como um entendimento apropriado e foco na primeira e 
segunda vinda de Cristo deve impactar a vida da igreja para viver na 
devoção e temor a Deus. 
As cartas de Paulo a Timóteo e Tito (1 e 2 Timóteo e Tito) 
geralmente têm sido chamadas de “Cartas Pastorais”. Elas eram 
originalmente consideradas meras cartas pessoais e foram classificadas 
com Filemom, mas devido à sua forte influência na vida da igreja, eles 
ganharam o nome de “Cartas Pastorais”. Embora endereçadas a 
indivíduos, essas cartas não se limitam a comunicações pessoais e 
privadas, mas são um tanto oficiais em caráter. Paulo as dirigiu a Timóteo 
e Tito para orientá-los em assuntos concernentes ao cuidado pastoral da 
igreja, que é a casa de Deus (1 Timóteo 3.14-15; 4.6-15; 2 Timóteo 2.2). 
O termo “pastoral” é uma designação do século XVIII que se 
manteve ao longo dos anos, e embora não totalmente precisa, é uma 
descrição bastante apropriada dessas três letras. Além disso, devido à 
grande porção dessas epístolas que tratam da ordem e disciplina da 
igreja, o termo “pastoral” é correto. Essas cartas lidam com a política e 
prática da igreja, as quais são preocupações vitais para a saúde da igreja. 
No entanto, o termo pastoral é impreciso no sentido de que Timóteo e 
Tito não eram pastores no sentido atual do termo. Então, o que eles 
eram? 
Primeiro, esses homens eram representantes oficiais do apóstolo 
Paulo, que ele despachou para várias igrejas em Éfeso e Creta. Uma vez 
lá, eles funcionavam numa capacidade oficial para lidar com situações 
especiais e atender necessidades especiais. Durante o período entre o 
238 
tempo dos apóstolos e a transição para líderes e diáconos, esses homens 
foram enviados por Paulo como seus representantes apostólicos para 
repelir e lidar com certas condições e pessoas que estavam ameaçando 
ferir o trabalho e ministérios dessas igrejas. 
Em segundo lugar, Timóteo e Tito sem dúvida possuíam os dons 
necessários para o ministério pastoral e, embora houvesse um elemento 
de cuidado pastoral naquilo que faziam, eles não eram líderes ou pastores 
que são dados pelo Senhor a várias igrejas para ministérios de longo 
prazo (1 Pedro 5.1). Pelo contrário, como delegados oficiais de Paulo, eles 
foram enviados para ajudar as igrejas a estabelecerem seus ministérios 
pastoralmente falando (Tito 1.5). 
Em suma, em seu conteúdo, esses livros são de natureza pastoral e 
dão instruções para o cuidado, a conduta, a ordem, o ministério e a 
administração das assembleias de crentes. Isso é verdade, quer lidem 
com assuntos pessoais ou o ministério corporativo da igreja. Em resumo, 
então, essas cartas foram projetadas por Deus para nos ajudar em nossas 
responsabilidades pastorais e no desenvolvimento orgânico e orientação 
necessária para o ministério das igrejas locais. 
Esboço de Tito: 
I. Saudação (1.1–4) 
II. Essenciais para o Evangelismo Eficaz (1.5–3.11) 
a. Entre Líderes (1.5–16) 
i. Reconhecimento dos líderes (1.5–9) 
ii. Repreensão de falsos mestres (1.10–16) 
b. Na Igreja (2.1–15) 
i. Vida santa (2.1-10) 
ii. Doutrina (ensino) que promove saúde espiritual (2.11-
15) 
c. No Mundo (3.1–11) 
239 
i. Vida santa (3.1-4) 
ii. Doutrina (ensino) que promove saúde espiritual (3.5-
11) 
III. Conclusão (3.12-14) 
IV. Bênção (3.15) 
O Objetivo da Escrita: 
Aparentemente, Paulo introduziu o cristianismo em Creta quando ele 
e Tito visitaram a ilha, após o que ele deixou Tito lá para organizar os 
convertidos. Paulo enviou a carta com Zenas e Apolo, que estavam numa 
viagem que os levou através de Creta (3.13), para dar a Tito autorização 
pessoal e orientação para enfrentar a oposição (1.5; 2.1, 7-8, 15; 3.9), 
instruções sobre fé e conduta, e avisos sobre falsos mestres. Paulo 
também informou Tito de seus planos futuros para ele (3.12). 
