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1 Ética e Tecnologia 2019 2 COLETÂNEA FORMAÇÃO SOCIOCULTURAL E ÉTICA EAD (MÓDULO 52) Disponível em: http://www.accept.com.br/blog/inovacao/o-futuro-da-ti/ ORGANIZADORES Adriana Pacheco do Amaral Mello Claudineia Cristina Valim Cristiane de Oliveira Alves Diego Luiz Miiller Fascina Márcio Ricardo Dias Marosti Marta Ferreira Gomes de Lima COORDENAÇÃO Fabiane Carniel 3 Sumário Apresentação .....................................................................................................................................................................04 Considerações iniciais ......................................................................................................................................................05 O que é tecnologia?...........................................................................................................................................................06 A visão de mundo de Martin Heidegger...........................................................................................................................10 “Nossos engenheiros não estudaram filosofia temos que ajudá-los”..........................................................................14 Senadores dos EUA propõem lei contra algoritmos preconceituosos.........................................................................15 Grandes invenções da humanidade são exibidas em plataforma gratuita...................................................................16 Lei geral de proteção de dados.........................................................................................................................................19 Algoritmo identifica mensagens suicidas pelo twitter....................................................................................................25 TSE emitirá identidade digital a partir do 2º semetre de 2019........................................................................................27 Projeto Lockheed Martin quer levar humanos a Lua em 2024.......................................................................................28 Como algoritmo criado por jovem possibilitou a primeira foto de buraco negro........................................................29 O uso da tecnologia na saúde...........................................................................................................................................33 Desenvolvimento e inovação: saúde como oportunidade.............................................................................................36 “Tecnologia na educação tem sido usada de forma errada”, diz especialista.............................................................37 Agricultura digital, sustentabilidade e tecnologia...........................................................................................................39 Charges...............................................................................................................................................................................45 Música..................................................................................................................................................................................48 Filmes..................................................................................................................................................................................49 Considerações finais..........................................................................................................................................................50 4 Apresentação A Formação Sociocultural e Ética (FSCE) compõe um dos Projetos de Ação da UniCesumar, cujo principal objetivo é aperfeiçoar habilidades e estratégias de leitura fundamentais para seu desempenho pessoal, acadêmico e profissional. Nesse sentido, esta disciplina corresponde à missão institucional, a qual consiste em “Promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária”. Conforme slogan da FSCE, “Quem sabe mais faz a diferença!”, o conhecimento adquirido por meio da leitura é a mola propulsora capaz de formar e transformar sujeitos passivos em cidadãos ativos, preparados para fazer a diferença na sociedade como um todo. Na FSCE, você terá contato com vários assuntos e fatos que ocorrem na sociedade atual e que devem fazer parte do repertório de conhecimentos de todos os que buscam compreender criticamente seu entorno social, nacional e internacional. Em síntese, no intuito de atender ao objetivo desta disciplina, a FSCE está dividida em cinco grandes eixos temáticos: Ética e Sociedade – Ética Política e Economia – Ética Cultura e Arte – Ética Ciência e Tecnologia – Ética e Meio Ambiente, sendo que nos dois primeiros eixos estão incluídos temas complementares e pertinentes propostos pelo Observatório Social do Brasil. Na disciplina FSCE II, que você cursará neste módulo, ocorrerão três eixos, que são Ética e Tecnologia, Ética e Ciência, Ética e Meio Ambiente. Este material, também chamado de Coletânea, é o principal instrumento de estudo da FSCE. Recebe o nome de Coletânea porque reúne vários gêneros textuais criteriosamente selecionados para estimular sua reflexão e análise pontuais. Textos retirados de diferentes fontes, com a finalidade de abordar recortes temáticos relacionados aos conteúdos de cada eixo supracitado. Tem como principal objetivo ser um material de apoio à sua formação geral, servindo-lhe de estímulo à leitura, interpretação e produção textual. Uma Coletânea como esta é organizada a cada duas semanas, ou seja, a realização completa desta disciplina ocorre no período de 10 semanas. Cada Coletânea apresenta-se, inicialmente, com uma introdução, seguida por aspectos relacionados à leitura, interpretação e/ou escrita, os quais antecedem a apresentação dos diversos textos referentes aos respectivos eixos. A sequência de textos normalmente é finalizada com os gêneros: música, poesia ou frases e charges, sendo finalmente concluída com breves considerações finais. Você tem em suas mãos, portanto, uma compilação por meio da qual terá acesso a um conteúdo seleto de textos basilares para sua reflexão, aprendizagem e construção de conhecimentos valiosos. Textos compostos por fatos, notícias, ideias, argumentos, aspectos veiculados nos principais meios de comunicação do país, links de acesso a entrevistas, depoimentos, vídeos relacionados ao eixo temático, além de respaldos teóricos e práticos acerca da linguagem que poderão servir como suporte à sua vida em todas as instâncias. 5 Considerações iniciais A inserção das tecnologias nas práticas cotidianas parece fazer o tempo acelerar em todos os sentidos, especialmente, quando passamos a deixar que nossos pensamentos e comportamentos sejam, por muitas vezes, orientados pelo uso de aplicativos e pelo estabelecimento das mais diversas conexões. Ao mesmo tempo em que os avanços tecnológicos nos trazem benefícios, acabam, também, nos tornando dependentes do que poderia nos trazer liberdade, nos mais variados aspectos que permeiam nossas vidas. Esta coletânea de textos tem o propósito de apresentar a relação de temas diversos com a tecnologia, são de gêneros variados, os quais versam sobre assuntos que vão desde o que é tecnologia, valores éticos e uso de recursos tecnológicos, passando por curiosidades, leis e usos de tecnologias, dentreoutras abordagens temáticas que suscitam reflexões bastante pertinentes. Além disso, apresentamos charges, músicas, sugestões de filmes, dentre outros, que nos permitem refletir também sobre a abordagem do eixo Ética e Tecnologia. É de fundamental importância que a tecnologia continue a nos fazer avançar. Entretanto, o essencial é que, além de ter acesso constante a informações e facilidades em nosso dia a dia, possamos reconhecer a necessidade de rever nossas práticas quanto ao uso das tecnologias, como elas podem nos favorecer sem que tenhamos que agir de forma incompatível com a ética e com a moral. Além disso, que possamos refletir em que medida, os avanços tecnológicos, realmente, nos fazem progredir como sujeitos conscientes, especialmente, no que concerne a posição que ocupamos nos meios culturais, sociais, econômicos, etc. E também, o quanto isso tem feito a diferença. Desejamos bons momentos de leitura. Os organizadores. 6 O que é tecnologia? Para você, o que é, de fato, tecnologia? Para quem trabalha com computadores e todas as novidades desse mundo (como nós, do Tecmundo, por exemplo!), a tecnologia envolve o desenvolvimento de aparelhos que lidam com a distribuição da informação de forma cada vez mais veloz, abrangendo um número crescente de pessoas e realizando cálculos cada vez mais avançados. Contudo, se você falar com um biólogo, por exemplo, ele poderá lhe dizer que a tecnologia envolve a criação de ferramentas que facilitem o estudo das células e da evolução animal e vegetal. Um arqueólogo pode falar sobre a evolução das ferramentas que permitem o estudo de elementos históricos. A lista de exemplos pode seguir adiante e englobar as mais diversas áreas de desenvolvimento humano. Mas, afinal de contas, quem é que está correto nessa história toda? O fato é que ao longo da nossa evolução a tecnologia sempre existiu, inclusive confundindo-se com a nossa história e abraçando cada segmento das nossas vidas. Com tantas abordagens sobre o assunto, vale destacar um artigo tratando exclusivamente sobre ele. Confira! O conceito básico Quando tratamos de um tópico como esse, a primeira coisa que nos vem à cabeça é consultar o bom e velho dicionário. Logo, confira a seguir o que é que o Houaiss tem a nos dizer especificamente sobre o termo tecnologia. “1. Tratado das artes em geral. 