Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas Ficha para identificação da Produção Didático-Pedagógica – Turma 2013 Título: Material didático-pedagógico para um trabalho com dois contos de Machado de Assis: “A carteira” e “Um apólogo” Autora: Márcia Myszynski Cheron Disciplina/Área: Português Escola de Implementação do Projeto e sua localização: Colégio Estadual Souza Naves Município da escola: Rolândia-PR Núcleo Regional de Educação: Londrina-PR Professor Orientador: Profª Drª Suzete Silva Instituição de Ensino Superior: Universidade Estadual de Londrina Relação Interdisciplinar: - Resumo: Este trabalho contém um material didático- pedagógico elaborado a partir de determinadas características de dois contos de Machado de Assis: “A carteira” e “Um apólogo”. Para sua elaboração foram considerados os pressupostos teóricos da leitura enquanto processo discursivo, da sequência didática (sob a visão dos gêneros discursivos) como instrumento metodológico e do conto como o gênero textual selecionado. O principal objetivo do Projeto de Intervenção consiste em aprimorar o nível de leitura dos alunos de um primeiro ano do Ensino Médio noturno e incentivá-los ao ato de ler. Espera-se que durante o tempo de aplicação do projeto, o envolvimento dos alunos com este gênero textual seja intenso e que todos participem de forma espontânea e prazerosa no decorrer de todas as atividades propostas. Palavras-chave: Sequência didática. Conto. Machado de Assis. Formato do Material Didático: Manual didático Público: Alunos de um primeiro ano do Ensino Médio noturno 2 MÁRCIA MYSZYNSKI CHERON MÁRCIA MYSZYNSKI CHERON MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO COM OS CONTOS DE MACHADO DE ASSIS: “A CARTEIRA” E “UM APÓLOGO” MACHADO DE ASSIS 2013 3 CAPA SUMARIO APRESENTAÇÃO Oobjetivos Encaminhamentos metodológicos Atividades referencias XXX MÁRCIA MYSZYNSKI CHERON MATERIAL DIDÁTICO-PEDAGÓGICO COM OS CONTOS DE MACHADO DE ASSIS: “A CARTEIRA” E “UM APÓLOGO” Londrina – PR 2013 Este trabalho contém as atividades pedagógicas previstas no Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola produzido no Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE-PR, mantido pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná – SEED, em convênio com a Universidade Estadual de Londrina – UEL, a ser desenvolvido no Colégio Estadual Souza Naves, em Rolândia-PR, na disciplina de Língua Portuguesa, com alunos de 1° ano do Ensino Médio noturno. Orientadora: Profª Drª Suzete Silva xxx 4 Caro estudante, Este material é parte integrante de uma proposta de trabalho que consiste no desenvolvimento de uma sequência didática com o gênero conto, no intuito de aprimorar sua fluência em leitura, além de possibilitar a apropriação de alguns elementos e da estrutura de narrativas e possibilitar seu contato com o trabalho de um grande escritor brasileiro, que é Machado de Assis. A sequência didática com gêneros textuais prevê o segmento de algumas etapas que consistem: a) no acesso aos textos do gênero selecionado; b) na leitura destes e verificação se há ou não predomínio de determinadas características; c) na produção inicial de um conto; d) na análise de dois deles, com estudos dirigidos; e) na produção final de um conto. Sua participação na resolução das atividades é fundamental. Bom trabalho! A autora. APRESENTAÇÃO 4 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ..................................................................................................... 3 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 6 CONTOS – Primeiros contatos com o conto .............................................................. 8 ATIVIDADE 1 – visita à biblioteca escolar ............................................................. 8 ATIVIDADE 2 – primeira produção de um conto ................................................... 8 ATIVIDADE 3 – contato com teorias sobre a estrutura e os elementos da narrativa .... 8 CARACTERÍSTICAS DOS CONTOS – os elementos e a estrutura da narrativa .......... 9 DEFINIÇÃO DE CONTO ........................................................................................ 9 ELEMENTOS DA NARRATIVA ............................................................................. 9 ESTRUTURA DA NARRATIVA ............................................................................ 12 ATIVIDADE 4 – estudos sobre o surgimento do conto no Brasil e sobre Machado de Assis ................................................................................................................ 12 O SURGIMENTO DO CONTO NO BRASIL E SEU MAIOR REPRESENTANTE – MACHADO DE ASSIS E O CONTO.................................................................... 13 Origem do conto no Brasil .................................................................................... 13 A importância de Machado de Assis na instituição do conto no Brasil e as características desse gênero textual .................................................................... 14 Breve biografia de Machado de Assis .................................................................. 17 ATIVIDADE 5 – Leitura do conto “A carteira”, de Machado de Assis .................. 17 “A carteira” (texto para leitura) ............................................................................. 17 ATIVIDADE 6 – Exploração de aspectos formais do conto “A carteira”, de Machado de Assis ................................................................................................ 19 ATIVIDADE 7 – Nova leitura do conto “A carteira”, de Machado de Assis e resolução de exercícios que envolvem interpretação/compreensão ................... 20 ATIVIDADES COM O CONTO “A CARTEIRA”, DE MACHADO DE ASSIS ......... 21 ATIVIDADE 8 – Nova leitura do conto “A carteira”, de Machado de Assis e resolução de exercícios que envolvem os elementos da narrativa (narrador, personagem, tempo, espaço, enredo) ................................................................. 32 Atividades sobre o narrador ................................................................................ 33 Atividades sobre os personagens ...................................................................... 34 Atividades sobre o tempo .................................................................................... 39 aaaaa 5 Atividades sobre o espaço .................................................................................. 41 Atividades sobre o enredo ................................................................................... 42 ATIVIDADE 9 – Nova leitura do conto “A carteira”, de Machado de Assis e resolução de exercícios que envolvem a estrutura da narrativa (situação inicial, conflito, desenvolvimento, clímax, desfecho) ....................................................... 43 Exercícios após a releitura do conto .................................................................... 46 ATIVIDADE 10 – Nova leitura do conto “A carteira”, de Machado de Assis e resolução de exercícios que envolvem o tema .................................................... 48 ATIVIDADE 11 – Reflexões a partir do conto “A carteira” ................................... 50 ATIVIDADE 12 – Leitura do conto “Um apólogo”, de Machado de Assis ............ 55 “Um apólogo” (texto para leitura) .........................................................................55 ATIVIDADES COM O CONTO “UM APÓLOGO”, DE MACHADO DE ASSIS ..... 57 ATIVIDADE 13 – Observação de aspectos formais do conto “Um apólogo”, de Machado de Assis ................................................................................................ 57 ATIVIDADE 14 – Nova leitura do conto “Um apólogo”, de Machado de Assis e resolução de exercícios que envolvem interpretação/compreensão ................... 