Buscar

O acessório-ferramenta como instrumento para ampliação do mercado de trabalho para pessoas portadoras de deficiência física

Prévia do material em texto

III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
O ACESSÓRIO-FERRAMENTA COMO INSTRUMENTO PARA 
AMPLIAÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO PARA PESSOAS 
PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA FÍSICA 
 
Gisele Carvalho Sandres (IVIG/COPPETEC) - sanders.gisele@globo.com 
Helder de Souza Tavares (UFF) - profheldertavares@bol.com.br 
 
RESUMO 
As empresas têm encontrado na responsabilidade social soluções para problemas complexos, 
tais como: competitividade no mercado global, iniqüidade social e impacto ambiental. Desta 
forma, a responsabilidade social tornou-se estratégia empresarial amplamente reconhecida, 
gerando valor para todos, inclusive na questão da inserção das pessoas portadoras de 
deficiências (PPDs) no mercado de trabalho. O presente trabalho é uma análise crítica do 
programa “Cidadão Capaz” levado a cabo pelos postos de serviços BR. Neste programa são 
empregados como força de trabalho em tarefas de frentistas Pessoas Portadoras de 
Deficiências (PPDs), especificamente cadeirantes, pessoas que de uma forma ou outra 
perderam a capacidade de utilização dos membros inferiores, seja de forma parcial ou total. 
Aborda a questão da ampliação do mercado de trabalho para as PPDs, introduzindo um novo 
conceito de acessório-ferramenta, onde o acessório que é utilizado como meio de transporte 
pela PPD é transformado em ferramenta, auxiliando-a na execução das tarefas rotineiras no 
seu ambiente de trabalho, como também proporcionando conforto e segurança. As tarefas 
executadas por estes indivíduos, são realizadas sob cadeira de rodas, tanto sua condição 
pessoal quanto sua ferramenta de trabalho (a cadeira de rodas) são fatores limitantes nessas 
tarefas. O objetivo do artigo foi realizar o levantamento dessas tarefas de forma a criar um 
quadro crítico-analítico da ação dos PPDs como força de trabalho nos postos de serviços 
automotivos, através de um enfoque ergonométrico/operacional dessas tarefas, bem como 
apresentar uma nova ferramenta específica de trabalho (acessório-ferramenta) que viesse a 
auxiliar o desempenho desses indivíduos na execução de suas tarefas diárias de trabalho. Os 
resultados obtidos demonstram que os PPDs apresentam limitações relativas e absolutas em 
suas tarefas de trabalho com a cadeira de rodas padrão, passavam a apresentar uma maior 
capacidade de execução das tarefas após o uso do acessório-ferramenta. 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
 
 Palavras-chave: necessidades especiais, inserção no mercado, ergonomia, 
reengenharia. 
 
ABSTRACT 
The companies have been finding in the responsibility social solutions for complex problems, 
such as: competitiveness in the global market, social iniquity and environmental impact. This 
way, the social responsibility became thoroughly managerial strategy recognized, generating 
value for all, besides in the subject of the people's bearers of deficiencies insert (PPDs) in the 
job market. The present work is a critical analysis of the program " Capable Citizen" to cable 
for the positions of services BR. In this program they are used as manpower in tasks of 
frentistas People Bearers of Deficiencies (PPDs), specifically wheel chair user, people that in 
a way or another lost the capacity of use of the inferior members, be in way partial or total. It 
approaches the subject of the amplification of the job market for PPDs, introducing a new 
accessory-tool concept, where the accessory that is used as means of transportation by PPD it 
is transformed in tool, aiding her in the execution of the routine tasks in your work 
environment, as well as providing comfort and safety. The tasks executed by these 
individuals, they are accomplished under wheel chair, so much your personal condition as 
your work tool (the wheel chair) they are factors limitantes in those tasks. The objective of the 
article was to accomplish the rising of those form tasks to create a critical-analytic picture of 
the action of PPDs as manpower in the positions of services automotivos, through a focus 
ergonomics/operacional of those tasks, as well as to present a new specific tool of work 
(accessory-tool) that came to aid those individuals' acting in the execution of your daily tasks 
of work. The obtained results demonstrate that PPDs presents relative and absolute limitations 
in your work tasks with the wheel chair pattern, they started to present a larger capacity of 
execution of the tasks after the use of the accessory-tool. 
 