2. Conjunto dos processos especiais relativos a uma determinada arte ou indústria. 3. Linguagem peculiar a um ramo determinado do conhecimento, teórico ou prático. 4. Aplicação dos conhecimentos científicos à produção em geral: Nossa era é a da grande tecnologia. T. de montagem de superfície, Inform: método de fabricação de placas de circuito, no qual os componentes eletrônicos são soldados diretamente sobre a superfície da placa, e não inseridos em orifícios e soldados no local. T. social, Sociol: conjunto de artes e técnicas sociais aplicadas para fundamentar o trabalho social, a planificação e a engenharia, como formas de controle. De alta tecnologia, Eletrôn e Inform: tecnologicamente avançado: Vendemos computadores e vídeos de alta tecnologia. Sin: high-tech.” Vale citar também a etimologia da palavra, que vem do grego e que deve ser separada em duas partes: “téchne”, que pode ser definido como arte ou ofício e “logia”, que significa o estudo de algo. Uma grande caminhada até os hologramas 7 O conceito trazido pelo dicionário vai direto ao assunto e traz um resumo que não deixa muito claro o que é a tecnologia. Assim, traduzindo o que o livro nos mostra, podemos dizer que a tecnologia é o uso de técnicas e do conhecimento adquirido para aperfeiçoar e/ou facilitar o trabalho com a arte, a resolução de um problema ou a execução de uma tarefa específica. Dessa forma, ela pode ser aplicada em diversas tarefas diferentes – aparecendo em situações que poucas pessoas consideram envolver a tecnologia. O simples aproveitamento dos recursos naturais e a transformação do ambiente ao seu favor, por exemplo, é capaz de ser considerado como um movimento tecnológico. Essa demonstração, inclusive, pode ser melhor explicada pelos nossos ancestrais. Isso porque, como dissemos acima, a evolução da tecnologia se confunde com o progresso do próprio homem. Ou seja, quando os povos primitivos começaram a transformar pedras em lâminas para cortar a madeira e caçar animais, por exemplo, já estavam conseguindo realizar avanços tecnológicos. Desde que o homem é homem Sim, a tecnologia é mais antiga do que podemos imaginar. Mesmo que cientistas e pesquisadores não sejam capazes de afirmar, ao certo, quando é que começaram a aparecer os primeiros avanços humanos nesse sentido, acredita-se que os primeiros sinais tenham surgido há mais de 50 mil anos. Há ainda quem vá bem mais longe, considerando a descoberta do fogo, por exemplo, como um sinal do início dos avanços da tecnologia. Os primeiros indícios de ferramentas criadas com pedra identificados na Etiópia seriam um marco, algo que data de mais de 2,5 milhões de anos. Com isso, ferramentas básicas, criadas com materiais extremamente rústicos, representam o que seria o período inicial do estudo da técnica. Essa abordagem, entretanto, também gera certa discussão no campo dos estudos. Isso porque a linha que separa a ciência da engenharia e da tecnologia é muito tênue. A definição trazida pelo engenheiro da Itaipu Binacional, Joao Ricardo Leal F. da Motta, mostra bem isso. Na opinião dele, “tecnologia é quando utilizamos nosso conhecimento técnico, científico e empírico para solução de problemas, através da criação de dispositivos eletroeletrônicos, softwares, novos materiais, processos de manufatura e também o seu aperfeiçoamento”. Reinventando a roda! Enquanto algumas pessoas defendem a existência de grandes diferenças entre as três áreas, há quem acredite que os três tópicos andam de mãos dadas, ou seja, são interdependentes. Esse é, inclusive, o método de análise mais popular visto entre os diversos campos de atuação. Com isso, a ciência seria o estudo de uma determinada situação, enquanto a engenharia seria o desenvolvimento dos meios para se conseguir uma evolução, representados pela tecnologia. Podemos usar como um bom exemplo disso tudo a criação da roda, considerada como uma das principais invenções da humanidade. Vamos desenvolver um cenário figurativo para ela, como se a roda tivesse sido inventada nos dias de hoje. 8 Enquanto um cientista teria estudado os movimentos das coisas e chegado à conclusão de que algo capaz de rodar poderia tornar o transporte dos objetos mais fácil, um engenheiro desenvolveu uma maneira de ela ser construída. Por fim, o estudo da técnica permitiu a melhor aplicação do seu uso, transformando as carroças de “roda quadrada” e trazendo uma evolução tecnológica para o transporte de pedras. Utilizamos a roda não só para exemplificar um cenário, mas também porque ela foi um verdadeiro marco na evolução tecnológica da humanidade. Com a sua descoberta, cerca de quatro mil anos antes de Cristo, não demorou muito para que os povos percebessem que ela facilitaria a vida de todo mundo em praticamente todos os aspectos. O transporte de mercadorias, como as colheitas ou as grandes peças de cerâmicas, por exemplo, ficou bem mais fácil, afinal de contas, com as carroças era bem mais fácil levar todas essas grandes e pesadas cargas. As mais diversas aplicações Ao longo da História, é possível até mesmo identificar como o desenvolvimento da tecnologia influenciou a nossa evolução. Nos tempos primitivos, por exemplo, destacam-se as ferramentas de pedra, a utilização da madeira, a descoberta do fogo e a utilização do metal. Já na época medievalse sobressaem as tecnologias aliadas à engenharia, como o desenvolvimento das grandes cidades, estradas e aquedutos. Tecnologias têxteis e militares também começaram a se desenvolver cada vez mais, assim como a utilização da prensa e a evolução da exploração marítima – a qual culminou na descoberta de outros continentes, como o nosso. Logo em seguida, a revolução industrial, como não poderia deixar de ser, provocou um verdadeiro “boom” no mundo do estudo da técnica. Diversos ramos, principalmente o fabril, começaram a encontrar maneiras de facilitar e agilizar a resolução de tarefas e problemas, objetivo principal da tecnologia. Com tudo isso, também não demorou para que os especialistas começassem a dividir o estudo da técnica em vários campos diferentes. Assim, é possível repartir a tecnologia em campos de atuação, algo que permite um foco ainda melhor de trabalho em cada uma dessas áreas. Dessa forma, há a tecnologia de defesa, a tecnologia militar, a tecnologia de construção, a tecnologia têxtil, a tecnologia medicinal, a tecnologia educacional, a tecnologia mecânica, a tecnologia industrial, a tecnologia da informação, entre outras. 9 Para o bem e para o mal A evolução tecnológica não surgiu somente para “despertar o que há de melhor” nos seres humanos. Em diversos fatores, como nos instrumentos bélicos e de guerra, por exemplo, ela também exerceu grande influência, ajudando na sua evolução e na criação de máquinas cada vez mais mortíferas. Segundo Sérgio Czajkowski Jr, professor da Universidade Positivo e do UniCuritiba, ele, como um filósofo, sente-se “na obrigação” de se posicionar de uma forma “não tão otimista” com relação à definição mais simples da tecnologia. De acordo com o professor, “mesmo sendo inegável que a tecnologia foi vital para uma ‘evolução’ da humanidade, é salutar sempre se mencionar que esta não é neutra e que nem todos os avanços tecnológicos redundaram em benefícios para toda a humanidade”. Além disso, Czajkowski também apresenta uma visão mais filosófica quando o assunto é tecnologia. Isso porque, além de mostrar que o estudo da técnica visa deixar a vida de todos um pouco mais fácil, ele também demonstra certa arrogância do ser humano com relação à natureza, pois nós estaríamos tentando “domesticar” tudo o que há ao nosso redor. Tecnologia moderna No século XX, alguns campos da tecnologia começaram a se destacar mais do que os outros, como o da tecnologia da informação. Isso aconteceu ao mesmo tempo em que alguns estudiosos, bem como a própria evolução dos idiomas, começaram a tratar a tecnologia de forma um pouco diferente. Isso se destaca em alguns países de língua alemã, por exemplo. Um estudo de Eric Schatzberg mostra que na segunda metade do século XIX houve uma drástica mudança nos discursos que definiam a chamada “Technik”, trazendo-a para uma abordagem mais voltada à engenharia aplicada à indústria moderna. Essa mudança acabou influenciando a língua inglesa e as potências que falam o idioma, como Reino Unido e Estados Unidos. Com isso, a alteração ganhou corpo e inevitavelmente o mundo todo passou a abordar a tecnologia de uma nova maneira, relacionando-a sempre aos conceitos mais sofisticados da sociedade. 