61 ATIVIDADE 15 – Nova leitura do conto “Um apólogo”, de Machado de Assis e resolução de exercícios que envolvem os elementos da narrativa (narrador, personagem, tempo, espaço, enredo) ................................................................. 70 Atividades sobre o narrador ................................................................................ 71 Atividades sobre os personagens ...................................................................... 72 Atividades sobre o tempo .................................................................................... 75 Atividades sobre o espaço .................................................................................. 76 Atividades sobre o enredo ................................................................................... 77 ATIVIDADE 16 - Nova leitura do conto “Um apólogo”, de Machado de Assis e resolução de exercícios que envolvem a estrutura da narrativa (situação inicial, conflito, desenvolvimento, clímax, desfecho) ....................................................... 78 ATIVIDADE 17 - Nova leitura do conto “Um apólogo”, de Machado de Assis e resolução de exercícios que envolvem o tema. ................................................... 79 ATIVIDADE 18 – Reflexões a partir do conto “Um apólogo” ............................... 82 ATIVIDADE 19 – Produção escrita de um conto ................................................ 84 CRONOGRAMA ....................................................................................................... 86 REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 88 Xxxxxxx xxxxxxx x 6 INTRODUÇÃO Este trabalho foi elaborado a partir de alguns pressupostos teóricos que envolvem concepções de leitura, de produções didáticas, gêneros textuais ou discursivos e de conto. A leitura é um processo discursivo, no qual autor e leitor são sujeitos produtores de sentido, ambos sócio-historicamente determinados e ideologicamente constituídos (CORACINI, 1995; ORLANDI, 1993). Produções didáticas são aquelas desenvolvidas de modo que o aluno se aproprie de determinadas características do gênero textual que estiver sendo utilizado como objeto de estudo para que possa produzi-lo, da melhor maneira possível, quando necessitar ou preferir. Conforme Schneuwly, Noverraz e Dolz (2004), a estrutura de base de uma sequência didática segue um esquema: primeiramente, há apresentação da situação; em seguida, há uma produção inicial; depois disso, há resolução de módulos (tantos quantos forem necessários); e, por fim, chega-se à produção final. Por isso, este material contempla essa maneira de trabalho pedagógico. Os gêneros textuais ou discursivos não podem ser definidos apenas e tão somente por aspectos formais, sejam eles estruturais ou linguísticos, devem-se levar em consideração, principalmente, os aspectos sócio-comunicativos e funcionais (MARCUSCHI, 2005). Cada um dos envolvidos no processo de leitura atribui sentidos de acordo com sua trajetória de vida. O homem, mesmo fazendo história, não tem consciência de que é perpassado por formações ideológicas que permitem extrair este ou aquele sentido de determinado texto. Por isso, tanto quem ensina quanto quem aprende a ler deve procurar os mecanismos que levam à produção de sentidos (ORLANDI, 1993). O conto, gênero textual escolhido para compor este material pedagógico, pertence à ordem do narrar, conforme classificação de Schneuwly e Dolz (1997), contém muitas características comuns a outras narrativas, como o conto maravilhoso, conto de fadas, fábula, lenda, narrativa de aventura, narrativa de ficção científica, narrativa de enigma, narrativa mítica, anedota, biografia romanceada, romance, romance histórico, novela fantástica, paródia, adivinha, piada, etc. O conto, normalmente, é breve, condensado, apresenta um, dois ou três episódios, 7 apresenta elementos e estrutura próprios de narrativas (ABDALA JUNIOR, 1995; PARRINE, 2009). Ao escrever um conto, a preocupação do autor reside no tamanho (na extensão do texto final), no conteúdo (na história a ser contada) e na forma por meio da qual a história será exposta. Por isso, o autor busca enfatizar a profundidade, verticalmente, já que não dispõe de espaço e tempo maiores horizontalmente, como no caso de romances (PARRINE, 2009). Este trabalho utiliza dois contos de Machado de Assis e é importante dizer que, além das características comuns de seus contos em relação aos de outros autores, como os elementos e a estrutura da narrativa, haverá preocupação, principalmente, com a leitura minuciosa dos textos. Sintetizando, cabe-nos enfatizar que este material apresentará um pouco de teoria sobre contos, análise de dois deles e haverá preocupação em tentar fazer com que os alunos se apropriem das características desse gênero textual e, acima de tudo, aprimorem sua fluência em leitura, objetivo principal a ser alcançado no final de todo o processo. Por isso, houve preocupação com um trabalho voltado à análise dos contos selecionados, que são apenas dois, e não com a quantidade deles. 8 Primeiros contatos com o conto ATIVIDADE 1 Visita à biblioteca escolar. � Você irá à biblioteca, juntamente com seus colegas e professor para escolher um livro de contos para leitura; � Dentre os contos do livro que você escolheu e leu, selecione um para contar oralmente na sala de aula. ATIVIDADE 2 Primeira produção de um conto. � Você fará sua primeira produção textual escrita: um conto. � O professor solicitará que você escreva um conto que seja de sua criação, com tema de sua escolha. ATIVIDADE 3 Contato com teorias sobre a estrutura e os elementos da narrativa. � A parte seguinte contém um pouco de teoria sobre a estrutura e sobre os elementos da narrativa. Ela será útil para a análise de alguns contos que ainda será feita e também para sua produção futura. O professor conduzirá um trabalho a partir das informações dadas. CONTOS 9 OS ELEMENTOS E A ESTRUTURA DA NARRATIVA Definir conto é uma tarefa difícil. Há uma grande diversidade de gêneros discursivos pertencentes à ordem do narrar, como romance, novela, piada, contos (dos mais variados: policiais, de fada, de terror, etc). Em todos esses gêneros há elementos comuns: os componentes da estrutura e os elementos da narrativa. Para Abdala Junior (1995), o conto consiste numa narrativa relativamente curta em que as categorias da narrativa estão condensadas, não significando que seja mais simples que o romance. No entanto, a brevidade é a sua marca e isso “leva o escritor a hierarquizar os fatos a serem narrados de forma a provocar no leitor um efeito marcante” (ABDALA JUNIOR, 1995, p. 17). NARRADOR Narrador (não confundir com autor) é aquele que narra a história sob determinado foco narrativo, que pode demonstrar: -onisciência do autor-editor (3ª pessoa e com total liberdade); -onisciência neutra (sabe de tudo, mas cria a ilusão de que não interfere); -“eu” como testemunha (1ª pessoa e narra o que houve com o protagonista); -“eu” como protagonista (narra o que houve consigo próprio, foco limitado); -onisciência multisseletiva (só ocorre no discurso indireto livre); -onisciência seletiva (o foco está em apenasuma personagem); -modo dramático (o narrador desaparece, só há diálogos); -câmara (cinematográfica; maior exclusão do narrador; ex: “Circuito fechado”). CARACTERÍSTICAS DOS CONTOS 10 PERSONAGEM As personagens são construídas por palavras, referem-se a pessoas no plano ficcional, recebem predicações físicas (alto), psicológicas (corajoso), sociais (operário), podem ser simples (previsíveis, estáticas, não se transformam, também chamadas de planas, construídas de forma mais rápida e direta e referem-se, normalmente, a personagens secundárias) ou complexas (imprevisíveis, também chamadas de redondas, construídas de forma gradual, ambígua, se transformam e figuram