Word-key: special needs, insert in the market, ergonomics, reengenharia. 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
 A prática da responsabilidade social nas empresas é uma força emergente. Essa nova 
força pode ser considerada como conseqüência das transformações deste final de século e, ao 
mesmo tempo, como parte integrante das soluções dos complexos problemas que estão sendo 
gerados por essas transformações. Temas como a competitividade no mercado global, a 
iniqüidade social e o impacto ambiental demandam soluções de alta complexidade. A 
responsabilidade social das empresas pode ser crucial para essas questões. Por esses motivos, 
a responsabilidade social torna-se estratégia empresarial amplamente reconhecida, gerando 
valor para todos. 
 A atuação da empresa socialmente responsável pode-se dar em três dimensões. A 
primeira é a dimensão organizacional, praticando políticas de valorização da força de trabalho 
traduzida por sistemas de avaliação de desempenho justos e honestos, por sistemas de 
premiação e reconhecimento e por programas permanentes de educação e treinamento, na área 
do bem estar de seus funcionários, através de sistemas de segurança e saúde do trabalho. Os 
resultados tangíveis nessa primeira dimensão se refletem na qualidade, produtividade e 
competitividade da empresa. 
O debate sobre deficiência tem ocupado cada vez mais espaço nas políticas públicas do 
mundo inteiro. 
Segundo a Resolução da ONU n° 2.542, que declara os direitos das Pessoas Portadoras de 
Deficiências (PPDs), elaborada por sua Assembléia Geral em 1975 (BRASIL,1975), a PPD é 
um indivíduo que devido a seus “déficits” físicos ou mentais, não está em pleno gozo da 
capacidade de satisfazer, por si mesmo, de forma total ou parcial, suas necessidades vitais e 
sociais, como faria um ser humano normal. Porém, segundo Amaral (2004), esse conceito está 
ultrapassado, por não enfocar as aptidões que a PPD também possui. 
Ainda segundo Amaral (2004), são consideradas PPDs os indivíduos que apresentam 
problemas ortopédicos que incidam sobre a possibilidade de motricidade voluntária, 
impedindo-os total ou parcialmente, dentro dos padrões considerados normais para a espécie 
humana. 
No Brasil, segundo dados oficiais do IBGE publicados recentemente, tem-se 
aproximadamente 24,5 milhões de PPDs, dessas, 6 milhões encontram-se em idade 
economicamente ativa, porém apenas 158 mil trabalham regularmente, ou seja, com carteira 
de trabalho assinada, benefícios, e garantias trabalhistas (RIBAS, 2003). O momento é 
decisivo para a população de PPDs brasileira, devido a regulamentação da Lei n° 8.213, de 24 
de julho de 1991, conhecida como Lei das Cotas. Segundo o artigo 93 da Lei n° 8.213/91, as 
empresas com 100 ou mais empregados devem reservar de 2 a 5% dos seus cargos a 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
portadores de necessidades especiais. Empresas com até 200 empregados devem cumprir uma 
cota de 2%, de 201 a 500 empregados a cota é de 3%, até 1000 empregados, 4%, e acima de 
1000, 5%. 
Apesar da Lei das Cotas ter sido criada há dez anos, esta começou a ser respeitada apenas a 
partir de 1999, sendo inicialmente recebida comouma iniciativa filantrópica. Porém, 
atualmente, tornou-se um desafio a mais, e positivo, na reestruturação de empresas que 
querem crescer com o máximo de aproveitamento de cada funcionário contratado. Já que são 
obrigadas a empregar PPDs, perceberam que podem tirar bom proveito disso (OLIVEIRA, 
2002). 
 Dessa forma o presente artigo se justifica na ampla necessidade da inserção dos PPDs 
em novas áreas de trabalho, porém com um foco crítico das tarefas as quais eles são 
submetidos de forma a que estas possam ser realizadas de maneira profícua. 
 Dessa maneira é objetivo principal desse trabalho é evidenciar o grau de ajuste das 
tarefas realizadas pelos cadeirantes frentistas, empregados nos postos de serviços automotivos 
BR, com referência a sua principal ferramenta de trabalho a cadeira de rodas. É nesse 
contexto que a ciência hoje cria um novo conceito no mercado direcionado as PPDs. Esse 
conceito seria de incorporar ao “design” dos acessórios utilizados como meios de locomoção 
por PPDs, ergonomia, multi-função e agilidade, transformando-os em acessórios-ferramenta, 
com o objetivo de melhorar a qualidade e segurança do trabalho das PPDs, e 
conseqüentemente, ampliar o mercado de trabalho para elas. 
 
