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História e Cultura Afro-Brasileira

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História e Cultura 
Afro-brasileira
História e Cultura 
Afro-brasileira
Organizado por Universidade Luterana do Brasil
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Canoas, RS
2016
Arilson dos Santos Gomes
Maria Angélica Zubaran
Roberto dos Santos
Conselho Editorial EAD
Andréa de Azevedo Eick
Ângela da Rocha Rolla
Astomiro Romais
Claudiane Ramos Furtado
Dóris Gedrat
Honor de Almeida Neto
Maria Cleidia Klein Oliveira
Maria Lizete Schneider
Luiz Carlos Specht Filho
Vinicius Martins Flores
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. 
Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores 
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da 
ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei 
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
ISBN: 978-85-5639-141-4
Dados técnicos do livro
Diagramação: Jonatan Souza
Revisão: Igor Campos Dutra
Este livro aborda a “História e Cultura Afro-brasileira” que está no univer-so das discussões sobre a etnicidade, a diversidade e os temas negros 
que vieram à tona no período pós-centenário da abolição da escravatura 
no Brasil. Também, há de se pensar sobre o entendimento acerca de uma 
história não europeizada do Brasil e de seus usos políticos na construção 
de uma identidade nacional plural. A História da África e a Cultura Negra 
no Brasil auxiliam na reconstrução do olhar sobre a nossa própria história.
O capítulo, “África Pré-colonial”, destaca as sociedades africanas an-
tes do contato com a Europa mercantilista e a presença de culturas muito 
organizadas que se estenderam por todo continente africano. O segundo 
capítulo, “África Atlântica e Tráfico Negreiro”, aborda o contato com a Eu-
ropa no período moderno, no sentido do conflito e do processo que marca 
o início da diáspora africana para a América, assim como a posição do 
Brasil como destino. Em “A Escravidão de Africanos no Brasil”, a autora se 
debruça sobre a exploração do trabalho escravo no Brasil, marcando os 
lugares e algumas características da economia brasileira em cerca de qua-
tro séculos de exploração escravista. No quarto capítulo, Maria Angélica 
Zubaran coloca em discussão a morte do mito referente à inexistência de 
uma resistência negra e discute o posicionamento africano e afro-brasileiro 
contrário à opressão cultural e de exploração do trabalho. No quinto capí-
tulo, Arilson dos Santos Gomes apresenta as ações negras no período pós-
-abolição, no sentido de um conjunto de organizações culturais e políticas 
no período Getulista, nas décadas de 30 e 40 do século XX, que colocavam 
em cena a construção de identidades negras e de reivindicações quanto 
à presença na sociedade brasileira. Na continuidade da análise, em “A 
Era Vargas”, estende-se uma vinculação estreita entre o nacionalismo nas 
décadas de 40 e 50 quanto à aproximação das organizações negras no 
Apresentação
Apresentação v
contexto político de afirmação do negro na sociedade. Destaca-se, princi-
palmente, a Frente Negra, O Teatro Experimental do Negro e o Congresso 
do Negro Brasileiro. No capítulo sete, o autor apresenta dois estudos de 
caso: o primeiro, sobre a participação política institucional do Deputado 
Carlos Santos, principalmente no final dos anos 60. E o segundo, sobre a 
importância do Senador Abdias do Nascimento, que atravessou o sécu-
lo XX transformando-se em uma referência política e intelectual negra na 
História do país. Em “A Imprensa Negra”, é possível analisar um artefato 
da cultura negra e sua importância no processo de construção das identi-
dades, destacando seus usos até o século XXI. No capítulo nove, a música 
negra é o objeto da análise, porém foi necessário selecionar o caminho 
da escrita, centrando olhar sobre o Samba e a Black Music Brasileira, em 
uma tentativa de releitura sobre o Funk dos anos 80 nos principais centros 
urbanos do país. E, por fim, em “Religiosidade Negra”, Roberto dos Santos 
traça um comentário rápido sobre as religiões afro-brasileiras marcadas 
por sua importância, sua diversidade e a leitura muito própria sobre a 
cultura negra no Brasil. Entretanto, um lembrete significativo foi elaborado 
sobre a influência católica na cultura afro-brasileira e as particularidades 
das práticas no país.
A leitura sobre tantas informações acerca da história e da cultura negra 
permite compreendermos a complexidade destes conhecimentos e o quan-
to ainda precisamos nos apropriar dessa produção de saberes. Conhecer a 
participação das etnias que compõem o Brasil é, realmente, atuar na ela-
boração de uma história do povo brasileiro. Resta-me dedicar para todos 
uma convivência produtiva com a História que lhes é oferecida.
Roberto dos Santos
Sumário
 1 África Pré-colonial: Imagens e Reinos ....................................1
 2 África Atlântica e Tráfico Negreiro .......................................21
 3 Escravidão de Africanos no Brasil ........................................38
 4 Resistência Negra ao Regime Escravista ..............................54
 5 O Negro no Pós-Abolição ...................................................70
 6 A “Era Vargas”: Trabalhismo e Nacionalismo .......................92
 7 Ditadura Civil-Militar e a Identidade Negra .......................119
 8 Imprensa Negra ...............................................................148
 9 Música Negra ...................................................................164
 10 Religiosidade Negra .........................................................178
África Pré-colonial: 
Imagens e Reinos1
1 Doutora em História, professora adjunta do Curso de História e do Mestrado em 
Educação da Universidade Luterana do Brasil, membro do NEABI/ULBRA. 
Maria Angélica Zubaran1
Capítulo 1
2 História e Cultura Afro-brasileira
Introdução
Conforme afirma Paulo Visentini (2013), apesar da África ser 
o continente mais próximo do Brasil, de existirem imensas se-
melhanças humanas e naturais entre ambos e dos afro-des-
cendentes constituírem cerca de 40% a 60% da população 
brasileira, existe um desconhecimento profundo da História da 
África. Esse desconhecimento levou a visões estereotipadas e 
preconceituosas sobre a África no imaginário europeu. Neste 
capítulo, pretende-se confrontar essas estereotipias a partir do 
estudo das imagens produzidas pelos europeus sobre a África. 
Posteriormente, estudar-se-á os principais reinos e impérios da 
África Pré-colonial, antes da chegada dos europeus.
Imagens da África
De acordo com Carlos Serrano e Maurício Waldmann 
(2007), a África, mais do que qualquer outro continente, foi 
encoberta por preconceitos que ainda hoje marcam a percep-
ção de sua realidade. O imaginário europeu devotou para as 
terras africanas e os seus habitantes injunções desqualifican-
tes, imagens negativas e excludentes.
Um continente sem história?
Normalmente, quando se fala em História da África, pen-
sa-se no tráfico de escravos, dando uma falsa imagem de que 
na África não houve História antes da presença europeia. O 
continente africano geralmente é representado na mídia como 
o lugar de fome, guerras, epidemias, que aparecem como 
inerentes aos povos africanos, representados como atrasados 
Capítulo 1 África Pré-colonial: Imagens e Reinos 3
e incultos e não se discute as razões que provocaram essas 
situações.
A origem dessas concepções remete à antiguidade clássi-
ca. Para os gregos e romanos, a África compreendia as terras 
habitadas pelos povos de idioma berbere, termo que deu ori-
gem à palavra bárbaro, identificando populações que, pelo 
fato de sua língua e cultura diferirem da greco-romana, eram 
consideradas inferiores em face do padrão greco-romano.
No período medieval, diversas imagens estereotipadasa 
respeito dos africanos foram articuladas no imaginário euro-
peu.
Uma dessas noções foi a teoria Camítica, que estigmatiza-
va os negros enquanto descendentes do personagem bíblico 
Cam, como indigno e fadado à escravidão. No famoso Mapa 
dos Salmos, datado de 1250, de acordo com os relatos bíbli-
cos, aparece a indicação do paraíso e de Cristo, na direção 
Norte, e na posição sul a África, um “continente monstruoso”, 
ocupado pelas gentes descendentes de Cam, o mais moreno 
dos filhos de Noé.
Outra referência muito comum à África é a de “continen-
te negro” ou “África Negra” atribuídos à África Subsaariana. 
No entanto, devemos observar que nem todos os africanos 
são negros: Na parte norte, e inclusive Saara, encontram-se 
os berberes/árabes, ao sul do Saara predominam os povos 
negroides e na África Meridional vivem 5 milhões de brancos 
de origem europeia. O tratamento genérico de África Negra 
ignora as mestiçagens biológicas e culturais e as migrações de 
4 História e Cultura Afro-brasileira
povos na África, primeiramente, de leste para oeste e, depois, 
em sentido inverso e, por fim, rumo ao sul.
Também disseminou-se a noção de que as terras africa-
nas ao sul do deserto Saara, assoladas pelo calor escaldante, 
eram consideradas impróprias para a vida civilizada. Na ver-
dade, a África é o único continente eminentemente tropical do 
planeta, e as temperaturas altas possuíam, do ponto de vista 
cultural, um sentido negativo. Exemplo: A expressão um calor 
dos infernos.
Na segunda metade do século XVIII e primeira metade do 
século XIX, as imagens negativas sobre a África e os africanos 
ganharam um revestimento teórico para justificar o tráfico de 
escravos:
No livro Systema Naturae (1778), de Charles Linné, os 
africanos foram designados como relaxados, indolentes, ne-
gligentes e governados por caprichos. Alguns intelectuais do 
Iluminismo, tais como Voltaire (França), Hume (Escócia), Kant 
(Alemanha) e Jefferson (Estados Unidos), argumentaram que 
os africanos não possuíam capacidades intelectual. Também o 
filósofo Hegel (1770-1834) afirmou que a África não tinha his-
tória, pois os homens que lá viviam eram bárbaros e selvagens 
sem nenhum elemento de civilização. Para esses intelectuais, 
os africanos eram considerados seres sem cultura. Nesse senti-
do, conferiu-se à África Subsaariana um estado de selvageria, 
no qual predominava a natureza, onde não se produzia cultu-
ra e História.
