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9 poemas encantadores de Adélia Prado analisados e comentados - Cultura Genial

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03/05/2019 9 poemas encantadores de Adélia Prado analisados e comentados - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/poemas-adelia-prado/ 1/10
Literatura Poesia/
9 poemas encantadores de Adélia Prado
Rebeca Fuks
Doutora em Estudos da Cultura
A escritora mineira Adélia Prado publicou o seu primeiro livro aos 40 anos. Intitulado
Bagagem (1976), essa primeira publicação foi apadrinhada por Carlos Drummond de
Andrade que, além de elogiar a autora estreante, enviou a série de poemas para a Editora
Imago.
Assim que foi lançado, o livro chamou a atenção da crítica especializada e Adélia passou a ser
vista com bons olhos. De lá para cá, a poeta vem publicando com certa regularidade, tendo
se tornado um dos grandes nomes da poesia brasileira.
Dona de um estilo muitas vezes caracterizado como um romantismo crítico, Adélia Prado usa
em seus poemas uma linguagem coloquial e pretende transmitir para o leitor novos pontos
de vista sobre o cotidiano, muitas vezes o ressignificando.
1. Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,Quando nasci um anjo esbelto, 
desses que tocam trombeta, anunciou:desses que tocam trombeta, anunciou: 
vai carregar bandeira.vai carregar bandeira. 
Cargo muito pesado pra mulher,Cargo muito pesado pra mulher, 
esta espécie ainda envergonhada.esta espécie ainda envergonhada. 
Aceito os subterfúgios que me cabem,Aceito os subterfúgios que me cabem, 
sem precisar mentir.sem precisar mentir. 
Não tão feia que não possa casar,Não tão feia que não possa casar, 
acho o Rio de Janeiro uma beleza eacho o Rio de Janeiro uma beleza e 
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.ora sim, ora não, creio em parto sem dor. 
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinosMas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro linhagens, fundo reinos 
— dor não é amargura.— dor não é amargura. 
Minha tristeza não tem pedigree,Minha tristeza não tem pedigree, 
já a minha vontade de alegria,já a minha vontade de alegria, 
sua raiz vai ao meu mil avô.sua raiz vai ao meu mil avô. 
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.
03/05/2019 9 poemas encantadores de Adélia Prado analisados e comentados - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/poemas-adelia-prado/ 2/10
Mulher é desdobrável. Eu sou.Mulher é desdobrável. Eu sou.
Inserido em Bagagem, seu livro de estreia, Com licença poética é o poema que inaugura a
obra e faz uma espécie de apresentação da autora até então desconhecida do grande
público.
Os versos tecem uma clara referência (e homenagem) ao Poema de sete faces, de Carlos
Drummond de Andrade. O poeta, aliás, foi de suma importância na carreira de Adélia.
Drummond não só foi material de inspiração poética como ajudou a escritora mineira nos
primeiros tempos da sua carreira, indicando o seu livro a um editor que veio a publica-la.
Encontramos nos versos acima um tom de oralidade, marcado pela informalidade e pelo
desejo de proximidade com o leitor. É como se o eu-lírico generosamente se oferecesse ao
leitor, entregando as suas qualidades e defeitos sob a forma de verso. No poema vemos
também a questão do que significa ser mulher na sociedade brasileira sendo sublinhandas
as dificuldades que o gênero costuma enfrentar.
2. Alfândega
O que pude oferecer sem mácula foiO que pude oferecer sem mácula foi 
meu choro por beleza ou cansaço,meu choro por beleza ou cansaço, 
um dente exraizado,um dente exraizado, 
o preconceito favorável a todas as formaso preconceito favorável a todas as formas 
do barroco na música e o Rio de Janeirodo barroco na música e o Rio de Janeiro 
que visitei uma vez e me deixou suspensa.que visitei uma vez e me deixou suspensa. 
‘Não serve’, disseram. E exigiram‘Não serve’, disseram. E exigiram 
a língua estrangeira que não aprendi,a língua estrangeira que não aprendi, 
o registro do meu diploma extraviadoo registro do meu diploma extraviado 
no Ministério da Educação, mais taxa sobre vaidadeno Ministério da Educação, mais taxa sobre vaidade 
nas formas aparente, inusitada e capciosa — no quenas formas aparente, inusitada e capciosa — no que 
estavam certos — porém dá-se que inusitados e capciososestavam certos — porém dá-se que inusitados e capciosos 
foram seus modos de detectar vaidades.foram seus modos de detectar vaidades. 
Todas as vezes que eu pedia desculpas diziam:Todas as vezes que eu pedia desculpas diziam: 
‘Faz-se de educado e humilde, por presunção’,‘Faz-se de educado e humilde, por presunção’, 
e oneravam os impostos, sendo que o navio partiue oneravam os impostos, sendo que o navio partiu 
enquanto nos confundíamos.enquanto nos confundíamos. 