 
REVISÃO DA LITERATURA 
 
A ergonomia enquanto ciência tem como objetivo específico a tentativa de adequação do 
ambiente de trabalho as possibilidades humanas (SINGLETON, 1982; ABRAHÃO, 2000). 
Dessa maneira a ergonomia tem cada vez mais utilizada em processos analíticos no trabalho 
para a caracterização da atividade e observação do grau de adequação das ferramentas de 
trabalho. 
 Leppart (apud ABRAHÃO, 2002) define que os métodos de evolução da análise do 
trabalho é realizada não apenas pela da transformação do próprio trabalho, mas sim também, e 
de forma implícita, pelo desenvolvimento dos métodos que estão vinculados aos novos postos 
de trabalho. 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
 A entrada no mercado de trabalho de PPDs, vem requerendo um constante reajuste de 
métodos e ferramentas, de forma a propiciar a essas pessoas uma total integração ao seu 
ambiente de trabalho, para que possam realizar suas tarefas com um grau de proficiência pelo 
menos compatível a das pessoas normais. 
 Segundo Freitas (2005), o Brasil possui uma das maiores populações de PPDs do 
mundo e uma das menores taxas de participação no mercado de trabalho. Cabe a cada um de 
nós contribuir para a inclusão dos PPDs na sociedade onde vivem, ajudando assim a construir 
um mundo mais justo e humano para todos. 
Porém, seja por força da lei, seja pelo empenho de entidades públicas, privadas e assistenciais, 
este quadro começa a mudar. Muitos empresários já estão percebendo que a capacidade de 
trabalho e necessidades especiais não constituem, necessariamente, termos excludentes. Ao 
contrário, quando PPDs ganham uma chance, têm se mostrado tão ou até mesmo mais 
produtivas que pessoas consideradas normais, desde que colocadas em funções que respeitem 
o seu limite. 
Pode-se afirmar que o crescente interesse dos empresários em se aproximar desse público é 
causado, também, em função da importância que as empresas têm dado às questões de 
responsabilidade social. Como exemplos, podemos citar a AVON, que segundo seu 
coordenador de serviços médicos, contrata PPDs desde 1972 e dos seus 3.600 empregados, 
270 são PPDs (Revista Veja, 2001); a Natura, que no ano de 2001, o número de PPDs 
contratados saltou de 15 para 60 (TORRES, 2001). 
 
MATERIAIS E MÉTODOS 
 
A BR Distribuidora também tem investido na contratação de PPDs com a implementação do 
Projeto Cidadão Capaz, que consiste em viabilizar o trabalho de PPDs (cadeirantes) como 
frentistas nos seus postos de serviço. 
Para cumprir com suas próprias diretrizes de SMS na cláusula 84, artigos 4º e 5º, dentre os 
quais a empresa se compromete em implementar melhorias nos procedimentos ocupacionais e 
nas ações de saúde das empresas contratadas para dar suporte técnico à atividade. A empresa 
contratou um grupo de pesquisa da COPPE / UFRJ para desenvolver uma avaliação do 
ambiente de trabalho. O presente artigo relata as avaliações antropométrica, ergonômica, e de 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
índices selecionados de saúde e cinesiológica dos PPDs inseridos no ambiente de trabalho de 
posto de serviço. 
As análises foram realizadas sobre dois cadeirantes engajados no Projeto Cidadão Capaz no 
posto de serviços “Bravo” localizado na Avenida Ayrton Senna na Barra da Tijuca. 
Para a realização deste trabalho, utilizou-se como metodologia os seguintes parâmetros: 
Entrevistas com os dois cadeirantes; 
Entrevista com o gerente do posto de serviço; 
Análise da estrutura do posto, focando as condições de trabalho do cadeirante no exercício de 
sua função e a sua locomoção; 
Observação dos dois cadeirantes, nos seus distintos turnos de serviço, durante o exercício de 
sua função; 
Avaliação antropométrica dos indivíduos; 
Avaliação ergonômica e cinesiológica das tarefas realizadas pelos cadeirantes; 
 