Arnaut e Lopes (2005) defendem que não é possível tra-
tar a África como uma unidade monolítica, pois são muitas 
Capítulo 1 África Pré-colonial: Imagens e Reinos 5
as diferenças entre os diferentes povos africanos. Também a 
noção de africano sugere uma ideia de unidade, que encobre 
a diversidade. Portanto, essa denominação não deve ofuscar 
as diferenças dos modos de vida e cultura dos povos africa-
nos. Há que se considerar que há grandes diferenças entre os 
povos do norte e os do sul do deserto do Saara. Ademais, em 
decorrência da miscigenação, encontramos africanos negros, 
mestiços e brancos. Na África, são faladas mais de mil línguas 
diferentes relacionadas aos diferentes povos africanos. Além 
do árabe, as mais faladas são o Suaíle e o Hausa. Há também 
o afrikaaner derivado do holandês. O cristianismo e o islamis-
mo são as principais religiões africanas, mas 15% dos povos 
africanos ainda praticam religiões animistas ou locais.
África, berço das civilizações
Em meados do século XX, pesquisas demonstraram ser a África 
o nascedouro da humanidade e da civilização ocidental. Foi 
no imenso território africano que teve origem o lento processo 
de evolução da espécie humana há cerca de 4,5 milhões de 
anos. Foi ali que se desenvolveram as primeiras formas de 
vida. De acordo com José Rivair Macedo (2013), os primei-
ros fósseis do Australopithecus africanus foram descobertos 
em 1924, na África do Sul. Mas a descoberta do fóssil mais 
completo ocorreu em Afar, na Etiópia, de onde vem o nome 
Australopithecus Afarensis, ou, como ficou mais popularmente 
conhecido, Lucy, que teria vivido há cerca de 3 milhões de 
anos. Conforme afirma José Rivair Macedo, desde o mais re-
moto ancestral do gênero Homo se confunde com a África.
6 História e Cultura Afro-brasileira
No século XX, o pensamento generalizante, que trata a 
África enquanto uma unidade monolítica, passou a ser ques-
tionado. Particularmente, a partir de 1960, os Estados-nação 
africanos recém formados passaram a reconhecer as especi-
ficidades da África considerada um “mosaico de heterogenei-
dades” e caracterizada pela complexa diversidade cultural de 
seus povos.
A partir da década de 1970, a arqueologia passou a estu-
dar os artefatos considerados objetos testemunhos dos povos 
africanos, destacando-se o estudo da cultura dos povos Ioru-
bás, nas cidades de Ifé, Oió e Benin.
Também as narrativas orais contribuíram para o estudo dos 
povos ágrafos, sem escrita, que compõem o continente africa-
no. Destaca-se a importância dos Griots, contadores de histó-
rias, que contam as histórias antigas dos africanos, garantindo 
o não esquecimento das tradições africanas. Existem também 
muitos manuscritos inéditos em arquivos africanos para o estu-
do da África e dos Africanos.
Os novos conhecimentos sobre a África se caracterizam 
pelo rompimento com o eurocentrismo e universalismos que 
obscureciam as diferenças locais entre os africanos. Os relatos 
de viajantes árabes islâmicos do período medieval e os manus-
critos europeus do século XV-XIX, permitiram identificar as prin-
cipais organizações sociais e políticas da África Pré-colonial, 
genericamente denominadas “reinos” ou “Impérios”.
Capítulo 1 África Pré-colonial: Imagens e Reinos 7
Antigas civilizações africanas
Dentre as civilizações mais antigas da história da humanida-
de, algumas desenvolveram-se no continente africano, como 
a Egípcia, a Cuxita e a Axumita.
O EGITO
De acordo com Kabengele Munanga e Nilma Nilo Gomes, 
o povoamento do Egito deu-se a partir dos africanos que ha-
bitavam o continente, não resta dúvida de que foram eles os 
primeiros a construir essa civilização. Séculos depois, foram 
invadidos pelos persas, gregos e romanos. No entanto, as in-
vasões estrangeiras não apagaram a origem negra da civiliza-
ção egípcia.
A história do Egito faraônico conta com trinta dinastias que 
se sucederam 3000 anos antes da era cristã e pelo menos 21 
dessas dinastias eram nitidamente negras e reinaram antes das 
invasões estrangeiras.
No entanto, as invasões externas não apagaram as contri-
buições dos nativos como a historiografia ocidental colonial 
tenta fazer ao negar a origem negra da civilização egípcia. 
Essa negação foi uma estratégia político-ideológica para não 
reconhecer as contribuições negras na civilização egípcia e 
para justificar a colonização da África pelos europeus.
8 História e Cultura Afro-brasileira
KUSH
No vale do alto Nilo, ao sul do Egito, entre a segunda e a 
sexta catarata (atual Sudão) se desenvolveu o Reino de Kush 
ou Civilização Cuxita. A capital era Méroe, onde construíram 
pirâmides. O reino de Kush manteve relações comerciais com 
o Egito e foi invadido pelos egípcios para obterem o controle 
sobre as minas de ouro. Posteriormente, os cuxitas invadiram 
o Egito e fundaram a XXV dinastia egípcia. Os reis cuxitas 
reinaram como faraós por um século, até que foram expulsos. 
O reino persistiu até o século IV d.C., quando se desintegrou 
devido a rebeliões internas. Uma das características dessa ci-
vilização foi o reinado feminino, com as rainhas “Candaces”.
AXUM
A civilização Axumita, posterior às civilizações egípcia e cuxita, 
se desenvolveu no território que corresponde mais ou menos 
à Etiópia atual e tinha como capital Axum. Uma das caracte-
rísticas dessa civilização foi o cristianismo, introduzido durantea ocupação romana do Egito. É por isso que a Etiópia é con-
siderada o país cristão mais antigo da África Subsaariana. O 
cristianismo só perdeu sua preponderância perante o islamis-
mo imposto pelas guerras santas durante o império Otomano 
(1299-1922).
Capítulo 1 África Pré-colonial: Imagens e Reinos 9
O continente africano
O continente africano, terceiro maior da terra, está separado 
da Europa pelo Mar Mediterrâneo, da Ásia pelo Mar Vermelho 
e é banhado na sua costa ocidental pelo Oceano Atlântico e 
na costa oriental pelo Oceano Índico.
O deserto do Saara divide o continente africano em duas 
regiões: ao norte do deserto, a África Saariana ou MAGREB 
(ocidente em árabe) e, ao sul do deserto, a África Subsaariana 
ou África Negra, assim denominada pela predominância nes-
sa região de povos de pele escura.
A África Subsaariana está dividida em três 
grandes áreas
África Ocidental: É uma região no oeste da África que inclui 
os países com costa para o Oceano Atlântico e que partilham 
parte do deserto do Saara. Nesta região, também conhecida 
como Sael, que forma um corredor ininterrupto do Atlântico 
ao Mar Vermelho, localizavam-se os reinos Sudaneses: Reinos 
de Gana (IV-XIII), de Mali (XIII-XV) e Songai (XV- XVI), em torno 
do rio Níger. Também nessa região, perto do litoral do Golfo 
do Benin, localizam-se os povos chamados Yorubás que se 
organizaram em cidades-estados independentes.
África Central ou Centro-Ocidental: Fica no centro do 
continente, na região do rio Congo e até o rio Cuanza, onde 
10 História e Cultura Afro-brasileira
viviam os povos chamados bantos, agricultores, que viviam 
em aldeias e dominavam a metalurgia.
África Oriental: Abrange os territórios na costa do Ocea-
no Índico, onde habita grande variedade de povos bantos. 
Em toda essa costa, fala-se o Suaíli, uma língua banta com 
forte influência árabe.
Sociedades africanas da África Ocidental
As sociedades africanas organizavam-se tendo como base as 
relações de parentesco. As famílias extensas com um antepas-
sado comum formavam as linhagens, núcleo básico da orga-
nização das sociedades da África.
Essas famílias extensas, cada uma com seu chefe, eram 
subordinadas aos chefes das aldeias. As aldeias agrupavam 
várias famílias ou linhagens.
A presença de uma autoridade política centralizada sobre 
todos os chefes de aldeias caracterizava um reino. Os reinos 
africanos possuíam uma capital onde se instalava seu chefe 
maior ou rei.
As sociedades africanas pré-coloniais também se organi-
zavam em cidades que eram centros de comércio. Entre elas, 
destacam-se: Tombuctu, Gaô e Jené, no atual Mali. Pelos seus 
mercados passavam o sal das minas do deserto, o ouro das 
minas de Bambuck e Buré, os tecidos e os grãos do Sudão 
Capítulo 1 África Pré-colonial: Imagens e Reinos 11
central, a noz-de-cola, peles, marfim, enfeites de metal, obje-
tos de cerâmica e couro.
Gana: o reino do ouro (séc. IV ao XIII)
Apesar do nome, o antigo reino de Gana não está relacionado 
à moderna Gana, mas situava-se entre o que é hoje a Mauri-
tânia e o Mali. O reino de Gana ficou conhecido como “reino 
do ouro”. Conforme os escritores árabes, possuía as mais ricas 
minas de ouro do mundo, situadas em Bambuk. O sal, raro na 
região das savanas, era trazido do deserto, em estado sólido, 
em camelos até as áreas mineradoras de Bambuk, onde era 
trocado por ouro. Outra mercadoria que ganhou grande valor 
foram os escravos. Apesar da escravidão já existir na região, 
as guerras, as empreendidas pelo reino de Gana, produziram 
muitos cativos.
A capital de Kumbi Saleh tornou-se o foco de todo o co-
mércio do reino, que incluía escravos, tecidos e outros produ-
tos. A rota do comércio começava no norte da África e termi-
nava na cidade real de Kumbi Saleh. O reino de Gana entrou 
em declínio quando perdeu o monopólio do ouro no século 
XIII, com o aparecimento de novas minas em Buré. Por volta de 
1077, o reino de Gana foi alvo da expansão dos almorávidas, 
que conquistaram a capital, Kumbi-Saleh.
12 História e Cultura Afro-brasileira
O Império de Mali (séc. XIII-XV)
O império de Mali, localizado ao sul de Gana, era de início 
composto de povos caçadores, que também trabalhavam a 
terra em campos comunitários. A expansão territorial dos ma-
lineses esteve vinculada ao processo de islamização do reino a 
partir do século XIII, quando Sundiata, responsável pela união 
de várias comunidades malinquês foi escolhido como rei do 
Mali. Sundiata tomou a cidade de Timbuktu e a transformou 
em importante cidade comercial. A cidade de Jenné era tam-
bém um grande centro agropecuário e comercial. A riqueza do 
reino vinha das minas de Buré.