Os falsos mestres já eram um problema na igreja (Tito 1.10-16), e a 
carta se concentra principalmente nessa questão. A descrição dos líderes 
(1.5–9) e da vida cristã adequada (2.1–10; 3: 1–3) parece ser expressa 
por contraste intencional com esses falsos mestres. O conteúdo do falso 
ensino não é totalmente explicado (como em 1 Timóteo). Parece haver 
um elemento judaico significativo no ensino. Os adversários vêm do 
"partido da circuncisão" (Tito 1.10). Eles estão interessados em “mitos 
judaicos” (1.14) e talvez na pureza ritual (1.15). A principal preocupação 
de Paulo, no entanto, é com o efeito prático do falso ensino. Eles 
ensinavam pureza ritual, mas viviam de uma maneira que provava que 
eles não conheciam a Deus (1.16). 
Esse falso ensinamento teria sido bem-vindo em Creta, que era 
conhecido no mundo antigo pela imoralidade. Mas Paulo esperava que o 
evangelho produzisse verdadeira devoção e temor a Deus na vida 
cotidiana, mesmo em Creta. 
 
240 
Fatos Curiosos da Carta a Tito: 
 Paulo escreveu a epístola de Tito antes do 2 Timóteo. 
 A carta contém muitas instruções sobre o governo da igreja. 
 Existem apenas 46 versículos no livro. 
 A preocupação central de Tito é a doutrina (ensino) que promove 
saúde espiritual. 
 Tito, que não é referido em Atos, é mencionado pelo nome 13 vezes 
no Novo Testamento; 9 vezes em 2 Coríntios. 
 Como 1 Timóteo, Tito tem uma descrição sobre as qualificações 
para ser um líder na igreja (1.5-9). 
A Importância da Carta a Tito: 
O tema da carta é o elo inquebrável entre fé e prática, crença e 
comportamento. Essa verdade é a base para a crítica de Paulo ao ensino 
falso, sua instrução na vida cristã e os padrões que ele estabelece para os 
líderes da igreja. 
Como as duas cartas de Paulo a Timóteo, o apóstolo dá 
encorajamento pessoal e conselho a um jovem pastor que, embora bem 
treinado e fiel, enfrentou a contínua oposição de homens ímpios dentro 
das igrejas em que ele ministrava. Tito deveria transmitir esseencorajamento e conselho aos líderes que ele nomearia nas igrejas 
cretenses (1.5). 
Em contraste com várias outras cartas de Paulo, como as das igrejas 
de Roma e da Galácia, o livro de Tito não se concentra em explicar ou 
defender a doutrina. Paulo tinha plena confiança na compreensão e nas 
convicções teológicas de Tito, evidenciada pelo fato de ele ter confiado a 
ele um ministério tão exigente. Exceto pela advertência sobre falsos 
mestres e judaizantes, a carta não dá nenhuma correção teológica, 
sugerindo fortemente que Paulo também tinha confiança no fundamento 
doutrinário da maioria dos membros da igreja, apesar do fato de que a 
241 
maioria deles era de novos crentes. Doutrinas que esta carta afirma 
incluem: 
1) A eleição soberana de Deus dos crentes (1.1, 2); 
2) Sua graça salvadora (2.11; 3.5); 
3) A divindade de Cristo e a segunda vinda (2.13); 
4) A expiação substitutiva de Cristo (2.14); e 
5) A regeneração e renovação dos crentes pelo Espírito Santo (3.5). 