Durante as entrevistas, tanto com o gerente, como com os frentistas, e durante a observação 
dos cadeirantes executando suas funções, os seguintes itens foram avaliados: 
Abastecimento 
Verificação / Troca de fluidos: radiador, freios, óleo de motor, óleo diferencial, óleo da caixa 
de câmbio, direção, embreagem; 
Verificação da água do radiador e do reservatório do esguicho do limpador; 
Calibragem dos pneus; 
Limpeza de vidros; 
 
ENTREVISTAS 
 As entrevistas foram realizadas para contextualizar o fluxo e tipo de atendimento aos 
quais os cadeirantes estavam expostos na estação de trabalho, sendo os resultados 
apresentados no quadro 1. 
 
 
Questionamento Informação 
 
Fluxo de movimento do posto 
O posto não possui um horário de pico, 
porém o turno da manhã é declarado como 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
de maior movimento o da tarde e noite. 
 
Tipos de veículos mais abastecidos no posto 
Motocicletas, veículos de passeio de 
pequeno e médio porte (apenas pickups e 
jipes), raramente abastece-se um veículo de 
serviço, que seria apenas um caminhão-baú. 
 
Locomoção dos cadeirantes 
As mangueiras das bombas no chão da pista 
dificultam a locomoção dos cadeirantes 
durante o abastecimento 
 
 
Serviço de troca de óleo 
Os cadeirantes não executam nenhum 
serviço que utilize o elevador de carros (ex.: 
troca de óleo, verificação e/ou troca de óleo 
diferencial, de óleo da caixa de câmbio e de 
óleo da embreagem) por falta de ferramentas 
adequadas. 
Serviços realizados em veículos grandes 
(pickups, jeeps,caminhões) 
Somente abastecimento, pois o cadeirante 
não tem acesso ao motor devido a altura do 
mesmo. 
 
 
Lavagem dos vidros 
Os cadeirantes conseguem lavar apenas os 
vidros laterais dos carros, sendo que em 
carros “hatch”, ainda conseguem lavar os 
vidros traseiros. Os vidros dianteiros não são 
lavados por cadeirantes. 
 
Utilização de extintores de incêndio 
Os cadeirantes não sabem utilizar o extintor, 
e também a altura de fixação dos mesmos 
entre as bombas impossibilita o acesso aos 
cadeirantes. 
Quadro 1 – Informações organizacionais e de fluxo do atendimento do posto de trabalho. 
 
 O resultado das entrevistas pôde ajudar na criação dos quadros das análises das tarefas 
apresentados no próximo tópico. 
 
Fonte: Sandres & Tavares, 2005. Não publicado.
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
ANÁLISE PRELIMINAR DAS TAREFAS 
A análise preliminar das tarefas foi realizada com as cadeiras convencionaisque ainda estão 
sendo utilizadas nos postos de serviço, numa tentativa de identificar o nível de esforço e de 
conforto dos frentistas ao realizar um conjunto básico de tarefas de serviços. Estas cadeiras 
possuem apenas um diferencial que é um suporte para o bico da mangueira de abastecimento 
(figura 1). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Essa análise foi realizada através de observação dos frentistas cadeirantes na execução 
de suas manobras de trabalho, que consistiam suas tarefas. Essa observação gerou dois 
quadros analíticos distintos. O primeiro quadro apresenta as categorias de viabilidade da 
tarefa e os tipos de veículos atendidos pelos frentistas (quadro 2). Enquanto o segundo 
apresentava as tarefas de trabalho com suas análises comparativas com as categorias de 
viabilidade apresentadas no quadro 2 (quadro 3). 
 
Figura 1 – Cadeira de rodas 
padrão com a adaptação do 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
Viabilidade de Tarefa Tipos de Veículos 
A- Realizável com segurança 1- Veículo de passeio pequeno 
B- Realizável com preparação prévia 2- Veículo de passeio grande 
C- Não adequada 3- Veículo de serviço 
 4- Motocicleta 
Quadro 2 – Classificação da viabilidade de Tarefas. 
 