A capital era Nianci, construída perto das minas. Mali tam-
bém adquiriu o controle sobre o comércio do sal. O declínio 
de Mali no século XV ocorre quando os Tuaregues atacaram 
várias vezes a cidade de Timbuktu e se apropriaram dela e 
também devido às lutas de sucessão entre os descendentes de 
Sundiata.
O Império de Songai (XV-XVI)
O império do Songai era formado por uma elite formada nos 
preceitos islâmicos. No século XV, sob a liderança de Sonni Ali, 
um chefe militar, expandiu o reino do Songai incorporando as 
principais cidades do comércio transaariano: Tumbuktu e Jen-
né que exportavam ouro, noz de cola e escravos. A educação 
era muito incentivada no Império de Songai. Em Tumbuktu, 
por exemplo, a Universidade de Sankore construída por volta 
Capítulo 1 África Pré-colonial: Imagens e Reinos 13
do século IX, abrigava já no século XII cerca de 25.000 estu-
dantes.
A partir do século XVI, o império Songai entra em conflito 
com os interesses Marroquinos e Turcos no Saara. Manteve-se 
como o mais forte Estado mercantil negro no Sudão Ocidental 
até 1591, quando foi conquistado por povos muçulmanos do 
atual Marrocos.
Figura 1 Mesquita de Sankore em Timbuktu.
Fonte: Atamari – https://pt.wikipedia.org/wiki/Tombuctu
Os Hauças
A leste de Songai, entre os rios Níger e o Lago Chade, sur-
giram sete cidades-estados dos Hauças, povos falantes do 
idioma Hauça. As cidades tornaram-se pontos de trocas de 
mercadorias artesanais.
14 História e Cultura Afro-brasileira
No século XV, época de sua maior expansão, eram total-
mente muçulmanos e a escrita árabe se difundiu. A partir do 
século XV, envolveram-se no tráfico atlântico de escravos. No 
Brasil, os escravos e libertos Hauças participaram de várias 
rebeliões na Bahia, particularmente, na chamada Revolta dos 
Malês.
Os Iorubás
A civilização dos Iorubás desenvolveu-se a partir do século XI, 
nas atuais Nigéria e Benin. Os reinos Iorubás organizavam-se 
politicamente em sete cidades-estado, incluindo Benin, Ifé e 
Oyó e falavam o idioma Iorubá. Segundo seus mitos de ori-
gem, os iorubás acreditavam ter como antepassado comum 
Oduduá, cujos descendentes reinaram sobre as sete cidades. 
Entre os iorubás, as divindades eram conhecidas como ori-
xás. O centro religioso dos Iorubás era a cidade sagrada de 
Ifé que ficou conhecida pelas esculturas em bronze, cobre e, 
sobretudo, terracota, produzidas entre os séculos XI e XV, que 
tornaram-se referência da arte subsaariana. O Iorubás ficaram 
conhecidos no Brasil como Nagôs. No fim do século XVIII, o 
tráfico maciço de iorubanos ou nagôs para o Brasil fez com 
que a língua Iorubá e os costumes desse povo dominasse na 
Bahia e se constituísse na face mais visível das civilizações afri-
canas no Brasil.
Capítulo 1 África Pré-colonial: Imagens e Reinos 15
Sociedades da África Central
Na parte central do continente africano, na região do rio Con-
go, viviam os povos bantos. Eram agricultores e sabiam fa-
zer instrumentos de ferro. Nessa região, uma das sociedades 
banto mais conhecida foi o Reino do Congo, que remonta ao 
século XIV.
O Reino do Congo
Seu reichamava-se Manicongo – senhor do Congo – e mora-
va na capital Mbanza, hoje situada na atual Angola, perto da 
margem do rio Congo. Era uma monarquia centralizada nas 
mãos do Manicongo, que controlava as rotas comerciais. O 
congo possuía uma moeda própria, o Zimbo, uma concha, 
que o rei mandava buscar na ilha de Luanda.
Quando os portugueses chegaram (Diogo Cão, em 1482), 
o reino do Congo já tinha quase um século de história e logo 
pensaram que seria um bom parceiro comercial. Por mais de 
três séculos, congoleses e portugueses mantiveram relações 
comerciais, mas os portugueses acabaram por controlar a re-
gião, que hoje corresponde ao norte de Angola. Destacam-se 
na arte as máscaras do norte do Congo. No artesanato, a 
fabricação do veludo de ráfia e o trabalho em marfim e cobre, 
assim como a tecnologia do ferro.
16 História e Cultura Afro-brasileira
África Oriental
O Estado Zulu
O Estado Zulu localizava-se na região sudeste da África. Foi 
fundado por Chaca. Durante seu reinado, instituiu um exérci-
to permanente, especializando-se nas artes da guerra e das 
armas. No plano tático, inventou a formação de ataque em 
“cabeça de búfalo”. No seu reinado, guerra e práticas mági-
co-religiosas estavam articuladas, mobilizando todos os adivi-
nhos, feiticeiros e oráculos para a proteção de seus soldados 
na guerra. Seu exército, estimado entre 30 a 100 mil homens, 
testemunha a importância do exército que representava uma 
máquina implacável, e foi a forma de se opor ao avanço dos 
bôers (sul-africanos de ascendência holandesa). Chaca foi 
apelidado de “Napoleão Negro”.
O Império de Monomotapa
Entre os povos bantos, outro império na região sudeste da 
África foi o Monomotapa. Lá, habitavam povos Xonas, que 
viviam basicamente da agricultura e criação de gado, e desen-
volveram comércio em grande escala com os árabes e a Ásia, 
através do porto de Sofala (Moçambique). Nesse império, fo-
ram erguidas enormes muralhas de pedra, de cinco metros de 
altura, circulares, chamadas de Zimbabues, que datam do fim 
do século XII. Em escavações realizadas no local, foram en-
contradas porcelanas da China e contas da Índia. O império 
exportava marfim e, sobretudo, ouro.
Capítulo 1 África Pré-colonial: Imagens e Reinos 17
Figura 2 O Grande Zimbabue.
Fonte: Jan Derk – https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Great-Zimbabwe.jpg
Recapitulando
Apesar das imagens estereotipadas sobre a África e sobre 
os africanos construídas pelos europeus desde a Antiguida-
de e, particularmente, na Idade Média, o estudo da História 
da África Pré-colonial evidencia a existência de várias civiliza-
ções africanas, entre os séculos IV e XV, situadas nas Áfricas 
Ocidental, Central e Meridional e organizadas em torno de 
cidades comerciais como Timbuctu, Jenné e Gao, que comer-
cializavam ouro, sal, marfim e escravos. Algumas dessas so-
ciedades tornaram-se islamizadas e adotaram o idioma árabe, 
enquanto outras, como os povos Iorubás, falavam o idioma 
18 História e Cultura Afro-brasileira
iorubá e possuíam centros religiosos que cultuavam como di-
vindades os orixás e produziam um rico artesanato de imagens 
em bronze, cobre e terracota. Portanto, ao contrário do que 
afirmava o filósofo Hegel, a África antes da chegada dos euro-
peus possuía uma rica história e várias civilizações que, após o 
tráfico atlântico de escravos, passaram a ter grande influência 
na história e na cultura afro-brasileira.
Referências
ARNAUT, Luiz & Lopes, Ana Mônica. História da África: uma 
introdução. Belo Horizonte: Crisálida, 2005.
DEL PRIORE, Mary e Renato Venâncio. Ancestrais: Uma intro-
dução á História da África Atlântica. Rio de Janeiro: Else-
vier, 2004.
MACEDO, José Rivair. História da África. São Paulo: Contex-
to, 2013.
SERRANO, Carlos & Maurício Waldman. Memória da África 
A temática africana na sala de aula. Cortez, 2007.
VISENTINI, Paulo Fagundes, Luiz Dário Teixeira Ribeiro e Analú-
cia Danilevicz Pereira. História da África e dos Africanos. 
Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.
Capítulo 1 África Pré-colonial: Imagens e Reinos 19
Atividades
1) Sobre a África ao sul do deserto do Saara, antes do século 
XV, é correto afirmar que:
a) Era composta de sociedades sem escrita e, portanto, 
sem história.
b) Era composta de diversas sociedades com organiza-
ções diferentes, indo desde aldeias de agricultores e 
criadores até verdadeiros impérios.
c) A escravidão só passou a existir a partir da expansão 
marítima europeia do século XV.
d) Era composta de povos exclusivamente islamizados.
e) Era composta de povos que praticavam as religiões 
animistas.
2) Sobre o continente africano, é correto afirmar que:
a) É cercado a nordeste pelo Mar Vermelho, ao norte 
pelo Mar Mediterrâneo, a oeste pelo Oceano Atlântico 
e a leste pelo Oceano Índico.
b) Possui dois grandes desertos: o Saara ao norte e o 
Atacama ao sul.
c) Sua vegetação é marcada pelas florestas tropicais, 
pelo Serrado e pelas Savanas.
d) Possuí muitos rios navegáveis que desaguam no Oceano.
e) Todas as repostas estão corretas.
20 História e Cultura Afro-brasileira
3) A área imediatamente ao sul do deserto do Saara é conhe-
cida como:
a) Magreb c) Sahel e) Zimbabue
b) Sudão d) Etiópia
4) Os principais reinos da África Ocidental são:
a) Reino do Congo, Monomotapa e Sudão.
b) Reino de Monomotapa, Iorubá e Hauça.
c) Reino de Gana, Mali e Songai.
d) Reino do Zimbabue, Gana e Mali.
e) Reino do Sudão, Etiópia e Sahel.
5) Sobre os povos Iorubás, é correto afirmar que:
a) Falavam o Iorubá e organizavam-se em cidades-esta-
dos.
b) Entre as suas principais cidades destacam-se Benin, Ifé 
e Oyó.
c) Produziam imagens em bronze, cobre e terracota que 
tornaram-se referência da arte subsaariana.
d) No Brasil, ficaram conhecidos como Nagôs.
e) Todas as repostas estão corretas.
África Atlântica e Tráfico 
Negreiro1
1 Doutora em História, professora adjunta do Curso de História e do Mestrado em 
Educação da Universidade Luterana do Brasil, membro do NEABI/Ulbra. 
