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ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 1 Aula 1: Codificações e o Mito da Completude .............................................................................. 2 Introdução ............................................................................................................................. 2 Conteúdo ................................................................................................................................ 3 Fontes do Direito ............................................................................................................... 3 Visão de Miguel Reale ....................................................................................................... 4 Código Civil de 2002 ....................................................................................................... 16 Encerramento ................................................................................................................... 23 Referências........................................................................................................................... 25 Notas ........................................................................................................................................... 30 Chaves de resposta ..................................................................................................................... 30 Aula 1 ..................................................................................................................................... 30 Exercícios de fixação ....................................................................................................... 30 ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 2 Introdução Você está iniciando o módulo que abordará os Elementos de Direito Civil Constitucional. Para compreender esses elementos, é preciso antes relembrar aspectos importantes da codificação civil brasileira e os movimentos que deram origem ao que se denomina atualmente de constitucionalização do Direito Civil. Iniciaremos, então, relembrando a teoria das fontes e apresentando as respectivas críticas; pontuando o caminho histórico legislativo dos códigos civis brasileiros e suas principais características. Terminaremos nosso estudo com os movimentos transformadores do Direito Privado. Todos esses assuntos servirão de fundamento para as aulas que estão por vir, dando-lhe a base para a compreensão do novo Direito Civil brasileiro e os seus reflexos na jurisprudência. Objetivo: 1. Compreender os aspectos e características da codificação civil brasileira; 2. Identificar os movimentos que influenciaram o Código Civil vigente e estudar seus reflexos práticos. ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 3 Conteúdo Fontes do Direito Você se recorda das fontes do Direito? O vocábulo fonte designa origem, gênese. Portanto, seriam fontes do Direito os fatos ou atos que lhe dão origem. Evidente, dessa forma, que as normas que formam o Direito não têm uma origem única. Classicamente, costuma-se classificar as fontes de Direito Positivo em fontes formais e fontes materiais. Você consegue se recordar a que elas se referem? Fontes formais São as normas ou regras vigentes decorrentes de um processo legislativo. São fontes formais do Direito Positivo: costume; a lei; a jurisprudência; a doutrina; os negócios jurídicos. Fontes materiais São as necessidades sociais que impõem a elaboração de uma regra ou norma. São valores sociais que orientam ou integram o conteúdo da norma. Fontes do Direito Você se recorda das fontes do Direito? O vocábulo fonte designa origem, gênese. Portanto, seriam fontes do Direito os fatos ou atos que lhe dão origem. Evidente, dessa forma, que as normas que formam o Direito não têm uma origem única. Classicamente, costuma-se classificar as fontes de Direito Positivo em fontes formais e fontes materiais. ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 4 Você consegue se recordar a que elas se referem? Fontes formais São as normas ou regras vigentes decorrentes de um processo legislativo. São fontes formais do Direito Positivo: costume; a lei; a jurisprudência; a doutrina; os negócios jurídicos. Fontes materiais São as necessidades sociais que impõem a elaboração de uma regra ou norma. São valores sociais que orientam ou integram o conteúdo da norma. Visão de Miguel Reale Fato é que as fontes decorrem sempre de uma necessidade social, ou seja, a produção de normas resulta das transformações sociais que impõem o repensar ou o atuar do Direito visando à manutenção e garantia da paz social. Miguel Reale critica a teoria das fontes (teoria clássica) afirmando não ter ela vinculação com a realidade jurídica, vez que a construção das normas se daria sempre sobre uma base fática composta por valores preexistentes. O que isso significa afirmar? Significa que a lei não cria nada novo, apenas determina o comportamento humano de acordo com esses mesmos valores. Fundamentada nesse raciocínio está a teoria tridimensional do Direito elaborada por Miguel Reale com base no culturalismo, ou seja, reconhece-se que não existe uma separação ou uma unificação absoluta entre fatos, valores e normas. Portanto, as fontes “são processos ou meios em virtude dos quais se positivam com legítima formação obrigatória, isto é, com vigência e eficácia no contexto ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 5 de uma estrutura normativa” (REALE, 2009, p. 140). Por isso, não se pode considerar a lei como fonte exclusiva do Direito, reconhecendo-se também à doutrina, à jurisprudência, aos costumes e aos negócios jurídicos também papel importante na formação do Direito. Codificação e Consolidação A partir dessa visão, interessa-nos