N O V E Í C U L O 
Tarefa Veículo Análise Viabili
. 
Recomendações 
 
 
 
Abasteciment
o 
 
 
 
1, 2, 3 e 
4 
Mesmo com a variação do posicionamento do tanque dos 
veículos devido a sua marca e/ou o posicionamento do 
próprio carro em relação a bomba, a tarefa é realizada 
com facilidade. A dificuldade ocorre na locomoção do 
cadeirante no espaço entre a bomba e o veículo, devido 
pelo fato das mangueiras das bombas serem dispostas no 
chão, no espaço reservado para o cadeirante se locomover. 
 
 
 
A 
-Conscientizar o cadeirante que a 
gasolina é composta de constituintes 
nocivos a saúde, e treiná-lo para ao 
abastecer o carro, manter uma distância 
de segurança do tanque para evitar a 
aspiração direta do produto (entre o,80 
e 1m). Implantar mangueiras suspensas 
por molas. 
 
Abrir o capô 
 
1,2 e 3 
O cadeirante não consegue realizar essa tarefa por não 
possuir altura para manter o capô no alto até utilizar o 
 
B 
-Fornecer ferramenta adequada para 
sustentar o capô no alto até o ferro de 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
ferro de sustentação. sustentação do carro ser aplicado 
Verificar e 
completar 
fluidos 
(motor) 
 
1 
As tarefas são realizadas com facilidade desde que os 
fluidos em questão sejam verificados no motor (veículo 
no chão). 
 
A 
Ferramenta de suporte ajudaria no caso 
da vareta do nível de óleo no motor. 
Verificar e 
completar 
fluidos 
(motor) 
 
2 e 3 
O cadeirante não consegue realizar as tarefas, pois não 
tem altura suficiente. 
 
C 
Posição das peças quentes do sistema 
de arrefecimento podem ferir o braço. 
Demanda de ferramenta especial. 
Verificação / 
Troca de 
fluidos 
 
1, 2 e 3 
O cadeirante não consegue realizar a tarefa de verificação 
de fluidos quando esta é feita na parte inferior do veículo, 
pois a tarefa exige muito esforço para manipular a 
ferramenta de desaparafusamento. 
 
C 
-Fornecer ferramenta com braço de 
alavanca maior para diminuir o esforço 
de execução da tarefa e o cadeirante 
consiga executá-la 
Verificar e 
completar 
água 
 
1 
O cadeirante executa as tarefas com facilidade, tanto para 
a água do radiador como para a do reservatório do 
esguicho do vidro 
 
A 
Para veículos que operam sem pressão 
no recipiente do radiador. 
Verificar água 2 e 3 O cadeirante não consegue realizar a tarefa, pois não tem 
altura suficiente. 
C 
Tarefa Veículo Análise Viabili
. 
Recomendações 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
 
 
 
Calibragem de 
pneus 
 
 
 
1 ,2, 3 e 
4 
O cadeirante executa a tarefa com facilidade independente 
da localização do bico do pneu. A dificuldade observada 
ocorre quando a calota está colocada de maneira incorreta, 
escondendo o bico do pneu, e necessita ser removida. 
Nesse caso, é necessário um grande esforço por parte do 
cadeirante para remover a calota devido a localização da 
mesma e a postura que o cadeirante tem que assumir para 
executar a função. 
 
A 
Suporte de tronco para permitir que o 
cadeirante realiza a tarefa com maior 
comodidade e menor incidência de 
estresse isométrico nos músculos 
eretores da coluna. 
Lavagem de 
vidros laterais 
1 O cadeirante consegue executar a tarefa sem problemas A Mangueira de pressão para minimizar o 
esforço da região escapular e do 
cotovelo na manipulação do regador de 
água. 
Lavagem de 
vidro traseiro 
 
1 
O cadeirante consegue executar a tarefa apenas em carros 
do modelo hatch, quando o carro é do modelo sedan o 
cadeirante não executa a tarefa 
 