Maria Angélica Zubaran1
Capítulo 2
22 História e Cultura Afro-brasileira
Introdução
A partir do século XV, a costa atlântica africana, que se estende 
do Senegal à Angola, esteve em contato com a Europa e a 
América, formando o chamado comércio triangular. A maio-
ria dos escravos traficados da África para a América vieram 
das regiões da África ocidental e África centro-ocidental, as-
sim nascia a chamada África Atlântica, cuja especificidade de-
correu de seu contato tardio com os europeus, originando-se 
da expansão ultramarina europeia. De acordo com Mary Del 
Priore e Renato Pinto Venâncio (2004), “entre os séculos XVI e 
XIX, nada menos de 11 milhões de africanos foram traficados 
para o Novo Mundo” (p. 36) a partir do extenso litoral da 
África Atlântica. Neste capítulo, vamos estudar como a África 
atlântica se transformou em um gigantesco mercado de escra-
vos a partir do século XVI.
A Expansão Portuguesa no litoral da África 
Atlântica
As primeiras caravelas portuguesas chegaram à costa ocidental 
da África na década de 1430, buscando uma rota comercial 
alternativa para acesso ao ouro, marfim e escravos africanos. 
O deserto do Saara era dominado pelos povos berberes, que se 
deslocavam em caravanas de camelos através do deserto. Por 
meio desses caminhos de areia, o ouro, o marfim e escravos 
chegavam ao litoral da África do Norte e daí cruzavam o mar 
Mediterrâneo, dominado por venezianos e genoveses, rumo aos 
Capítulo 2 África Atlântica e Tráfico Negreiro 23
mercados consumidores da Europa. Portanto, os portugueses 
iniciaram uma rota comercial alternativa àquelas dominadas 
pelos mercadores muçulmanos (rota do deserto do Saara) e 
comerciantes venezianos, florentinos e genoveses (rota do Mar 
Mediterrâneo).Esse novo caminho era o Oceano Atlântico.
Não havia um único modo de comerciar escravos. Os 
traficantes portugueses utilizaram dois sistemas para reco-
lher escravos no litoral do Ocenao Atlântico. O primeiro era 
a modalidade do comércio em terra, quando, em geral, os 
barcos pertencentes às companhias de comércio europeias, 
provenientes da Alemanha, França, Portugal, Inglaterra, Ho-
landa e Dinamarca ancoravam nas fortalezas ou feitorias 
pertencentes às suas nações. Um segundo sistema utilizado 
pelos portugueses para recolher escravos na costa ocidental 
africana foi a “troca em alto-mar”, quando os compradores 
recebiam a bordo os chefes locais com a carga de escravos, 
que era levada até os barcos em canoas, não gerando gastos 
com a instalação de feitorias.
As Feitorias
Durante a primeira metade do século XV, os portugueses co-
meçaram a explorar a costa atlântica da África, interessados 
no ouro africano, no marfim, na pimenta e, principalmente, 
em escravos. Em 1445, construíram em Arguim a primeira fei-
toria e várias outras foram construídas ao longo da costa nos 
séculos seguintes. Em 1482, os portugueses construíram a for-
24 História e Cultura Afro-brasileira
taleza do Castelo de São Jorge da Mina, localizado onde hoje 
é a cidade de Elmina, no país de Gana.
As feitorias serviam de entrepostos temporários de ca-
tivos, onde ficavam estocados, esperando completar as 
cargas dos navios. As feitorias tinham como função realizar 
o comércio com chefes locais, concentrar as mercadorias e 
diminuir o tempo de estadia dos navios. Pelo sistema de fei-
torias, foram embarcados a maior parte escravos com destino 
às Américas.
O Forte de Arguim em 1721.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Arguim#/media/File:Fort_of_Arguin_1721.jpg
A partir do século XVI, a costa atlântica passou a ser fre-
quentada por um número cada vez maior de embarcações de 
várias nações europeias, entre eles os franceses, seguidos dos 
ingleses. Os holandeses também marcaram presença no trá-
fico de escravos na costa atlântica, principalmente no século 
XVII. Assim, entre os século XVI e XIX, desenvolveu-se o tráfico 
atlântico de escravos da África para a América.
Capítulo 2 África Atlântica e Tráfico Negreiro 25
A Escravidão na África
Não há como negar a existência da escravidão na África bem 
antes do desembarque dos europeus. A escravidão existiu em 
praticamente todas as sociedades africanas, desde as peque-
nas sociedades agrícolas e pastoris até os grandes impérios. 
As sociedades escravistas africanas utilizaram os escravos na 
agricultura, no pastoreio, em atividades mineradoras, assim 
como no trabalho doméstico, em construções e até mesmo na 
burocracia. Os muçulmanos tinham preferência pela escravi-
dão feminina, pois transformavam as escravas em concubinas. 
Um outro tipo de escravo era o eunuco, um homem castrado, 
cuja função era tomar conta dos haréns.
Contudo, não se pode ignorar as especificidades da escra-
vidão na África, que era o destino dos prisioneiros de guerra, 
dos endividados, dos criminosos, dos filhos ilegítimos e das 
mulheres adúlteras ou acusadas de bruxaria. Tais cativos eram 
integrados ao grupo familiar senhorial, à linhagem paterna, 
em condição subordinada, que por isso era chamada de es-
cravidão de linhagem.
Conforme apontam Del Priore e Venâncio (2004), adquirir 
escravos era uma forma de ampliar a mão de obra familiar. O 
senhor poderia ampliar o número de esposas e de trabalhado-
res agrícolas via compra de escravos. O filho nascido da união 
com uma escrava perdia a condição de cativo e era incorpora-
do à linhagem paterna. Como senhores e cativos partilhavam 
da mesma cultura e da mesma cor da pele, era intensa a inte-
gração do escravo ao novo grupo familiar.
26 História e Cultura Afro-brasileira
A existência prévia de reinos e chefes locais já familiariza-
dos com o comércio de escravos facilitou o tráfico atlântico 
de escravos. Os europeus não inventaram a instituição, mas a 
destinaram para fins comerciais. O trabalho cativo na África 
somente se tornou comercial após a chegada dos europeus 
que transformaram a África Atlântica em fornecedora de es-
cravos, inicialmente para as fazendas monocultoras de cana-
-de-açúcar voltadas para a exportação na ilha de São Tomé e, 
posteriormente, para as lavouras e minas na América.
No entanto, mesmo considerando-se as diferenças entre 
a escravidão tradicional na África pré-colonial e a escravidão 
comercial praticada pelos europeus, como destacam Del Prio-
re e Venâncio (2004), a eficácia e abrangência do tráfico não 
seria alcançada se não fosse a cumplicidade das sociedades 
africanas.
O Tráfico Atlântico de Escravos
Como vimos anteriormente, o comércio de africanos na Áfri-
ca Atlântica era realizado tanto na modalidade de “troca em 
alto-mar”, ocasião em que esses navios se transformavam em 
verdadeiros mercados flutuantes, quanto em terra, nas feito-
rias. Contudo, o comércio de escravos começava no interior 
da África e a captura e o deslocamento desses escravos aos 
locais de embarque no litoral era encargo dos africanos. Era a 
guerra entre os reinos africanos que produzia a maioria esma-
gadora de escravos traficados para a América. Na compra de 
escravos, as mercadorias comercializadas pelos portugueses 
Capítulo 2 África Atlântica e Tráfico Negreiro 27
eram em geral cavalos, objetos de cobre e de vidro, espelhos 
e, posteriormente, armas de fogo, pólvora, cachaça e tabaco.
Os distribuidores das caravanas de escravos entregavam 
os escravos aos feitores das feitorias e fortalezas, que os distri-
buíam aos navios de partida. Libambos era como se chama-
vam as colunas de cativos que vinham amarrados do interior 
para o litoral. Durante 4 séculos, multidões em pânico eram 
trazidas acorrentadas do interior da África Atlântica.
Transporte de escravos na África, gravura 1890.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Escravid%C3%A3o_em_%C3%81frica#/me-
dia/File:AfricanSlavesTransport.jpg
O tráfico atlântico de escravos iniciado no século XVI foi 
intenso até o século XIX. Estima-se que entre 12 e 12,5 milhões 
de africanos foram traficados para a América, dos quais apro-
ximadamente 40% vieram para o Brasil, 40% para as ilhas do 
Caribe e menos de 5% para a América do Norte. Os demais 
foram transportados para outras partes da América.
28 História e Cultura Afro-brasileira
Como relatam Del Priore e Venâncio (2004), o sistema de 
tráfico era uma lenta navegação de cabotagem entre os pontos 
da costa africana que podia em média levar de um a dois meses 
para carregar e levantar âncora, e no máximo sete meses. Os 
primeiros africanos embarcados ficavam aprisionados dentro 
da mesma embarcação até se completar a carga. Os autores 
relatam que na hora da partida havia o ritual em torno da ár-
vore do esquecimento, que funcionava como um lenitivo para 
a dor da partida. Os escravos caminhavam em círculos à sua 
volta para esquecer a sua identidade antes de embarcar nos 
navios negreiros. Em média, embarcavam quinhentos africanos 
por viagem. Conforme aponta Regiane Augusto de Mattos, no 
momento do embarque, costumavam ter o corpo marcado a 
ferro quente com as iniciais ou símbolos dos proprietários.
Tumbeiros era como se chamavam os navios negreiros 
que transportavam escravos para o outro lado do Atlântico. 
O porão baixo era o coração e o ventre do negreiro, onde 
centenas de africanos ficavam deitados ou agachados, quase 
o tempo todo acorrentados. No século XIX, a travessia da re-
gião da costa ocidental da África para o Rio de Janeiro durava 
em média quatro semanas. O cardápio mais comum das 
travessias incluía o inhame, a banana, o azeite-de-dendê, o 
peixe seco, o milho e a pimenta malagueta. No século XVI, a 
mandioca passou a substituir o inhame.
As condições de viagem eram péssimas, calor excessivo,carência alimentar e excesso de pessoas causavam muitas do-
enças, as mais comuns eram o escorbuto, a disenteria, a febre 
amarela, a varíola. O Banzo foi uma doença característica das 
travessias nos navios negreiros, cujo sintoma era uma extrema 
melancolia que levava o africano a um total fastio e a morte.