entre as personagens centrais da história) e desempenham funções: 1)protagonista ou personagem sujeito (personagem central; se forem duas: protagonista maior e protagonista menor; se tiver predicados éticos positivos é herói, caso contrário, é anti- herói, se a predicação for ambígua, é um protagonista problemático); 2)Oponente (personagem secundária e coloca obstáculos à ação da protagonista; graças a ela temos o conflito; se disputar o mesmo objeto (um tesouro, a pessoa amada – personagem objeto -, uma ideia) da protagonista, é antagonista e se todos os predicados da antagonista forem éticos negativos, é chamada de vilão); 3)Adjuvante (auxilia a protagonista na busca do objeto, opondo-se à personagem oponente e pode mudar de função – para oponente). O termo “co-adjuvante” é utilizado para a personagem adjuvante no cinema, no teatro, na telenovela, mas na literatura o termo é “adjuvante”. TEMPO O tempo está relacionado ao período que dura a(s) cena(s) e a história. Ele pode ser: - tempo externo (é o tempo do escritor, época de sua vivência, é o tempo do leitor, época de sua vivência e o tempo histórico retratado na narrativa, que pode ou não coincidir com a época de vivência do escritor); -tempo interno (é o tempo que se localiza dentro da narrativa e envolve as relações entre a história e o discurso narrativo); -tempo cronológico (tempo da história, marcado por segundos, horas, dias, meses, elementos da natureza (sol, estações do ano, etc), etc); -tempo psicológico (quando há distorção no tempo cronológico. Ex: uma personagem está prestes a morrer e, em segundos, revive boa parte de acontecimentos essenciais de sua vida, em forma de memória.); -tempo do discurso (é a representação narrativa do tempo da história; é o tempo que o leitor leva para ler uma determinada unidade narrativa); -tempo de retrocesso (flashback, inserção de fatos ocorridos antes do tempo cronológico em que se está na narrativa); -tempo de antecipação (inclusão de fatos que ainda acontecerão); -tempo de encadeamento (quando uma sequência é ligada à outra; não é necessário detalhar tudo: ex: alguém saindo do 11 escritório e, em seguida, aparece em casa. Mas isso pode ter sido intencional, para revelar algo mais tarde.); -tempo de encaixe (sequência entrecortada. Ex: “As mil e uma noites”); -alternância (conta-se uma história e depois outra, alternadamente). Em relação à proporção do tempo, há cinco classificações: • escamoteamento (supressão de informações não relevantes ou até mesmo relevantes, mas mostradas mais tarde); • resumo (tempo da história maior que o tempo do discurso; ex: cinco anos da vida de uma personagem podem ser resumidos em um parágrafo); • discurso direto (tempo da história é igual ao tempo do discurso, pois o tempo que as personagens levam para falar é o mesmo que o leitor leva para ler); • análise (o tempo da história é menor que o tempo do discurso, é mais lento, mais demorado); • digressão (distanciamento do narrador em relação ao que estava narrando; permite a inserção de comentários). ESPAÇO Espaço é o local/ambiente em que se passa a história. Ele pode ser: -espaço físico (o local); -espaço social (ambiência social pela qual circulam os personagens); -espaço psicológico (atmosferas interiores). Exemplo: uma personagem vítima de uma crise socioeconômica (espaço social) que, devido a isso, fecha-se em seu quarto (espaço físico), tornando-se introspectiva (espaço psicológico). -espaço referencial (aquele em que o leitor busca correspondências com a realidade); -espaço textual (palavras escritas que provocam o efeito do real); Comentário: sob o ponto de vista do espaço referencial, apenas, não seria possível que um indivíduo se transformasse numa borboleta, mas sob a ótica textual, isso pode acontecer graças às estratégias discursivas que garantem a coerência interna. O espaço pode ser apresentado de duas formas: -apresentação simultânea do espaço (no cinema, no teatro, etc); -apresentação sucessiva do espaço (ou se descreve o espaço ou as ações das personagens). ENREDO Sequência de ações que compõem a história. O conto pode ter um, dois ou mais episódios. 12 O quadro acima mostra os elementos da narrativa. Este material direciona o trabalho para contos e, uma vez que o conto é uma forma de narrativa, torna-se necessário observá-los. Logo abaixo, há outro quadro com a estrutura da narrativa. Há narrativas que seguem a ordem apresentada. No entanto, há narrativas que começam, por exemplo, pelo clímax, pelo desfecho, etc. SITUAÇÃO INICIAL Situação inicial é aquela em que há apresentação dos personagens e ainda não aconteceu o conflito. CONFLITO Conflito é o momento em que um problema é instalado na narrativa. DESENVOLVIMENTO Desenvolvimento é o momento em que os personagens se movimentam de modo a resolver o problema instalado. CLÍMAX É o momento mais emocionante da narrativa e o enredo está prestes a ter um desfecho. DESFECHO É a resolução do conflito que foi instalado e, com o desfecho, a situação inicial se estabelece ou fica semelhante. A classificação acima se enquadra naquela muito utilizada e denominada de “começo, meio e fim”, mas permite descrever melhor a estrutura da narrativa que estiver em análise. ATIVIDADE 4 Estudos sobre o surgimento do conto no Brasil e sobre Machado de Assis. � A próxima parte mostrará um pouco sobre o surgimento do conto no Brasil. O professor utilizará as informações nela presentes e poderá incluir outras. É importante conhecer um pouco sobre o início da produção desse gênero textual no Brasil e sobre seu maior representante: Machado de Assis. 13 MACHADO DE ASSIS E O CONTO Origem do conto no Brasil Não há uma data exata que fixe o marco inicial do conto no Brasil. No início, esse gênero não teve muito prestígio porque o romance estava em evidência, no século XIX. Na época, os jornais publicavam textos ficcionais que mais tarde se tornariam os contos modernos (PARRINE, 2009). Para Edgar Carvalho, o ano que instaura o surgimento do conto no Brasil é 1841, com a publicação de “Duas órfãs”, de Norberto de Sousa e Silva. Tratava-se de “um folheto de 30 páginas posteriormente recolhido num volume chamado Romances e novelas (note-se bem, não “contos”)” (PARRINE, 2009, p. 474 - grifos da autora). Já para Barbosa Lima Sobrinho, o surgimento do conto no Brasil foi em 1836, com a publicação de uma espécie de gênero intermediário entre crônica e conto, “A caixa e o tinteiro”, de Justiniano José da Rocha (PARRINE, 2009). No entanto, esses marcos (discutíveis) não consideram a qualidade literária dos textos mencionados. Se esta qualidade for exigida, o conto começa com a publicação de “Três tesouros perdidos”, de Machado de Assis, em 5 de janeiro de 1858 (PARRINE, 2009). Durante a segunda metade do século XIX, a sociedade brasileira viveu mudanças significativas nas áreas política, social e econômica. Dentre as várias transformações, nessa época, houve a substituição da forma de governo, que passou do império para a república, substituiçãodo trabalho escravo pelo trabalho assalariado, as fazendas começaram a se modernizar, as cidades cresceram, as indústrias começaram a se instalar, vários bancos foram fundados, etc (MAQUERA; JOANILHO, 2010). O SURGIMENTO DO CONTO NO BRASIL E SEU MAIOR REPRESENTANTE 14 Havia, de um lado, uma classe de pessoas favorecidas financeiramente, que colocava seus filhos para frequentar escolas, faculdades e tinham contato com os jornais e revistas em circulação. Era a elite da sociedade. Por outro lado, havia uma classe de pessoas que exerciam atividades de trabalho em condições precárias, com jornada de trabalho que alcançava dezesseis horas diárias, com exploração de mão-de-obra infantil, sem regulamentação salarial. Nos grandes centros urbanos, a moradia em cortiços se multiplica. Esse é o perfil da classe