10 Com o casamento da evolução da tecnologia da informação com essa mudança gradual de tratamento dado ao assunto pelos próprios estudiosos, cada vez mais a tecnologia foi sendo associada aos aspectos mais modernos – o que também resultou em diversos novos campos de estudo. Ou seja, a partir daí podemos encontrar várias novas ramificações, essas bem mais de acordo com o que estamos acostumados a relacionar a essa chamada tecnologia. Ramos como a nanotecnologia, a computação ou a robótica, além de vários outros, passaram a trazer o significado “mais aceito” para o termo. É por isso que hoje tecnologia é sinônimo de aparelhos cada vez mais inteligentes, sofisticados e rápidos, como o seu computador, tablet ou smartphone. No entanto, não é nada errado dizer que um arco e flecha, por exemplo, também são tecnologia. Disponível em: https://www.tecmundo.com.br/tecnologia/42523-o-que-e-tecnologia-.htm . Acesso em: 25 abr 2019. ________________________________________________________________________________ A visão tecnológica de mundo de Martin Heidegger Por Breno Perdigão Martin Heidegger (1889-1976) nasceu em Messkirch, na Alemanha, em 26 de setembro e veio a óbito no dia 26 de maio, aos 86 anos. Ele estava entre os pensadores mais importantes do século XX e apesar de não ser listado como um filósofo da tecnologia, sua importância para a ciência, tecnologia e ética foi de grande valor para o desenvolvimento posterior destes campos. Segundo o professor Mark Blitz, sua análise tornou-se um texto básico para aqueles preocupados com o poder e o domínio da tecnologia contemporânea. Direta e indiretamente, o pensamento de Heidegger influenciou diversos pensadores e ativistas que, em nome do meio ambiente, se opuseram à crescente industrialização e mecanização. Dentre suas muitas contribuições, podemos fazer menção de três ideias fundamentais da visão tecnológica de mundo de Heidegger, que nos auxiliarão na formulação de uma resposta clara para a questão: o que é tecnologia de acordo com Heidegger? Para este notável pensador, a tecnologia era a chave para entender nosso tempo atual. Em seu livro “Die Frage nach der Technik”, apresentado nas primeiras versões da década de 1940 e publicado em 1954 (tradução inglesa, The Question 11 about Technology, 1977), ele apresenta três respostas principais para essa questão que serão abordadas nesta breve introdução. A Tecnologia “não é um instrumento” Vamos iniciar olhando para a primeira afirmação de Heidegger, qual seja, “a tecnologia não é um instrumento”. Para ele, ver as tecnologias como apenas um instrumento neutro já é uma maneira bastante tecnológica de olhar o mundo. Em última análise, a tecnologia não é um instrumento, mas é uma maneira de entender o mundo. O fato de vermos as coisas como um instrumento neutro, ou, de forma instrumental revela uma maneira bastante tecnológica de olhar o mundo, ou seja, já pensamos em termos de exercer poder sobre a natureza. A tecnologia não pode ser considerada um instrumento, mas uma maneira de entender o mundo. Uma boa maneira de compreender essa diferença é olharmos o exemplo clássico que Heidegger fornece sobre a geração de energia. Enquanto um moinho de vento depende sempre da existência de vento para o seu funcionamento, não forçando o mesmo a se mostrar como fornecedor de energia, uma hidrelétrica barra o curso das águas e põe o rio à disposição da criação de eletricidade, forçando-o a funcionar como um fornecedor de energia. Construímos hidrelétricas porque interpretamos o rio como algo tecnológico, algo como uma matéria-prima pronta para manipulação. Neste primeiro ponto, Heidegger apresenta a essência da tecnologia como a maneira pela qual as coisas se apresentam no mundo contemporâneo, ou seja, como uma “reserva permanente” a ser manipulada ou rearranjada conforme aprouver o homem. O ser humano passa a se aproximar de todas as coisas ao considerar cada uma delas um “recurso” à disposição do próprio homem. Este fato se estende até o ponto em que os próprios seres humanos são vistos como recursos a serem manipulados. Esse desafio ocorre no sentido de que a energia oculta na natureza é desbloqueada, o que é desbloqueado é transformado, o que é transformado é armazenado, o que é armazenado, por sua vez, é distribuído, e o que é distribuído é reajustado. Desbloquear, transformar, armazenar, distribuir e reajustar são sempre maneiras de se revelar.E o que Heidegger quer dizer quando diz que a tecnologia é “uma maneira de revelar”? De acordo com professor Peter-Paul Verbeek, ao entrar em uma relação particular com a realidade, a mesma é “revelada” de uma maneira específica. E é exatamente neste ponto que entra a tecnologia, já que ela 12 é a maneira de revelar que caracteriza nosso tempo. A tecnologia incorpora uma maneira particular de revelar o mundo: revelação em que os humanos assumem o poder sobre a realidade. “Enquanto os antigos gregos vivenciavam a “criação” de algo como “ajudando a criar algo” – como Heidegger explica ao analisar textos e palavras clássicas -, a tecnologia moderna é antes um “forçar-se a ser”. A tecnologia revela o mundo como matéria-prima disponível para produção e manipulação”. A Tecnologia “não é uma atividade humana” Este segundo ponto do pensamento de Martin Heidegger pode soar um pouco intrigante devido ao fato de que nos parece óbvio que todos os sistemas e dispositivos tecnológicos em nosso mundo são o resultado de ações humanas. A tecnologia “não é uma atividade humana”, mas se desenvolve além do controle humano. É necessário recordarmos que, como vimos, a tecnologia é uma maneira de entender o mundo e, desta forma, Heidegger defende que nós não decidimos como entendemos este mundo ao nosso redor. Vivemos em uma era específica, onde existem “estruturas de interpretação que não escolhemos”. Heidegger nos permite pensar em como a tecnologia nos ajuda a interpretar o mundo. Val Dusek, autor de importantes livros no campo da filosofia da tecnologia, defende que, para Heidegger “a tecnologia moderna define a época presente da humanidade exatamente como a religião definia a orientação para o mundo da Idade Média” e, a partir disto, como vimos anteriormente, “toda a natureza torna-se uma ‘reserva de prontidão [ou reserva permanente]’, uma fonte de recursos, em particular uma fonte de energia”. Segundo Heidegger, existe algo de errado com a moderna cultura tecnológica em que vivemos hoje, em que a realidade só pode estar presente como matéria-prima (como uma “reserva permanente”). Este estado de coisas não foi provocado pelos humanos, antes, nossa compreensão do mundo – ou do “ser”, do que significa “ser” – se desenvolve através dos tempos. “O homem não controla esse evento, mas em vez disso é controlado por ele”. Em nossa atual conjuntura, o “ser” tem o caráter de uma “estrutura” tecnológica, da qual os humanos abordam o mundo de maneira dominante e controladora. “O mundo dos artefatos modernos sempre está preso a, ou em disposição de manipular, consumir ou descartar”. A Tecnologia é “o maior perigo” A terceira alegação de Heidegger é que a tecnologia é “o maior perigo”, conduzindo-nos a ver o mundo através apenas do pensamento tecnológico. Ela não é simplesmente perigosa, mas é considerada o maior perigo primeiramente porque podemos ver a nós mesmos, e nossos 13 semelhantes, como matéria-prima a ser manipulada. A partir disso, deixamos de ver o homem como imagem e semelhança de Deus. Perceba que já estamos falando de “recursos humanos”. Mas o mais importante, segundo a visão de Heidegger é a constatação de que não há escapatória diante da vontade tecnológica de poder e controle. O próprio ato de querermos avançar para uma nova interpretação do ser é uma operação ou interação tecnológica. Nas palavras de Verbeek, “manipularíamos nossa manipulação, exercendo poder sobre nossa maneira de exercer o poder”. Isto apenas nos leva a confirmar a interpretação tecnológica do ser nos parâmetros heideggerianos. A única saída deste dilema, para Heidegger é “a vontade de não querer”. “Precisamos abrir a possibilidade de confiar em tecnologias sem nos escravizar e vê-las como manifestações de uma compreensão do ser.” “Toda tentativa de desenvolver uma nova compreensão do mundo é uma forma de exercer poder sobre a morte sobre a posição do mundo. Por isso, tentamos superar a vontade de poder, exercendo poder sobre a vontade de poder. Toda tentativa de sair dele nos joga de volta para ela. Toda tentativa de superar a vontade de poder só mostra quão profunda ela é. Não há escapatória. A única saída, diz Heidegger, pode ser uma atitude do que você chamaria de liberdade, dizendo sim e não ao mesmo tempo”. Diante da incapacidade humana de poder “influir sobre esta engrenagem do curso inevitável das coisas”, em uma entrevista concedida à revista alemã Der Spiegel, em 23 de setembro de 1966, Heidegger pronuncia a famosa frase “Já só um deus nos pode ainda salvar”. O trabalho não busca simplesmente o desenvolvimento de uma nova tecnologia para solucionar os problemas dos projetos de engenharia, mas vê o problema como metafísico. Por fim, o fragmento a seguir apresenta a análise de Heidegger sobre o que é a tecnologia e como ela está posicionada em nosso mundo: “Assim, pois, a essência da técnica também não é de modo algum algo técnico. E por isso nunca experimentaremos nossa relação para com a sua essência enquanto somente representarmos e propagarmos o que é técnico, satisfazermo-nos com a técnica ou escaparmos dela. Por todos os lados, permaneceremos, sem liberdade, atados a ela, mesmo que a neguemos ou a confirmemos apaixonadamente. Mas, de modo mais triste, estamos entregues à técnica quando a consideramos 14 como algo neutro, pois essa representação, a qual hoje em dia especialmente se adora prestar homenagem, nos torna completamente cegos perante a essência da técnica”. Disponível em:https://www.cristaosnaciencia.org.br/recursos/filosofia-da-tecnologia-breve-introducao-a-tradicao- transcendentalista-parte-01/ . Acesso em: 05 abr 2019. “Nossos engenheiros no Google não estudaram filosofia, temos que ajudá-los”, Jen Gennai. Por Virginia Collera Ética e tecnologia devem estar mais juntas do que nunca, diz