Capítulo 2 África Atlântica e Tráfico Negreiro 29
Muitos africanos morriam em diferentes momentos do pro-
cesso de escravização, alguns durante a viagem do interior da 
África para o litoral, outros à espera do embarque que podia 
durar meses nas feitorias e barracões e muitos outros morriam 
durante a travessia do Atlântico e tinham seus corpos atirados 
ao mar. No entanto, mesmo com as terríveis condições da tra-
vessia do Oceano Atlântico nos navios negreiros, os escravos 
eram capazes de desenvolver amizades durante essas viagens, 
os chamados malungos.
Plano do navio negreiro britânico Brookes.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Slaveshipposter-contrast.jpg
30 História e Cultura Afro-brasileira
Porão de um navio negreiro por Rugendas.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Navio_negreiro#/media/File:Navio_negrei-
ro_-_Rugendas.jpg
O tráfico atlântico de escravos envolveu um comércio trian-
gular entre a Europa, a África Atlântica e a América, como se 
pode observar no mapa que segue:
Comércio Triangular.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Com%C3%A9rcio_atl%C3%A2ntico_de_escra-
vos#/media/File:Triangular_trade.svg
Capítulo 2 África Atlântica e Tráfico Negreiro 31
Conforme afirma Yeda Pessoa de Castro (2012), os da-
dos da pesquisa existentes sobre o tráfico atlântico de africa-
nos revelam que a predominância cultural e linguística de 
escravos traficados para o Brasil foi do elemento banto, 
proveniente da África central, em todos os ciclos de desen-
volvimento econômico do território colonial brasileiro. Já os 
sudaneses, provenientes da costa ocidental da África, fo-
ram traficados em menor número, mas também formaram 
um contingente significativo entre os africanos traficados para 
o Brasil. Entre os sudaneses, a presença Iorubá foi tão signi-
ficativa que o termo nagô na Bahia começou a ser usado 
indiscriminadamente para designar qualquer indivíduo ou 
língua de origem africana no Brasil. No mapa que segue, 
pode-se observar as principais regiões africanas de onde se 
originaram os africanos traficados para o Brasil.
Principais regiões de comércio de escravos na África entre os séculos XV e XIX.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Com%C3%A9rcio_atl%C3%A2ntico_de_escra-
vos#/media/File:Africa_slave_Regions.svg
32 História e Cultura Afro-brasileira
A Chegada dos Africanos no Brasil
Quando aportavam em terras brasileiras, os africanos desem-
barcavam quase nus, e eram levados até a alfândega para 
listagem e dados do carregamento. Os principais portos de 
desembarque eram: Salvador (escravos para o nordeste) e RJ 
(escravos para MG, SP e Sul). Daí eram levados para os mer-
cados de escravos onde eram vendidos. No Rio de Janeiro, 
foi criado na segunda metade do século XVIII o Mercado do 
Valongo para a venda dos chamados “negros novos”.
Jean Baptiste Debret – Mercado da Rua do Valongo.
Fonte: http://frags.wiki/index.php?title=Mercado_da_Rua_do_Valongo%2FDebret
Os africanos eram também vendidos em leilões nos centros 
das cidades e oferecidos à venda em anúncios de jornais.
Capítulo 2 África Atlântica e Tráfico Negreiro 33
O Tráfico Interno de Escravos no Brasil
Conforme Mattos (2007), os africanos que chegavam ao Brasil 
eram levados em barcos ou a pé, em direção às cidades do in-
terior ou eram comprados por tropeiros de São Paulo e Minas 
Gerais, que os revendiam, configurando-se, assim, um tráfico 
interno de escravos. A região sul do Brasil, Santa Catarina e 
Rio Grande do Sul era abastecida de escravos pelos comer-
ciantes de escravos cariocas.
O tráfico atlântico de escravos foi abolido no Brasil em 
1850, pela Lei Eusébio de Queirós, após intensa pressão da 
Inglaterra. Seguiu-se à abolição do tráfico transatlântico de 
escravos um tráfico interno em direção às lavouras de cana-
-de-açúcar do nordeste.
O tráfico jamais foi aceito pela maioria dos cativos, e fo-
ram muitas as resistências nos locais de embarque e as revol-
tas no interior dos navios antes de levantarem âncora. Também 
numerosas foram as revoltas durante a travessia nos navios 
negreiros. No entanto, eram limitadas as possibilidades de re-
sistência. Adaptar-se era a primeira solução. As ações de resis-
tência eram punidas severamente.
O efeito do tráfico de escravos sobre a África foi desastro-
so, especialmente para o litoral da África ocidental. O resulta-
do foi o aumento das guerras e dos raptos entre os africanos 
para capturar cativos para vender aos europeus. Conforme 
apontam Mary Del Priore e Renato Pinto Venâncio, a maioria 
da população ou foi ameaçada de escravidão ou envolveu-se 
no tráfico.
34 História e Cultura Afro-brasileira
Recapitulando
A África Atlântida originou-se com a expansão ultramarina eu-
ropeia e foi o espaço africano que teve contato direto com a 
América durante o tráfico atlântico de africanos, envolvendo 
áreas compreendidas entre Alta Guiné e Angola. Nesse novo 
mundo atlântico, iniciou-se uma economia mundial que teve 
como base o tráfico de milhões de africanos embarcados à 
força e transformados em escravos no novo continente. O trá-
fico atlântico de escravos iniciado em meados do século XVI 
manteve-se ativo até meados do século XIX e envolveu a maio-
ria dos países da Europa ocidental. No Brasil, o tráfico atlân-
tico de escravos só foi abolido com a Lei Eusébio de Queirós, 
em 1850.
Referências
CASTRO, Yeda Pessoa de Castro. O tráfico transatlântico 
e a distribuição da população negra escravizada no 
Brasil Colônia. Africanias.com, 02 (2012).
DEL PRIORE, Mary e Renato Venâncio. Ancestrais: Uma intro-
dução à História da África Atlântica. Rio de Janeiro: Else-
vier, 2004.
FELINTO, Renata (Org.). Culturas africanas e afro-brasilei-
ras em sala de aula: saberes para os professores e faze-
res para os alunos: religiosidade, musicalidade, identidade 
Capítulo 2 África Atlântica e Tráfico Negreiro 35
e artes visuais. Belo Horizonte, MG: Fino Traço Editora, 
2012.
MATTOS, Regiane Augusto de. História e Cultura Afro-Bra-
sileira. São Paulo: Contexto, 2007.
SOUZA, Marina de Mello. A África e o Brasil Africano. São 
Paulo: Ática, 2006.
Atividades
1) A principal forma de acesso dos europeus aos escravos na 
África era:
a) Atacando os reinos e aldeias para capturar escravos.
b) Colonizando vastas regiões do litoral africano.
c) Trocando escravos com os chefes locais, quase sempre 
prisioneiros de guerra, por mercadorias que interessa-
vam aos africanos.
d) Dominando o comércio do ouro.
e) Invadindo as terras dos inimigos dos reinos africanos.
2) Sobre a África Atlântica, é correto afirmar que:
a) Originou-se com a expansão marítima portuguesa e 
corresponde ao espaço da África ocidental que se es-
tende da Senegâmbia até a Angola.
36 História e Cultura Afro-brasileira
b) Corresponde aos territórios islamizados da África do 
Norte.
c) Possui rios navegáveis que deságuam no Oceano Índi-
co.
d) Era inicialmente uma área produtora de prata que se 
transformou em um gigantesco comércio de diaman-
tes.
e) Todas as repostas estão corretas.
3) O elemento predominante no tráfico de africanos para o 
Brasil foi:
a) Sudanês
b) Banto
c) Muçulmano
d) Berbere
e) Nagô
4) O Tráfico de africanos implicou em um comércio conhecido 
como:
a) Comércio Intercontinental
b) Comércio Transaariano
c) Comércio Triangular
d) Comércio Asiático
e) NRC
Capítulo 2 África Atlântica e Tráfico Negreiro 37
5) Os principais portos de desembarque de africanosno Brasil 
eram:
a) Rio de Janeiro, Belém e Recife.
b) Recife, Salvador e Santos.
c) Salvador, Rio de Janeiro e Santos.
d) Recife, Salvador e Rio de Janeiro.
e) Todas as repostas estão corretas.
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Capítulo ?
Escravidão de Africanos 
no Brasil1
1 Doutora em História, professora adjunta do Curso de História e do Mestrado em 
Educação da Universidade Luterana do Brasil, membro do NEABI/Ulbra. 
Maria Angélica Zubaran1
Capítulo 3
Capítulo 3 Escravidão de Africanos no Brasil 39
Introdução
De acordo com Ciro Flamarion Cardoso (1990), após uma 
fase inicial de predomínio da escravidão indígena no século 
XVI (1532-1600), que corresponde ao início da colonização 
e da economia do açúcar no Brasil Colônia, intensificou-se a 
importação de escravos africanos para o Brasil nas primeiras 
décadas do século XVII. A insuficiência crescente da disponi-
bilidade de escravos indígenas, dizimados pelas epidemias, 
protegidos pelos jesuítas que colocaram-se contra a escravi-
dão indígena e às fugas frequentes de tribos inteiras para as 
matas do interior, contribuíram para a substituição da mão de 
obra indígena pela mão de obra africana ao longo do século 
XVII, especialmente nos engenhos. Neste capítulo, vamos estu-
dar as várias modalidades de trabalho dos africanos no Brasil. 
Como afirmou o Padre Antonil, “Os escravos [foram] as mãos 
e os pés do senhor de engenho, porque sem eles no Brasil 
não [era] possível fazer, conservar e aumentar a fazenda, nem 
ter engenho corrente” (1982, p. 89). Em outras palavras, os 
escravos africanos constituíram a base fundamental da econo-
mia colonial.
O trabalho dos escravos africanos nos 
engenhos
Conforme afirmam vários historiadores, a escravidão de ne-
gros no cultivo da cana-de-açúcar teve início no século XV, em 
Portugal e, mais tarde, nas ilhas do Atlântico: Madeira, São 
40 História e Cultura Afro-brasileira
Tomé, Açores, Cabo Verde e Canárias, ainda antes do início 
do tráfico negreiro no século XVI.
No Brasil, no século XVI, o plantio da cana-de-açúcar lo-
calizou-se nos engenhos de São Vicente, Porto Seguro, Ilhéus 
e Espírito Santo. Mas, foi nas capitanias de São Vicente e Per-
nambuco, que a cana-de-açúcar melhor se adaptou. O enge-
nho colonial constituía-se da casa-grande, capela, fábrica (ou 
engenho propriamente dito) e senzala.