B 
-Fornecer equipamento com cabo 
alongado 
Lavagem de 
vidro 
dianteiro 
1 O cadeirante não consegue executar a tarefa B -Fornecer equipamento com cabo 
alongado 
Lavagem de 
vidros laterais 
2 e 3 O cadeirante não consegue executar a tarefa B -Fornecer equipamento com cabo 
alongado 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
Lavagem de 
vidro traseiro 
2 e 3 O cadeirante não consegue executar a tarefa B -Fornecer equipamento com cabo 
alongado 
Lavagem de 
vidro 
dianteiro 
2 e 3 O cadeirante não consegue executar a tarefa B -Fornecer equipamento com cabo 
alongado 
Quadro 3 – Análise de Tarefas. 
 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
ANÁLISE DO RISCO DE DISTÚRBIO NEUROMUSCULAR NO AMBIENTE 
DE TRABALHO (RULA). 
 O ambiente de trabalho num posto de serviços apresenta tarefas intrínsecas de 
manipulação de instrumentos e ferramental específicos. No caso dos frentistas esse 
ferramental pode ser traduzido nas mangueiras de abastecimento de combustível, 
regadores, baldes, esponjas, rodos e mangueira de ar comprimido. Essas ferramentas são 
manipuladas em diversas tarefas que exigem do frentista proficiência motora para sua 
utilização. Indivíduos com necessidades especiais, especificamente cadeirantes 
apresentam limitações posturais e manipulativas inerentes a sua condição; porém as 
tarefas são as mesmas que os indivíduos normais e devem ser realizadas. Dessa forma o 
cadeirante é obrigado a realizar adaptações posturais para poder realizar suas tarefas de 
trabalho. 
 Um conjunto básico de posturas adotadas no trabalho foi utilizado para se 
verificar a incidência e a prevalência de DORT identificado como RULA (Rapid Upper 
Limb Assessment), para membros superiores (MCATAMNEY & CORLLET, 1993). 
 Os dados são então comparados com escores tabelados que, ao final, apresentam 
um índice de risco relativo de lesão para o ambiente de trabalho. Esse estudo tem caráter 
apenas exploratório para decidir aonde os maiores esforços para a monitorização e 
intervenção deverão ser direcionados (tabela 1). 
 
Tabela 1 – Índice RULA de risco de DORT em ambiente de trabalho.. 
Índice. Fator de risco. 
1 ou 2 Aceitável 
3 ou 4 Investigar futuramente 
5 ou 6 Investigar para mudanças o mais breve possível 
7 Investigar e mudar imediatamente 
Fonte: McAtamney & Corllet, 1993. 
 
ANÁLISE CINESIOLÓGICA DAS ATIVIDADES ENVOLVIDAS NO 
TRABALHO DE FRENTISTA PARA CADEIRANTES. 
 Os frentistas cadeirantes no desenvolvimento do seu trabalho realizam diversas 
tarefas inerentes aos objetivos econômicos de um posto de serviços.Os cadeirantes ao 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
serem questionados quanto a exeqüibilidade dessas tarefas apresentaram o seguinte 
quadro classificatório (quadro 4). 
 
 
 No quadro anterior pode-se observar que de um universo de 18 tarefas de 
trabalho, o frentista cadeirante com a cadeira de rodas convencional pode realizar 12, ou 
seja 66,7% do total das tarefas dos serviços de abastecimento automotivo. A análise 
cinesiológica ajuda a determinar o complexo osteo-mio-articular (ossos, músculos e 
articulações) envolvidas nos movimentos que compõem as tarefas. Essa análise 
descreve os grupamentos musculares primariamente envolvidos na tarefa e aqueles 
responsáveis pela manutenção da postura, dessa forma sinalizando para as tarefas cujos 
movimentos ou posturas adotadas possam ser potencialmente geradores de DORT 
(SINGLETON, 1982). 
As tarefas discriminadas no quadro 3 foram acompanhadas em dois dias consecutivos 
para os dois cadeirantes que constituíam a amostra. Estas tarefas foram filmadas com 
uma câmera Digital Intel CS330, com capacidade de 1,3 mega pixel em 30 
quadros/segundo, permitindo, dessa forma, a separação em quadros toda a tarefa 
realizada (DURWARD et. al., 2001). Foram escolhidos para análise os quadros em que 
constavam as posições consideradas críticas ou extremas de cada tarefa sendo essa 
posição avaliada cinesiológicamente e determinados os pontos de tensão muscular, bem 
como uma análise RULA de cada movimento. 
 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
RESULTADOS E CONCLUSÕES 
No que se refere ao estresse ortomuscular nas tarefas de frentista o presente estudo pôde 
observar que 100% do ambiente de trabalho apresenta fatores de risco de lesão. Sendo a 
região cervical a com maior incidência de risco (tabela 2). 
 
