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Português - Literatura ESTÓRIA 1 Sumário Introdução ............................................................................................................................. 2 Objetivos ............................................................................................................................... 2 1. Estória ........................................................................................................................ 2 1.1. Conceito de estória ............................................................................................... 2 1.2. Exemplo .................................................................................................................. 2 Exercícios ............................................................................................................................... 4 Gabarito ................................................................................................................................. 7 Resumo .................................................................................................................................. 7 2 Introdução Nesta apostila, usaremos o capítulo Operadores de leitura da narrativa, de Arnaldo Franco Júnior, para apresentar o conceito de Estória, apresentando as diferenças entre Estória e Fábula, assim como entre estória e história. Para identificar melhor o conceito de estória, apresentaremos, também, um exemplo de texto narrativo. Observe com atenção os textos apresentados e identifique as diferenças entre eles. Objetivos • Apresentar o conceito de estória • Diferenciar estória e história • Exemplificar o conceito estudado 1. Estória 1.1. Conceito de estória Segundo Franco Jr, o conceito de fábula, dos formalistas russos, é correspondente ao conceito de estória (story). Segundo o New Criticism, a estória tem por base a história narrada, de acordo com a ocorrência dos fatos, sem alterações estabelecidas pelo autor. Assim, contrapõe-se à narrativa construída, denominada de trama pelos formalistas e de enredo pelo New Criticism. Nesse sentido, a estória é o termo que identifica a história narrada, resulta das narrativas orais, em que o narrador altera os fatos, cria personagens, estipula cenários diferentes, sem que isso comprometa o valor do fazer narrativo. Às vezes, sendo é, inadequadamente, utilizada como síntese da história narrada, o que não se confirma, de acordo com as teorias literárias da narrativa. Isso porque há uma diferença substancial entre a história em si, sem interferências autorais, e a síntese, que apresenta um resumo dos fatos, tendo sido trabalhada pelo autor. Outro sentido, bastante difundido, para o termo estória, é o que se contrapõe ao conceito de história. Porém, a história, por seu turno, implica a sucessão dos fatos, tal como ocorreram, sem alterações. Devido a parecerem tão diferentes, os dois conceitos estão intrincados, na medida em que, para a construção da estória, faz-se necessário o acesso à história. 3 Podemos dizer, pois, que a estória deriva da história, sendo uma construção ficcional a partir dos fatos reais. Guimarães Rosa, ao longo de sua obra, conseguiu aplicar magistralmente os dois conceitos ao texto narrativo em prosa poética. Vejamos um exemplo de estória a seguir: 1.2. Exemplo de Estória a partir de uma História O condomínio O ponto de venda mais forte do condomínio era a sua segurança. Havia as belas casas, os jardins, os playgrounds, as piscinas, mas havia, acima de tudo, segurança. Toda a área era cercada por um muro alto. Havia um portão principal com muitos guardas que controlavam tudo por um circuito fechado de TV. Só entravam no condomínio os proprietários e visitantes devidamente identificados e crachados. Mas os assaltos começaram assim mesmo. Ladrões pulavam os muros e assaltavam as casas. Os condôminos decidiram colocar torres com guardas ao longo do muro alto. Nos quatro lados. As inspeções tornaram-se mais rigorosas no portão de entrada. Agora não só os visitantes eram obrigados a usar crachá. Os proprietários e seus familiares também. Não passava ninguém pelo portão sem se identificar para a guarda. Nem as babás. Nem os bebês. Mas os assaltos continuaram. Decidiram eletrificar os muros. Houve protestos, mas no fim todos concordaram. O mais importante era a segurança. Quem tocasse no fio de alta tensão em cima do muro morreria eletrocutado. Se não morresse, atrairia para o local um batalhão de guardas com ordens de atirar para matar. Mas os assaltos continuaram. Grades nas janelas de todas as casas. Era o jeito. Mesmo se os ladrões ultrapassassem os altos muros, e o fio de alta tensão, e as patrulhas, e os cachorros, e a segunda cerca, de arame farpado, erguida dentro do perímetro, não conseguiriam entrar nas casas. Todas as janelas foram engradadas. Mas os assaltos continuaram. Foi feito um apelo para que as pessoas saíssem de casa o mínimo possível. Dois assaltantes tinham entrado no condomínio no banco de trás do carro de um proprietário, com um revólver apontado para a sua nuca. Assaltaram a casa, depois saíram no carro roubado, com crachás roubados. Além