Como vimos, na fase inicial dos engenhos de cana-de-açú-
car, no século XVI, a mão de obra utilizada foi predominante-
mente a indígena. A partir do século XVII, o Nordeste do Brasil 
se transformou em uma região típica de grandes engenhos de 
cana-de-açúcar, assentados sobretudo no trabalho de escra-
vos africanos, unidade produtiva que denominou-se plantation 
escravista e cuja produção era destinada ao mercado externo. 
Segundo Gândavo (apud Maestri, 2002, p. 76), “entre Itama-
racá (PE) e São Vicente, nos anos de 1570, existiriam sessenta 
engenhos produzindo anualmente em torno de 2.700 tonela-
das de açúcar”. Uma produção de 45 toneladas por engenho.
Nessa época, os escravos africanos desembarcados no 
Brasil eram provenientes da Costa Ocidental da África e no sé-
culo XVII, do Congo e de Angola, da África Central. No século 
XVIII e XIX, foi a vez da Costa da Mina e do Benin, novamente 
da Costa Ocidental da África. Grande parte do trabalho es-
cravo de africanos no Brasil Colônia era realizado nas zonas 
rurais, nos engenhos e fazendas, onde eram constantemente 
supervisionados por um feitor ou mais. Portanto, foi no campo, 
no cultivo e colheita dos canaviais e depois nos cafezais, que a 
Capítulo 3 Escravidão de Africanos no Brasil 41
maioria dos(as) escravos(as) africanos(as) e seus descendentes 
viveram e trabalharam no Brasil entre os séculos XVI e XIX.
No caso da cana-de-açúcar, o engenho médio, comporta-
va em torno de 60 a 80 escravos, que desempenhavam múlti-
plas tarefas. Conforme aponta Mário Maestri (2002), ao lado 
da produção para o mercado externo, o engenho satisfazia 
boa parte de suas necessidades internas, criação de animais 
domésticos e roças de mandioca, milho, feijão, batata, para 
sustentar os moradores da casa grande e da senzala.
Conforme aponta Regiane Augusto de Mattos, o cultivo e 
a colheita da cana-de-açúcar eram as tarefas mais cansativas 
para os escravos, além das atividades no engenho, que in-
cluiam moer a cana, ferver e engrossar o caldo nas caldeiras, 
enformar em recipientes na Casa de Purgar e depois embalar 
o açúcar para ser vendido para exportação. Além disso, os es-
cravos cortavam lenha para abastecer as caldeiras, realizavam 
a manutenção da propriedade e plantavam para a sua própria 
subsistência, cultivando terras em usufruto, nos finais de sema-
na e dias santos, depois que cumprissem sua cota estipulada 
de trabalho. Além da permissão do cultivo de suas próprias 
hortas, recebiam como recompensa de bom trabalho a ga-
rapa e a cachaça, que representavam uma parte importante 
da empresa açucareira. Até a metade do século XIX, o açúcar 
manteve-se como um dos principais produtos de exportação 
do Brasil, embora as vendas tenham caído após a segunda 
metade do século XVII, devido à concorrência externa.
42 História e Cultura Afro-brasileira
Figura 1 Henry Koster: Engenho de Açúcar, 1816.
Fonte: http://people.ufpr.br/~lgeraldo/imagensengenhos.html
O trabalho dos escravos africanos na 
mineração de ouro e diamantes
Na segunda metade do século XVII, o ouro foi descoberto em 
Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, pelos bandeirantes pau-
listas. A exploração do ouro era realizada de duas formas: o 
ouro de aluvião e o ouro de lavras. As condições de trabalho 
nas minas eram muito duras. Os escravos tinham que per-
manecer quase todo o dia com os pés na água e no interior 
das minas. Os proprietários tentavam incentivar seus escravos 
com recompensas e, nesse sentido, observa-se uma incidência 
Capítulo 3 Escravidão de Africanos no Brasil 43
maior de alforrias na zona da mineração, o que elevava a 
proporção de libertos na população.
Figura 2 Carlos Julião, Mineração de Diamante, 1770.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hist%C3%B3ria_da_
minera%C3%A7%C3%A3o_no_Brasil#/media/File:Juliao06.JPG
De acordo com Mário Maestri (2002, p. 137), o que di-
ferenciava a sociedade da mineração, do mundo açucareiro 
nordestino, era uma presença mais forte do Estado, certa ur-
banização e uma maior mobilidade social. De acordo com o 
autor, durante os primeiros anos, dominou a exploração dos 
depósitos de aluvião, “que depositavam-se nas margens dos 
44 História e Cultura Afro-brasileira
arroios e rios, nas encostas dos morros, nos fundos dos vales” e 
que muitas vezes brilhavam ao sol sendo chamados faisqueiras.
Nas primeiras décadas do século XVIII, com a mineração 
de ouro e de diamantes, deu-se uma intensificação da escravi-
dão e, consequentemente, do tráfico negreiro, o que resultou 
no aumento dos escravos importados para o Rio de Janeiro, 
sobretudo do Congo e de Angola, redistribuídos através do 
tráfico interno para Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa 
Catarina e Rio Grande do Sul. A capital carioca e seu entorno 
recebeu um volume significativo de escravos que se estendeu 
até o século XIX.
O trabalho de escravos africanos nas 
lavouras de café
Já na primeira metade do século XIX, a maior demanda por 
escravos africanos vinha das fazendas de café, que produziam 
para o mercado externo. A produção teve início no século XVII 
nos arredores da cidade do Rio de Janeiro e se expandiu no 
século XIX para o Vale do Paraíba e Oeste Paulista. Com a 
expansão das plantações de café, observou-se o aumento do 
número de escravos importados do continente africano. Por 
volta de 1850, em alguns dos municípios do RJ, como Vassou-
ras, e em municípios paulistas como Campinas e Bananal, os 
africanos representavam 70% da população.Nas fazendas de café, todas as etapas do trabalho eram 
feitas por africanos escravizados: a derrubada da mata e o 
Capítulo 3 Escravidão de Africanos no Brasil 45
preparo do solo, o plantio e a limpeza dos cafezais, a colheita, 
o tratamento dos grãos e seu acondicionamento em sacos. A 
rotina era dura, os escravos trabalham em média 15 horas por 
dia, até o anoitecer, e no final do dia dormiam nas senzalas. 
Também era comum, nas fazendas de café, o cultivo de lotes 
de terras pelos escravos, sobretudo aos domingos, destinados 
à sua subsistência.
Figura 3 Debret, Carregadores de café, 1826.
Fonte: http://agendawhite.com.br/2014/01/jean-debret/
Nas áreas de pecuária, tanto no nordeste como no sul do 
Brasil, também estava presente a escravidão, embora com 
menos densidade de escravos e uma hierarquia social mais 
frouxa.
46 História e Cultura Afro-brasileira
O trabalho de escravos africanos nas 
cidades
A mão de obra de escravos africanos e seus descendentes tam-
bém foi utilizada em múltiplas atividades nas áreas urbanas, 
garantindo uma renda para seus senhores brancos e mestiços.
Nas cidades, a mão de obra escrava era utilizada sobre-
tudo no trabalho de ganho ou aluguel, empregando-se na 
prestação de serviços mais especializados como sapateiros, 
barbeiros, alfaiates e também em serviços menos qualifica-
dos, como carregadores, lavadeiras, quitandeiras. Os escra-
vos de ganho tinham certa autonomia e maiores chances de 
conseguirem juntar um pecúlio para a compra da alforria e 
tornaram-se libertos.
Escravos urbanos trabalhavam também nos serviços do-
mésticos, nas atividades artesanais, nas olarias, pedreiras, no 
corte da lenha, no abastecimento de água e no transporte de 
pessoas e objetos, além de empregarem-se no transporte flu-
vial em canoas, barcos pequenos ou à vapor e na limpeza e no 
calçamento das ruas. Outros eram artistas, músicos, tocavam 
nas bandas públicas e nas missas e sabiam tocar instrumentos 
de origem africana, como tambores, marimba, ou oricongos 
(origem do berimbau). Outros, escultores e pintores, confec-
cionaram altares, imagens de santos e pintaram prédios pú-
blicos.
Capítulo 3 Escravidão de Africanos no Brasil 47
Figura 4 Debret, Um jantar brasileiro, 1827.
Fonte: http://historiaporimagem.blogspot.com.br/2011/10/jean-baptiste-debret-
-um-jantar.html
Nas cidades, o comércio ambulante de alimentos era feito 
sobretudo pelas escravas e libertas da Costa Ocidental, as ne-
gras minas, cuja ocupação como quitandeiras representava a 
influência dessa tradição cultural da África Ocidental no Brasil.
Nas áreas periféricas das cidades, nos sítios e chácaras, os 
escravos ocuparam-se da produção de gêneros alimentícios 
como arroz, feijão, milho, farinha de mandioca entre outros e 
no transporte desses produtos para as zonas centrais.
No Rio Grande do Sul, entre os séculos XVIII e XIX, escravos 
africanos e seus descendentes trabalharam principalmente nas 
charqueadas, encarregados de produzir o charque. O traba-
lho nas charqueadas era considerado excepcionalmente duro 
e o viajante francês Saint-Hilaire, em suas narrativas de viagem 
48 História e Cultura Afro-brasileira
no Rio Grande do Sul, considerou o trabalho das charqueadas 
como o “purgatório dos negros”.
Figura 6 Debret, charqueadas, 1820.
Fonte:: http://2.bp. blogspot.com/-1vSuGdVcgZE/T_esHNAwg1I/AAAAAAA-
AH9Q/FpUNPn_aMmY/s1600/charqueada%2BDebret.JPG
http://pelotascultural.blogspot.com.br/2012_07_01_archive.html
Os diferentes tipos de escravos no Brasil
De acordo com Ciro Flamarion Cardoso (1999), o mundo 
dos escravos não era homogêneo: o cativo recém chegado da 
África era conhecido como boçal, e o africano já aculturado 
e entendendo o português era chamado ladino. Já os crioulos 
eram os escravos negros nascidos no Brasil, geralmente de 
pele mais clara, mulatos, que eram preferidos para tarefas do-
mésticas e de supervisão.