esta engenheira irlandesa. E essa é sua missão no Google: garantir que a inovação não seja sinônimo de transgressão Em sua escola, em Dublin, Jen Gennai tinha um professor de matemática que não tolerava que ela tirasse menos do que 10 em sua matéria. Ela, repetia o professor, não podia se permitir uma nota mais baixa. “Foi uma grande injeção de confiança, principalmente, considerando que, em geral, a sociedade ditava que as mulheres não podiam ser boas em matemática.” Na universidade ela se matriculou em uma dupla graduação, que combinava engenharia e negócios. No Trinity College de então, lembra, nas aulas de engenharia, 90% eram homens. “No começo senti orgulho. As garotas que estavam lá eram reconhecidas como mais fortes que as outras, mas não demorei muito para perceber que não deveria ser assim: meus colegas não tinham essa sensação de vitória, por que nós, as garoas, a tínhamos? Não se supõe que somos iguais? Meu orgulho se transformou em aborrecimento por ser julgada pela minha condição feminina e não pelas minhas capacidades.” Naquela época começaram suas leituras sobre gênero e igualdade. “Ficou claro que havia diferenças e eu, curiosa por natureza, queria entendê-las e tentar encontrar soluções.” E precisamente essa é uma das missões de seu trabalho: Gennai – que prefere não revelar a idade – comanda a equipe de inovação responsável no Google. “Nosso objetivo é garantir que todos os nossos produtos não tenham nenhum tipo de viés de raça, gênero, orientação sexual, poder aquisitivo. Nossos usuários são muito diferentes e temos de cuidar para que essas diferenças não sejam mal interpretadas por tecnologias novas baseadas na coleta de dados do mundo real, como machine-learning e inteligência artificial”, resume. Por exemplo, evitar que, no caso do desenvolvimento de uma plataformade emprego, apenas homens sejam identificados como 15 possíveis candidatos a cargos de direção – uma vez que são os que tradicionalmente ocuparam esses cargos – ou que seus sistemas de reconhecimento de voz identifiquem sotaques diferentes ou inclusive pessoas com distúrbios da fala, como a gagueira. Os esforços do Google são parte de um clamor que, diante das fake news, abusos na privacidade dos usuários e outros efeitos indesejados, atravessam Silicon Valley: é hora de a indústria prestar atenção às implicações éticas de seus produtos. “Na comunidade tecnológica, pecamos pela ingenuidade. Agíamos convencidos de que tudo o que fazíamos seria fantástico para todos, e isso nem sempre foi verdade. Devemos assumir a responsabilidade pelo que criamos”, argumenta Gennai. Em sua opinião, as universidades devem reagir imediatamente para que a ética seja uma disciplina fundamental nos estudos tecnológicos. “No meu tempo não se falava de ética na sala de aula, mas agora sabemos o impacto dos avanços da indústria na sociedade e deve ser um assunto central, não um mero acessório em programas tão procurados como os de machine-learning." Em junho de 2018, o Google tornou públicos seus princípios de inteligência artificial, concebidos para regulamentar a pesquisa e o desenvolvimento dessa tecnologia na empresa. Agora, a tarefa de Gennai e sua equipe é garantir que esses sete mandamentos sejam cumpridos e formar os googlers. “Nossos engenheiros não estudaram filosofia e não entendem o que significa a ética em seu trabalho. Temos que ajudá-los a internalizar uma série de noções sobre o assunto para que possam aplicá-las ao seu dia a dia.” Disponível em:https://brasil.elpais.com/brasil/2019/01/28/eps/1548684447_982945.html. Acesso em: 05 abr 2019. Senadores dos EUA propõem lei contra algoritmos preconceituosos nas empresas de tecnologia A proposta ressalta o crescente interesse de Washington em regulamentar das grandes companhias do setor. Parlamentares norte-americanos propuseram uma lei que exigiria que grandes empresas de tecnologia detectassem e eliminassem quaisquer algoritmos e processos de inteligência artificial que gerassem viés e discriminação. A proposta ressalta o crescente interesse de Washington na regulamentação do Vale do Silício e vem depois de o Departamento de Habitação e Urbanismo americano acusar o Facebook por discriminação em anúncios de moradia. Intitulado 'Algorithmic Accountability Act', a proposta daria novos poderes à Comissão Federal de Comércio (FTC) e forçaria as empresas a estudarem se preconceitos raciais, de gênero são criados 16 por suas tecnologias. As regras se aplicariam a empresas com faturamento anual acima de US$ 50 milhões, às que compram e vendem informações de consumidores e às que detêm dados de mais de 1 milhão de usuários. "Os computadores estão cada vez mais envolvidos nas decisões importantes que afetam a vida dos americanos — se alguém pode ou não comprar uma casa, conseguir um emprego ou até mesmo ir para a cadeia", disse o senador democrata Ron Wyden em um comunicado de imprensa anunciando o projeto."Mas, em vez de eliminar o preconceito, com frequência esses algoritmos confiam em suposições tendenciosas ou dados que podem reforçar a discriminação contra mulheres e pessoas de cor", afirmou. O comunicado à imprensa citou como exemplo uma reportagem informando que a Amazon havia descartado um mecanismo de recrutamento automatizado que era preconceituoso contra mulheres, além da acusação do Departamento de Habitação e Urbanismo contra o Facebook. O senador Cory Booker e a deputada Yvette Clarke, ambos democratas, juntaram-se a Wyden para apresentar o projeto de lei, que pode enfrentar uma batalha difícil no Senado, controlado pelos republicanos. A Associação da Internet, que tem Amazon, Facebook, Google e outras grandes empresas de tecnologia como membros, não respondeu imediatamente a pedidos de comentário. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2019/04/11/senadores-dos-eua-propoem-lei- contra-algoritmos-preconceituosos-nas-empresas-de-tecnologia.ghtml. Acesso em: 06 abr 2019. Grandes invenções da humanidade são exibidas em plataforma gratuita Amostra "Once Upon a Try", do Google, apresenta recursos de realidade aumentada e exibe mais de 200 mil registros históricos, artefatos e vídeos. O melhor da criatividade humana para interagir e contemplar. A amostra virtual Once Upon a Try,do site Google Arts & Culture (plataforma que oferece colaboração com museus espalhados em diversos países), exibe inovações de mais de 23 países, em parceria com 110 instituições e fundações da área de ciência e tecnologia - entre elas a NASA e a Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear ( CERN). A amostra revela descobertas que vão de ferramentas antigas ao desenvolvimento da inteligência artificial. Há recursos de realidade aumentada para serem explorados, com mais de 200 mil registros históricos, artefatos e vídeos sobre grandes descobertas e invenções da humanidade, digitalizados e divididos em quase 400 exposições virtuais. Confira alguns destaques. 17 Big Bang em app de Realidade Aumentada Desenvolvido em colaboração com físicos de partículas do CERN, o aplicativo (disponível em Android e iOS) oferece realidade aumentada em 360 graus e tem como guia Tilda Swinton, atriz britânica vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por sua atuação no filme Michael Clayton (2007). O serviço oferece a oportunidade de se experimentar o nascimento do universo bem de perto. A narração é disponível em inglês, italiano, francês e alemão. Universo visual da NASA com a experiência de machine learning Por meio da realidade virtual é possível se juntar aos astronautas da NASA, Kathryn Sullivan e Charles Bolden, enquanto eles revisitam o ônibus espacial e sua missão de lançar o Telescópio Espacial Hubble em órbita. Além disso, é possível explorar um arquivo da NASA de de 127.000 fotografias históricas. A evolução da chuteira - Museu do Futebol (Brasil) A exposição conta a história da chuteira, mostra as famosas casas de artigos esportivos e como ocorreu a sua adaptação desse calçado em terras brasileiras. Além disso, também é possível conferir o estilo e as homenagens feitas aos jogadores de futebol desde 1921. Cartas de Albert Einstein para grandes cientistas franceses (Académie des Sciences, FR) Nessa exposição, você confere 100 notas de correspondência de Einstein com cientistas franceses, como Marie Curie. Digitalização de foto de Albert Einstein. 