Quando agarrei meu dente e minha viagem ao Rio,Quando agarrei meu dente e minha viagem ao Rio, 
03/05/2019 9 poemas encantadores de Adélia Prado analisados e comentados - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/poemas-adelia-prado/ 3/10
pronto a chorar de cansaço, consumaram:pronto a chorar de cansaço, consumaram: 
‘Fica o bem de raiz pra pagar a fiança’.‘Fica o bem de raiz pra pagar a fiança’. 
Deixei meu dente.Deixei meu dente. 
Agora só tenho três reféns sem mácula.Agora só tenho três reféns sem mácula.
Alfândega é um título de poema bastante interessante e compatível com a escolha da poeta
se pensarmos no livro em que está inserido: Bagagem. Ambas as palavras pressupõe a
presença de um eu-lírico em trânsito, que se desloca, que leva consigo apenas aquelas
coisas que considera essenciais.
É na alfândega que habitualmente os viajantes declaram os bens físicos que pretendem
carregar, no entanto, o que o eu-lírico oferece nesse momento da sua viagem são
sentimentos, impressões, lembranças, subjetividades.
As sensações parecem elencadas ao acaso, movidas por um fluxo de consciência que traz à
tona emoções ao acaso. Ao final do poema o sujeito poético chega a uma conclusão
inusitada: ele deixa para trás um dos bens (o dente) para poder seguir adiante.
3. Momento
Enquanto eu fiquei alegre,Enquanto eu fiquei alegre, 
permaneceram um bule azul com um descascado no bico,permaneceram um bule azul com um descascado no bico, 
uma garrafa de pimenta pelo meio,uma garrafa de pimenta pelo meio, 
um latido e um céu limpidíssimoum latido e um céu limpidíssimo 
com recém-feitas estrelas.com recém-feitas estrelas. 
Resistiram nos seu lugares, em seus ofícios,Resistiram nos seu lugares, em seus ofícios, 
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03/05/2019 9 poemas encantadores de Adélia Prado analisados e comentados - Cultura Genial
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constituindo o mundo pra mim, anteparoconstituindo o mundo pra mim, anteparo 
para o que foi um acometimento:para o que foi um acometimento: 
súbito é bom ter um corpo pra rirsúbito é bom ter um corpo pra rir 
e sacudir a cabeça. A vida é mais tempoe sacudir a cabeça. A vida é mais tempo 
alegre do que triste. Melhor é ser.alegre do que triste. Melhor é ser.
O poema acima trata da transitoriedade do tempo, do correr da vida e de como se deve
escolher leva-la.
Para ilustrar as várias fases da existência, o eu-lírico faz uso de imagens simbólicas como o
bule azul descascado e a garrafa de pimenta pelo meio. As duas imagens sublinham o
processo de desgaste e uso inerente à vida.
Alinhado com os objetos estão signos aleatórios como o latido de um cão e um céu limpo,
itens que ocupam espaço no nosso cotidiano repetitivo.
Após essa justaposição de matérias e afetos, o eu-lírico conclui o poema de uma maneira
positiva e com um tom otimista, destacando o corpo que ri e a alegria que vence a tristeza.
4. A formalística
O poeta cerebral tomou café sem açúcarO poeta cerebral tomou café sem açúcar 
e foi pro gabinete concentrar-se.e foi pro gabinete concentrar-se. 
Seu lápis é um bisturiSeu lápis é um bisturi 
que ele afia na pedra,que ele afia na pedra, 
na pedra calcinadadas palavras,na pedra calcinada das palavras, 
imagem que elegeu porque ama a dificuldade,imagem que elegeu porque ama a dificuldade, 
o efeito respeitoso que produzo efeito respeitoso que produz 
seu trato com o dicionário.seu trato com o dicionário. 
Faz três horas que já estuma as musas.Faz três horas que já estuma as musas. 
O dia arde. Seu prepúcio coça.O dia arde. Seu prepúcio coça.
Os versos acima fazem parte de um poema mais extenso, que tece uma crítica a determinado
tipo de poeta descolado da realidade, preocupado com escolas, movimentos literários,
normas e fórmulas. Trata-se de um poeta cerebral, focado no racional e na precisão.
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A formalística possui um tom de provocação e ironia, ao longo desses primeiros versos
encontramos já uma pequena amostra do tipo de composição que Adélia repudia e contra
que gênero de poética ela combate.
Adélia Prado conduz a sua poética no sentido contrário ao personagem poeta mencionado: a
sua lírica é baseada na simplicidade, na experiência do vivido, no cotidiano e na
informalidade.