Conforme Mattos (2007), os diferentes grupos de africanos 
passaram a ser chamados de “nações”, como minas, angolas, 
moçambiques, cassanges, cabindas, benguelas, monjolos. A 
classificação costumava ser feita na ocasião do batismo, na 
África ou no Brasil, quando recebiam um nome cristão e fi-
Capítulo 3 Escravidão de Africanos no Brasil 49
cavam conhecidos pela “nação” a qual pertenciam. Segundo 
Mattos (2007), as nações nada mais eram do que nomes dos 
portos de embarque ou dos principais mercados de escravos 
do continente africano. Uma das formas mais comuns de reco-
nhecimento da nação era por meio dos “sinais de nação”, as 
escarificações feitas nas faces e no corpo, geralmente quando 
crianças.
Havia também os chamados africanos livres, que, de 
acordo com Mattos (2002), referia-se ao conjunto de africa-
nos introduzidos ilegalmente no Brasil no período de 1830 a 
1850, apreendidos antes do desembarque no Brasil, ou ime-
diatamente depois, estimados em aproximadamente 11 mil 
pessoas, e os que tendo escapado à fiscalização haviam sido 
vendidos para diferentes partes do Brasil. Juridicamente, es-
ses africanos apreendidos no ato do desembarque recebiam 
a liberdade, porém, apesar de emancipados, deveriam prestar 
serviços a repartições públicas ou arrendatários particulares 
por um período de 14 anos, consistindo uma das justificati-
vas desse aluguel na possibilidade de financiar a reexportação 
desses africanos introduzidos ilegalmente no país. Esses africa-
nos livres eram encaminhados para o trabalho em obras pú-
blicas, para a Casa de Correção, Santas Casas, Hospícios de 
alienados, Jardins Botânicos. Apesar de toda a situação difícil, 
os africanos livres conseguiam, com a ajuda de advogados 
abolicionistas, reivindicar seus direitos à liberdade para reque-
rer sua emancipação. Uma vez aceito o pedido de liberdade, 
recebiam a carta de liberdade e em geral passavam a ganhar 
um salário mensal pelo trabalho que realizavam.
50 História e Cultura Afro-brasileira
Por último, existia também a categoria dos retornados que, 
de acordo com Mattos (2007), passaram anos trabalhando no 
Brasil e conseguiram fazer a viagem de volta à África, para La-
gos, na Nigéria, onde construíram um bairro chamado Brazilian 
Quartier. Nesse bairro, as construções eram e ainda são muito 
parecidas com os sobrados coloniais brasileiros, demonstran-
do a influência brasileira na arquitetura africana. Eles também 
retornaram para países como Togo e Daomé. Alguns desses 
africanos foram deportados do Brasil para África, após serem 
julgados pela participação na Revolta dos Malês, ocorrida na 
Bahia, em 1835. Os brasileiros que viviam em Lagos desde o 
século XIX eram grandes comerciantes de escravos e produtos 
africanos, como noz-de-cola; tecidos africanos e produtos bra-
sileiros como cachaça, tabaco etc... eram chamados de Agu-
dás, Amaros ou Tá-bom. Além da arquitetura, levaram para a 
África a culinária brasileira, as festas do bumba-meu-boi e do 
Senhor do Bonfim. Não raro, foram recebidos na África com 
preconceito e a readaptação foi muito difícil.
Recapitulando
A escravização de africanos e seus descendentes no Brasil 
estendeu-se do século XVI ao século XIX. No início do sécu-
lo XVII, os escravos africanos trabalharam principalmente nas 
plantations escravistas de cana-de-açúcar no litoral do nor-
deste brasileiro. Na última década do século XVII, com a des-
coberta de ouro e diamantes em Minas Gerais, Mato Grosso 
e Goiás e o desenvolvimento da mineração no século XVIII, 
houve a intensificação da escravidão e do tráfico de escravos 
Capítulo 3 Escravidão de Africanos no Brasil 51
para a região das Minas; No século XIX, o trabalho de escra-
vos africanos concentrou-se nas lavouras de café do Vale do 
Paraíba e do Oeste Paulista. Também nas zonas urbanas o uso 
da mão de obra do escravo africano foi amplo e diversificado, 
estendendo-sedo serviço doméstico até o trabalho dos negros 
de ganho e de aluguel, nas mais diferentes atividades, desde o 
abastecimento de água, aos transportes de seus proprietários 
e de mercadorias, à limpeza das ruas, lavagem de roupas e 
prestação de serviços. Portanto, a economia brasileira durante 
trezentos anos foi sustentada pela mão de obra escrava africa-
na que só foi abolida oficialmente em 1888, com a Lei Áurea.
Referências
ANTONIL, A. J. Cultura e Opulência do Brasil por suas 
Drogas e Minas. 3. ed. Belo Horizonte: Itatiaia/Edusp, 
1982.
CARDOSO, Ciro Flamarion. O Trabalho na Colônia. In LI-
NHARES, Maria Yedda (Org.). História Geral do Brasil. 
Rio de Janeiro: Campus, 1990.
MAESTRI, Mário. Colônia. São Paulo: Contexto, 2002.
MATTOS, Regiane Augusto de. História e Cultura Afro-Bra-
sileira. São Paulo: Contexto, 2007.
SOUZA, Marina de Mello e Souza. África e Brasil Africano. 
São Paulo: Ática, 2006.
52 História e Cultura Afro-brasileira
Atividades
1) Os primeiros escravos africanos que chegaram ao Brasil em 
meados do século XVI trabalharam principalmente:
a) como mão de obra nos engenhos de cana-de-açúcar;
b) como mão de obra nas fazendas de café;
c) como mão de obra na mineração;
d) como escravos domésticos;
e) como negros de ganho.
2) A descoberta do ouro no século XVII em Minas Gerais, Mato 
Grosso e Goiás resultou:
a) no aumento do tráfico transatlântico de escravos;
b) no aumento de cativos na zona da mineração;
c) no aumento de compra de alforrias pelos cativos;
d) no aumento da população de libertos nas zonas de 
mineração;
e) todas as repostas estão corretas.
3) Nos centros urbanos, os escravos africanos trabalharam 
como:
a) escravos domésticos;
b) no transporte de mercadorias e pessoas nas ruas e 
portos;
Capítulo 3 Escravidão de Africanos no Brasil 53
c) no abastecimento de água e na limpeza das ruas;
d) como artistas, músicos, escultores e pintores;
e) todas as alternativas estão corretas.
4) Os escravos nascidos no Brasil eram identificados como:
a) De nação;
b) Agudás;
c) Crioulos;
d) Retornados;
e) Boçais.
5) A mão de obra de escravos africanos no Rio Grande do Sul 
foi utilizada predominantemente:
a) nas fazendas de criação de gado;
b) nas plantações de trigo;
c) nas charqueadas;
d) nas olarias;
e) todas as repostas estão corretas.
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Capítulo ?
Resistência Negra ao 
Regime Escravista1
1 Doutora em História, professora adjunta do Curso de História e do Mestrado em 
Educação da Universidade Luterana do Brasil, membro do NEABI/Ulbra. 
Maria Angélica Zubaran1
Capítulo 4
Capítulo 4 Resistência Negra ao Regime Escravista 55
Introdução
Durante muitos anos, acreditou-se na passividade e no con-
formismo dos negros diante da escravidão. No entanto, a par-
tir da década de 1980, a historiografia brasileira começou a 
destacar o papel das lutas e da organização negra e apontar 
as várias formas de resistência negra ao regime escravista. 
Como afirma Mário Maestri (2002), durante toda a história 
do escravismo brasileiro, os africanos resistiram à escravidão, 
negociaram com seus senhores melhores condições de vida e 
de trabalho, fugiram, aquilombaram-se e revoltaram-se. Neste 
capítulo, vamos estudar tanto as modalidades de negociação 
entre senhores e escravos, como também as ações de rebeldia 
dos escravos para romper com a escravidão.
As negociações entre senhores e escravos
Como aponta Mattos (2011), a existência de uma política de 
negociação entre senhores e escravos fazia parte do univer-
so da escravização de africanos e afrodescendentes no Brasil, 
como forma de preservar o trabalho escravo e evitar insubor-
dinação. Entre os exemplos de negociações entre senhores e 
escravos, a autora cita: a preservação da família na fazenda, 
a concessão de folgas aos domingos e dias santos e a per-
missão para o cultivo de pequenas roças de subsistência, cul-
tivando milho, feijão e café. O cultivo dessas pequenas roças 
visava reduzir os gastos dos senhores com a alimentação dos 
escravos. Por outro lado, para os escravos, significava a pos-
56 História e Cultura Afro-brasileira
sibilidade de ganhar uma pequena renda com a venda desses 
produtos e criar a expectativa da compra da alforria.
A Carta de Alforria
A carta de alforria era o documento legal que concedia ao es-
cravo a liberdade. Para o senhor, a promessa da alforria servia 
para controlar o comportamento do escravo. Para o escravo, 
a alforria significava tornar-se livre e passava a designar-se 
liberto ou forro. A alforria poderia ser gratuita ou por meio de 
pagamento em dinheiro, a maioria era onerosa. Poderia tam-
bém ser condicional ou incondicional.
Até 1871, a alforria era revogada por mal comportamento, 
e os libertos viviam sob a constante ameaça de reescravização. 
As mulheres recebiam a alforria com mais frequência do que 
os homens, seja devido ao seu menor valor, como também às 
maiores oportunidades de acumular pecúlio no mercado de 
trabalho.
Capítulo 4 Resistência Negra ao Regime Escravista 57
Figura 1 Carta de alforria manuscrita datada de 1866.
Fonte: http://www.historiabrasileira.com/escravidao-no-brasil/carta-de-alforria/
Conforme Mattos (2011), quando a negociação não fun-
cionava, os escravos recorriam ao enfrentamento direto, fu-
gindo, organizando-se em quilombos, revoltando-se ou 
cometendo crimes. Também o suicídio significou para alguns 
escravos a última alternativa de resistência à escravidão. De 
acordo com a autora, a maior parte dos suicídios era por afo-
gamento.
58 História e Cultura Afro-brasileira
As fugas dos escravizados
De acordo com Mattos (2011), a fuga era um dos recursos 
de resistência à escravidão mais utilizados pelos cativos. Os 
escravos tanto fugiam sozinhos, escondendo-se na casa de um 
liberto ou fugindo para os arredores das cidade, ou fugiam em 
grupo, escondendo-se nos matos e lugares de difícil acesso, o 
que resultava na formação de agrupamentos de escravos fugi-
dos ou de quilombos. Os senhores reagiam com violência às 
fugas, buscando recuperar seus escravos através de anúncios 
nos principais jornais da época, como podemos ver a seguir.