iniciar o nosso estudo analisando as codificações civis brasileiras como fontes formais do Direito Privado. Por isso, antes de estudarmos a codificação brasileira, é preciso retomar outra diferenciação: será que você recorda a diferença entre Codificação e Consolidação? Codificar: É o “o ato pelo qual se elabora a sistematização das diversas regras ou princípios relativos à matéria que faz de um ramo do Direito” (PLÁCIDO; SILVA, 2008, p. 302). Código, portanto, é um sistema coordenado de regras reunidas em um único texto e, assim sendo, o processo legislativo que o cria é considerado mais complexo uma vez que exige a busca de valores e princípios comuns. Consolidar: É o “ato de reunir em um único texto as diversas leis que se referem a um determinado assunto ou que compõem a regulamentação a certa e determinada atividade ou a certo e determinado serviço” (PLÁCIDO; SILVA, 2008, p. 302). Trata-se, portanto, de criação legislativa mais simples do que a codificação, refletindo-se em uma justaposição organizada de leis já existentes e vigentes sobre determinado assunto. Construção legislativa do Código Civil de 1916 ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 6 Lembradas essas diferenças, vamos estudar o histórico da codificação civil brasileira para tentar compreender como os movimentos sociais e doutrinários influenciaram na elaboração dessas leis. O Direito Português foi uma das grandes fontes de Direito Privado brasileiro. Vigente, mesmo após a Independência do Brasil, o Direito Português (em especial as Ordenações Filipinas), no que se refere às relações privadas, só foi definitivamente excluído do ordenamento brasileiro com a entrada em vigor do Código Civil de 1916. Linha do tempo: construçãolegislativa do Código Civil de 1916 Acompanhe, na linha do tempo abaixo, como se desenvolveu a construção legislativa do código civil. 1824 Com a Independência do Brasil, ganhou espaço o movimento codificador do Direito Civil, tarefa inclusive prevista na Constituição Federal de 1824 (art.179). 1845 Barão de Penedo Visando promover essa tarefa em 1845, o advogado Francisco Inácio de Carvalho Moreira (conhecido como Barão de Penedo) defendeu junto à Ordem dos Advogados Brasileiros a necessidade da codificação das leis civis, incitando o Legislativo a dar início aos trabalhos. 1858 Teixeira de Freitas ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 7 À época, o legislador optou por primeiramente realizar a consolidação das leis civis vigentes. Para tanto, o Ministério da Justiça, em 15.02.1855, contratou o Bacharel Augusto Teixeira de Freitas, concedendo-lhe o prazo de cinco anos para finalizar e classificar todas as leis civis existentes até o momento. Teixeira de Freitas, embora tenha realizado impressionante trabalho, não chegou a concluir a sua classificação das leis, vez que optou o governo a dar início ao trabalho de consolidação das leis civis, trabalho concluído em 1858 e aprovado pelo Imperador em 24 de dezembro de 1858, com o nome de Consolidação das Leis Civis, lei que permaneceu vigente até 1917. A Consolidação apresentada por Teixeira de Freitas tinha mais de duzentas páginas apenas de introdução, na qual o autor expunha o método, a seleção e as classificações adotadas e, por isso, considerada como um dos mais importantes documentos do Direito brasileiro. O corpo da lei continha 1333 artigos, todos com notas explicativas. Teixeira de Freitas também optou por dividir seu trabalho em Parte Geral (a qual regulava as pessoas e as coisas) e Parte Especial (que se destinava aos direitos pessoais e aos direitos reais), adotando, portanto, o sistema pandectista alemão. No mesmo ano em que a Consolidação foi aprovada, o Decreto n. 2318 autorizou a contratação de um jurista para apresentar o tão almejado Projeto do Código Civil Brasileiro. Teixeira de Freitas foi contratado em 10.01.1859 e foi realmente durante os trabalhos do código que seu notável conhecimento acadêmico pôde ser desenvolvido. Em agosto de 1860, imprimiu-se a Primeira Seção do que ficou conhecido como Esboço de Teixeira de Freitas, logo em seguida, publicaram-se a Segunda e a Terceira Seções da Parte Geral e a Primeira e a Segunda Seção da Parte Especial; a Terceira parte foi publicada apenas em 1865 e, até aqui, o Esboço já contava com 3.702 artigos. Já com os trabalhos bastante avançados, Teixeira de Freitas manifestou-se com dificuldade de terminá-lo, não só porque seus vencimentos estavam atrasados ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 8 desde 1861 (quando seu contrato havia acabado), mas porque não estava satisfeito com os rumos tomados pela Comissão revisora (Presidida por Visconde de Uruguai). Em 1866, o autor desiste de acabar o projeto, abandonando-o inacabado com 4.908 artigos. Embora o Esboço não tenha sido concluído, acabou servindo de influência para outros países: Código Civil Argentino de 1865; Código Civil do Paraguai e Código Civil do Uruguai, países em que o autor ficou conhecido como o “Savigny americano”. Suas ideias sobre a unificação do Direito Privado foram recebidas por países como o Japão (1898) e a Itália (1942). No entanto, a busca por um Código Civil brasileiro continuava. 1866 Em 1866, Teixeira de Freitas deu um novo rumo ao seu trabalho cedendo aos apelos do movimento de unificação do Direito Privado que propunha a unificação em uma única lei das normas civis e comerciais. No entanto, essa ideia unificadora não foi bem recebida pela doutrina e pelo legislador que tendia mais a aceitar a unificação do direito obrigacional do que a unificação de todo o Direito Privado. 