Encontramos aqui o exemplo de um meta-poema, isso é, versos que pensam a sua própria
condição. A poeta tem uma série de versos escritos no sentido da reflexão sobre o próprio
fazer literário. Ao longo da sua carreira literária Adélia investiu também na construção de
uma investigação mais profunda sobre o papel da linguagem.
5. Fragmento
Bem-aventurado o que pressentiuBem-aventurado o que pressentiu 
quando a manhã começou:quando a manhã começou: 
não vai ser diferente da noite.não vai ser diferente da noite. 
Prolongados permanecerão o corpo sem pouso,Prolongados permanecerão o corpo sem pouso, 
o pensamento dividido entre deitar-se primeiroo pensamento dividido entre deitar-se primeiro 
à esquerda ou à direitaà esquerda ou à direita 
e mesmo assim anunciou o paciente ao meio-dia:e mesmo assim anunciou o paciente ao meio-dia: 
algumas horas e já anoitece, o mormaço abranda,algumas horas e já anoitece, o mormaço abranda, 
um vento bom entra nessa janela.um vento bom entra nessa janela.
O poema se inicia com a indiferenciação do dia e da noite e com o elogio aquele que teve
sensibilidade para perceber quando o sol nasceu.
Há uma série de conflitos presentes nos versos: o tempo que passa e não passa, a noite que
chega e não chega, o corpo que quer se movimentar mas afinal está em repouso, o
pensamento inquieto com a posição do deitar.
Não sabemos quem é o paciente em questão que faz o anúncio da passagem das horas, mas
podemos concluir que, apesar das angústias, o poema se encerra de uma maneira solar.
Apesar das dicotomias apresentadas em Fragmento, o leitor termina a leitura apaziguado
pela presença da brisa agradável que entra pela janela.
6. Casamento
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Há mulheres que dizem:Há mulheres que dizem: 
Meu marido, se quiser pescar, pesque,Meu marido, se quiser pescar, pesque, 
mas que limpe os peixes.mas que limpe os peixes. 
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, 
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. 
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha, 
de vez em quando os cotovelos se esbarram,de vez em quando os cotovelos se esbarram, 
ele fala coisas como “este foi difícil”ele fala coisas como “este foi difícil” 
“prateou no ar dando rabanadas”“prateou no ar dando rabanadas” 
e faz o gesto com a mão.e faz o gesto com a mão. 
O silêncio de quando nos vimos a primeira vezO silêncio de quando nos vimos a primeira vez 
atravessa a cozinha como um rio profundo.atravessa a cozinha como um rio profundo. 
Por fim, os peixes na travessa,Por fim, os peixes na travessa, 
vamos dormir.vamos dormir. 
Coisas prateadas espocam:Coisas prateadas espocam: 
somos noivo e noiva.somos noivo e noiva.
Casamento narra a história de um casal aparentemente maduro, sereno, estável, que
experimenta um amor tranquilo e sem sobressaltos.
O eu-lírico enfatiza o seu desejo de cuidar do parceiro e de estar ao seu lado, ainda que isso
implique muitas vezes sair da sua zona de conforto. Ela levanta-se a meio da noite para estar
junto dele na cozinha enquanto os dois, juntos, preparam a refeição do dia a seguir. Tudo
acontece com profunda naturalidade. A relação de longo prazo se baseia nesses pequenos
gestos de companheirismo cotidiano.
O casal partilha o silêncio e cada um dos membros parece confortavelmente acolhido na
presença do parceiro.
7. Dona Doida
Uma vez, quando eu era menina, choveu grossoUma vez, quando eu era menina, choveu grosso 
com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora.com trovoadas e clarões, exatamente como chove agora. 
Quando se pôde abrir as janelas,Quando se pôde abrir as janelas, 
as poças tremiam com os últimos pingos.as poças tremiam com os últimos pingos. 
Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema,Minha mãe, como quem sabe que vai escrever um poema, 
decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos.decidiu inspirada: chuchu novinho, angu, molho de ovos. 
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https://www.culturagenial.com/poemas-adelia-prado/ 7/10
Fui buscar os chuchus e estou voltando agora,Fui buscar os chuchus e estou voltando agora, 
trinta anos depois. Não encontrei minha mãe.trinta anos depois. Não encontrei minha mãe. 
A mulher que me abriu a porta riu de dona tão velha,A mulher que me abriu a porta riu de dona tão velha, 
com sombrinha infantil e coxas à mostra.com sombrinha infantil e coxas à mostra. 
Meus filhos me repudiaram envergonhados,Meus filhos me repudiaram envergonhados, 
meu marido ficou triste até a morte,meu marido ficou triste até a morte, 
eu fiquei doida no encalço.eu fiquei doida no encalço. 
Só melhoro quando chove.Só melhoro quando chove.