18 O primeiro mapa da América De autoria de Juan de La Cosa, um marinheiro medieval espanhol. Era costume que os documentos medievais fossem feitos a mão em couro de bezerro ou pergaminho, o que foi o caso desse mapa de 1508, que pode ser visto abaixo. O primeiro mapa das américas - Carta de Juan de la Cosa - Museu Naval. Telescópio de Galileu O crédito para a invenção do telescópio é do holandês Hans Lippershey, mas o italiano Galilei foi o primeiro a apontar a obra para o céu, identificando montanhas e crateras na lua, a Via Láctea, os anéis de Saturno e as quatro luas de Júpiter. A amostra oferece a chance de se conhecer o primeiro telescópio criado para ver o céu, em 1609-10. A maior máquina já construída, o Grande Colisor de Hádrons Quem tem curiosidade de saber como é um acelerador de partículas pode conferir no Street View do google o Grande Colisor de Hádrons, que tem 27km de comprimento e é o maior e mais potente acelerador de partículas do mundo, e a maior máquina da Terra.Por dentro do Ônibus Espacial Discovery em realidade virtual Os astronautas da NASA, Kathryn Sullivan e Charles Bolden revisitam o Ônibus Espacial Discovery e sua missão de lançar o Telescópio Espacial Hubble em órbita e você pode acompanhar tudo graças à tecnologia da realidade virtual. Em sala de aula Com o aplicativo Google Expedições, a realidade virtual permite que professores guiem alunos com coleções de artefatos interessantes em cenas 360° e com objetos 3D. Com o recurso do Street View, 19 os alunos podem viajar ao redor da Terra na Estação Espacial Internacional e conhecer o incrível observatório astronômico ao ar livre da Índia, o Jantar Mantar. Disponível em:https://revistagalileu.globo.com/Tecnologia/noticia/2019/04/grandes-invencoes-da-humanidade-sao- exibidas-em-plataforma-gratuita.html . Acesso em: 04 abr 2019. Lei Geral de Proteção de Dados Direito Digital: guia da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD - Lei nº 13.709/18) Redes sociais, cadastro de clientes, acessos diversos na era virtual. Desse modo, os indivíduos fornecem seus dados a empresas de diversos ramos e para fins ainda mais diversos. Serviços aparentemente gratuitos, que se utilizam dos dados de seus usuários como produtos, são cada vez mais insurgentes na sociedade. E cabe ao ordenamento jurídico tutelar essas novas relações. É assim então que desponta uma importante questão no conhecido direito digital. Diante da tendência de regulamentação das relações jurídico-virtuais, algo que há muito se discutia, foi editada, no Brasil, a Lei nº 13.709/18. Sucessora do Marco Civil da Internet, de 2014, a chamada Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) visa regulamentar a concessão e o uso de dados no ambiente virtual. E, por essa razão, é considerada uma grande inovação. Embora ainda não esteja em vigor, devido ao período previsto de vacatio legis, a legislação já provoca mudanças. Isto porque o tempo para sua entrada em vigor é um período de adaptação. Muitas políticas e práticas de consumo devem se alterar, neste período.Portanto, é importante entender o panorama geral da lei e suas implicações no universo jurídico. E assim, estar preparado para as modificações futuras. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais e Marco Civil da Internet A Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), publicada em agosto de 2018, é considerada a primeira lei brasileira acerca do tema. Em 2015, foi promulgada a Lei nº 12.965, também conhecida como Marco Civil da Internet. O Marco Civil da Internet foi inovador no sentido de regulamentar, juridicamente, as atividades online. Foi uma introdução importante no direito digital brasileiro, pois, até então, as relações online eram reguladas por legislações não específicas. Aplicava-se, por exemplo, legislação de direito penal, de direitos autorais e direitos da personalidade. Apesar das similaridades das relações jurídicas virtuais com aquelas já previstas na legislação brasileira, não se pode ignorar as particularidades do meio. Ainda que se tenha adaptado alguns institutos às modificações da modernidade, persistiam algumas incoerências e lacunas. Necessitava-se, portanto, de maior regulamentação no âmbito do direito digital. Assim, o Marco Civil da Internet se destacou por prever princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. No entanto, ele próprio deixava uma importante lacuna: a questão dos dados pessoais no direito digital. Reconheceu as relações jurídico-virtuais e os efeitos delas no ordenamento. Dispôs, por 20 exemplo, acerca dos crimes cibernéticos. Mas deixou de abordar como os dados fornecidos pelos usuários poderiam ser utilizados pelas empresas. Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) e Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) A inovação brasileira, de fato, é mais inspirada na inovadora legislação europeia, também de 2018. Trata-se de uma tendência mundial em face do contexto contemporâneo. Afinal, só no Brasil o número de usuários no facebook, por exemplo, ultrapassa 127 milhões. No entanto, não são apenas as redes sociais que captam dados dos usuários. Muitas atividades realizadas no meio digital, por mais inofensivas, dirigem-se a isto. Não obstante à utilização econômica desses dados, vários foram os escândalos envolvendo atividades de hackers ao longo dos últimos anos. Portanto, não apenas os dados eram revertidos em valores sem o conhecimento dos usuários. Também não se regulamentava o dever de proteção e a responsabilização por esses dados. Desse modo, visando a segurança dessas informações, viu-se a necessidade de editar legislações capazes de suprir essas lacunas. A LGPD, então, baseia-se nessa tendência inaugurada com o Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD). A legislação europeia estabelece as regras relativas ao tratamento, por uma pessoa, uma empresa ou uma organização, de dados pessoais relativos a pessoas na União Europeia. Não se aplica, contudo, a pessoas falecidas ou pessoas coletivas. Análise da Lei nº 13.709/18 Desde 2010, o tema envolvendo o direito digital tem sido discutido. Naquele ano, abriu-se consulta pública sobre o tema, e, em 2016, foi proposto o Projeto de Lei 5276/2016. Depois de 2 anos de trâmite, aprovou-se, então, a Lei nº 13.709/18. O artigo 1º da Lei Geral de Proteção de Dados dispõe: Art. 1º Esta Lei dispõe sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de direito público ou privado, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais de liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa natural. Certamente, o principal tema de destaque gira em torno do consentimento. Isto porque, em muitos casos, a concessão de direitos sobre os dados não é explícita. Desse modo, o usuário acaba por consentir tacitamente com uma cláusula de que sequer possui conhecimento. A abrangência da legislação, no entanto, vai além disso. A lei, então, aborda questões acerca dos usos desses dados, limitando as atividades das empresas e visando assegurar direitos como a liberdade, a privacidade e a personalidade, em uma adaptação das normas aos contextos atuais. Afinal como estabelece em seu artigo 17: Art. 17. Toda pessoa natural tem assegurada a titularidade de seus dados pessoais e garantidos os direitos fundamentais de liberdade, de intimidade e de privacidade, nos termos desta Lei. 21 Conceitos da LGPD Um dos pontos importantes da legislação, para o direito digital, é a preocupação em estabelecer conceitos. Sobretudo quando se fala de meios digitais, é preciso compreender os limites e significados dos termos utilizados. O que se entende por dados, por exemplo? Toda e qualquer informação fornecida?É, assim, um meio de evitar tanto equívocos, quanto possíveis alegações que visem o cerceamento dos direitos protegidos. Segundo o artigo 5º da LGPD, dados, no direito digital, podem significar: Dado pessoal – informação relacionada a pessoa natural identificada ou identificável; Dado anonimizado – dado relativo a titular que não possa ser identificado, considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e disponíveis na ocasião de seu tratamento; Dado pessoal sensível – dado pessoal sobre: origem racial ou étnica; convicção religiosa; opinião política; filiação a sindicato ou a organização de caráter religioso, filosófico ou político; dado referente à saúde ou à vida sexual; e dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural; Sujeitos e órgãos - O artigo 5º da Lei Geral de Proteção de Dados conceitua os seguintes termos, utilizados no âmbito do direito digital para definir sujeitose órgãos atuantes nas relações jurídicas: Titular – pessoa natural a quem se referem os dados pessoais que são objeto de tratamento; Agentes de tratamento: Controlador – pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, a quem competem as decisões referentes ao tratamento de dados pessoais; Operador – pessoa natural ou jurídica, de direito público ou privado, que realiza o tratamento de dados pessoais em nome do controlador; Encarregado – pessoa natural, indicada pelo controlador, que atua como canal de comunicação entre o controlador e os titulares e a autoridade nacional; Autoridade nacional – órgão da administração pública indireta responsável por zelar, implementar e fiscalizar o cumprimento desta Lei. Órgão de pesquisa: órgão ou entidade da administração pública direta ou indireta ou pessoa jurídica de direito privado sem fins lucrativos legalmente constituída sob as leis brasileiras, com sede e foro no País, que inclua em sua missão institucional ou em seu objetivo social ou estatutário a pesquisa básica ou aplicada de caráter histórico, científico, tecnológico ou estatístico; 22 Ações São ações relativas ao direito digital, conceituadas pelo artigo 5º: Tratamento – toda operação realizada com dados pessoais, como as que se referem a: coleta; produção; recepção; classificação; utilização; acesso; reprodução; transmissão; distribuição; processamento; arquivamento; armazenamento; eliminação; avaliação ou controle da informação; modificação; comunicação; transferência; difusão; ou extração Anonimização – utilização de meios técnicos razoáveis e disponíveis no momento do tratamento, por meio dos quais um dado perde a possibilidade de associação, direta ou indireta, a um indivíduo; Consentimento – manifestação livre, informada e inequívoca pela qual o titular concorda com o tratamento de seus dados pessoais para uma finalidade determinada; Bloqueio – suspensão temporária de qualquer operação de tratamento, mediante guarda do dado pessoal ou do banco de dados; Eiminação – exclusão de dado ou de conjunto