1872 Nabuco de Araújo Em 1872, foi contratado Nabuco de Araújo, que tinha o prazo de cinco anos para apresentar seu projeto. Findo o prazo, no entanto, o autor nada tinha feito além de reunir material e elaborar a divisão que pretendia seguir. Foi-lhe concedida prorrogação de prazo sem vencimentos. Diante da necessidade de manter a si e à sua família, tomado pelas atividades profissionais, Nabuco de Araújo acabou optando por conservar, no que fosse possível, o Esboço de Teixeira de Freitas, imprimindo-lhe suas impressões e estudos pessoais. Nabuco ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 9 de Araújo faleceu em 1878 sem terminar sua obra, levando consigo seus pensamentos e estudos, impossibilitando a qualquer um dar continuidade ao projeto. 1881 Felício dos Santos Assim, em 1881, o Governo contratou o jurista Felício dos Santos. O trabalho intitulado “Apontamentos para o Projeto de Código Civil Brasileiro”, composto por 2692 artigos, chegou a ser encaminhado a uma Comissão revisora (1889), mas com o advento da República o trabalho não foi concluído. 1890 Antônio Coelho Rodrigues Após a proclamação da República, assumiu os trabalhos do Projeto de Código Civil Antônio Coelho Rodrigues (que já havia participado de comissões revisoras anteriores) (em 15 de julho de 1890). Seu projeto foi finalizado em 11.01.1893, em Genebra e, por isso, acabou contando com forte influência do Código de Zurique. Nomeada Comissão revisora (Presidida por Torres Netto), o projeto foi rejeitado por nele terem sido constadas graves imperfeições. 1896 Saldanha Marinho No entanto, afirma-se que o projeto não teria sido recebido pela Comissão porque Saldanha Marinho encabeçava o movimento que pretendia aprovar o Projeto de Felício dos Santos. Diante dessa controversa situação política, Coelho Rodrigues optou por oferecer seu projeto ao Senado, tendo recebido como ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 10 relator Gonçalves Chaves. A Comissão nomeada chegou a indicar a aprovação do projeto após revisão. Remetido o projeto à Câmara em 1896, acabou sendo esquecido. 1899 Carlos de Carvalho A ansiedade por um Código Civil brasileiro aumentava e, em 1899, Carlos de Carvalho publicou em Bruxelas a Nova Consolidação das Leis Civis Brasileiras (ou Direito Civil Brasileiro Recopilado), que nada mais foi do que uma atualização da Consolidação feita por Teixeira de Freitas e vigente na época. 1900 Clóvis Beviláqua Então, no mesmo ano, foi contratado Clóvis Beviláqua que, com base nas leis alemãs e francesas, no Esboço de Teixeira de Freitas e no Projeto de Coelho Rodrigues, entregou no mesmo ano seu projeto. Em agosto de 1900, a comissão revisora presidida por Epitácio Pessoa encerrou seus trabalhos e, em 17 de novembro de 1900, o projeto foi apresentado ao Congresso que, após inúmeras discussões, apresentou seu parecer em 18 de janeiro de 1902, apontando-se a necessidade de diversas alterações. 1902 Ruy Barbosa Aprovado em Plenário da Câmara, em 1902, o projeto foi remetido ao Senado onde recebeu como relator o Senador Ruy Barbosa, que fez questão de elaborar sozinho o relatório e que acabou dando início a uma das mais ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 11 acirradas batalhas linguísticas já registradas no Brasil. Ruy Barbosa e Clóvis Beviláqua (com auxílio do gramático Carneiro Ribeiro) trocaram inúmeras correspondências que, embora sejam de conteúdo linguístico inestimável, pouco representaram em discussões jurídicas. Mais informações Ruy Barbosa Apósinúmeras críticas sobre a demora em finalizar a apreciação do projeto e uma tentativa de por si terminar os trabalhos, Ruy Barbosa acabou se desligando das funções. O projeto, então, permaneceu no Senado até 1912, tendo sido devolvido à Câmara com 1736 emendas. Apenas em 1915 as emendas foram finalmente apreciadas pela Câmara, sendo 94 rejeitadas. Remetido novamente ao Senado, 24 emendas das 94 rejeitas foram aprovadas. Reapresentado à Câmara, 9 dessas emendas foram novamente rejeitadas. Finalmente, aprovou-se, em 26 de dezembro de 1915, o Projeto 168-A. O Projeto foi sancionado em 1 de janeiro de 1916, com vacatio legis de um ano. O Código Civil (de 16 ou de 17 em virtude da data em que entrou em vigor - Lei n. 3.071/16) é considerado o antepenúltimo código oitocentista. Devido à demora de seu processo legislativo, o código representa em sua generalidade o Estado Liberal, com grande proteção da propriedade, sendo, por isso, considerado individualista, patrimonialista, patriarcal (extremante conservador quanto às relações familiares) e latifundiário (proteção da propriedade independente da sua função), representando a doutrina vigente no final do século XIX; formalista e fechado, o que deixava pouco espaço à atuação dos operadores do Direito na determinação do sentido das normas; privilegiou a forma linguística ao invés da técnica jurídica. Devido ao demorado processo legislativo logo após a sua entrada em vigor, já se identificou a necessidade de sua atualização. A série de leis esparsas ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 12 alteradoras do Código Civil de 1916 tem início com a Lei n. 3.725 de 15 de janeiro de 1919 e, depois disso, não mais parou. Diante das constantes críticas apresentadas ao projeto em 1940, foi nomeada uma nova Comissão composta por Orozimbo Nonato, Filadelfo Azevedo e Hahnemann Guimarães. Essa Comissão apresentou, em 1941, um Anteprojeto do Código das Obrigações, propondo o que se denominou de unificação do direito obrigacional (inspirado no Código Suíço das Obrigações), movimento que não encontrou grandes defensores no legislativo. A partir do governo Jânio Quadros (1961), iniciou-se um movimento de reforma dos códigos brasileiros. Então, em 1963, Orlando Gomes apresentou o Anteprojeto de Código Civil. Os trabalhos da Comissão revisora terminaram em 15 de julho do mesmo ano. Em seguida, Caio Mário da Silva Pereira, Theophilo Azevedo Santos e Sylvio Marcondes apresentaram Anteprojeto do Código das