operária. Nesse período surgem as primeiras greves. A visão de mundo da elite desse momento não condiz com a dos operários. As realidades são bem diferentes. Na área rural chegam os imigrantes para a substituição do trabalho que antes era feito pelos escravos negros. Eles vinham cheios de esperanças, pois muitas promessas eram feitas em seus países de origem para incentivá-los a vir. Porém, aqui se defrontaram com uma realidade bem diferente (MAQUERA; JOANILHO, 2010). Todo artista, seja ele pintor, escultor, desenhista, escritor, etc demonstra, em suas obras, o modo como vê o mundo que o cerca. Ao analisarmos uma criação artística, podemos perceber aspectos relacionados ao contexto histórico de sua produção. Com Machado de Assis, isso não é diferente. Por intermédio de seu olhar podemos resgatar costumes e perceber o funcionamento da sociedade em que ele viveu, principalmente a do grande centro urbano da época: a do Rio de Janeiro (CANTO, 2010). . A importância de Machado de Assis na instituição do conto no Brasil e as características desse gênero textual O primeiro livro de contos de Machado de Assis foi intitulado “Contos Fluminenses”, e nele havia um texto que ele próprio chamou de “romance”, era o “Miss Dollar”, escrito em capítulos. Observamos, assim, a dificuldade em classificar 15 o conto (PARRINE, 2009). Apesar da dificuldade em classificar um conto, é possível fazer certas afirmações acerca desse gênero textual. O conto tem uma extensão e uma unidade de impressão intimamente ligadas. Ele não pode ser demasiadamente longo, pois se forem necessárias duas ou mais sentadas para lê-lo, sua totalidade será perdida. Por isso, esta (a unidade) só está assegurada pela curta extensão, o que torna o tamanho do texto uma condição fundamental para se teorizar sobre o conto. E isso é percebido também por Machado de Assis (2008 apud PARRINE, 2009), em “Várias histórias”, de 1896: O tamanho não é o que faz mal a este gênero de histórias, é naturalmente a qualidade; mas há sempre uma qualidade nos contos que os torna superiores aos grandes romances, se uns e outros são medíocres: é serem curtos. (MACHADO DE ASSIS, 2008 apud PARRINE, 2009, p. 476). O comentário de Machado de Assis demonstra certa ironia (sua “marca registrada”) em relação à brevidade dos contos, pois se eles forem medíocres, o fato de serem curtos diminuirá o desencanto do leitor ao lê-lo. Há, por outro lado, dois aspectos a serem observados no trecho acima: a preocupação do autor em relação à forma (“serem curtos”) e à qualidade, ao conteúdo (“medíocres”). Além disso, Machado de Assis, de acordo com Parrine (2009, p. 479), “deixa para a última frase o desfecho da história, a inversão de expectativa em relação aos acontecimentos, mas, ainda, como uma história de detetive – gênero criado, aliás, pelo próprio Poe – a sensação de que a verdade estava à mão todo o tempo.” Isso é dito após a apresentação de alguns aspectos relacionados à análise do conto “A cartomante”, que consistem em indicar ao leitor/narratário/enunciatário, por meio de “pistas”, no início e no decorrer do texto, aquilo que se concretiza no final da história. Este recurso é próprio de histórias policiais, criadas, inicialmente, por Edgar Allan Poe (EUA, 1809-1849) e utilizado por Machado de Assis (1839-1908). Ao escrever um conto, a preocupação do autor reside no tamanho (na extensão do texto final), no conteúdo (na história a ser contada) e na forma por meio da qual a história será exposta. Essas são características fundamentais para a construção de um conto. Um conto possui duas histórias: uma que aparece num primeiro plano, e outra que é revelada aos poucos, cujo desfecho surpreende. Não se trata de uma segunda história, que só se torna “visível” por intermédio de interpretação: 16 Não se trata de um sentido oculto que dependa de interpretação: o enigma não é outra coisa senão uma história contada de um modo enigmático. A estratégia do relato é posta a serviço dessa narração cifrada. Como contar uma história enquanto se conta outra? Essa pergunta sintetiza os problemas técnicos do conto. // Segunda tese: a história secreta é a chave da forma do conto e de suas variantes. (PIGLIA, 2004 apud PARRINE, 2009, p. 482) Por isso, a análise de um conto vai muito além da observação dos elementos da narrativa: narrador, tempo, espaço, personagens e enredo e de sua estrutura: situação inicial, complicação, desenvolvimento, clímax e desfecho. É muito importante detectar estes aspectos, observá-los, refletir sobre eles, mas é ao estabelecer outras relações que se percebem os efeitos de sentido do conto e a maestria de seu autor. É preciso desvelar, por exemplo, a quebra da linearidade temporal e sua retomada (quando houver), o foco narrativo, as evidências de que há algo não revelado, a surpresa ao descobrir que houve um encaminhamento para se pensar isso ou aquilo, mas, na verdade, os fatos eram outros, a escolha lexical, a temática, etc. Ou seja, os contos possuem características comuns, como os elementos e os componentes da estrutura da narrativa, mas cada um possui um arranjo singular, que o torna único e valioso. Definir conto não é tarefa fácil. Parrine (2009, p. 483) afirma que: Machado não previu o que seria dito a respeito do conto, mas o determinou. O que pensamos a respeito do gênero, hoje, não só na teoria literária, como de uma forma ainda mais geral, nossa resposta à questão posta ainda no século XIX, “o que é o conto?” está moldada profundamente pelas noções de Machado. Se ele decidiu responder a essa pergunta, não de forma direta, mas demonstrando os limites do conto, trabalhando sua organicidade e atingindo o máximo efeito, nossas teorias do conto estão invariavelmente moldadas pelas suas realizações. O que significa criar o conto no Brasil é exatamente isso: que quando, um dia, se disser “conto”, ou se discorrer a respeito disso, se está pensando necessariamente em Machado (PARRINE, 2009, p. 483). Assim sendo, convém ressaltar que a escolha de dois contos de Machado de Assis para o desenvolvimento deste trabalho não foi por acaso. 17 Breve biografia de Machado de Assis Machado de Assis (1839-1908) nasceu numa família desprovida de recursos financeiros, sua mãe era mestiça e isso o coloca em desprestígio social, pois a escravidão ainda acontecia oficialmente no Brasil. Na infância perdeu sua mãe e foi criado por sua madrasta, dividiu seu tempo de estudos com o trabalho de vender doces. Esses fatos são indicadores de que Machado de Assis passou por muitas dificuldades e não teve um direcionamento para o mundo das letras. Sua astúcia com as palavras se desenvolveu por seu interesse próprio. Tornou-se leitor assíduo de grandes nomes da literatura universal, aprendeu francês com a dona de uma padaria da região em que morava e se transformou nesse grande nome da literatura brasileira (SOUZA, 2008). ATIVIDADE 5 Leitura do conto “A carteira”, de Machado deAssis. � Leia o conto abaixo, silenciosamente. AAA CCCAAARRRTTTEEEIIIRRRAAA ...De repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá-la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo: — Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez. — É verdade, concordou Honório envergonhado. Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou-se. Começou pelas contas de 18 lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma voragem. — Tu agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e familiar da casa. — Agora vou, mentiu o Honório. A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por desgraça perdera ultimamente um processo, em que fundara grandes esperanças. Não só recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais. D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar de prosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política. Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era. — Nada, nada. Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças voltavam com facilidade. A idéia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto para a luta. Estava com trinta e quatro anos; era o princípio da carreira: todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar, pedir fiado ou: emprestado, para pagar mal, e a más horas. A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros. Nunca demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor não lhe punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau, e Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua da Assembléia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando. Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando, andando, até o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, — enfiou depois pela Rua da Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou-se daí a pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em um Café. Pediu alguma cousa e encostou-se à parede, olhando para fora. Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lha; insinuação que lhe deu ânimo. Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinqüenta e vinte; calculou uns setecentos mil réis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram menos algumas despesas urgentes. Honório teve tentações de fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus; reconciliar-se-ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la. 19 Mas daí a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro. Contar para quê? Era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis. Honório teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da fortuna, a sua boa sorte, um anjo... Honório teve pena de não crer nos anjos... Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo. Restituí-lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal. "Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro," pensou ele. Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a carteira?... Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou ao interior; achou mais dous cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele. A descoberta entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e, naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo. Todo o castelo levantado esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de café, sem reparar que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase noite. Caminhou para casa. Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dous empurrões, mas ele resistiu. "Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer." Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado, e a própria D. Amélia o parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa. — Nada. — Nada? — Por quê? — Mete a mão no bolso; não te falta nada? — Falta-me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se alguém a achou? — Achei-a eu, disse Honório entregando-lha. Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a achara, deu-lhe as explicações precisas. — Mas conheceste-a? — Não; achei os teus bilhetes de visita. Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou novamente a carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor. Obra de domínio público. Disponível em : < http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000169.pdf > Acesso em: 09 jun. 2013. ATIVIDADE 6 Exploração de aspectos formais do conto “A carteira”, de Machado de Assis. 20 � Observe a formatação, a disposição gráfica e os sinais de pontuação utilizados no conto “A carteira”, de Machado de Assis, e resolva as questões propostas. 1)Quantos parágrafos há no texto? Numere-os, colocando aqui o total encontrado.___________________________________________________________________ 2)O texto contém travessões no início de alguns parágrafos. Indique os números dos parágrafos iniciados por eles e depois responda: por que foram utilizados os travessões? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3)Por que será que o texto tem início com reticências? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 4)Há dois parágrafos que têm início com aspas. Quais são eles? E por que será que as aspas foram utilizadas nesse caso? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 5)O texto é um poema? Como sabemos? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ATIVIDADE 7 Nova leitura do conto “A carteira”, de Machado de Assis e resolução de exercícios que envolvem interpretação/compreensão. � O conto “A carteira” foi dividido em partes para que você releia cada uma delas e resolva as questões propostas. 21 A CARTEIRA A CARTEIRA O conto “A carteira”, de Machado de Assis, foi publicado originalmente na obra “A estação”, em 1884, e posteriormente compilado no segundo volume de “Contos fluminenses”. Depois de reler o conto “A carteira”, de Machado de Assis, resolva os exercícios propostos: PARTE 1 Leia o trecho a seguir e depois faça o que se pede: ...De repente, Honório olhou para o chão e viu uma carteira. Abaixar-se, apanhá- la e guardá-la foi obra de alguns instantes. Ninguém o viu, salvo um homem que estava à porta de uma loja, e que, sem o conhecer, lhe disse rindo: — Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez. — É verdade, concordou Honório envergonhado. Agora responda, de acordo com o trecho acima: 1)Quem “viu uma carteira” e onde? ___________________________________________________________________ 2)O que foi “obra de alguns instantes”? ___________________________________________________________________ 3)O que significa o termo “o” no trecho “sem o conhecer”? Ou seja, quem não conhecia quem? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ATIVIDADES COM O CONTO “A CARTEIRA”, DE MACHADO DE ASSIS 22 4)O que o “homem que estava à porta de uma loja” quis dizer quando falou “— Olhe, se não dá por ela; perdia-a de uma vez.”? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 5)Por que Honório se sentiu envergonhado? Sabemos o motivo pelo trecho acima? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ PARTE 2 Leia o trecho a seguir e depois faça o que se pede: Para avaliar a oportunidade desta carteira, é preciso saber que Honório tem de pagar amanhã uma dívida, quatrocentos e tantos mil-réis, e a carteira trazia o bojo recheado. A dívida não parece grande para um homem da posição de Honório, que advoga; mas todas as quantias são grandes ou pequenas, segundo as circunstâncias, e as dele não podiam ser piores. Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão; baile daqui, jantar dali, chapéus, leques, tanta cousa mais, que não havia remédio senão ir descontando o futuro. Endividou- se. Começou pelas contas de lojas e armazéns; passou aos empréstimos, duzentos a um, trezentos a outro, quinhentos a outro, e tudo a crescer, e os bailes a darem-se, e os jantares a comerem-se, um turbilhão perpétuo, uma voragem. Agora responda, de acordo com o trecho acima: 1)Este parágrafo contém informações sobre Honório. Qual é a profissão dele? ___________________________________________________________________ 23 2)Como está a situação financeira dele? Por quê? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3)O que Honório precisa fazer “amanhã”? ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 4)O que significa “a carteira trazia o bojo recheado”? ___________________________________________________________________ 5)Neste parágrafo, foi utilizada a palavra “cousa”. O que significa isso? ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ 6)Quem “endividou-se”? ___________________________________________________________________ 7)De acordo com os dicionários, “voragem” significa: redemoinho no mar; abismo na terra; aquilo que é suscetível de consumir; aquilo que pode ser tragado com violência; turbilhão; etc. A última palavra do primeiro parágrafo desta parte é “voragem”. O que foi denominado de “voragem” e por quê? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________ PARTE 3 Leia o trecho abaixo e depois faça o que se pede: — Tu agora vais bem, não? dizia-lhe ultimamente o Gustavo C..., advogado e familiar da casa. — Agora vou, mentiu o Honório. A verdade é que ia mal. Poucas causas, de pequena monta, e constituintes remissos; por desgraça perdera ultimamente um processo, em que fundara grandes esperanças. Não só recebeu pouco, mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica; em todo caso, andavam mofinas nos jornais. 24 Agora responda, de acordo com o trecho acima: 1)Para quem Honório mentiu? Qual terá sido o motivo da mentira? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2)O último parágrafo desta parte revela a atuação profissional de Honório. Como está seu desempenho? Por quê? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3)No final do último parágrafo desta parte aparece o trecho “andavam mofinas nos jornais”. De acordo com os dicionários, “mofinas” pode significar “difamando”. Quem estava sendo difamado nos jornais e por que motivo? ___________________________________________________________________ 4)Observe o trecho: “mas até parece que ele lhe tirou alguma cousa à reputação jurídica”. Assinale a alternativa correta: o termo destacado (“ele”) refere-se a: a)( )Honório b)( )à causa que Honório perdeu c)( )Gustavo C... PARTE 4 Leia o trecho abaixo e depois faça o que se pede: D. Amélia não sabia nada; ele não contava nada à mulher, bons ou maus negócios. Não contava nada a ninguém. Fingia-se tão alegre como se nadasse em um mar deprosperidades. Quando o Gustavo, que ia todas as noites à casa dele, dizia uma ou duas pilhérias, ele respondia com três e quatro; e depois ia ouvir os trechos de música alemã, que D. Amélia tocava muito bem ao piano, e que o Gustavo escutava com indizível prazer, ou jogavam cartas, ou simplesmente falavam de política. Agora responda, de acordo com o trecho acima: 1)Quem é D. Amélia? ___________________________________________________________________ 25 2)Que habilidade tinha D. Amélia? E quem tinha admiração por essa habilidade dela? Justifique sua resposta. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3)De acordo com dicionários, “pilhéria” pode significar: algo que se diz com a intenção de causar humor, graça, ou, até mesmo, bobagem. Sabendo disso, quem dizia mais pilhérias e a quem? Justifique sua resposta. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 4)Como era a relação dos dois homens retratados até aqui? Justifique. ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 5)Quem “fingia-se tão alegre”? ___________________________________________________________________ PARTE 5 Leia o trecho abaixo e depois faça o que se pede: Um dia, a mulher foi achá-lo dando muitos beijos à filha, criança de quatro anos, e viu-lhe os olhos molhados; ficou espantada, e perguntou-lhe o que era. — Nada, nada. Compreende-se que era o medo do futuro e o horror da miséria. Mas as esperanças voltavam com facilidade. A idéia de que os dias melhores tinham de vir dava-lhe conforto para a luta. Estava com trinta e quatro anos; era o princípio da carreira: todos os princípios são difíceis. E toca a trabalhar, a esperar, a gastar, pedir fiado ou: emprestado, para pagar mal, e a más horas. Agora responda, de acordo com o trecho acima: 1)No trecho acima, descobrimos que o casal tinha uma filha de quatro anos. Quem estava “dando muitos beijos à filha”? E por que estavam “os olhos molhados”? 26 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2)No trecho acima descobrimos a idade de quem? ___________________________________________________________________ 3)Por que as “esperanças voltavam com facilidade”? E essas esperanças alimentavam quais atitudes? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ PARTE 6 Leia o trecho abaixo e depois faça o que se pede: A dívida urgente de hoje são uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis de carros. Nunca demorou tanto a conta, nem ela cresceu tanto, como agora; e, a rigor, o credor não lhe punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau, e Honório quer pagar-lhe hoje mesmo. Eram cinco horas da tarde. Tinha-se lembrado de ir a um agiota, mas voltou sem ousar pedir nada. Ao enfiar pela Rua da Assembléia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando. Agora responda, de acordo com o trecho acima: 1)Quem estava devendo “uns malditos quatrocentos e tantos mil-réis”? E qual é o motivo da dívida? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2)Por que ele tem pressa em pagar a dívida? ___________________________________________________________________ 3)Observe o trecho: “Tinha-se lembrado de ir a um agiota”. Você sabe o que significa a palavra destacada? Se não souber, pesquise. Qual terá sido o motivo de ele ter pensado em “ir a um agiota”? O que ele teria pensado em pedir? E por que “voltou sem ousar pedir nada”? ___________________________________________________________________ 27 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 4)A última frase desta parte nos revela mais alguns dados. Quem vinha de onde? Ele achou outra carteira no chão? Explique. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ PARTE 7 Leia o trecho abaixo e depois faça o que se pede: Durante os primeiros minutos, Honório não pensou nada; foi andando, andando, andando, até o Largo da Carioca. No Largo parou alguns instantes, — enfiou depois pela Rua da Carioca, mas voltou logo, e entrou na Rua Uruguaiana. Sem saber como, achou-se daí a pouco no Largo de S. Francisco de Paula; e ainda, sem saber como, entrou em um Café. Pediu alguma cousa e encostou-se à parede, olhando para fora. Tinha medo de abrir a carteira; podia não achar nada, apenas papéis e sem valor para ele. Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lha; insinuação que lhe deu ânimo. Agora responda, de acordo com o trecho acima: 1)A inquietude de Honório ao apanhar a carteira fica bastante evidente. O que ele fez que demonstra isso? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 2)Qual foi o maior motivo de sua inquietude? 28 ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 3)Quem “Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lha”? ___________________________________________________________________ 4)Observe o trecho: “e convidavam-no a ir pagar a cocheira”. O que é “cocheira”? Assinale a alternativa que contém a resposta correta. a)Cocheira é um local cheio de vasilhas nas quais se colocam água para o gado. b)Cocheira é um local onde se alojam cavalos e, neste caso, é sinônimo de estrebaria. c)Cocheira é uma mulher que fabrica cochos (vasilhas nas quais sés colocam água para o gado). PARTE 8 Leia o trecho abaixo e depois faça o que se pede: Tudo isso antes de abrir a carteira. Tirou-a do bolso, finalmente, mas com medo, quase às escondidas; abriu-a, e ficou trêmulo. Tinha dinheiro, muito dinheiro; não contou, mas viu duas notas de duzentos mil-réis, algumas de cinqüenta e vinte; calculou uns setecentos mil réis ou mais; quando menos, seiscentos. Era a dívida paga; eram menos algumas despesas urgentes. Honório teve tentações de fechar os olhos, correr à cocheira, pagar, e, depois de paga a dívida, adeus; reconciliar-se-ia consigo. Fechou a carteira, e com medo de a perder, tornou a guardá-la.Mas daí a pouco tirou-a outra vez, e abriu-a, com vontade de contar o dinheiro. Contar para quê? Era dele? Afinal venceu-se e contou: eram setecentos e trinta mil-réis. Honório teve um calafrio. Ninguém viu, ninguém soube; podia ser um lance da fortuna, a sua boa sorte, um anjo... Honório teve pena de não crer nos anjos... Mas por que não havia de crer neles? E voltava ao dinheiro, olhava, passava-o pelas mãos; depois, resolvia o contrário, não usar do achado, restituí-lo. Restituí-lo a quem? Tratou de ver se havia na carteira algum sinal. "Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro," pensou ele. Esquadrinhou os bolsos da carteira. Achou cartas, que não abriu, bilhetinhos dobrados, que não leu, e por fim um cartão de visita; leu o nome; era do Gustavo. Mas então, a carteira?... Examinou-a por fora, e pareceu-lhe efetivamente do amigo. Voltou ao interior; achou mais dous cartões, mais três, mais cinco. Não havia duvidar; era dele. 29 Agora responda, de acordo com o trecho acima: 1)Honório abriu a carteira? ___________________________________________________________________ 2)O que havia na carteira além do dinheiro? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3)Por que, efetivamente, Honório acreditou que a carteira era do Gustavo? Não é possível que tenhamos o cartão de visita de alguém em nossa carteira? Explique. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 4)Como Honório ficou ao descobrir o montante de dinheiro que havia na carteira? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 5)Há algo mencionado que nos revela um aspecto religioso de Honório. O que é? Comente. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 6)De quem era a carteira? ___________________________________________________________________ PARTE 9 Leia o trecho abaixo e depois faça o que se pede: A descoberta entristeceu-o. Não podia ficar com o dinheiro, sem praticar um ato ilícito, e, naquele caso, doloroso ao seu coração porque era em dano de um amigo. Todo o castelo levantado esboroou-se como se fosse de cartas. Bebeu a última gota de café, sem 30 reparar que estava frio. Saiu, e só então reparou que era quase noite. Caminhou para casa. Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dous empurrões, mas ele resistiu. "Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer." Chegando a casa, já ali achou o Gustavo, um pouco preocupado, e a própria D. Amélia o parecia também. Entrou rindo, e perguntou ao amigo se lhe faltava alguma cousa. — Nada. — Nada? — Por quê? — Mete a mão no bolso; não te falta nada? — Falta-me a carteira, disse o Gustavo sem meter a mão no bolso. Sabes se alguém a achou? — Achei-a eu, disse Honório entregando-lha. Agora responda, de acordo com o trecho acima: 1)Qual foi a descoberta que deixou Honório triste? ___________________________________________________________________ 2)Observe o trecho: “Todo o castelo levantado esboroou-se como se fosse de cartas.”. O castelo levantado representa o quê? E as cartas esboroadas representam o quê? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 3)Podemos dizer que ele foi depressa para casa? Justifique sua resposta. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 4)Observe: “Parece que a necessidade ainda lhe deu uns dous empurrões, mas ele resistiu.” Qual é a necessidade de Honório? E a que ele resistiu? ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 5)Quando Honório pensou: "Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer.", ele estava se referindo a ver o que pode fazer com o quê? 31 ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 6)Quando Honório chegou em casa, quem estava lá? ___________________________________________________________________ 7)Qual será o motivo da preocupação de Gustavo e qual será o motivo da preocupação de D. Amélia? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 8)Por que Gustavo respondeu que não faltava nada quando foi perguntado sobre isso por Honório? Ele ainda não sabia que faltava a carteira? Explique. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ __________________________________________________________________ 9)Qual é o efeito de sentido do uso de travessões? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ __________________________________________________________________ PARTE 10 Leia o trecho abaixo e depois faça o que se pede: Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. Esse olhar foi para Honório como um golpe de estilete; depois de tanta luta com a necessidade, era um triste prêmio. Sorriu amargamente; e, como o outro lhe perguntasse onde a achara, deu-lhe as explicações precisas. — Mas conheceste-a? — Não; achei os teus bilhetes de visita. Honório deu duas voltas, e foi mudar de toilette para o jantar. Então Gustavo sacou novamente a carteira, abriu-a, foi a um dos bolsos, tirou um dos bilhetinhos, que o outro não quis abrir nem ler, e estendeu-o a D. Amélia, que, ansiosa e trêmula, rasgou-o em trinta mil pedaços: era um bilhetinho de amor. 32 Agora responda, de acordo com o trecho acima: 1)Por que Gustavo olhou para Honório desconfiado? ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 2)Por que Honório sentiu aquele olhar desconfiado como se fosse “um golpe de estilete”? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________3)Quem perguntou “- Mas conheceste-a?”? E ao perguntar isso, o que ele queria saber se o outro conhecia? Explique. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ 4)O que descobrimos no final do conto? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ _________________________________________________________________ ATIVIDADE 8 Nova leitura do conto “A carteira”, de Machado de Assis e resolução de exercícios que envolvem os elementos da narrativa (narrador, personagem, tempo, espaço, enredo). 33 � Consulte a parte “Características dos contos” deste material, que tem início na página 8, para relembrar os elementos da narrativa e resolva os exercícios propostos. ATIVIDADES SOBRE O NARRADOR Os trechos abaixo servem para observar a presença do narrador no conto. Depois de observá- los, resolva os exercícios propostos (considerando, também as teorias no início deste material): 4° parágrafo: [...] Gastos de família excessivos, a princípio por servir a parentes, e depois por agradar à mulher, que vivia aborrecida da solidão. [...] 13° parágrafo: [...] Ao mesmo tempo, e esta era a causa principal das reflexões, a consciência perguntava-lhe se podia utilizar-se do dinheiro que achasse. Não lhe perguntava com o ar de quem não sabe, mas antes com uma expressão irônica e de censura. Podia lançar mão do dinheiro, e ir pagar com ele a dívida? Eis o ponto. A consciência acabou por lhe dizer que não podia, que devia levar a carteira à polícia, ou anunciá-la; mas tão depressa acabava de lhe dizer isto, vinham os apuros da ocasião, e puxavam por ele, e convidavam-no a ir pagar a cocheira. Chegavam mesmo a dizer-lhe que, se fosse ele que a tivesse perdido, ninguém iria entregar-lha; insinuação que lhe deu ânimo. 16° parágrafo: "Se houver um nome, uma indicação qualquer, não posso utilizar-me do dinheiro," pensou ele. 19° parágrafo: "Paciência, disse ele consigo; verei amanhã o que posso fazer." 27° parágrafo: Gustavo pegou dela precipitadamente, e olhou desconfiado para o amigo. [...] 1)Assinale a alternativa correta. Quem é o narrador do conto “A carteira”? a)O narrador do conto “A carteira” é Machado de Assis. b)O narrador do conto é Honório. 34 c)O narrador do conto é alguém que não participa da história. Ele apenas conta o que vê e o que os personagens pensam ou sentem. Ele está em terceira pessoa e seu foco narrativo é onisciente. d)O narrador do conto é alguém que participa da história e narra os fatos em primeira pessoa (eu). Ele narra fatos que aconteceram consigo próprio. Seu foco narrativo é limitado, só pode contar o que ele mesmo ou os outros fazem, não sabe o que os outros pensam ou sentem. 2)Assinale V para verdadeiro e F para falso. A( )O narrador do conto sabe de tudo. Ele descreve as ações de Honório e também o que se passa na mente dele, e uma das provas disso está no fragmento: “a consciência perguntava- lhe...”