Tabela 2 – Tabela de distribuição dos fatores de risco nos membros superiores e 
coluna vertebral. 
Regiões corporais Índice parcial 
Braço. 3 
Antebraço. 3 
Punho. 3 
Cervical. 5 
Lombar. 3 
Fonte: Tavares & Sandres, 2005. Não publicado. 
 
 O escore final da análise através de questionário de posturas (figura 1) foi de 7 
(sete) indica a necessidade de uma investigação mais profunda para adequação do 
ambiente de trabalho para os indivíduos cadeirantes, o mais breve possível, bem como a 
modificação de processos e materiais para a melhoria desse quadro. 
Sendo as DORT de maior incidência nestes músculos a síndrome do impacto do 
supraespinhoso, tendinite do tendão da porção longa do bíceps, com formação de 
osteófito acromial, em último grau podendo levar a limitação dos movimentos de 
abdução (afastamento lateral do braço da linha nédia do tronco) e a flexão (NIGG, 
1988). 
De forma análoga ao se analisar as análises de RULA de cada quadro pôde-se verificar 
os seguintes percentuais de prevalência de risco (tabela 3): 
 
Tabela 3 – Prevalência de risco nas tarefas levantadas. 
Índice. Fator de risco. % de prevalência. 
1 ou 2 Aceitável - 
3 ou 4 Investigar futuramente - 
5 ou 6 Investigar para mudanças o mais breve 
possível 
57,1% 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
7 Investigar e mudar imediatamente 42,9% 
Total - 100% 
Fonte: Tavares & Sandres não publicado. 
 
A diferença nos índices finais das entrevistas e da avaliação cinemática das tarefas 
demonstra ainda uma dicotomia perceptiva dos cadeirantes em relação às posturas 
assumidas na realização das suas tarefas de trabalho. 
Após essas considerações foi realizada a confecção do acessório -ferramenta que foi 
apresentado aos cadeirantes para a realização do mesmo conjunto de tarefas 
anteriormente observados. Na concepção desse protótipo, adotou-se a cadeira de rodas 
como “Acessório Ferramenta” no exercício das atividades das PPDs, como frentistas, 
atendendo veículos, em Postos de Serviço. Essa “Cadeira-Ferramenta” apresenta os 
seguintes recursos: 
Sistema de rodas extras para passar sobre valas e canaletas de drenagem. 
Suporte para o bico de abastecimento. 
Caixa para ferramentas e materiais de trabalho, como frasco de sabão líquido. 
Suporte inferior frontal móvel, para extintores de incêndios. 
Cinto de segurança para manter a estabilidade e minimizar a sobrecarga da musculatura 
do tronco em esforços laterais fora do centro de gravidade do conjunto. 
Reservatório de água com pressurizador manual e esguicho. 
Equipamentos de suporte em posição de “espada de samurai”: 
Espelho com haste flexível para observação das partes inferiores dos veículos. 
Gancho para remoção de medidores de nível do óleo. 
Haste com ponta de velcro e adesivos, para apanhar moedas e pequenos objetos no piso. 
Rodo e esponja com haste alongada. 
Bandeirola, luz e tiras reflexivas de sinalização. 
Sistema de freio para travamento das rodas traseiras principais. 
As figuras 2(a) e 2(b), a seguir, mostram a “Cadeira-Ferramenta” que foi desenvolvida e 
utilizada pelos frentistas (PPDs). 
 
 
 
 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Um protótipo foi montado e apresentado aos frentistas PPDs, e foram realizadas o 
mesmo conjunto de tarefas (figura 3a, 3b, e 3c). 
 
 
 
 
 
Quadros comparativos das tarefas e das análises cinesiológica e ergonômica foram 
montados em comparação com a análise anterior. Em relação as análises processuais 
das tarefas foi possível notar uma migração de tarefas que eram realizadas com 
preparação prévia, a realizadas com segurança e de algumas tarefas que não eram 
adequadas para realizáveis com preparação prévia. 
 Com relação à análise cinesiológica foi observado uma diminuição das tarefas 
com dificuldades absolutas, com a migração dessas tarefas para o grupo de dificuldades 
relativas (quadro 5). 
Figura 2 – Apresentação do protótipo do acessório-ferramenta dos 
frentistas PPDs, para a facilitação das tarefas de atendimento automotivo. 
Figura 3a Figura 3b Figura 3c. 
 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
 
 
 
 Em comparação com o quadro 4, onde os frentistas apresentavam um índice de 
exeqüibilidade de 66,7% das tarefas de serviços automotivos, no quadro 5 se pode 
observar que houve um aumento para 83,3% das tarefas que podem ser realizadas, isso 
significa que o acessório-ferramenta apresentou um aumento de 19,9% da capacidade de 
realização de tarefas. Na análise do risco de LER/DORT feito através da RULA, foi 
observado um diminuição dos índices de risco relativos as articulações (tabela 4), bem 
como dos escores finais gerais (tabela 5). 
 