Obrigações, anteprojeto que chegou a ser encaminhado ao Congresso Nacional juntamente com o Projeto de Orlando Gomes, onde acabaram sendo abandonados pelo governo. O Brasil buscava, agora, uma legislação civil mais atualizada e que atendesse às transformações impostas pela migração do Estado Liberal para o Estado Social. Classicamente, os códigos sempre foram considerados um espaço de ausência de valores o que, para a Modernidade, conferia-lhes segurança inabalável, imune a qualquer subjetivismo. No entanto, contemporaneamente, percebeu-se que essa ausência de valores acaba sendo excludente, uma vez que tudo que está contido nas molduras classicamente construídas nem sempre representa o que poderia nelas estar efetivamente contido. Assim, a realidade fática acabou criando sociedades à margem do sistema jurídico classicamente construído, uma vez que certas pessoas e/ou situações não conseguem ser enquadradas às molduras institucionalizadas pela Modernidade o que pode, evidentemente, causar um descompasso grave entre realidade social e tutela jurídica. Você ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 13 consegue identificar situações sociais que estão à margem da lei por não se enquadrarem nas molduras clássicas? Diante dessa constatação de distanciamento entre o Direito e a realidade social, surgem movimentos recodificadores. Atualmente, será que podemos identificar no Brasil um movimento recodificador? Recodificar, explica Ricardo Luiz Lorenzetti (1998, p. 270-271), “consiste em identificar os dogmas existentes nessa dispersão: na tendência jurisprudencial, na lei especial, no costume”. Portanto, afirma o autor, “a recodificação não é uma obra do legislador, mas da dogmática”, o que nos faz refletir se realmente esse movimento está presente no Brasil. Novo projeto de Código Civil Em 1967, o governo nomeou o jurista Miguel Reale para coordenar a Comissão que apresentaria um novo projeto de Código Civil. Os trabalhos da Comissão foram distribuídos da seguinte forma: José Carlos Moreira Alves (Parte Geral); Sylvio Marcondes (Direito de Empresa); Clóvis do Couto e Silva (Direito de Família); Agostinho de Arruda Alvim (Direito das Obrigações); Ebert Vianna Chamoun (Direito das Coisas); Torquato Castro (Direito das Sucessões). ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 14 Cabendo a Miguel Reale sistematizar o trabalho final com base no que ele denominou de normativismo jurídico concreto. Construção legislativa do Código Civil de 2002 Acompanhe na linha do tempo abaixo a construção legislativa do Código Civil de 2002: 1969 Em 1969, foi nomeada a Comissão revisora e elaboradora do Código Civil que finalizou seus trabalhos em 1972. 1975 O Anteprojeto do novo Código Civil recebeu 700 emendas, sendo sua redação definitiva finalizada em 1975. No mesmo ano, o então Presidente Ernesto Geisel encaminhou o Projeto de Lei do Executivo (n. 634-B) ao Congresso Nacional. 1983 Em 1983, o Projeto foi aprovado na Câmara, sendo enviado ao Senado em 1984, onde ganhou o número 118. No Senado, foram apresentadas 360 emendas e, logo após, o projeto foi arquivado. 1991 Em 1991, o Senador Cid Sabóia de Carvalho desarquivou o Projeto e, após parecer da Comissão Especial, designaram-se Miguel Reale e José Carlos Moreira Alves como encarregados de apresentar a necessária reestruturação da proposta. 1997 ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 15 Apenas em 1997 o Projeto é aprovado pelo Senado e, no mesmo ano, encaminhado à Câmara dos Deputados, onde se indicou a necessidade de sua adequação ao texto constitucional vigente a partir de 1988. 2001 Feitas as adequações, o projeto foi aprovado em 15 de agosto de 2001, retornando à Comissão Especial da Câmara dos Deputados para adequação de sua redação. A Comissão era presidida pelo Deputado Ricardo Fiúza, que aprovou o projeto em 20 de novembro de 2001. 2002 O projeto foi sancionado em 10 de janeiro de 2002 com 2.046 artigos, publicado no dia seguinte com vacatio legis de um ano e, portanto, vigente a partir de 11 de janeiro de 2003 - Lei n. 10.406/02). Atenção O Código Civil vigente manteve a divisão em Parte Geral e Parte Especial, apenas adequando a ordem dos livros à nova sistemática civilista; realizou a unificação do Direito Obrigacional, revogando a Parte Primeira do Código Comercial e unificando as obrigações civis e mercantis; optou por não abordar temas que à época ainda eram considerados polêmicos, regulamentando apenas o que já estava consolidado; adotou como princípio orientador o princípio da socialidade (marca importante do culturalismo), preocupando-se em dar prevalência a valores coletivos sobre os valores individuais; impõe às relações privadas o princípio da eticidade, para tanto utilizando cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados, permitindo uma maior ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 16 abertura do sistema e impondo uma participaçãomais ativa dos operadores do Direito na determinação do sentido e alcance das normas. Código Civil de 2002 Afirma-se que o Código Civil de 2002 representa o Estado Social, personalista, embora nele ainda se possa encontrar alguns resquícios do patrimonialismo. Nota-se que tanto o processo legislativo do Código Civil/16 quanto o processo legislativo do Código vigente foram extremamente longos o que, por óbvio, provocou críticas, ao ponto de se afirmar que o Código Civil de 2002 nasceu velho. Será? Código Civil As codificações, por essência, são generalistas e não poderia ser diferente em virtude do trabalho envolvido em sua elaboração. Embora alguns doutrinadores, como Savigny, entendam ser este um ponto negativo que leva à fossialização desses sistemas, não se pode de todo afastar a utilidade social e jurídica das boas codificações. Atividade proposta Vamos