Deus e Cristo são regularmente referidos como Salvador (1.3, 4; 
2.10, 13; 3.4, 6) e o plano de salvação é tão enfatizado em 2.11-14 que 
indica o maior impulso da epístola é o de equipar as igrejas de Creta para 
um evangelismo eficaz. Essa preparação exigia líderes devotos que 
temem a Deus e que não apenas pastoreariam os crentes sob seus 
cuidados (1.5–9), mas também equipariam esses cristãos para 
evangelizar seus vizinhos pagãos, que haviam sido caracterizados por um 
de seus próprios nativos famosos como mentirosos, feras malignas e 
glutões preguiçosos (1.12). A fim de obter uma audiência para o 
evangelho entre tais pessoas, a principal preparação dos crentes para a 
evangelização era viver entre eles com o testemunho indiscutível de vidas 
justas, amorosas, altruístas e em devoção e temor a Deus (2.2-14) em 
contraste marcante com as vidas devassas dos falsos mestres (1.10-16). 
O modo como se comportaram com referência às autoridades 
governamentais e aos incrédulos também foi crucial para o seu 
testemunho (3.1-8). 
Não é nada diferente hoje. Uma das maiores razões pelas quais as 
pessoas não vem à Cristo é por causa dos cristãos; um povo que não age 
diferente daqueles do mundo, e pior, falam uma coisa enquanto vivem 
outra. 
 
 
242 
Para Pensar: 
Com que seriedade você considera suas crenças a respeito de Deus 
no esquema geral de sua vida? O livro de Tito nos lembra que nossas 
crenças sobre Deus afetam todas as decisões que tomamos. Às vezes, é 
difícil para os crentes hoje verem a razão de se empolgar com a pessoa e 
a natureza de Cristo ou com a doutrina da Trindade. No entanto, Paulo 
deixou claro que uma igreja que ensina e prega a doutrina que promove 
saúde espiritual verá resultados na vida de seu povo. Não somente as 
pessoas serão salvas de seus pecados, mas a graça de Deus também as 
motivará a viver essa fé salvadora com vidas renovadas e purificadas. 
Muitas igrejas hoje se concentram mais na forma de sua adoração - 
estilos musicais, iluminação e projetos de construção - do que no 
conteúdo da fé que pretendem proclamar. E enquanto a forma de 
adoração de uma igreja é importante, sem uma base firme de doutrina 
que promove saúde espiritual, a igreja lançará seus alicerces na areia. 
Faça da doutrina uma prioridade em sua vida, assim como encorajá-la em 
suas igrejas. Nada é mais significativo que um sólido alicerce em Cristo. 
Nada é mais motivacional que a graça para viver uma vida de boas obras. 
 
 
 
 
 
 
243 
 
CAPÍTULO 20 
 
FILEMOM 
 
Por mais de dois anos durante sua terceira viagem missionária, Paulo 
ministrou na Ásia Menor entre o povo de Éfeso. Este foi um período de 
sucesso para o apóstolo dos gentios, que viu muitos convertidos entre os 
moradores de Éfeso e os visitantes da cidade. Um dos visitantes 
convertidos sob o ensino de Paulo foi um homem chamado Filemom, um 
dono de escravos da cidade vizinha de Colossos (v. 19). No livro da Bíblia 
que leva o seu nome, Paulo dirigiu-se ao seu “querido amigo” como um 
“companheiro de trabalho”, um título dado àqueles que serviram por um 
tempo ao lado de Paulo. Os autores dos evangelhos Marcos e Lucas 
também receberam esse título mais tarde na carta (vv. 1, 24). 
Claramente, existia uma afinidade entre Paulo e Filemom, que serviria a 
um propósito significativo à luz das circunstâncias que trouxeram à carta. 
Um dos escravos de Filemom, Onésimo, aparentemente o roubou (v. 
18) e depois fugiu, o que, de acordo com a lei romana, era punido com a 
morte. Mas Onésimo conheceu Paulo e através de seu ministério tornou-
se cristão (v. 10). Ao crescer em Cristo, ele foi uma grande ajuda para 
Paulo durante a prisão de Paulo. Por mais que Paulo gostasse de ter 
mantido os serviços de Onésimo, Paulo sabia que os erros de Onésimo 
contra seu senhor Filemom precisavam ser resolvidos. Ele escreveu esta 
carta pedindo Filemom para apreciar a transformação que ocorreu em 
Onésimo. Paulo pediu a Filemom para receber Onésimo de volta não 
apenas como um escravo, mas como um "irmão amado" (v. 16). 