O belíssimo poema se inicia com a narração de uma cena aparentemente banal, vivenciada
no passado, na companhia da mãe. É de uma situação concreta - a princípio uma experiência
do vivido - que surge uma reflexão mais ampla sobre a vida.
A repetição do cenário do lado de fora (a chuva forte) faz com que se estabeleça uma espécie
de máquina do tempo. A mãe, tal qual uma poetisa, faz a sua escolha: enquanto a poeta
escolhe as palavras a mãe vai a procura dos ingredientes para a receita. A menina sai para
buscar os ingredientes e retorna à casa trinta anos mais tarde. Já não está lá a mãe e no lugar
dela encontra a sua própria família.
Os versos se focam, portanto, na questão da memória e da relação do sujeito lírico com o
tempo e com os familiares (estejam eles vivos ou mortos). As palavras recuperam o passado e
fazem com que o eu-lírico experimente um tempo que mescla o ontem, o hoje e o amanhã.
8. Um jeito
Meu amor é assim, sem nenhum pudor.Meu amor é assim, sem nenhum pudor. 
Quando aperta eu grito da janelaQuando aperta eu grito da janela 
— ouve quem estiver passando —— ouve quem estiver passando — 
ô fulano, vem depressa.ô fulano, vem depressa. 
Tem urgência, medo de encanto quebrado,Tem urgência, medo de encanto quebrado, 
é duro como osso duro.é duro como osso duro. 
Ideal eu tenho de amar como quem diz coisas:Ideal eu tenho de amar como quem diz coisas: 
quero é dormir com você, alisar seu cabelo,quero é dormir com você, alisar seu cabelo, 
espremer de suas costas as montanhas pequenininhasespremer de suas costas as montanhas pequenininhas 
de matéria branca. Por hora dou é grito e susto.de matéria branca. Por hora dou é grito e susto. 
Pouca gente gosta.Pouca gente gosta.
03/05/2019 9 poemas encantadoresde Adélia Prado analisados e comentados - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/poemas-adelia-prado/ 8/10
Um jeito é mais um exemplar da lírica amorosa de Adélia Prado. Ao longo dos versos o eu-
lírico vai transparecendo a sua forma de amar: urgente, repleta de desejo e pressa, um jeito
de amar que não se contém.
Para ilustrar o modo de amar ideal do sujeito poético ele se refere a exemplos práticos e
cotidianos: a partilha da cama, o cafuné no cabelo, a mania de espremer as espinhas das
costas do amado.
Os versos diferenciam as duas formas de amar: a que o eu-lírico sente e a que ele gostaria de
sentir. O que ele almejava era um amor sossegado, pleno de segurança, estabilidade e afeto,
o que ele sente, por sua vez, é um amor afoito, desengonçado e afobado.
9. Janela
Janela, palavra linda.Janela, palavra linda. 
Janela é o bater das asas da borboleta amarela.Janela é o bater das asas da borboleta amarela. 
Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada,Abre pra fora as duas folhas de madeira à-toa pintada, 
janela jeca, de azul.janela jeca, de azul. 
Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você,Eu pulo você pra dentro e pra fora, monto a cavalo em você, 
meu pé esbarra no chão. Janela sobre o mundo aberta, por onde vimeu pé esbarra no chão. Janela sobre o mundo aberta, por onde vi 
o casamento da Anita esperando neném, a mãeo casamento da Anita esperando neném, a mãe 
do Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vido Pedro Cisterna urinando na chuva, por onde vi 
meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai:meu bem chegar de bicicleta e dizer a meu pai: 
minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis.minhas intenções com sua filha são as melhores possíveis. 
Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão,Ô janela com tramela, brincadeira de ladrão, 
claraboia na minha alma,claraboia na minha alma, 
olho no meu coração.olho no meu coração.
A janela é um objeto poético extremamente interessante: divide o lado de dentro do lado de
fora e, ao mesmo tempo, permite que esses dois universos se vejam.
A janela é também um lugar de onde se assiste o mundo: vê-se quem fica e quem vai
embora, acompanha-se as fases da vida dos conhecidos. É da janela que o eu-lírico registra
inclusive momentos importantes da sua própria vida (a chegada do amado e o pedido de
casamento).
Os versos cunhados por Adélia Prado são um elogio a esse objeto cotidiano que tantas vezes
passa despercebido. O tom da lírica é solar, otimista, positivo. Ao celebrar a janela o sujeito
03/05/2019 9 poemas encantadores de Adélia Prado analisados e comentados - Cultura Genial
https://www.culturagenial.com/poemas-adelia-prado/ 9/10
poético, de certa forma, também celebra a vida.
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Rebeca Fuks
Formada em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2010), mestre em Literatura pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro (2013) e doutora em Estudos de Cultura pela Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro e pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa (2018).
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