de dados armazenados em banco de dados, independentemente do procedimento empregado; Uso compartilhado de dados: comunicação; difusão; transferência internacional – transferência de dados pessoais para país estrangeiro ou organismo internacional do qual o país seja membro; interconexão de dados pessoais ou tratamento compartilhado de bancos de dados pessoais por órgãos e entidades públicos no cumprimento de suas competências legais, ou entre esses e entes privados, reciprocamente, com autorização específica, para uma ou mais modalidades de tratamento permitidas por esses entes públicos, ou entre entes privados; Instrumentos São os instrumentos conceituados no artigo 5º da LGPD de importância ao direito digital: Banco de dados – conjunto estruturado de dados pessoais, estabelecido em um ou em vários locais, em suporte eletrônico ou físico; Relatório de impacto à proteção de dados pessoais – documentação do controlador que contém a descrição dos processos de tratamento de dados pessoais que podem gerar riscos às liberdades civis e aos direitos fundamentais, bem como medidas, salvaguardas e mecanismos de mitigação de risco. Impactos na prática jurídica Os impactos da nova legislação são grandes, sobretudo em se tratando de direito digital. Todavia, a nova lei não impacta apenas diretamente redes sociais e afins, como se inclina a pensar. Pelo contrário, como mencionado, o uso de dados é geral.Qualquer empresa – ou negócio, como se prefira identificar – que colete dados de seus clientes e os armazene digitalmente deve observar as prescrições legais da LGPD. 23 Estão incluídos, portanto, os escritórios de advocacia. Principalmente, porque os escritórios, cada vez mais, se inserem no mundo digital, seja para a conquista e fidelização de clientes ou pela gestão do escritório. Afinal, o conceito de controlador de dados não exclui a sociedade ou os profissionais de Direito. Consentimento A importância da questão do consentimento já foi abordada anteriormente. E em uma sociedade pautada em práticas neoliberais, não poderia diferente. Em um negócio jurídico, a manifestação de vontade das partes é essencial. E por que seria diferente com a concessão de dados virtuais? Ainda que seja comum o desconhecimento do usuário acerca da concessão de seus dados, permanece a característica de um contrato. O que a Lei Geral de Proteção de Dados visa modificar, portanto, é a proteção das condições desse consentimento, uma vez que, nos contexto atuais, ele é, muitas vezes, inexistente. Nesse sentido, o artigo 8º da Lei 13.709/18 estabelece que o consentimento para uso dos dados “deverá ser fornecido por escrito ou por outro meio que demonstre a manifestação de vontade do titular”. Ou seja, as cláusulas deverão ser apresentadas aos usuários. Assim, poderão concordar expressamente com a utilização das informações coletadas. Igualmente, o consentimento poderá ser revogado a qualquer momento, como defende o parágrafo 5º do mencionado artigo: § 5º O consentimento pode ser revogado a qualquer momento mediante manifestação expressa do titular, por procedimento gratuito e facilitado, ratificados os tratamentos realizados sob amparo do consentimento anteriormente manifestado enquanto não houver requerimento de eliminação, nos termos do inciso VI do caput do art. 18 desta Lei. Dessa maneira, é facultado ao usuário, a qualquer tempo, requisitar que seus dados sejam eliminados, independentemente do consentimento fornecido em dado momento, observadas, por óbvio, as disposições legais.Cabe ressaltar, ainda, que o artigo 7º da Lei 13.709/18 prevê hipóteses independentes do consentimento, mas que, de todo modo, devem observar requisitos previstos em lei. Fiscalização Como observado, a Lei nº 13.709/18 previa a instituição de uma autoridade nacional responsável pela fiscalização da aplicação da lei. Todavia, o projeto de criação da chamada Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) foi vetado pelo então presidente Michel Temer. Apesar da previsão de uma autoridade, ainda se espera pela solução dessa lacuna. Enquanto isso, fica o Poder Judiciário responsável pela análise e observação dos dispositivos legais. Portanto, uma vez que os conflitos são levados a juízo, o papel do advogado no direito digital ganha cada vez mais importância. A área emerge, assim, como um campo promissor em demandas, sobretudo enquanto as interpretações sobre a nova legislação não forem pacificadas. Dessarte, a argumentação jurídica será essencial para o desenvolvimento do ramo. Proteção de dados jurídicos Quando os escritórios coletam dados de seus clientes, através das redes sociais, utilizadas em estratégias de networking, ou mesmo fornecidas contratualmente pelos clientes, também devem estar atentos às novas regras. Claro, não se pode ignorar as regras já existentes e pertinentes à 24 advocacia, uma vez que o próprio Estatuto da Advocacia prevê o dever do sigilo e da proteção dos dados fornecidos. Nesse sentido, o artigo 34 da Lei 8.906/94 e seu inciso VII prevê que constitui infração a violação, sem justa causa, do sigilo profissional. Do mesmo, estabelece o Código de Ética da OAB.Ainda assim, como a nova legislação acerca do direito digital influencia o cotidiano do advogado além da defesa dos casos levados a juízo? Em primeiro lugar, as estratégias de marketing jurídico e de proteção dos dados devem ser revisadas. Medidas de segurança podem ser tomadas no armazenamento, como proteção nos sites e utilização de softwares jurídicos confiáveis. Em segundo lugar, é importante cientificar aos titularesdos dados sob as possíveis utilizações de seus dados. Sanções aos controladores e operadores dos dados Com o intuito de tornar eficazes as previsões legais, a LGPD também estabelece sanções àqueles que causarem dano no tratamento dos dados pessoais. Assim, dispõe o artigo 42 da Lei 13.709/18 acerca da responsabilidade de indenização: Art. 42. O controlador ou o operador que, em razão do exercício de atividade de tratamento de dados pessoais, causar a outrem dano patrimonial, moral, individual ou coletivo, em violação à legislação de proteção de dados pessoais, é obrigado a repará-lo. § 1º A fim de assegurar a efetiva indenização ao titular dos dados: I. o operador responde solidariamente pelos danos causados pelo tratamento quando descumprir as obrigações da legislação de proteção de dados ou quando não tiver seguido as instruções lícitas do controlador, hipótese em que o operador equipara- se ao controlador, salvo nos casos de exclusão previstos no art. 43 desta Lei; II. os controladores que estiverem diretamente envolvidos no tratamento do qual decorreram danos ao titular dos dados respondem solidariamente, salvo nos casos de exclusão previstos no art. 43 desta Lei. Percebe-se portanto, que a legislação se preocupa em caracterizar a responsabilidade sobre o dano como solidária entre os agentes de tratamento (operador e controlador) quando: o operador descumprir normas de proteção de dados; o operador não seguir as instruções lícitas do controlador; o controlador estiver diretamente envolvido no tratamento realizado pelo operador e do qual resulte o dano. Cabe mencionar, por fim, que o juiz pode determinar a inversão do ônus da prova caso entenda ser verossímil a alegação do titular dos dados ou muito onerosa a prova. Exceções à responsabilidade Como o artigo 42 observa, existem exceções à responsabilidade de indenizar. Desse modo, eximem- se aqueles que comprovarem, conforme o artigo 43 da LGPD: I. que não realizaram o tratamento de dados pessoais que lhes é atribuído; 25 I. que, embora tenham realizado o tratamento de dados pessoais que lhes é atribuído, não houve violação à legislação de proteção de dados; ou I. que o dano é decorrente de culpa exclusiva do titular dos dados ou de terceiro. É importante destacar, contudo, que a lei ainda não se encontra vigente. Conforme estabelecido, somente entrará em vigor 18 meses após a sua publicação, qual seja no dia 14 de agosto de 2018. As empresas, portanto, possuem até o início de 2020 para se adaptarem às novas regulamentações. Disponível em: https://blog.sajadv.com.br/direito-digital-lei-de-protecao-de-dados/ . Acesso em: 22 abr 2019. Algoritmo identifica mensagens suicidas pelo Twitter e oferece ajuda Projeto foi feito com base em "linguagem da depressão"; no Brasil, um suicídio acontece a cada 45 minutos Por Naiara Albuquerque A Rolling Stone Brasil lançou recentemente o projeto “Algoritmo da Vida”, que busca identificar pessoas afetadas pela ansiedade ou depressão, a partir de postagens no Twitter. No ar desde fevereiro de 2019, quase 300 mil menções já foram mapeadas pela iniciativa. A ansiedade e a depressão vêm, infelizmente, ganhando força em várias partes do mundo. Segundo dados da OMS, uma pessoa comete suicídio a cada 40 segundos ao redor do globo. No Brasil, um suicídio acontece a cada 45 minutos. O principal grupo de risco são os jovens, entre 15 e 29 anos. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, o suicídio é a quarta causa mais frequente de morte entre jovens no país. Além dos dados, existem também estudos que foram publicados pela University of Reading, na Inglaterra, e da Florida State University, nos Estados Unidos, que indicam que pessoas em depressão usam um grupo de palavras específico, chamado de “linguagem da depressão”. O projeto retirou alguns exemplos dessa "linguagem da depressão" do diário de Kurt Cobain, que já mostravam que o líder do Nirvana não estava bem e precisava de ajuda. É com base nesses dados que o “Algoritmo da Vida” foi concebido. O algoritmo foi criado pela empresa Bizsys, responsável por desenvolver e programar o projeto, e tem como objetivo identificar expressões, frases e palavras que podem indicar sintomas de depressão de usuários no Twitter. 