244 
Filemom tem sido denominado, a partir de sua graça, "a Epístola 
educada". No entanto, não há nada de elogio insincero, a polidez 
equivocada pelo mundo. É viril e direto, sem deturpação ou supressão de 
fatos; ao mesmo tempo, é muito cativante e persuasivo. 
Autor: 
Paulo escreveu esta breve carta (vv. 1, 9, 19) provavelmente ao 
mesmo tempo que Colossenses e enviou-a a Colossos com os mesmos 
viajantes, Onésimo e Tíquico. Filemom é uma das quatro Cartas de Prisão 
de Paulo, junto com Efésios, Colossenses e Filipenses. 
Data de Redação: 
Filemom provavelmente foi escrito entre 60 e 62 d.C., enquanto 
Paulo estava na prisão após sua viagem a Roma (Atos 27-28). 
Público da Carta: 
245 
 
Filemom, o destinatário desta carta, foi um membro proeminente da 
igreja em Colossos (vv. 1, 2; Colossenses 4.9), que se reuniu em sua 
casa (v. 2). A carta era para ele, sua família e a igreja. 
Os Tempos e as Circunstâncias dos Escritos: 
A questão da escravidão geralmente evoca pensamentos sobre a 
dura escravidão "baseada na raça" que era comum entre os europeus em 
relação aos descendentes de africanos nos últimos séculos. No entanto, a 
escravidão tem uma história muito mais longa e precisa ser abordada 
biblicamente. 
Quando chegamos a esta carta e lemos sobre escravos, o problema 
para nós aqui no século XXI é esta: estamos, mesmo sem pensar nisso, 
sujeitos à possibilidade muito real de interpretar essa passagem através 
do prisma da nossa experiência nacional com a escravidão. Quando 
ouvimos a escravidão, pensamos no século XVII, no século XVIII e no 
século XIX. Seja qual for o seu entendimento disso, você pensa numa 
raça de pessoas que foi subjugada e pensamos nisso em termos de nossa 
própria experiência política. E se é assim que você aborda essa passagem 
e tenta entendê-la à luz disso, isso seria um erro fundamental 
interpretativo da mais alta ordem. Não é disso que Paulo está falando 
aqui. 
Havia dois tipos básicos de escravos nos tempos bíblicos. Os 
primeiros foram os tomados na guerra. Os astutos gibeonitas evitavam a 
guerra oferecendo-se como servos aos israelitas (Josué 9). O segundo 
tipo, e escravo mais comum, era aquele que voluntariamente se vendeu 
ou foi vendido por seus pais para pagar uma dívida. Numa época 
desprovida de ampla ajuda governamental ou serviços sociais, 
comprometer o seu trabalho era uma moeda legítima. Em alguns casos, 
no entanto, o trabalho de um devedor era necessário para a sobrevivência 
246 
de sua família, e escolhas difíceis tinham que ser feitas. Se um pai 
dedicasse todo o seu trabalho para pagar uma dívida, ele seria incapaz de 
sustentar sua própria família; em vez de arriscar toda a família a morrer 
de fome, um homem costumava dar ao credor uma criança que pagaria a 
dívida. A família sobreviveria, e a criança vendida como escrava pelo 
menos teriasuas necessidades básicas providas (2 Reis 4.1). 
Filemom fornece valiosos introspecções históricas sobre o 
relacionamento da igreja primitiva com a instituição da escravidão. A 
escravidão era difundida no Império Romano (segundo algumas 
estimativas, os escravos constituíam um terço, talvez mais da população) 
e uma parte aceita da vida. Nos dias de Paulo, a escravidão virtualmente 
eclipsou o trabalho livre. Os escravos poderiam ser médicos, músicos, 
professores, artistas ou contadores; em suma, quase todos os empregos 
poderiam ser preenchidos por escravos. 