Figura 2 Anúncio de Escravo Fugido.
Fonte: http://cafehistoria.ning.com/photo/anuncio-de-escravo-fugido
De acordo com Mattos (2011), quando o escravo fujão 
era recuperado, raramente escapava aos castigos físicos, no 
Capítulo 4 Resistência Negra ao Regime Escravista 59
tronco, no pelourinho, marcado a ferro com um a letra “F” 
de fujão ou usando gargalheiras para evitar novas fugas. Tal 
era a frequência das fugas e quilombos, que a administração 
colonial criou, no século XVIII, a figura do capitão-do-mato, 
especializado na captura dos fujões e que recebia uma quan-
tia fixa por negro capturado estabelecida pela administração.
Figura 3 Rugenas, Capitão do Mato.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Capit%C3%A3o_do_mato
No final do século XIX, as fugas em massa dos escravos das 
fazendas de café do sudeste se tornaram incontroláveis e os 
oficiais do exército se recusaram a persegui-los, dizendo que 
não eram capitães do mato.
60 História e Cultura Afro-brasileira
O Quilombo de Palmares
De acordo com Mário Maestri (2002), o processo de aquilom-
bamento existiu onde houve escravidão de africanos e seus 
descendentes. Segundo o autor, no Brasil, os quilombos varia-
vam muito de tamanho. Na maioria das vezes, eram comuni-
dades pequenas, nas periferias das cidades, que mantinham 
contatos clandestinos com a sociedade escravista, comercia-
lizando sua produção agrícola, vendendo lenha e mel e rou-
bando fazendas e viajantes. Também formaram-se quilombos 
maiores que congregaram centenas de africanos. Uma das 
características das comunidades quilombolas eram as aliançascom outros grupos sociais: indígenas, pequenos agricultores e 
comerciantes.
Durante o domínio holandês em Pernambuco, no início do 
século XVII, formou-se o maior e mais duradouro quilombo 
brasileiro, o Quilombo dos Palmares. Estava localizado na Ser-
ra da Barriga, entre os atuais estados de Alagoas e Pernam-
buco e compreendia uma série de doze ou mais quilombos. 
Estima-se que reuniu cerca de 20 mil quilombolas, majorita-
riamente africanos, da região da África centro-ocidental, mas 
também indígenas e fugitivos da justiça. Seus chefes formavam 
um Conselho, cujos líderes foram Ganga Zumba e Zumbi. O 
crescimento de Palmares levou as autoridades coloniais a com-
batê-lo com expedições repressivas. Quase todas fracassaram, 
devido à forte resistência dos palmarinos, que acabaram sen-
do derrotados por tropas comandadas pelo bandeirante Do-
mingo Jorge Velho. Em 20 de novembro de 1695, Zumbi foi 
degolado e sua cabeça foi enviada como troféu para Recife. O 
Capítulo 4 Resistência Negra ao Regime Escravista 61
Dia Nacional da Consciência Negra, em 20 de Novembro, dia 
da morte de Zumbi dos Palmares, reivindica a figura histórica 
de Zumbi como símbolo da resistência escrava à escravidão.
Figura 4 Zumbi, óleo de Manuel Vítor de Azevedo Filho.
Fonte: http://www2.portoalegre.rs.gov.br/gpn/default.php?reg=3&p_secao=171
Nas últimas décadas do século XIX, a resistência ao sistema 
escravista criou um tipo específico de quilombo, chamado qui-
lombo abolicionista, cujos adeptos eram as camadas médias 
da população, entre eles, particularmente, jornalistas, enge-
nheiros e advogados abolicionistas e camadas mais pobres 
da população, ligadas aos serviços urbanos, principalmente 
os ferroviários e caixeiros, que estabeleciam contatos com os 
escravos das fazendas por onde passavam e os ajudavam no 
transporte para quilombos abolicionistas. Um exemplo de qui-
lombo abolicionista era o Quilombo de Jabaquara, em San-
tos, cujo líder era o liberto Quintino de Lacerda.
62 História e Cultura Afro-brasileira
Figura 5 Imagem do Monumento a Quintino Lacerda.
Fonte: http://www.palmares.gov.br/?p=2575&lang=fr
Outro quilombo abolicionista estava localizado no Rio de 
Janeiro, o Quilombo do Leblon, e seu líder era um português 
abolicionista José de Seixas Magalhães. O quilombo se lo-
calizava em uma de suas chácaras, onde os escravos fugidos 
plantavam flores, em especial camélias, que se tornaram sím-
bolo da campanha abolicionista.
Na Constituição brasileira de 1988, o artigo 68 reconhece 
a posse definitiva das terras às comunidades remanescentes de 
quilombos que estejam ocupando essas terras.
A criminalidade escrava
A intensificação do trabalho escravo e dos maus tratos levaram 
ao aumento da criminalidade escrava no século XIX, sobretu-
do nas regiões produtoras de café, onde se concentravam os 
escravos nessa época. De acordo com Mattos (2011), o cri-
me mais frequente entre os escravos era o assassinato e lesão 
corporal de senhores e seus familiares e de feitores, devido 
Capítulo 4 Resistência Negra ao Regime Escravista 63
aos excessivos maus tratos. O segundo tipo de transgressão 
mais recorrente entre os cativos foram os furtos, roubos e es-
telionatos de produtos agrícolas, dinheiros, joias e animais. O 
Código Criminal de 1830 previa a aplicação de até 50 açoites 
nos escravos que cometessem crimes ou fugissem de seus se-
nhores. Os açoites eram aplicados em praça pública e serviam 
de exemplo para os demais escravizados.
Figura 6 Debret, Aplicação do castigo de açoites.
Fonte: http://linux.an.gov.br/mapa/?p=7546
As revoltas escravas
A maior parte das revoltas escravas foi reprimida antes de 
ocorrer, mas bastava a ameaça de revolta para criar um cli-
ma de tensão. No século XIX, particularmente na década de 
1880, foram inúmeras as notícias de revoltas de escravos nas 
64 História e Cultura Afro-brasileira
fazendas de café de São Paulo, e muitas delas contaram com 
a ajuda de abolicionistas.
A mais conhecida foi a Revolta dos Malês, que ocorreu em 
Salvador, em 1835, quando um grupo de africanos, escraviza-
dos e libertos, ocupou as ruas de Salvador e durante mais de 
três horas enfrentou soldados civis e armados, durante a festa 
da Na. Sra. Da Guia, data que coincidia também com o final 
do Ramadã.
Os organizadores da revolta eram malês, designação dada 
aos africanos muçulmanos na Bahia do século XIX. Participa-
ram da revolta diferentes etnias, de Nagôs, Haussás, Jêjes, 
Minas, Cabinda, Congo, unificadas pela religião muçulmana. 
Os africanos muçulmanos chegaram à Bahia na passagem do 
século XVIII para XIX. Usavam amuletos malês, devido a ideia 
de possuírem um forte poder protetor. Outro símbolo era a 
roupa toda branca, espécie de camisolão cumprido, o abadá. 
Os rebeldes foram para as ruas usando as roupas dos adeptos 
do islã e portando amuletos. O objetivo da revolta era libertar 
os africanos da escravidão e matar os brancos e crioulos, estes 
últimos considerados cúmplices dos primeiros.
A Revolta dos Malês foi delatada por um casal de libertos 
africanos de nação Nagô que contou aos seus ex-proprietá-
rios que ouviram comentários sobre o levante e também pela 
liberta Sabina da Cruz, companheira de um dos organizadores 
da revolta, que descobrira o local da reuniões, a casa de um 
africano liberto chamado Manoel Calafate. Após as delações, 
a revolta foi dominada e seguiu-se violenta repressão policial.
Capítulo 4 Resistência Negra ao Regime Escravista 65
O número de participantes da revolta chegou a seiscentos. 
Muitos deles foram deportados para a África, outros foram 
revendidos para diferentes regiões do Brasil. Quatro africa-
nos foram fuzilados, 2 libertos e 2 escravos, e vários foram 
açoitados publicamente. Entre os principais líderes da Revolta 
dos Malês, estavam: Ahuna, escravo africano de nação Nagô; 
Pacífico Licutan, escravo africano também de nação Nagô; 
Luís Sanin, escravo africano de nação Tapa; Manuel Calafate, 
liberto, de nação Nagô; mestre Dandará, africano de nação 
Hauça. Outra liderança da revolta foi Luísa Mahin, mãe do 
abolicionista e escritor Luís Gama, considerado um dos gran-
des abolicionistas brasileiros. Após a revolta, intensificou-se a 
o controle das autoridades sobre os escravos e libertos muçul-
manos.
Figura 7 Debret, escravo muçulmano.
Fonte: http://zonacurva.com.br/revolta-dos-escravos-muculmanos-em-1835-na-
-bahia/
66 História e Cultura Afro-brasileira
Recapitulando
Como acabamos de ver, tanto no Brasil Colônia como no Im-
pério, a escravização de africanos e seus descendentes foi a 
base da economia, e onde houve escravização houve também 
resistência escrava. Portanto, desde o início do escravismo co-
lonial, os escravos africanos e seus descendentes resistiram de 
diversas formas à escravidão. Vimos também que, no Brasil, 
como em outras partes, desde os primeiros tempos, os escra-
vos negociaram mais do que lutaram abertamente contra o sis-
tema. Essas negociações revelam a capacidade dos escravos 
de conquistar melhores condições de vida e trabalho dentro do 
sistema escravista. Embora mais difícil, os escravos também re-
sistiram abertamente à escravidão, seja através de fugas, indi-
viduais e coletivas, seja através da formação de quilombos, da 
organização de revoltas, a maior parte delas sufocadas antes 
de acontecer; também cometeram crimes contra seus senho-
res, seus familiares e feitores e, como último recurso, suicida-
ram-se para fugir à escravidão. Portanto, pode-se concluir que 
o escravo foi um agente ativo de sua liberdade e contribuiu de 
diversas formas para o combate à escravidão no Brasil.
Referências
MAESTRI, Mário. Colônia. São Paulo: Contexto, 2002.
MATTOS, Regiane Augusto de. História e Cultura Afro-Bra-
sileira. São Paulo: Contexto, 2007.
Capítulo 4 Resistência Negra

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