. B( )Podemos dizer que o narrador no conto é onisciente (aquele que sabe de tudo o que se passa com a personagem), mas essa onisciência do narrador só se aplica a Honório, pois ele (o narrador) não sabe o que se passa no interior das outras personagens. C( )O narrador pretende disfarçar sua onisciência, pois usa aspas em dois momentos que demonstra o que Honório pensa. Com esse recurso, o leitor tem a impressão de que ele (o narrador) só sabe o que a personagem pensa naqueles momentos em destaque com as aspas. D( )Desde o primeiro momento, o narrador já sabia de tudo, inclusive do desfecho do conto, que nos revela ser outro o tema abordado, mas fez o leitor crer que o tema do conto girava em torno de “devolver ou não devolver a carteira”. E( )Quando o leitor, durante a primeira leitura do conto (sem conhecer ainda o desfecho), chega no 27° parágrafo, ele é induzido, pelo narrador, a crer que Gustavo “olhou desconfiado para o amigo” porque Honório poderia ter se apropriado do dinheiro. Isso se dá pelo uso da palavra “desconfiado”. F( )É sob o olhar do narrador que o leitor é conduzido pelo texto. O foco narrativo, o ponto de vista do narrador influencia as impressões do leitor a respeito do tema abordado. ATIVIDADES SOBRE OS PERSONAGENS 1)Assinale a alternativa correta. Quem são os personagens do conto “A carteira”? a)Machado de Assis, Honório e Gustavo. b)Honório, um homem à porta de uma loja, Gustavo C... , D. Amélia, a filha de Honório e de D. Amélia, o credor (que “disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau” – 12° parágrafo), o agiota (que foi lembrado por Honório, “mas [ele – Honório] voltou sem ousar pedir nada” – 12° parágrafo) e pessoas desconhecidas na rua (transeuntes). c)Machado de Assis, Honório, um homem à porta de uma loja, Gustavo C... , D. Amélia, a 35 filha de Honório e de D. Amélia, o credor (que “disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau” – 12° parágrafo), o agiota (que foi lembrado por Honório, “mas [ele – Honório] voltou sem ousar pedir nada” – 12° parágrafo) e pessoas desconhecidas na rua (transeuntes). d)Honório, D. Amélia e Gustavo C... . 2)Assinale a alternativa correta. A expressão “pessoas desconhecidas na rua” não aparece no texto. No entanto, há pistas de que há pessoas presentes na rua, como por exemplo: a)“[...] um homem que estava à porta de uma loja [...]” (1° parágrafo) b)“[...] o credor não lhe punha a faca aos peitos; mas disse-lhe hoje uma palavra azeda, com um gesto mau. [...]” (12° parágrafo) c) “[...] Ao enfiar pela Rua da Assembléia é que viu a carteira no chão, apanhou-a, meteu no bolso, e foi andando.” (12° parágrafo) d)“[...]Ninguém viu, ninguém soube; [...]” (15° parágrafo) 3)Associe os personagens abaixo com suas características. Coloque, na primeira coluna da tabela, o número correspondente à personagem que tem a característica apresentada (pode repetir as personagens): ( ( ( ( 1111 ))))Honório ( 5 )( 5 )( 5 )( 5 )Um homem à porta de uma loja ( ( ( ( 2222 ))))D. Amélia ( 6( 6( 6( 6 ))))Agiota ( ( ( ( 3333 ))))Gustavo C... ( 7 )( 7 )( 7 )( 7 )Credores ( ( ( ( 4444 ))))A filha de Honório e de D. Amélia PERSONAGEM CARACTERÍSTICAS Nenhuma característica desses personagens é mostrada, mas, provavelmente, não veem a hora de receber seu pagamento e, devido a um deles, que o pressionou, o protagonista ficou num conflito muito intenso entre devolver ou não a carteira. Nenhuma característica física dele é apontada. Há menção apenas de sua espontaneidade e simpatia em conversar com os outros, pois ao se referir ao protagonista da história, ele “lhe disse [algo] rindo”. Ele poderia ser o dono do estabelecimento, mas não é dito. Fingia estar alegre. Não permitia que ninguém soubesse de suas angústias. O único momento relatado em que demonstrou tristeza foi quando verteu lágrimas diante da filha. Tem trinta e quatro anos de idade. Não há descrição nenhuma dessa personagem. Porém, devido à sua função, 36 que é a de emprestar dinheiro e cobrar juros mais altos que o dos bancos, supomos que seja alguém com condição financeira favorável. Era zombado pelos jornais devido a um processo que perdeu, na função de advogado. Além disso, seusclientes o procuravam por causa de pequenos serviços, que não rendiam o que ele precisava. Tem 4 anos de idade. Gostava de música alemã. É advogado. Era poupada dos assuntos financeiros. Não sabia o que se passava com o marido. Personagem que “vivia aborrecida da solidão”. Temia o futuro. Sentiu-se triste pela desconfiança do amigo. Era corno, não sabia e não ficou sabendo. Era bem sucedido em sua carreira profissional, a julgar pela quantia de dinheiro que havia em sua carteira. Era inescrupuloso, pois frequentava a casa do amigo e tinha um caso com a esposa dele. Tem quatro anos de idade. 4)Escreva sobre esta colocação: não parece contraditório: a esposa “vivia aborrecida da solidão” (4° parágrafo), mas o marido estava endividado, dentre outros motivos, para agradá-la com bailes, jantares, acessórios supérfluos, etc? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 5)Responda: por que aparece somente a primeira letra do sobrenome do Gustavo C... ? Qual é o efeito do uso desse recurso em nós leitores? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 37 6)Responda: quem é a personagem protagonista do conto? ___________________________________________________________________ 7)Responda: Honório pode ser classificado como personagem plano (simples, previsível, que não se transforma) ou complexo (imprevisível, também chamado de personagem redondo, que se transforma no decorrer da história)? Justifique sua resposta. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 8)Responda: D. Amélia pode ser classificada como personagem plana (simples, previsível, que não se transforma) ou complexa (imprevisível, também chamada de personagem redonda, que se transforma no decorrer da história)? Justifique sua resposta. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 9)Responda: Quais personagens podem ser considerados secundários no conto? ___________________________________________________________________ 10)Responda: qual personagem pode ser considerada como oponente (personagem que coloca obstáculos à ação da protagonista; graças ao oponente temos o conflito; se disputar o mesmo objeto (um tesouro, a pessoa amada – personagem objeto -, uma ideia) do protagonista, é antagonista)? E esse personagem oponente é antagonista? Justifique sua resposta. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 38 11)Responda: há, no conto, algum objeto disputado? Explique. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 12)Descreva os personagens abaixo (reflita, inclusive, sobre seus nomes): a)Honório: __________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ b)Gustavo C...: ______________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ c)D. Amélia: _________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 39 ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ATIVIDADES SOBRE O TEMPO 1)Assinale V para verdadeiro e F para falso: A( )O conto “A carteira”, de Machado de Assis, foi escrito na segunda metade do século XIX, momento em que o autor vivia. Esse momento é o tempo externo ao conto, é a época de vivência do autor. Como o conto foi escrito no “momento atual” do autor, de sua época, o tempo histórico retratado no conto é o da sociedade da segunda metade do século XIX. B( )O contexto histórico da época do autor do conto “A carteira”, de Machado de Assis, é o mesmo da época do leitor de hoje. C( )O tempo interno da narrativa é aquele que se localiza dentro da narrativa. D( )Ao compararmos o tempo de leitura do conto “A carteira”, de Machado de Assis, com o tempo que dura a história lida, percebemos
Compartilhar