É claro que a escravidão mencionada na Bíblia era bem diferente da 
escravidão praticada durante as últimas centenas de anos. A escravidão 
da Bíblia era mais parecida com servidão contratada do que a escravidão 
moderna. 
Os escravos não eram legalmente considerados pessoas, mas eram 
as ferramentas de seus senhores. Como tal, eles poderiam ser 
comprados, vendidos, herdados, trocados ou apreendidos para pagar a 
dívida do seu dono. Seus senhores tinham poder virtualmente ilimitado 
para puni-los, e às vezes o faziam severamente pelas menores infrações. 
Na época do Novo Testamento, no entanto, a escravidão estava 
começando a mudar. Percebendo que os escravos satisfeitos eram mais 
produtivos, os senhores tendiam a tratá-los com mais brandura. Não era 
incomum um mestre ensinar a um escravo sua própria habilidade de 
trabalho, e alguns senhores e escravos tornaram-se amigos íntimos. 
Embora ainda não os reconhecessem como pessoas sob a lei, o senado 
romano em 20 d.C. concedeu aos escravos acusados de crimes o direito a 
247 
um julgamento. Também se tornou mais comum que os escravos 
recebessem (ou comprassem) sua liberdade. Alguns escravos 
desfrutavam de um serviço muito favorável e lucrativo sob os seus 
senhores e estavam numa situação melhor do que muitos homens livres, 
porque eles estavam seguros de cuidados e provisões. Muitos homens 
livres sofreram na pobreza. 
Necessita ser dito: a escravidão era comum. A escravidão era uma 
parte assumida da cultura da época que ninguém questionava e, 
portanto, não cabe a nós retroativamente julgar essa ordem social, é 
nosso trabalho entendê-la e ver o que podemos extrair dela para nossas 
próprias vidas. Quando alguém diz: "Por que a Bíblia não condena a 
escravidão?”, fazendo uma acusação em espírito e tom contra as 
Escrituras tentando impugnar a justiça das Escrituras a partir de uma 
perspectiva do século XXI, nós rejeitamos isso. A Bíblia não existia, não 
estava escrita, para responder a questões sociais modernas que surgiriam 
1.800 ou 1.900 anos depois. Toda a premissa da questão é falsa, errada e 
equivocada. O objetivo principal do evangelho não era uma grande 
mudança social, mas a mudança espiritual individual. 
A Estrutura: 
Esta carta simples aproxima as cartas que as pessoas normalmente 
escrevem, em contraste com o formato mais estilizado e literário de cinco 
partes que caracteriza a maioria das cartas do Novo Testamento. Filemom 
é uma obra-prima da persuasão e pode ser analisada em termos de como 
Paulo busca uma recepção favorável para o escravo que retorna, onde a 
resposta normal do senhor seria vingativa. A estratégia de Paulo segue 
aquela prescrita pelos retóricos gregos e romanos da época: começar 
construindo um relacionamento estreito e harmonioso em que as pessoas 
ou grupos em questão entendem os sentimentos ou ideias uns dos outros 
e boa vontade com uma audiência (vv. 4–10), depois exponha os fatos de 
248 
uma maneira que convença a mente ou intelecto (vv. 11–19) e, 
finalmente, apelar para as emoções da audiência (vv. 20–21). 
• Perdão é um tema chave. Assim como Deus nos perdoa, ele espera 
que perdoemos os outros. Paulo até se ofereceu para pagar Filemom 
por qualquer coisa que Onésimo tivesse roubado. 
• Igualdade existe entre os crentes. Embora Onésimo fosse um 
escravo, Paulo pediu a Filemom que o considerasse o mesmo que 
ele, um irmão em Cristo. Paulo era um apóstolo, uma posição 
exaltada, mas ele apelou para Filemom como um companheiro 
cristão em vez de uma figura de autoridade da igreja. 
• A graça é um presente de Deus e, por gratidão, podemos mostrar 
graça aos outros. Jesus constantemente ordenou a seus discípulos 
que se amassem uns aos outros, e que a diferença entre eles e os 
pagãos seria como eles demonstravam amor. Paulo pediu esse 
mesmo tipo de amor a Filemom, que é contrário ao nosso instinto 
humano. 