26 Fábio Palma, engenheiro eletrônico da Bizsys, explica que o projeto rastreia as postagens apenas de perfis abertos e públicos. “O Twitter é uma ferramenta em que as pessoas falam abertamente. A forma de comunicação é também bem diferente do Facebook, por exemplo”, afirma Palma. Além das mensagens, o algoritmo rastreia a periodicidade das postagens — um tipo de checagem para garantir o funcionamento do sistema. Após a checagem, o usuário é filtrado pelo algoritmo e recebe uma mensagem privada. Após algumas perguntas, o telefone do Centro de Valorização da Vida (CVV), que é referência no atendimento a pessoa com depressão, é indicado. Pádua conta que o software desenvolvido para o projeto mapeia o que as pessoas estão twittando ao vivo. Além disso, a frequência e a recorrência com que o usuário posta também são levadas em conta. “À medida que esse mesmo usuário vai postando mais frases com a mesma conotação ele vai mudando de ranking”, explica. Exemplo de perfil que recebeu ajuda do "Algoritmo da vida". Daniel Barros, coordenador médico do Núcleo de Psiquiatria Forense do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e colunista da GALILEU, foi convidado para pensar o projeto, que começou a ser concebido em dezembro de 2018. Barros foi quem auxiliou o projeto a pensar nas frases e nas palavras mais recorrentes postadas por quem sofre com a depressão. “Uma frase constante que as pessoas usam é 'eu não aguento mais'", exemplifica. Segundo o especialista, a tentativa de suicídio pode ser vista como uma forma de comunicação de uma dor e de uma angústia: “As pessoas precisam entender que precisam de ajuda e que elas podem, e está tudo bem pedir”. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Saude/noticia/2019/03/algoritmo-identifica-mensagens-suicidas-pelo-twitter-e- oferece-ajuda.html . Acesso em 04 abr 2019. 27 TSE emitirá identidade digital a partir do segundo semestre de 2019 Por Alessandro Feitosa Jr. O Documento Nacional de Identificação (DNI) aos poucos vai ganhando forma. Nesta segunda-feira (8), o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciou que o documento digital poderá ser emitido por todos os cidadãos cadastrados no programa ICN (Identificação Civil Nacional) a partir do segundo semestre de 2019. Isso significa que qualquer um poderá solicitar a emissão do documento, desde que faça a coleta dos dados biométricos junto ao TSE. Essa coleta antes estava restrita a eleitores. Agora, ela faz parte do programa ICN, que visa unificar os dados de documentos e de biometria. A iniciativa abre o leque para mais cidadãos, já que apenas 90 milhões de pessoas estão cadastradas na base de dados da Justiça Eleitoral que, até então, era a única a possuir os dados biométricos. A título de curiosidade, o Brasil tem 147 milhões de eleitores. O TSE tem uma infraestrutura para a coleta dos dados biométricos e, de acordo com o comunicado “será responsável pelo armazenamento e pelo possível compartilhamento dessas informações com outros órgãos”. São eles, inclusive, os responsáveis pela emissão do DNI. O órgão afirma que só haverá trânsito de dados previsto em lei. • CPF vira documento único para acesso a informações e serviços do governo federal. • Começam os testes do DNI, que unifica documentos pessoais no celular. O fato é que o TSE começou a coletar essas informações apenas para eleitores e, posteriormente,agora vai abranger as pessoas que ainda não são aptas a votar. Este início de emissão identidade digital vai ser o primeiro passo de uma iniciativa que já é discutida há anos. “Como a gente passa a ter uma atribuição maior, a primeira necessidade foi aportar mais recursos. Então, em março foi assinada uma destinação de recursos do Executivo para que déssemos continuidade para melhoria de infraestrutura”, afirmou Ricardo Fioreze, que é juiz auxiliar do gabinete da presidência do TSE, em conversa com o Gizmodo Brasil. Segundo ele, o TSE até então se preocupava em alcançar em 2022 todos os eleitores, mas que o escopo do trabalho ficou maior. Como já falamos, a identidade digital ainda está sendo testada em um projeto piloto realizado no Paraná. Por ora, não existe aplicação oficial disponível no Google Play ou na App Store. Em um site do Governo do Paraná é possível baixar um APK para Android, mas que deve ser funcional apenas para moradores de lá.Segundo o TSE, no segundo semestre de 2019, os interessados deverão 28 baixar o app oficial do DNI, que deverá ser disponibilizado nas lojas de apps, solicitar a intenção de ter o documento e realizar um pré-cadastro. Na sequência, as pessoas deverão ir até ao instituto local de identificação para fazer a coleta de biometria. Após um tempo, havendo a conferência e a unificação de banco de dados do programa ICN (Identificação Civil Nacional), já será possível utilizar o documento no smartphone. Por mais que o assunto sobre ter uma identidade digital esteja pipocando nos últimos dois anos, o processo será feito de forma gradual e, com certeza, haverá maior divulgação quando os órgãos estiverem preparados para a emissão. Aliás, é de interesse do governo ter este cadastro unificado e funcionando bem, pois pode reduzir duplicidades ou até mesmo fraudes a benefícios. O DNI será emitido para tablets e smartphones, mas, posteriormente, o seu número será incorporado aos documentos de identidade expedidos pelos estados. O documento terá um número de identificação – interno e individual para cada cidadão – com nove dígitos, e também exibirá a numeração de outros documentos, como a do CPF. Disponível em: https://gizmodo.uol.com.br/tse-emissao-dni-2019/ Acesso em: 17 abr 2019. Projeto da Lockheed Martin quer levar humanos à Lua em 2024 O projeto está sendo desenvolvido pela empreiteira lunar Lockheed Martin e tem o objetivo de levar uma cápsula tripulada à Lua em 2024 A NASA quer retornar à Lua em 2024. Para ajudar com isso, a empreiteira espacial Lockheed Martin está lançando um novo conceito de “pousador” que pode transportar pessoas até a superfície lunar. 29 Segundo a empresa, a previsão é de que o sistema fique pronto em cinco anos — isso se houver recursos suficientes. A Lockheed Martin observa que a linha do tempo para terminar o projeto é muito curta. “Vamos precisar de recursos para fazer isso acontecer e vamos ter de trabalhar de forma diferente”, diz Lisa Callahan, vice-presidente de programas e gerente-geral da Lockheed Martin. “Mas eu acho que é realmente viável e estamos animados com isso.” O veículo consiste em dois elementos: uma área de aterrissagem (que pode viajar até o solo da Lua) e um veículo de subida (para levantar os astronautas da superfície lunar). A sonda vai fazer o trajeto da Lua até a Gateway, a nova estação espacial que a NASA quer construir. Uma grande vantagem do conceito é que muitos dos elementos necessários para seu funcionamento são derivados da Orion, uma cápsula de tripulação na qual a Lockheed Martin já trabalha há uma década. Alguns dos materiais e sistemas usados na Orion podem ser incorporados ao novo módulo — é o caso de equipamentos internos, computadores de voo e sistemas de suporte à vida. A companhia depende, ainda, de a NASA terminar a Gateway em tempo para 2024. Originalmente, a maior parte da estação seria concluída até 2028, quando os primeiros humanos pousariam na Lua. Para ficar completa, a Gateway requer o agrupamento de vários módulos, de forma a criar uma instalação residencial e de pesquisa temporária para os astronautas. Agora que o prazo mudou significativamente, serão feitos sacrifícios no design da Gateway. Depois que a NASA conseguir o tão cobiçado pouso na Lua, a agência espacial se concentrará na segunda fase do retorno lunar: a sustentabilidade. Isso envolve a extração da Gateway e o uso de veículos reutilizáveis para ir e voltar da Lua. Embora o conceito criado pela Lockheed Martin possa ser desenvolvido rapidamente, ele é apenas parcialmente reutilizável, já que a área de aterrisagem do veículo deve permanecer na Lua quando não for mais necessária. Disponível em: https://olhardigital.com.br/noticia/projeto-da-lockheed-martin-quer-levar-humanos-a-lua-em-2024/84638 Acesso em: 22 abr 2019. Como algoritmo criado por jovem cientista possibilitou 1ª foto de buraco negro Por trás da histórica imagem de um buraco negro divulgada ao mundo nesta quarta-feira estão anos de trabalho de uma jovem cientista americana que liderou a criação de um algoritmo fundamental para esta mais nova conquista da ciência. Katherine Bouman, ou "Katie" Bouman, como se apresenta, tem 29 anos, é doutora em engenharia elétrica e ciência da computação pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology), uma das 30 universidades mais importantes do mundo, e professora visitante no Caltech (Instituto de Tecnologia da Califórnia). "Há mais de um século, Albert Einstein publicou pela primeira vez sua teoria da relatividade. Desde então, cientistas forneceram muitas evidências para sustentá-la. Mas uma das coisas previstas em sua teoria, os buracos negros, ainda não foram observados diretamente", explicou Bouman em 2016 durante uma palestra no evento TEDxBeaconStreet. "Apesar de termos algumas ideias de como estes