do controle das entradas, passou a ser feito um rigoroso controle das saídas. Para sair, só com um exame demorado do crachá e com autorização expressa da guarda, que não queria conversa nem aceitava suborno. Mas os assaltos continuaram. Foi reforçada a guarda. Construíram uma terceira cerca. As famílias de mais posses, com mais coisas para serem roubadas, mudaram-se para uma chamada área 4 de segurança máxima. E foi tomada uma medida extrema. Ninguém pode entrar no condomínio. Ninguém. Visitas, só num local predeterminado pela guarda, sob sua severa vigilância e por curtos períodos. E ninguém pode sair. Agora, a segurança é completa. Não tem havido mais assaltos. Ninguém precisa temer pelo seu patrimônio. Os ladrões que passam pela calçada só conseguem espiar através do grande portão de ferro e talvez avistar um ou outro condômino agarrado às grades da sua casa, olhando melancolicamente para a rua. Mas surgiu outro problema. As tentativas de fuga. E há motins constantes de condôminos que tentam de qualquer maneira atingir a liberdade. A guarda tem sido obrigada a agir com energia. Luis Fernando Veríssimo A partir da crônica O condomínio, podemos notar que a estória do texto se desenvolve a partir dos repetidos assaltos ao condomínio, os moradores cansados de serem assaltados, tentam de todas as maneiras buscar estratégias para espantar os ladrões como, grades, cercas elétricas, visitas agendadas. Assim sendo, acabam por ficar cada vez mais trancados em suas próprias casas como se estivessem em um presídio de segurança máxima e ao final, fazem uma rebelião, querendo fugir do Condomínio. Nesse sentido, podemos notar que não foi dada uma simples síntese, como vimos no conceito de fábula, mas um detalhamento dos acontecimentos da história em ordem cronológica. O aspecto ficcional se instaura, quando o excessivo zelo em proteger a entrada e a saída, de condôminos e de visitantes, torna o condomínio em uma verdadeira prisão para os seus habitantes. Percebe-se que o caráter irônico do fato ganha contornos de ficção, pois não seria possível impedir a entrada, ou a saída, de um condômino da sua própria casa permanentemente. O real passa a ser, assim, fictício.Exercícios Leia a narrativa de Fernando Sabino e depois responda as questões: 5 O homem nu Ao acordar, disse para a mulher: — Escuta, minha filha: hoje é dia de pagar a prestação da televisão, vem aí o sujeito com a conta, na certa. Mas acontece que ontem eu não trouxe dinheiro da cidade, estou a nenhum. — Explique isso ao homem — ponderou a mulher. — Não gosto dessas coisas. Dá um ar de vigarice, gosto de cumprir rigorosamente as minhas obrigações. Escuta: quando ele vier a gente fica quieto aqui dentro, não faz barulho, para ele pensar que não tem ninguém. Deixa ele bater até cansar — amanhã eu pago. Pouco depois, tendo despido o pijama, dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho, mas a mulher já se trancara lá dentro. Enquanto esperava, resolveu fazer um café. Pôs a água a ferver e abriu a porta de serviço para apanhar o pão. Como estivesse completamente nu, olhou com cautela para um lado e para outro antes de arriscar-se a dar dois passos até o embrulhinho deixado pelo padeiro sobre o mármore do parapeito. Ainda era muito cedo, não poderia aparecer ninguém. Mal seus dedos, porém, tocavam o pão, a porta atrás de si fechou-se com estrondo, impulsionada pelo vento. Aterrorizado, precipitou-se até a campainha e, depois de tocá-la, ficou à espera, olhando ansiosamente ao redor. Ouviu lá dentro o ruído da água do chuveiro interromper-se de súbito, mas ninguém veio abrir. Na certa a mulher pensava que já era o sujeito da televisão. Bateu com o nó dos dedos: — Maria! Abre aí, Maria. Sou eu — chamou, em voz baixa. Quanto mais batia, mais silêncio fazia lá dentro. Enquanto isso, ouvia lá embaixo a porta do elevador fechar-se, viu o ponteiro subir lentamente os andares… Desta vez, era o homem da televisão! Não era. Refugiado no lanço da escada entre os andares, esperou que o elevador passasse, e voltou para a porta de seu apartamento, sempre a segurar nas mãos nervosas o embrulho de pão: — Maria, por favor! Sou eu! Desta vez não teve tempo de insistir: ouviu passos na escada, lentos, regulares, vindos lá de baixo… Tomado de pânico, olhou ao redor, fazendo uma pirueta, e assim despido, embrulho na mão, parecia executar um ballet grotesco e mal ensaiado. Os passos na escada se aproximavam, e ele sem onde se esconder. Correu para o elevador, apertou o botão. Foi o tempo de abrir a porta e entrar, e a 6 empregada passava, vagarosa, encetando a subida de mais um lanço de escada. Ele respirou aliviado, enxugando o suor da testa com o embrulho do pão. Mas eis que a porta interna do elevador se fecha e ele começa a descer. — Ah, isso é que não! — fez o homem nu, sobressaltado. E agora? Alguém lá embaixo abriria a porta do elevador e daria com ele ali, em pêlo, podia mesmo ser algum vizinho conhecido… Percebeu, desorientado, que estava sendo levado cada vez para mais longe de seu apartamento, começava a viver um verdadeiro pesadelo de Kafka, instaurava-se naquele momento o mais autêntico e desvairado Regime do Terror! — Isso é que não — repetiu, furioso. Agarrou-se à porta do elevador e abriu-a com força entre os andares, obrigando-o a parar. Respirou fundo, fechando os olhos, para ter a momentânea ilusão de que sonhava. Depois experimentou apertar o botão do seu andar. Lá embaixo continuavam a chamar o elevador. Antes de mais nada: “Emergência: parar”. Muito bem. E agora? Iria subir ou descer? Com cautela desligou a parada de emergência, largou a porta, enquanto insistia em fazer o elevador subir. O elevador subiu. — Maria! Abre esta porta! — gritava, desta vez esmurrando a porta, já sem nenhuma cautela. Ouviu que outra porta se abria atrás de si. Voltou-se, acuado, apoiando o traseiro no batente e tentando inutilmente cobrir-se com o embrulho de pão. Era a velha do apartamento vizinho: — Bom dia, minha senhora — disse ele, confuso. — Imagine que eu… A velha, estarrecida, atirou os braços para cima, soltou um grito: — Valha-me Deus! O padeiro está nu! E correu ao telefone para chamar a radiopatrulha: — Tem um homem pelado aqui na porta! Outros vizinhos, ouvindo a gritaria, vieram ver o que se passava: — É um tarado! — Olha, que horror! — Não olha não! Já pra dentro, minha filha! Maria, a esposa do infeliz, abriu finalmente a porta para ver o que era. Ele entrou como um foguete e vestiu-se precipitadamente, sem nem se lembrar do banho. Poucos minutos depois, restabelecida a calma lá fora, bateram na porta. — Deve ser a polícia — disse ele, ainda ofegante, indo abrir. 7 Não era: era o cobrador da televisão. Fernando Sabino 1) Com base na narrativa acima, indique a estória apresentada: 2) Indique qual parte da narrativa indica a fábula: 3) Indique em qual parte da narrativa aparece uma intriga: Gabarito 1) Nesse exercício espera-se que o estudante desenvolva a estória da narrativa de forma detalhada: O conto narra a história de um casal que não tinha dinheiro para pagar a prestação da televisão. Assim sendo, ambos resolveram ficar em silêncio dentro casa para que o cobrador fosse embora. No entanto, o marido resolve tomar banho, mas o banheiro estava ocupado, então, nesse meio tempo resolve pegar o pão que está do lado de fora de casa, mas a porta bate com o vento e este acaba nu do lado de fora de casa. O marido tenta abrir a porta e chamar a esposa, mas nada adianta. Uma vizinha mais velha vê o homem nu do lado de fora da porta, grita e chama polícia. A esposa assustada abre a porta e encontra o marido nu do lado de fora, este entra para dentro de casa para vestir-se. A campainha toca e eles abrem a porta pensando ser a polícia, mas descobrem ser o cobrador da televisão. 2) No segundo exercício espera-se que o estudante faça uma síntese do conto para assim diferenciar o conceito de fábula e estória: O conto narra a história de um homem que para se ver livre do cobrador da televisão, se esconde dentro de casa. No entanto, ao sair para pegar o pão antes de entrar no banho acaba nu do lado de fora da porta. Uma vizinha vê o acontecido e chama a polícia. Depois da situação resolvida, a companhia toca e o casal surpreende-se com o cobrador da televisão. 3) O homem estar preso do lado de fora de casa nu. Resumo O conceito de fábula é correspondente ao conceito de estória (story). Para a corrente do New Criticism, a estória tem por base a história narrada, ou seja, aquela 8 que não passou por um processo de elaboração criativa. Contrapõe-se, então, à narrativa construída, aquela que se sujeita à vontade do autor, ao seu fazer criativo. Às vezes, a estória confunde-se com a síntese da história narrada, o que não se pode afirmar, já que as teorias literárias da narrativa não aplicam este conceito. No que se refere à noção de estória e de história, vimos que a estória deriva da história, sendo uma construção ficcional a partir dos fatos reais. A partir do exemplo do texto “O condomínio”, pudemos diferenciar a fábula e a estória do texto. Vimos que não são coincidentes. A fábula se refere à síntese, a um resumo da narrativa; já a estória nos fornece os detalhes da trama, de forma que possamos ter acesso à narrativa de maneira ampla. O real, ou seja, a situação de assaltos constantes em condomínios, abre espaço para o ficcional, na medida em que o condomínio se torna uma verdadeira prisão para os seus habitantes. A ironia marca, ainda, a ficção que caracteriza a estória. 9 Referências bibliográficas FRANCO JR., Arnaldo. Operadores de leitura da narrativa. In: BONNICI, Thomas e ZOLIN, Lúcia Osana. (orgs.) Teoria da Literatura,abordagens históricas e tendências contemporâneas. Maringá, Ed. da UEM, 2003, pp.33-56. SABINO, Fernando. O homem Nu. Editora Record. 1975. SANTOS, Robson Caetano dos. Estória ou História? A Dicionarização Literária do Termo através da Concepção de Guimarães Rosa. In: Memento: Revista de Linguagem, Cultura e Discurso. [s. ed.], jul. – dez. de 2015. Disponível em: <https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/5282989.pdf> Acesso em: 25 abr. 2019. VERÍSSIMO, Luis Fernando. Comédias para se ler na escola. Editora Objetiva. 2001. Disponível em: <https://blogdoenem.com.br/interpretacao-de-texto-aula-4-redacao-enem/> Acesso em: 17 de Outubro de 2018.
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