 Esboço de Filemom: 
I. Saudações (vv. 1–3) 
II. Ação de Graças e Oração por Filemom (vv. 4–7) 
III. O Apelo de Paulo por Onésimo (vv. 8–21) 
IV. Pedido Final, Saudações e Bênção (vv. 22–25) 
O Objetivo da Escrita: 
A mensagem de Paulo a Filemom foi simples: baseado na obra de 
amor e perdão que havia sido feito no coração de Filemom por Deus, 
mostre o mesmo para o escravo Onésimo, que fugiu e agora crê. A 
mensagem do apóstolo teria tido força extra por trás disso, porque ele 
conheceu Filemom pessoalmente. Paulo havia explicado o evangelho a 
Filemom e havia testemunhado o resultado profundo (v. 19). Paulo sabia 
249 
que a conversão não é nada com que brincar, mas que deveria ser 
honrada, cuidada e incentivada. 
Então Paulo fez um pedido. Ele queria que Filemom perdoasse 
Onésimo, aceitasse o escravo como irmão em Cristo e considerasse o 
envio de Onésimo de volta a Paulo, como o apóstolo o achou útil no 
serviço de Deus (vv. 11-14). Paulo não minimizou o pecado de Onésimo. 
Este não foi um tipo de graça barata que Paulo pediu a Filemom oferecer. 
Não, houve sacrifício requerido neste pedido, e por causa disso, Paulo 
abordou o assunto com gentileza e cuidado (v. 21). Sua carta a Filemom 
apresenta a bela e majestosa transição da escravidão para a afinidade 
que vem como resultado do amor cristão e perdão. 
Fatos Curiosos da Carta a Filemom: 
 A Carta a Filemom nos dá uma visão do tecido social da igreja do 
Novo Testamento, especialmente o relacionamento entre senhores 
e escravos dentro da mesma igreja local. 
 Pode ter havido 60.000.000 de escravos no Império Romano no 
primeiro século. 
 Filemom é uma carta pessoal, mas não privada. 
 Esta carta mostra como Paulo superou as diferenças sociais entre 
senhores e escravos. 
 Filemom e Colossenses são associados porque foram escritos por 
Paulo e despachados pelos mesmos mensageiros. 
 Paulo não apoia a escravidão e nem o cristianismo. Ele lidou com a 
estrutura social do Império Romano como era. 
 Existem 5 livros de um capítulo na Bíblia: Obadias, Filemom, 2 João 
3 João e Judas. 
 Das 21 cartas, seis delas são pessoais (1 e 2 Timóteo, Tito, 2 João, 
3 João e Filemom). 
 Esta é a mais curta das cartas de Paulo, com apenas 335 palavras 
no grego. 
250 
 A carta é única na medida em que é uma carta puramente pessoal, 
sem declaração explícita de doutrina ou exortação à vida cristã. 
A Importância da Carta a Filemom: 
A notável providência de Deus em preservar uma escrita tão curta 
como esta, que pode ser considerada pouco preocupante para a igreja, 
sendo não apenas uma carta para uma pessoa em particular (como 
aqueles para Timóteo, Tito e Gaio, e a senhora escolhida, da mesma 
forma eram), mas de um assunto pessoal privado, ou seja, o recebimento 
de um escravo fugitivo no favor e na família de seu senhor prejudicado. 
Alguém pode perguntar: “O que há nisso que diz respeito à salvação 
comum entre os crentes?” E ainda assim, tem havido um cuidado divino 
especial, sendo dado (como as outras escrituras foram) por inspiração de 
Deus e, de certa forma, como são, proveitoso para ensinar o que é 
verdadeiro, e nos faz entender o que está errado em nossas vidas, nos 
corrigindo quando estamos errados e nos ensinando a fazer o que é justo 
(2 Timóteo 3.16). Deus teria uma prova existente e exemplo de sua graça 
rica e livre para o encorajamento e conforto do mais mal e vil dos 
pecadores, olhando para ele por misericórdia e perdão.

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