buracos negros possam aparentar, ainda não conseguimos de fato tirar uma foto de um." Agora, finalmente em 2019, Bouman foi uma das protagonistas deste feito – e compartilhou em seu Facebook sua reação ao olhar para esta imagem inédita: "Observando incrédula a primeira imagem que eu já fiz de um buraco negro durante o processo de reconstituição (da imagem)". A primeira imagem da história de um buraco negro: ele está cercado pelo brilho de gases atraídos pela gravidade Como indica a legenda de Katie, "fotografar" um buraco negro é um longo processo de várias etapas – que inclui desde usar complexas fórmulas matemáticas a lidar com ruídos vindos do espaço. "Assim como um artista forense usa descrições limitadas para formar uma imagem usando seu conhecimento sobre o formato do rosto, os algoritmos de imagem que eu desenvolvi usam nossos dados limitados de telescópios para compor uma imagem", explicou a jovem no TEDxBeaconStreet. Um telescópio do tamanho da Terra A cientista e a equipe do projeto Event Horizon Telescope (EHT) – responsável pelo feito desta quarta-feira – costumam brincar que captar uma imagem do Sagittarius A, um buraco negro no centro da Via Láctea e que é um dos principais objetos de estudo do time, seria o mesmo que tentar fotografar uma fruta colocada na Lua. E, como para observar objetos cada vez menores no espaço, é preciso telescópios cada vez maiores, neste caso, a equipe precisaria de um telescópio do tamanho da... Terra. Por isso, o time do EHT bolou uma alternativa, digamos, mais viável – ainda que bastante complexa. 31 O projeto reúne oito radiotelescópios ao redor do mundo – do Polo Sul ao Havaí, passando também pelo Chile e Espanha. Com esta rede, os cientistas mimetizam uma espécie de "telescópio virtual" do tamanho da Terra através de uma técnica chamada de interferometria.Katie Bouman É a partir daí que entra o trabalho de Bouman: ela criou soluções matemáticas que preenchem lacunas de dados surgidas, por exemplo, com o atraso inevitável da entrada de ondas de rádio na atmosfera terrestre. Ela começou a fazer o algoritmo há três anos, quando ainda era estudante de pós-graduação no MIT, liderou o projeto, assistida por uma equipe do Laboratório de Inteligência Artificial e Ciência da Computação do MIT, do Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica e do MIT Haystack Observatory. Seu trabalho também inovou na forma de combinar estes dados para recompor uma imagem. "Em linha gerais, temos trabalhado até aqui em como fazer a melhor imagem possível (do buraco negro)", explicou a jovem à BBC em 2017. "Mas, para começar, foi superdifícil. Não apenas os dados estão superespalhados, mas é incrivelmente barulhento. Temos que lidar com coisas como a atmosfera embaralhando o nosso sinal." Da sua abordagem inovadora, Bouman também tornou públicos os modelos criados e dados recolhidos neste processo, para uso de outros pesquisadores. Horas depois do lançamento da importante da foto, o nome da pesquisadora se tornou uma sensação internacional, com seu nome viralizando no Twitter. Bouman também foi saudada pelo MIT e pelo Centro Harvard-Smithsonian de Astrofísica nas redes sociais. No Twitter, o MIT comparou a cientista com Margaret Hamilton, também pesquisadora da instituição que escreveu códigos que ajudaram a colocar o homem na lua. A postagem coloca fotos das duas lado a lado (imagem abaixo): à esquerda Bouman com pilhas de discos rígidos de dados da imagem do buraco negro e, à direita, Hamilton, com o código que ela escreveu. 32 "Há 3 anos, a estudante de pós-graduação do MIT, Katie Bouman, liderou a criação de um novo algoritmo para produzir a primeira imagem de um buraco negro", escreveu o MIT Computer Science & Artificial Intelligence Lab nas redes sociais. "Hoje, essa imagem foi lançada." Agora, Bouman espera que sua equipe possa prosseguir com a realização de vídeos dos buracos negros – que, eventualmente, podem revelar outros aspectos físicos, como os campos magnéticos nestes objetos. Em seu currículo, a cientista diz também trabalhar para que "métodos computacionais expandam as fronteiras para a geração de imagens interdisciplinar". Atualmente, é possível ver como os recursos tecnológicos têm ajudado as pessoas a viverem com maior qualidade, afinal, as suas contribuições impactam várias áreas da saúde. Como exemplo desse avanço é possível citar a criação de procedimentos minimamente invasivos, como as cirurgias robóticas, a realização de exames diagnósticos rápidos e exatos e de tratamentos mais eficazes para as doenças crônicas. Além disso, os recursos tecnológicos são muito úteis para tornar a prática médica mais simples e rápida, o que gera benefícios também para os pacientes. Neste post, apresentaremos o poder de aplicar a tecnologia na saúde e quais são os benefícios, tanto para o paciente quanto para os médicos e outros profissionais da área. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/geral-47886045 . Acesso em: 05 abr 2019. 33 O uso da tecnologia na saúde Agendamento online Uma clínica ou hospital que ofereça o agendamento online está adequado a nova era digital. Essa ferramenta permite que os horários vagos do médico fiquem disponíveis 24 horas por dia e seja acessada de qualquer local pelo paciente. Dessa forma, o agendamento fica fácil e acessível, afinal a pessoa não precisa marcar a sua consulta em horário comercial e ainda competir com as inúmeras ligações de outros pacientes. Além disso, os horários e dias são disponibilizados, e, assim, o paciente pode marcar o mais conveniente por conta própria. Desse modo, não é necessário perguntar para a secretária qual está disponível. Por fim, os lembretes de consultas e exames são enviados automaticamente para os pacientes por e-mail ou SMS, o que diminui o índice de esquecimentos e faltas. Cirurgia robótica Uma das tecnologias em saúde que está se destacando no Brasil é a cirurgia robótica. Esse procedimento é indicado para cirurgias delicadas, em que o espaço para atuação é limitado. O braço robótico, componente do robô com acessórios como pinças e câmeras, é controlado pelo cirurgião e permite que os movimentos sejam mais precisos e delicados. Além disso, com essa tecnologia é possível realizar incisões pequenas, de cerca de 1 centímetro, o que é muito benéfico para o paciente e sua recuperação. Sendo assim, a técnica é minimamente invasiva. O médico-cirurgião fica sentado em posição confortável em um console, local de onde controla o braço robótico. A grande vantagem é a visão tridimensional que a técnica robótica proporciona, permitindo uma grande resolução e a visualização com maiores detalhes dos planos de anatomia. O paciente fica com uma pequena cicatriz, o que não aconteceria em procedimentos tradicionais. Afinal, em procedimentos cardiológicos, por exemplo, a cirurgia seria feita com o peito aberto, com uma incisão de, aproximadamente, 10 centímetros. A recuperação é mais rápida e a cirurgia dura um tempo menor, o que expõe a pessoa há um menor número de riscos. Impressoras 3D As impressoras 3D têm desempenhando um papel incrível no desenvolvimento da tecnologia voltada para a saúde. Isso porque, com a sua funcionalidade, já é possível “imprimir” protótipos de 34 cartilagem humana resistente, próteses para braços e pernas, vértebras, vasos sanguíneos, tecidos e até células-tronco embrionárias. Assim, é possível substituir ossos que foram degenerados por doenças, como o câncer. Além disso, futuramente também será possível reconstruir tecidos e até órgãos, por meio do uso das células- tronco impressas. Apesar de ainda estarem em desenvolvimento, as impressoras 3D já ajudaram vários pacientes ao redor do mundo. O interessante é que a tecnologia promete, ainda, diminuir os custos com as próteses, que atualmente são extremamente elevados. Chips Os chips prometem ajudar as pessoas que se esquecem de tomar os medicamentos ou os tomam na hora errada no futuro. Isso porque a tecnologia, implantada dentro do corpo, libera doses exatas de medicamentos em horários programados. A funcionalidade já existe no Brasil e a medicação disponível dentro do chip é um anticoncepcional que pode durar até 3 anos. Exames diagnósticos Os novos exames de diagnósticos são usados para encontrar doenças precocemente, mas também para preveni-las. Atualmente, é possível detectar alterações que antigamente seriam impossíveis com a utilização dos exames de imagem. A tomografia computadorizada é um exame mais completo que o raio-X e que permite a visualização de todos os órgãos do organismo, por meio de vários cortes que abrangem os eixos do corpo. A ressonância magnética não utiliza a radiação, mas sim uma tecnologia eletromagnética. Sua imagem é útil para encontrar alterações no sistema cardiovascular, no encéfalo e nos músculos. Por fim, há o ultrassom, que capta suas imagens pela percepção de ondas sonoras, sendo eficaz para diagnosticar doenças do trato urinário e genital da mulher. É evidente que a tecnologia está relacionada com a melhora da confiabilidade dos resultados desses exames. Isso porque, atualmente, as imagens são mais ricas em detalhes e dados, o que agiliza a tarefa de diagnosticar uma alteração. Na saúde, um diagnóstico preciso e rápido é fundamental para salvar uma vida ou iniciar um tratamento precoce. 35 Aplicativos Os aplicativos, sem dúvidas, se tornaram uma grande febre em todo o mundo. Existem diversas funcionalidades para essa tecnologia
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