Tabela 4 – Tabela de distribuição dos fatores de risco nos membros superiores e 
coluna vertebral. 
Regiões corporais Índice parcial 
Braço. 2 
Antebraço. 2 
Punho. 3 
Cervical. 3 
Lombar. 2 
Fonte: Tavares & Sandres não publicado. 
 
 
 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
Tabela 3 – Prevalência de risco nas tarefas levantadas. 
Índice. Fator de risco. % de prevalência. 
1 ou 2 Aceitável 12,3% 
3 ou 4 Investigar futuramente 19,4% 
5 ou 6 Investigar para mudanças o mais breve 
possível 
25,4% 
7 Investigar e mudar imediatamente 42,9% 
Total - 100% 
Fonte: Tavares & Sandres não publicado. 
 
Os resultados acima confirmam que a inclusão social, pode e deve ser realizada, porém 
com responsabilidade, procurando fomentar a reengenharia dos processos e ferramentas 
utilizadas pelos indivíduos. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ABRAHÃO, Júlia Issy & PINHO, Diana Lúcia Moura. As transformações do trabalho edesafios teóricos-metodológicos da ergonomia. Estudos de pscologia. 2002, 7 (número 
especial), p 45-52. 
 
AMARAL, L.A. Deficiência Física. Disponível em: <http://www.saci.org.br>. Acesso 
em: 01 de Fevereiro, 2005. 
 
BRASIL. Organização das Nações Unidas. Resolução ONU n° 2.542, 1975. Declaração 
dos Direitos das Pessoas Portadoras de Deficiências. Disponível em: 
<http://www.pgt.mpt.gov.br/deficiente/legislacao/res_onu2542_75.htm>. Acesso em: 
12 de Fevereiro, 2005. 
 
DURWARD, B. R; BAER, G. D; ROWE, P.J. Movimento Funcional Humano: 
mensuração e análise. São Paulo. Manole Editora 2001. 
 
III CNEG – Niterói, RJ, Brasil, 17, 18 e 19 de agosto de 2006 
FREITAS, G. Da Deficiência à Eficiência de um Ser Humano. Brasil, Gilmar Freitas 
On Line, 10/01/2005. Disponível em: <http://www.saci.org.br>. Acesso em: 01 de 
Fevereiro, 2005. 
 
McATAMNEY, L., and CORLETT, E. N. RULA: a survey method of the investigation 
of work-related upper limb disorders. Applied Ergonomics. Institute for Occupational 
Ergonomics. 1993. 
 
NIGG, B. Causes of injuries. In The Olympic Book of Sports Medicine. p363-390. 
UK. Blackwell Science Publications, 1988. 
 
OLIVEIRA, M. Os Eficientes. São Paulo, Revista Veja, 10/06/2002. Disponível em: 
<http://www.saci.org.br>. Acesso em: 01 de Fevereiro, 2005. 
 
RIBAS, J.B. A Pessoa com Deficiência e a Responsabilidade Social Empresarial. São 
Paulo, Portal do Voluntariado, 21/03/2003. Disponível em: <http://www.saci.org.br>. 
Acesso em: 01 de Fevereiro, 2005. 
 
TALENTO ESPECIAL. Brasil, Revista Veja, 09/09/2001. Disponível em 
<http://www.saci.org.br >. Acesso em: 01 de Fevereiro, 2005. 
 
TORRES, M. Crescem Ofertas para Portadores de Deficiência. São Paulo, O Estado de 
São Paulo, 15/06/2001. Disponível em: <http://www.saci.org.br>. Acesso em: 01 de 
Fevereiro, 2005. 
 
SINGLETON, W. T. The Body at Work: biological ergonomics. London. Cambridge 
University Press 1982.

Mais conteúdos dessa disciplina