fazer uma atividade! Vários são os projetos de lei que visam retirar assuntos importantes do Código Civil, dando-lhes tratamento próprio ou, até mesmo, codificando-os em estatutos autônomos. Assim, por exemplo: Projeto de Lei Complementar n. 1572/2011 e Projeto de Lei do Senado n. 487/2013- Propõem a criação de um novo Código para o Direito de Empresa brasileiro. Projeto de Lei do Senado n. 470/2013 - Propõe a criação de um Código das Famílias (ou Estatuto das Famílias), retirando todo o assunto Família ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 17 e Sucessões do Código Civil e criando um novo e específico código para esses temas, trazendo regras de direito material e de direito processual. Consulte esses projetos e reflita: será que realmente o movimento descodificador não tem limitações para a criação dos denominados microssistemas? Será que realmente é necessário criar novos códigos para assuntos específicos ou seria mais adequado deixar que o Direito nacional se desenvolva sem as amarras de uma codificação? Para lhe auxiliar a refletir leia: AZEVEDO, Reinaldo. Atenção leitores! Eles criam 1.150 leis por dia para infernizar a nossa vida e nos tornar, mas improdutivos, menos felizes, mais pobres e menos inteligentes. Chave de resposta: A resposta é livre. Porém, temos o seguinte comentário: Nota-se que a centenária polêmica entre a manutenção das codificações e o sistema de livre desenvolvimento de leis esparsas decorre de questões de alta Filosofia legislativa que, diante de uma Sociedade de Massa e de Informação, cada vez mais envolta em tecnologias, produz questionamentos cada vez mais frequentes em virtude da incapacidade do Direito de acompanhar as constantes transformações sociais. Movimentos da constitucionalização Afirma-se que o Código Civil de 2002 representa o Estado Social, personalista, embora nele ainda se possa encontrar alguns resquícios do patrimonialismo. Nota-se que tanto o processo legislativo do Código Civil/16 quanto o processo legislativo do Código vigente foram extremamente longos o que, por óbvio, provocou críticas, ao ponto de se afirmar que o Código Civil de 2002 nasceu velho. Será?! O Código Civil vigente foi fortemente influenciado pelos movimentos da constitucionalização, repersonalização, despatrimonialização, publicização e descodificação do Direito Privado. ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 18 Conceitos Para compreender a influência desses movimentos no Código Civil de 2002, vamos primeiro, conceituá-los. Constitucionalização No Brasil, a partir da Constituição de 1934 (influenciada pela Constituição de Weimar - Alemanha), vários assuntos que até então eram tidos como problemas exclusivamente de Direito Privado passaram também a ser uma preocupação constitucional (ex.: família, contratos e propriedade). No entanto, foi com a Constituição Federal de 1988 que a constitucionalização realmente se evidenciou no Brasil, fazendo surgir o movimento denominado Direito Civil Constitucional (objeto de estudo deste módulo). Repersonalização O Direito Civil Constitucional é fruto do processo de elevação ao plano constitucional de princípios que até então eram considerados exclusivos do Direito Privado. Impõe-se agora a análise das relações privadas a partir da Constituição Federal e não exclusivamente a partir do Código Civil, não só no que diz respeito à matéria civil constitucionalizada, mas também analisando-as a partir dos direitos fundamentais, princípios e valores constitucionais. Trata-se de movimento que procura valorizar o ser sobre o ter, reconhecendo- se o indivíduo como ser coletivo; colocando-se a pessoa como o centro de realização de seus interesses. É movimento que impõe ao Direito Privado a observação a princípios como o da justiça distributiva e da solidariedade social, priorizando-se a pessoa e a realização de seus interesses imediatos. Depatrimonialização Busca recolocar a pessoa como centro de proteção do Direito Privado, valorizando-se a sua proteção em detrimento da propriedade e do patrimônio. Visa à combinação de situações subjetivas patrimoniais com situações jurídicas ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 19 extrapatrimoniais, reconhecendo-se o patrimônio apenas como o suporte ao livre desenvolvimento da pessoa. Descodificação É movimento que embora reconheça o Código Civil como eixo central do Direito Privado, também compreende a necessidade de regulação de situações especiais por leis específicas, inclusive por meio da criação de microssistemas ou sistemas autônomos (CLT, CDC, ECA, Estatuto do Idoso...). O problema do excesso da descodificação é que pode ela gerar um sistema fragmentado e até mesmo lacunoso ou contraditório. Por isso, embora seja uma tendência, a descodificação deve ser realizada com prudência dogmática e técnica para evitar a perda da unidade do sistema. Publicização Favorece a extinção da dicotomia público-privado (que será estudada na próxima aula), propondo a renovação da estrutura da sociedade e adaptação do Direito a essas novas estruturas, aproximando a harmonização de interesses públicos e privados (em detrimento da supremacia daquele sobre este). Além desses movimentos, o Código Civil foi também influenciado pelos princípios da eticidade, socialidade e operabilidade. Eticidade Promove a incorporação e aproximação de valores éticos aos institutos jurídicos, promovendo uma valorização das regras básicas de comportamento correto tanto nas relações patrimoniais quanto nas relações extrapatrimoniais. Caracteriza-se pela valorização de pressupostos éticos na ação dos sujeitos, impondo-se deveres jurídicos de conduta. Trata-se de princípio que pode ser especialmente verificado nos arts. 113, 187 e 422, CC, que agregam a boa-fé objetiva ao ordenamento civil, impondo-a como um dever jurídico positivo, exigindo a conduta leal, honesta e proba, determinando a colaboração intersubjetiva em todas as relações. ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 20 Socialidade Promove a funcionalização de direitos subjetivos e a ampliação dos vínculos dos indivíduos com a sociedade. Deixa a função social de ser apenas um limite à autonomia privada, para agora impor um dever de consciência social às relações privadas. Trata-se de princípio que pode ser verificado nos arts. 421 e 1228, CC. Operabilidade Impõe a adoção de conceitos mais claros (embora algumas imprecisões técnicas ainda possam ser verificadas como a confusão entre rescisão, resolução e resilição); a sintonia entre todas as Partes do Código. Passado e presente Embora influenciado por esses movimentos e princípiose considerado bem mais flexível que Código Civil anterior, fato é que o Código Civil de 2002 representa a permanência do passado no presente (Luiz Edson Fachin), mantendo dicotomias anacrônicas e dissociadas da realidade social. Percebe-se que: Classicamente os Códigos sempre foram considerados um espaço de ausência de valores. Modernidade conferia-lhes segurança inabalável, imune a qualquer subjetivismo. Contemporaneamente percebeu-se que essa ausência de valores acaba sendo excludente, uma vez que tudo que está contido nas molduras classicamente construídas nem sempre representa o que poderia nelas estar efetivamente contido. A realidade fática acabou construindo sociedades à margem do sistema jurídico classicamente construído, uma vez que certas pessoas e/ou situações não conseguem ser enquadradas às molduras institucionalizadas pela Modernidade. ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 21 Por isso, a clássica lógica formal do Direito Civil que, por meio das categorias de fatos jurídicos admite juízos de exclusão, acabou revelando um conformismo racional com estruturas jurídicas absolutas que encontram-se hoje em pleno questionamento justamente por estarem dissociadas da sociedade e da realidade histórica. Ao definir o que é juridicamente relevante, o Direito clássico moderno exclui fatos que acabam não sendo considerados jurídicos, mas que socialmente possuem inquestionável relevância. Pilares fundamentais Os pilares fundamentais do Direito Privado clássico (contrato, propriedade e família) não dão conta de outras possibilidades que surgem na contemporaneidade como a ideia da cidadania e de coletividade. Contrato Propriedade Família O presente, já com vistas ao futuro, clama pela substituição do indivíduo- centrismo (remanescente do século XVIII) pela pessoa concreta (o novo sujeito do Direito contemporâneo), justamente porque tal racionalidade oitocentista não consegue conviver bem com a ideia de coletivo, marcante na contemporaneidade. Nesse contexto, há certas relações que são ditas não jurídicas apenas por não se enquadrarem nas molduras clássicas e, portanto, passam a pertencer ao não direito, embora acabem ingressando no Direito como uma necessidade social. Próximas aulas Nas próximas aulas, abordaremos o fato de o Direito não dever reduzir as relações sociais a categorias insulares que acabam não só dissociando ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 22 totalmente o Público do Privado como também formando juízos apriorísticos em sua maioria includentes ou excludentes. Público alvo Também não se pode exigir que o Direito deva ter um comportamento tipificador. Isso quer dizer que o Código Civil brasileiro, fruto da permanência do discurso moderno no presente, não se coaduna mais com o contexto social, podendo-se, então, falar em relações de direito e de não direito que acabam se assentando em uma racionalidade excludente que compreende o sujeito apenas abstratamente. Estudo do direito civil Dessa forma, nesta aula pretende-se realizar o estudo do Direito Civil reconhecendo-se a travessia que se opera na contemporaneidade, ou seja, a necessidade de reconhecer que o passado não é uma página virada, mas é parte do presente e de um futuro que ainda não se consolidou (Luiz Edson Fachin). Nessa caminhada que se impõe, deve-se também reconhecer que a fórmula insular classicamente imposta encontra-se dissociada da sociedade, não correspondendo o estatuto jurídico vigente às necessidades de uma sociedade plural. As molduras modernamente construídas não se adéquam à nova proposta emancipatória, mais próxima das necessidades sociais e que têm por ponto de partida o indivíduo como ser coletivo. Atenção Na busca por essa repersonalização do Direito Civil, veremos que não se busca apagar totalmente os ensinamentos clássicos, mas a superação de seu tecnicismo e neutralismo como forma de fazer com que o Direito atenda mais rapidamente às demandas sociais. ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 23 Trabalho que exige a transposição de grandes obstáculos originados da permanência de significados clássicos e de seus significantes que se pretendiam perenes, bem como a compreensão de que o Direito é fruto de transformações sociais e, hoje, essas estão ocorrendo tão rapidamente que o modelo clássico já não dá mais conta de tutelá-las. Encerramento Por fim, tem-se que as dicotomias tão fortemente presentes na formação da racionalidade moderna devem ser, na atual realidade, reconhecidas como fator de aproximação de todo o contexto social. Deve-se reafirmar a pessoa concretamente, tomada em suas necessidades e aspirações, dissociada, portanto, do conceito insular e totalmente excludente contido na categoria clássica de “sujeito de direitos”. Propõem-se novos limites e possibilidades sem que com isso se apague totalmente o passado e se distancie prontamente do presente. A travessia, portanto, deve ser constantemente refeita para que se possam repensar significantes de acordo com as exigências do contexto social. Deve-se entender o indivíduo como expressão da forma de ingresso no mundo jurídico e não mais apenas como um sujeito definido para um conjunto de objetos. Vamos entender como isso funciona nas próximas aulas. Atividade proposta Analise a charge e indique as principais diferenças entre o Código Civil de 1916 e o Código Civil de 2002. ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 24 Legenda: A balconista da loja de roupas diz: - Pela nova lei, sendo o seu mulher, o lojinha passa a ser minha também! Rapaz do outro lado do balcão diz: - E pela antiga você deveria ter casado virgem! Lembradas essas diferenças, indique três dos maiores avanços da legislação em vigor e responda: a maior ingerência do Estado nas relações privadas é adequada? Justifique sua resposta. Chave de resposta: Estudamos, nesta aula, que o Código Civil de 1916, sendo fruto do Estado Liberal, era um código individualista, patrimonialista e patriarcal; enquanto o Código Civil de 2002, fruto do Estado Social, é um código personalista, solidarista e marcado pela igualdade. A maior ingerência do Estado sobre as relações privadas é resultado da constatação de que pessoas em condições de vulnerabilidade ou vítimas de desigualdades precisam de proteção especial. Então, ainda que se possa criticar essa intervenção estatal, fato é que ela se mostrou necessária para proteger vulneráveis e restabelecer o equilíbrio em diversas relações jurídicas. ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 25 Material complementar Para saber mais sobre as leis e normas, leia os artigos e matérias disponíveis em nossa biblioteca virtual. Referências CAENEGEM, R.C. van. Uma introdução histórica ao direito privado. Trad. Carlos Eduardo Lima Machado. Revisão Eduardo Brandão. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1999. DELGADO, Mário Luiz. Codificação, descodificação e recodificação do direito civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2011. FACHIN, Luiz Edson. Teoria crítica do direito civil. Rio de Janeiro: Renovar, 2012. FORMIGA, Armando Soares de Castro. Aspectos da codificação civil no século XIX. Curitiba: Juruá, 2012. GOMES, Orlando. Raízes históricas e sociológicas do código civil brasileiro. São Paulo: Martins Fontes, 2003. LORENZETTI, Ricardo Luiz. Fundamentos do direito privado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. MARTINS-COSTA, Judith; BRANCO, Gerson Luiz. Diretrizesteóricas do novo código civil brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2002. MIRANDA, Pontes. Fontes e evolução do direito civil brasileiro. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1981. REALE, Miguel. Lições preliminares de direito. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. Exercícios de fixação Questão 1 Sobre o Código Civil de 1916 e o Código Civil de 2002 é correto afirmar que: ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 26 I. O Código Civil de 1916 foi elaborado por Teixeira de Freitas e, por representar o Estado Liberal, representa também uma sociedade paternalista, patrimonialista e latifundiária. II. O Código Civil de 2002 foi elaborado pela Comissão Miguel Reale e representa o Estado Social, ou seja, trata-se de lei mais igualitária e que prioriza a pessoa sobre o patrimônio. III. O Esboço de Teixeira de Freitas não influenciou nenhuma legislação da América Latina, sendo considerado obsoleto e distante da realidade social. IV. O Código Civil de 2002 é considerado tão patrimonialista quanto o seu antecessor, priorizando a proteção da propriedade e dos contratos em detrimento da proteção da pessoa. a) A opção I está correta b) A opção II está correta c) A opção III está correta d) As opções III e IV estão corretas Questão 2 Sobre as fontes do Direito é correto afirmar: a) Apenas a lei pode ser considerada fonte do Direito. b) A doutrina não constitui fonte do direito, pois não tem caráter de imperatividade. c) Considerar que a jurisprudência não é fonte de direito corresponde a afirmar que apenas a lei pode ser considerada fonte de direito reconhecendo-se o poder do Estado acima de todas as demais instituições sociais. Questão 3 São características do Código Civil de 2002: ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 27 I. A manutenção do sistema familiar patriarcal. II. A adoção do princípio da socialidade. III. Dá preferência a valores individuais sobre os valores coletivos. IV. Caracteriza-se por ser um sistema mais aberto do que o anterior por adotar como técnica legislativa o uso de cláusulas gerais e conceitos jurídicos indeterminados. V. Ausência de qualquer influência do Código Civil de 1916. a) Apenas I e II estão corretas. b) Apenas II e III estão corretas. c) Apenas II e IV estão corretas. d) Apenas V e III estão corretas. Questão 4 São características do Código Civil de 1916, exceto: a) Prevalência da proteção da pessoa sobre o patrimônio. b) Concentração do pátrio poder nas mãos do homem. c) Sistema considerado fechado que deixava pouco espaço para a atuação dos operadores do Direito. d) Preferência pela forma ao invés da técnica jurídica. Questão 5 Sobre a codificação é correto afirmar: a) A alteração de um código se dá simplesmente pela alteração formal de seus dispositivos normativos. b) São leis gerais que não admitem nenhum tipo de mudança ou complementação por serem consideradas completos. ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 28 c) A rigidez dos Códigos apontada como por muitos doutrinadores como uma de suas desvantagens, pode também ser uma vantagem uma vez que garante uma maior unidade ao sistema evitando contradições. Questão 6 Sobre os movimentos do Direito Privado é correto afirmar que: a) A partir da constitucionalização do Direito Privado, vários institutos que antes eram exclusivamente privados passam a ser institutos de Direito Público. b) O Direito Civil reconhece apenas o patrimônio da pessoa como garantia de uma existência digna. c) A publicização do Direito Privado favorece a extinção da dicotomia público-privado, promovendo a harmonização desses interesses. Questão 7 O Direito Civil Constitucional é criação meramente doutrinária, não se podendo falar em análise das relações privadas a partir dos direitos fundamentais, princípios e valores constitucionais. a) Certo b) Errado Questão 8 Sobre os princípios da eticidade, socialidade e operabilidade pode-se afirmar que: a) O Código Civil vigente difere da resilição, rescisão e resolução contratual, realizando, dessa forma, o princípio da operabilidade. b) A socialidade apenas se verifica abstratamente no Código Civil de 2002, não tendo sido expressamente prevista. ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 29 c) A eticidade promove a aproximação de valores éticos e jurídicos criando um dever jurídico positivo de conduta leal. d) A eticidade trouxe à legislação civil o princípio da boa-fé subjetiva, impondo-se essa como norma de conduta entre as partes contratantes. Questão 9 Sobre a codificação civil brasileira, é correto afirmar que: I. A manutenção da lógica formal do Código Civil permite sua aproximação da realidade social e histórica. II. O Código Civil precisa aproximar-se da realidade social entendendo o indivíduo como ser coletivo, garantindo-lhe o mínimo existencial. III. Os pilares clássicos do Direito Civil contrato, propriedade e família sofreram pouquíssimas alterações no Código Civil vigente em virtude da prevalência necessária do indivíduo-centrismo. IV. Os novos movimentos do Direito Civil propõem que todos os institutos clássicos privados sejam substituídos por novas categorias e institutos, protegendo o sujeito de direitos definido para um conjunto de objetos. a) Apenas II está correta b) Apenas II e III estão corretas c) Apenas I está correta d) Apenas V e III estão corretas Questão 10 Os institutos e categorias adiante são fruto da influência da Constituição Federal de 1988 na elaboração do Código Civil de 2002, EXCETO: a) O poder familiar igualmente compartilhado entre o homem e a mulher. b) A boa-fé objetiva em todas as fases da relação contratual. ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 30 c) A função social da propriedade. d) A manutenção da distinção entre filhos gerados na relação matrimonial e filhos extramatrimoniais. Contemporaneidade: Quando se trata de um conceito, uma prática ou referencial ainda adotado por uma sociedade ou parte desta. Aula 1 Exercícios de fixação Questão 1 - B Justificativa: O Código Civil de 1916 foi elaborado por Clóvis Beviláqua e não por Teixeira de Freitas. O Esboço de Teixeira de Freitas, embora não utilizado no Brasil, foi influenciador de diversas legislações civis, especialmente, o Código Civil Argentino. O Código Civil de 2002 foi influenciado pelo movimento de repersonalização do Direito e, embora ainda guarde alguns aspectos patrimonialistas, garante mais proteção à pessoa do que o Código anterior. Questão 2 - C Justificativa: A lei não deve ser considerada a única fonte do direito sob pena de se afirmar que apenas existe Direito legislado (projeto de redução do pluralismo). Questão 3 - C Justificativa: O Código Civil vigente abandona o sistema patriarcal, substituindo- o pelo sistema igualitário; dá preferência a valores coletivos sobre os individuais e manteve, no que foi possível, a estrutura e institutos do Código Civil de 1916. ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 31 Questão 4 - A Justificativa: O Código Civil de 1916 era patrimonialista e não personalista. Questão 5 - C Justificativa: A alteração de um código não se dá apenas pela alteração formal dos seus dispositivos normativos, mas decorre também dos processos de interpretação e das alterações sociais. Questão 6 - C Justificativa: O fato de vários institutos de Direito Privado passarem à categoria de direitos constitucionais não os torna institutos de Direito Público. O Direito Civil embora também se destinea regular a relação da pessoa com seus bens, não se restringe apenas a essas e, a partir do movimento de despatrimonialização, determina-se a realização de seus interesses a partir da proteção e valorização do ser e não do ter. O patrimônio deve ser suporte ao livre desenvolvimento da pessoa mas não é garantia de existência digna. Questão 7 - B Justificativa: O Direito Civil Constitucional é fruto da constitucionalização do Direito Privado e impõe a análise das relações privadas a partir dos direitos, princípios e valores constitucionais. Questão 8 - C Justificativa: Embora o CC/02 tenha adotado distinções mais claras e precisas, ainda há confusões conceituais e, entre elas, está a confusão entre as formas de extinção dos contratos. A socialidade pode ser expressamente constada como, por exemplo, nos arts. 421 e 1228, CC. A eticidade trouxe à legislação civil o princípio da boa-fé objetiva (norma de conduta) e não a boa-fé subjetiva (forma de conduta). Questão 9 - A ELEMENTOS DE DIREITO CIVIL CONSTITUCIONAL 32 Justificativa: A manutenção da lógica formal do Código Civil o distancia da realidade social e histórica. Os pilares clássicos do Direito Civil sofreram grandes alterações no Código Civil vigente, especialmente em virtude da repersonalização do sistema provocada pelo movimento de constitucionalização. Deve-se entender o indivíduo como expressão da forma de ingresso no mundo jurídico e não mais apenas como um sujeito definido para um conjunto de objetos. Questão 10 - D Justificativa: A CF/88 veda qualquer distinção aos filhos, especialmente se decorrente da origem da filiação.
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